No Brasil, vale mencionar que um dos primeiros dispositivos sobre esse termo remonta à Lei
de 15 de outubro de 1827, que definia um currículo para as escolas masculinas e outro para as
escolas femininas. Segundo essa lei:
Ao longo do tempo, no País, foram instituídos conteúdos mínimos para as diferentes etapas
e modalidades de ensino, buscando-se assegurar uma formação básica comum a todos os estudantes
brasileiros. Conforme será discutido mais adiante, uma ampla legislação educacional trata dessa
questão no País, com mudanças e evoluções nos normativos, no sentido de precisar não apenas o
termo currículo mas também os seus fundamentos pedagógicos.
Em síntese, ao dispor sobre orientações curriculares, a Constituição de 1988 tão somente faz
referência ao ensino fundamental (CF, Art, 210, § 1o e 2o). Já a Lei 9.394/1996 – conhecida como
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – detalhou a questão curricular ao afirmar que
1
PCNs do ensino fundamental: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
2
PCNs do ensino médio: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf
3
DCNs: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf
&Itemid=30192
Este texto, organizado em cinco itens, além desta apresentação e das considerações finais,
começa com uma reflexão sobre as definições de currículo no contexto escolar. Em seguida, analisa
os fundamentos legais e pedagógicos da BNCC, e discute a questão das propostas curriculares dos
estados e municípios brasileiros – atualmente, em formulação ou em fase de implementação. Por
fim, trata da relevância e da necessidade de revisão dos PPP das escolas, à luz dos novos normativos
nacionais e locais.
SUMÁRIO
MÓDULO I – CURRÍCULO: CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ................................................................. 9
MÓDULO IV – DA BNCC AOS CURRÍCULOS DAS REDES E DOS SISTEMAS DE ENSINO .................. 47
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 65
PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 67
MÓDULO I – CURRÍCULO: CONCEITOS
INTRODUTÓRIOS
o consenso, entretanto, parece parar por aí. Quando se trata de definir qual
saber deve a escola difundir, como e a quem, as ideias são as mais variadas,
cruzam-se, aproximam-se, opõem-se, avançam, recuam, saem de cena,
reaparecem, ostentam-se, dissimulam-se (...) a depender da correlação de
forças, conforme as necessidades e exigências impostas pelas circunstâncias
e pelos atores em movimento, em conflito (...) (p. 1).
Para teorias tradicionais, críticas e pós-críticas, como classifica Silva (2015), as noções do
que é currículo são distintas. Nas suas palavras, “aquilo que o currículo é depende, precisamente,
da forma como ele é definido pelos diferentes autores e teorias. Uma definição não nos releva o
que é, essencialmente, o currículo: uma definição nos revela o que uma determinada teoria pensa
o que o currículo é” (p. 14).
Conforme explica Silva (2015):
Por que esse conhecimento, e não outro? Quais interesses fazem com que
esse conhecimento e não outro esteja no currículo? Por que privilegiar um
determinando tipo de identidade ou subjetividade e não outro? As teorias
críticas e pós-críticas de currículo estão preocupadas com as conexões entre
saber, identidade e poder (p. 16).
10
Em síntese, e partindo de uma concepção pós-estruturalista de mundo, para Silva (2015), o
currículo é um território contestado e tem a ver com a questão de poder – poder de definir que tipo de
conteúdo e, consequentemente, de identidades privilegiar. “É precisamente a questão de poder que vai
separar as teorias tradicionais das teorias críticas e pós críticas” (p. 16). Enquanto as teorias tradicionais
se pretendem científicas e neutras, as críticas e pós-críticas argumentam que não existe neutralidade e
que, nessa discussão, estão envolvidas relações de poder.
Procedendo com algumas reflexões sobre currículo e identidade, assim como sobre as suas
implicações para a prática pedagógica, Moreira e Câmara (2013) discutem a questão da identidade e da
diferença para, em seguida, abordar como lidar com tais questões em sala de aula. Para os autores, a
identidade expressa quem somos e é construída na relação com os outros, que estão, em alguns
momentos, em grupos semelhantes e outros em grupos diferentes.
Com base em Silva (2000), Moreira e Câmara (2013) afirmam que a identidade “não é uma
essência, não é um dado, não é fixa, não é estável, nem centrada, nem unificada, nem homogênea, nem
definitiva. É instável, contraditória, fragmentada, inconsistente, inacabada” (p. 42). Desse modo,
concluem que a identidade é uma construção e um processo constante. Com efeito, Bauman (2005),
em entrevista a Benedetto Vecchi, esclarece que o reconhecimento da fragilidade e da condição sempre
provisória da identidade é algo novo e que ainda causa inquietação. Como explica:
Uma constatação importante é que “a identidade se associa intimamente com a diferença: o que
somos se define em relação ao que não somos” (Moreira e Câmara, 2013, p. 43). Tais diferenças podem
ser menos significativas e de menor impacto social, como usar ou não óculos, ou mais fortes, porque
socialmente marcadas por distinções que geram desigualdades, como ser de raças diferentes. Desse
modo, “torna-se claro que as diferenças são construídas socialmente e que, subjacentes a elas,
encontram-se relações de poder” (Idem, p. 44).
Ainda seguindo com base nas reflexões apontadas por Moreira e Câmara (2013), vale destacar
que uma pessoa pertence, simultaneamente, a vários grupos: de gênero, raça, classe social, religião, entre
outros. Isso torna o ambiente em sociedade e, no caso, o ambiente escolar extremamente rico e diverso.
Essa diversidade, muito embora marcada por relações de desigualdades e poder, deve ser problematizada
nas instituições educativas e utilizada como elemento enriquecedor das relações, e não o seu oposto. Os
autores propõem, desse modo, alguns princípios para o planejamento e o desenvolvimento das
atividades pedagógicas, a saber:
11
procurar aumentar a consciência das situações de opressão que se expressam em diferentes
espaços sociais;
propiciar, ao estudante, a aquisição de informações referentes a distintos tipos de
discriminações e preconceitos;
estimular o desenvolvimento de uma imagem positiva dos grupos subalternizados;
favorecer a compreensão do significado e da construção de conceitos que têm sido empregados
para dividir e discriminar indivíduos e grupos, em diferentes momentos históricos e em
diferentes sociedades;
facilitar, ao estudante, a compreensão e a crítica dos aspectos das identidades sociais
estimulados pelos diferentes meios de comunicação;
propiciar, ao aluno, a possibilidade de novos posicionamentos e novas atitudes que venham a
caracterizar propostas de ação e intervenção, e
articular as diferenças.
Para construir práticas pedagógicas que classifica como interculturais, a autora propõe algumas
estratégicas, a saber: reconhecer as nossas identidades culturais; desvelar o que chama de daltonismo
cultural presente no cotidiano escolar, por meio do qual as diferenças não são reconhecidas e ressaltadas;
identificar nossas representações dos outros e também nos colocarmos como o outro das pessoas;
finalmente, conceber a pratica pedagógica como um processo de negociação cultural, necessitando, para
isso, compreender a base histórico-social dos conteúdos trabalhados nas escolas e compreender o
ambiente escolar como espaço de crítica e produção cultural (Candau, 2013).
12
Libâneo (2015) destaca que existem vários níveis de currículo, como o currículo formal, o
real e o oculto. Conforme explica, o currículo formal é aquele estabelecido pelos sistemas de ensino
e pelas unidades educacionais, constituindo o “conjunto de diretrizes normativas prescritas
institucionalmente” (p. 142). Aqui, situam-se, por exemplo, as diretrizes curriculares, a BNCC e os
currículos dos estados e municípios.
O currículo real, segundo o autor, é aquele “que, de fato, acontece na sala de aula em decorrência
de um projeto pedagógico e dos planos de ensino”. De modo mais preciso, “é a efetivação do que foi
planejado, mesmo que nesse caminho do planejar e do executar aconteçam mudanças, intervenção da
própria experiência dos professores, decorrentes dos seus valores, crenças, significados” (p. 142).
Por fim, o currículo oculto é aquele que não é, necessariamente, planejado e explicitado, mas
vem com a experiência e relação com os professores e funcionários das escolas, com os colegas, entre
outros. “Representa tudo que os alunos aprendem pela convivência espontânea em meio às várias
práticas, atitudes, comportamentos, gestos, percepções que vigoram nomeio social e escolar” (p. 143).
Esses diferentes níveis de currículo convivem na realidade escolar e, juntos, fazem parte da
formação dos estudantes. Libâneo (2015) propõe alguns princípios orientadores para as propostas
pedagógico-curriculares das escolas, a partir de uma visão de cunho sociocrítico. Muito embora
existam várias correntes no âmbito dessa abordagem, elas “convergem na concepção de ensino
como compreensão da realidade para transformá-la, visando a construção de novas relações
sociais, de modo a eliminar as mazelas sociais existentes (...), enfim, as desigualdades sociais e
econômicas” (p. 147). O autor elenca e explica cada um desses princípios, que serão apenas
citados, aqui, tais quais nas suas palavras:
13
4) O processo de ensino e aprendizagem deverá estar centrado no
ensino do aprender a pensar e do aprender a aprender, tendo como
referência a internalização e reconstrução dos conteúdos culturais
(p. 154).
5) A organização e desenvolvimento do currículo implica a inserção
da educação moral – compreensão e clarificação de valores e
atitudes (p. 155).
6) As transformações em curso na esfera econômica, cultural e
educacional estão requerendo um vínculo mais estreito entre os
saberes propiciados pela escola e as capacidades e competências
internalizadas pelos alunos que expressam a relação entre
conhecimento e ação (p. 155).
7) É preciso que as escolas busquem formas de superação do currículo
pluridisciplinar, favorecendo a integração interdisciplinar, a partir
da especificidade das disciplinas (p. 156).
8) A escola voltada para uma sociedade que inclua todos precisa
considerar a diversidade cultural e as diferenças, de modo a
representar em um currículo comum os interesses de todos os
alunos (p. 156).
9) A qualidade social do currículo se expressa no provimento das
condições pedagógico-didáticas que asseguram melhor qualidade
cognitiva e operativa das experiências de aprendizagem (p. 157).
10) O currículo escolar deve propiciar no processo educativo a
articulação entre as dimensões cognitiva, social e afetiva da
aprendizagem (p. 157).
11) É necessário um incessante investimento no desenvolvimento
pessoal e profissional dos professores, seja propiciando-se, na escola,
um clima de trabalho receptivo seja promovendo ações de formação
continuada (p. 158).
12) As escolas precisam, também, cultivar os processos democráticos e
solidários de trabalho, convivência e tomada de decisões (p. 158).
14
MÓDULO II – FUNDAMENTOS LEGAIS DA
BNCC E DO CURRÍCULO NO CONTEXTO
ESCOLAR
Conforme explicam Vieira, Vidal e Nogueira (2020), com base em Cury (2014), é
importante compreender as finalidades da educação escolar, tais quais postas no Estado
Democrático de Direito. Para alcançar esses objetivos legalmente estabelecidos, de um pleno
desenvolvimento do educando na educação básica, uma série de conteúdos e procedimentos de
ensino precisam ser organizados. E isso constitui uma forma de definição do currículo da escola ou,
em outras palavras, do trabalho pedagógico da instituição educativa.
Este texto apresenta uma análise do referencial legal que fundamenta a elaboração e
implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em todo o Brasil, assim como os
referenciais curriculares dos sistemas e das redes de ensino, que devem, necessariamente, estar
refletidos nos projetos político-pedagógicos das escolas de educação básica. Desse modo, são
mencionados normativos legais que vão desde a Constituição de 1988 até o Plano Nacional de
Educação de 20144 (Lei no 13.005/2014).
4
Plano Nacional de Educação de 2014: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-
nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014
A seguir, a figura sintetiza essa legislação de referência:
Constituição de 1988
A Constituição de 1988 representa um avanço do ponto de vista social, pelo registro de
direito importantes nesse campo, entre os quais o direito à educação. Atualizada pela Emenda
Constitucional nº 59/2009, aponta, como dever do Estado, a “educação básica obrigatória e
gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive a sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria” (Art. 208, I).
Em relação à temática do currículo escolar, a Carta Magna define:
16
A Constituição de 1988 não menciona a questão curricular para os ensinos fundamental e
médio, no entanto, uma legislação subsequente e específica para a educação, a LDB de 18996, traz
esse assunto. As diretrizes curriculares, por sua vez, são ainda mais detalhadas em relação ao assunto,
como será discutido nos tópicos a seguir.
LDB de 1996
A LDB de 1996 aponta que a educação básica, no Brasil, “tem por finalidades desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22). Esse é um objetivo amplo
e contempla, para além do desenvolvimento cognitivo dos estudantes – frequentemente, o mais
associado à educação escolar –, a formação humana, mediante a aquisição de conhecimento e
formação de valores necessários ao convívio em sociedade.
Conforme essa lei, é responsabilidade da União, em parceria com estados, Distrito Federal e
municípios, definir competências e diretrizes para todas as etapas da educação básica, desde a
educação infantil até o ensino médio. Tais definições “nortearão os currículos e os seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum” (LDB 1996, Art. 9o).
Artigo 20 da LDB, com as alterações implementadas pela Lei nº 12.796 de 2013, é o que fala
mais precisamente sobre a necessidade da BNCC. De acordo com o texto legal, “os currículos da
educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
dos educandos” (Art. 26).
Conforme explicam Vieira, Vidal e Nogueira (2020), outros artigos da LDB fazem referência
à questão do currículo. Em síntese:
17
proposta pedagógica da escola; conteúdos relativos aos direitos humanos e
à prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente
serão incluídos, como temas transversais, nos currículos escolares (Art. 26).
Importante mencionar, ainda, que o estudo da História e cultura afro-
brasileira e indígena passa a ser obrigatório nos estabelecimentos públicos
e privados de ensino fundamental e médio (Art. 26-A).
As autoras destacam, ainda, o teor de três artigos: o artigo 27, que especifica diretrizes adicionais
referentes ao currículo para a educação básica – difusão de valores referentes aos direitos e deveres dos
cidadãos, orientação para o trabalho, entre outras –; o artigo 28, que fala das adaptações necessárias ao
ensino na zona rural, e o artigo 59, que trata da obrigação de currículos específicos para educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
18
Além disso, há a indicação de que as diretrizes nacionais específicas para as etapas e
modalidades da educação básica evidenciem “o seu papel de indicador de opões políticas, sociais,
culturais, educacionais, e a função da educação, na sua relação com um projeto de Nação, tendo
como referência os objetivos constitucionais (...)” (Art. 3).
As diretrizes para a educação básica trazem as referências conceituais do projeto nacional de
educação e tratam da construção de um sistema nacional de educação. Abordam, ainda, a questão do
acesso e permanência na escola para a conquista da qualidade social. Mais especificamente sobre a
organização curricular, mencionam alguns conceitos, limites e possibilidades, detalham aspectos da sua
organização nas diferentes etapas e modalidades, e informam sobre a formação básica comum e a parte
diversificada do currículo. Por fim, inclui importantes definições sobre elementos necessários à sua
operacionalização: “o projeto político-pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a gestão
democrática e a organização da escola; o professor e o programa de formação docente” (Art. 42).
Antes de passar ao exame das diretrizes curriculares nacionais específicas, cabe registrar a
definição de currículo apontada pelo documento referente à toda a educação básica, que também
estará presente nos demais documentos. Nesse documento, o currículo é entendido “como o
conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção, a socialização de significados no
espaço social e contribuem, intensamente, para a construção de identidades socioculturais dos
educandos” (Art. 13). Mais detalhadamente, é previsto que:
19
Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação infantil
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação infantil são fixadas pela Resolução nº
5, de 17 de dezembro de 2009. Trazem uma definição da concepção de currículo para essa etapa
da educação básica, detalham aspectos relevantes das propostas pedagógicas a serem elaboradas pelas
instituições educativas, como creches e pré-escolas, e apontam como eixos norteadores do trabalho
com a infância as interações e a brincadeira.
20
Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação profissional técnica
de nível médio
O Parecer CNE/CEB nº 11, aprovado em 9 de maio de 2012, subsidia o projeto de resolução
que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação profissional técnica de nível médio.
Esses cursos são apontados como parte integrante da educação profissional e tecnológica, assim
como a formação inicial e continuada ou qualificação profissional, e a educação profissional
tecnológica de graduação e pós-graduação.
São abordados os princípios dessa modalidade da educação, a exemplo da sua relação e
articulação com o ensino médio, preparação para o exercício de profissões técnicas, entre outros
(Art 2º). São detalhadas as especificidades de cada uma das suas formas de oferta, como a articulada,
concomitante e subsequente ao ensino médio (Art. 6º). As diretrizes mencionam, ainda, aspectos
da organização curricular dos cursos, duração, avaliação, aproveitamento e certificação.
A formação dos docentes que atuam nessa modalidade também é detalhada, cabendo aos
formados em cursos de graduação e programas de licenciatura ou outras formas. Os sistemas de ensino
devem apoiar a realização dessa formação, entre outras orientações aportadas no referencial legal.
21
Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado
na educação básica, modalidade educação especial
As Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica,
modalidade educação especial, são instituídas pela Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Elas
iniciam por estabelecer que “para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de
ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional
Especializado (AEE)” (Art 1o). Esse último “ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em
centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos” (idem).
As diretrizes caracterizam o papel do AEE (Art. 2o) e o seu financiamento por parte do
FUNDEB (Art. 8o), assim como a necessidade de que os projetos pedagógicos das escolas regulares
institucionalizem a sua oferta (Art. 10). Por fim, falam da formação requerida aos professores, que
devem ter formação inicial que os habilitem à docência e, além disso, formação específica para a
educação especial (Art. 12).
22
Em relação à duração dos cursos presenciais de EJA, estabelece que, para os anos iniciais do
ensino fundamental, fica a critérios dos sistemas de ensino; para os anos finais dessa etapa, a duração
mínima deve ser de 1.600 horas e, para o ensino médio, a duração mínima necessita ser de 1.200
horas (Art. 4o). A idade mínima permitida para matrícula, realização de exame e conclusão de curso
de EJA na etapa do ensino médio é de 18 anos (Art. 6º). Os cursos de EJA podem ser desenvolvidos
na modalidade EAD, mas apenas nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio,
respeitadas algumas definições (Art. 9o).
23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação escolar quilombola
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação escolar quilombola são definidas pela
Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012. São destinadas ao atendimento das populações
quilombolas, constituídas por “grupos étnico-raciais definidos por auto atribuição, com trajetória
histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra
relacionada com a resistência à opressão histórica” (Art. 2o, I).
O atendimento aos estudantes quilombolas deve ocorrer em instituições de ensino localizadas em
territórios reconhecidos pelo poder público como de comunidades quilombolas ou próximo a esses
territórios, desde que recebam parte importante de estudantes oriundos dessas comunidades (Art. 1o).
Aos sistemas de ensino, cabe “construir propostas de educação escolar quilombola
contextualizadas” (Art, 2o). Por isso mesmo, as diretrizes tratam dos objetivos dessa escolarização,
dos princípios da educação escolar quilombola, da sua organização, bem como da sua articulação
com as etapas e demais modalidades de ensino. Temáticas também contempladas dizem respeito à
nucleação e ao transporte escolar.
As diretrizes incluem, ainda, aspectos relacionados ao projeto político-pedagógico das escolas
quilombolas, que deve trazer experiências e valores caros a essas comunidades; à gestão das escolas
quilombolas, à formação e profissionalização dos professores dessas comunidades e, ao final, da ação
colaborativa de unidades da federação para a oferta do ensino. Conforme o artigo 57: “As políticas de
educação escolar quilombola serão efetivadas por meio da articulação entre os diferentes sistemas de
ensino, definindo-se, no âmbito do regime de colaboração, suas competências e corresponsabilidades”.
Merece destaque o parágrafo primeiro desse artigo, segundo o qual “quando necessário, os territórios
quilombolas poderão se organizar mediante Arranjos de Desenvolvimento da Educação”.
24
Importante a orientação de que os sistemas de ensino precisam orientar e supervisionar a
elaboração de materiais didáticos, incluindo os livros escolares (art. 7o). Esses materiais têm ampla
divulgação e são fonte de consulta e formação para os estudantes brasileiros.
Obrigatória para todos os níveis de ensino, a temática pode ser inserida no currículo de
diversas formas, como pela transversalidade, como um conteúdo específico de uma das disciplinas
existentes ou, ainda, combinando essas duas possibilidades (Art. 7o).
25
Plano Nacional de Educação de 2014
O Plano Nacional de Educação de 20145 define que a BNCC é uma estratégia necessária
para o alcance de quatro metas – meta 1, 2, 3 e 7. As três primeiras metas são relacionadas à
universalização do atendimento, às crianças e aos adolescentes de 4 a 17 anos, público de
escolaridade obrigatória. A sétima meta diz respeito à melhoria da qualidade da educação, tanto por
meio da construção de um melhor fluxo escolar quanto do aumento da nota do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), para o ensino fundamental e ensino médio.
Conforme levantamento realizado por Vieira, Vidal e Nogueira (2020), “há, aproximadamente,
dez outras estratégias que fazem referência à questão do currículo”. As autoras citam, em particular,
uma delas, a estratégia 19.6, segundo a qual é necessário “estimular a participação e a consulta de
profissionais da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos político-
pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares, assegurando a
participação dos pais na avaliação de docentes e gestores escolares”. Fazem isso em função da
necessidade de participação dos profissionais da educação na (re)elaboração dos projetos político-
pedagógicos das suas escolas, para que a implementação da BNCC seja bem-sucedida.
5
Plano Nacional De Educação – Lei nº 13.005/2014: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-
educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014
26
Percurso de 2015
6
Portaria nº 592, de 17 de junho de 2015: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/94124972/dou-secao-1-18-06-2015-pg-16
7
Primeira versão da BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/relatorios-analiticos/BNCC-APRESENTACAO.pdf
27
Percurso de 2016
Entre os meses de outubro de 2015 e março de 2016, a primeira versão da BNCC foi
disponibilizada para consulta pública, recebendo mais de 12 milhões de contribuições de diversos
atores, incluindo pais, estudantes e organizações do terceiro setor. No entanto, o maior número de
contribuições veio de professores e escolas públicas, que realizaram debates sobre o tema,
principalmente no chamado Dia D da BNCC, ocorrido entre os dias 2 e 15 de dezembro de 2015.
Entre os meses de março e maio de 2016, as contribuições da consulta pública acima referidas
foram sistematizadas por uma equipe de especialistas da Universidade de Brasília (UnB) e,
posteriormente, encaminhadas à equipe de redatores.
Abarcando as contribuições da consulta pública sistematizadas pela equipe de especialistas da
UnB, o MEC divulga a segunda versão8 entregue pelos redatores em 03 de maio de 2016.
Entre os meses de junho e agosto de 2016, foram realizados 27 Seminários Estaduais
organizados pela Undime e pelo Consed, reunindo especialistas, gestores e professores com objetivo
de debater a segunda versão da BNCC. Ao todo, foram contabilizados mais de 9 mil participantes.
Em julho de 2016, é instituído Comitê Gestor da BNCC e da Reforma do ensino médio, por meio
da Portaria nº 790/20169, para acompanhar a finalização das questões levantadas no debate e
encaminhar a proposta final do documento.
8
Segunda versão da BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/relatorios-analiticos/bncc-2versao.revista.pdf
9
Portaria nº 790/2016: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=46471-link-port-
790-base-curricular-pdf&category_slug=julho-2016-pdf&Itemid=30192
28
Em setembro de 2016, Consed e Undime entregam ao MEC o relatório contendo as
contribuições levantadas nos seminários estaduais, que servem de base para as alterações propostas
na terceira versão da BNCC.
Percurso de 2017
Em abril de 2017, o MEC entrega ao CNE a terceira versão da BNCC com as etapas do
ensino fundamental e da educação infantil, solicitando parecer e projeto de resolução.
Entre os meses de junho e setembro de 2017, o CNE, por sua vez, abre consulta pública para
colher contribuições da sociedade em geral sobre a terceira versão da Base.
Undime e Consed lançam, em agosto de 2017, a primeira versão do Guia de Implementação
da BNCC10 para que as secretarias de educação se planejem e organizem as ações com base nas
sugestões indicadas no documento.
Em dezembro de 2017, o CNE aprova a BNCC por 20 votos a 3, publicando o Parecer
CNE/CEP nº 15/201711, que institui e orienta, junto ao Projeto de Resolução nele anexado, a
implementação da Base. No dia 20 desse mesmo mês, o MEC conclui a homologação que deverá
valer para todo o Brasil, por meio da Portaria nº 1.570/201712.
10
Guia de Implementação da BNCC (versão de agosto de 2017): http://www.consed.org.br/media/meeting/
599b30fc60278.pdf
11
Parecer CNE/CEP nº 15/2017: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2017-pdf/78631-pcp015-17-pdf/file
12
Portaria nº 1.570/2017:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/historico/PORTARIA1570DE22DEDEZEMBRODE2017.pdf
29
Percurso de 2018
Em 02 de abril de 2018, o MEC entrega a versão da Base do ensino médio13 ao CNE, que
inicia o processo de audiências públicas para debatê-la.
Comisso, entre os meses de maio e setembro de 2018, o CNE realiza uma série de audiências
públicas com o objetivo de discutir a BNCC do ensino médio, com destaque para o Dia D (Dia
Nacional de Discussão Sobre a BNCC), realizado em 02 de agosto de 2018, reunindo escolas de
todo o País em encontros unindo gestores, professores e especialistas para debater e preencher um
documento on-line sugerindo melhorias.
Em 04 de dezembro de 2018, finalmente, a Base do ensino médio é aprovada pelo CNE e, em
14 desse mesmo mês, é homologada pelo MEC, concluindo uma Base Nacional Comum Curricular
que engloba toda a educação básica, desenvolvida com base nas contribuições da sociedade.
13
Versão da base do ensino médio entregue ao CNE em abril de 2018: http://basenacionalcomum.mec.gov.br
/images/historico/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_110518.pdf
30
MÓDULO III – FUNDAMENTOS
PEDAGÓGICOS DA BNCC E DO CURRÍCULO
NO CONTEXTO ESCOLAR
1. Conhecimento
3. Repertório cultural
4. Comunicação
5. Cultura digital
32
fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,
autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentação
Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e
defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e
global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Autoconhecimento e autocuidado
9. Empatia e cooperação
Fonte: http://movimentopelabase.org.br/acontece/competencias-gerais-de-bncc/
Como pode ser observado, algumas dessas competências dizem respeito, diretamente, a
aspectos cognitivos dos estudantes que precisam ser trabalhados nas etapas da educação básica,
como a primeira, que estabelece “valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos
sobre o mundo físico, social, cultural e digital” (...). Outras dizem respeito, majoritariamente, a
aspectos socioemocionais, como a oitava, que prevê “conhecer-se, apreciar-se e cuidar da sua saúde
física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana”. Também há aquelas que integram
essas duas esferas, como a quarta, que orienta “utilizar diferentes linguagens (...), bem como
conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos (...)”.
Desse modo, a formação integral é objetivo maior a ser perseguido nesse processo. Como
afirmado na introdução da BNCC, “a educação básica deve visar à formação e ao desenvolvimento
humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse
desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual
(cognitiva) ou a dimensão afetiva” (BNCC, 2018, p. 14).
33
Educação infantil
Conforme a LDB de 1996, a educação infantil “tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança de até 5 (cinco) anos, nos seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade” (Art. 29). Para alcançar esse objetivo, as
diretrizes curriculares para essa etapa da educação básica aportam considerações relacionadas ao
currículo a ser trabalhado com as crianças.
Com expresso nas diretrizes para a educação infantil, “o currículo (…) é concebido como um
conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico,
de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade” (Art. 3o).
A BNCC para a educação infantil estabelece seis direitos de aprendizagem para as crianças:
1) conviver, 2) brincar, 3) participar, 4) explorar, 5) expressar e 6) conhecer-se. Tais direitos são
organizados para três faixas etárias: 1) bebês, de 0 a 1 ano e 6 meses, 2) crianças bem pequenas, de
1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses, e 3) crianças pequenas, de 4 anos a 5 anos e 11 meses.
Define, ainda, cinco campos de experiências, assim organizados: 1) o eu, o outro e o nós; 2)
corpo, gestos e movimentos; 3) traços, sons, cores e formas; 4) escuta, fala, pensamento e
imaginação, e 5) espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Esses direitos de
aprendizagem e campos de experiência dialogam, de modo a favorecer o desenvolvimento integral
daqueles nas creches e pré-escolas brasileiras.
A seguir, a figura ilustra essa organização:
34
Figura 6 – Organização da educação infantil
Vale registrar que a BNCC reitera o previsto nas diretrizes curriculares para a educação
infantil, ao apontar as interações e brincadeiras como eixos estruturantes das práticas pedagógicas
dessa etapa da educação básica. Por meio desses eixos, “as crianças podem construir e apropriar-se
de conhecimentos por meio das suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que
possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização (Brasil, 2018, p. 37).
35
Ensino fundamental
Conforme a LBD de 1996, a finalidade do ensino fundamental é a formação básica do
cidadão, mediante:
Como mencionam Vieira, Vidal e Nogueira (2020), a instituição educativa deve-se organizar
com vistas a facilitar o alcance desses objetivos de desenvolvimento e de aprendizagem. Isso requer
uma gestão escolar voltada para a aprendizagem. O alinhamento dos professores em torno dessa
meta também representa um aspecto estratégico para o sucesso dos estudantes.
Para além das questões detalhadas em suas finalidades, essa lei estabelece que “o ensino
religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito
à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” (Art. 33).
As diretrizes para o ensino fundamental de 9 anos trazem uma importante definição de
currículo, segundo as quais esse documento é “constituído pelas experiências escolares que se
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articular
vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo
para construir as identidades dos estudantes” (Art. 9). É importante o registro de que:
36
A BNCC organiza o ensino fundamental em cinco áreas do conhecimento: 1) Linguagens,
2) Matemática, 3) Ciências da Natureza, 4) Ciências Humanas e 5) Ensino Religioso. A ideia dessas
áreas é favorecer a interação e diálogo entre os conhecimentos dos componentes curriculares que as
compõem. São nove os componentes curriculares ao todo, assim denominados: 1) Língua
Portuguesa, 2) Arte, 3) Educação Física, 4) Língua Inglesa, 5) Matemática, 6) Ciências, 7)
Geografia, 8) História e 9) Ensino Religioso. Enquanto todos os demais componentes estão
presentes nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, o componente de Língua Inglesa passa
a ser obrigatório apenas a partir dos anos finais dessa etapa.
A seguir, a figura ilustra esse modo de organização:
37
Conforme o documento legal, cada área do conhecimento possui competências específicas,
que devem ser desenvolvidas ao longo do ensino fundamental de 9 anos, junto com as dez
competências gerais para a educação básica. Naquelas áreas com mais de um componente curricular,
ainda existem competências por componentes. Por fim, para desenvolver tais competência, são
definidas habilidades. “Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento –
aqui, entendidos como conteúdos, conceitos e processos –, que, por sua vez, são organizados em
unidades temáticas” (BNCC, 2018, p. 28).
Ensino médio
Conforme a LDB de 1996, a finalidade do ensino médio é:
As diretrizes curriculares específicas para essa etapa destacam a organização curricular em uma
base comum e uma parte diversificada, que devem ser integradas ao longo da formação dos
estudantes. São apresentados os componentes curriculares obrigatórios da formação, já presentes na
LDB de 1996 e também reiterados no âmbito da BNCC.
A BNCC organiza o ensino médio em quatro áreas do conhecimento: 1) Linguagens e suas
Tecnologias, 2) Matemática e suas Tecnologias, 3) Ciências da Natureza e suas Tecnologias e 4) Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas. Língua Portuguesa e Matemática são os dois componentes curriculares
que devem ser oferecidos ao longo dos três anos dessa etapa da educação básica. São detalhadas
habilidades para esses componentes, mas para o ensino médio de um modo geral, e não por série.
38
Figura 8 – Organização do ensino médio
A construção e implementação da base para o ensino médio é parte de uma reforma maior
proposta para essa etapa da educação básica. Dada a sua relevância, tal reforma será discutida de
modo mais detalhado no item a seguir.
39
A Lei nº 13.415/201714 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ampliando
a carga horária mínima do educando, nessa etapa do ensino, de 2.400 para 3.000 horas,
considerando a sua efetivação nas redes públicas e privadas até o ano de 2022. Além disso, a oferta
de uma organização curricular mais flexível, que ofereça aos estudantes diferentes possibilidade de
escolhas por meio de cinco itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na
formação técnica e profissional.
Segundo o MEC (2017), os itinerários formativos são
14
Lei nº 13.415/2017: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm
40
a Portaria do Programa Dinheiro Direto na Escola às unidades escolares pertencentes às
Secretarias participantes do Programa de Apoio ao Novo ensino médio e às unidades
escolares participantes da avaliação de impacto do Programa de Fomento às Escolas de
ensino médio em Tempo Integral – EMTI (Portaria nº 1.024/2018) –, que define as
diretrizes do apoio financeiro;
a Resolução FNDE nº 21/2018 (PDDE Novo ensino médio), que regulamenta os moldes
operacionais do Programa Dinheiro Direto na Escola, a fim de apoiar a implementação
do novo ensino médio e a realização da avaliação de impacto nas Escolas de ensino médio
em Tempo Integral, e
o Documento Orientador – Programa de Apoio ao Novo ensino médio, que detalha as
diretrizes, parâmetros e cronograma.
Esses e outros documentos poder ser encontrados no Portal Novo ensino médio, criado pelo
MEC para orientar gestores em relação aos marcos legais15 e, também, com um guia de
implementação16.
O uso da educação a distância no ensino médio foi um item que gerou grande polêmica e
merece destaque. De acordo com as normas estabelecidas, é possível lançar mão de até 20% da
carga horária total do ensino médio diurno nessa modalidade de ensino, até 30% do ensino médio
noturno e até 80% da carga horária da educação de jovens e adultos (Art. 17, § 5 e § 15). No
entanto, a questão da conectividade ainda é um entrave tanto para escolas quanto para educandos.
Temas contemporâneos
Ao versar sobre o pacto interfederativo e a implementação da BNCC, o texto legal apresenta
um conjunto de temas contemporâneos que fazem parte da vida das pessoas, seja em um contexto
local, seja em um contexto nacional ou internacional. Esses temas são objeto de legislação específica
no Brasil, desde leis da década de 1990 até pareceres do Conselho Nacional de Educação da década
de 2010. Na própria BNCC, essas questões são tratadas nas habilidades dos componentes curriculares.
Conforme apontado no documento, tais temas devem ser contemplados também nos
currículos dos sistemas e redes de ensino bem como nas propostas pedagógicas das escolas, dada a
sua relevância para a existência e o convívio na sociedade. Devem, ainda, ser trabalhados de modo
transversal nas várias áreas do conhecimento e componentes curriculares.
15
Marco legal novo ensino médio: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/marco-legal
16
Guia de implementação do novo ensino médio: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia
41
Esses temas e as suas respectivas fundamentações legais no Brasil são:
42
Conforme exposto no guia sobre a temática desenvolvido pelo MEC, “ao contextualizar o que
é ensinado em sala de aula juntamente com os temas contemporâneos, espera-se aumentar o interesse
dos estudantes durante o processo e despertar a relevância desses temas no seu desenvolvimento como
cidadão” (Brasil, 2019, p. 4). Além disso, o texto resume a finalidade dessas temáticas:
Os temas contemporâneos citados pela BNCC são estratégicos para a vida em sociedade e, a
partir deles, diferentes conceitos podem ser inseridos nas discussões pedagógicas. Os direitos da
criança e do adolescente, por exemplo, figuram na legislação desde a década de 1990 e, apesar dos
muitos avanços obtidos, assegurá-los ainda constitui um desafio ao poder público. Em sala de aula,
podem ser tratados os “direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária” (Lei nº 8.069/1990, Art. 4o).
No âmbito da educação para o trânsito, podem ser tratadas não apenas as regras básicas de
conduta e de sinalização no trânsito mas também questões como o respeito ao outro, o
procedimento consciente e seguro como pedestre, entre outros. Pode-se mencionar a questão do
lixo e a sua relação com o trânsito, a questão da violência no trânsito e como evitá-la, entre outros
assuntos. A escola pode criar ou divulgar campanhas educativas junto aos seus estudantes,
promovendo a conscientização de todos sobre essas questões na vida cotidiana.
A educação ambiental é uma temática de alta relevância, cuja compreensão e mudança de
práticas está cada vez mais urgente. A lei que dispõe sobre o assunto estabelece que a educação
ambiente envolve “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade
(Lei nº 9.795/1999, Art. 1º). A sua relevância é tamanha para a vida em sociedade que a mesma lei
disciplina que esse é um componente da educação formal e não formal, em todos os seus níveis e
modalidades (Art. 2o). Em sala de aula, podem ser abordadas questões relacionadas à preservação
do meio ambiente, ao uso consciente dos recursos naturais, às especificidades da água e da energia,
à reciclagem e muitas outras temáticas relevantes.
43
A educação alimentar e nutricional também figura como tema de destaque, sobretudo com a
emergência de doenças associadas a uma prática alimentar inadequada, como pressão alta, diabetes
e obesidade. Podem e devem ser abordadas práticas de alimentação saudável, mudança de hábitos
que trabalhem a saúde preventiva, nutritiva e balanceada. Os conteúdos devem ir além da
informação, chegando à conscientização. Atividades práticas são muito interessantes bem como a
vivência da alimentação escolar de qualidade nutricional. Temas como higiene, doenças, vitaminas
e outros são de interesse nessa matéria.
O conhecimento sobre processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso também
tem relevância no contexto da vida em sociedade e deve estar presente nas escolas públicas e privadas
do País. Essa temática, assim como as demais, está bem relacionada à da educação em direitos
humanos. Sobretudo em contextos em que predominam informações distorcidas do que consiste
na defesa de tais direitos, cabe às escolas esclarecer e informar sobre a sua real missão e finalidades.
O combate ao bullying, a apreciação à diversidade e o respeito ao outro são elementos que
necessitam ser trabalhados no contexto escolar.
Tema da mais alta relevância é a educação das relações étnico-raciais e o ensino de história e
cultura afro-brasileira, africana e indígena. O respeito à diversidade, de um lado, e o conhecimento
das contribuições aportadas pelas diferentes etnias e raças à economia e à cultura nacional, de outro,
podem contribuir para a construção de uma sociedade mais respeitosa, pacífica, justa e igualitária.
Outras questões que merecem tratamento especial são a saúde, vida familiar e social, educação
para o consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência e tecnologia e diversidade cultural.
Em relação à vida familiar e social, problemas como a violência e o uso de drogas, entre outros,
precisam ser abordados. Aspectos como a manutenção de tradições e o bom uso do tempo de
convívio em casa e na sociedade também fazem parte desse terreno. No que diz respeito à educação
financeira, o seu valor pode ser destacado tanto do ponto de vista individual como coletivo. A
conscientização sobre o excesso de consumismo e o combate a corrupção ilustram temas essenciais
desse campo. Por fim, uma educação que instrumentaliza para a vida não pode deixar de lado os
temas do trabalho, da ciência e da tecnologia. Os conhecimentos tecnológicos e científicos podem
auxiliar na solução do problema do acesso a uma cidadania plena, à cultura, ao saber e ao trabalho.
Considerar e incluir esses temas, nas atividades pedagógicas, de modo transversal é um desafio
importante, que vale ser enfrentado em função da sua importância. Essa forma de aproximação das
temáticas não é nova, estando presente também em outros documentos educacionais brasileiros,
como é o caso dos Parâmetros Curriculares da Educação (PCN). Em tais documentos, estavam
presentes temas relacionados à cidadania, como: “ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual,
trabalho e consumo e pluralidade cultural” (Menezes, 2001, p. 1).
44
Menezes (2001) caracteriza os temas transversais como aqueles que “correspondem a questões
importantes, urgentes e presentes sob várias formas nas vidas cotidianas” (p. 1). Para o autor, “são
assim adjetivados por não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas atravessarem todas elas
como se a todas fossem pertinentes” (idem). Desse modo, podem ser abordados em projetos que
envolvem mais de um componente curricular nas escolas, por exemplo.
Nos PCN, havia uma boa caracterização do que é a transversalidade, diferenciando-a,
inclusive, de outras abordagens, como a interdisciplinaridade. Conforme o autor antes referido:
45
MÓDULO IV – DA BNCC AOS CURRÍCULOS
DAS REDES E DOS SISTEMAS DE ENSINO
A partir da Base Nacional Comum Curricular para a educação básica, os estados, o Distrito
Federal e os municípios devem elaborar os seus referenciais curriculares para as instituições públicas
e privadas desse nível de ensino. Importante destacar que os currículos municipais devem estar em
sintonia com os documentos nacional e estadual.
17
Estudo produzido pelo CENPEC: https://www.cenpec.org.br/boletim/boletim07/tablet/index.html
48
Figura 11 – Modelos de documentos curriculares até 2014
49
Nesse contexto, no segundo semestre de 2019, o Centro de Desenvolvimento da Gestão
Pública e Políticas Educacionais (FGV DGPE) e o Programa FGV Ensino elaboraram um
formulário para verificar como estava o andamento desse desenvolvimento e implementação nas
secretarias. Os resultados da pesquisa, sintetizados a seguir, farão parte de artigo a ser publicado em
livro pela Editora FGV.
A equipe do Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed) apoiou encaminhando
o formulário aos estados e solicitando o seu urgente preenchimento. Todos os estados, à exceção de
Alagoas, responderam o questionário.
O instrumento de coleta foi organizado em quatro blocos:
1. qual a perspectiva de implementação do novo ensino médio;
2. qual a proposta curricular para o ensino médio alinhada à BNCC;
3. quais itinerários formativos e
4. desafios para implementação do novo ensino médio.
Até o segundo semestre de 2019, a partir dos dados coletados com as unidades, a
implementação do novo ensino médio havia começado em somente metade delas. Treze unidades
haviam iniciado o processo: Acre, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Mato
Grosso, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, São Paulo, Tocantins e Rio Grande do
Sul. Outros treze, por sua vez, não haviam iniciado: Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito
Federal, Maranhão, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Paraná.
18
Lei nº 13.415/2017: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm
50
Dos treze estados que iniciaram a implementação do novo ensino médio, três já vinham
trabalhando com vistas a concluir o processo. Foi o caso de Minas Gerais (iniciado em 2017), Mato
Grosso e Pernambuco (iniciados em 2018). Concretamente, no entanto, a maior parte iniciou o
processo de implementação no ano de 2019: Acre, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
A pesquisa apontou que, nos estados em que esse processo não foi iniciado, a previsão é de
que aconteça, de fato, em:
1. 2020 – Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Paraíba, Roraima e Santa
Catarina, e
2. 2021 – Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Rondônia; e
3. 2022 – Paraná.
Os estados do Mato Grosso, Pernambuco e Rio Grande do Sul não responderam a questão
referente à previsão de conclusão do processo.
51
Tabela 1 – Atividades desenvolvidas para construção da proposta curricular
AC AC
AM
AP AP AP AP
BA
CE CE CE
DF DF DF
GO GO
MA
MG
MS
MT MT MT
PA PA PA
PB PB
PE
PI
PR
RJ
RN
RO RO
RR
RS
SC
SE
SP SP
TO
52
Uma vez elaborada a proposta curricular, a maioria (23 estados) pretende produzir uma
versão impressa e alguns tem objetivo de distribuí-la às escolas da sua rede de ensino. Somente Acre,
Goiás e Maranhão informaram que essa não seria a ideia inicial.
Vale ratificar que os estados precisam garantir que as propostas curriculares cheguem às
unidades escolares e aos professores do ensino médio, independentemente da estratégia que
utilizarem para tal. A publicação, seja ela on-line ou impressa, não é o suficiente para garantir a
implementação e promover mudanças significativas nas salas de aula. Atuar com formação, garantir
condições de trabalho e chamar esses atores para que atuem em todas as etapas do processo, desde
a elaboração do documento até a sua real utilização nas práticas cotidianas, é fundamental para o
sucesso da implementação.
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser
organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares,
conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas
de ensino, a saber:
I. linguagens e suas tecnologias;
II. matemática e suas tecnologias;
III. ciências da natureza e suas tecnologias;
IV. ciências humanas e sociais aplicadas;
V. formação técnica e profissional.
53
§ 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas na rede,
possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio cursar mais um
itinerário formativo de que trata o caput.
[...]
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de escolha das áreas
de conhecimento ou de atuação profissional previstas no caput.
Na pesquisa realizada pelo FGV DGPE, três estados responderam já ter iniciado a
implementação dos seus itinerários formativos – Piauí, Roraima e São Paulo. Dezoito responderam
já ter iniciado o processo de implementação, e dois não responderam (Maranhão e Rondônia).
Sobre o modelo de itinerário formativo previsto, oito estados responderam que pretendem
implementar um modelo único, quinze pretendem atuar com modelos diversos e estados não
responderam a esse item específico – Maranhão, Pará e Tocantins.
54
18. material didático;
19. modelos de avaliações;
20. mudança na prática do trabalho docente;
21. possível resistência da comunidade escolar;
22. prazo para a elaboração do currículo e
23. transporte escolar.
55
Caso dos municípios
A Constituição de 1988 define, no seu artigo 18, que “a organização político-administrativa
da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”. Em termos das responsabilidades
no campo educacional, cabe privativamente à União legislar sobre as diretrizes e bases nacionais
(Art. 22, XXIV). Já à União, aos estados, Distrito Federal e municípios, cabe legislar,
concorrentemente, sobre “educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação” (Art. 24, IX).
As três esferas de governo – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios –
necessitam organizar os seus sistemas de ensino em regime de colaboração (Art. 211). Importante
conhecer o detalhamento das responsabilidades nesse modelo de organização, algo posto nos três
primeiros parágrafos do Art. 211:
56
A situação em relação a essa obrigação é bastante diferenciada no País. Alguns municípios já
reelaboraram os seus currículos em sintonia com os documentos federal e estadual; outros estão em
processo de elaboração; ao passo que ainda existem muitos que aguardam apoio federal e
coordenação estadual para deflagrar esse processo. É importante atentar para os prazos estabelecidos
pela legislação para que esse processo seja concluído, de modo a garantir, aos estudantes, a
materialização dos seus objetivos e direitos de aprendizagem.
57
MÓDULO V – DO CURRÍCULO DAS REDES E
DOS SISTEMAS DE ENSINO AO PROJETO
POLÍTICO-PEDAGÓGICO
60
O projeto político-pedagógico é, em síntese, um documento de referência para a organização
e para as práticas educativas nas unidades escolares. A sua concepção e implementação deve se dar
de modo coletivo, a partir de uma gestão democrática das instituições públicas, como requer,
inclusive, a legislação educacional brasileira.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil está passando por uma mudança relevante na política pública educacional. Uma
transição curricular é um processo complexo e deve ser implementado com bastante
responsabilidade para que os seus resultados sejam positivos. Este texto buscou retratar as várias
dimensões presentes na discussão sobre essa temática no Brasil.
A apresentação mostrou, brevemente, a evolução do termo currículo em âmbito internacional,
fazendo referência aos seus primeiros usos no Brasil. Citou os normativos legais que fundamentam
a aprovação da BNCC e os documentos subsequentes. Por fim, explicou os demais itens
contemplados no texto.
O item 1 – currículo: conceitos introdutórios – apresentou alguns conceitos importantes
sobre o currículo. Esse é um campo de estudo que convive com diferentes teorias e concepções. A
partir de uma visão crítica, é importante levar em consideração o que se ensina e aprende nas escolas,
para além dos métodos e técnicas necessários à transposição didática.
O item 2 – fundamentos legais da BNCC e do currículo no contexto escolar – detalhou como
esse tema é tratado na legislação educacional contemporânea, desde a Constituição de 1988 até o
Plano Nacional de Educação de 2014, detalhando, ainda, o percurso de construção da BNCC.
O item 3 – fundamentos pedagógicos da BNCC e do currículo no contexto escolar –
mencionou as dez competências que devem ser desenvolvidas ao longo da educação básica,
detalhando aspectos de cada uma das suas etapas. Discutiu, ainda, os chamados temas
contemporâneos, temáticas relevantes para a vida em sociedade e que devem ser trabalhadas de
modo transversal nos diversos componentes curriculares.
O item 4 – da BNCC aos currículos das redes e sistemas de ensino – abordou a questão da
definição de uma base comum para o País e de uma parte diversificada do currículo, essencial para
incluir as especificidades de cada região na vida escolar. Também retratou aspectos do importante
processo de elaboração dos referenciais curriculares pelos estados, Distrito Federal e municípios.
O item 5 – do currículo das redes e sistemas de ensino ao projeto político-pedagógico – focou
nesse essencial documento para a vida das escolas, no qual é feito um planejamento participativo
das atividades a serem realizadas ao longo do ano letivo. A sua (re)elaboração é um passo estratégico
da implementação da BNCC.
Por certo, neste texto, não foram esgotadas todas as questões envolvidas no processo de
produção da BNCC e do atual movimento em torno da elaboração dos currículos dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios. No entanto, foram incluídos conteúdos que retratam a
complexidade e relevância dessa temática. Um aspecto a destaca é que, em paralelo à elaboração de
todos esses documentos, outras políticas precisam ser formuladas e implementadas. É o caso da
formação dos professores da educação básica, seja a formação inicial, seja a formação continuada –
sobretudo neste momento. Sem que os professores estejam cientes e preparados par atuar neste novo
contexto, não haverá sucesso na materialização da reforma curricular proposta para o País. Os livros
didáticos, os exames nacionais, entre outras questões, também precisam ser revistos e reformulados,
de forma a se adequarem ao novo modelo proposto.
A aprovação da BNCC representa uma janela de oportunidade para que o Brasil garanta o
direito a uma educação de qualidade e igualitária para todas as crianças, os jovens e adultos do País.
Cabe aos profissionais da educação – dos gestores educacionais aos professores em sala de aula –
aproveitarem essa oportunidade.
64
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https://www.todospelaeducacao.org.br/
https://undime.org.br/
66
PROFESSOR-AUTOR
Jaana Flávia Fernandes Nogueira é licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do
Ceará (UECE), especialista em Gestão Pública pela Escola Nacional de Administração Pública
(ENAP), mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Educação pela
Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). É técnica em assuntos educacionais do
Ministério da Educação (MEC), desde 2005, estando licenciada atualmente. Atua como
coordenadora no Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais
(GDGPE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
Vinícius Farias Santos é licenciado em Português e Literatura pela Unigranrio, possui MBA
em Gestão Empresarial pela FGV e mestrado executivo em gestão empresarial pela FGV. É gerente
de novos negócios da FGV, professor de cursos do CADEMP, FGV, e professor (licenciado) de
Língua Portuguesa do Município do Rio de Janeiro.
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