Você está na página 1de 260

O DESENVOLVIMENTO E A

ENTREGA DE SERMÕES EXPOSITIVOS

HADDON ROBINSON
Copyright - S h e d d P u b l i c a ç õ e s
Título do original em inglês: B ib lical preaching: the development
an d delivery o f expository messages
Publicado pela Baker Academic, 2 0 0 1- 2a Edição

IaEdição (Atualizada e Ampliada) - Fevereiro de 2003


Reimpressões - 11/05, 09/08, 08/11, 01/14, 10/15
Publicado no Brasil com a devida autorização
e com todos os direitos reservados por
S h e d d P u b l ic a ç õ e s L t d a
Rua São Nazário, 30, Sto Amaro
São Paulo-SP - 0 4 7 4 1-15 0
Tel. (011) 5 5 2 1-19 2 4
Proibida a reprodução por quaisquer
meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos,
fotográficos, gravação, estocagem em banco de
dados, etc.), a não ser em citações breves
com indicação de fonte.

ISBN 9 78 -8 5 -8 8 3 15 -17 -3
Printed in Brazil / Impresso no Brasil

T ra d u ç ã o - Hope Gordon Silva


R e v is ã o - Ruth Hayashi Yamamoto
D ia g r a m a ç ã o / C a p a - Edmilson Frazão Bizerra

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


(CIP) DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

R661 Robinson, Haddon W


Pregação bíblica : o desenvolvimento e a entrega de
sermões expositivos / Haddon W Robinson ; tradução Hope
Gordon Silva. - São Paulo: Shedd Publicações, 2002.
272p.; 140x21 Ocm

ISBN: 978-85-88315-17-3

1. Pregação. I. Silva, Hope Gordon. II. Título.


CDD: 232
Aos hom ens e mulheres
que guardam seu com prom isso sagrado
n o d om in go d e manhã.
D esnorteados p o r vozes sedutoras,
tratando feridas que a vida lhes causou,
ansiosos acerca d e coisas que não importam.
M esm o assim vêm escutar uma palavra clara da p arte d e D eus
que fala à sua condição.

E aos que m inistram a eles agora


e aos que farão isso n o futuro.
Sum ário

P refácio à S eg u n d a E d iç ã o ....................................................... Ç
P refácio à P rim e ira E d iç ã o ...................................................... 1 3
1. O A rg u m en to a fav o r da P regação E x p o sitiv a ............. 1 7
2■ Q u a l é a C irande id é ia ? ............................................................. 3 5
3. F erram en tas do O fíc io .................................................................. 5 5
4. O C am in h o do Texto ao S e rm ã o ........................................ 7Ç
5. A F lech a e o A lv o ............................................................................ 1 1 1
6. A s F o rm as q u e o s S erm õ es A ssum em ................... 1 2 3
7. D ando Vida ao s O ssos S e c o s ................................................. 14Ç
8. C om ece com um E stron do e T erm ine com Tudo
C o m p leto .............................................................................................1 7 7
Ç. A V estim enta do P en sam en to .................................................. 1 Ç 7
1 0 . C om o P re g a r p a ra q u e a s P esso as O uçam .. 215
U m a Ú ltim a P a la v ra ................................................................... 2 3 5
A p ên d ice n o . 1 : R e sp o sta s a o s E x e rc íc io s .. 241
A p ên d ice n o . 2 : M o delo de S erm ão e a
A v a lia ç ã o do S e rm ã o ........ 245
N o tas ...................................................................................................... 2 6 3
B ib lio g rafia ........................................................................ 2 6 9
á c io à S e g u n d a E d ição

Vinte anos já se passaram, desde que escrevi A P regação


Bíblica. Vinte anos. Quando se trata da vida de uma pessoa, isso
é muito tempo. Nas palavras de Charles Dickens, foram os
melhores dos tempos e os piores dos tempos. As ocasiões sofridas
acrescentaram um tom novo em minha pregação - uma
compaixão para com os pecadores e uma apreciação muito grande
pela graça de Deus. Infelizmente não tenho como colocar isso
neste livro.
Nos vinte anos desde então, fiquei feliz e surpreso pelas
pessoas que adquiriram A Pregação Bíblica. Eu me convenci de
que alguns até o leram. Estudantes de minhas classes no Seminário
de Denver e no Seminário Teológico Gordon-Conwell tiveram
que ler o livro como tarefa de classe. Em geral, falaram bem dele.
Estudantes de outros estabelecimentos também já o usaram como
texto. As vezes recebo comentários de apreciação de outros que
me escreveram, ou que me procuraram em uma conferência, para
me dizer que o livro lhes forneceu alguma orientação em sua
pregação. Veteranos experientes que estudaram homilética no
tempo da idade média falaram bem dele e o empregaram para
fazer um curso de atualização. Fico feliz com a aceitação.
Então, por que uma segunda edição? Bem, eu mudei. Sou
mais velho agora e talvez um pouco mais sábio. Vejo algumas
coisas mais claramente agora do que duas décadas atrás. Não
10

mudei meu procedimento básico: os sermões precisam tratar de


idéias, pois, caso contrário, não tratam de nada. Ao reler estas
páginas, no entanto, percebo que possuo uma capacidade incrível
de tomar embaraçadas as coisas claras. Algumas seções do livro,
portanto, foram, em sua maior parte, reescritas para terem nova
oportunidade de esclarecer o que eu queria dizer.
O retorno dado por estudantes também me induziu a mudar
alguns dos exercícios, na conclusão dos primeiros capítulos. Parte
do material original estava complexo e abstrato demais, e isso
frustrava mais do que auxiliava o estudante. Tentei melhorar o
texto.
Também mudei minha linguagem, para que refletisse minha
teologia. Deus não distribui seus dons de acordo com a distinção
de gênero. Tanto mulheres como homens têm a capacidade e
responsabilidade de comunicar a Palavra de Deus. Sempre acreditei
nisso, mas a linguagem em meu primeiro livro refletia um claro
preconceito a favor do homem. Aquelas mulheres que já usaram
meu livro, apesar disso, expresso gratidão pela gentileza. Nesta
revisão espero ter demonstrado os frutos de meu arrependimento.
Nos últimos vinte anos, a cultura mudou. A televisão e o
computador influenciaram nossas maneiras de aprender e pensar.
A pregação narrativa tornou-se moda e reflete ser uma realidade
que os ouvintes, em uma cultura televisiva, pensam com imagens,
com figuras em suas mentes. Dei um pouco mais de atenção es­
pecial à discussão da pregação narrativa, desta vez. Sermões
indutivos também refletem a influência de uma cultura baseada
em acontecimentos narrados. Embora eu escrevesse sobre a
indução, vinte anos atrás, dei mais ênfase a isso na revisão.
Muitos outros autores escreveram sobre a pregação, durante
os últimos vinte anos. Não só ampliei a bibliografia na conclusão
do livro, para atualizá-lo, como também, no fim de vários
capítulos, sugeri livros para estudo adicional.
No primeiro prefácio mencionei um rol de honra de pessoas
que me influenciaram de modo especial. Quero agradecer a todos
eles novamente. Além disso quero incluir na lista meu amigo
11

Scott Gibson. Ele é um valioso companheiro que deixou sua marca


em minha vida. Sid Buzzell, Terry Mattingly e Don Sunukjian
lecionaram a meu lado, na área de Doutorado em Ministério,
em Gordon-Conwell. Ao ensinarem aos participantes do
programa, ensinaram-me também muita coisa.
O que devo a Alice Mathews, que tem um coração nobre e
uma mente brilhante, nunca poderei recompensar. Ela não só
me deu sugestões valiosas, como investiu horas no manuscrito,
quando já tinha seu horário cheio, escrevendo e lecionando. Sei
o quanto é valioso seu tempo. Sócrates certa vez perguntou a um
velho simples o que ele mais agradecia na vida. O homem idoso
respondeu: “Que sendo como sou, tenho tido os amigos que tive”.
E assim que eu me sinto.
Para terminar, mais uma vez agradeço a minha esposa,
Bonnie. Nos cinqüenta anos juntos, seu calor humano não esfriou
nem sua beleza diminuiu. E uma mulher notável. Nunca deixou
de me maravilhar o fato de que ela escolheu casar-se comigo.
P re íá c io à P rim e ira E d ição

Durante a leitura de um livro, às vezes tenho pensado no


prefácio como sendo matéria que poderia ser omitida. E como
os hinos num culto mal planejado. O autor o colocou como um
pára-choque, antes de tratar do assunto do seu livro.
Como autor, porém, considero o prefácio algo absolutamente
necessário. Nao é sem hesitação que escrevo este volume, e o
prefácio me dá a oportunidade de registrar a necessária renúncia
de responsabilidades. A literatura da homilética destaca os nomes
de pregadores brilhantes e de mestres elevados. Deve-se pensar
duas vezes —e mais duas vezes —antes de nomear-se como membro
desse grupo.
É compreensível que um leitor tome por certo que qualquer
pessoa que escreve sobre a pregação, deve considerar-se um mestre
na disciplina. Não é o caso! Já preguei minha porção de sermões
esquecíveis. Conheço a agonia de preparar uma mensagem e,
depois de a ter pregado, sentir que não sabia absolutamente nada
acerca da arte da pregação.
Se posso alegar possuir qualquer qualificação, é esta: sou um
bom ouvinte. Durante duas décadas, na sala de aula, avaliei quase
seis mil sermões de estudantes. Meus amigos ficam maravilhados,
porque, depois de eu escutar centenas de pregadores principiantes
passarem tropeçando por seus primeiros sermões, ainda não sou
ateu. Contudo, escutando-os, aprendi quais os ingredientes de
14

um sermão eficaz, e acho que descobri o que fazer e o que evitar.


Como professor de pregadores, sou um pouco como Leo
Durocher. Quando jogava beisebol, sua média de pontos não era
muito maior que o número da sua camisa, mas como técnico
treinou vários times bem-sucedidos.
Muitos dos meus estudantes passaram a ser comunicadores
eficientes da Palavra de Deus, e me garantem que eu tive influência
sobre seus ministérios. Eles e eu sabemos que as regras da
homilética, em si, não produzem pregadores eficientes. O
estudante deve possuir algum dom e, muito mais, um desejo
inapagável de colocar uma passagem da Escritura em contato
com a vida. Richard Baxter comentou, certa vez, que nunca
conheceu um homem que valesse qualquer coisa no seu ministério
que não tivesse um desejo, chegando quase à tristeza, de ver o
fruto de seu labor. É preciso haver a união entre princípios e
paixão, antes de muita coisa significativa ocorrer no púlpito. Neste
livro, portanto, passo adiante um método para aqueles que estão
aprendendo a pregar, ou para pessoas experimentadas que querem
fazer uma recordação dos princípios básicos. Espero ter-me
expressado de modo suficientemente claro, para beneficiar leigos
- homens e mulheres - que ensinam as Escrituras. Mesmo assim,
a esta matéria o leitor acrescenta sua própria pessoa - sua vida,
seus discernimentos, sua maturidade, sua imaginação e sua
dedicação. Como o hidrogênio e o oxigênio na produção da água,
o desejo e a instrução juntos produzem comunicadores eficazes
da verdade de Deus.
Quando comecei a ensinar, não pretendia escrever. Só queria
achar conselhos úteis suficientes para dar a meus alunos um modo
de proceder, enquanto se preparavam para pregar. Desesperado
por achar alguma coisa sensata para dizer, fiz muita leitura. É
difícil agradecer suficientemente a dívida imensa que eu tenho
para com outras pessoas. Por exemplo, H. Grady Davis fez uma
contribuição especial. Enquanto estava procurando achar meu
caminho, o livro dele me achou. Embora ele queira, talvez,
repudiar qualquer conexão com este volume, sua obra D esign fo r
15

P reaching foi como que fermento para meus pensamentos. Fiz


uso de uma miríade de outras fontes também —algumas já
esquecidas, mas não deliberadam ente. Diante daqueles
contribuintes desconhecidos, pleiteio a experiência de Homero,
conforme Rudyard Kipling a relata:

Ao dedilhar Homero a sua lira,


em terra e mar o canto humano ouvira;
e o pensamento que ele requereu,
bem cedo adotou —assim como eu.

As moças do mercado e pescadores,


marinheiros, e também pastores
canções antigas ouviram reviver - ...
pois não “dedaram” —assim como você.

Sabiam que era plágio (sabia que sabiam)


Não contavam, nem escândalo faziam —
piscavam para Homero. Isto só.
E Homero lhes piscava - como nós!1

Reconheço minha dívida a centenas de outros. Àqueles


estudantes que levantaram as perguntas que fui forçado a re­
sponder - e que eram francos, de maneira gentil, quando eu
simplesmente não conseguia explicar com clareza - devo mais
do que agradecimentos. Meus ex-colegas do Seminário Teológico
de Dallas contribuíram muito mais do que fazem idéia. Duane
Litfin, John Reed, Mike Cocoris, Elliott Johnson, Harold
Hoehner, e Zane Hodges, entre outros, são homens que amam
a Deus com suas mentes - e que não hesitam em dar sua opinião.
Bruce Waltke, do Regent College, contribuiu enormemente à
minha vida, no decurso de vinte anos, e providenciou um
modelo de erudição ligado à vida. Visto que todos estes e outros
me influenciaram profundamente, é apenas justo que carreguem
boa parte da culpa, pelas fraquezas existentes neste volume!
16

Nancy Hardin merece menção especial. Não somente


preparou e datilografou o manuscrito, como também, qual
sentinela vigilante, protegeu meu tempo, para que eu pudesse
achar oportunidades para escrever.
E minha esposa, Bonnie! Quanta coisa devo a ela! Só ela
sabe, enquanto lê estas palavras, quanta coisa fez por mim. Só eu
conheço a influência profunda que ela tem tido sobre minha vida.
Agora que o prefácio já está escrito, podemos ocupar-nos com
a tarefa. Qualquer pessoa que é sensível às Escrituras, conhece o
reverente temor do ministério. Matthew Simpson, em sua obra
Lectures on Preaching, colocou o pregador no seu devido lugar: “Seu
trono é o púlpito; ele representa a Cristo, sua mensagem é a palavra
de Deus, em derredor dele há almas imortais; o Salvador, sem ser
visto, está a seu lado; o Espírito Santo paira sobre a congregação;
anjos contemplam a cena, e o céu e o inferno aguardam o resultado.
Que associações e que vasta responsabilidade!”.2
C a p ít u l o 1

O A rg u m e n to a F a v o r d a
P reg ação E x p o sitiv a

Este é um livro a respeito da pregação expositiva, mas pode


ter sido escrito para um mercado em baixa. Nem todos concordam
que a pregação expositiva - ou qualquer tipo de pregação - seja
uma necessidade urgente da igreja. Em certos círculos, o recado é
que a pregação deve ser abandonada. O dedo que avança, já passou
por ela e agora aponta para outros métodos e ministérios que são
mais “eficazes” e mais sintonizados com os tempos.
A D e sv a lo riz a ç ã o d a P re g a ç ã o
Explicar por que a pregação recebe estas notas baixas, nos
levaria a cada uma das áreas da nossa vida comum. Como os
pregadores já não são mais vistos como líderes intelectuais ou
mesmo espirituais em suas comunidades, a imagem deles mudou.
Peça ao homem no banco da igreja que descreva um ministro, e
a descrição poderá não ser lisonjeira. Segundo Kyle Hasselden, o
pastor surge como “um compósito insípido” da congregação:
como “escoteiro agradável, sempre prestativo, sempre pronto para
ajudar; como o querido das senhoras idosas e como
suficientemente reservado com as mais jovens; como a imagem
paternal para os moços e companheiro para os homens solitários;
18

como o cordial recepcionista afável nos chás e nos almoços dos


clubes cívicos”.1 Se isto, de algum modo, retrata a realidade,
mesmo que as pessoas gostem do pregador, certamente não irão
respeitá-lo.
Além disto, a pregação acontece numa sociedade que é alvo
de comunicações em demasia. A m ídia massificada nos
bombardeia com cem mil “mensagens” por dia. A televisão e o
rádio apresentam mascates que entregam uma “palavra do
patrocinador” com toda a sinceridade de um evangelista. Dentro
desse contexto, o pregador talvez dê a impressão de ser mais uma
pessoa mercenária que, nas palavras de John Ruskin, “faz truques
de palco com as doutrinas da vida e da morte”.
Mais importante, talvez, é que alguns ministros no púlpito
se sentem furtados de uma mensagem de autoridade. Boa parte
da teologia moderna lhes oferece pouco mais do que palpites
santificados, e eles suspeitam que os sofisticados nos bancos das
igrejas tenham mais fé nos textos de ciência do que nos textos da
pregação. Para alguns pregadores, portanto, os últimos modismos
na comunicação seduzem mais do que a mensagem..
Apresentações multimídia, vídeos, sessões de compartilhamento,
luzes estroboscópicas e a música do momento podem ser sintomas
ou de saúde ou de doença. Sem dúvida, as técnicas modernas
podem realçar a comunicação, mas, por outro lado, podem
substituir a mensagem. O surpreendente e o incomum podem
servir de disfarce para um vácuo.
A ação social apela mais a certo segmento da igreja do que
o falar ou o escutar. Para que servem palavras de fé, perguntam
eles, quando a sociedade exige obras de fé? As pessoas com
este cunho mental julgam que os apóstolos inverteram as
coisas, quando resolveram: “Não é certo negligenciarmos o
ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas” (At
6.2). Num dia de ativismo, seria mais relevante declarar: “Não
é razoável que abandonemos o serviço às mesas para pregar a
Palavra de Deus”.
19

O A rg u m e n to a fa v o r d a P re g a ç ã o
A despeito da maledicência contra a pregação e os pregadores,
ninguém que leva a sério a Bíblia ousa descartar a pregação. Para
os escritores do Novo Testamento, a pregação destaca-se como o
evento através do qual Deus opera. Pedro, por exemplo, lembrou
seus leitores de que “foram regenerados, não de uma semente
perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e
permanente” (lPe 1.23 n v i ) . Como foi que esta palavra veio a
afetar a vida deles? Pedro explicou: “Essa é a palavra que lhes fo i
anunciada ’ (1.25; “que foi pregada a vocês” Bíblia Viva). Através
da pregação, Deus os havia remido.
Paulo era um escritor. Da sua pena, temos a maioria das cartas
inspiradas do Novo Testamento e, encabeçando a lista de suas
cartas, há aquela aos Romanos. Medida pelo impacto que tiveram
sobre a história, poucos documentos se comparam com ela.
Mesmo assim, quando Paulo escreveu esta carta à congregação
em Roma, confessou: “Anseio vê-los, a fim de compartilhar com
vocês algum dom espiritual, para fortalecê-los, isto é, para que eu
evocês sejamos mutuamente encorajados pela fé” (Rm 1.11-12).
Paulo reconhecia que alguns ministérios não podem ser realizados,
de forma alguma, sem o contato face a face. Nem a leitura de
uma carta inspirada serve de substituto: “Estou disposto a pregar
o evangelho também a vocês que estão em Roma” (1.15). Através
da palavra pregada vem um poder que nem mesmo a palavra
escrita pode substituir.
Além disto, Paulo relatou a história espiritual dos tessalo-
nicenses que “voltaram-se a Deus, deixando os ídolos, a fim de
servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus seu Filho”
(lTs 1.9-10). Aquela reviravolta ocorreu, explicou o apóstolo,
porque “vocês o aceitaram, não como palavra de homens, mas
conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua
com eficácia em vocês, os que crêem” (2.13). A pregação, no
pensar de Paulo, não consistia em alguma pessoa discutir religião.
Pelo contrário, o próprio Deus falava através da personalidade e
20

mensagem de um pregador, para confrontar os homens e mulheres


e trazê-los para si.
Tudo isso explica por que Paulo encorajava seu jovem
companheiro Timóteo a “pregar a palavra” (2Tm 4.2). Pregar
significa proclamar, anunciar ou exortar. Pregadores devem
conclamar a mensagem com paixão e fervor, a fim de comover
almas. Nem todas as súplicas apaixonadas feitas do púlpito, no
entanto, possuem autoridade divina. Quando o pregador fala
como arauto, deve proclamar “a Palavra”. Qualquer coisa a menos
não pode legitimamente passar como sendo pregação cristã.
A N e c e ssid a d e d e P re g a ç ã o E x p o sitiv a
O homem no púlpito enfrenta a insistente tentação de pregar
alguma mensagem que não seja aquela das Escrituras - um sistema
político (quer da direita ou da esquerda), uma teoria de ciência
econômica, uma nova filosofia religiosa, antigos slogans religiosos
ou uma tendência da psicologia. Um pregador pode proclamar
qualquer coisa, com voz imponente, no domingo de manhã,
depois de serem cantados os hinos. Mesmo assim, quando um
pregador deixa de pregar as Escrituras, perde sua autoridade. Já
não confronta seus ouvintes com uma palavra vinda da parte de
Deus. Logo, a maior parte da pregação moderna provoca pouco
mais do que grandes bocejos. Deus não está nela.
Deus fala através da Bíblia. E a principal ferramenta de
comunicação, mediante a qual ele se dirige aos indivíduos, hoje.
A pregação bíblica, portanto, não deve ser igualada com “a velha
história de Cristo e seu amor”, como se recontasse uma história
acerca de tempos melhores, quando Deus estava com vida e
passando bem. A pregação também não é um prato requentado
de idéias acerca de Deus ortodoxas, sim porém distantes da vida.
Através da pregação das Escrituras, Deus se encontra com homens
e mulheres e os traz à salvação (2Tm 3.15) e à riqueza e maturidade
do caráter cristão (2Tm 3.16-17). Algo nos enche de reverente
admiração, quando Deus confronta um indivíduo através da
pregação e agarra-o pela alma.
21

O tipo de pregação que melhor transmite a força da autoridade


divina é a pregação expositiva. Seria fátuo, porém, pressupor que
todos concordam com esta declaração. Uma pesquisa de
freqüentadores de igrejas que se contorceram durante horas,
ouvindo pregação rotulada expositiva, mas seca como flocos de
milho sem leite, não mostraria acordo sobre esse ponto, e nem
seria de se esperar. Embora a maioria dos pregadores já tenham
sido apresentados à pregação expositiva, sua prática os delata. Como
poucas vezes eles a empregam, também votam “não”.
Admitimos que a pregação expositiva já sofreu, severamente,
nos púlpitos de homens que alegam ser seus amigos. Nem toda a
pregação expositiva é, contudo, necessariamente qualificada como
sendo “expositiva”, nem sequer como “pregação”. Infelizmente,
a Repartição de Pesos e Medidas ( a b n t —Associação Brasileira de
Normas Técnicas) não tem numa redoma de vidro um sermão
expositivo padrão, com o qual as demais mensagens devam ser
comparadas. Qualquer fabricante pode colar o rótulo “expositivo”
em qualquer sermão que queira, e nenhum Ralph Nader o
corrigirá. Mas a despeito dos danos feitos por impostores, a
pregação expositiva genuína tem, por detrás dela, o poder do
Deus vivo.
Qual é, pois, o artigo genuíno? Em que se constitui a pregação
expositiva? Como se compara ou contrasta com outros tipos de
pregação?
A D e fin iç ã o d a P r e g a ç ã o E x p o sitiv a
Tentar uma definição torna-se uma questão desajeitada,
porque, ao definir algo, às vezes o destruímos. O menino que
dissecou uma rã, para descobrir o que a levava a pular, aprendeu
algo sobre as partes, mas matou a rã. A pregação é uma interação
viva que envolve Deus, o pregador e a congregação, e nenhuma
definição pode ter a pretensão de captar essa dinâmica. Mas, por
amor à clareza, devemos tentar uma definição aproveitável para a
prática.
22

A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico,


derivado de, e transmitido através de um estudo histórico,
gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o
Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência
do pregador, e depois, através dele, a seus ouvintes.

A P a ssa g e m G overn a o S erm ão

Quais são os pormenores desta definição complexa e um tanto


seca que devemos ressaltar? Primeiro, e acima de tudo, o
pensamento do escritor bíblico determina a substância de um
sermão expositivo. Em muitos sermões, a passagem bíblica lida à
congregação se assemelha ao hino nacional tocado num jogo de
futebol dá início às atividades, mas não é mais ouvido naquela
ocasião. Na pregação expositiva, conforme a descrição de R. H.
Montgomery, “o pregador empreende a apresentação de livros
específicos (da Bíblia) como alguns homens abordariam o último
b est seller. O pregador procura levar a seu povo a mensagem de
unidades específicas da Palavra de Deus”.
A pregação expositiva é, no seu âmago, mais uma filosofia
do que um método. Se um homem pode ser chamado expositor,
ou não, depende do seu propósito e da sua resposta à pergunta:
“Você, como pregador, procura curvar seu pensamento às
Escrituras, ou emprega as Escrituras para apoiar seu pensamento?”
Essa não é a mesma pergunta que: “O que você prega é ortodoxo
ou evangélico?” Nem é a mesma como: “Você tem um alto
conceito da Bíblia ou crê que ela é a Palavra infalível de Deus?”
Por mais importantes que estas perguntas possam parecer noutras
circunstâncias, alcançar nota de aprovação em teologia sistemática
não qualifica um indivíduo como expositor da Bíblia. A teologia
talvez nos proteja dos males que ficam de espreita, nas
interpretações atomísticas e míopes, mas, ao mesmo tempo, pode
vendar e impedir-nos de ver o texto. Em nossa abordagem a uma
passagem, devemos estar dispostos a reexaminar nossas convicções
doutrinárias e a rejeitar as opiniões dos nossos professores mais
respeitados. Devemos abandonar nossos modos anteriores de
23

entender a Bíblia, caso estes entrem em conflito com os conceitos


do escritor bíblico.
Adotar essa atitude para com a Escritura exige tanto
simplicidade como sofisticação. De um lado, o expositor aborda
sua Bíblia com uma atitude infantil, para ouvir a história de novo.
Não vem argumentar, nem comprovar um ponto de vista, nem
sequer achar um sermão. Lê para entender e para experienciar o
que entende. Ao mesmo tempo, sabe que vive, não como criança,
e sim como adulto trancado nas pressuposições e cosmovisões
que tornam difícil o entendimento. A Bíblia não é um livro de
histórias para crianças, e sim, literatura grandiosa que requer uma
resposta bem pensada. Todos os seus diamantes não jazem
expostos na superfície para serem colhidos como flores. Sua
riqueza é extraída somente através de árduo trabalho preparatório,
intelectual e espiritual.
O E x p o s it o r C o m u n ic a u m C o n c e it o

A definição da pregação expositiva também enfatiza que o


expositor com unica um conceito. Alguns pregadores
conservadores foram desencaminhados por sua doutrina da
inspiração e por uma compreensão inadequada de como funciona
a linguagem. Os teólogos ortodoxos insistem que o Espírito Santo
protege as palavras individuais do texto original. As palavras são
o material do qual idéias são feitas, argumentam eles, e a não ser
que as palavras sejam inspiradas, as idéias não podem ser
preservadas de erro.
Embora uma doutrina ortodoxa da inspiração possa ser um
princípio necessário da plataforma evangélica sobre a autoridade
bíblica, às vezes isso atrapalha a pregação expositiva. Embora
examinemos palavras no texto e por vezes tratemos de palavras
específicas na pregação, as palavras e frases nunca devem tornar-se
finalidades em si mesmas. As palavras são coisas vazias, até que
venham a ser ligadas com outras palavras para transmitir significado.
Em nossa abordagem à Bíblia, portanto, estamos primeira­
mente ocupados não com o significado das palavras individuais,
24

e sim com aquilo que os escritores bíblicos querem dizer, mediante


seu emprego das palavras. Colocando isso de outra forma, não
entendemos os conceitos de uma passagem, meramente analisando
suas palavras separadas. Uma análise gramatical de palavra por
palavra pode ser tão sem finalidade e enfadonha quanto a leitura
de um dicionário. Se pretendemos entender a Bíblia, a fim de
comunicar sua mensagem, devemos pegar firme nela, no nível das
idéias.
Francis A. Schaeffer, no seu livro Verdadeira Espiritualidade
argumenta que a grande batalha pelos homens é travada no âmbito
do pensamento:
Idéias são o material do mundo do pensamento, e das idéias é
que explodem todas as coisas externas: a pintura, música, prédios,
o amar e odiar as pessoas na prática, assim como os resultados
de amar a Deus ou rebelar-se contra Deus, no mundo exterior....
A pregação do evangelho é idéias, idéias flamejantes trazidas aos
homens, conforme Deus as revelou para nós na Escritura. Não
é uma experiência sem conteúdo, recebida internamente, e sim
idéias cheias de conteúdo, sobre as quais internamente se age
que fazem a diferença. Portanto, quando afirmamos nossas
doutrinas, elas precisam ser idéias e não só frases. Não podemos
usar doutrinas como se fossem peças mecânicas de um quebra-
cabeça. A doutrina verdadeira é uma idéia revelada por Deus,
na Bíblia; uma idéia que se ajusta apropriadamente dentro do
mundo externo como ele é, e como Deus o fez, e ao homem
como ele é, conforme Deus o fez, e que pode ser retornada através
do corpo do homem para seu mundo-do-pensamento e ali
tornar-se base para a atuação. Centralmente a batalha pelo
homem está no mundo do pensamento.2
Se vamos conseguir sermões, precisamos, portanto, obtê-los
primeiro como idéias.
O C o n c e it o V em d o T exto

Essa ênfase em idéias, como sendo a substância da pregação


expositiva, não nega, em nenhum aspecto, a importância de
25

vocabulário ou gramática. A definição passa a explicar que, no


sermão expositivo, a idéia é derivada de e transmitida através de
um estudo histórico, gramatical e literário de um texto, em seu
contexto. Trata, em primeiro lugar, de como o pregador chega a
sua mensagem e, em segundo lugar, de como a comunica. As
duas coisas envolvem o exame das formas gramaticais, históricas
e literárias. Em seu escritório, o expositor procura o significado
objetivo de uma passagem através de seu entendimento da
linguagem, pano de fundo e cenário do texto. Depois, no púlpito,
apresenta à congregação o resultado do seu estudo, para que o
ouvinte possa averiguar, por si mesmo, a interpretação.
Em última análise, a autoridade por detrás da pregação re­
side não no pregador, e sim, no texto bíblico. Por esta razão, o
expositor lida principalmente com uma explicação da Escritura,
de tal maneira que focaliza na Bíblia a atenção do ouvinte. Um
expositor pode ser respeitado por suas capacidades exegéticas e
por seu preparo diligente, mas estas qualidades não o transformam
em papa protestante que fala ex cátedra. Os ouvintes também
têm a responsabilidade de verificar a correspondência entre o
sermão e o texto bíblico. Conforme escreveu Henry David
Thoreau: “Leva duas pessoas para falar a verdade, uma para falar
e outra para escutar”. Nenhuma verdade que vale a pena ser
conhecida, será adquirida sem uma luta; logo, para uma con­
gregação crescer, terá que participar da luta. “Para haver grandes
poetas, é preciso haver grandes auditórios”, confessou Walt
Whitman. A pregação expositiva eficaz exige ouvintes com
ouvidos para ouvir. Visto que as almas deles dependem disto, o
pregador deve oferecer a seus ouvintes informações suficientes
para decidirem se aquilo que estão ouvindo é aquilo que a Bíblia
realmente diz.
Se as pessoas, nos bancos da igreja, devem esforçar-se para
entender o pregador, ele próprio deve labutar para entender os
escritores da Bíblia. Comunicação significa “um encontro de
significados”, e para a comunicação ocorrer por todo um auditório
ou através dos séculos, as pessoas envolvidas devem compartilhar
26

de coisas em comum: uma língua, cultura, uma cosmovisão,


formas de comunicação. Procuramos aproximar nossas cadeiras
de onde se assentavam os escritores bíblicos. Procuramos
enveredar-nos, buscando atrás o mundo das Escrituras, para
entender bem a mensagem original. Embora possamos não
dominar as línguas, a história e as formas literárias dos escritores
bíblicos, devemos apreciar a contribuição de cada uma destas
disciplinas. Também devemos tornar-nos conscientes do amplo
sortimento de recursos à interpretação que temos, disponíveis
para nosso estudo.3 Na medida do possível, o expositor procura
um conhecimento, em primeira mão, dos escritores bíblicos e
das suas idéias no seu contexto.
O C o n c e it o é A p l ic a d o a o E x p o s it o r

Nossa definição da pregação expositiva continua, para dizer


que a verdade deve ser aplicada à personalidade e experiência do
pregador. Isso coloca no centro do processo o modo de Deus
l i d a r com o pregador. Por mais que desejássemos que a situação
fosse diferente, não podemos nos separar da mensagem. Quem é
que nunca ouviu algum piedoso irmão ou irmã orar antes do
sermão: “Esconde nosso pastor atrás da cruz, de modo que não o
vejamos, mas somente Jesus”? Louvamos o espírito de tal oração.
Os homens e mulheres que ouvem, precisam passar pelo pregador
e chegar ao Salvador. (Ou talvez seja o Salvador que precisa passar
pelo pregador, para chegar às pessoas!).
Contudo não existe lugar algum onde o pregador possa
esconder-se. Nem um púlpito grande pode ocultá-lo da vista.
Phillips Brooks descobriu alguma coisa, quando descreveu a
pregação, como sendo “a verdade derramada através da persona­
lidade”.4 Nós afetamos nossa mensagem. Nós podemos enunciar,
pela boca, uma idéia bíblica, e permanecer tão impessoais como
mensagem gravada no telefone, tão superficiais quanto uma
propagada comercial no rádio, ou tão manipuladores como um
vigarista. As pessoas do auditório não ouvem um sermão, ouvem
um homem, ouvem você.
27

O Bispo William A. Quayle tinha isto em mente, quando


rejeitava definições padronizadas de homilética. “A pregação é a
arte de fazer um sermão e entregá-lo?” perguntava. “Mas não,
isso não é pregação. A pregação é a arte de fazer um pregador e
entregar isso!” Um compromisso com a pregação expositiva deve
desenvolver o pregador em um cristão maduro. A medida que
estudamos nossa Bíblia, o Espírito Santo nos estuda. A medida
que preparamos sermões expositivos, Deus nos prepara. Como
disse P. T. Forsyth: “A Bíblia é o supremo pregador ao pregador”.5
Distinções feitas entre “estudar a Bíblia à procura de um
sermão e estudar a Bíblia, para alimentar sua própria alma”, são
enganosas e até falsas. Um estudioso pode examinar a Bíblia como
poesia hebraica ou como registro dos nascimentos e reinados de
reis que morreram há muito tempo, e não ser confrontado com a
verdade dela. Nenhum desligamento deste tipo, no entanto, pode
existir para alguém que abre a Bíblia como sendo a Palavra de
Deus. Antes de proclamarmos aos outros a mensagem da Bíblia,
devemos nós mesmos conviver com aquela mensagem.
Lamentavelmente, muitos pregadores fracassam como
cristãos, antes de fracassar como pregadores, porque não pensam
biblicamente. Um número significativo de ministros, dos quais
muitos professam alta estima pelas Escrituras, preparam seus
sermões, sem consultar a Bíblia, de modo algum. Para estes,
embora o texto sagrado sirva como aperitivo para colocar o sermão
em andamento, ou decoração para enfeitar a mensagem, o prato
principal consiste do pensamento do próprio pregador ou do
pensamento de outra pessoa, requentado para a ocasião.
Mesmo naquilo que é anunciado como “pregação expositiva”,
os versículos podem ficar sendo plataformas de lançamento para
as opiniões do próprio pregador. Certa receita comum que se
acha nos livros de receitas homiléticas, diz algo mais ou menos
assim: “escolher vários chavões teológicos ou morais, misturar
com partes iguais de ‘dedicação’, evangelização’ ou mordomia’,
acrescentar vários ‘reinos’ ou ‘a Bíblia diz’ e ao mesmo tempo
bater bem com uma seleção de histórias, juntar ‘salvação’ a gosto.
28

Servir quente sobre uma massa de versículos bíblicos”. Tais


sermões não só deixam uma congregação subnutrida, como
também matam de fome os pregadores. Eles não crescem, porque
o Espírito Santo não tem com que nutri-los. William Barclay fez
o diagnóstico da causa da subnutrição espiritual na vida de um
ministro, quando destacou que, se nossas mentes se tornam
relaxadas, preguiçosas e balofas, o Espírito Santo não consegue
falar-nos. “A pregação verdadeira aparece, quando o coração
amoroso e a mente disciplinada estão colocados à disposição do
Espírito Santo”.6 Em última análise, Deus está mais interessado
em desenvolver mensageiros do que mensagens, e visto que é
através da Bíblia que o Espírito Santo nos confronta, precisamos,
em primeiro lugar, aprender a escutar a Deus, antes de falarmos
em nome dele.
O C o n c e it o é A p l ic a d o a o s O u v in t e s

O Espírito Santo, entretanto, não aplica sua verdade apenas


à personalidade e experiência do pregador, mas também, conforme
nossa definição de pregação expositiva, em seguida, ele então aplica
essa verdade, através desse pregador, a seus ouvintes. Um exposi­
tor pensa em três áreas. Primeiramente, como exegeta, lutamos
com os significados do escritor bíblico. Depois, como homens
de Deus, nós lutamos com o modo como Deus quer mudar-nos.
Finalmente, como pregadores, nós ponderamos sobre o que Deus
quer dizer à congregação, através de nós.
A aplicação dá propósito à pregação expositiva. Como
pastores das ovelhas, nós nos relacionamos com as dores, gritos e
temores de nosso rebanho. E por isso que estudamos as Escrituras,
querendo saber o que dizer às pessoas que vivem com aflições e
sentimentos de culpa, com dúvida e morte. Paulo lembrou a
Timóteo que as Escrituras foram dadas para serem aplicadas.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus”, escreveu, “e é útil para
ensinar a fé e corrigir o erro, para orientar a vida do homem e
ensiná-lo a viver. As Escrituras são um vasto repositório de
equipamentos, que preparam devidamente o crente, para todos
29

os ramos da sua atividade” (2Tm 3.16-17 Phillips, Canas às Igrejas


Novas).
A pregação expositiva enfadonha geralmente é deficiente em
aplicações criativas. Os sermões enfadonhos evocam duas queixas
principais. Em primeiro lugar, os ouvintes resmungam: “E sempre
a mesma velharia”. O pregador dá a todas as passagens a mesma
aplicação, ou pior ainda, nenhuma aplicação. “Que o Espírito
Santo aplique esta passagem às nossas vidas”, entoa um preletor
que não tem o mínimo palpite de como o conteúdo bíblico
poderia mudar as pessoas.
Uma segunda reação negativa reflete que o sermão não tem
relacionamento com o mundo, de modo suficientemente direto,
para ter utilidade prática: “E, está tudo certo, eu acho, mas e daí?
Que diferença faz?” Afinal de contas, se um homem ou uma
mulher resolve viver sob a orientação das Escrituras, esta ação
normalmente acontecerá fora do prédio da igreja. Lá fora, as
pessoas perdem empregos, preocupam-se com seus filhos, e
descobrem que a tiririca está invadindo seus gramados. É muito
raro que pessoas normais percam sono por causa dos jebuseus,
dos cananeus ou dos perizeus, ou mesmo por causa daquilo que
Abraão, Moisés ou Paulo disse ou fez. Ficam na cama acordados
com as preocupações a respeito dos preços no supermercado, da
quebra das safras, de discussões com um cônjuge, do diagnóstico
de um tumor maligno, de uma vida sexual frustrada, do corre-
corre da vida de cada dia em que parece que só os ordinários
vencem. Se o sermão não faz muita diferença naquele mundo,
ficam pensando que talvez não faça diferença nenhuma.
Devemos esquecer-nos de falar às eras, e falar agora, para
nossos próprios dias. Um pregador expositivo confronta os
indivíduos sobre eles próprios, a partir da Bíblia, em vez de lhes
falar sobre a história ou arqueologia da Bíblia. Uma congregação
não se reúne como júri, para condenar Judas, Pedro ou Salomão,
mas para julgar a si mesmos. Precisamos conhecer as pessoas,
bem como a mensagem, e para adquirir esse conhecimento,
fazemos exegese tanto da Escritura quanto da congregação.
30

Afinal de contas, quando Deus falou nas Escrituras, ele se


dirigiu a mulheres e homens do jeito como estivessem, onde quer
que estivessem. Imaginemos que as cartas de Paulo aos Coríntios
tivessem se extraviado no correio, e que acabassem sendo entregues
em Filipos. Os filipenses teriam ficado perplexos acerca dos
problemas específicos sobre os quais Paulo escrevia para eles, pois
viviam em situação diferente daquela dos irmãos e irmãs em
Corinto. As cartas do Novo Testamento, bem como as profecias
do Antigo, foram endereçadas a grupos específicos que estavam a
braços com certos problemas bem seus. Nossos sermões
expositivos hoje serão ineficazes, a não ser que reconheçamos que
nossos ouvintes também existem num endereço específico e têm
mentalidade própria deles.
A aplicação eficaz nos lança tanto na teologia como na ética.
Passando da exegese para a aplicação, fazemos uma viagem difícil
através de perguntas relacionadas com a vida e que, por vezes,
causam perplexidade. Além dos relacionamentos gramaticais,
também exploramos relacionamentos pessoais e psicológicos.
Como os personagens do texto se relacionam entre si? Como se
relacionam com Deus? Quais valores se escondem sob as escolhas
que fazem? O que passava pelas mentes daqueles que estavam
envolvidos? Estas perguntas não se dirigem ao “ali e então”, como
se Deus lidasse só com os homens e as mulheres lá naquele tempo
do “era uma vez”. As mesmas perguntas podem ser feitas no
“aqui e agora”. Como nos relacionamos hoje em dia? Como é
que Deus nos confronta em questões semelhantes? De que
maneira o mundo moderno se compara ou se contrasta com o
mundo bíblico? As perguntas solucionadas na Escritura são as
perguntas que os homens fazem hoje? Estão propostas da mesma
maneira, ou de formas diferentes? Estas investigações ficam sendo
a matéria prima da ética e da teologia. A aplicação anexada a um
sermão expositivo, numa tentativa de torná-lo relevante, passa
ao largo destas perguntas e desconsidera a máxima dos nossos
antepassados protestantes: “As doutrinas devem ser pregadas de
modo prático, e os deveres, doutrinariamente”.
31

A aplicação inapropriada pode ser tão destrutiva quanto a


exegese inepta. Quando Satanás tentou Jesus no deserto, procurou
ganhar a vitória mediante a falsa aplicação da Escritura. O tentador
sussurrou o Salmo 91 com exatidão admirável: “Porque a seus
anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em
todos os seus caminhos... para que você não tropece em alguma
pedra” (w. 11-12). Então Satanás argumentou: “Visto que você
possui esta promessa forte, por que não aplicá-la a um salto do
pináculo do templo e não demonstrar de uma vez por todas que
você é o Filho de Deus?” Ao refutar o diabo, Jesus não debateu a
gramática do texto hebraico. Ao invés disto atacou a aplicação
do Salmo 91 ao ato de saltar do templo. Outra passagem da
Escritura cabia melhor naquela situação: “Não ponham à prova
o Senhor, o seu Deus” (Dt 6.16).
Devemos pregar a um mundo ao qual se dirige a mídia, com
seus escritores e comentaristas de TV e jornal. Senão, teremos
ouvintes que são ortodoxos na sua cabeça, mas hereges na sua
conduta. E claro que, ao pregar a um mundo secular, não devemos
pregar uma palavra secular. William Willimon observou que
alguns pregadores parecem ter se inclinado tanto para trás, para
falar a um auditório secular, que se desequilibraram e caíram nesse
caminho. Mesmo que idéias bíblicas devam ser formatadas em
experiência humana, homens e mulheres precisam ser chamados
a conformar-se com a verdade bíblica. Sermões “relevantes”
poderão se tornar bagatelas de púlpito, a não ser que relacionem
a situação atual com a Palavra eterna de Deus.
F. B. Meyer entendia o reverente temor com que os pregadores
bíblicos falam às questões difíceis de seu tempo. Eles estão “na
linhagem de uma grande sucessão. Os reformadores, os puritanos,
os pastores dos Pais Peregrinos na América do século dezessete
eram essencialmente expositores. Não proclamavam suas próprias
opiniões particulares, que talvez fossem questão de interpretação
particular ou de disposição duvidosa, mas, tomando posição na
Escritura, faziam sua mensagem chegar ao alvo com efeito
irresistível, com Assim diz o Senhor’.”4
32

Vamos resumir isso. Pregamos sermões expositivos, quando:


* Estudamos uma passagem em seu contexto, dando atenção
ao contexto histórico, gramatical e literário.
* Experimentamos de alguma forma, através da operação do
Espírito Santo, o poder de nosso estudo em nossa própria
vida.
* E com isso, damos forma ao sermão, para que ela
comunique os conceitos bíblicos centrais, de modo a fazer
muito sentido para nossos ouvintes.
N o vo s C o n ceito s
Pregação expositiva

Pregação expositiva —a comunicação de um conceito bíblico,


derivado de, e transmitido de um estudo histórico, gramatical e
literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo
primeiro aplica à personalidade e experiência do pregador, e então,
através do pregador, aplica aos ouvintes.
P a ra L e itu ra e R e fle x ã o A d ic io n a l
Muitos escritores procuram definir ou descrever a pregação
bíblica. Alguns descrevem as árvores e outros se contentam com
a floresta.
* Richard Mayhue gasta um capítulo de R ed iscoverin g Ex­
p o sito ry P reaching (Dallas: Word, 1992) debatendo o que a
pregação expositiva não é e depois o que é. Um expositor,
ele conclui, explica a Escritura, abrindo o texto à visão do
público, a fim de apresentar o sentido dele, explicar o que
é difícil de entender e fazer uma aplicação apropriada” (p.
11 ).
* Jerry Vines e Jim Shaddix põem maior ênfase nos ouvintes
em sua definição de pregação bíblica, como sendo “a
comunicação oral da verdade bíblica pelo Espírito Santo,
33

através de uma personalidade humana, a um dado auditório


com a intenção de possibilitar uma resposta positiva” (Power
in th e Pulpit [Chicago: Moody, 1999], p. 27).
* Bryan Chapell dá margem a uma definição mais ampla, ao
observar que “qualquer sermão que explora um conceito
bíblico no sentido mais amplo, é expositivo’”, mas ele não
consegue deixá-la aí. Ele acrescenta que “a d efinição técnica
d e um serm ão expositivo [ênfase dele] requer que o sermão
exponha a Escritura, derivando de um texto específico os
pontos e subpontos dele que revelam o pensamento do
autor, abrangem o escopo da passagem, e se aplicam às vidas
dos ouvintes” (Christ-CcntcrcdPreaching [Grand Rapids: Baker,
1994], pp. 128-29).
* John Stott, em seu livro B etw een Two Worlds (Grand Rapids:
Eerdmans, 1982), faz a afirmação generalizada: “Toda
verdadeira pregação é pregação expositiva”. Prossegue para
dizer, no entanto, que “expositiva” se refere ao conteúdo e
não ao método, e então descreve a aparência que isso toma.
“Na pregação expositiva, o texto bíblico não é uma
introdução convencional a um sermão sobre um tema, na
maior parte diferente, nem um gancho conveniente no qual
pendurar uma sacola de retalhos de miscelâneas, e sim, um
mestre que dita e controla o que é dito”(pp. 125-26).
* Fred Craddock, que poderia não se sentir confortável com
minha definição, reconhece que estamos lutando com “uma
questão teológica fundamental de autoridade”. Ele vai direto
à questão central daquilo que qualquer um de nós faz no
púlpito. “O pregador, sejam quais forem os sermões que os
membros da igreja apreciem”, ele diz, “é obrigado a
perguntar e responder às perguntas: O que autoriza meus
sermões? Se a autorização é dada pelas Escrituras, de que
maneira? Como eu me preparo, a fim de entrar no púlpito,
com alguma confiança em que minha compreensão da
pregação bíblica foi implementada com honestidade e
integridade?... Não é provável que qualquer pregador
34

chegue a uma posição satisfatória, se ele não vier às mãos


com o texto da Bíblia” (P reaching [Nashville, Abingdon,
1986], p. 100).
Em outro nível, numa ou noutra ocasião, você terá que
responder à pergunta: “Como a centralidade de Jesus Cristo
afeta o modo como eu manejo os textos bíblicos? Se um
muçulmano ou judeu pensante ficar satisfeito com minha
interpretação do Antigo Testamento, poderá ser realmente uma
interpretação cristã?” Dois livros que contribuem para uma
maneira de resolver este problema são de Sidney Greidanus:
P rea ch in g C hrist fro m th e O ld T estam en t (Grand Rapids:
Eerdmans, 1999) e P reaching the W hole Bible as Christian Scrip-
ture (Grand Rapids: Eerdmans, 2000). Um livro, um tanto mais
velho, de Walter Kaiser, Toward an E xegetical T h eology: Biblical
Exegesis fo r Preaching and Teaching (Grand Rapids: Baker, 1981),
aborda a mesma questão de um ângulo diferente.
C a p ít u l o 2

Não aprecio a ópera; o que é pior, tenho vários amigos que a


apreciam. O convívio com eles faz-me sentir que existo num
deserto cultural; e já tomei várias medidas para alterar minha
condição. Ocasionalmente, cheguei mesmo a ir à ópera. Como
um pecador envergonhado, ao freqüentar a igreja, fui caminhando
para o teatro musical, para deixar a cultura ter livre curso dentro
de mim. Na maioria destas visitas, porém, voltei para casa
indiferente àquilo que os artistas procuraram fazer.
Entendo suficientemente acerca da ópera, naturalmente, para
saber que uma história foi encenada, e que os atores cantaram
seus papéis em lugar de falá-los. Geralmente, porém, o fio da
meada da história continua sendo tão vago para mim como a
letra em italiano, mas os apaixonados da ópera me informam
que o enredo é incidental ao espetáculo. Se alguém se desse ao
trabalho de pedir minha avaliação da ópera, comentaria os
cenários bem construídos, as vestes brilhantes, ou o peso da so­
prano. Não poderia emitir um juízo fidedigno quanto à
interpretação da música ou nem mesmo do impacto dramático
do espetáculo. Quando volto da ópera com um programa
amassado e um monte de impressões aleatórias, realmente não
sei como avaliar o que aconteceu.
Quando as pessoas freqüentam a igreja, talvez reajam ao
pregador, como um novato à ópera. Nunca foram informadas
36

sobre aquilo que um sermão deve fazer. É comum o ouvinte reagir


aos pontos altos de emoção. Gosta das histórias de interesse
humano, anota uma ou outra frase cativante, e julga que o sermão
é um sucesso, se o pregador termina dentro do horário. Questões
importantes, tais como o assunto do sermão, talvez lhe escapem
completamente. Há muitos anos, quando Calvin Coolidge voltou
para casa, depois do culto, certo domingo, e a esposa perguntou-
lhe sobre o que o ministro havia falado, Coolidge respondeu: “O
pecado”. Quando a esposa insistiu em saber o que o pregador
dissera sobre o pecado, Coolidge respondeu: “Acho que ele era
contra”.
A verdade é que muitas pessoas, nos bancos das igrejas, não
ganhariam uma nota muito mais alta do que Coolidge, se fossem
interrogadas acerca do conteúdo do sermão do domingo ante­
rior. Para elas, os pregadores pregam acerca do pecado, da salvação,
da oração ou do sofrimento - todos juntos ou um por vez, em
trinta e cinco minutos. A julgar pelo modo incompreensivo de
os ouvintes falarem acerca de um sermão, é difícil acreditar que
escutaram uma m ensagem . Em vez disso, as respostas indicam
que saem de lá com uma cesta cheia de fragmentos, mas nenhum
senso adequado do conjunto.
Infelizmente, alguns de nós pregamos conforme temos
ouvido. Os pregadores, como seus auditórios, podem conceber
os sermões como sendo uma coletânea de pontos que tenham
pouco relacionamento entre si. Aqui os livros-texto que visam a
ajudar preletores, podem realmente atrapalhá-los. As discussões
sobre esboços geralmente enfatizam as posições dos algarismos
romanos e arábicos, juntamente com as reentrâncias apropriadas,
mas esses fatores (por importantes que sejam) talvez deixem
despercebido o óbvio - um esboço é o formato da idéia do sermão,
e todas as partes precisam ser relacionadas ao todo. Três ou quatro
idéias não relacionadas a uma idéia mais inclusiva não fazem uma
mensagem; fazem três ou quatro sermoezinhos, todos pregados
de uma só vez. Reuel L. Howe escutou centenas de sermões
gravados em fita e reuniu-se com leigos para debater o assunto.
37

Concluiu que as pessoas nos bancos “queixam-se quase unani­


memente de que os sermões freqüentemente contêm um número
excessivo de idéias”.1 Esta observação talvez não seja exata. Os
sermões raramente fracassam, porque têm idéias demais; mas
freqüentemente fracassam, porque lidam com idéias não
relacionadas entre si.
A fragmentação apresenta um perigo especial para o pregador
expositivo. Alguns sermões expositivos oferecem pouco mais do
que comentários espalhados baseados em palavras e frases de
uma passagem, sem fazerem tentativa alguma de demonstrar como
os vários pensamentos se encaixam. Logo de início, o pregador
pode captar a mente da congregação com alguma observação
acerca da vida, ou, pior, pode atacar o texto diretamente, sem
pensamento algum acerca do tempo presente. À medida que o
sermão continua, o pregador comenta sobre as palavras e frases
encontradas na passagem com os subtemas e temas principais e
palavras individuais, todos eles recebendo ênfase igual. A
conclusão, se houver, em geral substitui pela aplicação relevante
uma vaga exortação, visto que nenhuma verdade una emergiu
para ele aplicar. Quando a congregação volta ao mundo, não
recebeu nenhuma mensagem pela qual viver, porque ao pregador
não ocorreu pregar nenhuma.
Uma afirmação importante da nossa definição de pregação
expositiva, portanto, sustenta que “a pregação expositiva é a
comunicação de um conceito bíblico:. É uma afirmação do óbvio.
Um sermão deve ser uma bala e não chumbo grosso. O ideal é o
sermão ser a explicação, interpretação ou aplicação de uma única
idéia dominante, apoiada por outras idéias, todas tiradas de uma
passagem ou várias passagens da Escritura.
A Im p o rtâ n c ia d e u m a id é ia Ú n ica
Estudantes de oratória e pregação defendem, há séculos, que
a comunicação eficaz exige um tema único. Os retóricos
sustentam tão fortemente este conceito que praticamente todo
manual dedica algum espaço a um tratamento do princípio. A
38

terminologia pode variar: a idéia central, a proposição, o tema, a


declaração da tese, o pensamento principal, mas o conceito é o
mesmo: um discurso eficiente “centraliza-se numa só coisa
específica, numa idéia central”.2 Este pensamento é tão
axiomático para a comunicação da fala que alguns autores, tais
como Lester Thossen e A. Craig Baird, quase o tomam por
garantido:
Pouca coisa precisa ser dita aqui acerca da necessidade do tema
central. Toma-se por certo que o discurso possui uma tese ou
propósito claramente definido e facilmente determinado; esta
tese está desembaraçada de teses colaterais que interfiram na
percepção clara da principal, e que o desenvolvimento é de tal
caráter que proporciona a emergência fácil e inconfundível da
tese, através do desdobramento do conteúdo do discurso.3
Os homiléticos juntam suas vozes para insistir que um sermão,
como qualquer outro bom discurso, incorpora um conceito único
que a tudo abrange. Donald G. Miller, num capítulo dedicado
ao coração da pregação bíblica, fala claramente:
...qualquer sermão individual deve ter uma só idéia principal.
Os pontos ou subdivisões devem ser partes deste único grande
pensamento. Assim como bocados de qualquer determinado
alimento são todos partes da totalidade, cortados em tamanhos
apropriados para o paladar e a digestão, assim também os pontos
principais de um sermão devem ser seções menores do tema
único, quebrado em fragmentos muito menores, de maneira tal
aue a mente possa captá-los e a vida, assimilá-los... Agora estamos
prontos para declarar nos termos mais simples o tema principal
deste capítulo. E este: Todo sermão deve ter um tema, e esse tema
deve ser o tema do trecho da Escritura sobre o qual é baseado.4
Participando de uma tradição diferente, Alan M. Stibbs
acrescenta uma voz de apoio: “O pregador deve desenvolver seu
tratamento expositivo do texto com relação a um único tema
dominante...”5 H. Grady Davis desenvolve seu livro D esign fo r
P reaching para sustentar a tese de que “um sermão bem preparado
39

é a corporificação, o desenvolvimento, a declaração plena de um


pensamento relevante”.6 Uma declaração clássica desse conceito
nos chega de J. H. Jowett em suas preleções de Yale sobre a
pregação:
Tenho a convicção de que nenhum sermão está pronto para ser
pregado, ou para ser escrito por extenso, enquanto não pudermos
expressar seu tema numa frase curta e fecunda, clara como cristal.
Acho que chegar a essa frase é a labuta mais pesada, mais exigente
e mais frutífera no meu escritório. Compelir-se a formular aquela
frase, a ir pensando até chegar a formar as palavras que definam
o tema com exatidão escrupulosa —este é, decerto, um dos fatores
mais vitais e essenciais na produção de um sermão: e não penso
que qualquer sermão deva ser pregado ou nem mesmo escrito,
até que surja essa frase, clara e lúcida como uma lua sem nuvens.7

Negligenciar o princípio de que uma idéia central e unificadora


deve estar no âmago de um sermão eficiente, é deixar de lado
aquilo que os versados em teoria da comunicação e em pregação
têm para nos dizer.8
Um novato pode rejeitar a importância de uma idéia central
como sendo manobra dos professores de homilética, para forçar
pregadores jovens a entrarem no molde deles. Deve ser notado,
portanto, que este fato básico da comunicação também confirma
forte respaldo bíblico. No Antigo Testamento, os sermões dos
profetas são chamados “o peso do Senhor”. Estas proclamações
não eram algumas “observações apropriadas” proferidas, porque
se esperava que o homem de Deus dissesse alguma coisa. Pelo
contrário, o profeta dirigia-se a seus compatriotas, porque tinha
algo para dizer. Pregava uma mensagem completa e inteira, para
persuadir seus ouvintes a voltarem para Deus. Como resultado,
os sermões dos profetas possuíam forma assim como propósito.
Cada um deles corporificava um único tema que se dirigia a um
auditório específico, para conseguir uma resposta específica.
No Novo Testamento, o historiador Lucas apresenta amostras
da pregação que capacitava a igreja a penetrar no mundo antigo.
40

Os sermões dos apóstolos eram, sem exceção, a proclamação de


uma única idéia dirigida a um auditório específico. Donald R.
Snukjian concluiu que:
Cada mensagem de Paulo centraliza-se em volta de uma só idéia
ou pensamento simples. Cada preleção se cristaliza numa única
frase que expressa a soma e a substância do discurso inteiro.
Tudo nos sermões... leva para um tema unificador, ou desenvolve
este tema, ou se segue a ele.9
Esta avaliação da pregação de Paulo poderia ser aplicada
igualmente a todos os sermões de Atos. Cada idéia recebe um
tratamento diferente por parte do pregador apostólico. Em Atos
2, por exemplo, no dia de Pentecoste, Pedro ficou em pé diante
de um auditório antagônico e, para conseguir ser ouvido, pregou
um sermão indutivo. Sua idéia não é verbalizada até a conclusão:
“Portanto, que todo o Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem
vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36). Em
Atos 13, por outro lado, Paulo emprega uma disposição dedutiva.
Sua idéia principal consta no começo do sermão, e os pontos que
seguem a amplificam e apoiam. A declaração achada no v. 23
anuncia: “Da descendência desse homem Deus trouxe a Israel o
Salvador Jesus, como prometera”.
Em Atos 20, quando o apóstolo falava aos presbíteros de Efeso,
sua estrutura foi indutiva bem como dedutiva. Primei-ramente,
Paulo traz da sua própria vida um exemplo de cuidado para com a
igreja, depois adverte, no v. 28: “Cuidem de vocês mesmos e de
todo o rebanho”. Tendo declarado aquele pensamento central, Paulo
passa a explicar e aplicar aquela idéia aos líderes assentados diante
dele. Nem todos os sermões em Atos se desenvolvem do mesmo
modo, mas cada um deles focaliza-se num só conceito central,
unificador.
Se pregamos de modo eficiente, devemos saber o que estamos
fazendo. Sermões eficazes especializam-se em idéias bíblicas que
são reunidas numa unidade que dê cobertura a todas elas. Tendo
pensado os pensamentos de Deus atrás dele, o expositor comunica
41

e aplica esses pensamentos a seus ouvintes. Em dependência do


Espírito Santo, ele visa a confrontar, convencer, converter e
consolar homens e mulheres, através da proclamação de conceitos
bíblicos. As pessoas moldam suas vidas e determinam seu destino
eterno, em resposta a idéias.
A D e íin iç ã o d e u m a i d é i a
O que queremos dizer com uma idéia? Uma olhada no
dicionário demonstra que definir uma idéia é como tentar fazer
uma embalagem de neblina. Uma definição completa poderia
nos remeter aos campos da filosofia, lingüística e gramática. O
Dicionário Webster, tem um alcance que percorre o caminho
desde “uma entidade transcendente que é um padrão real do qual
as coisas existentes são representações imperfeitas” até “uma
entidade (tal como um pensamento, conceito, sensação ou
imagem) real ou potencialmente presente à consciência”.
A própria palavra idéia veio para a língua portuguesa a partir
da palavra grega eid óá que significa “ver”, e portanto, “saber”.
Uma idéia às vezes nos capacita para ver aquilo que antes não era
claro. Na vida do dia-a-dia, quando uma explicação fornece nova
compreensão, exclamamos: “Oh, vejo o que você quer dizer!”
Ainda outro sinônimo para idéia é conceito, que vem do verbo
“conceber”. Assim como o esperma e o óvulo se juntam no útero
para produzir vida nova, assim também uma idéia começa na
mente, quando as coisas que normalmente estão separadas,
juntam-se para formar uma unidade que ou não existia ou não
era reconhecida anteriormente.
A capacidade para abstrair e sintetizar, ou seja, para pensar
em termos de idéias, desenvolve-se com a maturidade. As crianças
pequenas pensam em termos de itens particulares. A criança ora,
antes do café da manhã, agradecendo a Deus o leite, os flocos, o
suco de laranja, os ovos, o pão, manteiga e geléia, mas o adulto
combina todos estes itens separados na única palavra alim ento.
Uma idéia, portanto, pode ser considerada uma destilação da
vida. Abstrai dos particulares da vida o que eles têm em comum
42

e relaciona-os uns aos outros. Através das idéias damos sentido


às partes de nossa experiência.
Nem todas as idéias, naturalmente, são igualmente válidas;
temos boas e más idéias. As idéias más oferecem explicações da
experiência as quais não refletem a realidade. Atribuem à vida
um significado que não existe. Muitas vezes aceitamos idéias
inválidas, porque não foram enunciadas com clareza e, por isso,
não podem ser avaliadas. Em nossa cultura, que é influenciada
pela comunicação da mídia, somos bombardeados por conceitos
ridículos que, deliberadamente, são formulados imprecisamente,
para agirmos sem pensar. Anos atrás, os cigarros Marlboro foram
lançados no mercado como cigarros para mulheres sofisticadas,
mas Marlboro conquistou menos de um por cento das vendas
totais. Pesquisas entre consumidores revelaram, no entanto, que
os homens fumam, porque acreditam que assim ficam sendo mais
homens, ao passo que as mulheres fumam, porque pensam que
assim ficam sendo mais atraentes aos homens. Como resultado
desta constatação, os propagandistas tiraram das mulheres a
campanha que vinham fazendo, e a aplicaram aos homens, dando
aos cigarros Marlboro uma imagem masculina. Vaqueiros
robustos, marcados pelas intempéries, eram retratados fumando
cigarros, enquanto arrebanhavam o gado, e a frase com o tema
convidava o consumidor a “vir para o mundo de Marlboro”.
Visto que a associação de cigarros com vaqueiros transmitia
a idéia de que fumar cigarros Marlboro torna os homens másculos,
as vendas subiram rapidamente, até quatrocentos por cento. A
idéia, obviamente, é um contra-senso. As evidências médicas nos
advertem que o mundo de Marlboro é um cemitério e que o
homem Marlboro provavelmente sofre de câncer ou doença
pulmonar. Mesmo assim, porque a idéia de que “fumar o torna
másculo” escorregou para dentro da mente ,sem ser claramente
declarada, conseguiu ampla aceitação e deu um ímpeto dramático
às vendas.
Esse não é um incidente isolado. William Bryan Key, falando
acerca da propaganda, fez esta declaração perturbadora acerca de
43

uma doutrina da Madison Avenue, lugar que concentra os


negócios de propaganda: “Nenhuma crença ou atitude relevante,
sustentada por qualquer indivíduo, é adotada, segundo parece,
com base em fatos conscientemente percebidos”. Se essa for uma
afirmação fundamental por trás da “palavra do patrocinador”,
não devemos ficar surpresos, por ser tão raro achar a verdade em
matéria de propaganda.
As idéias, às vezes, ficam de espreita no subsolo de nossa mente
como fantasmas. Com freqüência lutamos para dar a essas idéias
insignificantes um corpo. “Sei o que quero dizer”, dizemos, “mas
só não consigo expressá-lo em palavras”. A despeito da dificuldade
de revestir em palavras os pensamentos, o pregador precisa fazê-
lo. A menos que as idéias sejam expressas em palavras, nós não
poderemos entender, avaliar ou comunicá-las. Se não queremos,
ou não sabemos, pensar até chegar à clareza, para podermos dizer
o que queremos dizer, não temos direito de estar no púlpito.
Somos como cantor que não sabe cantar, ator que não sabe
representar, contador que não sabe somar.
A F o rm aç ão d e u m a id é ia
Definir uma idéia com “exatidão escrupulosa” significa que
devemos saber como são formadas as idéias. Quando reduzida à
sua estrutura básica, uma idéia consiste em apenas dois elementos
essenciais: um su jeito e um com p lem en to. Os dois são necessários.
Quando falamos acerca do sujeito de uma idéia, queremos dizer
a resposta completa e definida à pergunta: “Acerca de quê estou
falando?” O sujeito, conforme é empregado na homilética, não é
a mesma coisa como o sujeito na gramática. Um sujeito gramatical
muitas vezes é uma palavra única. O sujeito de uma idéia de
sermão nunca pode ser uma palavra única. Pede a resposta
completa e definida à pergunta “Acerca do quê estou falando?”
Palavras únicas como discipulado, testem unhar, adoração, aflição
ou am or podem disfarçar-se em sujeitos, mas são vagas demais
para serem viáveis.
Um sujeito não pode subsistir sozinho. Por si só é incompleto,
44

e precisa, portanto, de um complemento. O complemento


“completa” o sujeito, ao responder a pergunta “O que estou
dizendo sobre aquilo de que estou falando?” Um sujeito sem
complemento fica pendurado como uma pergunta aberta.
Complementos sem sujeitos se parecem com peças automotivas
que não estão fixadas num carro. Uma idéia só surge, quando o
complemento é ligado a um sujeito específico.
Além disso, atrás de todo sujeito há uma pergunta, ou
declarada ou implícita. Se eu digo que meu sujeito, meu assunto,
é “a importância da fé”, a pergunta implícita será: “Qual é a
importância da fé?” “As pessoas que Deus justifica...” forma um
sujeito porque responde a pergunta “Acerca do quê estou falando?”
Mas a pergunta não declarada é “Quem são as pessoas que Deus
justifica?” Se as palavras sujeito e com p lem en to o confundem, então
experimente pensar no sujeito como sendo uma pergunta e seu
complemento como sendo a resposta. Os dois juntos formam a
idéia.
Um exemplo de um sujeito é o teste d o caráter d e uma pessoa.
(Para ser totalmente exato, o sujeito é: Qual é o teste d o caráter d e
uma pessoa?) Esta frase, porém, deve ser completada para ter
significância. Não sabemos qual é o teste do caráter. Uma
variedade de complementos poderia ser acrescentada a esse sujeito,
para se formar uma idéia. Aqui temos alguns:
O teste do caráter de uma pessoa é o que é necessário, para fazê-
lo parar.
O teste do caráter de uma pessoa é o que ele faria, se tivesse a
certeza de que nunca ninguém ficaria sabendo.
O teste do caráter de uma pessoa é como o teste de um carvalho:
quanta força tem nas raízes?
Cada novo complemento nos informa o que está sendo dito
acerca do sujeito, e cada novo complemento forma uma idéia
diferente. Cada idéia pode ser explicada, comprovada ou aplicada.
Os estudantes de pregação devem procurar idéias, quando
lêem um sermão ou preparam sermões seus. Davis ressalta que
45

um principiante, especialmente, deve prestar atenção ao modo


de serem formadas as idéias:
Ele deve parar de perder-se nos pormenores e estudar a estrutura
essencial dos sermões. Por enquanto, deve esquecer-se das frases,
dos argumentos que são empregados, das citações, das histórias
com interesse humano. Precisa recuar-se do sermão até uma
distância, a partir da qual possa ver seu formato como um todo.
Obstinadamente precisa perguntar: “Acerca do quê o homem
realmente está falando, e quais são as coisas básicas que está
dizendo, acerca do seu assunto?” Isto quer dizer que ele deve
aprender a distinguir entre a estrutura orgânica, de um lado, e
seu desenvolvimento, do outro lado. E como começar com o
esqueleto no estudo da anatomia.10
Achar o sujeito e o complemento não começa, quando o
pregador expositivo começa a construção de seu sermão. Nós
procuramos o sujeito e complemento, quando estudamos o texto
bíblico. Visto que cada parágrafo, seção ou subseção da Escritura
contém uma idéia, nós não entendemos uma passagem, até que
possamos declarar com exatidão seu sujeito e complemento.
Embora outras perguntas surjam na luta para entender o
significado de um escritor bíblico, estas duas (“Sobre o quê,
precisamente, o autor está falando?” e “O que o autor está dizendo
quanto àquilo, sobre o qual está falando?”) são fundamentais.
E x e m p lo s d a F o rm aç ão d e u m a id é ia
Em algumas passagens, o sujeito e o complemento podem
ser descobertos com relativa facilidade, ao passo que em outras,
determinar a idéia fica sendo um desafio muito grande. O Salmo
117 oferece um exemplo de um pensamento sem complicação.
O salmista conclama:
Louvem o Senhor, todas as nações;
exaltem-no, todos os povos!
Porque imenso é o seu amor leal por nós
e a fidelidade do Senhor dura para sempre. Aleluia!
46

Não entendemos o salmo até que possamos declarar seu


sujeito. Sobre o quê está falando o salmista? Poderíamos ser
tentados a dizer que o sujeito é louvor, mas louvor é amplo e sem
precisão. O salmista não nos conta tudo acerca do louvor. O
sujeito nem sequer é lou v or a Deus, que ainda é amplo demais. O
sujeito precisa de mais limites. O sujeito exato é p o r q ue todos
d evem louvar o Senhor. O que, então, o salmista está dizendo sobre
isso? Ele tem dois complementos para seu sujeito. O Senhor deve
ser louvado, em primeiro lugar, porque seu amor é grande, e
também porque sua fidelidade é eterna. Neste breve salmo, o
salmista declara sua idéia desguarnecida, despida de qualquer
desenvolvimento, mas, mesmo no seu mero esqueleto, tem um
sujeito definido e dois complementos.
Passagens mais longas, em que a idéia recebe desenvol­
vimento extensivo, podem ser mais difíceis de analisar à procura
do sujeito e do complemento, mas o trabalho terá que ser feito.
Em Hebreus 10.19-25 o autor aplica uma discussão prévia da
obra sumo-sacerdotal de Jesus:
Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo
dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho
que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos,
pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim,
aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena
convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar
de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados
com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que
professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremos
uns aos outros, para nos incentivarmos ao amor e às boas obras.
Não deixemos de reunir-nos como é costume de alguns, mas
procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando
vocês vêem que se aproxima o Dia.

Embora muitos pormenores nesta passagem exijam


explicação, o estudante cuidadoso separará o tronco dos galhos
das árvores. Até que um sujeito surja, não é possível determinar
o valor ou relevância de qualquer outra coisa que é dita. Um
47

leitor casual talvez seja tentado a declarar que o sujeito é o sumo


sacerdócio de Jesus, mas esse sujeito abrange demais. O autor de
Hebreus não diz a seus leitores tudo acerca da obra sumo sacer­
dotal de Cristo neste único parágrafo. Nem sequer está falando
acerca da intrepidez para entrar no Santo dos Santos, que
realmente é uma idéia secundária na passagem.
O sujeito pode sempre ser declarado como pergunta.
Portanto, o sujeito pode ser estreitado a “O que deve acontecer,
para que os crentes possam entrar na presença de Deus com
confiança e ter um grande sumo sacerdote?” Os complementos
deste sujeito serão uma série de resultados, e há três. Primeiro,
eles devem aproximar-se com a confiança que advém de um
coração purificado; segundo, eles devem firmar-se na esperança
que professam; e terceiro, eles devem incentivar uns aos outros
ao amor e às boas obras. Tudo mais neste parágrafo desenvolve
este sujeito com seus complementos.
Veja como o processo funciona com a poesia, num livro do
Antigo Testamento. O pequeno diário de Habacuque consiste
de uma série de conversas que o profeta teve com Deus. No
capítulo inicial, Habacuque está contrariado com Deus, por ele
não castigar o mal na nação de Judá e no mundo mais amplo.
Primeiramente, precisamos colocar as idéias que compõem o
debate que o profeta teve com Deus.
Habacuque começa com uma queixa em 1.2-4. Declarada
como sujeito e complemento, a idéia é a seguinte:
* S ujeito: Qual é a queixa de Habacuque sobre a injustiça
que ele vê em Judá?
* C om plem ento: Ele quer saber por que Deus, que é justo,
não julga a nação pelo seu pecado.
* Idéia: Habacuque lamenta que seu Deus justo não castigue
o pecado em Judá.
Deus responde ao profeta em 1:5-7. A resposta de Deus
também pode ser declarada com um sujeito e complemento.
* Sujeito: De que maneira Deus trará juízo sobre Judá?
48

* C om p lem en to: Deus usará os ímpios babilônios para


punirem seu povo.
* Idéia: Deus usará os ímpios babilônios para punir seu povo.
Note que estes dois parágrafos (1.2-11) podem agora ser
ligados a um sujeito e complemento maiores:
* Sujeito: Como Deus vai punir o mal e a injustiça que estão
soltos em Judá, povo dele?
* C om plem ento: Deus usará os ímpios babilônios como sua
vara de correção.
* Idéia: Deus julgará o mal em seu próprio povo, Judá, através
de uma invasão dos ímpios babilônios.
Isso nos leva, então, ao terceiro parágrafo da passagem
encontrado em 1.12-2.1:
* Sujeito: Como um Deus justo usa a Babilônia ímpia e ateísta,
para punir uma nação mais justa como Judá?
* C om plem ento: Deus também punirá os babilônios na hora
determinada.
* Idéia: Mesmo que Deus for usar os maus babilônios para
punir Judá, ele também julgará os babilônios pelo pecado
deles.
Há muitas imagens empregadas na poesia deste capítulo, mas
devem ser separadas das idéias que elas sustentam. E importante
passar pelo processo de declarar o sujeito e complemento para
chegar às idéias. Idéias são criaturas escorregadias que facilmente
escapam de suas mãos.
Em cada uma destas passagens, determinamos o(s) sujeito(s)
e seu(s) complemento(s) para descobrir a estrutura da idéia. A
fim de pensarmos de modo claro, devemos distinguir
constantemente entre a estrutura da idéia e a maneira pela qual a
idéia se desenvolve. O esforço para declarar a idéia de uma
passagem ou de um sermão, em palavras exatas, pode ser frustrante
e irritante, mas, no cômputo geral, é o emprego mais econômico
do tempo. Mais importante ainda, não conseguimos chegar a
49

lugar algum, sem fazer isso. Não entendemos o que estamos lendo
a não ser que possamos expressar claramente o sujeito e
complemento da seção que estamos estudando. E aqueles que
nos ouvem, não entendem o que estamos dizendo, a não ser que
possam responder às pergunta básicas. Sobre o que nós estávamos
falando hoje? O que estávamos dizendo sobre aquilo do qual
falávamos? Mas domingo após domingo, homens e mulheres saem
da igreja sem ser capazes de declarar a idéia básica do pregador,
porque este pregador não se deu ao trabalho de declará-la no
sermão. Quando as pessoas saem envoltas numa neblina mental,
eles estão assumindo o risco espiritual.
Pensar é difícil, mas consta como a obra essencial do pregador.
Que não haja mal-entendido algum sobre a dificuldade da tarefa.
Freqüentemente é lenta, desanimadora, opressiva. Mas quando
Deus chama os homens para pregar, chama-os a amá-lo com suas
mentes. Deus merece esse tipo de amor, e assim também as pessoas
às quais ministramos.
Em certa manhã fria e sombria um pregador trabalhou com
seu sermão desde o café da manhã até o meio-dia, com pouca
coisa para mostrar pelo esforço feito. Impaciente, largou sua caneta
na mesa e olhou desconsolado pela janela, sentindo pena de si,
porque lhe custava fazer os sermões aparecerem. Foi então que
raiou na sua mente um pensamento que produziu um efeito
profundo sobre seu ministério, a partir de então. “Seus irmãos
cristãos”, ele pensou, “dedicarão muito mais tempo a esse sermão
do que você. Vieram de mais de uma centena de lares. Viajam
mil quilômetros, no cômputo global, para estarem no culto.
Passarão trezentas horas participando do culto e escutando o que
você tem a dizer. Não se queixe das horas que está passando no
preparo, nem da agonia que sente. O povo merece tudo quanto
você pode dar-lhe”.
50

N o vo s C o n ceito s
Idéia
Dois elementos essenciais na declaração de uma idéia:
* sujeito
* complemento
D efin içõ es
Idéia. - uma destilação da vida que abstrai das experiências
particulares o que eles têm em comum e os relaciona entre si.
C om plem en to —a resposta à pergunta, “O que estou dizendo
exatamente sobre aquilo do qual estou falando?”
Sujeito - a resposta completa e definitiva à pergunta: “Sobre
o quê estou falando?”
E x e rc íc io s
Determinar o sujeito e complemento dos seguintes pará­
grafos;
1. Um bom sermão deixa você pensando como é que o
pregador conhecia tudo sobre você?
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________

2. O púlpito de hoje perdeu sua autoridade, porque em


grande parte desconsidera a Bíblia como fonte de sua
mensagem.
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________
51

3. Os jovens têm muito tempo e pouca memória, enquanto


que os idosos têm muita memória e pouco tempo.
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________

4. O ditado popular diz “A caridade começa em casa”. Não é


assim. A caridade começa onde o amor se liga à
necessidade.
Sujeito:_______________________________________

Complemento:________________________________

5. Atenção, adolescentes: Se vocês estão cansados de serem


amolados por pais irracionais, agora é a hora de agir. Saiam
de casa agora e paguem suas próprias despesas, enquanto
vocês ainda sabem tudo.
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________

6. “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará


no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade
de meu Pai que está nos céus” (Mt 7.21).
Sujeito:______________________________________

Complemento:.
52

7. “Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude,


antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos
em que você dirá: ‘Não tenho satisfação neles’ “ (Ec 12.1).
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________ _

8. “Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-


o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos;
as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs,
com toda a pureza” (lTm 5.1-3).
Sujeito:______________________________________

Complemento:_________________________________

9. Perdão “não pode significar que encobrimos uma falta com


um ‘manto de caridade’. As coisas divinas nunca são uma
ilusão e engano propositado. Pelo contrário, antes de o
pecado ser perdoado, o manto com o qual está coberto,
precisa ser removido. O pecado precisa ser exposto sem
misericórdia sim, sem misericórdia, à luz da face de Deus
(SI 90)” (Helmut Thielicke).

Sujeito:_________________________________ _____

Complemento:
53

10. “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas


e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o
Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!”
(SI 32.1-2).
Sujeito:______________________________________

Complemento:________________________________

(Há as respostas no apêndice 1).


C a p ít u l o 3

F e rra m e n ta s do O Íício

E ta p a s n o D ese n v o lv im e n to ã e M e n sa g e n s E x p o siliv a s
1. E scolhendo a P assagem

2. E studando a P assagem

3. D e s c o b r in d o a I d é ia E x e g é t ic a

E difícil pensar. É mais difícil pensar sobre pensar. E mais


difícil falar acerca de pensar sobre pensar. Mesmo assim, esta é a
tarefa básica da homilética. Um mestre de homilética observa
como trabalham os pregadores, e procura penetrar em suas mentes
para descobrir o que acontece ali, enquanto se preparam para
pregar. Depois, deve explicar o processo com suficiente clareza,
para que faça sentido para o estudante. A tarefa chega às raias do
impossível.
A quem um mestre de homilética deve estudar? Certamente
não a todo pregador. Há patetas no púlpito assim como há no
campo de golfe, e para descobrir como fazer bem alguma coisa,
geralmente estudamos aqueles que são eficazes naquilo que fazem.
Mesmo assim, muitos homens famosos do púlpito que escrevem
livros sobre “como eu o faço” revelam tantas variedades de
procedimento quanto de autores. Talvez mais desconcertantes
sejam os sem-métodos supostamente empregados por alguns
pregadores eficazes. Estes ministros que “falam com um coração
cheio” ou que “compartilham” insistem em dizer que, embora
56

tenham abandonado as regras, seus sermões continuam atingindo


o alvo. Semelhante pregação deve ser levada em conta. Quanto
às perícias profissionais, a construção do sermão classifica-se en­
tre as mais inexatas, quando comparada com, digamos, cozinhar
espaguete, remover um apêndice, ou pilotar um avião.
Como podemos avaliar o sortimento de abordagens ou
explicar a eficácia aparente de sermões que não parecem ter, por
detrás deles, método algum? Mais exatamente: como derivamos
de tudo isto procedimentos que outros podem seguir?
Primeiro, estamos ocupados com a pregação expositiva, e os
ministros cuja pregação é moldada pela Bíblia, possuem mais em
comum do que os pregadores de modo geral. Além disto, os
expositores que alegam que não seguem regra alguma, geralmente
não analisaram como estudam. Qualquer coisa que fazemos
regularmente, fica sendo nosso método, ainda que tenhamos
chegado a ele de modo intuitivo, e poucos expositores eficazes
são tão desprovidos de método quanto às vezes alegam. Além
disso, para analisar como fazer bem alguma coisa, somos atraídos
para aqueles que a fazem bem, de modo consistente, e não para
aqueles que a fazem bem, de vez em quando, e isto, por acaso. A
exposição bíblica clara e relevante não ocorre domingo após
domingo por intuição ou acidente. Os bons expositores têm
métodos para seu estudo.
Duas conclusões realmente surgem do fato de que os
expositores procedem em seu trabalho, de modos diferentes: (1)
pensar é um processo dinâmico, e (2) instrução pormenorizada
acerca de como pensar pode, às vezes, ser um empecilho para o
processo. O dano que a instrução pode fazer é refletido na história
de um advogado e um médico que regularmente jogavam golfe
juntos. Eram iguais na capacidade, e sentiam um forte senso de
prazerosa rivalidade. Certa primavera o jogo do advogado
melhorou tanto que o médico estava perdendo regularmente. As
tentativas do médico para melhorar seu próprio jogo eram mal
sucedidas, mas depois ocorreu-lhe uma idéia. Numa livraria
comprou três manuais sobre como jogar golfe, e enviou-os para
o advogado, como presente de aniversário. Dentro em breve,
voltaram a estar equiparados
Em segundo lugar, pensar é um processo dinâmico. A
pregação bíblica eficaz requer discernimento, imaginação e
sensibilidade espiritual e nenhuma destas coisas advém
meramente de seguir instruções. Quando uma discussão sobre
o preparo de um sermão expositivo se assemelha a instruções
sobre como construir um canil, algo deu errado. Edificar o
sermão expositivo aproxima-se mais da edificação de catedrais
do que de martelar, até produzir um abrigo de animal. Mas até
mesmo os construtores de catedrais têm sua forma de fazer as
coisas. Embora seja necessária uma vida toda com as Escrituras
e com as pessoas, para fazer exposição madura, o aprendiz precisa
de ajuda específica para saber como começar. Saber como outros
trabalham com a Bíblia pode ser uma ajuda bem-vinda. A estes
conselhos, cada um de nós precisa contribuir com sua própria
mente, espírito e experiência, e, a partir de prática repetida no
trabalho árduo de pensar, devemos desenvolver nosso próprio
modo de operar. Mas estar consciente de como outras pessoas
abordam a tarefa, produz confiança e contribui para um
emprego mais eficiente de tempo e energia.
No decurso da discussão de como desenvolver um sermão
expositivo, portanto, devemos conservar em mente que, embora
as etapas para o preparo sejam tratadas em seqüência, às vezes se
misturam. Por exemplo, o momento lógico para preparar uma
introdução chega, quando já ficou claro o desenvolvimento do
sermão inteiro. Um pregador experimentado, porém, às vezes
acha, por acaso, uma idéia funcional para uma introdução logo
no início do seu preparo. Aceita-a, sempre quando a pode
conseguir, embora talvez espere até perto do fim da sua obra,
para adaptá-la ao seu sermão.
Quais são, pois, as etapas no preparo do sermão expositivo?
E tapa 1 : E sc o lh a a p a ssa g e m a se r pr e g a d a .

Uma receita antiga de guisado de coelho começa assim: “Em


primeiro lugar, caçar o coelho”. Isso é pôr as primeiras coisas em
primeiro lugar. Sem o coelho, não há o prato. As primeiras
perguntas óbvias que nos confrontam são: Acerca do quê falarei?
De que passagem da Bíblia tirarei meu sermão?
Estas perguntas nao precisam ser enfrentadas na terça-feira
de manhã, seis dias antes de pregar o sermão. Um ministério
consciencioso das Escrituras depende do planejamento bem
pensado para o ano inteiro. O expositor sábio poupará tempo
para si mesmo, ao investir num calendário de pregação. Algum
tempo antes de seu ano começar, ele se forçará a resolver o que
pregará no domingo após domingo, culto após culto.
Embora toda a Escritura seja proveitosa, nem toda a Escritura
possui igual proveito para uma congregação, num determinado
tempo. O discernimento e a solicitude do pregador serão refletidos
na escolha de quais verdades bíblicas ele oferece ao seu povo. No
seu ministério, o expositor serve como construtor de pontes, ao
se esforçar para fornecer a ponte sobre o abismo entre a Palavra
de Deus e as preocupações dos homens e mulheres. Para fazer
isso, precisa estar tão familiarizado com as necessidades da sua
igreja quanto com o conteúdo de sua Bíblia. Embora os pastores
relacionem as Escrituras com as vidas do seu povo, em sermões
distintos, conhecem a importância de um calendário de pregação
que escolhe temas amplos ou passagens das Escrituras que falam,
de perto, às necessidades de suas igrejas, em particular.
U n id ad e s d e P en sam e n to
Freqüentemente avançaremos trabalhando, capítulo após
capítulo, versículo por versículo, através de diversos livros da
Bíblia. Ao fazer nosso calendário, portanto, leremos o conteúdo
total dos livros várias vezes, e depois os dividiremos em trechos
que vamos apresentar em sermões específicos. Fazendo isso,
deveremos selecionar as passagens segundo as divisões naturais,
e não forçadas, da matéria. Nao faremos a contagem de dez ou
doze versículos por sermão como se cada versículo pudesse ser
manejado como pensamento separado. Ao invés disto
pesquisaremos as idéias do escritor bíblico. Nas Epístolas do Novo
Testamento, isto quer dizer que os textos serão selecionados
segundo as divisões dos parágrafos, visto que os parágrafos
delineiam os blocos de construção do pensamento. O expositor
geralmente escolherá um ou mais destes parágrafos para expor,
dependendo de como se relacionam entre si e, assim, com a idéia
do autor.
E claro que nenhuma mão divina formou nossas divisões em
parágrafos. Os títulos [e reentrâncias na n v i ] em nossas traduções
refletem as decisões dos editores que procuram destacar mudanças
do pensamento no original. Conseqüentemente, as divisões dos
parágrafos em determinada tradução podem ser diferentes
daquelas em outra tradução. Como regra geral, as traduções mais
antigas tendem para parágrafos mais longos e pesados do que as
traduções mais modernas, que enfatizam a facilidade de leitura e
a atração visual. Até mesmo os textos grego e hebraico refletem
variações editoriais nas divisões dos parágrafos. Mesmo assim,
todos os esforços no sentido de dividir em parágrafos reconhecem
os princípios centrais do desenvolvimento e transição do
pensamento. O expositor diligente examinará a separação dos
parágrafos tanto nos textos originais quanto nas traduções em
português, selecionará as divisões da matéria que parecem ser de
maior utilidade, e as empregará como base de sua exposição.
Se estivermos trabalhando dentro de seções narrativas, porém,
o expositor provavelmente tratará com uma unidade literária
maior do que um ou dois parágrafos. Por exemplo, ao explorar
um episódio tal como o adultério de Davi com Bate-Seba, o ex­
positor violaria a história, se fosse pregá-la um parágrafo por vez.
Ao invés disso, provavelmente tiraria seu sermão da totalidade
do capítulo 11 de 2Samuel, e pelo menos de parte do capítulo
12, visto que tudo isto registra o pecado e suas conseqüências
devastadoras.
Na literatura poética, tal como o salmo, um parágrafo é
aproximadamente igual à estrofe de um poema. Embora o
pregador, talvez, faça exposição de uma única estrofe, normal­
mente tratará do salmo inteiro. Ao selecionar passagens para o
sermão expositivo, um princípio para seguir é este: Baseie o serm ão
nalguma unidade d e p en sam en to bíblico.
Trabalhar no livro de Provérbios, no entanto, apresenta um
desafio especial a esta regra. Mesmo que os nove capítulos
introdutórios possam ser divididos em unidades de pensamento,
relativamente fáceis de identificar, os ditados que se encontram
nos capítulos 10 a 31 parecem ser uma coletânea de sentenças
incisivas, aparentemente não relacionadas. Pregar nos provérbios
um atrás do outro, porém, fará do sermão uma rajada de
metralhadora.. Por essa razão, mensagens pregadas de Provérbios
geralmente tratam dos ditados por tópicos. Vários deles são tirados
de capítulos diversos e são unidos em uma seqüência lógica ou
psicológica, que forme as unidades de pensamento para o sermão.
Derek Kidner sugere oito destes estudos por assuntos, em seu
breve comentário do livro.1
Devemos notar, no entanto, que comentaristas recentes de
Provérbios apontam ligações lingüísticas entre os provérbios no
texto hebraico, sugerindo que os provérbios podem não ser tão
aleatórios quanto possam parecer, a princípio.2

Como expositores, podemos norm alm ente seguir


trabalhando o roteiro de livros inteiros ou passagens extensas da
Bíblia. Contudo, em alguma época ou outra durante o ano,
pregaremos por tópicos. Sermões pregados no Domingo da
Ressurreição ou no Natal requerem tratamento tópico especial.
Além disso, poderemos pregar sobre tópicos teológicos tais como
a Trindade, a reconciliação, a adoração, a preocupação de Deus
com os pobres, ou a autoridade da Palavra de Deus. Tratando-se
de doutrina cristã, poderemos começar nosso estudo das Escrituras
com o auxílio de uma concordância analítica ou uma Bíblia de
estudo por tópicos. O índice em livros sobre teologia poderá nos
levar a discussões do assunto e passagens da Escritura nas quais a
doutrina se baseia.
Certas vezes, também poderemos querer dirigir nossa
mensagem a interesses pessoais, tais como culpa, luto, perdão,
solidão, ciúme, casamento e divórcio. Pregar sobre problemas
pessoais, às vezes chamado de pregação sobre situações da vida,
apresenta uma dificuldade especial. Como encontramos a
passagem ou passagens para pregar? Se temos um conhecimento
amplo da Bíblia, estaremos cientes das passagens que tratam de
pessoas que enfrentam estes problemas. Já conheceremos a
tentação de Adão, o ciúme de Caim, a consciência pesada de
Jacó, a depressão de Elias, ou o ensino de Jesus sobre a necessidade
de confrontar e perdoar alguém que nos tenha ofendido. Se não
temos essa vasta compreensão da Escritura, uma concordância
poderá fornecer dicas funcionais. Além disso, livros que debatem
questões morais e éticas de uma perspectiva cristã, podem não só
analisar o problema como sugerir material bíblico a ser
considerado. Na exposição tópica, portanto, começamos com um
assunto ou um problema e então procuramos uma passagem ou
passagens que estão relacionadas com ele.
A exposição tópica enfrenta dois problemas. Primeiro, o
assunto, o tópico que estamos considerando poderá ser tratado
em várias passagens da Bíblia. Cada uma das passagens específicas,
então, deve ser examinada em seu contexto. Isolar uma passagem
única na qual basear um ensino, poderá desconsiderar tensões
que são parte integral daquele registro bíblico. Em geral a
exposição tópica exige mais estudo do que a exposição baseada
numa só passagem.
Um outro problema da exposição tópica é que podemos
inferir algo no relato bíblico, a fim de ler ali algo significativo.
Começar pelos problemas pessoais apresenta o perigo específico
de fazer mau uso das Escrituras. Se a dificuldade de começar com
a Bíblia é podermos nunca chegar ao século vinte e um, então a
armadilha de começar com o século vinte e um é podermos correr
o perigo de tratar desonestamente da Bíblia. Em nossa ansiedade
de dizer algo que ajude pessoas machucadas, podemos acabar
dizendo o que a Bíblia não diz, de modo algum. Podemos nos
servir de textos da Escritura que nós sentimos que apóiam o que
queremos dizer, sem considerar a intenção do escritor bíblico ou
o contexto daqueles versículos. Aqueles que querem dirigir-se às
necessidades sentidas de seu povo, devem ser elogiados pelo desejo
de ser relevante em nossos dias. Ao mesmo tempo, não há maior
traição de nosso chamado do que a de colocar palavras na boca
de Deus.
Seja como for que façamos a seleção da passagem, precisamos
permitir que ela fale por si. Freqüentemente uma passagem não
diz o que esperávamos que dissesse. Poderemos lançar mão de
“textos de comprovação” para apoiar doutrinas prediletas, com
uma desconsideração completa do contexto, no qual esses textos
se inserem. Poderemos ser tentados a transformar escritores
bíblicos em psicólogos modernos, dizendo num sermão o que
eles nunca pretenderam dizer. A exposição tópica difere do
chamado sermão tópico, portanto, no fato de que o pensamento
da Escritura escolhida formata tudo que é dito, para definir e
desenvolver o tópico.
A D u raç ão d o S e rm ã o
Outro fator a considerar na escolha do que pregar, diz respeito
ao tempo. Devemos pregar nossos sermões dentro de um número
limitado de minutos. Poucas congregações que recebem alimento
bíblico bem preparado e servido de modo atraente, ficarão
assentados diante do pastor com cronômetros na mão, mas se
somos honestos, não vamos tomar tempo que não nos é oferecido.
Precisamos fazer nossos sermões sob medida, para o tempo
disponível, e os cortes devem ser feitos no escritório e não no
púlpito.
Se você está numa situação que permite só de doze a quinze
minutos para o sermão, ainda assim pode fazer exposição. Você
está limitado, é claro, no tamanho da passagem que pode
apresentar e no detalhe com que a pode desenvolver. Talvez ficará
limitado à idéia principal daquele trecho e, em poucas pinceladas,
pode mostrar como essa idéia vem da passagem e se aplica à vida.
Ainda que lhe sejam permitidos quarenta e cinco minutos para
seu sermão, você ainda terá que fazer opções. Raramente você
poderá contar a seu povo tudo quanto descobriu acerca de uma
passagem, e nem sequer deve tentar fazê-lo. Quer tenha quinze
minutos ou uma hora, portanto, você precisa escolher o que incluir
ou excluir num dado sermão. Pela experiência, você consegue
descobrir o tamanho da passagem que pode tratar em detalhe. Sabe
também quando tem de restringir-se a uma visão geral de uma
passagem, ao invés de uma análise detalhada. E preciso considerar
tanto as unidades do pensamento como o tempo alocado para tratar
delas, ao selecionar uma passagem para ser pregada.
E tapa 2 : E st u d e s u a p a s s a g e m e c o l e c io n e s u a s

anotações

Nossa tarefa começa com o estudo da passagem e o registro


de nossas descobertas. Há várias coisas que devemos considerar.
O C o n tex to
Tendo escolhido a passagem, devemos primeiro examiná-la
em seu contexto. A passagem não existe isolada. Assim como
versos individuais estão dentro de um parágrafo, os parágrafos
são partes de um capítulo, e os capítulos são partes do livro. Se
você estivesse lendo qualquer outro livro, você não o abriria à
página 50 para ler um parágrafo, e disso achar que poderia falar
com certa autoridade sobre o sentido do autor. O escritor poderia
estar dando a você a posição do adversário e não a dele. No
mínimo, você deveria ler o capítulo todo para descobrir como
este parágrafo se relaciona com o todo desta seção maior. Se
realmente quisesse entender seu parágrafo, você faria perguntas
também sobre como o capítulo, que contém seu parágrafo, se
encaixa no livro todo. O velho adágio ainda está afiado: “O texto
sem o contexto é pretexto”.
Por esse motivo, começamos nosso estudo de uma passagem
bíblica, relacionando-a à unidade literária mais ampla, da qual
faz parte. Geralmente isso exige que leiamos o livro várias vezes e
em diferentes traduções. Mesmo que tenhamos habilidade em
ler hebraico ou grego, em geral achamos mais fácil mapear o
desenvolvimento dos pensamentos do autor, com a leitura em
nosso idioma, e várias versões diferentes estão disponíveis, desde
as traduções de palavra por palavra, como os interlineares (onde
palavras do inglês [e em breve a opção do português] são colocadas
abaixo do texto hebraico ou grego) até versões que apresentam as
Escrituras em linguagem contemporânea.
Diferentes traduções nos servem de formas diferentes.
Podemos obter a impressão da nitidez e vitalidade do grego ou
hebraico original, ao ler vários tipos de traduções. Duas que
empregam a forma de falar e o vocabulário atual são a esmerada
Nova Versão Internacional (NVI) que procura o caminho entre
lealdade ao hebraico ou grego e uma delicada sensibilidade para
com o estilo; e a Nova Tradução na L inguagem d e H oje (NTLH)
que busca o equivalente dinâmico do original e se concentra em
idéias mais do que nas palavras em si. Como Bíblias de estudo,
temos também outras, com diversas notas. E útil também a leitura
da Bíblia Viva. Com o emprego destas traduções e outras, o ex­
positor pode entender por si o contexto geral da passagem.
Colocar a passagem dentro do seu arcabouço mais amplo
simplesmente oferece à Bíblia a mesma oportunidade que damos
ao autor de um romance. O que um escritor quer dizer num
parágrafo ou capítulo específico pode ser basicamente
determinado, ao encaixá-lo no argumento mais amplo do livro.
O estudante não precisa investigar sozinho. Seções introdutórias
dos comentários e introduções ao Antigo Testamento e ao Novo
Testamento usualmente discutem por que um livro foi escrito, e
fazem um esboço do seu conteúdo. Embora os comentaristas às
vezes discordem entre si, sobre estas questões, o expositor pode
fazer uso das conclusões deles, à medida que lê a Escritura por si
mesmo.
Não somente a passagem deve ser colocada dentro da unidade
geral do livro, mas também ela deve ser relacionada com o
contexto imediato. Mais indícios do significado advém de um
estudo do contexto, em volta da passagem, do que de um exame
de pormenores dentro dela. Para entendermos um parágrafo ou
subseção, devemos explicar como é desenvolvido a partir do que
o antecede, e qual seu relacionamento com aquilo que o segue.
Faria alguma diferença se esta passagem específica não estivesse
ali? Qual o propósito a que esta passagem específica do livro serve?
Para entender ICoríntios 13, por exemplo, devemos entender
que faz parte de uma unidade maior que trata dos dons espirituais
- capítulos 12-14. Estes capítulos devem ser estudados juntos
apropriadamente, para interpretar o contraste entre o amor e os
dons espirituais no capítulo 13. Além disso, os capítulos anteriores
da carta escrita aos Coríntios revelam a condição espiritual dos
leitores e nos fazem refletir sobre como o amor poderia ser aplicado
na situação deles.
À medida que você lê a passagem nas várias traduções, use
uma caneta na mão. Escreva por extenso, tão exatamente quanto
possível, os problemas que encontra no entendimento da
passagem. Anote todos eles - force-se a declará-los. Se as diferentes
traduções discordam entre si de modo relevante, anote o fato.
Geralmente quer dizer que os tradutores vêem a passagem de
pontos de vista diferentes. Procure descrever as diferenças. Talvez
aquilo que o deixa confuso seja um pano de fundo pouco
conhecido ou figuras de linguagem que você desconhece. Quem
sabe você não capte o pensamento do autor, porque ele segue
uma lógica muito compacta. Fazer as perguntas certas é o passo
essencial para achar as respostas certas.
Lembre-se de que você está procurando as idéias do autor.
Comece escrevendo como der sobre o que você acha que o escritor
está falando - isto é, seu sujeito. Em seguida tente determinar
que afirmação (ou afirmações) importante(s) o escritor bíblico
está fazendo sob re o sujeito, isto é, o(s) complemento(s).
Se você não consegue declarar um sujeito a esta altura, o que
está impedindo que você o descubra?
* Há um versículo que parece não se encaixar?
* O escritor presume uma ligação entre suas afirmações que
você precisa declarar?
* Será que você nao descobriu como esse parágrafo se relaciona
com o que o antecede ou o que segue?
* Há uma figura de linguagem que o autor emprega, que
você nao entende?
Uma coisa é não saber, mas é outra coisa não saber o que
você não sabe. Descobrir e formular as perguntas que você tem,
e escrevê-las pode ajudá-lo a chegar ao sujeito do autor da
passagem.
Uma vez colocada a passagem dentro de seu contexto, você
deve agora examinar seus detalhes. Nas Epístolas e em partes dos
Evangelhos, isto significa examinar o vocabulário e a estrutura
gramatical da passagem. Em passagens narrativas você vai procurar
declarações do autor que explicam o que está acontecendo. Por
exemplo, em 2Samuel 11, o historiador relata o pecado de Davi,
sem julgá-lo. Só no fim do capítulo ele comenta que “o que Davi
fez desagradou ao Senhor”. Onde não há comentário editorial,
você deve fazer perguntas como: “Por que o autor bíblico inclui
este episódio?” ou “Há detalhes nesta passagem que, a princípio,
parecem alheios ao relato?” Os escritores do Antigo Testamento
são exímios contadores de histórias, mas são também teólogos.
Eles não estão simplesmente dando-nos histórias para contar para
nossos filhos, na hora de ir para a cama; estão contando-nos suas
histórias, para nos transmitir verdade sobre Deus.
E maravilhoso o quanto da Bíblia você pode aprender,
simplesmente lendo-a em sua língua, mas algum conhecimento
dos idiomas originais lhe dá uma vantagem. Ler uma passagem
em hebraico ou grego se assemelha a assistir a um filme em D V D ,
comparado com televisão comum. Ambos lhe dão a mesma
imagem, mas o d v d acrescenta qualidade, resultando em imagem
viva e precisa. Você nao necessita ser perito em hebraico ou grego
para usá-los com vantagem, e quase qualquer pessoa pode usar
algumas das ferramentas lingüísticas disponíveis. A precisão, bem
como a integridade, exige que desenvolvamos todas as habilidades
possíveis nas línguas originais, para tentar determinar a idéia geral
da passagem, através da formulação de perguntas para esclarecer
o que não entendemos. Agora podemos usar ferramentas, para
ajudar-nos a cavar para o entendimento desta passagem. Pelo
menos seis recursos diferentes estão disponíveis para ajudar-nos,
ao examinarmos nosso texto.
L éx ico s
Um léxico serve como uma espécie de dicionário para as
línguas originais. Usando um léxico, nós podemos encontrar
definições de uma palavra conforme é usada em hebraico ou grego.
Mas é mais do que um dicionário: junto com a definição de uma
palavra, o livro nos dá os sentidos que tem a raiz, a identificação
de algumas formas gramaticais, uma lista de passagens onde a
palavra ocorre, a classificação de seus usos nos vários contextos, e
algumas ilustrações que ajudam a dar cor à palavra.
C o n co rd ân cia B íb lic a
Enquanto léxicos, como dicionários, definem palavras, por
vezes é essencial estudar uma palavra nas passagens onde ocorre.
Para determinar o sentido das palavras através de seu uso,
empregamos uma Concordância Bíblica.
G ra m á tic a s
O sentido, porém, não advém de palavras apenas. As palavras
precisam ser entendidas conforme são usadas em frases, cláusulas,
sentenças e parágrafos. Um estudo da sintaxe examina como as
palavras se combinam para dar o sentido, e as gramáticas nos
auxiliam nesse estudo. Uma gramática não só oferece ajuda geral
em descrever como as palavras são formadas e combinadas em
sentenças, mas as que têm índice com referências bíblicas muitas
vezes dão discernimento relevante sobre certas passagens em
questão.
L iv ro s d e E stu d o d e P a la v ra s
Muito do trabalho de avaliar como os escritores bíblicos usam
as palavras já foi feito para nós, pelos estudiosos. Livros de estudo
de palavras nos fornecem um entendimento especial de palavras
usadas em todo o Antigo e Novo Testamentos, e, visto que as
palavras são coisas simples, até serem colocadas em um contexto,
esses livros tratam de seu uso gramatical, quando isso cabe.
D ic io n á rio s d a B íh lia e E n c ic lo p é d ia s
Diferentes da maioria dos dicionários comuns, os dicionários
da Bíblia oferecem mais do que uma definição de uma palavra.
Dão-nos discussões breves de pessoas, eventos e cenário histórico
do material bíblico. Muitas de suas perguntas sobre quando ou
onde um livro foi escrito, seus leitores e o autor serão respondidas
por um bom dicionário bíblico ou enciclopédia da Bíblia. O
exame do mesmo assunto em vários livros de consulta deste tipo
o capacita a conseguir equilíbrio e informação completa. Além
disso, com o uso de bibliografias encontradas no final de cada
artigo, você pode pesquisar um assunto mais a fundo.
C om en L ários
À medida que você ensina a Bíblia, você precisa de mestres
que o ensinem. Através de comentários, estudiosos prestam serviço
à igreja. Oferecem um tesouro imenso de informações sobre o
sentido das palavras, o pano de fundo das passagens, e o
argumento de um escritor. Normalmente é mais prudente (e mais
barato!) escolher os melhores volumes sobre livros específicos em
coleções diferentes. Também é bom consultar uma variedade de
comentários sobre uma passagem e avaliar o que dizem, pesando
um contra o outro, para determinar o sentido do autor bíblico.
Para seu estudo básico, você desejará consultar comentários
baseados nas línguas originais e não só no texto em sua própria
língua. Existem bibliografias para dirigi-lo em sua seleção de uma
biblioteca.
Para seus primeiros estudos, ajuda especial será encontrada
pela consulta de comentários baseados nas línguas originais.
Volumes do Comentário Crítico Internacional da série W ord
B iblical C om m cn tary são exemplos desta categoria. Estes muitas
vezes são bem técnicos e exigem algum conhecimento das línguas
originais, mas destrinçam o sentido do texto.
Você também há de querer consultar comentários expositivos.
Escolha os que são escritos por autores que trabalham a partir
das línguas originais. Típicas desse grupo seriam a série Tyndale
OldTestament Commentary da publicadora InterVarsity, e a série
Expositors Bible Commentary da editora Zondervan.
Outra fonte de ajuda em comentários enfoca mais a aplicação
do texto: há os Application Commentaries NVI tanto do Antigo
como do Novo Testamento. São volumes que tratam de exegese
e exposição, mas por vezes vão menos a fundo do que os
comentários críticos ou expositivos.
Há muitos livros e fitas gravadas de sermões de pregadores
bem conhecidos. Embora possam dar-lhe algumas idéias de como
abordar ou aplicar seu sermão, não devem ser usados cedo, em
sua preparação. A tentação será você se apoiar demais neles e
assim dar um curto circuito em seu próprio estudo do texto.

Há livros e programas de computador para três níveis: leigos


informados, estudantes de Institutos Bíblicos e Seminários, e
pastores. Existem bibliografias críticas para ajudar na avaliação
de material. As livrarias de Seminários podem ajudá-lo a formar
sua biblioteca básica ou sugerir os melhores comentários sobre
livros individuais da Bíblia. Alguns seminários já têm bibliografias
compiladas por professores, para aconselhar os melhores livros
para comprar. Formar uma biblioteca própria é indispensável para
qualquer pessoa que faz estudo bíblico sério. Se os livros são
escolhidos com cuidado, seu valor vai durar uma vida inteira.
O u tra s F e rra m e n ta s
Hoje temos os benefícios de computadores e recursos de
estudo em CD-ROM. Colocam ao alcance dos dedos uma
biblioteca, incluindo o texto grego e hebraico, traduções da Bíblia,
concordâncias, comentários (clássicos e modernos), e auxílios para
70

o estudo de palavras, todos visando a passagens específicas. Mais


impressionante ainda, esses programas são altamente interativos
e permitem que se acesse interativamente o texto bíblico e as
ferramentas da erudição.
Em meu próprio estudo, uso um bloco de papel tamanho
ofício, para registrar os resultados de meu estudo. Para passagens
que abrangem apenas poucos versículos, dedico uma folha
diferente para cada verso. Para trechos mais longos, como as
histórias do Antigo Testamento, por exemplo, posso dar uma
folha para um parágrafo inteiro. Tenho folhas à parte para
anotações sobre a idéia e sua evolução, possíveis ilustrações, e
material que possa levar às introduções e aplicações. Admito, é a
confissão de um dinossauro. Muitos pastores utilizam um
computador para cuidar de todas essas informações. Seja como
for que você trabalhe, vai precisar de um lugar para registrar suas
descobertas.
Ao estudar os detalhes da passagem e colocá-la em seu
contexto, já estamos nos movendo em direção à próxima etapa.
E tapa 3 : A o e s t u d a r a p a s s a g e m , r e l a c io n e a s

p a r t e s e n t r e s i , p a r a d e t e r m in a r a IDÉIA e x e g é t ic a

E SEU DESENVOLVIMENTO.

Nossas análises, tanto lingüística quanto gramatical, nunca


devem se tornar um fim em si, mas sim, devem levar a uma
compreensão mais clara da passagem como um todo. O processo
Etapa 3

se assemelha à forma de uma ampulheta, indo da síntese para a


análise e então voltando à síntese. Inicialmente lemos a passagem
e seu contexto em português para entender o sentido que o autor
quis. Depois, através da análise, testamos nossa impressão inicial
mediante um exame dos detalhes. E então, chegamos a uma
declaração final do sujeito e complemento à luz daquele estudo.
No decurso do processo você perguntará: “Exatamente sobre
o que o escritor bíblico está falando?” Quando você tiver um
sujeito possível, volte a ler a passagem e relacione o sujeito aos
detalhes.
* O sujeito se ajusta a todas as partes?
* E amplo demais? Como se faria para estreitá-lo?
* E estreito demais? Há um sujeito mais amplo que responde
por todas as partes?
* Seu sujeito é uma descrição exata daquilo sobre o qual a
passagem fala?
O S u je ito
A declaração inicial de um sujeito freqüentemente será ampla
demais. Para estreitá-la, procure testar seu sujeito com uma série
de perguntas definidoras. Um versinho nos diz quais são essas
perguntas:
Eu tinha estes seis amigos fiéis,
Tudo que sei ensinaram-me bem.
Seus nomes são Como e O que e Por que,
Onde e Quando e Quem.
Lembre-se, seu sujeito pode sempre ser afirmado na forma
de uma pergunta. Aplicar estas seis perguntas a seu assunto
proposto, portanto, o ajudará a ser mais exato. Vejamos o caso
específico de Tiago 1.5-8:
Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a
todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-
a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é
semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não
pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem
mente dividida e é instável em tudo o que faz.
Nossa resposta inicial a este parágrafo poderá ser que Tiago
está falando acerca de sabedoria. Embora a sabedoria apareça como
elemento importante no texto, é um sujeito amplo demais; porque
Tiago não discute o que a sabedoria é, porque precisamos dela,
ou quando ela nos é necessária. Olhando a passagem mais de
perto, descobrimos que está falando sobre “como obter a
sabedoria”, uma declaração mais exata do sujeito. A percepção
do contexto imediato, no entanto, nos capacita a limitar ainda
mais o sujeito. O parágrafo anterior, versos. 2-4, demonstra que
a alegria é a resposta apropriada às provações, e o presente
parágrafo continua aquela discussão. Logo, um sujeito mais
completo para Tiago 1.5-8 seria co m o ob ter a sabedoria em m eio
às p ro v a çõ es. Todos os pormenores no parágrafo, direta ou
indiretamente, têm relação com esse sujeito. Quando um sujeito
proposto descreve com exatidão aquilo sobre o qual o autor está
falando, ele ilumina os pormenores da passagem; e o sujeito, por
sua vez, será iluminado pelos pormenores.
O C o m p lem en to
Tendo isolado o sujeito, você agora deve determinar o
complemento, ou os complementos, que com p letam o sujeito e o
transformam em idéia. Ao fazer isso, você deve tomar consciência
da estrutura da passagem e fazer distinção entre as afirmações
principais e as de apoio, contidas nela. Freqüentemente o
complemento se torna imediatamente óbvio, uma vez que você
tenha declarado o sujeito. Em Tiago 1.5-8 o complemento do
sujeito “como obter a sabedoria em meio às provações ” é “peça-
a a Deus com fé ”. Uma declaração completa da idéia meramente
liga o sujeito ao complemento: A sabedoria em m eio às p rova ções é
obtida, ao p ed i-la a D eus co m fé. Tudo o mais no parágrafo apóia
ou elabora essa idéia.
Especialmente em passagens encontradas nas epístolas do
Novo Testamento, os escritores bíblicos, muitas vezes, tecem de­
bates bem argumentados. As idéias podem ser desvendadas através
do uso de um layout mecânico. Tal diagramaçao determina o
relacionamento das cláusulas dependentes às cláusulas inde­
pendentes. A diagramação, um método mais exigente para dese­
maranhar a estrutura, determina o relacionamento entre palavras
individuais dentro de sentenças. Uma disposição mecânica ou
um diagrama pode ser baseado no texto original ou numa
tradução em português. Os dois métodos juntam a análise e a
síntese de tal forma que a idéia principal da passagem fique
destacada do seu material de apoio.
Mesmo que as cartas do Novo Testamento ofereçam uma
contribuição fundamental à teologia cristã, elas constituem apenas
uma das muitas formas literárias encontradas na Bíblia. As
Escrituras contêm muitos tipos de literatura tais como parábolas,
poesia, provérbios, orações, discursos, alegorias, história, leis,
contrato, biografia, drama, apocalíptica e contos. Para encontrar
a idéia em qualquer deles, precisamos estar alertas para o tipo de
literatura que estamos lendo, e as convenções que lhe são
exclusivas. Não interpretamos poesias como interpretamos
contratos legais. Uma parábola difere de modo significativo de
uma narrativa histórica ou uma canção de amor. Quando se
trabalha com literatura narrativa, raras vezes temos que encarar
um labirinto de relacionamentos gramaticais complexos; mas, ao
invés disso, derivamos o que o autor quer dizer, de um estudo
global de vários parágrafos.
Uma série de perguntas diferentes deve ser feita, quando se
procura compreender uma história. Uma amostra dessas
perguntas poderia ser:
* Quais são as personagens na história, e por que o autor as
incluiu?
* Há contraste entre as personagens?
* Como estas personagens se desenvolvem, à medida que a
história se desdobra?
* Qual a contribuição do cenário à história?
* Qual estrutura mantém a história coesa e fornece sua
unidade?
* Como os episódios individuais se encaixam no arcabouço
total?
* Quais conflitos se desenvolvem, e como são resolvidos?
* Por que o escritor se deu ao trabalho de narrar a história?
* Que idéias subjazem à história, subentendidas, mas não
declaradas?
* Essas idéias podem ser declaradas através de um sujeito e
complemento?
Boa parte do Antigo Testamento é poética, quanto à sua
forma. Naquelas traduções bíblicas que imprimem a poesia como
poesia e não como prosa, descobrimos que a poesia se revela como
sendo a forma mais usada na literatura do Antigo Testamento.
Até mesmo as seções que comumente consideramos como sendo
prosa (a história, a profecia, a literatura sapiencial) contêm grande
quantidade de poesia. Os poetas geralmente não contam histórias;
pelo contrário, expressam sentimentos e reflexões acerca da vida.
Na literatura hebraica, comunicam através do paralelismo que
repete, contrasta ou acrescenta aos pensamentos anteriores, e
empregam linguagem figurada que talvez não corresponda
exatamente ao fato, mas sim aos sentimentos. As imagens e figuras
de linguagem dão mais vida e força à fala, porque unem
experiência ao fato. Quando os fazendeiros observam que “a terra
precisa de chuva”, estão sendo fiéis ao fato, mas, se dizem que “a
terra está sedenta por chuva”, são tanto fiéis ao fato como ao
sentimento. Os poetas se especializam nas estruturas e linguagem,
para acrescentar força e profundidade àquilo que estão dizendo.
Logo, a interpretação da poesia levanta sua própria coletânea de
perguntas:
* Que sentidos estão expressos por trás das imagens poéticas
e figuras de linguagem?
* Quais os sentimentos que o poeta expressa através de seu
uso da linguagem?
* Quais os elementos que o poeta emprega, para disciplinar
seu pensamento?
* O que seria perdido, se a mesma verdade fosse apresentada
em prosa?
Em qualquer gênero de literatura que você estudar, você não
só procurará determinar a idéia do escritor, como também desejará
discernir como a idéia é desenvolvida na passagem. Tome sua
declaração da idéia (sujeito ligado a complemento) e verifique-a
na passagem. Você consegue explicar como as partes se adaptam
à sua idéia? O autor pode não desenvolver um salmo numa ordem
75

lógica, mas poderá haver um relacionamento psicológico. Você o


identificou? O contador de histórias narra a história, mas se há
detalhes na narração que não parecem contribuir para a história,
pergunte-se por quê. A Bíblia é excelente literatura. Fala a nossas
mentes e nossos sentimentos. Como literatura excelente, ela não
trata de trivialidades desnecessárias. Os autores querem que nós
entendamos e sintamos aquilo sobre o qual escrevem. Quando
incluem detalhes, fazem isso com um propósito. Se você descobriu
a idéia do autor, então as diferentes partes da passagem devem
iluminá-la. Muitas vezes é justamente nos pontos que não
entendemos, de imediato, que serão revelados alguns dos
discernimentos mais importantes.
Um esquema que você poderá achar valioso é parafrasear a
passagem em suas próprias palavras. Seja exato em seu pensamento,
e afirme cuidadosamente os relacionamentos que você vê dentro
do texto, quer o escritor bíblico os afirme declaradamente quer
não. Ao escrever, talvez precise alterar a declaração de sua idéia
exegética, para que corresponda às partes da passagem. Não dobre
a passagem, para ela se adequar à sua declaração da idéia.
A esta altura, como resultado de seu estudo, você deve ser
capaz de fazer duas coisas: primeiro, declarar a idéia da passagem
em uma única sentença que combina seu sujeito e complemento;
segundo, afirmar como as partes da passagem se relacionam à
idéia.
Isso é trabalho suado, difícil, mas tem que ser feito.
N o vo s C o n ceito s
Contexto
Léxico
Concordância Bíblica
Dicionário e enciclopédia bíblica
Layout mecânico
Diagramação
Paráfrase de uma passagem
76

C oncordância Bíblica - ajuda a determinar o significado de


palavras através de seu uso.
C ontex to —o arcabouço mais amplo no qual uma passagem
ocorre. Pode ser tão estreito como um parágrafo ou capítulo,
mas, em última análise, inclui o argumento maior do livro
todo.
D iagram açao - demonstra o relacionamento entre as palavras
individuais dentro das sentenças bem como o relacionamento
entre as cláusulas.
D icionário B íblico e E nciclopédia Bíblica - contêm artigos
sobre ampla variedade de assuntos bíblicos, incluindo cenário
histórico dos livros da Bíblia e biografias de personagens
bíblicos.
L ayout m ecâ n ico - demonstra o relacionamento entre as
cláusulas dependentes e independentes, em um parágrafo.
Léxico - fornece definições, significado de raízes, identificação
de algumas formas gramaticais, uma lista de passagens nas
quais uma palavra ocorre, classificações do uso de uma palavra
em seus vários contextos, e algumas ilustrações que ajudam a
dar cor a uma palavra.
Paráfrase d e uma passagem - exprime a progressão de idéias
de uma passagem, em linguagem contemporânea.
P a ra L e itu ra A d ic io n a l
Diferentes gêneros de literatura requerem diferentes atitudes
mentais para sua apreciação. Você não lê um documento legal da
mesma maneira que lê uma novela ou poesia ou uma carta de sua
companhia de seguros. Um livro que vale a pena ser lido é Entendes
o q ue lês? por Gordon Fee e Douglas Stuart (Edições Vida Nova,
2001). E um guia bem fácil de entender, para ajudá-lo a fazer as
perguntas certas em seu esforço de interpretar e aplicar as
Escrituras com precisão. Um outro livro que também vale a pena
ser lido é O uvindo a D eus: uma abordagem m ultidisciplinar da
leitura bíblica editado por Elmer Dyck (Shedd Publicações, 2001).
77

Há dez capítulos proveitosos a respeito de pregar as várias


partes e os vários gêneros da Escritura em T he H andbook o f C on-
tem porary P reaching (Nashville: Broadman, 1992) que podem
ajudá-lo a atacar os diferentes tipos de literatura na Bíblia.
Um gênero importante da Bíblia é a narrativa. Um tratamento
bem prático de como estudar a narrativa do Antigo Testamento é
escrito por Steve Mathewson (The Art of Preaching Old Testa-
ment Narrative [Grand Rapids: Baker, a ser lançado]). Mathewson
compreende bem os leitores que podem estar tentando caminhar
pelas histórias bíblicas. Ao mesmo tempo, dá diretrizes úteis
àqueles que já conhecem o básico e querem aprender mais.
Se você está disposto a lutar um pouco, então tente atacar o
livro de Robert Alter T he Art o f Biblical Narrative (New York:
Basic Books, 1982). Ele aborda as narrativas do Antigo Testa­
mento, do ponto de vista de um crítico literário. Seu livro se
baseia no texto hebraico; não obstante, leitores pensantes que
não conhecem hebraico, aproveitarão a leitura mesmo assim. Alter
escreveu também T he Art o f Biblical P oetry (New York: Basic
Books, 1987), que faz pela poesia o que seu primeiro livro fez
pela narrativa.
Outro livro que auxilia, escrito por amigos meus, robustece
os princípios deste capítulo. É T he B ig Idea o f Biblical Preaching,
ed. Keith Willhite e Scott Gibson (Grand Rapids: Baker, 1998).
Em um capítulo, Bruce Waltke trata de como o estudo da poética
pode desvendar o pensamento central de passagens mais amplas
de Provérbios. Ele se utiliza de Provérbios 26.1-12 como sendo
um caso que exemplifica isso. Em outro capítulo, Paul Borden
expõe, em detalhe, como um pregador encontra e comunica a
grande idéia em uma história bíblica.
Outra exposição criteriosa das formas literárias encontradas
nas Escrituras é a de Leland Ryken em A C om plete Literary Guide
to th e B ible (Grand Rapids: Zondervan, 1993). Ryken, que ama
a boa literatura, nos faz lembrar que, mesmo sabendo que a Bíblia
difere de outra grande literatura, devemos lê-la como outros livros.
Deve ser abordada não só como um livro texto de teologia, mas
como literatura.
C a p ít u l o 4

O C am in h o do Texto ao S e rm ão

E ta p a s n o D esen v o lv im en to J e M e n sa g e n s E x p o sitiv a s
1. S e l e c io n a n d o a P assagem

2. E studando a P assagem

3. D e s c o b r in d o a I d é ia E x e g é t ic a

4. A n a l is a n d o a I d é ia E x e g é t ic a

Os sermões expositivos consistem em idéias tiradas das


Escrituras, mas as idéias da Escritura precisam ser relacionadas
com a vida. Para pregar de modo eficaz, portanto, os expositores
precisam estar envolvidos em três mundos: o mundo da Bíblia, o
mundo moderno, e o mundo específico no qual somos chamados
para pregar.
Até agora, em nosso estudo, entramos no mundo da Bíblia.
Deus escolheu revelar-se dentro da história a nações que podem
ser localizadas num mapa. Usavam línguas que podem ser descritas
em gramáticas. Precisamos, primeiramente, tentar entender o que
a revelação de Deus significava para os homens e mulheres, aos
quais originalmente foi dada.
Um segundo mundo que precisamos considerar é o mundo
moderno. Precisamos estar conscientes das correntes que vão
redemoinhando através de nossos próprios dias. Cada geração se
desenvolve a partir da sua própria história e cultura, e fala sua
própria língua. Podemos ficar em pé diante de uma congregação
80

e pregar sermões exegeticamente corretos, eruditos e organizados,


mas são mortos e sem poder, porque desconsideram os problemas
e as perguntas que retorcem as vidas dos nossos ouvintes. Tais
sermões, pronunciados em voz de vitral magnífico, com linguagem
em código nunca ouvida na praça, mexem superficialmente com
grandes conceitos bíblicos, mas nosso auditório poderá sentir que
Deus pertence aos tempos antigos e a lugares longínquos. Preci­
samos não só responder às perguntas que nossos pais e nossas
mães faziam; precisamos enfrentar as perguntas que nossos filhos
fazem. Os homens e mulheres que falam por Deus, de modo
eficaz, primeiro precisam lutar com as questões de sua época e,
então, se dirigir àquelas questões, tendo por base a verdade eterna
de Deus.
Um terceiro mundo do qual precisamos participar, é nosso
próprio mundo específico. Uma igreja tem um código postal, e
fica perto da Rua Tal e Avenida Central, nalguma cidade de algum
estado. As questões profundas da Bíblia e as questões éticas,
filosóficas de nossos tempos assumem formatos diferentes em
vilarejos rurais, em comunidades de classe média, ou nos guetos
e favelas de metrópoles superpovoadas. Em última análise, não
nos dirigimos à humanidade toda; falamos a um povo específico
e o chamamos pelo nome. A Bíblia fala do dom de “pastor-e-
mestre” (Ef 4.11). Isto subentende que as duas funções devem
ser ligadas, porque senão, pode surgir uma exposição irrelevante
que reflita negativamente contra Deus. Conforme a expressão de
certo freqüentador desnorteado: “O problema é que Deus é como
o pastor: não o vemos durante a semana, e não o entendemos aos
domingos”. J. M. Reu estava bem no alvo, quando escreveu: “A
pregação é fundamentalmente uma parte do cuidado das almas,
e o cuidado das almas envolve uma compreensão total da
congregação”.1 Os pastores competentes conhecem seus rebanhos.
Durante as etapas a seguir, esforçamo-nos para juntar o
mundo antigo, o mundo moderno e nosso mundo específico, à
medida que desenvolvemos o sermão. Ao fazer isso, não é como
se estivéssemos tirando uma ilustração apropriada de uma velha
história que tornamos relevante a Bíblia. Os homens e mulheres
modernos estão sujeitos a Deus, exatamente na mesma posição
como seus equivalentes na Bíblia, e eles ouvem a Palavra de Deus
que se dirige a eles, agora. “O Senhor, o nosso Deus, fez conosco
uma aliança em Horebe”. Essa afirmação vem de um povo que
ouvia a Lei uma segunda vez, várias décadas depois de ela ter sido
dada originalmente. Mas declararam através de Moisés: “O
Senhor, o nosso Deus, fez conosco uma aliança em Horebe. Não
foi com os nossos antepassados que o Senhor fez esta aliança,
mas conosco, com todos nós que hoje estamos vivos aqui” (Dt
5.2-3). A comunidade da fé, relembrando um evento que ocorrera
num tempo distante e num lugar diferente, experimentou aquela
história como uma realidade presente. A palavra de Deus falada
no Sinai continuava a falar àquela nova geração, e não somente a
colocou em relacionamento com Deus, como também definiu o
que Deus esperava da geração deles, no seu relacionamento de
uns com os outros.
Expor as Escrituras de modo que o Deus contemporâneo
nos confronte onde vivemos, requer que estudemos nosso
auditório bem como nossa Bíblia. Também significa que é mister
fazer e responder algumas perguntas básicas e práticas, para
descobrir como a idéia exegética e seu esboço podem expandir
em sermão. Nós relacionamos a Bíblia com a vida, quando
entramos na próxima etapa de nosso estudo.
E tapa 4 : S u b m e t a a id é ia e x e g é t ic a a t r ê s

p e r g u n t a s d e d e s e n v o l v im e n t o .

A idéia exegética pode ficar parada em nossos apontamentos


como sucrilhos empapados numa tigela. Já a tendo identificado,
poderemos querer saber se temos alguma coisa para pregar. Como
poderemos agir para obter o “croc” e o “crac” da idéia, a fim de
desenvolvê-la em sermão vital e vivo? Para responder a essa
pergunta prática, o pregador deve ter consciência de como um
pensamento se desenvolve.
Quando pronunciamos qualquer sentença declarativa,
podemos fazer só quatro coisas com ela: podemos reformulá-la,
explicá-la, prová-la ou aplicá-la. Nada mais. Reconhecer esse fato
simples abre o caminho para se compreender a dinâmica do
pensamento.
Pelo emprego da reformulação, o autor ou expositor
meramente declara uma idéia ”em outras palavras”, para esclarecê-
la ou para imprimi-la na mente do leitor ou ouvinte. A refor­
mulação é usada em toda espécie de discurso, mas ocupa um
lugar importante no paralelismo da poesia hebraica: “Cantarei
ao Senhor toda a minha vida, louvarei ao meu Deus enquanto eu
viver” o salmista nos informa em SI 104.33: “Louvarei ao meu
Deus enquanto eu viver”. Ele afirmou, depois reformulou sua
idéia em palavras diferentes. O apóstolo Paulo, enfurecido pelos
falsos mestres que substituem o evangelismo pelo legalismo,
emprega a reformulação para enfatizar a condenação deles: “Mas
ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente
daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” Mas ele o
reformula: “Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes
anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que
seja amaldiçoado!” (G1 1.8-9).
Jeremias martela até o fundo sua denúncia da Babilônia, ao
reformular o mesmo pensamento em, pelo menos, seis
pormenores diferentes:
“Uma espada contra os falsos profetas!”
declara o Senhor;
“contra os que vivem na Babilônia
e contra seus líderes e seus sábios!
Uma espada contra os seus falsos profetas!
Eles se tornarão tolos.
Uma espada contra os seus guerreiros!
Eles ficarão apavorados.
Uma espada contra os seus cavalos,
contra os seus carros de guerra
e contra todos os estrangeiros em suas fileiras!
Eles serão como mulheres
Uma espada contra os seus tesouros!
Eles serão saqueados.
Uma espada contra as suas águas!
Elas secarão.
Porque é uma terra de imagens esculpidas,
e eles enlouquecem por causa de seus ídolos horríveis.
Jeremias 50.35-38
A reformulação enfatiza que os babilônios estão em profundas
dificuldades!
A reformulação ocupa bastante espaço numa comunicação
escrita e, especialmente, numa comunicação oral, mas a
reformulação não desenvolve o pensamento, não o leva adiante.
Simplesmente diz a mesma coisa em outras palavras. Para
desenvolver um pensamento, porém, precisamos fazer uma ou
mais de três coisas. Precisamos explicar, provar ou aplicá-lo. Para
conseguir isso, podemos usar três perguntas de desenvolvimento.2
1 . N ó s o E x p lic a m o s: “O Q u e I s to S ig n if ic a ? ”
A primeira questão relativa ao desenvolvimento está centrada
na explicação. O que isto significa? Esse conceito, ou partes dele,
precisa de explicação?
A pergunta “O que isto quer dizer?” pode visar a vários alvos.
Em primeiro lugar, pode ser dirigida para a Bíblia: “O autor, na
passagem à minha frente, está desenvolvendo seu pensamento,
antes de tudo, pela explicação?” Quando Paulo escreveu a seus
amigos em Corinto, ele explicou como a diversidade de dons
concedidos aos membros deve operar a favor da união na
congregação, e não contra ela. Ele resume sua idéia em 1Coríntios
12.11-12: “Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo
e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um,
como quer. Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora
tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo
muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a
Cristo”. Nos versículos em volta desta declaração, Paulo explica
o conceito, ou analisando-o em pormenores, como na enume­
ração dos dons espirituais, ou ilustrando-o mediante o exemplo
do corpo humano. Com essa analogia, ele explica que uma igreja,
como um corpo, consiste de muitas partes diferentes, mas cada
uma delas contribui para a vida e benefício de todos. O pregador
que trata desta parte da Epístola aos Coríntios deve ter consciência
de que Paulo expande seu pensamento primariamente, através
da explicação, e que a explicação, provavelmente, será o impacto
principal de um sermão tirado desta passagem.
Quando o Apóstolo Paulo escreveu a seu jovem associado
Tito, queria que ele nomeasse presbíteros em Creta. Em Tito
1.5-9 Paulo explicou a Tito o que deveria procurar, ao nomear
supervisores nas igrejas. Ele escreveu:
A razão de tê-lo deixado em Creta foi para que você pusesse em
ordem o que ainda faltava, e constituísse presbíteros em cada
cidade, como eu o instruí. E preciso que o presbítero seja
irrepreensível, marido de uma só mulher e tenha filhos crentes
que não sejam acusados de libertinagem ou de insubmissão. Por
ser encarregado da obra de Deus, é necessário que o bispo seja
irrepreensível: não orgulhoso, não briguento, não apegado ao
vinho, nao violento, nem ávido por lucro desonesto. Ao
contrário, é preciso que ele seja hospitaleiro, amigo do bem,
sensato, justo, consagrado, tenha domínio próprio e apegue-se
firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada,
para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de
refutar os que se opõem a ela.
O sujeito de Paulo é: “Quais são as qualificações para um
líder na igreja?”
Seu complemento é: “O candidato precisa ser ‘irrepre­
ensível”.
Paulo afirma isso duas vezes. O apóstolo explica o que
“irrepreensível’ significa em três estruturas concretas: a vida fa­
miliar do candidato, sua vida pessoal, e seu ministério. Um sermão
baseado nesta passagem fará muita explicação dos detalhes que
Paulo determina. (Você poderá considerar ainda outras caracte­
rísticas que poderiam perfazer um líder “irrepreensível” hoje).
Em segundo lugar, a pergunta de desenvolvimento: “O que
quer dizer isto?” também pode sondar o auditório. Assume várias
formas. Se eu, meramente, declarasse minha idéia exegética, meu
auditório responderia: “O que ele quer dizer com isto?” Há
elementos na passagem que o escritor bíblico toma por certos,
mas que requerem uma explicação para meu auditório? Quando
Paulo aconselhou os coríntios em 1Coríntios 8 acerca da carne
oferecida aos ídolos, a idolatria e os sacrifícios eram tão familiares
aos leitores dele como os “shopping centers” o são para os
auditórios modernos. Por outro lado, as pessoas hoje estão de tal
forma desnorteadas acerca das práticas da idolatria como um
coríntio ficaria num supermercado. Logo, quando falamos acerca
de “comida sacrificada a ídolos”, devemos oferecer algumas
explicações. A passagem pode ser entendida erroneamente, ou,
mais danoso ainda, pode ser aplicada erroneamente, a não ser
que os ouvintes entendam o fundo histórico no qual o problema
se desenvolveu. Eles precisam entrar nas tensões psicológicas,
emocionais e espirituais colocadas, por se comer carne que antes
havia sido oferecida em sacrifício a deuses pagãos.
Como caso típico, quando Paulo fala de um “irmão fraco”,
não se refere necessariamente a um indivíduo que é facilmente
influenciado a pecar. Pelo contrário, tem em mente alguém que é
demasiadamente escrupuloso e que não aplicou a teologia à
experiência. O cristão fraco não aprecia que “nenhum ídolo é
alguma coisa no mundo”, mas é apenas uma criação da
superstição. Nas igrejas modernas, portanto, muitas pessoas
demasiadamente escrupulosas que se consideram “fortes”, seriam,
na mente de Paulo, “fracas”. Num tratamento desta passagem,
portanto, aquilo que Paulo tomava por certo com seus leitores,
requer explanações extensas hoje.
Em ICoríntios 12.13, o apóstolo observa: “Pois, em um só
corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer
judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi
dado beber de um único Espírito”. Aqui, também, Paulo toma
por certo aquilo que não podemos que seus leitores entendem a
obra batizadora do Espírito Santo. Uma referência ao “batismo
no Espírito Santo” hoje leva alguns ouvintes a deslocar-se,
inquietados nos bancos da igreja, e a perguntar a si mesmos: “O
que significa isso?” “O que é que as pessoas na minha
denominação pensam acerca disto?” “Isso não é uma experiência
importante para carismáticos, e não tem alguma coisa a ver com
o falar em línguas?” Numa congregação carismática, os ouvintes
podem presumir que já sabem o que é o batismo do Espírito
Santo, mas querer saber o que isso tem a ver com o argumento de
Paulo. Se estivéssemos pregando sobre esta passagem, então, não
poderíamos desconsiderar essas respostas. Pelo contrário, vamos
antecipá-las no nosso preparo e poderemos dedicar algum tempo
no sermão, para nos estendermos sobre o batismo no Espírito
Santo, embora Paulo não tenha feito assim.
Napoleão tinha três ordens para seus mensageiros que são
aplicáveis a qualquer comunicador: “Seja claro! Seja claro! Seja
claro!” A clareza não vem com facilidade. Quando treinamos para
ser pregadores, provavelmente passamos três ou quatro anos no
seminário. Embora esse treinamento nos prepare para ser teólogos,
às vezes nos estorva como comunicadores. O jargão teológico, o
pensamento abstrato, os questionamentos dos estudiosos tornam-
se parte da bagagem intelectual que impede os pregadores de
falarem, claramente, a homens e mulheres comuns. Se entrássemos
num hospital, num estúdio de televisão, numa gráfica, num
vestiário ou na oficina de carros local, e quiséssemos entender o
que acontece ali, teríamos de perguntar persistentemente “O que
você quer dizer?” Os peritos em outras ocupações raras vezes
precisam fazer-se entender aos que estão fora da sua profissão,
mas os pregadores são diferentes. Ninguém é de fora na religião.
Todos precisam entender o que Deus diz. Realmente, é matéria
de vida ou morte. Logo, devemos antever o que os ouvintes podem
não saber e, através de nossas explicações, ajudá-los a entender.
A pergunta de desenvolvimento “O que isto quer dizer?”
portanto, lida não só com a passagem mas também com o povo.
Se você imaginar um corajoso levantando-se no meio do sermão
para gritar “Pastor, o que você quer dizer exatamente com isto?”
você tomará consciência das questões que devem ser esclarecidas,
à medida que seu sermão é desenvolvido.
2 - N ó s o P ro v am o s: “É V e rd ad e ?"
Nossa segunda pergunta de desenvolvimento é centrada na
validade. Depois de entendermos (ou pensarmos que
entendemos) o que uma declaração significa, freqüentemente
perguntamos: “Isso é verdade? Posso realmente acreditar nisso?”
Exigimos prova.
Um impulso inicial daqueles de nós que levamos a Bíblia a
sério, é não fazer caso desta pergunta. Presumimos que as pessoas
devem aceitar uma idéia como verdadeira, porque vem da Bíblia.
Não é necessariamente uma suposição válida. Talvez precisemos
conquistar a aceitação psicológica dela, através de raciocínio
lógico, provas ou ilustrações. Até mesmo os escritores inspirados
do Novo Testamento (todos eles crendo que o Antigo Testamento
era um testemunho vivo inspirado), por vezes, estabeleceram a
validade de suas afirmações, não somente citando o Antigo Tes­
tamento, mas fazendo referência à vida comum.
Quando Paulo quis comprovar à congregação de Corinto
que tinha o direito de receber apoio financeiro para seu ministério,
por exemplo, argumentou não só a partir da lei mosaica como
também da experiência de fazendeiros, pastores e soldados. Numa
série de perguntas retóricas, expôs seu argumento:
Ou será que só eu e Barnabé temos direito de receber sustento
sem trabalhar? Quem serve como soldado à própria custa? Quem
planta uma vinha e nao come do seu fruto? Quem apascenta
um rebanho e não bebe do seu leite? Não digo isso do ponto de
vista meramente humano; a Lei não diz a mesma coisa? Pois está
escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi, enquanto ele
estiver debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus
está preocupado? Não é, certamente, por nossa causa que ele o
diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque “o lavrador,
quando ara e o debulhador, quando debulha, devem fazê-lo na
esperança de participar da colheita”. Se entre vocês semeamos
coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas
materiais? Se outros têm direito de ser sustentados por vocês,
não o temos nós ainda mais? (ICo 9.6-12).
Paulo apelou primeiro à lógica da experiência. Afinal, se
soldados, vinhateiros, pastores de ovelhas e agricultores recebem
salário pelo seu trabalho, por que não um apóstolo ou mestre?
Depois Paulo arrazoou a partir de um princípio abrangente que
se encontra na lei, onde é proibido amordaçar os bois, quando
debulham o milho. Um trabalhador - seja animal ou homem -
deve ser recompensado pelo trabalho. Ao empregar esta pergunta
de desenvolvimento, devemos, portanto, notar como os escritores
bíblicos validavam o que tinham a dizer.
Os apóstolos usavam todos os meios legítimos que lhes
estavam disponíveis, para obter o assentimento de seus auditórios.
Quando Pedro pregou seu sermão no Dia de Pentecoste,
raciocinou da experiência bem como da Bíblia para comprovar
que “Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e
Cristo” (At 2.36). Os milagres de Jesus, a crucificação, a
ressurreição, o túmulo de Davi, os fenômenos do Pentecoste:
aqueles eventos passíveis de verificação suportavam o peso do
argumento de Pedro. Honrados pelo auditório judaico como
profetas inspirados, Joel e Davi foram citados como testemunhas,
para interpretarem o que o povo experimentou. Quando
escreviam e quando pregavam, os apóstolos adaptavam-se aos
seus leitores e ouvintes, a fim de estabelecerem a verdade das suas
idéias.
Quando Paulo se dirigiu aos intelectuais no Campo de Marte,
discutiu a teologia natural - o fato da criação e suas implicações
necessárias. Embora propusesse conceitos bíblicos, o apóstolo não
citou nenhuma vez o Antigo Testamento, pois a Bíblia nada
significava a seu auditório grego pagão. Pelo contrário, apoiava
seus argumentos, referindo-se aos ídolos e filósofos poetas deles,
e tirando deduções da vida comum. Ao citar os poetas e filósofos
gregos, é claro, Paulo não estava recomendando a filosofia
89

ateniense aos filósofos atenienses. O Antigo Testamento era a


autoridade para suas asseverações maiores e menores (conforme
demonstram as referências à margem do texto grego de Nestle).
Ao citar fontes pagas, Paulo meramente aproveitou discer­
nimentos consistentes com a revelação bíblica e mais facilmente
aceitos pelos seus ouvintes.3
Embora a competência requeira que entendamos como os
escritores bíblicos estabeleciam validade, também exige que nós
nos esforcemos para enfrentar a pergunta: “Isso é verdade?” e
“Posso realmente crer nisso?” Numa geração passada, talvez
pudéssemos ter contado com um sentimento de culpa nas orlas
do pensamento da congregação. Hoje podemos contar com uma
atitude de questionamento e dúvida. Nosso sistema educacional
e a mídia contribuem para este ceticismo generalizado. Os
propagandistas criaram um auditório de cépticos que dão os
ombros diante de reivindicações dogmáticas e endossos entusias­
mados de quem quer que os faça, como sendo nada mais que
propaganda de patrocinador.
Fazemos bem, portanto, em adotar a atitude de que uma
afirmação não é verdade, por estar na Bíblia; está na Bíblia, porque
é verdade. O fato de uma afirmação estar escrita nas páginas de
um livro encadernado em couro não o torna válido, necessa­
riamente. Pelo contrário, a Bíblia afirma a realidade como ela Etapa 4
existe no universo, conforme Deus o fez e conforme ele o governa.
Esperamos, portanto, que as afirmações da Escritura estejam
demonstradas no mundo ao nosso redor. Não se quer dizer com
isso que estabelecemos a verdade bíblica mediante o estudo da
sociologia, astronomia ou arqueologia, mas sim, que os dados
válidos destas ciências apóiam a verdade ensinada na Escritura.
Como o pregador lida com as perguntas de desenvolvimento:
“Isso é verdade? Será que eu creio nisso realmente?” Imagine que
você fosse declarar diante de uma congregação a poderosa
afirmação de Paulo: “Sabemos que Deus age em todas as coisas
para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de
acordo com o seu propósito” (Rm 8.28). A maioria das pessoas
recebe essa declaração com expressão de dúvida. “Isso é verdade?
Podemos crer nisso realmente?” O que se diz da mãe que foi
morta por um motorista fugitivo, e que deixou sozinhos o marido
e três filhos? E aqueles pais cristãos cujo filho de quatro anos de
idade foi diagnosticado como tendo leucemia? Como é que isto
é bom? O que há de “bom”, quando um jovem missionário é
afogado nas águas lamacentas de um rio, na mata, antes de ter
testificado a um só indígena? Trabalhar com esta passagem e deixar
de tratar de perguntas tão desconcertantes como estas é deixar,
totalmente, de atingir o auditório.
Donald Grey Barnhouse lida com a questão da validade, ao
fazer exposição de João 14.12: “Fará coisas ainda maiores do que
estas, porque eu estou indo para o Pai”. Fez uso de uma analogia
para estabelecer a validade da sua explicação:
A bordo de um submarino dos Estados Unidos, em águas
inimigas do Pacífico, um marinheiro foi atingido por apendicite
aguda. O cirurgião mais próximo estava a uma distância de
milhares de quilômetros. O imediato e farmacêutico Wheller
Lipes observou a temperatura do marinheiro subir para 44 graus.
Sua única esperança seria uma operação. Lipes disse: “Já observei
médicos fazê-lo. Penso que posso. O que você acha?” O
marinheiro consentiu. No salão dos oficiais, mais ou menos do
tamanho de uma saleta num trem de luxo, o paciente foi
estendido numa mesa debaixo de um holofote. O imediato e os
oficiais assistentes, vestindo paletós de pijama de traz para a frente,
mascararam todo o rosto com gaze. Os tripulantes ficaram ao
lado dos controles de mergulho para conservar equilibrada a
embarcação, o cozinheiro ferveu água para a esterilização. Um
coador de chá serviu como cone de anestesia. Um bisturi de
cabo quebrado foi o instrumento para operar. Álcool drenado
de torpedos foi o anti-séptico. Colheres de sopa dobradas
serviram para afastar os músculos. Depois de fazer cortes pelas
camadas de músculos, o imediato levou vinte minutos para achar
o apêndice. Duas horas e meia mais tarde, foi costurado o último
ponto de categute, exatamente quando se esgotou a última gota
de éter. Treze dias mais tarde o paciente estava de volta ao
trabalho.
Admite-se que esta foi uma proeza mais admirável do que se
tivesse sido realizada por cirurgiões preparados, numa sala de
operações completamente equipada de um hospital moderno.
Estude esta analogia e você entenderá o verdadeiro significado
das palavras de Cristo: “Fará coisas maiores ainda do que estas,
porque eu estou indo para o Pai”. Para Cristo, Deus perfeito,
operar diretamente com uma alma perdida, a fim de vivificá-la
e trazê-la da morte para a vida, é coisa grandiosa, mas quando
faz a mesma coisa através de nós, é uma obra ainda maior.4
Cynddylan Jones esforça-se para conquistar a crença com
uma única frase: “Seria tão fácil você cruzar o Atlântico em um
barquinho de papel”, ele declara, “como chegar ao céu por meio
das suas próprias obras”.
C. S. Lewis aborda a validade, ao identificar-se com uma
pergunta que pessoas que pensam, fazem acerca do evangelho:
Aqui está outra coisa que me deixava perplexo. Não é
horrivelmente injusto que esta vida nova seja limitada a pessoas
que ouviram falar de Cristo e que conseguiram crer nele? Mas a
verdade é que Deus não nos contou seus planos para as demais
pessoas. Sabemos que ninguém poderá ser salvo, senão através
de Cristo; não sabemos que somente aqueles que o conhecem,
podem ser salvos através dele? No ínterim, porém, se você estiver
preocupado com as pessoas que estão fora, a coisa mais irracional
que você pode fazer, é você mesmo ficar fora. Os cristãos são o
corpo de Cristo, o organismo através do qual ele opera. Cada
acréscimo àquele corpo o capacita a fazer mais. Se você quiser
ajudar os que estão fora, deve acrescentar sua pequena célula ao
corpo de Cristo, pois somente ele pode ajudá-los. Amputar os
dedos de algum homem seria um modo estranho de levá-lo a
fazer mais serviço.5
Quer você concorde plenamente com Lewis, quer não, ele
levanta uma pergunta clássica, lida com ela e a dirige, de volta, a
quem fez a pergunta.
J. Wallace Hamilton, pregando sobre a providência de Deus,
92

entende as perguntas sérias que surgem, quando alguém nos diz


que vivemos cada momento de nossas vidas pela providência de
Deus. Ele cita um poeta anônimo a começar a lidar com as
dúvidas:
“Oh, onde está o mar?” clamavam os peixinhos,
Por águas do Atlântico a nadar.
“Falaram-nos do mar, falaram de marés
O azul do oceano sonhamos contemplar!”

A nossa volta toda há peixinhos procurando o mar; pessoas que


vivem, se movimentam e têm sua existência num oceano de
providência divina, mas que não enxergam o oceano, por causa
da água. Talvez seja porque o chamamos por outro nome. Os
hebreus antigos, dos quais nos veio a Bíblia, eram um povo
religioso. Pensavam segundo padrões religiosos, falavam em frases
religiosas, viam em todos os eventos a atuação direta de Deus.
Se chovia, era Deus que enviara a chuva. Quando as ceifas eram
boas, Deus quem as multiplicava. Mas aquela não é nossa
linguagem, nem o padrão do nosso pensamento. Pensamos em
termos de lei - a lei química, lei natural. Quando chove, sabemos
que é a condensação natural do vapor. Quando as colheitas são
boas, os créditos vão para o fertilizante. Uma coisa impressionante
Etapa 4

aconteceu ao nosso modo de pensar. Num mundo que não


poderia existir, por um momento sequer, sem a atividade de
Deus, condicionamos nossas mentes a um modo de pensar que
não deixa lugar para ele. Tantas das nossas necessidades são
atendidas por forças que parecem naturais e impessoais, que
perdemos de vista o grande Provedor, no meio da providência.
Alguns de nós, que fomos criados no campo e depois nos
mudamos para a cidade, nos lembramos de como foi fácil perder
o hábito de dar graças à mesa, em parte porque a comida posta
ali veio, não diretamente da terra, e sim do armazém. Um médico
da cidade de Nova York disse: Se você perguntar a uma criança
de onde vem o leite, ele não pensa em dizer “De uma vaca”.
Dirá “De uma lata ou caixinha”.6
93

Só perguntar “Isso é verdade? Eu e meus ouvintes acreditamos


nisso?” não produz respostas instantâneas. Mas se deixarmos de
tratar destas perguntas básicas, nos dirigiremos somente àqueles
que já estão comprometidos. Pior, se não estamos dispostos a viver,
por um tempo, nas costas curvas de um ponto de interrogação,
podemos tornar-nos em mascates de uma mensagem, na qual nós
mesmos não acreditamos. A congregação tem o direito de esperar
de nós que, pelo menos, tenhamos consciência do problema, antes
de oferecermos soluções. Trabalhe sistematicamente cada uma das
idéias do esboço exegético e trate honestamente da pergunta: “Meu
auditório aceitaria esta declaração como sendo verdadeira? Se não,
por quê?” Escreva as perguntas específicas que aparecerem e, se
possível, a direção de algumas das respostas. Dentro em breve,
descobrirá muita coisa em que você e seus ouvintes terão que pensar,
à medida que o sermão se desenvolve.
3 . N ó s a A p lic a m o s: “Q u e D ife re n ç a F a z ? ”
A terceira pergunta de desenvolvimento diz respeito à
aplicação. Enquanto seja essencial que você explique a verdade
de uma passagem, sua tarefa não está completa, até que tenha
relacionado aquela passagem com a experiência de seus ouvintes.
Em última análise, o homem ou mulher no banco da igreja espera
Etapa 4
que você responda às perguntas: “E daí? Que diferença faz?” Todos
os cristãos têm a responsabilidade de fazer essas perguntas, porque
são chamados para viver sob Deus, à luz da revelação bíblica.
Mortimer J. Adler classifica os livros como sendo ou teóricos
ou práticos. Um livro teórico pode ser entendido e depois
guardado na prateleira. Um livro prático, no entanto, não somente
deve ser lido, como também deve ser usado. Entendida assim, a
Bíblia é um livro intensamente prático, porque foi escrita não só
para ser entendida, mas para ser obedecida.
Os homiléticos não têm dado a atenção merecida à aplicação
correta e precisa. Nenhum livro foi publicado com exclusiva, ou
mesmo primária, dedicação aos problemas intricados, levantados
pela aplicação.7 Como resultado, muitos membros de igrejas,
tendo escutado sermões ortodoxos durante sua vida inteira,
podem ser hereges na prática. Nossos credos afirmam as doutrinas
centrais da fé e nos relembram daquilo que os cristãos devem crer.
Infelizmente, nossos credos não podem informar-nos como a crença
nestas doutrinas deve levar-nos a agir. Este comportamento faz
parte da responsabilidade do pregador, e você precisa dedicar a isso
atenção diligente.
A exegese correta é básica para a aplicação perceptiva. Não
podemos decidir o que uma passagem significa para nós, a não
ser que tenhamos determinado primeiro qual é o sentido da
passagem, quando a Bíblia foi escrita. Para fazer isso, devemos
assentar-nos diante do escritor bíblico e procurar entender aquilo
que ele quis transmitir a seus leitores originais. Somente depois
de compreendermos aquilo que ele quis dizer em seus próprios
termos e para seus próprios dias, é que podemos esclarecer que
diferença aquilo deve fazer na vida dos nossos dias.
A fim de aplicar uma passagem de modo exato, devemos
definir a situação em que a revelação foi dada originalmente, e
então decidir o que o homem ou mulher de hoje compartilha ou
não compartilha com os leitores originais. Quanto mais estreito
o relacionamento entre as pessoas de hoje e as pessoas daquela
época, tanto mais direta a aplicação. Tiago escreve aos cristãos
judaicos espalhados pelo mundo antigo: “Meus amados irmãos,
tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios
para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz
a justiça de Deus” (Tg 1.19-20). Esse conselho aplica-se a crentes
de todas as eras, visto que todos os cristãos ficam neste mesmíssimo
relacionamento com Deus e Sua Palavra, quando enfrentam
provações.
Quando a correspondência entre o século vinte-e-um e a
passagem bíblica é menos direta, no entanto, a aplicação correta
torna-se mais difícil. O expositor deve dar atenção especial não
somente àquilo que os homens e mulheres modernos têm em
comum com aqueles que receberam a revelação original, mas
também às diferenças que há entre eles. Por exemplo: as muitas
95

exortações que Paulo fez aos escravos, tinham aplicação direta aos
escravos cristãos no século 1 e àqueles no decurso da história. Muitos
dos princípios abordados a respeito do relacionamento entre o
senhor e o escravo também podem reger os relacionamentos entre
empregadores e empregados hoje em dia, mas desconsiderar o fato
de que os empregados não são escravos de seus empregadores levaria
à aplicação grosseiramente falsa destas passagens. Por exemplo,
denunciar a participação num sindicato de trabalhadores, porque
os escravos devem “obedecer” a seus “senhores” (Ef 6.5) seria
desatender a diferença entre empregados e escravos.
Os problemas se multiplicam, quando aplicamos textos do
Antigo Testamento a auditórios contemporâneos. Na realidade,
a falsa aplicação do Antigo Testamento tem tido uma história
constrangedora. Uma abordagem insatisfatória consiste em
empregar estas passagens como um teste Rorschach santificado.
Os intérpretes alegorizam as histórias do Antigo Testamento, para
descobrir nelas significados ocultos que não estavam enterrados
no texto, e sim em suas próprias mentes.
Orígenes, por exemplo, alegorizou o relato da batalha por
Jericó (Js 6). Sustentou que Josué representava Jesus, e a cidade
de Jericó representava o mundo. Os sete sacerdotes que levavam
trombetas ao redor da cidade representavam Mateus, Marcos,
Lucas, João, Tiago, Judas e Pedro. Raabe, a prostituta, representava Etapa 4
a Igreja, que é composta de pecadores; e o cordão vermelho que
ela exibiu para se livrar com toda sua casa, era o sangue de Cristo.8
Os comentaristas que fazem uso de alegoria merecem nota alta
pela criatividade, mas nota baixa, por abordarem o relato bíblico
como literatura.
Outro método inadequado de manusear o Antigo Testamento
emprega-o somente como exemplo ou ilustração da doutrina do
Novo Testamento. Aqui, a autoridade para aquilo que é pregado,
não advém nem da teologia do Antigo Testamento, nem da
intenção do escritor vetero-testamentário, mas sim, inteiramente
da teologia do expositor, atribuída ao texto. Se aqueles que fazem
isso forem questionados acerca da sua interpretação ou aplicação,
apelam, não à passagem diante deles, e sim a alguma passagem
no Novo Testamento, ou a uma teologia que supõem que eles
compartilham com seu auditório.
Como podemos proceder, então, ao responder à terceira
pergunta de desenvolvimento: “E daí? Que diferença faz?” Em
primeiro lugar, a aplicação deve vir do propósito teológico do
escritor bíblico. John Bright afirma o argumento em prol de
determinar a intenção do autor: “...o pregador precisa entender
não somente o que o texto diz, mas também aquelas preocupações
que o levaram a ser dito, e dito daquela exata maneira. Suas labutas
exegéticas não estão completas, portanto, até que tenha dominado
a intenção teológica do texto. Antes de ter feito isso, ele não pode
interpretar o texto, e poderá dar-lhe uma interpretação clamoro­
samente errônea, se atribuir a suas palavras uma intenção bem
diferente daquela do autor”.9
Não poderemos entender ou aplicar uma certa passagem,
quer do Antigo Testamento quer do Novo, até que tenhamos
estudado seu contexto. Por exemplo, lançar-nos a uma análise de
um parágrafo ou capítulo de Eclesiastes, sem primeiramente
obtermos uma apreciação do livro inteiro, poderia levar a muitas
idéias indignas e aplicações devastadoras para as pessoas dos nossos
dias. Somente depois de dominar a passagem maior é que achamos
os indícios para entender o significado das passagens menores e
por que foram escritas.
Seguem-se algumas perguntas que nos ajudam a descobrir o
propósito teológico do autor:
1. Há n o texto quaisquer in dicações d e propósito, com entários
editoriais, ou declarações interpretativas feitas acerca dos
even tos? No Livro de Rute, por exemplo, a matéria em
4.11-21 fornece uma conclusão feliz para uma história
com um começo sombrio, e afirma a gloriosa orientação
de Deus nas vidas das personagens envolvidas. Rute
demonstra a providência de Deus. E o tema da orientação
amorosa de Deus, focalizada na conclusão, é subentendido
em todas as partes do livro, especialmente nas sete orações
de bênção e no modo comum e corriqueiro como cada
oração foi respondida. A operação de Deus é tecida na
tapeçaria dos eventos de todos os dias, de modo tão perito
que, na primeira leitura, talvez nem sequer o percebamos
na sua atuação. E somente mediante reflexão que tomamos
consciência de que Deus estava continuamente agindo,
para satisfazer as necessidades e as esperanças de pessoas
simples.10 O que você não poderia pregar legitimamente,
a partir de Rute, é um sermão sobre “Como Tratar de
uma Sogra Difícil”. Embora Rute reflita tensões entre uma
sogra e sua nora, o livro não foi escrito para resolver
problemas entre parentes por casamento. Um sermão
sobre o tópico, usando Rute, poderia oferecer algum
aconselhamento prático sobre como tratar de conflitos
em família, mas ele não teria autoridade bíblica nenhuma.
Isso ignora por completo o que o autor pretendeu. Pior
ainda, leva os ouvintes a crer que qualquer conselho
salpicado de versículos bíblicos pode ser considerado como
sendo o que Deus diz sobre o assunto.11
2. São feito s quaisquer ju lg a m en to s teo ló g ico s n o texto?
Comentários tais como “Naquela época não havia rei em
Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo”, feito duas
vezes no livro de Juizes (17.6; 21.25), indicam por que
estas narrativas sórdidas são registradas como parte da
história de Israel. A narrativa do pecado de Davi com Bate-
Seba e do seu assassinato de Urias foi registrada de modo
meramente fatual pela pena do historiador, até chegar à
declaração em 2Samuel 11.27: “Mas o que Davi fez
desagradou ao Senhor”. Essa sentença única é a declaração
teológica que põe em perspectiva o evento e aquilo que
segue em 2Samuel.
3. As passagens narrativas da Bíblia oferecem dificuldades
especiais ao intérprete. Além das perguntas normalmente
levantadas, devemos perguntar: Esta história é dada co m o
exem plo ou advertência? Se fo r assim, d e que maneira? Este
in cid en te é uma regra ou uma ex ceção? Quais lim itações
d evem ser postas sob re a passagem narrativa? Por exemplo,
na história de Raabe (Js 2.1-7) nao se podem derivar
quaisquer lições sobre a moralidade do engano, mas à luz
de várias passagens do Novo Testamento (Hb 11.31, Tg
2.25), pode-se concluir que Raabe era uma mulher de fé
vibrante.
4. Qual a m ensagem pretendida para aqueles que originalm ente
receberam a revelação, e também para as gerações subseqüentes
q ue o escritor sabia que a leriam?
5. Por que o Espírito Santo inclui nas Escrituras esta narrativa?
Se nao estivesse na Bíblia, algo teria sido perdido?
Existem outras perguntas que devemos fazer, a fim de aplicar
a Palavra de Deus a um auditório contemporâneo, que vive numa
situação diferente daquela das pessoas a quem a revelação foi
originalmente dada.
1. Qual fo i a situação am biental em q ue a Palavra d e D eus
originalmente veio? Q ue peculiaridades os hom ens e m ulheres
d e h o je têm em com u m co m aquele auditório original'1Por
exemplo, Deuteronômio foi falado por Moisés a uma
nova geração do outro lado do Rio Jordão. Os membros
do seu auditório acreditavam em Javé e faziam parte de
uma teocracia estabelecida pela aliança de Deus. Deus
celebrara com eles um tratado que dispunha, em detalhe,
as recompensas e os castigos pela sua obediência ou
desobediência. Todos eles tinham saído do deserto com
Moisés, e estavam antegozando a entrada na terra que
Deus prometera a Abraão.
Os cristãos de hoje não podem ser diretam ente
identificados com aquela nação. Somos, porém, crentes
em Javé, e somos, nesta era, o povo de Deus, escolhido
mediante sua graça, para sermos testemunhas diante do
mundo. Além disto, como eles, temos da parte de Deus
uma revelação a que ele espera que obedeçamos.
2. C om o p o d em o s identificar-nos co m os h om en s e m ulheres
bíblicos, à m edida q ue escutavam a Palavra d e D eus e
correspondiam , ou deixavam d e corresponder, na situação
d ele s ? Embora não possamos identificar-nos com os
israelitas, em realmente entrar na terra de Canaã, ou com
Davi reinando como rei em Jerusalém, ou com a situação
da vida de um hebreu debaixo da lei, temos participação
na humanidade destes homens e mulheres. Podemos
identificar-nos com suas reações intelectuais, emocionais,
psicológicas e espirituais, diante de Deus e do seu próximo.
Faríamos bem em lembrar-nos da observação de J. Daniel
Baumann: “Somos muito semelhantes às pessoas do
mundo antigo. E somente nalguns pensamentos
superficiais, crenças racionais, e disposições mentais que
somos diferentes. Em todas as realidades básicas do coração
somos iguais. Ficamos diante de Deus exatamente como
pessoas de todas as eras ficaram diante dele. Todos nós
tivemos experiência da culpa de Davi, da dúvida de Tomé,
da negação de Pedro, da apostasia de Demas, talvez até
mesmo do beijo do traidor Judas. Estamos vinculados,
através dos séculos, pelas realidades e ambigüidades da
alma humana”.12 Em todos as narrativas bíblicas, Deus
confronta os homens e as mulheres, e nós mesmos
podemos entrar nas respostas que as pessoas dão a Deus e
a outras pessoas como indivíduos, num grupo, ou am­
bos. Aquele mesmo Deus cuja Pessoa e caráter nunca
mudam, dirige-se a nós hoje, em nossas situações, e os
princípios e dinâmicas envolvidos nestes encontros
permanecem sendo bem semelhantes, no decurso da
história.
3. Q ue discernim entos adicionais ja tem os adquirido acerca das
m aneiras d e D eus lidar co m seu p ovo, através d e revelação
adicional? O escritor de romances policiais freqüentemente
encaixa, no primeiro capítulo da sua história, incidentes
que parecem irrelevantes ou perplexos. A significância
desses eventos se torna óbvia em capítulos posteriores.
Visto que a Bíblia fica inteira e completa, nenhuma
passagem deve ser interpretada ou aplicada isoladamente
da totalidade daquilo que Deus tem falado. Cada texto
deve ser interpretado dentro do livro no qual aparece. Mas
cada um dos livros da Bíblia constitui uma parte da
revelação toda. Por vezes, o que podemos negligenciar no
começo das Escrituras, torna-se uma dica a uma revelação
mais plena.
4. Q uando en ten d o uma verdade eterna ou um p rin cíp io
orientador, que aplicações específicas e práticas isso tem para
m im e para minha congregação? Quais as idéias, sentimentos,
atitudes ou a ções q ue isso d ev e afetar? Eu m esm o vivo em
ob ed iên cia a esta verdade? P retendo ob ed ecer? Quais os
obstáculos que im pedem m eu auditório d e reagir co m o deve?
Q ue su gestões poderiam ajudá-lo a reagir, co n fo rm e D eus
deseja quereajam ?
Normalmente você começa seu estudo com uma única
passagem da Escritura, e sua aplicação surge daquela passagem.
Se você começar com uma necessidade específica na sua
congregação, e voltar-se para a Bíblia, em busca de soluções, deve,
então, resolver quais passagens dizem respeito às questões
levantadas. Mediante a exegese daquelas passagens separadas,
portanto, o assunto é explorado. Quando a Bíblia fala diretamente
destas questões, numa variedade de textos, a aplicação e a
autoridade advêm diretamente da Escritura.
A aplicação se torna mais complexa, no entanto, quando
devemos lidar com problemas que os escritores bíblicos nunca
enfrentaram. Visto que Jesus Cristo existe como Senhor de toda
a história, os cristãos devem responder às preocupações éticas e
políticas da atualidade, a partir da perspectiva divina. Tomamos
por certo que o Espírito Santo tem sua vontade a respeito de
assuntos tais como o aborto, os bebês de proveta, proteção do
meio ambiente, a fome do mundo, o emprego da tecnologia ou
os programas governamentais de assistência social. A Bíblia, no
entanto, não pode falar e não fala sobre todas as situações políticas
101

ou morais e, como resultado, a maneira como cremos, votamos


ou agimos não pode vir diretamente das Escrituras. Se podemos
dizer “Assim diz o Senhor” sobre questões específicas que não são
tratadas na Bíblia, depende de nossa análise das questões, e de
nossa aplicação de princípios teológicos. Como uma pergunta é
formulada e que partes da questão enfatizamos poderão formatar
nossa conclusão. Várias perguntas nos ajudam a testar a exatidão
da nossa aplicação:
1. Entendi corretamente os fatos e formulei apropriadamente
as perguntas envolvidas nesta questão? Essas perguntas
podem ser formuladas de outro modo, a fim de deixar
emergir outras questões? Será que as pessoas que
discordam de mim, formulariam a questão de uma outra
maneira?
2. Determinei todos os princípios teológicos que devem ser
considerados? Atribuo peso igual a cada princípio? Há
outros princípios que escolhi desconsiderar?
3. A teologia que esposo é verdadeiramente bíblica, derivada
da exegese disciplinada e da interpretação acurada das
passagens bíblicas? Citar textos de prova constitui um
perigo especial neste ponto. Esta prática acha apoio para
uma doutrina ou posição ética, em passagens arrancadas
do seu contexto ou interpretadas, sem referência ao Etapa 4
propósito do autor, ou mesmo sem olhar outras passagens
que podem limitar a aplicação.
Na formação destes julgamentos morais e políticos, Alexandre
Miller oferece uma sugestão útil: “Uma decisão cristã válida é
sempre uma composição de duas coisas, de f é e fa to s.
Provavelmente será válida, na medida em que a fé for corretamente
apreendida e os fatos, corretamente medidos”.13 Visto que nossa
análise dos fatos e nossa interpretação da fé podem ser diferentes,
os cristãos discordam entre si quanto a questões éticas e políticas.
Mesmo assim, a não ser que lutemos com os fatos à luz da nossa
fé, nenhuma decisão que tomarmos, pode legitimamente ser
chamada de crista.
Deus se revela na Escritura. A Bíblia, portanto, não é um
livro texto sobre ética ou um manual sobre como resolver
problemas pessoais. A Bíblia é um livro sobre Deus. Quando
você estuda um texto bíblico, então, você deve perguntar: “Qual
é a visão de Deus nesta passagem?” Deus está sempre ali. Procure
por ele. Em diferentes momentos, ele é o Criador, um bom Pai, o
Redentor, um Amante rejeitado, um Esposo, um Rei, um Salva­
dor, um Guerreiro, um Juiz, um Ceifeiro, um Guardador de vinha,
um Anfitrião de banquete, um Fogo, uma Galinha protegendo
seus pintainhos, e assim por diante.
No andamento do seu estudo, então, há pelo menos quatro
perguntas que você pode fazer sobre uma passagem:
* Primeiro, qual é a visão de Deus neste texto em particular?
* Segundo, onde, precisamente, eu encontro isso na
passagem? (A visão de Deus está sempre nas palavras
específicas e na situação de vida do escritor ou dos leitores).
* Terceiro, qual é a função dessa visão de Deus? Quais as
implicações para a fé ou o comportamento que o autor
tirou dessa figura de linguagem?
* Quarto, qual é a significância desse quadro de Deus para
mim e para outros?14
Não só é importante você procurar a visão de Deus numa
passagem, como também você há de querer ver o fator humano.
Como as pessoas no texto bíblico responderam a essa visão de
Deus? Como foi que reagiram ? Essa visão de Deus deveria ter
produzido uma diferença prática em suas vidas? Esse fator humano
é a condição que as pessoas têm em comum com os personagens
da Bíblia. O fator humano pode aparecer em pecados tais como
rebeldia, descrença, adultério, cobiça ou gula, preguiça, egoísmo
ou fofoca. Também pode se mostrar em pessoas quebrando a
cabeça sobre a condição humana, como resultado de doença,
tristeza, ansiedade, dúvida, sofrimentos ou sentindo que Deus
pôs, em lugar esquecido, seus nomes e endereços. Geralmente
foi esse fator humano que motivou os profetas e apóstolos a
falarem e escreverem o que nos deixaram.1’
103

Para aplicar uma passagem, portanto, você precisa perceber


o que esse seu texto revela sobre Deus e o modo como as pessoas
corresponderam e viveram diante de Deus. Procure esses mesmos
fatores na vida contemporânea. Como a condição das pessoas
revela hoje os pecados, temores, esperanças, frustrações, ansiedades
e confusão das mulheres e homens de séculos no passado? Qual a
visão de Deus de que necessitam? Como respondem ou não
respondem a essa visão? Desta forma, você pode passar do texto
bíblico à situação de hoje com integridade.16
Pense em maneiras específicas nas quais essa verdade sobre
Deus e as pessoas realmente funcionaria na experiência. Para fazer
isso, faça a si mesmo perguntas tais como:
* Onde as dinâmicas da situação bíblica aparecem hoje?
* E daí? Que diferença real esta verdade sobre Deus faz para
mim ou para os outros? Que diferença deveria fazer? Que
diferença poderia fazer? Por que não faz diferença?
* Será que posso retratar para meus ouvintes, em termos
específicos, como esta visão de Deus poderia ser uma de
que necessitariam em uma dada situação? Será que algum
dia haveria de surgir uma ocasião em que alguém pudesse
se chegar a mim com um problema ou necessidade, e eu

Etapa 4
lhes apontaria essa passagem e essa verdade? Os ouvintes
sentem que um sermão é relevante, quando podem dizer:
“Eu consigo v er como isso se aplicaria na minha vida”.
Para ser eficaz, os sermões precisam relacionar a verdade
bíblica à vida. Os sermões mais eficazes são os que fazem isso de
modo específico, e não geral. Se você não aplicar a Bíblia à
experiência de vida das pessoas, você não pode esperar que eles o
façam. Tiago avisou-nos sobre o perigo de “ouvir a Palavra”, mas
não a pôr em prática. Os ouvintes são enganados, se simplesmente
conhecerem a Palavra de Deus, mas não a praticarem. Como
pregadores, não ousamos contribuir para esta ilusão. Nossos
ouvintes precisam tanto da verdade para crer, como de maneiras
específicas, que formatem sua vida, para aplicá-la.
104

Estas três perguntas de desenvolvimento, portanto, estimulam


nossos pensamentos e nos ajudam a resolver o que deve ser dito
acerca de nossa passagem. Tome essas perguntas e dirija-as aos
detalhes de seu texto, e então dirija-as a seu auditório. Escreva o
que precisa ser dito para responder às perguntas. Você logo saberá
se tem ou não tem um sermão, e que tipo de estudo você precisa
fazer para tornar eficaz esse seu sermão.
Observe que as perguntas se edificam uma sobre a outra.
Somente quando pensamos que entendemos uma afirmação é
que questionamos sua validade. E somente quando entendemos
e cremos numa afirmação é que ela fará diferença positiva em
nossas vidas. Embora você possa tratar de todas as três perguntas
no desenvolvimento de seu sermão, uma das três predomina e
determina a forma que sua mensagem terá. Toda essa pesquisa o
leva em direção a sua idéia homilética, que o ocupará no estágio
de desenvolvimento seguinte.
N o vo s C o n c e ito s
Reformulação
Três perguntas de desenvolvimento
A idéia homilética

Três perguntas d e desenvolvim ento:


1. O que isto quer dizer? Explora a explicação.
2. E verdade? Eu creio nisto? Explora a validade.
3. E daí? Que diferença faz? Explora as implicações e as
aplicações.
Idéia h om ilética —a declaração de um conceito bíblico de tal
modo que reflita com precisão a Bíblia, e cujo significado se
relacione plenamente com a congregação.
R eform u la çã o - a declaração de uma idéia em palavras
diferentes para esclarecê-la ou para sensibilizar o auditório.
105

E x ercício s
Determinar o sujeito e complemento dos seguintes exercícios.
Além disso, indique qual a pergunta funcional que você acha
que cada autor responde.
1. “A razão pela qual não se pode ensinar truques novos a
um cachorro velho não é que ele seja incapaz de aprendê-
los. E que ele está bem satisfeito com seu domínio dos
truques velhos, e pensa que aprender truques novos é só
para filhotes. Além disso, está ocupado em pagar as
prestações do seu canil” (John Gardner).
Sujeito: ____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

2. “A voz poderosa de Deus adverte do juízo, e a mesma voz


expressa sua compaixão por aqueles que se voltam a ele,
pelos meios dados por ele. Devemos escutar com a mesma
intensidade de reverente temor que sentimos, ao observar
o poder da água. Sua verdade falada não é para nós
julgarmos ou editarmos; cabe-nos escutar, absorver,
compreender, e curvar-nos.” (Edith Schaeffer)
Sujeito: _____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

3. “A melhor coisa que você pode fazer para o bem do seu


golfe neste inverno é olhar-se num espelho. Um espelho
106

de tamanho natural é uma ajuda valiosa à aprendizagem.


Com ele você pode melhorar sensivelmente, sobretudo
na posição da saída e nas tacadas leves ” (N ew York Times).
Sujeito: _____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

4. “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns


pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem
cumprido a Lei. Pois estes mandamentos: ‘Não
adulterarás’, ‘Não matarás’, ‘Não furtarás’, ‘Não cobiçarás’
e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste
preceito: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. O amor
não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o
cumprimento da Lei” (Rm 13.8-10).
Sujeito: _____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

5. Um menino chinês que queria aprender acerca do jade foi


estudar com um velho professor de talento. Este cavalheiro
colocou um pedaço dessa pedra na mão do jovem e
mandou que o segurasse com firmeza. Depois, começou
a falar de filosofia, dos homens, das mulheres, do sol e de
quase tudo que há debaixo dele. Depois de uma hora
pegou a pedra de volta e mandou o menino de volta para
casa. O mesmo procedimento foi repetido por semanas a
fio. O menino sentiu-se frustrado, quando seria informado
107

sobre o jade? mas ele era cortês demais para interromper


o venerável mestre. Então, um dia, quando o velho
colocou uma pedra em suas mãos, o menino exclamou
no mesmo instante: “Isso não é jade!”
Sujeito: _____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

6. “Rudolf Fellner relembra a suas classes da Universidade


Carnegie-Mellon que ‘a melodia só existe em sua memória,
porque num dado momento você só está escutando uma
nota da melodia.’. A música é uma arte cumulativa. É
uma mudança de sons através do tempo, cada som
tomando seu sentido daqueles que o precederam. Não é a
arte para quem sofre de amnésia.” (William Mayer).
Sujeito: _____________________________________

Complemento: ___________________________ ____

Pergunta prática sendo considerada:________________

7. Passarei por esta vida apenas uma vez.


Qualquer bem, pois, que eu possa fazer,
Ou qualquer bondade que eu possa mostrar a qualquer
semelhante,
Que eu o faça agora.
Que eu não o adie nem negligencie,
Pois não passarei por aqui novamente.
Sujeito: _____________________________________
108

Complemento: ______________

Pergunta prática sendo considerada:

8. “O trabalho, hoje, perdeu muitas de suas características


tradicionais; e assim também a diversão. A diversão tem
sido transformada cada vez mais em esportes organizados,
e os esportes, por sua vez, se assemelham cada vez mais ao
trabalho na prática e preparação árdua, no envolvimento
intenso de técnicos e atletas (no espírito de trabalho), e
na própria produtividade econômica. Num paradoxo fi­
nal, somente aqueles esportes que começaram como sendo
trabalho, ou seja, a caça e a pesca, são agora dominados
pelo espírito da diversão.” (Sport and Society).
Sujeito:_____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________

9. A lei pode motivar-nos a pecar. Contam-me que, vários


anos atrás, um prédio alto para hotel foi construído em
Galveston, Texas, à beira do Golfo do México. O fato é
que baixaram palafitas no golfo e construíram o edifício
sobre a água. Quando o hotel estava para ter sua grande
inauguração, alguém pensou: “E se as pessoas decidirem
pescar pelas janelas do hotel?” Então colocaram avisos nos
quartos: “E proibido pescar pelas janelas do hotel”. Muitas
pessoas desconsideraram os avisos, no entanto, isso criou
um grande problema. As linhas se enroscavam. Os
hóspedes no restaurante viam peixes batendo contra as
grandes vidraças. O gerente do hotel resolveu a situação,
109

tirando aqueles pequenos avisos. Ninguém se registra num


hotel pensando em pescar pelas janelas. A lei, embora bem
intencionada, havia criado o problema.
Sujeito: _____________________________________

Complemento: _______________________________

Pergunta prática sendo considerada:________________


C a p ít u l o 5

A F le c h a e o A lv o

E ta p a s n o D esen v o lv im en to d e M e n sa g e n s E x p o sitiv a s
1. S e l e c io n a n d o a P assagem

2. E studando a P assagem

3. D e s c o b r in d o a I d é ia E x e g é t ic a

4. A n a l is a n d o a I d é ia E x e g é t ic a .

5. F orm ulando a I d é ia H o m il é t ic a

6. D e t e r m in a n d o o P r o p ó s it o d o S ermão

Tomemos um minuto para recordar. Nas duas primeiras


etapas de sua preparação, você estuda o texto para determinar
qual é a idéia exegética e seu desenvolvimento. Você quer declarar
qual o sujeito e o complemento daquilo que o escritor bíblico
escreveu para seus leitores. Você faz também um esboço geral da
passagem. Como o autor desenvolveu sua idéia?
Tendo feito isso, você ainda se depara com a pergunta: “Tenho
alguma coisa para pregar?” Embora todo bom sermão seja o
desenvolvimento de uma idéia central, nem toda idéia do texto
bíblico pode ser transformada em um sermão. Na etapa seguinte,
portanto, você submete sua idéia exegética e seu desenvolvimento
a três perguntas práticas:
* O que isto quer dizer?
* E verdade? Eu creio nisto?
* E daí? Que diferença faz?
112

Estas três perguntas cuidam do sentido, validade e implicações


de qualquer idéia. Não se deve dirigir as perguntas apenas à idéia
principal mas também às idéias de apoio e aos detalhes da
passagem. Isso o ajuda a decidir de que tipo de material de apoio
você precisa para comunicar a mensagem de seu texto.
Você também guarda em mente seu auditório, ao responder
a essas três perguntas.
“O que isto quer dizer?” O que tem que ser explicado para que
meus ouvintes entendam a passagem?
* O escritor bíblico explica suas declarações ou define seus
termos? Ele presume que os leitores originais o entenderam
e não precisavam de nenhuma explicação?
* Há conceitos, termos ou ligações que os ouvintes de hoje
poderiam não entender, que você lhes deve explicar?
“Isto é verdade? Eu creio nisto?” O que precisa ser provado?
* O autor está argumentando, provando ou defendendo
demoradamente algum conceito que é mais provável seus
ouvintes aceitarem, por exemplo, que Jesus era humano,
ou que os cristãos não precisam ser circuncidados?
* O autor está argumentando, provando ou defendendo um
conceito que seus ouvintes poderão não aceitar facilmente,
e de que vão precisar, então, para entender o argumento da
passagem, por exemplo, que escravos deviam ser obedientes
a seus mestres?
* O autor está presumindo a validade de uma idéia que seus
ouvintes poderão não aceitar de imediato? Precisam ser
convencidos de que aquilo que a passagem diz é realmente
certo, por exemplo, que Jesus é o único caminho para Deus,
ou que os demônios existem realmente?
“E daí? Que diferença faz?” Como esse conceito deve ser aplicado?
* O autor bíblico está aplicando sua idéia? Onde ele a
desenvolve? Nas Escrituras as exortações decorrem do
contexto. Alguns sermões se assemelham a flores apanhadas:
113

a admoestaçao do autor está desligada da verdade que a


produziu. Os imperativos estao sempre ligados ao
indicativo. O efeito deve ser rastreado até a causa.
* O autor está apresentando uma idéia que ele não aplica
diretamente, mas que vai aplicar mais adiante em sua carta?
Onde ele faz isso? Como você aplica essa verdade a seus
ouvintes agora?
* O escritor bíblico presume que o leitor verá a aplicação de
uma afirmativa? Os escritores dos evangelhos muitas vezes
presumem que os leitores verão o sentido implícito de uma
parábola ou de um milagre. Especialmente em literatura
narrativa, pergunte a si mesmo: “Por que o autor incluiu
este incidente?”
À medida que você trabalha essas questões, tome nota daquilo
que você precisa explicar, provar ou aplicar aos ouvintes. Logo
você saberá se tem algo que pregar e qual a pesquisa que deve
fazer. Você verá a direção geral que seu sermão deve seguir e de
que você precisa tratar em seu sermão.

Etapa 5
E tapa 5 : À luz d o c o n h e c im e n t o e e x p e r iê n c ia d o

AUDITÓRIO, ESTUDE BEM SUA IDÉIA EXEGÉTICA E


DECLARE-A NA SENTENÇA MAIS EXATA E MEMORÁVEL
POSSÍVEL.

Na quinta etapa, declare a essência de sua idéia exegética em


uma sentença que comunica a seus leitores. Esta sentença é sua
idéia homilética. Lembre-se de que você não está fazendo uma
preleção sobre a Bíblia. Você está falando com pessoas sobre elas
mesmas, pela Bíblia. Essa declaração, portanto, deve estar em
linguagem viva, nova, contemporânea.
Os propagandistas sabem que não nos lembramos de
abstrações, mas lembramo-nos de slogans. Embora os slogans da
propaganda sejam geralmente “muito barulho por nada”, não
devemos subestimar o impacto de uma idéia bem declarada. As
pessoas têm maior probabilidade de pensar os pensamentos de
Deus, adotando-os; de viver e amar e escolher com base nestes
pensamentos, quando estão expressas em sentenças memoráveis.
Algumas declarações da idéia homilética podem ser idênticas
à declaração da idéia exegética. Este é o caso, quando você trata
de princípios universais que se aplicam a qualquer pessoa, em
qualquer época: “Não adulterarás”, “Não furtarás”, ou “Ame a
seu próximo como a si mesmo” não precisam de tradução para o
século vinte-e-um. Já estão aqui. “A resposta calma desvia a fúria,
mas a palavra ríspida desperta a ira” não tem limite de duração.
Habacuque declarou: “O justo viverá pela sua fidelidade” (Hb
2.4). Essa idéia fundamental da Escritura não precisa ser tornada
contemporânea. Só precisa ser explicada e aplicada.
Outras idéias exegéticas, no entanto, são transformadas em
idéias homiléticas, quando você as faz mais atualizadas ou pessoais.
A idéia exegética de lTessalonicenses 1.2-10 poderia ser: “Paulo
agradeceu a Deus os tessalonicenses, porque, através do ministério
do apóstolo, Deus os tinha trazido para si e operado uma diferença
que podia ser notada em suas vidas”. A idéia a pregar deve ser
mais direta e pessoal: “Agradeça a Deus, todos os dias, os cristãos
que você conhece, por causa daquilo que Deus fez por eles e está
fazendo por intermédio deles”.
Uma declaração exegética de ITimóteo 4.12-16 poderia ser:
“Paulo exortou o jovem Timóteo a ganhar respeito, sendo um
exemplo para outros, tanto em sua vida pessoal como em seu
ministério público das Escrituras”. Fosse essa passagem a base de
um sermão para seminaristas, a idéia poderia ser declarada assim:
“Faça-se respeitar tanto pelo seu modo de viver como pelo seu
modo de ensinar”.
Sua declaração homilética pode ser mais contemporânea e
menos presa às palavras do texto. Don Sunukjian pregou um
sermão sobre Êxodo 13.17-18:
Quando o faraó deixou sair o povo, Deus não o guiou pela rota
da terra dos fllisteus, embora este fosse o caminho mais curto,
pois disse: “Se eles se defrontarem com a guerra, talvez se
arrependam e voltem para o Egito. Assim, Deus fez o povo dar
a volta pelo deserto, seguindo o caminho que leva ao mar
Vermelho. Os israelitas saíram do Egito preparados para lutar.
A idéia homilética da pregação de Sunukjian foi: “A menor
distância entre dois pontos pode ser um ziguezague”. Isso foi fiel
ao texto, e também é fiel à vida.
Quando James Rose expôs Romanos 12.1-17, sua idéia
homilética foi: Quando o efeito do evangelho é de suprema
importância na igreja, a força do evangelho não pode ser freada
no mundo”.
Na pregação de Romanos 2.1-19, você poderia ter como
conceito central: “Se você usar a lei como sua escada para o céu,
você será deixado em pé no inferno”.
A declaração exegética de Romanos 6.1-14 poderia ser:
“Através de sua união com Jesus Cristo na morte e ressurreição
dele, os cristãos morreram para o domínio do pecado e foram
vivificados para a santidade”. Aqui está uma afirmação mais
chocante desse conceito: “Você não é mais a pessoa que era;
portanto, não trate de sua vida conforme costumava tratar”.
Alição central da parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.25-
37) poderia ser: “Seu próximo é qualquer pessoa cuja necessidade
você perceber, cuja necessidade você está em condições de
satisfazer”.
Como você vê, a idéia homilética é simplesmente a verdade
bíblica aplicada à vida.
Aqui estão algumas sugestões gerais para a formulação de
uma idéia homilética:
* Declare a idéia da maneira mais simples e memorável
possível. Faça cada palavra valer. Afirme para o ouvido. Os
ouvintes não devem ter que trabalhar, para poder lembrá-
la.
* Declare a idéia em palavras concretas e conhecidas. Estude
as propagandas em revistas para achar slogans de que você
pode lembrar-se. Se lhe dessem o espaço de uma só sentença
na qual comunicar sua idéia a alguém que não conhecesse
o jargão religioso e que não pudesse escrevê-la, como você
a diria?
* Coloque a idéia de modo que esteja focalizada na resposta.
Como você quer que os ouvintes correspondam? Em vez
de “Você pode se regozijar em tribulações, porque elas levam
à maturidade”, tente “Fique alegre quando vêm tempos
difíceis”. Se você sabe o que os ouvintes devem fazer, diga-
lhes.
* Coloque a idéia de tal forma que seus ouvintes sintam que
você está falando com eles, a respeito deles mesmos.

O P o d e r d e um P ro p ó sito
O notável pregador A. W. Dale foi, evidentemente, um
homem que estava tão seguro como a Rocha de Gibraltar. Todo
sábado à noite ele pregava seu sermão a sua esposa. Um dia, depois
que havia feito este treino, sua esposa perguntou: “Diga-me, por
que você está pregando esse sermão?
Essa pergunta óbvia enfrenta a todos nós, enquanto nos
preparamos, e recebe muitas respostas inadequadas. Por exemplo:
“Quando chegar a hora certa no domingo, esperam que eu diga
algo religioso”. Ou então: “Na semana passada eu passei Gênesis
21, por isso esta semana vou pregar sobre Gênesis 22”. Por vezes
nossa resposta à pergunta, “Por que você está pregando esse
sermão?” é tão clara como uma neblina espessa: “Estou pregando
este sermão, porque quero dar ao povo um desafio”. Tais respostas,
em geral subentendidas em vez de declaradas, produzem sermões
que parecem uma torta de limão que se deixa cair, salpicam tudo
de creme e suspiro, mas não atingem nada com muita força. Falta-
lhes propósito!
Por mais brilhante ou bíblico que seja um sermão, se não
tem propósito definido, não vale a pena nós o pregarmos. Não
temos idéia adequada da razão de estar falando. Imagine perguntar
a um treinador de hóquei: “Qual o propósito de seu time de hóquei?
E melhor ele saber a resposta. Ali todo tipo de atividade acontece
sobre o gelo: a patinação, manobras de bastões, bloqueios, passes,
mas o propósito do time de hóquei tem que ser marcar mais pontos
do que o adversário. O time que não conserva isto firmemente
em mira, joga só para fazer exercício. Por que pregar este sermão?
Fazemos uma variedade de coisas, quando estamos diante da
congregação. Explicamos, ilustramos, exortamos, fazemos exegese,
gesticulamos, para enumerar algumas poucas. Mas somos dignos
de dó, se deixamos de entender que este sermão específico deve
mudar vidas, de alguma maneira específica. A. W. Tozer traz uma
palavra perceptiva a todos nós:
Não existe quase nada tão enfadonho e sem sentido quanto a
doutrina bíblica ensinada por amor a ela mesma. A verdade
divorciada da vida não é a verdade no sentido bíblico, mas sim,
é algo diferente e algo menor.... Nenhuma pessoa fica melhor
por saber que Deus, no princípio, criou o céu e a terra. O diabo
sabe disso, bem como Acabe e Judas Iscariotes. Nenhum homem
ficará melhor, por saber que Deus amou o mundo dos homens
de tal maneira que deu seu Filho unigênito para morrer, a fim
de redimi-los. No inferno há milhões que sabem disso. A verdade
teológica é inútil até que seja obedecida. O propósito por detrás
de toda a doutrina é garantir ação moral.1
O propósito por detrás de cada sermão individual é garantir
alguma ação moral. Precisamos saber qual é essa açao.
E t a p a 6 : D e t e r m in a n d o o p r o p ó sit o d o s e r m ã o .

O propósito declara aquilo que esperamos que aconteça com


o ouvinte, como resultado da pregação deste sermão. George
Sweazey sustentava que um propósito distingue um sermão de
um ensaio literário: “Um ensaio olha as idéias, mas um sermão
olha as pessoas”.2 Um propósito difere da idéia do sermão assim
como um alvo é diferente da flecha; assim como fazer uma viagem
é diferente de estudar o mapa; assim como assar uma torta é
diferente de ler a receita. Enquanto a idéia declara a verdade, o
propósito define o que aquela verdade deve levar a efeito. Henry
Ward Beecher dava valor à importância do propósito, quando
declarou: “O sermão não é como um rojão que se solta, por causa
do barulho que faz. É a espingarda do caçador, e a cada tiro, ele
deve olhar para ver sua caça cair.” Isso pressupõe, naturalmente,
que o caçador sabe o que está caçando.
Como, então, você determina o propósito do seu sermão?
Determina-o, ao descobrir o propósito por trás da passagem que
está pregando. Como parte de sua exegese, deve perguntar: “Por
que o autor escreveu isto? Que efeito esperava que teria sobre
seus leitores?” Nenhum escritor bíblico tomou a pena na mão,
para anotar “umas poucas observações apropriadas” sobre um
assunto religioso. Cada um deles escreveu para afetar vidas. Por
exemplo, quando Paulo escreveu a Timóteo, ele o fez para que
Timóteo ‘[soubesse] como as pessoas devem comportar-se na
casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento
da verdade” (lTm 3.15).
Judas mudou o propósito de sua carta, depois de sentar-se
para escrever: “Embora estivesse muito ansioso por lhes escrever
acerca da salvação que compartilhamos’, ele confessou, “senti que
era necessário escrever-lhes insistindo que batalhassem pela fé de
uma vez por todas confiada aos santos” (Jd 3). João propôs narrar
a vida de Jesus, para ganharem crença em Jesus como “o Cristo, o
Filho de Deus”, e garantir para aqueles que crêem, “vida em seu
nome” (Jo 20.31). Livros inteiros, bem como seções dentro de
livros, foram escritos para fazer alguma coisa acontecer no
pensamento e nas ações dos leitores. O sermão expositivo,
portanto, tem seu propósito em harmonia com os propósitos
bíblicos. Você deve cogitar, em primeiro lugar, sobre o motivo de
uma passagem específica ter sido incluída na Bíblia e, com este
fato em mente, decidir o que Deus deseja realizar através do
sermão em seus ouvintes, hoje.
As Escrituras inspiradas foram dadas de modo que fôssemos
“aptos e plenamente preparados para toda boa obra” (2Tm 3 .16­
17). Segue-se daí que você deve saber pôr em palavras quais as
crenças, atitudes, ou valores que devem mudar ou ser confirmados,
ou que qualidade de vida ou boas obras devem resultar da pregação
e do ouvir seu sermão. Você realiza esse propósito, Paulo disse a
Timóteo, ao (1) ensinar uma doutrina, (2) refutar algum erro na
crença ou ação, (3) corrigir aquilo que está errado, e (4) instruir
as pessoas a enfrentarem corretamente a vida.
Os educadores reconhecem, no entanto, que uma declaração
eficaz de propósito vai além do procedimento e descreve o
comportamento observável que deve advir como resultado do
ensinamento. Uma declaração de propósito não somente descreve
nosso destino e o itinerário que seguiremos para chegar ali, mas,
se possível, nos conta como saberemos se chegamos. Se não
tivermos clareza acerca do lugar para onde vamos, acabaremos
chegando, sem dúvida, nalgum outro lugar.3
Roy B. Zuck fez uma lista de verbos de grande valia para
declarar os objetivos do “itinerário”. Estes verbos são úteis para
lidar com o propósito de dar conhecimento e compreensão (o
âmbito cognitivo) e de mudar atitudes e ações (o âmbito afetivo).
Esta lista está reproduzida na Tabela 1.
Embora a pregação difira de modo significativo da preleção,
declarar o propósito de um sermão, como se fosse um objetivo
instrutivo, torna o sermão mais direto e eficaz. Aqui estão alguns
propósitos declarados em termos mensuráveis:
* O ouvinte deve entender a justificação pela fé e ser capaz de
escrever uma definição simples da doutrina. (Quer os ouvintes
realmente escrevam a definição ou não, você será muito mais
específico, se você pregar como se fosse escrevê-la).
* O ouvinte deve ser capaz de enumerar os dons espirituais e
determinar quais dons já recebeu.
* O ouvinte deve ser capaz de escrever o nome de, pelo menos,
um não-cristão e deve resolver que orará por aquele
indivíduo todos os dias, durante a quinzena seguinte. (Se
alguém faz alguma coisa durante uma quinzena, tem maior
possibilidade de fazê-lo durante vários meses).
* Meus ouvintes devem identificar alguma situação moral­
mente indiferente, acerca da qual os cristãos discordam
entre si, e ter a capacidade de pensar bem sobre como agir
naquela situação.
* Os membros da congregação devem entender como Deus
ama cada um deles, e explicar pelo menos uma maneira
como esse amor os faz sentir mais seguros.
* Os crentes devem saber explicar o que as pessoas devem
crer para tornar-se cristãs, e devem resolver falar com, pelo
menos, uma pessoa a respeito do Senhor, durante a semana
seguinte.
* Os ouvintes devem estar convictos da necessidade de estudar
a Bíblia e devem matricular-se em alguma classe de estudo
bíblico da igreja, em um estudo bíblico num lar, ou em
curso bíblico por correspondência.
Formular propósitos que descrevem resultados mensuráveis
o força a refletir sobre como as atitudes e o comportamento devem
ser alterados. Isso, por sua vez, o capacita a ser mais concreto na
sua aplicação da verdade à vida. Afinal de contas, se um sermão
realiza alguma coisa, deve ser algo específico.
David Smith, um pregador escocês, descreve o sermão como
sendo “um discurso concluído com uma proposta”. Um dos meios
eficazes de incorporar o propósito no sermão, portanto, acha-se
em escrever por extenso uma conclusão, com o propósito em
mente. Afirme, de modo geral, o que você está pedindo que a
congregação faça como resultado daquilo que você pregou. Seja
tão específico quanto possível. Se alguém viesse a você na semana
seguinte e dissesse: “Fiquei pensando sobre o que você pregou
domingo passado, mas não sei o que você disse que se aplica a
minha vida”, você teria uma resposta? Visualize a verdade que
você pregou, sendo posta em prática em alguma situação
específica. Em seguida ponha isso na sua conclusão. Aqui estão
alguns exemplos:
* “Há alguém com quem você tem um relacionamento
desfeito? Um cônjuge, um pai ou mãe, um amigo ou amiga?
Como seguidor de Jesus Cristo, você precisa tomar o
primeiro passo hoje para acertar isso. Há uma carta que
você deva escrever? Um telefonema que ajudaria alguém?
Há uma visita que deve fazer ou uma conversa que deve
121

ter? Então você vai pedir a Deus a coragem para fazer esse
contato e tomar esse passo para resolver este assunto?”
* “Seu trabalho é a vontade de Deus para você. Amanhã,
quando você chegar ao trabalho, pegue um papel de recados
(um ‘post-it’ adesivo, talvez) e escreva, “Deus me colocou
aqui para servi-lo hoje’, e coloque-o na sua mesa ou no seu
armário, num lugar onde você pode vê-lo com facilidade.
Toda vez que você olhar para esse recado, pense numa
oração. ‘Senhor, estou trabalhando neste serviço para o
Senhor. Ajude-me a fazê-lo de modo que lhe agrade’. Desta
maneira você pode guardar o dia de trabalho, para fazê-lo
santo”.
Você pode até mudar a conclusão, mais tarde, no seu preparo,
mas você já determinou aonde tem o propósito de ir. Você
concentra seu pensamento com maior eficiência, se, quando
começa, já sabe o que pretende realizar.
N o vo s C o n c e ito s
Resultados mensuráveis
Propósito
D efin içõ es
P ropósito - o que a pessoa espera que aconteça no ouvinte
como resultado de ouvir o sermão
R esultados m ensuráveis —o propósito do sermão declarado
em termos de comportamento observável.
LU x
0 <
< x cc
9 < CQ
CE
< o
x
O
GO zQ> O <
< O Q
1 CE o
CO
z>

LU
Q <
O
O
CC
l- LU
LU
CL
O
<
CD
LU UJ O
Q
3 2
UJ
CE
<
CC
LU <
<
h~
N cc o O
t— (/) o
LL UJ z o < o
> < CO CE
X _J LL > Z> < a:
UJ
>
o
>
z
o
z
O x< h-
z
cc
<
N
h- <
z o o o UJ ”3
UJ < CE
<
O UJ p
CO
Li]
tfi
UJ
cc Q cc
UJ
C/5
UJ
O
UJ z
CC Q H CO o 03 UJ
1

<
TABELA

<
o
o
Q. CC
< x
(/> < cn CC
cc O o UJ x CC CC CC
LU o X < cc <
x z m
O
CL cc o _i cc <
O
O < _! < s
o o
ÇO o o
cn
CL
LU
<
>
o
z
<
X o ço (/)
Q o UJ cn < LÜ LÜ o Q

o
o
I- LU 2
o
O o
< o
O UJ
z cn
O ‘
UJ x
LU
X CC o <
2 < cc IX CO N o
o
z X
O cc
CO
3
<
LU
<
z o < cc
O o O z o _l < o
CO _l < X o
o
o
UJ
CL

O
X
UJ
LU
[—
<
LL

o
m
o cr
> UJ
>
< cc
UJ
O O
*<
(/)
LU
LU I- o
(/) z O
LU CL
C a p ít u l o 6

A s F o rm a s q u e
o s S e rm õ e s A ssu m em

E ta p a s n o D ese n v o lv im e n to cie M e n sa g e n s E x p o sitiv a s


1. S e l e c io n a n d o a P assagem

2. E studando a P assagem

3. D e s c o b r in d o a I d é ia E x e g é t ic a

4. A n a l is a n d o a Id é ia E x e g é t ic a

5. Fo r m u lan d o a I d é ia H o m il é t ic a

6. D e t e r m in a n d o o P r o p ó s it o d o S ermão

7. D e c id in d o c o m o R e a l iz a r e s t e P r o p ó s it o

8. Fazendo o E sboço do S ermão

Samuel Johnson observou que as pessoas precisam ser


lembradas de alguma coisa, tanto quanto precisam ser informadas.
A luz deste seu conselho, vamos fazer uma pausa por uns
momentos, para um levantamento topográfico do território que
já percorremos. Através de um estudo da passagem, devemos ter
determinado a idéia exegética, ao declarar claramente sobre o que
o autor estava falando e o que dizia sobre aquilo de que falava.
No esforço para relacionar a exegese com o auditório contem­
porâneo, passamos então a sondar a idéia, com três perguntas de
desenvolvimento:
* “O que a idéia significa?” Explique-a.
* “E realmente verdade?” Prove-a.
* “Que diferença faz?” Aplique-a.
A partir daí, formulamos a idéia homilética que relaciona o
conceito bíblico com os homens e mulheres modernos. Além
disso, estabelecemos um propósito para o sermão.
A esta altura, portanto, devemos saber o que temos para
pregar, e por que o pregamos. Agora, a pergunta à nossa frente é
a seguinte: O que deve ser feito com esta idéia, para que ela atinja
o propósito? Que formato o sermão assumirá?
E t a p a 7 : P e n sa n d o a r e s p e it o d a id é ia h o m il é t ic a ,
PERGUNTE A SI MESMO COMO ESTA IDÉIA DEVE SER
TRATADA, PARA CUMPRIR O PROPÓSITO QUE VOCÊ TEM.

Os sermões se desenvolvem de três maneiras importantes:


dedutiva, semi-indutiva ou indutivamente. Na disposição
dedutiva, a idéia é declarada por completo como parte da
introdução ao sermão, e, então, o sermão se desenvolve desta
idéia. No desenvolvimento indutivo, a introdução leva só ao
primeiro ponto do sermão, depois, com transições fortes, cada
novo ponto se liga ao ponto anterior, até que a idéia do sermão
apareça na conclusão. A indução e a dedução podem ser
combinadas em um sermão. Sua introdução poderá dar só o
assunto de seu sermão (aquilo sobre o qual você fala), e então
cada ponto do sermão apresenta um complemento ao sujeito.
Outra variação do desenvolvimento indutivo/dedutivo é aquela
em cuja introdução você conduz ao primeiro ponto, e o
desenvolve indutivamente. Você poderá fazer isso para o segundo
ponto do sermão, e ali, pela primeira vez, você dará a declaração
completa de sua idéia. Uma vez declarada sua idéia, o sermão
deve proceder dedutivamente para explicar, ou comprovar, ou
aplicar a idéia. Em Figura 1 vê-se uma comparação dos formatos
diferentes que os sermões podem assumir.
Tudo isso pode parecer tão claro quanto as instruções nos
formulários de imposto de renda! Com essa visão geral em mente,
vamos olhar mais de perto as disposições dedutivas. Basicamente
nossas idéias homiléticas se expandem conforme os propósitos
Desenvolvimento Desenvolvimento Desenvolvimento Desenvolvimento
Dedutivo Indutivo Indutivo-Dedutivo Sujeito-Completado

'l i i
D
<
<
mais amplos do sermão. Assim como qualquer declaração que
fazemos, se desenvolve, ao ser explicada, comprovada ou aplicada,
as idéias do sermão, também, exigem explicação, validação ou
aplicação.
Os sermões dedutivos, portanto, assumem três formatos
diferentes.
D isp o siç õ e s D e d u tiv a s

U m a I d é ia para S e r E x p l ic a d a

Algumas vezes uma idéia deve ser explicada. Acontece assim,


quando você quer que sua congregação entenda uma doutrina
da Bíblia. Uma verdade corretamente compreendida leva consigo
sua própria aplicação. Por exemplo, se seu carro vem parando
aos trancos, porque estourou um pneu, você tem que trocar o
pneu. Se não souber como trocá-lo, sua maior necessidade é uma
explicação clara. Em pé, à beira da estrada, tendo consciência do
pneu murcho, você prestará atenção ativamente às instruções de
como consertá-lo. Tendo entendido a explicação, imagina-se que
você ficará motivado para tirar as ferramentas do porta-mala,
levantar o carro com o macaco, e dar-se ao trabalho de colocar o
estepe no lugar da roda que tem o pneu murcho. Tudo isto visa a
dizer que oferecer a um auditório uma explicação de uma
passagem bíblica talvez seja a contribuição mais importante que
você possa fazer no seu sermão.
Certa fórmula para o desenvolvimento do sermão diz assim:
“Diga-lhes aquilo que você vai dizer-lhes; diga-lhes o que está
dizendo-lhes; depois, diga aquilo que você já disse”. Esse conselho
é formidável, quando nosso propósito requer que expliquemos
um conceito. Na introdução a esse tipo de sermão, declaramos
completamente a idéia, no corpo do sermão, desmontamos a idéia
para analisá-la; na conclusão, repetimos a idéia outra vez.
Certamente, semelhante desenvolvimento ganha em clareza
qualquer coisa que perde em suspense.
Como exemplo, Alexandre Maclaren pregou um sermão para
explicar Colossenses 1.15-18: “Ele é a imagem do Deus invisível,
o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as
coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos
ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram
criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele
tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio
e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
supremacia”.
Dentro do sermão, Maclaren declara seu propósito: “Meu
trabalho não é tanto procurar comprovar as palavras de Paulo
como explicá-las, e depois inculcá-las”. Seu sujeito é: “Por que
Jesus Cristo é supremo em tudo, sobre todas as criaturas?” e seu
complemento é: “Por causa de sua relação com Deus, com a
criação e com a igreja”. Juntando seu sujeito e complemento, a
declaração de sua idéia para o sermão seria: “Jesus Cristo é supremo
sobre todas as criaturas, em tudo, por causa de seu relacionamento
com Deus, com a criação e com a igreja”. Ao desenvolver esta
idéia através da explicação, o propósito de Maclaren é motivar os
cristãos a tornarem Cristo preeminente em suas vidas.
Então, como Maclaren procede com o sermão? Oferece sua
idéia duas vezes na introdução. “Cristo”, declara ele, “enche o
espaço entre Deus e os homens. Não há necessidade de uma
multidão de seres ilusórios para vincular o céu à terra. Jesus Cristo
coloca sua mão sobre os dois. Ele é o cabeça e o manancial de
vida para sua igreja. Logo, ele tem a primazia em tudo para ser
escutado, amado e adorado pelos homens”. O sermão todo não
dirá mais do que isso. No parágrafo seguinte, Maclaren apresenta
a idéia pela segunda vez, numa forma abreviada: “Aqui temos
três grandes conceitos dos relacionamentos de Cristo. Temos
Cristo e Deus, Cristo e a criação, Cristo e a igreja, e, edificada
sobre todos estes, a proclamação triunfante da sua supremacia
sobre todas as criaturas, em todos os aspectos”.
No corpo do seu sermão, Maclaren explica o que está
envolvido nesses relacionamentos. O sermão, reduzido ao seu
esboço, procede da seguinte maneira:
I. O relacionamento entre Cristo e Deus é que ele é “a imagem do
Deus invisível” (Cl 1.15)
A. Deus em si mesmo é inconcebível e inabordável.
B. Cristo é a perfeita manifestação e imagem de Deus.
1. Nele, o invisível se torna visível.
2. Somente ele dá certeza suficientemente firme, para acharmos
poder de sustentação, em face às provações da vida.
II. O relacionamento entre Cristo e a criação é que ele é “o
primogênito de toda a criação” (Cl 1.15-17).
A. Cristo é o agente de toda a criação, e as frases que Paulo
emprega, dão a entender a prioridade de existência e supremacia
sobre todas as coisas.
B. Cristo sustenta uma variedade de relacionamentos com o
universo, fato este que é desenvolvido através das várias
preposições que Paulo usou.
III. O relacionamento entre Cristo e sua igreja é que ele é “a cabeça
do corpo”. Ele é “o princípio, o primogênito de entre os mortos”
(Cl 1.18).
A. Aquilo que o Verbo de Deus, antes da encarnação, era para o
universo, assim também é o Cristo encarnado para sua igreja.
Ele é o “primogênito” para os dois.
B. Como “a cabeça do corpo”, ele é a fonte e o centro da vida da
igreja.
C. Como “princípio” da igreja mediante sua ressurreição, ele é o
poder que deu origem à igreja, e mediante o qual seremos
ressuscitados.
Conclusão: “O apóstolo tira a conclusão de que Cristo, em
todas as coisas, tem a primazia e que todas as coisas existem para
que ele tenha a primazia. Seja na natureza, seja na graça, a
preeminência é total e suprema... De modo que a pergunta
suprema para todos nós é: “Que pensais de Cristo?”... Ele é alguma
coisa para nós além de um nome?... Felizes somos, se dermos a
Jesus a preeminência e se nosso coração estabelecer a noção: “Ele,
em primeiro lugar. Ele, em último lugar. Ele, no meio e sem fim”.1
Neste sermão inteiro Maclaren pouco mais faz do que responder
à pergunta: “O que significa esta passagem?” Ao explicá-la, ele a
aplica. Com todo o respeito, o sermão de Maclaren poderia ter
sido mais forte. Em sua introdução, ele poderia ter feito mais
para mostrar aos ouvintes por que eles precisavam entender esta
passagem. À parte de não entendê-la (o que constitui uma
necessidade, mas não uma que seja muito forte), um auditório
de hoje pensaria: “Mas por que abordar esse assunto?”
Uma outra coisa é essencial em um sermão sobre uma idéia
explicada: sua introdução é crucial a seu sucesso. Você precisa
encontrar uma necessidade para a explicação. Este formato de
sermão só funciona, se você vai coçá-los onde está coçando.
Ninguém escuta instruções sobre como fazer um suflê, se ele ou
ela nunca ao menos preparou um ovo cozido.
U m a P r o p o s iç ã o a S er C om provad a

Os sermões dedutivos assumem outras formas; no entanto,


às vezes, uma idéia requer não uma explicação, e sim provas.
Quando o caso for este, a idéia aparecerá na introdução como
uma proposição que você defenderá. Como sua posição de
pregador se assemelha àquela assumida em um debate, seus pontos
se tornam razões ou provas de sua idéia. Você responde às
perguntas de desenvolvimento: “Isto é verdade?” e “Por que devo
acreditar isto?
Um exemplo de um sermão no qual uma proposição é
comprovada, pode ser tirado de 1Coríntios 15.12-19, onde Paulo
argumenta a favor da ressurreição do corpo. No contexto, Paulo
contendeu com os coríntios, pois eles não podem acreditar que
Jesus ressuscitou dentre os mortos e continuar a sustentar que
não existe ressurreição. Um sermão tirado de w. 12-19 defenderá
a proposição “A fé cristã não tem valor, se os cristãos não
ressuscitam dentre os mortos”. O pregador visa a convencer os
ouvintes de que a doutrina da ressurreição está no centro do
cristianismo. A idéia é declarada na introdução, e os pontos
principais defendem-na com uma série de argumentos. Na forma
de um esboço, o sermão tem a seguinte aparência:
I. Se os cristãos não ressuscitam, falta à fé crista conteúdo válido (w.
12-14).
A. Se os mortos não ressuscitam, segue-se que Cristo não
ressuscitou.
B. Se Cristo não ressuscitou, então o evangelho é uma ilusão.
C. Se o evangelho é uma ilusão, então nossa fé nesse evangelho
não tem substância
(Uma segunda razão pela qual a fé cristã não tem valor, a não ser
que os cristãos ressuscitem...)
II. Se os cristãos não ressuscitam, os apóstolos são mentirosos
desprezíveis (v. 15).
A. Visto que todos os apóstolos pregavam a ressurreição de Jesus,
que não poderia ter acontecido, se não existisse a ressurreição,
então são “falsas testemunhas”.
B. São culpados do pior tipo de falsidade, visto que deram
testemunho falso acerca de Deus que, segundo eles alegavam,
ressuscitou Jesus dentre os mortos.
(Uma terceira razão pela qual a fé crista não tem valor, sem a
ressurreição...)
III. Se os cristãos não ressuscitam, então é fútil a fé cristã (w. 16-17).
A. Se a ressurreição de Cristo não ocorreu, que seria o caso, se
não existisse ressurreição dentre os mortos, então não são
válidos os efeitos a ela atribuídos.
B. Os cristãos, portanto, ainda estão mortos em seus pecados.
Um Salvador morto não é Salvador, de modo algum.
(Um quarto argumento a ser considerado...)
IV. Se os cristãos não ressuscitam, então os cristãos não têm esperança
(w. 18-19).
A. Se não existe ressurreição, então Jesus não ressuscitou, e sua
morte não levou a efeito coisa alguma.
B. Seguir-se-ia, portanto, que os santos que morreram,
“pereceram”.
C. Os cristãos que sofrem por Cristo, na expectativa da vida do
porvir, são dignos de dó. Sem a ressurreição, a esperança que
os sustenta é apenas fé naquilo que desejam que seja verdade.
Conclusão: A ressurreição dentre os mortos consta como uma
doutrina crucial do cristianismo. Se cair por terra, a totalidade do
sistema da fé cristã desmorona com ela, e o evangelho cristão e
seus pregadores nada oferecem ao mundo. Visto que Cristo foi
ressuscitado, a crença na ressurreição e na fé cristã baseia-se em
alicerces fortes. Vivemos em esperança.
A primeira vista, a idéia explicada e a idéia comprovada
parecem ser idênticas, porque os dois sermões expõem a idéia do
sermão na introdução e depois a desenvolvem. O que deve ser
reconhecido, porém, é que os sermões são expandidos em direções
diferentes, para atingir propósitos diferentes.
U m P r in c íp io a S er A p l ic a d o

Um terceiro formato que os sermões dedutivos assumem,


evolve da pergunta da aplicação: E daí? Que diferença faz? Neste
tipo de sermão, você delineia um princípio bíblico ou na sua
introdução ou, então, no seu primeiro ponto principal, e no
restante da sua mensagem explora as implicações do princípio.
Um esboço de um sermão que visa a aplicar um princípio,
pode ser tirado de 1Pedro 2.11-3.9. A introdução ao sermão
discute como nossas atitudes podem determinar ação, e depois
faz a pergunta: “Qual deve ser nossa atitude como homens e
mulheres de Cristo em um mundo que não é amigo de Deus
nem da graça?” O propósito por detrás do sermão é levar os
cristãos a desenvolver um espírito submisso nos seus
relacionamentos sociais. O princípio a ser aplicado aparece no
primeiro ponto principal.
I. Devemos ser sujeitos, por amor a Deus, a toda instituição humana
(2 . 11 - 12 , 2 1 - 2 5 ).
A. A sujeição traz glória para Deus (2.11-12).
B. Cristo ilustra a submissão até mesmo a instituições que operam
o mal contra ele (2.21-25).
1. Era completamente inocente (v. 22).
2. Guardou silêncio e confiou-se a Deus (v. 23).
3. Seus sofrimentos eram redentores (w. 24-25).
(Que diferença este princípio de submissão às instituições humanas
deve fazer em nossa vida diária?)
II. Este princípio de adotar um espírito submisso, por amor a Deus,
deve governar-nos em nossos relacionamentos sociais (2.13-20;
3.1-7).
A. Devemos submeter-nos, por amor a Deus, aos líderes cívicos
(2.13-17).
B. Devemos submeter-nos, por amor a Deus, aos nossos
empregadores (2.18-20).
C. Devemos submeter-nos, por amor a Deus, ao nosso cônjuge
(3.1-7)
1. As esposas devem ter um espírito submisso para com seus
maridos (w. 1 -6)
2. Os maridos devem ter um espírito submisso para com suas
esposas (v. 7)
Conclusão: “Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo
de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam
misericordiosos e humildes. Não retribuam mal com mal, nem
insulto com insulto; ao contrário, bendigam; pois para isso
vocês foram chamados, para receberem bênção por herança”
(3.8-9).
Os três padrões de sermão que discutimos - uma idéia
explicada, uma proposição comprovada e um princípio aplicado
- são disposições dedutivas do sermão. Em todos os três, sua
idéia é declarada na introdução ou no primeiro ponto do sermão.
Tudo dentro do sermão, depois, relaciona-se de volta à idéia.
Existem também sermões semi-indutivos. Estes sermões caem
numa posição entre a dedução e a indução.
D isp o siçõ es S e m i-In d u tiv a s

U m A ssu n t o a Ser C om pletado

O primeiro padrão semi-indutivo apresenta apenas o sujeito


na introdução, não a idéia inteira, e os pontos principais
completam o sujeito. Este formato de desenvolvimento é o mais
comum, usado em nossos púlpitos, e muitos pregadores nunca
saem dele.
Nas mãos de um pregador perito, um sermão que segue este
padrão, pode ter um senso de tensão e de forte clímax. James S.
Stewart, numa exposição de Hebreus 12.22-25, oferece um
exemplo para nosso estudo. Em sua introdução, Stewart estabelece
seu sujeito. O escritor de Hebreus, ele nos diz: “está dizendo cinco
coisas acerca da nossa comunhão de culto cristão na igreja”. O
propósito do sermão é “levar-nos a reconhecer as riquezas da nossa
herança, quando nos reunimos em nossos lugares de culto”. Com
o assunto “O que torna rico o nosso culto?” declarado na
introdução, cada ponto no corpo nos ajuda a completá-lo.
I. É uma comunhão espiritual: “mas vocês chegaram ao monte Sião,
à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo” (v. 22). Os cristãos
têm contato direto com aquele mundo espiritual visível o qual,
em última análise, é a única realidade.
(Passo para o segundo fato que nosso texto sublinha, acerca da
comunhão na adoração cristã”).
II. E uma comunhão universal: “Vocês chegaram à igreja dos
primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus” (v. 23). Os
cristãos são membros da maior comunhão na terra: a igreja
universal.
(Passo para a terceira descrição que ele nos dá, da nossa comunhão
na adoração cristã”).
III. E uma comunhão imortal: “Vocês chegaram aos milhares de
milhares de anjos, em alegre reunião... e aos espíritos dos justos
aperfeiçoados” (v. 22, 23). Quando os cristãos estão em adoração,
seus entes queridos no além estão perto deles e uma nuvem de
testemunhas os cerca.
IV. E uma comunhão divina: “Vocês chegaram a Deus, juiz de todos
os homens... e a Jesus, mediador de uma nova aliança” (v. 23, 24).
Em seu culto, ele lhes diz —chegando agora até o próprio âmago
do assunto —vocês chegaram a Deus segundo é revelado em Jesus.
(“Mais um fato sobre nossa comunhão na adoração ele acrescenta,
e assim conclui”).
V. É uma comunhão que redime: “Vocês chegaram ao sangue
aspergido, que fala melhor do que o sangue de Abel” (v. 24).
“Quando nossos pecados clamam a Deus, exigindo castigo e
vingança, outra coisa também acontece: o sangue de Cristo clama
mais alto, sobrepuja e silencia o próprio clamor dos nossos pecados,
e Deus, por amor a Cristo, perdoa”.2
Stewart não chega a nenhuma conclusão formal, mas ao invés
disto, seu ponto principal serve para concluir o sermão de modo
eficaz. Note que em suas transições, ele relaciona cada ponto
distinto não ao ponto anterior, mas sim, somente com o assunto
que ele completa.
Este formato de sermão depende de uma palavra chave que
mantém juntos os pontos. No sermão de Stewart, é a palavra
genérica coisas. Cada um de seus cinco pontos é uma “coisa” sobre
nossa comunhão, quando nos reunimos para prestar culto. Uma
queixa com respeito à forma de assunto-a-ser-completado é que
pode ser enfadonho. Cansa o pregador e, quando usado
constantemente, pode cansar o auditório. Mais importante ainda,
há o perigo de impor sobre o pensamento do escritor bíblico
aquilo que o próprio escritor não está dizendo. Forçamos o
pensamento da passagem a um molde predeterminado. A
vantagem do formato, contudo, é que é simples e fácil de usar.3
In d u ção -D ed u ção

A indução e a dedução podem ser combinadas em seu sermão.


A idéia é declarada em algum lugar, no meio do sermão. A
introdução e o primeiro ou o segundo ponto levarão até a idéia.
Depois, o restante do sermão procede de modo dedutivo para
explicar, comprovar ou aplicar a idéia.
Uma das variações da disposição indutiva-dedutiva é a
exploração de um problema. Dentro da introdução e do primeiro
ponto principal, o pregador identifica um problema pessoal ou
ético, explora suas raízes e talvez discuta soluções inadequadas.
No segundo ponto principal, propõe um princípio bíblico ou
abordagem bíblica ao problema e, no decurso do restante do
sermão, explica, defende ou aplica o mesmo.
Este arranjo também é aplicável à pregação sobre “situações
vivenciais”. Na introdução você discorre em termos pessoais sobre
uma pergunta, um problema ou uma experiência desconcertante,
tal como a depressão ou a aflição. Você poderá, então, demonstrar
que o caso específico que você apresenta, reflete, na verdade, um
problema teológico ou filosófico mais geral. Finalmente, você
oferece uma solução bíblica positiva de uma forma útil e prática.
Seu sermão, então, torna-se um projeto que constrói uma ponte
que transpõe o golfo entre as necessidades pessoais, de um lado,
e a verdade bíblica do outro.
F o rm as In d u tiv a s
Os sermões também podem ser desenvolvidos de modo
indutivo. Os sermões indutivos caminham em direção a uma
declaração completa de sua idéia, no final do sermão. Em sua
introdução, portanto, você não dá a idéia completa de seu sermão.
Você faz a relação de sua introdução apenas com o primeiro ponto
do sermão. Em seguimento a esse ponto, você levanta outra
pergunta, ou direta ou indiretamente, para o auditório considerar.
Seu segundo ponto, então, sai do seu primeiro ponto. Quando
seu segundo ponto já estiver desenvolvido, você deve fazer surgir
ainda outra pergunta que saia desse ponto, a qual é respondida,
no ponto seguinte. Só quando todos seus pontos já foram
desenvolvidos é que você declara a idéia de seu sermão.
E óbvio que as transições são cruciais em um sermão indutivo.
Seus ouvintes não podem se referir de volta à idéia central, porque
você ainda não a verbalizou. Estao completamente à sua mercê.
Se suas transições não os remetem para onde estiveram, e para a
pergunta emergente que ainda está por ser respondida, o auditório
estará voando, perdida. Se você é um pregador inexperiente,
avance com cautela. As congregações que já foram expostas a um
sermão indutivo, nas mãos de um pregador inexperiente, podem
estar ainda perdidos por aí, tentando achar o caminho para casa.
Ao mesmo tempo, os sermões indutivos têm vantagens.
Produzem nos ouvintes um senso de descoberta. Nós, como
pregadores, muitas vezes percebemo-nos voltando às Escrituras e
encontrando a verdade e entregando-a aos nossos ouvintes. O
sermão se torna uma questão de mostrar e contar. No sermão
indutivo, os ouvintes podem ter a experiência de aprender a
verdade por si. Pode produzir uma sensação forte de estar
descobrindo.
Os sermões indutivos são especialmente eficientes com
auditórios indiferentes ou mesmo hostis. Funcionam bem com
ouvintes que poderiam rejeitar sua idéia de sermão de saída. Pela
indução, você consegue apresentar uma série de idéias com as
quais o auditório concorda, antes de você apresentar sua idéia
principal, e eles são forçados a aceitá-la. Esta tem sido chamada
de abordagem “sim-sim”. Você faz com que o auditório diga sim
a certo número de coisas com as quais concordam, antes de
apresentar um conceito do qual eles vão discordar. Quando Pedro
se dirigiu à turba do Pentecoste —a multidão que recentemente
crucificara a Jesus —ele empregou uma abordagem indutiva. Em
sua introdução, ele respondia à pergunta que pairava nas mentes
de seus ouvintes sobre os fenômenos do Pentecoste. Citando o
profeta Joel, ele prosseguiu para provar, pela Escritura deles e
pela experiência, que Jesus é o Cristo e Senhor que eles haviam
matado, o único que os poderia salvar do juízo. Ele declarou sua
idéia na conclusão de sua mensagem: “Portanto, que todo o Is­
rael fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus
o fez Senhor e Cristo” (At 2.36). Se tivesse apresentado essa idéia
no começo de seu sermão, os ouvintes o poderiam ter matado.
Através de sua abordagem indutiva, ele transformou um auditório
desconfiado e antagônico em pessoas que perguntaram: “Que
faremos?”
E difícil esboçar a estrutura de um sermão indutivo, usando
um esquema tradicional. Como todos os esboços têm que ser
dedutivos (um ponto principal declarado e então sustentado) é
mais fácil mapear um sermão indutivo em uma série de
movimentos que marcam a ascensão, até chegar à idéia principal
única do sermão. Comece com um problema humano genuíno e
prossiga em direção a uma solução bíblica. Seu sermão poderá se
assemelhar a algo parecido com o seguinte:
A con fu são q ue alguém enfrenta. Desenvolva um problema
em termos pessoais. Como aquela pessoa em particular o
experiencia? Como as pessoas realmente falam sobre aquilo que
enfrentam? Todas as questões teológicas aparecem na vida de
alguma forma, em algum lugar, ou então não valem a pena.
Comece seu sermão com a vida de alguém.
Mas veja! Essa confusão pessoal é realm ente parte d e algo maior.
A situação do indivíduo é, realmente, um caso particular de algo
muito mais amplo. Dê exemplos de onde o problema aparece, de
várias maneiras, na experiência das pessoas. Quais são as
conseqüências que este problema maior cria em nós ou em pessoas
que conhecemos? Que perguntas isso faz surgir?
Não só isso, m as a con fu são não co m eço u co n o sco. Estamos
falando sobre algo fundamental na experiência humana. Fale sobre
o problema, conforme ocorreu com pessoas, através da história
e, particularmente, com alguém na Bíblia.
Isso levanta a questão mais profunda: co m o alguém entrou nessa
con fu são?Foi por querer? As pessoas caem nisso com um tropeção?
Aspessoas não caem sem uma luta. Que soluções elas têm tentado,
para sair da con fu são em q ue estavam ? Como as pessoas da Bíblia
responderam? As soluções funcionaram ou só pioraram a situação?
Finalm ente, precisa h aver boas novas. Existe uma saída da
con fu sã o! Exponha o princípio bíblico operante na passagem
bíblica que você escolheu. Como funcionou nos homens e
mulheres da Bíblia? Então relacione o princípio ao indivíduo
que você apresentou em sua introdução. Aplique essa solução a
outros que lutam com o mesmo tipo de problema.
Nem todos esses passos em seu sermão recebem espaço
equivalente. Embora seja uma tentação falar sobre o problema,
você precisa gastar tempo suficiente, mostrando a solução do relato
bíblico e a solução que opera na vida.
O sermão indutivo é mais uma conversa do que uma preleção.
Para fazer com que funcione, temos de saber como as pessoas
realmente pensam e agem. Os ouvintes têm que sentir que “aquele
poderia ser eu”. Também temos que ir entrando, identificando-
nos com a experiência da Bíblia. A diferença entre um discurso
religioso e um sermão pulsando de vida é a diferença entre ler
um livro sobre a pobreza e ficar na fila com uma mãe e seus três
filhos famintos, à espera de uns vales de comida. Participe da
fúria de Paulo, ao estar escrevendo aos gálatas. Sinta um nó no
estômago com as dúvidas do abalo da fé de Asafe, no Salmo 73.
Sinta o mau cheiro das feridas de Jó. Sinta a ansiedade de Timóteo,
ao sentir a força dos adversários e a fraqueza das pessoas com que
podia contar, quando recebeu o cargo para atuar em Efeso. A
Bíblia é grande literatura, mas literatura não é vida. “A palavra
impressa é isenta demais de sangue e lágrimas”, Ernest Campbell
observou, “para ser pelo menos uma cópia xérox razoável da
realidade”. Os sermões indutivos funcionam melhor, quando,
do começo ao fim, de problemas atuais à solução bíblica, nós
estamos falando sobre pessoas reais, e não sobre personagens de
papelão em tramas de papel de seda.
U ma H is t ó r i a a S er C on tada

Os sermões indutivos têm apelo especial para habitantes de


uma cultura dominada pela televisão e cinema. Tornamo-nos uma
cultura de contos. Quer seja um conto policial dramático, uma
comédia ou mesmo uma competição esportiva, há um grande
elemento de indução. O drama não está resolvido, enquanto não
chega o fim do último ato, e a piada leva à frase-clímax, e o evento
desportivo vai até a pontuação final. Os sermões indutivos se
encaixam nessa linha de raciocínio. Isso é especialmente verdade,
quando se fala de um tipo específico de sermão indutivo - a
história a ser contada. Você se liga ao auditório de hoje, quando
conta uma história bíblica com entendimento e imaginação.
Infelizmente, através de alguma forma tortuosa de raciocínio,
persuadimos a nós mesmos que as histórias pertencem às crianças,
e que os adultos maduros aceitam seus princípios de modo direto,
sem uma camada de açúcar. Logo, relegamos as histórias para o
berçário ou levamos uma novela conosco, nas férias, somente
como meio de passar o tempo.
As notas baixas que temos dado às histórias devem ser revistas
e aumentadas, se observarmos o impacto que as histórias fazem
em todos nós. A televisão está cheia delas: algumas de segunda,
algumas suspeitas, algumas fraquinhas, algumas que valem a pena,
mas as novelas da TV atraem o auditório e formulam os valores
dele. O futuro da nossa cultura talvez dependa das histórias que
captam a imaginação e a mente desta geração e dos seus filhos.
Qualquer pessoa que ama a Bíblia deve dar valor à história,
pois, por mais que ela seja outra coisa, ela é um livro de histórias.
A teologia do Antigo Testamento vem envolvida em narrativas
de homens e mulheres que saem correndo, para erigir seus deuses
feitos manualmente, e de outros que levam Deus suficientemente
a sério, para apostar nele a sua vida. Quando Jesus apareceu, veio
contando histórias, e a maioria delas já entrou no folclore do
mundo. Na realidade, ele era tão brilhante contador de histórias
que, às vezes, deixamos de perceber a teologia profunda que está
escondida nas suas histórias de um delinqüente rebelde e seu irmão
intolerável, de um fariseu piedoso, de tesouros enterrados, e de
um negociante que teve um inesperado encontro com a morte.
A pregação com narrativas, porém, não apenas repete os
detalhes de uma história, como a pessoa repetiria uma piada já
gasta e sem graça. Através da história, o pregador comunica idéias.
Num sermão de narrativa, assim como em outro sermão qualquer,
uma idéia principal continua a ser apoiada por outras idéias, mas
o conteúdo que apóia as lições, é tirado diretamente dos incidentes
da história. Em outras palavras, os detalhes da história são
entretecidos para se tirar uma lição, e todas as lições desenvolvem
a idéia central do sermão.
As narrativas parecem mais eficazes, quando o auditório ouve
a história e chega às idéias do preletor, sem ele as declarar
diretamente.
140

O diretor de filmes cinematográficos Stanley Kubrick


discutiu o poder da idéia indireta, numa entrevista relatada na
revista Time: “A essência da forma dramática é deixar uma idéia
chegar às pessoas sem ser declarada de modo claro. Quando
você diz alguma coisa de modo direto, realmente não tem a
potência que tem, quando você permite que as pessoas, a descubram
por si”.4 Se as lições são declaradas ou apenas subentendidas,
depende da perícia do pregador, do propósito do sermão e da
percepção do auditório. De qualquer maneira, a história deve
desdobrar-se de tal maneira que os ouvintes se identifiquem com
os pensamentos, motivos, reações e racionalizações das personagens
Etapa 7

bíblicas e, enquanto isso, obtenham maior conhecimento sobre si


mesmos também.
Vimos diversas formas que os sermões podem assumir. Alguns
são dedutivos, outros indutivos, e ainda outros recaem em algum
ponto intermediário. O que vimos não deve ser considerado
exaustivo, e sim sugestivo. Em última análise, não existe “um
formato de sermão”. A verdade de Deus seria melhor servida, se
nem pensássemos em pregar qualquer sermão. Quando chegamos
àquilo que cremos ser o sentido de uma passagem e já meditamos
sobre as necessidades e questionamentos de nosso auditório, então
a pergunta é: Qual a melhor maneira desta idéia ser desenvolvida?
O sapato não deve ensinar ao pé como crescer; portanto, deve-se
permitir às idéias e propósitos que tomem seu próprio formato
em sua mente. Para testar um formato, você deverá fazer pelo
menos duas perguntas: (1) Este desenvolvimento comunica o
que a passagem ensina? (2) Ele vai realizar meu propósito com
este auditório? Se seu desenvolvimento comunica sua mensagem,
sem dúvida, você deve usá-lo; se é um empecilho à sua mensagem,
então crie uma forma que se adapte mais à idéia e propósito da
Escritura e das necessidades de seus ouvintes.
Quando um arquiteto projeta um prédio, ele ou ela começa
com um conceito derivado da função que o edifício terá (o que o
prédio deve fazer) e da forma (qual será a aparência do prédio).
Para construir o prédio, o arquiteto transforma sua idéia em
desenho técnico que mostra em detalhe como o conceito se
traduzirá em aço, pedra e vidro.
E tapa 8 : T en do r e s o l v i d o c o m o a i d é ia d e v e s e r

d e s e n v o l v id a p a r a r e a l iz a r s e u p r o p ó s i t o , f a ç a o

ESBOÇO DO SERMÃO

Quando você já derivou um conceito a partir dos dados


bíblicos e o moldou à necessidade de seu auditório, agora deve
fazer um desenho técnico, que é o esboço de seu sermão. Embora
o esboço possa existir sem a forma, a estrutura fornece ao sermão
um senso de ordem, unidade e progresso. Certamente nenhum
sermão veio a fracassar, por causa de possuir um esboço sólido.
O esboço é para proveito seu. As congregações não ouvem
esboços. Eles ouvem um pregador falar. Seu esboço, portanto,
ajuda-o, pelo menos, de quatro maneiras. Primeiro, você vê seu
sermão como um todo, pois, assim, ressalta seu senso de unidade.
Em segundo lugar, o esboço realça na visão e na mente os
relacionamentos entre as partes de seu sermão. Terceiro, seu esboço
também cristaliza a ordem das idéias, de forma que você as
apresenta a seus ouvintes na seqüência apropriada. Finalmente,
você reconhecerá os lugares no sermão que requerem matéria
adicional de apoio, para desenvolver os pontos a apresentar.
As vezes a disposição de idéias na passagem terá de ser alterada
no esboço. O escritor bíblico não teve em mente o seu auditório.
Ele pode ter seguido uma ordem indutiva, mas, por causa de seus
ouvintes, talvez você selecione um plano dedutivo. Os sermões
baseados nas epístolas se adaptam mais facilmente a esboços do
que os poemas, parábolas ou narrativas. A não ser que você
permaneça flexível quanto às maneiras de comunicar passagens,
achará impossível cumprir o propósito de algumas passagens
diante de seu auditório. Se você for tratar do epílogo de Provérbios,
por exemplo, descobrirá que a passagem não pode ser esboçada
de modo lógico. Provérbios 31.10-31 consiste de um acróstico
hebreu, descrevendo as qualidades de uma mulher sábia de A lefe
até Tau, o A até Z do alfabeto hebraico. E um resumo das virtudes
da sabedoria já detalhada em Provérbios, agora completada na
experiência de vida. Embora o acróstico seja um dispositivo eficaz
para a memorização, por parte de um leitor hebreu, este acróstico
não faz sentido para os ouvintes brasileiros. Para ensinar esta
passagem, pois, você deve impor seu próprio esboço sobre o
conteúdo.
Os esboços geralmente consistem de uma introdução, um
corpo e uma conclusão.
* A introdução (que será discutida em mais detalhe) introduz
a idéia, o assunto, ou, no caso de sermões indutivos, o
primeiro ponto.
* O corpo do esboço, então, elabora a idéia.
* A conclusão (que também será discutida mais tarde) traz a
idéia a um enfoque e termina o sermão.
O sermão é composto de uma multidão de idéias, todas
relacionadas umas às outras. Nem todas as idéias de um sermão
têm importância equivalente. Algumas são mais básicas do que
outras. As idéias mais fundamentais se tornam os pontos principais
e formam o arcabouço, em volta do qual o sermão é constituído.
Estes pontos principais constam de algarismos romanos, no corpo
da mensagem. Por exemplo:
IDÉIA: Os cristãos devem louvar a Deus por causa de tudo
que ele tem feito por nós.
I. Devemos louvar a Deus, porque nos escolheu em Cristo (Ef 1.4-6).
II. Devemos louvar a Deus, porque nos tratou de acordo com as
riquezas da sua graça ( 1 .7 - 12 )
III. Devemos louvar a Deus, porque nos selou com o Espírito Santo,
até adquirirmos a plena posse da nossa herança (1.13-14).
A mera listagem destes pontos principais, no entanto, não
desenvolve o sermão completamente. E porque os pontos
principais precisam de expansão, pontos secundários que
aperfeiçoam os pontos principais, são acrescentados ao esboço.
Podemos usar letras maiúsculas para designar esses pontos e, além
disso, são escritas com reentrância.
I. Devemos louvar a Deus, porque nos escolheu em Cristo (Ef 1.4-6)
A. Ele nos escolheu antes da fundação do mundo (v. 4).
B. Ele nos escolheu, porque nos predestinou para a filiação,
mediante adoção (v. 5).
C. Ele nos escolheu, a fim de que seja louvado pela glória da sua
graça (v. 6).
O acréscimo destes pontos secundários melhora o esboço,
ao tornar o desenvolvimento mais claro e mais específico. O
esboço pode ficar ainda mais completo, se incluir detalhes
específicos, para apoiar os pontos secundários. Geralmente uma
cifra arábica e mais uma reentrância demonstra a subordinação
aos pontos principais e secundários. No esboço de amostra, o
sermão é expandido pelo acréscimo dos detalhes.
II. Devemos louvar a Deus, porque nos tratou de acordo com as
riquezas da sua graça (Ef 1.7-12)
A. Redimiu nossos pecados pelo sangue de Cristo (v. 7).
B. Deu-nos sabedoria para entender o mistério da sua vontade (v.
8 - 10 ).
1. Sua vontade está de acordo com seu bom propósito que ele
estabeleceu em Cristo (w. 8-9).
2 . Sua vontade propõe fazer convergir em Cristo todas as coisas,
no tempo apropriado (v. 10 ).
A cada expansão do esboço, a substância do sermão torna-se
mais óbvia. Um indivíduo que nunca viu a passagem, poderia ler
o esboço e obter alguma idéia da organização e desenvolvimento
do sermão pelo pregador.
^ Se você precisar de desenvolvimento adicional, você o indica
pelo emprego de letras minúsculas e mais uma reentrância. Um
esboço de sermão, em comparação com o esboço para tese ou
artigo de pesquisa, deve ser simples e ter relativamente poucos
pontos. Um esboço complicado cortado em várias subdivisões
com reentrâncias, embora impressionante para o olho, só pode
deixar desnorteado o auditório que deve escutá-lo.
Guarde em mente que cada ponto no esboço representa uma
idéia, portanto deve ser uma sentença gramatical completa.
Quando apenas palavras ou frases constam como pontos,
enganam-nos por serem incompletas e vagas. Declarações parciais
deixam o pensamento escorregar por nossa mente como uma
bola de futebol, coberta de graxa. Embora você possa levar um
esboço abreviado para o púlpito, descobrirá que tal esboço será
insuficiente para a utilização em seu escritório.
Há algo mais para lembrar: cada ponto deve ser uma
declaração, não uma pergunta. As perguntas não demonstram
relacionamentos, porque não são idéias. Os pontos no esboço
devem responder a perguntas, e não suscitá-las. As perguntas
podem ser usadas na pregação do sermão como transições que
introduzem pontos novos. Tais perguntas transicionais precedem
um ponto no seu esboço e são colocadas em parênteses.
Embora o pregador veja seu esboço diante dele na página,
lembre-se de que a congregação somente ouvirá o conteúdo. Este
fato óbvio faz com que sejam especialmente significativas as
afirmativas de transição, porque apontam os relacionamentos das
partes ao todo. Você deve ajudar os ouvintes a distinguir seus
pontos principais do material que serve de apoio. É por isso que
apresenta pelo menos três ou quatro declarações e reformulações
de um ponto, para tornar um ponto claro aos ouvintes. Transições
cuidadosamente construídas ajudam o ouvinte a pensar
juntamente com você, de modo que avancem juntos, pelo sermão
afora. Uma transição eficaz avisa o auditório que você está dando
um passo para a frente. Você recorda com freqüência onde você
esteve, identifica o pensamento pelo qual está passando, conta o
que foi dito sobre o assunto ou idéia principal, e interessa o ouvinte
no pensamento seguinte.
Visto que transições claras não surgem facilmente na mente,
devem ser planejadas de antemão. Transições eficazes afirmam
ou subentendem a conexão lógica ou psicológica entre a
introdução e o corpo, entre os pontos dentro do corpo, e entre o
corpo e a conclusão. Respondem à pergunta: Por que estes pontos
estão nesta ordem? Algumas transições de ligação entre os
145

subpontos de seu sermão realizam isto com poucas palavras, mas


outras transições poderão exigir um parágrafo para estabelecer a
unidade, a ordem dos pontos, e o movimento do sermão. Embora
devam ser escritas por extenso e incluídas no esboço, as transições,
freqüentemente, serão amplificadas e desenvolvidas, sobretudo
quando você pregar, de fato, o sermão.
N ovos C o n ceito s
Disposição dedutiva
Disposição indutiva
Disposição semi-indutiva
Alguns formatos que os sermões tomam:
Idéia explicada
Proposição comprovada
Princípio aplicado
História contada
Sujeito completado
Esboço
Transição

D isp o siçã o d ed u tiv a - a idéia aparece como parte da


introdução, e o corpo a explica, comprova ou aplica.
D isposiçã o in du tiva - a introdução apresenta apenas o
primeiro ponto no sermão, depois, com uma transição forte,
cada ponto novo forma um elo com o ponto anterior, até
que a idéia venha à tona, na conclusão.
E sboço - mostra ao preletor o relacionamento entre as idéias
do sermão. Você pode perceber, em um relance, quais idéias
são superiores, subordinadas e coordenadas.
História contada - uma história da Escritura é narrada de tal
maneira que a idéia seja desenvolvida diretamente ou por
implicação.
Idéia explicada - a idéia é apresentada na introdução, e os
pontos do sermão são passos na explicação da idéia.
146

P rincípio aplicado —a idéia é declarada na introdução ou no


primeiro ponto, como o princípio da fé ou da vida. O restante
do sermão aplica esse princípio à experiência diária.
P roposição com provada —a idéia é declarada na introdução
como a proposição de um debate. Os pontos são provas
daquela proposição.
Sujeito com pletado - o sujeito do sermão aparece na introdução.
Os pontos principais do sermão são complementos daquele
sujeito.
Transição - notifica o auditório que o pregador está indo
adiante, declararando (ou, ocasionalmente, subentendendo)
a conexão lógica ou psicológica entre a introdução e o corpo,
entre os pontos dentro do corpo, e entre o corpo e a
conclusão.
P a ra L e itu ra A d ic io n a l
Se desejar explorar mais os sermões indutivos, talvez queira
começar com Inductive Preaching: H elping People Listen, por Ralph
e Greg Lewis (Wheaton: Crossway, 1983). Fred Craddock
também apresenta as vantagens da pregação indutiva em seu livro
que faz pensar, As O ne W ithoutA uthority (Nashville, Abingdon,
1979). Para conhecer instruções específicas em como preparar
um sermão narrativo, incluindo o sermão narrativo na primeira
pessoa, leia Variety in Biblical P reaching por Harold Freeman
(Waco: Word, 1987). Paul Borden responde à pergunta, “Is There
Really One Idea in That Story?” [“Há Mesmo Uma Idéia Naquela
História?”] e lhe mostra como ele trabalha para esse fim, no
capítulo 5 de T he B igld ea o f Biblical Preaching, editado por Keith
Willhite e Scott Gibson (Grand Rapids: Baker, 1998). Daniel
Buttry oferece dez de seus sermões na primeira pessoa, junto com
comentários sobre como os preparou e pregou, em First-Person
P reaching (Valley Forge, Pa.: Judson, 1998). Você encontrará
também uma variedade de sermões narrativos em meu livro Bibli­
cal S erm ons (Grand Rapids: Baker, 1989). Eugene Lowry, em
D oin gT im ein th eP u lp it(Nashville: Abingdon, 1985), argumenta
147

que qualquer sermão pode ser mapeado com fortes qualidades


narrativas.
A pregação de versículo-por-versículo, outro formato de
sermão, caiu da moda em anos recentes. Talvez tenha fracassado
tanto nas mãos de seus amigos como nas mãos de seus inimigos.
A pregação de versículo-por-versículo se assemelha a tocar o
saxofone: é fácil tocá-lo mal. Uma defesa da pregação do
comentário corrido, no entanto, vem de dois autores que são
“neo-homiliastas”. E P reaching Verse b y Verse por Ronald J. Allen
e Gilbert L. Bartholomew (Louisville: Westminster/John Knox,
1999). Este pequeno livro não só defende a pregação de verso
por verso, mas também demonstra como fazê-lo.
C a p ít u l o 7

E ta p a s n o D ese n v o lv im e n to J e M e n sa g e n s E x p o sitiv a s

1. S e l e c io n a n d o a P assagem

2. E studando a P assagem

3. D e s c o b r in d o a Id é ia E x e g é t ic a

4. A n a l is a n d o a I d é ia E x e g é t ic a

5 . Fo r m u lando a I d é ia H o m il é t ic a

6. D e t e r m in a n d o o P r o p ó s it o d o S ermão

7. D e c id in d o c o m o R e a l iz a r e s t e P r o p ó s it o

8. M o ntando o E sboço do S ermão

9. P reenchendo o E sboço do S ermão

Os esboços servem como esqueletos para o pensamento, e


na maioria dos sermões, assim como na maioria dos corpos, o
esqueleto não ficará completamente escondido. Mesmo assim,
não devemos fazer uma exposição grosseira do esboço, como se o
esqueleto fosse “Amostra C. Vítima da Fome”. O meio mais
eficiente de esconder os ossos desnudos de um sermão não é
desfazer-se do esqueleto, e sim, cobri-lo com carne. A matéria de
apoio é para o esboço aquilo que a pele é para os ossos ou as
paredes para a estrutura de uma casa.
E tapa 9 : P reen cher o e sb o ç o do ser m ão com

m a t e r ia l d e a p o i o q u e e x p l i q u e , c o m p r o v e , a p l iq u e

ou a m p l ie o s p o n t o s .

Um auditório não reage a idéias abstratas, e ninguém já foi


impelido à fé pela leitura de um esboço. Se o esboço permanece
sem desenvolvimento, um auditório poderá deixar de captar seu
significado e permanecer inconvicto. A medida que o sermão se
desdobra, os ouvintes levantam várias perguntas: “O que será
que ele quer dizer com isto?” “Que evidências ele tem para apoiar
essa declaração?” “Achei isso muito interessante, mas como
funcionaria na vida?” “Não peguei isso. Quer dizer isso de novo,
por favor?” Para amplificar, explicar, comprovar ou aplicar suas
idéias e torná-las compreensíveis e atraentes, você usa uma
variedade de matérias de apoio.

Já falamos em reformulação durante nossa discussão de


transições. A reformulação - dizer a mesma coisa em palavras
diferentes - é empregada em outros lugares em seu sermão. A
reformulação serve, pelo menos, a dois propósitos. Primeiro,
ajuda-o a esclarecer um conceito. Os ouvintes, diferentemente
dos leitores, devem captar o que você diz, quando você o diz.
Uma leitora que fica confusa por aquilo que está lendo, pode
voltar as páginas e pegar o raciocínio do autor. Mas os