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Departamento de Matemática
Geometria Diferencial
Posgrado em Matemática
1 Curvas no Espaço. 1
1.1 Curvas parametrizadas regulares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Parâmetro arco de uma curva regular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Teoria Local de Curvas no Espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 Teorema fundamental da teoria local de curvas. . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5 Exercícios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2 Superfícies Regulares. 19
2.1 Definição e exemplos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Exercícios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3 Funções diferenciáveis sobre superfícies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Exercícios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.5 O plano tangente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.7 A primeira forma fundamental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.8 Exercícios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.9 Orientação em superfícies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
2.10 Exercícios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Referências Bibliográficas 74
Lista de Figuras 75
Índice Remissivo 78
Introdução.
A presente obra foi pensada como apostila para ser usada pelos estudantes da disciplina
Geometria Diferencial II, do programa de pós-graduação em Matemática da UnB. Vamos
apresentar um estudo detalhado da geometria das curvas e das superfícies de R3 , usando o
cálculo diferencial como principal ferramenta a fins de entender as principais propriedades
geométricas das mesmas. Ao longo da obra vamos entender que uma aplicação diferenciável
é uma aplicação com regularidade C ∞ .
Capítulo 1
Curvas no Espaço.
1
2 CAPÍTULO 1. CURVAS NO ESPAÇO.
α(I) = {α(t) : t ∈ I} ⊂ R3 ,
x2 (t) + y 2 (t) = a2 , ∀t ∈ R,
o que implica que o traço α(R) está contido em um cilindro de base circular com raio a;
além disso, os pontos {α(t + 2kπ) : k ∈ Z} estão contidos em uma reta vertical para cada
t ∈ R, Figura 1.1.
Definição 1.1.2. Dada uma curva parametrizada diferenciável α(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈
I, definimos o vetor tangente de α em t ∈ I como
Se α0 (t0 ) 6= 0, dizemos que t0 é um ponto regular da curva e se define a reta tangente à curva
α em t ∈ I como a reta que passa pelo ponto α(t) na direção do vetor α0 (t).
Em caso contrário, ou seja, se α0 (t0 ) = 0, dizemos que t0 é um ponto singular (ou uma
singularidade) da curva.
Dizemos que a curva α é regular se não possui pontos singulares.
1.1. CURVAS PARAMETRIZADAS REGULARES. 3
Observação 1.1.1. Da definição anterior, podemos afirmar que uma curva é regular se α0 (t) 6=
0, ∀t ∈ I. Além disso, observe que a existência de pontos singulares em uma curva implica
que certos pontos da mesma não possuem uma direção tangente sobre a qual representar
uma reta tangente.
Exemplo 1.1.3. A hélice circular do Exemplo 1.1.2, é um exemplo de curva regular. Observe
que z 0 (t) = b 6= 0, ∀t ∈ R
Exemplo 1.1.4. Considere a curva α(t) = (t3 , t2 , 0), t ∈ R. Claramente, α é uma curva
diferenciável e
α0 (t) = (3t2 , 2t, 0) = (0, 0, 0)
Se uma curva é PCA, podemos observar da definição anterior que o parâmetro arco
tem um significado métrico além de um significado posicional, ou seja, supondo que α(t)
determina a posição de uma partícula que percorre o traço da curva em cada instante t,
o próprio parâmetro fornece a medida do comprimento percorrido pela partícula desde um
certo instante inicial t0 até o instante t.
Proposição 1.2.1. Uma curva α : I ⊂ R −→ R3 é PCA se, e somente se |α0 (t)| = 1, para
todo t ∈ I.
Em diante vamos denotar por s o parâmetro arco de uma dada curva α. Dados I e J
dois intervalos abertos de R, um difeomorfismo φ : J −→ I e uma curva α : I ⊂ R −→ R3 ,
podemos construir uma nova curva β : J −→ R3 definida por
β = α ◦ φ.
Dizemos que β é uma reparametrização de α. Dado [a, b] ⊂ J, tal que φ([a, b]) = [c, d], é
simples provar que Z b Z d
0
|β (r)|dr = |α0 (w)|dw, (1.3)
a c
o que significa que o comprimento de arco é um conceito intrínseco, pois apenas depende do
traço da curva e não da parametrização que esteja sendo usada.
Exercício 1.2.1. Dar uma prova rigorosa da afirmação feita acima.
Vemos no seguinte resultado que toda curva parametrizada regular pode ser reparame-
trizada pelo comprimento de arco.
Observação 1.2.1. A demonstração do resultado anterior fornece um jeito para calcular uma
parametrização pelo comprimento de arco de uma curva regular, ou seja, para reparametrizar
uma curva pelo arco. Como indica a prova acima, em primeiro lugar devemos calcular a
função s ≡ s(t) segundo a Definição 1.1; observe que tal função é um difeomorfismo de I em
J. Logo após devemos calcular t em função de s e substituímos em α. Assim obtemos
α(s) = α(t(s)),
Exemplo 1.2.3. Mudança de orientação em uma curva regular PCA. Dada uma curva α :
(a, b) −→ R3 , para certos valores reais a < b, defina β : (−b, −a) −→ R3 tal que β(s) =
α(−s). Pode-se conferir que β tem o mesmo traço que α, mas percorrido no sentido contrário.
1.3. TEORIA LOCAL DE CURVAS NO ESPAÇO. 7
Geometricamente, pode-se interpretar o número |α00 (s)| como uma medida de quanto a
curva α localmente se afasta de ser uma reta, ou seja, é uma medida da variação na direção
do vetor velocidade em cada ponto, ver Figura 1.3.
Teorema 1.3.1. Seja dada uma curva α : I ⊂ R −→ R3 , então α é uma porção de reta se,
e somente se, κ é identicamente nula em I.
Definição 1.3.2. Seja dada α : I ⊂ R −→ R3 uma curva. Nos pontos s ∈ I onde κ(s) 6= 0
pode-se definir o vetor
α00 (s)
n(s) = . (1.5)
κ(s)
Como α00 ⊥ α0 , nos pontos onde faz sentido definir o vetor n(s) pode-se deduzir facilmente
que n ⊥ α0 . Assim que vamos a chamar ao vetor n(s) de vetor normal à curva α em s, pois
é unitário e perpendicular ao vetor tangente em cada ponto.
Chamamos de plano osculador, ao plano gerado pelos vetores t e n em cada s ∈ I onde faz
sentido definir o vetor normal. Dizemos que a curva α é uma curva plana se seu traço está
totalmente contido no plano osculador, isto é, se o plano osculador é constante para todo
s ∈ I.
Definição 1.3.3. Seja dada α : I ⊂ R −→ R3 uma curva tal que κ(s) 6= 0, ∀s ∈ I. Para
cada s ∈ I se define o vetor
b(s) = t(s) ∧ n(s). (1.6)
osculadores em uma vizinhança de s, para cada s ∈ I; isto é, o módulo do vetor b fornece uma
medida de quanto a curva α localmente se afasta do plano osculador ou, equivalentemente,
quanto se afasta a curva α de ser uma curva plana. Tal vetor b recebe o nome de vetor
binormal da curva α em cada s ∈ I.
Chamamos de plano retificante ao plano gerado pelos vetores t e b, e de plano normal ao
plano gerado pelos vetores n e b. Ver Figura 1.4.
Para cada s ∈ I, chamamos também de reta tangente à reta que passa pelo ponto α(s) na
direção de t(s), de reta normal principal à reta que passa pelo ponto α(s) na direção de n(s)
e de reta binormal à reta que passa pelo ponto α(s) na direção de b(s).
O conjunto de vetores {t(s), n(s), b(s)} formam uma base ortonormal do espaço R3 em cada
s ∈ I chamada de triedro de Frenet.
b0 (s) = t0 (s) ∧ n(s) + t(s) ∧ n0 (s) = κ(s) · n(s) ∧ n(s) + t(s) ∧ n0 (s) = t(s) ∧ n0 (s),
o que implica que b0 ⊥ t. Aliás, como b é unitário para cada s, então pode-se deduzir
facilmente que b0 ⊥ b, portanto b0 está na direção de n em todo ponto do seu domínio.
Definição 1.3.4. Seja dada α : I ⊂ R −→ R3 uma curva tal que κ(s) 6= 0, ∀s ∈ I. Se define
a torção de α em s como a função τ : I −→ R tal que
Teorema 1.3.2. Seja dada α : I ⊂ R −→ R3 uma curva tal que α00 (s) 6= 0, ∀s ∈ I. A curva
α é plana se, e somente se, τ ≡ 0 em I.
10 CAPÍTULO 1. CURVAS NO ESPAÇO.
Demonstração. Supondo que α é plana, por definição α(I) está contida no plano osculador.
Assim, o vetor binormal b é constante e segue que τ ≡ 0 em I pela Definição 1.3.4.
Supondo que τ (s) = 0 para todo s ∈ I, tem-se da Definição 1.3.4 que hb0 (s), n(s)i = 0,
∀s ∈ I e portanto b0 ≡ 0. Integrando o anterior tem-se que b(s) = b0 é constante para todo
s em I.
Usando o fato de b0 ser constante, como b0 ⊥ t em todo I, pode-se deduzir facilmente que
hα(s), b0 i é constante em I. Assim, tomando pontos u, v ∈ I arbitrários, tem-se que
hα(u) − α(v), b0 i = 0,
Temos visto que cada ponto de uma curva α : I ⊂ R −→ R3 regular e PCA com α00 (s) 6= 0
possui associada uma base ortonormal de vetores {t, n, b} positivamente orientada, chamada
de triedro de Frenet, de maneira que as derivadas de t e b fornecem as entidades geométricas
κ e τ , as quais foram definidas como curvatura e torção da curva, as quais fornecem uma
medida da variação das retas normais e dos planos osculadores, respectivamente. Fixado
s ∈ I, podemos derivar o vetor normal n(s) = b(s) ∧ t(s), temos que
t0 (s) = κ(s)n(s),
n0 (s) = −κ(s)t(s) − τ (s)b(s), (1.8)
b0 (s) = τ (s)n(s),
onde {t(s), n(s), b(s)} é o triedro de Frenet associado ao ponto α(s) e κ e τ são as funções
curvatura e torção, respectivamente. Tais relações são conhecidas pelo nome Fórmulas de
Frenet.
Observação 1.3.2. Se fixamos uma direção unitária perpendicular aos pontos de uma dada
reta, parametrizada por uma curva α, e chamamos ela de vetor normal como na observação
1.3.1, então a definição 1.3.3 determina com unicidade o correspondente vetor binormal
associado a cada um dos da reta. Podemos, assim, construir um triedro de Frenet também
1.3. TEORIA LOCAL DE CURVAS NO ESPAÇO. 11
sobre cada ponto de uma reta, formado por três vetores constantes, o qual verifica de maneira
trivial as equações de estrutura (1.8) apresentadas na definição acima, pois qualquer reta é
uma curva plana e, nas condições descritas acima, possui torção identicamente nula pela
definição 1.3.4.
|α(s) − O|2 = r2 , ∀s ∈ I.
Derivando a igualdade acima para cada s ∈ I, tem-se que ht(s), α(s) − Oi = 0, o que implica
que α(s) − O está na direção do vetor normal em virtude da Definição 1.3.2; observe também
−−−→
que os vetores n(s) e Oα(s) possuem sentidos opostos, pois n aponta para o interior da
circunferência em cada s. Seja λ : I −→ R− uma função tal que α(s)−O = λ(s)n(s), ∀s ∈ I,
e tomando módulos na igualdade anterior temos que |λ(s)| = r, para todo s. Assim,
1
n(s) = − (α(s) − O) ;
r
se derivamos a igualdade acima e usamos que a curva é plana temos que
1
n0 (s) = − t(s),
r
o que implica que
1
κ(s) ≡ ,
r
pelas fórmulas (1.8) de Frenet, como queriamos demonstrar.
Supondo agora que κ é constante e τ ≡ 0, podemos supor sem perda de generalidade (s.p.g.)
que κ(s) = 1/r, para algúm r ∈ R+ . Considere a função que descreve o centro do círculo
osculador à curva em cada s ∈ I, ver Figura 1.5, cuja definição é a seguinte
1
p(s) = α(s) + n(s). (1.9)
κ(s)
Se derivamos a igualdade 1.9, usando as fórmulas 1.8 de Frenet tem-se que
portanto existe O ∈ R3 tal que p(s) = O para todo s, o que implica que
|α(s) − O| = r, ∀s ∈ I,
Uma transformação ortogonal é uma aplicação linear cuja matriz associada A é tal que
A−1 = At e segue daí que det(A) = ±1. Denotamos o conjunto das transformações ortogonais
do espaço por O(3). Dizemos que uma aplicação ortogonal preserva a orientação do espaço
se det(A) = 1 e inverte a orientação em outro caso; denotamos por O+ (3) ao conjunto das
aplicações ortogonais que preservam a orientação. Podemos afirmar que toda transformação
ortogonal é uma isometria, pois hAv, Avi = (Av)t Av = v t (At A)v = v t v = hv, vi.
Pode-se provar que, se F é uma isometria de R3 , então existem uma translação do espaço
com vetor de translação v e uma matriz A ∈ O(3) tais que F (p) = Ap + v. Diz-se que a
isometria F preserva a orientação se A ∈ O+ (3) e que inverte a orientação em outro caso.
Dizemos que um movimento rígido do espaço é uma isometria do espaço que preserva a
orientação e é sabido que dadas duas bases do espaço igualmente orientadas, existe um
movimento rígido que transforma uma na outra.
Observação 1.4.1. Considere o espaço vetorial R3 munido do produto escalar usual h·, ·i.
Observe que as transformações ortogonais do espaço preservam o módulo e os ângulos entre
vetores. Com efeito, se A ∈ O(3) e considere u, v vetores arbitrários de R3 , θ o ângulo
formado por u e v e θA o ângulo formado por Au e Av. Então
Observação 1.4.2. Observe também que, se A ∈ O+ (3), então Au ∧ Av = A(u ∧ v) para todo
u, v ∈ R3 . Com efeito, hA(u ∧ v), Aui = hu ∧ v, ui = 0 e hA(u ∧ v), Avi = hu ∧ v, vi = 0 o que
implica que A(u ∧ v) ⊥ u e A(u ∧ v) ⊥ v e portanto A(u ∧ v) está na direção de Au ∧ Av, e
14 CAPÍTULO 1. CURVAS NO ESPAÇO.
como A preserva a orientação, tem-se que ∃λ > 0 tal que A(u ∧ v) = λ(Au ∧ Av). Acima já
provamos que as transformações ortogonais preservam ângulos, logo
Usando as observações anteriores é imediato provar que todo movimento rígido do espaço
transforma qualquer curva regular em outra curva regular. Além disso, podemos provar que
a geometria das curvas no espaço fica invariante frente a movimentos rígidos do espaço.
Lema 1.4.1. Seja dada α : I ⊂ R −→ R3 uma curva regular e PCA. Então as funções
associadas comprimento de arco, curvatura e torção são invariantes frente a movimentos
rígidos do espaço.
para cada t ∈ I.
Supondo agora que α é PCA, segue do anterior que β é também PCA. Vemos a seguir que
as funções curvatura e torção são preservadas pelos movimentos rígidos do espaço. Assim
e também que
Abα = A(tα ∧ nα ) = Atα ∧ Anα = tβ ∧ nβ = bβ ,
e finalmente que
τα (s) = hb0α (s), nα (s)i = hAb0α (s), Anα (s)i = hb0β (s), nβ (s)i = τβ (s), ∀s ∈ I.
1.4. TEOREMA FUNDAMENTAL DA TEORIA LOCAL DE CURVAS. 15
O resultado principal da secção diz-nos que toda curva regular do espaço fica totalmente
determinada por duas funções diferenciáveis; com efeito, como já vimos na secção anterior,
toda curva possui associadas duas funções diferenciáveis κ e τ , que chamamos de curvatura
e torção, respectivamente. Vamos provar que podemos recuperar uma curva regular a partir
de duas dadas funções diferenciáveis, as quais vão coincidir com as correspondentes funções
curvatura e torção da curva. Antes de enunciar o resultado, vamos dar uma expressão
matricial das equações (1.8) para uma curva α regular e PCA.
Se {t(s), n(s), b(s)} é o triedro de Frenet da curva α : I ⊂ R −→ R3 regular, PCA e tal
que κ(s) > 0 para cada s ∈ I, definimos uma aplicação de I em R9 de maneira que
t(s)
s −→ n(s) ,
b(s)
para cada s ∈ I, onde t, n e b são vetores coluna de R3 . Então, de (1.8) tem-se que
0
t (s) κ(s)n(s) 03 κ(s)I3 03 t(s)
n0 (s) = −κ(s)t(s) − τ (s)b(s) = −κ(s)I3 −τ (s)I3 · n(s)
03 ,
b0 (s) τ (s)n(s) 03 τ (s)I3 03 b(s)
onde
03 κ(s)I3 03
A0 (s) = −κ(s)I3
03 −τ (s)I3
03 τ (s)I3 03
Tomamos a ∈ R9 tal que os vetores T0 = (a1 , a2 , a3 ), N0 = (a4 , a5 , a6 ) e B0 = (a7 , a8 , a9 )
formam uma base ortonormal positivamente orientada do espaço. Seja F : I −→ R9 uma
solução de (1.10) com valor inicial f (s0 ) = a. Então, se definimos as funções
T, N, B : I −→ R3
dadas por T (s) = (f1 (s), f2 (s), f3 (s)), N (s) = (f4 (s), f5 (s), f6 (s)) e B(s) = (f7 (s), f8 (s), f9 (s))
para cada s ∈ I, tem-se que T 0 , N 0 e B 0 satisfazem as equações
Seja M (s) a matriz formada pelos produtos escalares das funções T , N e B, isto é
|T (s)|2 hT (s), N (s)i hT (s), B(s)i
M (s) = 2 ,
hN (s), T (s)i |N (s)| hN (s), B(s)i
2
hB(s), T (s)i hB(s), N (s)i |B(s)|
onde
0 κ(s) 0
A(s) =
−κ(s) 0 −τ (s)
0 τ (s) 0
e satisfaz o valor inicial M (s0 ) = I3 , pois f (s0 ) = (T0 ; N0 ; B0 ) vetores que formam uma base
ortonormal positivamente orientada do espaço. Por outro lado, a função matricial constante
I3 também satisfaz a equação (1.12) e o mesmo valor inicial que M (s) para todo s ∈ I,
portanto, pelo teorema de existência e unicidade de solução mencionado acima, tem-se que
M (s) = I3 e podemos concluir que {T, N, B} é uma base ortonormal de R3 para cada s ∈ I,
1.4. TEOREMA FUNDAMENTAL DA TEORIA LOCAL DE CURVAS. 17
logo det(T (s); N (s); B(s)) = ±1, para todo s ∈ I. Porém, como det(T (s0 ); N (s0 ); B(s0 )) =
±1 pela condição sobre a orientação dessa base do espaço, temos que a base {T, N, B} é
também positivamente orientada para cada s ∈ I.
Definimos α : I −→ R3 por Z s
α(s) = T (u)du, ∀s ∈ I.
s0
Assim, tem-se que α é diferenciável e que α0 (s) = T (s) para todo s pelo TFC, o que implica
que α é PCA.
Uma vez construída a curva, vamos conferir que as correspondentes funções curvatura e
torção, que vamos denotar por κα e τα , coincidem com as funções κ e τ da hipótese. Com
efeito, se chamamos de tα , nα e bα aos vetores do triedro de Frenet de α, por definição temos
que tα ≡ T , e por (1.11) e (1.8) tem-se para cada s que
e que nα ≡ N pela Definição 1.3.2. Segue que bα ≡ B pela Definição 1.3.3, o que implica
que τα ≡ τ pela Definição 1.3.4.
Para demonstrar a unicidade, devemos provar que a curva α construída na primeira
parte da prova é única a menos de um movimento rígido do espaço. Seja β : I −→ R3 outra
curva regular e PCA de maneira que κβ ≡ κ e τβ ≡ τ . Fixamos s0 ∈ I e consideramos
os correspondentes triedros de Frenet Bα0 = {t0α , n0α , b0α } e Bβ0 = {t0β , n0β , b0β } associados aos
pontos α(s0 ) e β(s0 ), respectivamente. Podemos supor, s.p.g., que as bases Bα0 e Bβ0 são
igualmente orientadas, pois sempre podemos trocar a orientação de β como no Exemplo
1.2.3. Assim, existe um movimento rígido F que transforma o ponto β(s0 ) em α(s0 ) e a base
Bβ0 na base Bα0 .
Denotamos por γ = F (β), vamos provar que γ ≡ α. Com efeito, pelo Lema 1.4.1 temos
que γ é regular, PCA e que κγ ≡ κ ≡ κβ e τγ ≡ τ ≡ τβ . Assim, podemos apresentar as
correspondentes fórmulas de Frenet das curvas γ e α, a saber
0 0
γ
t = κn γ , tα
= κnα ,
n0γ = −κtγ − τ bγ , e n0α = −κtα − τ bα ,
b0 = τ n ,
b0
= τ nα .
γ γ α
tγ (s) = tα (s), ∀s ∈ I.
Integrando a igualdade acima temos que γ(s) e α(s) são iguais a menos de uma constante
para qualquer s ∈ I; tomando s = s0 , temos que γ(s0 ) = F (β(s0 )) = α(s0 ), logo tal constante
deve ser zero e podemos concluir a demonstração.
1.5. EXERCÍCIOS. 19
1.5 Exercícios.
1. Seja α : I −→ R3 uma curva e [a, b] ⊂ I. Prove que |α(a) − α(b)| ≤ Lba (α), sendo
Lba (α) o comprimento de arco de α no intervalo [a, b]. Ou seja, mostre que as retas são
as curvas mais curtas ligando dois dados pontos do espaço.
2. Considere a espiral logarítmica α : R −→ R3 dada por α(t) = aebt Cos(t), aebt Sin(t), c
sendo a > 0, b < 0 e c ∈ R. Calcule a função comprimento de arco s(t) no intervalo
[t0 , t], sendo t0 ∈ R fixo. Dê uma reparametrização da curva PCA e estude seu traço.
i. κβ (s) = κα (s), ∀s ∈ I.
(
τα (s) , para todo s em I se F preserva a orientação
ii. τβ (s) =
−τα (s) , para todo s em I se F inverte a orientação
5. Seja α : I −→ R3 uma curva regular PCA tal que κ > 0. Prove que α é um arco de
circunferência se. e somente se, κ é constante e o traço de α está contido em uma esfera.
(Indicação: o traço de α está contido em uma esfera se existe r > 0 tal
que |α(s)|2 = r2 , para todo s ∈ I.)
6. Seja α : I −→ R3 uma curva regular PCA tal que κ > 0. Prove que as seguintes
afirmações são equivalentes:
Superfícies Regulares.
21
22 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
Definição 2.1.1. Um subconjunto S de R3 é dito uma superfície regular se para cada ponto
p ∈ S existe uma vizinhança V = Vp ⊂ R3 e uma aplicação diferenciável X : U −→ V , onde
U ⊂ R2 é um aberto do plano, satisfazendo as seguintes propriedades:
i. X(U ) = V .
ii. X é um homeomorfismo de U em V .
• É natural pedir que a aplicação X seja diferenciável, pois queremos usar o cálculo dife-
rencial como ferramenta para entender a geometria das superfícies do espaço. Podemos
escrever X como X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)); assim, dizer que X é diferenciá-
vel em U é equivalente a dizer que as funções x, y, z ∈ C ∞ (U ). Chamamos u e v de
coordenadas locais de S em p.
∂X ∂x ∂y ∂z
Xu = dXq (e1 ) = ∂u
= ∂u
, ∂u
, ∂u
,
∂X ∂x ∂y ∂z
Xv = dXq (e2 ) = ∂v
= ∂v
, ∂v
, ∂v
,
e portanto, a matriz da aplicação diferencial de X em q é
∂x ∂x
∂u
∂y
∂v
∂y
dXq =
∂u ∂v
.
∂z ∂z
∂u ∂v
Logo, a terceira condição da Definição 2.1.1 é equivalente a exigir que a matriz dXq
tenha posto igual a 2, e portanto que
Xu × Xv 6= 0,
condição suficiente para esses dois vetores poderem gerar um plano que contem o ponto
p da superfície. Mais adiante daremos uma definição formal desse plano e exprimiremos
toda a informação que ele fornece da superfície.
24 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
é uma parametrização de S tal que X(U ) = S. Pode conferir que as outras condições são
também satisfeitas; portanto, S é uma superfície.
Observe que, nos exemplos acima, um plano e o gráfico de uma função diferenciável
podem sempre ser cobertos com apenas uma única parametrização. Isso, em geral, não
acontece; no caso geral, vamos precisar de mais do que uma parametrização a fins de cobrir
totalmente a superfície.
• A matriz d(X1 )q tem posto 2. Com efeito, os vetores coluna da matriz são (X1 )u (u, v) =
√ √
(1, 0, ( 1 − u2 − v 2 )u ) e (X1 )v (u, v) = (0, 1, ( 1 − u2 − v 2 )v ) e podemos observar que
a matriz identidade I2 de ordem 2 × 2, a qual possui determinante distinto de zero, é
uma submatriz da mesma.
Assim, temos provado que X1 é uma parametrização local da esfera, mas só cobre a semiesfera
aberta {z > 0}, ver Figura 2.5. Defina a aplicação
√
X2 (u, v) = (u, v, − 1 − u2 − v 2 ), ∀(u, v) ∈ U.
S
Observe que X1 (U ) X2 (U ) não cobre totalmente a esfera, pois ainda falta cobrir os pontos
2.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS. 27
temos provado que a esfera unitária é uma superfície regular do espaço. Observe que, tro-
cando 1 por r2 nas aplicações Xi , 1 ≤ i ≤ 6, o processo mostrado acima serve também para
parametrizar a esfera de raio r, que denotamos por S2 (r).
A parametrização da esfera apresentada acima precisa de seis cartas. Vemos a seguir
que, mudando para outro tipo de coordenadas, podemos cobrir totalmente uma esfera de
raio arbitrário usando uma quantidade menor de cartas. Para um dado r > 0, defina para
cada 0 < θ < π e 0 < ϕ < 2π a aplicação
esférico de coordenadas e cobrem a esfera a menos de um semicírculo que contem os dois polos.
O raio r representa o comprimento do segmento que liga cada ponto da esfera com o centro
da mesma; os nomes dos ângulos θ e ϕ são colatitude e azimute, respectivamente. Observe
que pode-se cobrir totalmente a esfera usando apenas três cartas locais em coordenadas
esféricas. É tarefa do leitor provar que as coordenadas esféricas são uma parametrização
local da esfera.
Demonstração. Seja p = (x0 , y0 , z0 ) ∈ f −1 ({a}), então ∇f (p) 6= 0 pela Definição 2.1.2. Po-
demos supor, s.p.g., que fz (p) 6= 0. Nesse caso, pelo Teorema da função implícita (TFI),
existem uma vizinhança aberta W ⊂ R2 de (x0 , y0 ), um número positivo > 0 suficiente-
mente pequeno e uma função diferenciável φ : W −→ (z0 − , z0 + ) tal que z = φ(x, y),
para todo (x, y) ∈ W . Isto é, o ponto p possui uma vizinhança tal que
o que significa que tal vizinhança é o gráfico de uma certa função diferenciável, que já
sabemos é uma superfície regular pelo Exemplo 2.1.2.
Observação 2.1.2. Observe que a Proposição 2.1.1 é consequência do que já foi provado no
Exemplo 2.1.2. Veremos na lista de exercícios desse capítulo, que a afirmação contrária
também é verdadeira.
A proposição acima fornece um critério pelo qual é muito simples provar que alguns dos
exemplos anteriores são superfícies regulares.
Por exemplo, pode-se definir um plano a través da igualdade ax + by + cz = d, conhecida
como a equação geral do plano, ver Exemplo 2.1.1. Se definimos a função f : R3 −→ R por
f (x, y, z) = ax + by + cz − d,
30 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
|∇g(p)| = |2p| = 2 6= 0, ∀p ∈ S2
o que implica que o vetor gradiente de g em p é não nulo para todo ponto da esfera, e
portanto S2 é uma superfície regular pela Proposição 2.1.1.
Usando a Proposição 2.1.1 podemos encontrar facilmente novos exemplos de superfícies regu-
lares, pois poderemos saber quando um conjunto definido implicitamente por uma equação
constitui uma superfície regular.
x2 y 2 z 2
S = {(x, y, z) ∈ R3 : + 2 + 2 = 1}.
a2 b c
Se definimos a função
x2 y 2 z 2
f (x, y, z) = + 2 + 2 − 1,
a2 b c
vemos que f é claramente diferenciável e que S = f −1 ({0}). Além disso, o vetor gradiente
2x 2y 2z
∇f (x, y, z) = , ,
a2 b 2 c 2
é diferente de 0 para todo ponto de S, pois a origem, igual que na esfera, o conjunto S não
contem o ponto (0, 0, 0).Assim, o elipsoide S é uma superfície regular pela Proposição 2.1.1.
A esfera pertence à família dos elipsoides, pois se a = b = c = 1, então S é uma esfera.
x2 y 2 z 2 x2 y 2 z 2
H1 = {(x, y, z) ∈ R3 : + − = 1} e H2 = {(x, y, z) ∈ R3 : + − = −1}.
a2 b 2 c 2 a2 b 2 c 2
2.1. DEFINIÇÃO E EXEMPLOS. 31
x2 y 2 z 2 x2 y 2 z 2
f1 (x, y, z) = + 2 − 2 −1 e f2 (x, y, z) = + 2 − 2 + 1,
a2 b c a2 b c
observamos que as funções fi são diferenciáveis e que Hi = fi−1 ({0}), para i = 1, 2. Como
os vetores gradiente
2x 2y 2z
∇f1 (x, y, z) = , ,− 2 = ∇f2 (x, y, z)
a2 b 2 c
vemos que T = f −1 ({0}) e que f é diferenciável em todo p ∈ / {x = y = 0}. Por outro lado
p p !
2x( x2 + y 2 − r) 2y( x2 + y 2 − r)
∇f (x, y, z) = p , p , 2z = (0, 0, 0),
x2 + y 2 x2 + y 2
p
se x = y = z = 0, ponto que não pertence a T , ou quando x2 + y 2 = r e z = 0, mas se
esse ponto estivesse em T , implicaria que R = 0, que é absurdo. Portanto 0 é valor regular
de f e T é uma superfície regular pela Proposição 2.1.1.
A superfície T é chamada de toro de revolução, ou simplesmente toro, e é a superfície
Como consequência do resultado anterior, podemos provar que toda função diferenciável
de um aberto do plano em uma superfície regular cuja diferencial seja injetiva em todo ponto
do aberto e que seja injetiva é, automaticamente, um homeomorfismo sobre sua imagem na
superfície. Assim, uma função nessas condições satisfaz a definição 2.1.1 e é, portanto, uma
parametrização local da superfície.
34 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
Demonstração. Considere q ∈ U tal que p = X −1 (q). Pela proposição 2.1.2, podemos afirmar
que existe W ⊂ S tal que p ∈ W e W é o gráfico de uma função diferenciável sobre um certo
aberto V ⊂ R2 . Chamamos de N = X −1 (W ) ⊂ U e definimos a função h = Π◦ X : N −→ V
tal que
h(u, v) = (x(u, v), y(u, v)),
sendo Π a projeção vertical. Das hipóteses sobre X, tem-se que h é diferenciável e que
dhq = Π ◦ dXq 6= 0, logo existe uma vizinhança Ω ⊂ N de q tal que h é um difeomorfismo
sobre sua imagem pelo TFI, e portanto um homeomorfismo.
Como X é injetiva, X é uma bijeção de Ω em X(Ω). Assim, restrito ao conjunto X(Ω),
temos que X −1 está bem definida e que pode-se escrever como
X −1 = (Π ◦ X)−1 ◦ Π = h−1 ◦ Π,
o que implica que X −1 é uma função contínua em p por ser composição de funções contínuas
em p.
Exemplo 2.1.8. Dados os números reais 0 < r < R, defina sobre o Toro (ver exemplo 2.1.7)
a função X : U = (0, 2π) × (0, 2π) −→ T dada por
z = RSin(u) (2.1)
p
x2 + y 2 = RCos(u) + r (2.2)
Conhecendo x, y e z, podemos determinar com unicidade u entre 0 e 2π pelas igualdades
(2.1) e (2.2); em consequência podemos conhecer Cos(v) e Sin(v), e portanto determinarmos
v com unicidade entre 0 e 2π, o que implica que X é injetiva. Usando a proposição 2.1.3,
podemos concluir que X é uma parametrização local do Toro pela definição 2.1.1.
2.2. EXERCÍCIOS. 35
2.2 Exercícios.
1. Seja S ⊂ R3 tal que S =
S
i∈I Si onde cada Si é um aberto de S. Se Si é uma superfície
para cada i ∈ I, prove que S é uma superfície.
2. Mostre que o gráfico de uma função diferenciável, como definido no Exemplo 2.1.2, é
uma superfície regular.
5. Prove que a Proposição 2.1.1 implica que os gráficos de funções reais diferenciáveis são
superfícies regulares.
7. Prove que toda superfície compacta só pode possuir uma quantidade finita de compo-
nentes conexas.
Demonstração. Nas condições acima, considere os pontos qi ∈ Xi−1 (O) tais que Xi (qi ) =
p ∈ S, para i = 1, 2. Da prova da proposição 2.1.2, existem um aberto V ⊂ X2−1 (O)
e uma projeção vertical Π de maneira que a aplicação Π ◦ X2 : V −→ (Π ◦ X2 )(V ) é um
difeomorfismo. Então, h−1 (V ) é uma vizinhança aberta de q1 em X1−1 (O) e, nessa vizinhança,
podemos escrever
h = (Π ◦ X2 )−1 ◦ (Π ◦ X1 ),
A fins de transladar o cálculo diferencial sobre abertos dos espaços euclidianos às super-
fícies, precisamos entender a regularidade das funções definidas sobre elas. Nosso próximo
objetivo é definirmos um conceito de diferenciabilidade para funções definidas em superfícies.
Vemos que, a través das parametrizações, podemos reduzir a diferenciabilidade sobre uma
superfície à diferenciabilidade de funções sobre R2 .
Definição 2.3.1. Dados uma superfície regular S e um ponto p ∈ S, dizemos que a função
f : S −→ R é diferenciável no ponto p se existe uma parametrização local X : U ⊂ R2 −→ S
em torno de p tal que a função
f ◦ X : U −→ R
Observe que o resultado acima ainda está certo para funções f : O ⊂ R3 −→ Rm , para
m ∈ N arbitrário. A prova é idêntica, usando a definição 2.3.1 generalizada.
i(p) = p, ∀p ∈ S.
h(p) = hp − p0 , vi, ∀p ∈ S.
g(p) = hp − p0 , p − p0 i, ∀p ∈ S.
d(p) = |p − p0 |, ∀p ∈ S,
F (p) = p0 , ∀p ∈ S.
Observação 2.3.2. Pode-se provar que a definição acima independe das parametrizações X1
e X2 escolhidas. A prova é deixada como exercício para o leitor.
2.3. FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS SOBRE SUPERFÍCIES. 41
Φ : Y −1 (W ) ⊂ V −→ X −1 (W ) ⊂ U , dada por Φ = id ◦ (X −1 ◦ Y ) = id ◦ h
Exemplo 2.3.8. Considere a função Rotação de ângulo θ ao redor do eixo vertical Rz,θ :
R3 −→ R3 dada por
Uma superfície S é dita invariante pela rotação Rz,θ desde que Rz,θ (p) ∈ S, para todo p ∈ S.
A função Rz,θ é uma aplicação linear com matriz
Cos(θ) −Sin(θ) 0
Sin(θ) Cos(θ) 0 ,
0 0 1
a qual pertence ao conjunto de matrizes ortogonais de ordem 3×3 que preservam a orientação,
que denotamos pelo conjunto O+ (3). A função Rz,θ é claramente diferenciável e segue da
proposição 2.3.3 que a restrição Rz,θ : S −→ S é diferenciável.
Exemplo 2.3.9. Considere uma curva regular α : I ⊂ R −→ R3 contida no plano Oxz. Uma
parametrização da curva vem dada pela função
e duas funções f, g : I −→ R diferenciáveis, com f (t) > 0, para todo t ∈ I. Denotamos por
u ∈ (0, 2π) o ângulo de rotação e definimos
2.4 Exercícios.
1. Prove que toda aplicação diferenciável sobre uma superfície é contínua.
Demonstração. Seja w ∈ Tp S tal que w = α0 (0) para certa curva α em S. Sabemos pela
proposição 2.3.2 que X −1 é diferenciável em X(U ) ⊂ S, logo β = X −1 ◦ α é uma curva
diferenciável em U tal que β(0) = q. Temos que α = X ◦ β e, se chamamos de v = β 0 (0),
então
d
|t=0 α(t) = dXq (β 0 (0)) = dXq (v),
dt
46 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
Observação 2.5.1. Como dXq é injetiva, o subespaço vetorial dXq (R2 ) = Tp S é um plano.
Além disso, a proposição acima mostra que Tp S independe da parametrização X e que, para
cada parametrização X em torno de p, a dupla de vetores {Xu , Xv } forma uma base de
Tp S, pois são um conjunto linearmente independente de vetores em um subespaço vetorial
2-dimensional de R3 . Logo, da prova da proposição acima, podemos dar uma expressão local
em coordenadas dos vetores tangentes a S no ponto p. Com efeito, dada a curva diferenciável
β : (−, ) −→ U tal que a cada t associa o ponto β(t) = (u(t), v(t)) ∈ U , considere a curva
diferenciável α : (−, ) −→ S dada por α(t) = X ◦ β(t) = X(u(t), v(t)), para cada t ∈
(−, ). Assim,
d
w = α0 (0) = |t=0 X(u(t), v(t)) = u0 (0)Xu (q) + v 0 (0)Xv (q).
dt
Logo, w = (u0 (0), v 0 (0)) na base {Xu , Xv }.
Assim, o vetor v está no kernel da aplicação dfp : R3 −→ R, que vamos denotar por ker(dfp ).
Por outro lado, nas condições acima dfp 6= 0 pelo exemplo 2.1.1, logo ker(dfp ) e Tp S são dois
planos vetoriais tais que ker(dfp ) ⊂ Tp S, então
Tp S = ker(dfp ).
2.5. O PLANO TANGENTE. 47
Usando o exemplo anterior podemos dar explicitamente novos exemplos de planos tan-
gentes a superfícies em seus pontos.
Exemplo 2.5.2. Dados v ∈ R3 um vetor unitário arbitrário e p0 ∈ R3 um ponto arbitrário,
podemos definir um plano que passa pelo ponto p0 como o complemento ortogonal do dado
vetor v, ou seja
Π = {p ∈ R3 : hp − p0 , vi = 0}.
Exemplo 2.5.3. Dados p0 ∈ R3 um ponto arbitrário e um número real r > 0, podemos definir
a esfera de centro p0 e raio r pelo conjunto
S2 (r) = {p ∈ R3 : |p − p0 |2 = r2 }.
Tp S2 (r) = ker(dfp ) = {w ∈ R3 : hp − p0 , wi = 0} = Π.
Assim, para cada ponto p ∈ S2 (r), o correspondente plano tangente é o complemento orto-
gonal ao vetor que liga o centro da mesma com o próprio ponto p.
β(t) = (ϕ ◦ α)(t),
então tem-se que β é uma curva diferenciável sobre S2 e que β(0) = ϕ(α(0)) = ϕ(p), portanto
β 0 (0) é um vetor do plano tangente a S2 no ponto ϕ(p).
Vemos que β 0 (0) independe da eleição da curva α. Com efeito, sejam X : U ⊂ R2 −→ S
tal que X = X(u, v) e Y : V ⊂ R2 −→ S tal que Y = Y (ξ, η), duas parametrizações
locais em torno de p e de ϕ(p), respectivamente. Seja q ∈ U tal que X(q) = p e > 0
suficientemente pequeno para que a curva γ(t) = (u(t), v(t)), t ∈ (−, ) esteja contida
em U e tal que γ(0) = q. Defina a curva α(t) = X ◦ γ(t) = X(u(t), v(t)), para cada
t ∈ (−, ). Como ϕ é diferenciável, então a função h : U −→ V , dada por h = Y −1 ◦ ϕ ◦ X
é diferenciável em U e h ◦ γ(t) = h(u(t), v(t)) = (h1 (u(t), v(t)), h2 (u(t), v(t))). Considere a
curva β(t) = Y ◦ h ◦ γ(t) = Y (h1 (u(t), v(t)), h2 (u(t), v(t))), pela regra da cadeia tem-se que
0 ∂h1 0 ∂h1 0 ∂h2 0 ∂h2 0
β (0) = Yξ (h(q)) (q)u (0) + (q)v (0) + Yη (h(q)) (q)u (0) + (q)v (0)
∂u ∂v ∂u ∂v
o que implica que o vetor β 0 (0) pode-se expressar em coordenadas na base {Yξ , Yη } de Tϕ(p) S2
0 ∂h1 0 ∂h1 0 ∂h2 0 ∂h2 0
β (0) = (q)u (0) + (q)v (0), (q)u (0) + (q)v (0)
∂u ∂v ∂u ∂v
! !
∂h1 ∂h1 0
∂u
(q) ∂v
(q) u (0)
= ∂h2 ∂h2
· ∈ Tϕ(p) S2 ,
0
∂u
(q) ∂v
(q) v (0)
que independe de α como queríamos demonstrar.
O raciocínio anterior justifica a definição de aplicação diferencial associada uma dada função
diferenciável entre superfícies e mostra como o conceito de aplicação diferencial entre abertos
de Rn estende-se de maneira natural a funções diferenciáveis entre superfícies regulares, e
que ainda vai satisfazer as mesmas propriedades nesse novo contexto.
Sabemos, pelo exemplo 2.3.7, que a composição de aplicações diferenciáveis entre super-
fícies é uma aplicação diferenciável entre superfícies. Vemos no seguinte resultado que uma
das propriedades clássicas mais importantes das funções diferenciáveis pode-se estender ao
contexto das superfícies.
.
Aliás, se f : V ⊂ S −→ R, então sua aplicação diferencial pode-se definir, segundo a definição
acima, como uma função dfp : Tp S −→ R dada por
para cada w ∈ Tp S.
Exemplo 2.5.4. Sejam S uma superfície regular e O ⊂ R3 um conjunto aberto tal que S ⊂ O
e F : O −→ R uma função diferenciável. Seja f : S −→ R a restrição f = F |S . Dados p ∈ S
e w ∈ Tp S, para cada curva α : I −→ S tal que α(0) = p e α0 (0) = w tem-se que
d d
dfp (w) = (f ◦ α)(t) = (F ◦ α)(t) = dFp (w).
dt |t=0 dt |t=0
d d
dhp (w) = (h ◦ α)(t) = hα(t) − p0 , vi = hα0 (0), vi = hw, vi.
dt |t=0 dt |t=0
d d
dgp (w) = (g ◦ α)(t) = hα(t) − p0 , α(t) − p0 i = 2hα0 (0), α(0) − p0 i = 2hw, p − p0 i.
dt |t=0 dt |t=0
d d
dRz,θp (w) = (Rz,θ ◦ α)(t) = A · α(t) = A · α0 (0) = A · w = Rz,θ (w).
dt |t=0 dt |t=0
Observe que a aplicação diferencial neste caso não é outra que a rotação de ângulo θ do
próprio vetor tangente ao redor do eixo vertical.
dip (v) = v, ∀v ∈ Tp S.
Observação 2.5.3. Note que todo difeomorfismo local bijetivo é um difeomorfismo global.
Vimos que toda superfície regular é localmente difeomorfa ao plano. O seguinte resultado
é uma estensão do conhecido teorema da função inversa para aplicações diferenciáveis entre
superfícies regulares.
Demonstração. A primeira implicação é sabido pelo exemplo 2.5.2. Vemos que a implicação
contrária é consequência do teorema da função inversa (TFInv) do análise.
Sejam X : U ⊂ R2 −→ S1 e Y : W ⊂ R2 −→ S2 parametrizações locais ao redor de p ∈ S1
e de ϕ(p) ∈ S2 , respectivamente, de maneira que X(U ) ⊂ V e ϕ(X(U )) ⊂ Y (W ). Sabemos
que a função h = Y −1 ◦ ϕ ◦ X é diferenciável em q ∈ U , tal que p = X(q) pela definição
2.3.3. Assim, pela regra da cadeia (teorema 2.5.1) e a observação 2.5.2, tem-se que a função
Lembramos que, em topologia, uma aplicação aberta entre espaços topológicos é uma
aplicação que leva abertos do domínio em abertos do co-domínio.
Note que a aplicação inclusão é um difeomorfismo local, ver exemplo 2.5.8, portanto é
uma aplicação aberta pela proposição acima. Temos provado o seguinte resultado.
1 hp − p0 , vi
dfp (v) = v− (p − p0 ). (2.3)
|p − p0 | |p − p0 |3
1 |p − p0 |2
dfp (v) = (p − p0 ) − (p − p0 ) = 0,
|p − p0 | |p − p0 |3
2.6 Exercícios
1. Se S1 é um aberto da superfície S e p ∈ S1 , prove que Tp S1 = Tp S.
para um certo vetor unitário a ∈ R3 , o qual é a direção do seu eixo. Demonstrar que
3. Prove que a diferencial de uma função constante entre superfícies regulares é identica-
mente nula.
Livro do Manfredo, páginas 104-109, exercícios 1, 3, 4, 6, 7, 11, 13, 15, 18, 24.
54 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
Podemos também dar uma representação matrizial para a forma quadrática Q(v) = v t ·Mb ·v,
de maneira que Mb é a matriz simétrica associada a b.
Observação 2.7.1. Observe que podemos reverter o caminho mencionado acima, Se M é uma
matriz simétrica de ordem 2 e definimos a função Q : V −→ R tal que Q(v) = v t · M · v,
então pode-se provar facilmente que a aplicação b : V × V −→ R dada por
1
b(v, w) = (Q(v + w) − Q(v) − Q(w)) , ∀v, w ∈ V,
2
2.7. A PRIMEIRA FORMA FUNDAMENTAL. 55
!
hXu , Xu ip hXu , Xv ip
Mh , ip =
hXv , Xu ip hXv , Xv ip
Observe que Mh , ip é uma matriz simétrica. Além disso, como |Xu ×Xv | =
6 0, podemos definir
uma função N X : U ⊂ R2 −→ S2 dada por
Xu × Xv
N X (q) = (q), ∀q ∈ U.
|Xu × Xv |
Veremos posteriormente como essa função N X está relacionado com o conceito de ori-
entação da superfície S, desde que pode-se estender a todo S de maneira diferenciável.
Infelizmente não sempre será possível dar uma definição global da função N de maneira dife-
renciável. Estudaremos a orientabilidade de superfícies com detalhe na secção 2.9 e veremos
exemplos de superfícies nos quais N X pode se estendido globalmente a todo ponto de S de
maneira contínua, mesmo diferenciável, e outros onde não, como se mostra nas Figuras 2.20
e 2.21.
56 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
Pelo visto acima, o espaço R3 pode-se decompor na soma ortogonal de dois subespaços
vetoriais, a saber, o plano tangente Tp S e seu correspondente complemento ortogonal Tp S ⊥ ,
representado pela reta que passa por p na direção do vetor N X (q), que chamaremos de reta
normal a S em p.
onde E ≡ E(u(0), v(0)) = hXu (q), Xu (q)ip , F ≡ F (u(0), v(0)) = hXu (q), Xv (q)ip e G ≡
G(u(0), v(0)) = hXv (q), Xv (q)ip são os coeficientes da primeira forma fundamental na base
{Xu , Xv } de Tp S.
2.7. A PRIMEIRA FORMA FUNDAMENTAL. 57
X(u, v) = p0 + uξ + vη
para cobrir o plano totalmente. Vamos agora calcular os coeficientes da primeira forma
58 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
E = |ξ|2 ,
F = hξ, ηi,
G = |η|2 .
Observe que, o fato de F ser idénticamente nula significa, geometricamente, que as curvas
coordenadas são ortogonais em cada ponto da superfície S.
dada por
a qual cobre o cilindro todo exceto a reta vertical que passa pelo ponto (r, 0, 0). Queremos
calcular os coeficientes da primeira forma fundamental dessa parametrização do cilindro,
2.7. A PRIMEIRA FORMA FUNDAMENTAL. 59
F = 0
G = 1.
O cilindro pertence à família das superfícies de revolução definidas na secção 2.3. Calcula-
mos no seguinte exemplo os coeficientes da primeira forma fundamental da família completa.
é uma parametrização de S, a qual fica coberta totalmente exceto pela curva α(t) =
(f (t), 0, g(t)), ∀t ∈ I.
Queremos calcular os coeficientes da primeira forma fundamental para essa família de su-
perfícies. Igual que em exemplos anteriores, precisamos de calcular as derivadas parciais da
parametrização, assim
E = (f 0 (t))2 + (g 0 (t))2 ,
F = −f (t)f 0 (t)Sin(u)Cos(u) + f (t)f 0 (t)Sin(u)Cos(u) = 0,
G = (f (t))2 ,
que independe de u.
ver exemplo 1.1.2. Se define a helicoide H como a união das retas que passam pelos pontos
(0, 0, t) e α(t), para todo t ∈ R. Observe que, a reta para t = 0 está contida no plano
horizontal e as restantes são paralelas a esse plano. Assim, lembrando o exemplo 1.1.1, a
E = 1 + v2
F = −vSin(u)Cos(u) + vSin(u)Cos(u) = 0
G = 1.
direção normal em cada ponto. Em termos da geometria diferencial, esse estudo intrínseco se
traduz no estudo das propriedades geométricas das superfícies que só dependem da primeira
forma fundamental.
O ângulo formado por duas curvas concorrentes e contidas em uma superfície S é o
ângulo formado pelos respectivos vetores tangentes às curvas no ponto de concorrência. Se
chamamos de wα e de wβ tais vetores, o ângulo pode-se calcular por médio da fórmula
hwα , wβ i
Cos(θ) = .
|wα ||wβ |
fornece à esfera unitária de coordenadas esféricas, as quais cobrem a esfera exceto um grande
círculo, o qual é um subconjunto de medida zero na esfera.
E = 1,
F = 0,
G = Sin2 (θ).
As loxódromas da esfera são curvas que formam um ângulo constante γ0 com os meridi-
anos de S2 . Seja α(t) = X(θ(t), ϕ(t)) uma curva parametrizada loxódroma na esfera, então
as loxódromas satisfazem
que é uma equação diferencial para as funções θ e ϕ. Manipulando a equação acima tem-se
62 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
que
θ0 (t)
p = Cos(γ0 ),
(θ0 (t))2 + (ϕ0 (t))2 Sin2 (θ(t))
Cos2 (γ0 ) (θ0 (t))2 + (ϕ0 (t))2 Sin2 (θ(t)) = (θ0 (t))2
Cos2 (γ0 )(θ0 (t))2 + (ϕ0 (t))2 Cos2 (γ0 )Sin2 (θ(t)) = (θ0 (t))2
(ϕ0 (t))2 Cos2 (γ0 )Sin2 (θ(t)) = Sin2 (γ0 )(θ0 (t))2
(ϕ0 (t))2 Sin2 (θ(t)) = T an2 (γ0 )(θ0 (t))2
S pela definição acima. Antes de definirmos o conceito de área de uma região, vamos provar
que a integral Z
|Xu ∧ Xv | dudv,
Q
∂u ∂v
Yr = Xu + Xv ,
∂r ∂r
∂u ∂v
Ys = Xu + Xv .
∂s ∂s
onde
∂u ∂u
∂r ∂s
∂v
∂v
∂r ∂s
o que demonstra nossa afirmação anterior. Portanto podemos enunciar a seguinte definição.
2.7. A PRIMEIRA FORMA FUNDAMENTAL. 65
onde Q = X −1 (R) ⊂ U .
Observação 2.7.2. Observe que, em muitos exemplos podem-se dar parametrizações das
superfícies que a cobrem totalmente a menos de pontos ou curvas, elementos que têm medida
nula no espaço e que, portanto, não influem no valor da integral.
O número |Xu ∧ Xv | representa a área de um paralelogramo em U de lados Xu e Xv .
Denotamos por
dS = |Xu ∧ Xv | dudv,
Assim
E = r2 ,
F = 0,
G = r2 Sin2 (θ).
√
Usando isso temos que EG − F 2 = r2 Sin(θ) e portanto
Z π Z 2π
2 2
A(S (r)) = r Sin(θ) dϕ dθ = 4πr2 .
0 0
X(u, v) = ((RCos(u) + r)Cos(v), (RCos(u) + r)Sin(v), RSin(u)) , 0 < u < 2π, 0 < v < 2π,
E = r2 ,
F = 0,
G = (R + rCos(u))2 .
√
Usando isso temos que EG − F 2 = r(R + rCos(u)) e portanto
Z 2π Z 2π
A(T ) = r(R + rCos(u)) dv du = 4π 2 Rr.
0 0
E = (f 0 (t))2 + (g 0 (t))2 ,
F = 0,
G = (f (t))2 ,
Se tomamos uma curva geratriz α(s) = (f (s), 0, g(s)), s ∈ I que seja PCA, então os
coeficientes são
E = 1,
F = 0,
G = (f (s))2 ,
√
e portanto EG − F 2 = f (s), para todo s ∈ I. Se limitamos o intervalo I = (a, b), pra
certos números reais a < b, então
Z b Z 2π Z b
A(S) = f (s) du ds = 2π f (s) ds.
a 0 a
2.8 Exercícios.
1. Dadas S uma superfície regular e α : I −→ S uma curva parametrizada contida em S.
Se (a, b) ⊂ I, prove que o comprimento de arco de α no intervalo (a, b) é um conceito
intrínseco da superfície.
3. Calcule a área de uma helicoide para 0 < u < 2π e 0 < v < 1 (ver exemplo 2.7.4).
a qual satisfaz que N X (q) ⊥ TX(q) S e |N X (q)| = 1, para todo q ∈ U pela própria definição
de N X . Podemos definir então o campo N : X(U ) ⊂ S −→ S2 ⊂ R3 dado por
N (p) = (N X ◦ X −1 )(p), ∀p ∈ S,
que é normal e unitário em S pela definição acima. Acabamos de provar o seguinte resultado:
É intuitivo pensar que o plano tangente a uma superfície regular em cada ponto p possui
uma única direção normal, a qual determina apenas dois vetores normais unitários, um por
cada sentido de percurso possível na reta. Vemos a seguir que uma superfície conexa possui
apenas duas faces.
Demonstração. Em cada p ∈ S, temos que N1 (p) e N2 (p) são vetores unitários e perpendi-
culares ao mesmo plano Tp S ⊂ R3 , então, ponto a ponto, esses vetores são iguais ou opostos.
Vemos a seguir como a conexão de S nos permite concluir a prova do lema.
Com efeito, se definimos os subconjuntos de S
A = {p ∈ S : N1 (p) = N2 (p)},
B = {p ∈ S : N1 (p) = −N2 (p)},
Definição 2.9.2. Dizemos que uma superfície regular S é orientável, se sobre ela pode-se
definir um campo normal e unitário. Em caso contrário, S é dita não-orientável.
Cada campo normal e unitário sobre uma superfície orientável S é chamado de orientação
de S e, se escolhemos uma orientação em uma superfície orientável S, então a superfície é
dita orientada.
2.9. ORIENTAÇÃO EM SUPERFÍCIES. 71
Observação 2.9.1. Os lemas 2.9.1 e 2.9.2 dizem-nos que toda superfície regular é localmente
orientável e que existem apenas duas orientações para cada superfície conexa e orientável.
O lema 2.9.1 diz-nos ainda mais, pois se uma superfície regular pode ser coberta totalmente
com uma única parametrização X : U −→ S, então
Xu − Xv
N (p) = (N X ◦ X −1 )(p) = , ∀p ∈ S,
|Xu − Xv |p
Tp Π = ker(dfp ) = {w ∈ R3 : hw, vi = 0} = Tp Π⊥ ,
N (p) = v, ∀p ∈ Π,
Exemplo 2.9.4. A imagem inversa de um valor regular de uma função diferenciável é orien-
tável.
72 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
para certas funções diferenciáveis f, g : I −→ R de maneira que f (s) > 0, para todo s ∈ I.
Vimos no exemplo 2.3.9 que
Logo
Xs ∧ Xu
N (p) =
|Xs ∧ Xu |p
0
−g (s)f (s)Cos(u) −g 0 (s)f (s)Sin(u) f 0 (s)f (s)
= , ,
f (s) f (s) f (s)
0 0 0
= (−g (s)Cos(u), −g (s)Sin(u), f (s)).
2.9. ORIENTAÇÃO EM SUPERFÍCIES. 73
Dado que a parametrização é local, a conta acima é insuficiente para poder concluir que S
é orientável, mas podemos fazer a seguinte observação. Considere a rotação Rz,θ (exemplo
2.3.8) em torno do eixo vertical e a função J : R3 −→ R3 dada por
0 0 −1 x
3
0 1 0 · y = (−z, y, x), ∀p = (x, y, z) ∈ R .
J(x, y, z) =
1 0 0 z
Assim, a função F : R3 −→ R3 dada por F (w) = (Rz,u ◦ J)(w) é uma isometria do espaço
e está bem definida em todo ponto de R3 . Se restringimos F ao conjunto de vetores C
e=
{α0 (s) : s ∈ I}, então
coincide com N (p) em cada p ∈ S. Note que J é a rotação de ângulo 90o em torno ao eixo y, o
que implica que esse vetor é perpendicular a α0 (s) no plano xz para cada s. Quando aplicamos
74 CAPÍTULO 2. SUPERFÍCIES REGULARES.
A pesar de ter provado que toda superfície regular é localmente orientável, a família de
superfícies não-orientáveis não e vazio. Vamos ver que tais superfícies existem no seguinte
exemplo.
X a menos do segmento L. Para maiores detalhes, consulte [1, Sec. 2.6, Ex. 3] ou [2, págs.
80-84].
Derivando temos que
u 1 u
Xu (u, v) = 2 − vSin Cos(u) − vSin(u)Cos ,
2 2 2
u 1 u 1 u
− 2 − vSin Sin(u) − vCos(u)Cos , − vSin ,
2 2 2 2 2
u u u
Xv (u, v) = −Sin(u)Sin , −Cos(u)Sin , Cos .
2 2 2
Para os nossos objetivos, é suficiente considerar só a linha central da faixa, isto é a curva
X(u, 0). Portanto
2.10 Exercícios.
1. Suponha que uma superfície S é tal que S = S1 ∪ S2 , onde S1 e S2 são superfícies
orientáveis tais que S1 ∩ S2 é conexa. Prove que S é também orientável.
77
78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lista de Figuras
79
80 LISTA DE FIGURAS