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Resumo
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1 Introdução
Segundo Steele e Court (1996, p. 2), o processo de compras pode ser definido como a
contratação de terceiras partes para obtenção dos bens e serviços requeridos para o
cumprimento dos objetivos de negócios da organização, da maneira mais eficaz em termos de
prazos e custos. No setor público, de acordo com o que preconiza o Art. 2º Lei nº 8.666 de 21
de junho de 1993 (Lei de Licitações), as compras da Administração Pública, quando
contratadas com terceiros, serão precedidas de licitação, ressalvadas as exceções previstas no
mesmo diploma legal.
A Organização Federal cuja estrutura engloba o Centro de Aquisição em questão é
integrante da Administração Pública Federal Direta, estando submetida ao regime de compras
públicas, estabelecido na lei supracitada, no Decreto nº 10.520 de 17 de julho de 2002, no
Decreto nº 3.931 de 19 de setembro de 2001 e demais dispositivos da legislação pertinente.
De acordo com as suas normas internas para execução do abastecimento, o Sistema de
Abastecimento, doravante denominado SAb, é um subsistema integrante do Sistema de Apoio
Logístico. Constituído por órgãos responsáveis pela supervisão geral, técnica,
superintendência, direção e execução, o sistema tem seus recursos e processos, interligados e
interdependentes, estruturados de forma a prover, manter e controlar os materiais necessários
à manutenção de suas organizações em condições de plena eficiência.
O Centro de Aquisição (CAq) é o principal órgão de compra do SAb, com a atribuição
de exercer a atividade gerencial da obtenção, a qual compreende a pesquisa e seleção, tanto no
mercado nacional quanto no internacional, de fornecedores dos materiais necessários, bem
como a aquisição destes materiais e o seu diligenciamento. Após a aquisição, estes materiais
são estocados nos Centros de Distribuição, de onde são despachados para todo o território
nacional e eventualmente, para o exterior.
Em mais de 95% dos casos observados, a modalidade de licitação aplicável é o Pregão
Eletrônico, por ser adequada aos casos de aquisição de bens e serviços comuns (BRASIL,
2002). Na Organização Administrativa do CAq, ao Departamento de Aquisição cabe a
condução de todo o processo de compras. Este está dividido em gerências, às quais são
atribuídas as responsabilidades sobre as categorias específicas de materiais. Cada uma destas
gerências atua de forma estanque, conferindo aos processos um trâmite vertical, no qual o
gerente é o encarregado de receber a previsão das necessidades de material, determinada pelo
Órgão de Controle do SAb, e a partir de então, realizar a pesquisa preliminar de preços,
elaborar o termo de referência e o edital convocatório do certame licitatório, proceder a
execução de todas as fases internas e externas da licitação e posteriormente, mediante
solicitação do órgão de controle, providenciar a emissão das ordens de compra.
Portanto, é fácil depreender que o CAq, por ser o “coração” do SAb, está
constantemente sujeito à pressões externas, tanto por parte dos órgãos a que está subordinado,
quanto proveniente dos usuários do sistema. O fato de seguir procedimentos padronizados por
leis e normas faz com que alguns dos problemas observados em seus processos se tornem
crônicos. A ocorrência de falhas no cumprimento da missão do CAq interrompe o bom
andamento do fluxo logístico, prejudicando grande quantidade de órgãos que dele dependem.
Em face do exposto, justifica-se a realização desta pesquisa, tendo em vista a
necessidade do bom desempenho na atividade obtenção para garantir a manutenção das
tarefas da Organização como um todo. A contribuição esperada é a de traçarmos um
diagnóstico das causas das principais fontes de insatisfação apontadas pelos usuários e pelos
próprios componentes do SAb, e então, podermos sugerir a adoção de ações que promovam
um melhor funcionamento do sistema.
Assim, podemos identificar o CAq como sendo o objeto de nosso estudo. O presente
artigo teve como objetivo responder a seguinte questão de pesquisa: qual é a origem dos
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2 Metodologia
Esta pesquisa fez uso de dados obtidos diretamente de pessoas envolvidas nas
atividades do Sistema de Abastecimento, dando-lhe um caráter bastante prático. Por isso, ela
pode ser classificada como um estudo empírico (DEMO, 1994, p.37).
No que tange ao objetivo, segundo Gil (1996, p.45), trata-se o presente estudo de
pesquisa exploratória, que “... na maioria dos casos assume a forma de pesquisa bibliográfica
ou de estudo de caso...”
O levantamento bibliográfico foi realizado com vistas a construir os alicerces para a
pesquisa, conceituando os aspectos envolvidos no Processo de Raciocínio (PR), na “Theory of
Constraints-TOC” (Teoria das Restrições – tradução livre) e na utilização das ferramentas
lógicas conhecidas como Árvore da Realidade Atual (ARA), Diagrama de Dispersão de
Nuvem (DDN) e Árvore da Realidade Futura (ARF).
Com relação à abordagem do problema, a análise dos dados teve tratamento
qualitativo.
Por meio de entrevistas realizadas com servidores que exerceram funções no CAq,
bem como no órgão de controle (Centro de Controle de Estoque), e em órgãos de distribuição
(Centros de Distribuição) e órgãos clientes do SAb, isolamos os nove problemas mais
comumente mencionados e observamos como eles se relacionam entre si. Então, utilizamos as
técnicas da TOC para identificarmos a origem destes sintomas negativos, segundo relações de
causa-efeito, permitindo finalmente a proposição de sugestões para seu aperfeiçoamento.
Foi utilizado, portanto, o estudo de caso concreto como método de pesquisa social
empírica. Este método científico permite a realização de levantamentos, observações e
experimentos, fornecendo conhecimentos sobre opiniões, atitudes, crenças e percepções dos
agentes ou pacientes do processo (CAMPOMAR, 1991).
3 Plataforma Teórica
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b) Decisão sobre como explorar as restrições do sistema – neste estágio, define-se as ações
que maximizem o desempenho do sistema, tendo em vista a existência da restrição;
c) Subordinação das demais ações à forma escolhida para explorar as restrições – segundo
Guerreiro (1999), os recursos que não representem restrições devem ser empregados na
medida exata demandada pela forma empregada de exploração das restrições;
d) Elevação das restrições do sistema – com o objetivo de elevar a capacidade do recurso com
restrição; e
e) Se num passo anterior uma restrição foi quebrada, volte à primeira etapa. A inércia não
deve causar restrições no sistema – Após a etapa d), o ciclo deve ser reiniciado a partir da
etapa a).
Mercado; Pessoas;
Físicas Materiais; e Máquinas
Restrições
Normas; Procedimentos; Práticas
Políticas usuais e cotidianas.
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aprimorando com o passar dos anos, revelando novas perspectivas para os problemas e,
muitas vezes, soluções de senso comum que trazem vantagem competitiva para os negócios.
O PR pode ser usado para resolução de restrições físicas, mas é especialmente
indicado para suplantar problemas advindos das restrições políticas, uma vez que sua
identificação é mais trabalhosa, pois não são tão visíveis e óbvias (NOREEN et al, 1996,
p.49). Conforme Goldratt (apud Dettmer, 1997), as 5 ferramentas do Processo de Raciocínio
são a Árvore da Realidade Atual (ARA), Diagrama da Dispersão de Nuvem (DDN), Árvore
da Realidade Futura (ARF), Árvore de Pré-Requisitos (APR) e Árvore de Transição (AT). Em
consonância com o objetivo estipulado no item introdutório, neste trabalho, consideraremos
apenas as três primeiras citadas.
c) Identificar relações de causa e efeito entre os EI, utilizando a lógica socrática “se-então”,
determinando quais deles dão causa aos demais, que são efeitos;
e) Dispor os elementos em diagrama como uma árvore, de forma que, sequencialmente, uns
EI “causem” os demais, de baixo para cima. Deve-se observar se a árvore reflete a intuição
sobre a área objeto do estudo. Caso necessário, a árvore deve ser expandida, ou eliminada
qualquer entidade desnecessária;
f) A árvore deve ser verificada por um conhecedor do processo. Para Noreen et al (1996, p.
160), este deverá ler toda a árvore, de baixo para cima, e sempre que uma entidade ou flecha
não ficar clara, deve ser usada uma das sete categorias das “ressalvas legítimas” abaixo:
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g) Por fim, localizar a causa-raiz, que dá origem a aproximadamente 70% dos EI,
para a qual vai se procurar a solução. A causa-raiz localizar-se-á na base da árvore.
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Então...
Se... Se...
Figura 3. ARA
De acordo com Cogan (2007, p. 291), o DDN é usado para identificar o conflito
principal que está acarretando a restrição na organização. Portanto, seu objetivo é responder a
questão “para o quê mudar?” Ele é constituído de um objetivo (que deve ser o oposto do
problema-raiz), necessidades (condições essenciais para a obtenção do objetivo) e pré-
requisitos (condições que definem as necessidades do conflito).
O pressuposto desta ferramenta é considerar que algum conflito existe, pois caso
contrário, uma solução simples certamente já teria sido implementada pelos gestores. Partindo do
objetivo desejado para solucionar o problema-raiz, são desenvolvidas novas políticas para
resolução do conflito. O DDN procura atender aos seguintes objetivos Segundo Dettmer (apud
Cogan 2007, p. 176):
Requisito B Pré‐Requisito D
Conflito
Objetivo A
Requisito C Não D
Injeção
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Ocasionalmente, podem surgir ramos negativos, que são EI, desenvolvidos na ARF,
resultantes de uma injeção. Tratam-se dos efeitos colaterais das ideias que estão sendo
introduzidas no sistema. Estes novos EI demandarão então novas injeções secundárias ou
adicionais, a fim de eliminar os seus resultado negativos (COGAN, 2007, p. 293).
4 O caso do CAq
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A falta de recursos financeiros implica a falta de pessoal, pois não há recursos financeiros
para pagar mão de obra adicional. Por sua vez, com menor força de trabalho, a preparação e
condução das licitações torna-se mais demorada. Caso os processos de aquisição não sejam
concluídos em tempo hábil, a demanda contínua por material pode levar à quebras de estoque
de determinados itens.
A falta de recursos financeiros ocasiona a redução das quantidades de materiais
comprados. Se estas quantidades forem insuficientes para fazer frente à demanda, poderá
haver quebra de estoques.
A falta de recursos financeiros implica a falta de pessoal, o que pode provocar falhas nos
processos, como erros de especificação dos materiais a serem comprados, gerando a
aquisição de alguns itens de baixa qualidade. Outra possibilidade é a realização deficiente
das pesquisas de preços, provocando compras de itens com preços acima do mercado.
Pela análise das relações acima, observamos que as “restrições legais inerentes às
compras públicas” podem ser consideradas como o problema-raiz, por estar relacionado à
71,43% dos demais EI. Assim, os esforços devem ser empreendidos no sentido de contornar
este sintoma negativo.
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Se C então Não-D – Para reduzir as restrições não deve ser utilizada Consultoria
Jurídica Interna.
Pressuposto: Não usando Consultoria Jurídica Interna reduzem-se as restrições.
Injeção – Não utilizar Consultoria Jurídica Interna.
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Figura 7. EI x ED
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O CAq conta hoje com apenas um servidor, com grau de bacharel em Direito, em seu
efetivo.
No entanto, tendo em vista a grande quantidade de licitações executadas, é provável
que a estrutura atual seja insuficiente para viabilizar a adequada análise jurídica de todos os
processos. Entendemos que a efetivação de um núcleo de consultoria jurídica dentro do
próprio órgão careceria de um aparelhamento do setor com mais recursos, principalmente,
mão de obra especializada.
Por outro lado, a fórmula atualmente utilizada vem apresentando algumas limitações.
As minutas dos editais dos processos licitatórios, após elaborados pelas gerências de material,
e verificados pela chefia do Departamento de Aquisição, são encaminhadas fisicamente para o
setor jurídico da Diretoria de Administração, que atua como consultoria jurídica interna, e se
localiza a uma distância de aproximadamente 25 km. O tempo médio para a restituição do
processo, acompanhado do parecer jurídico, é de aproximadamente uma semana.
Feitas as devidas alterações, o processo segue para a Consultoria Jurídica Externa
(CJE), pertencente a uma outra Organização Federal, onde permanece por aproximadamente
duas semanas, até o regresso com as observações sobre as alterações a serem feitas.
Verificamos que muitas vezes, as alterações formais e procedimentais sugeridas pela
consultoria interna não são compatíveis com as sugestões da CJE. Além das questões
relacionadas à hermenêutica dos textos legais, que naturalmente, já apresentam discussões de
pontos não pacificados pela jurisprudência, as diferenças culturais entre os órgãos envolvidos
também contribuem para gerar estes choques.
Entretanto, tendo em vista que obrigatoriamente, por determinação legal, o CAq tem
que submeter seus processos à análise jurídica da CJE, a princípio, pode-se inferir que a
avaliação da consultoria interna poderia ser dispensável, pois mesmo que não concordando
com as análises da CJE, o ponto de vista desta prevalecerá.
Assim, eliminando-se a consultoria interna, o trâmite de documentos seria mais
rápido; as restrições devido à formalidades seriam reduzidas ao mínimo essencial; haveria
menor incidência de erros devido à diferenças culturais entre órgãos envolvidos na
interpretação legal, representando economia de recursos financeiros; e proporcionaria maior
disponibilidade de pessoal, resultando em melhor execução dos processos licitatórios, já que o
tempo e o material para a preparação de documentação a fim de atender às exigências das
consultorias seriam poupados.
A extinção da prática de utilização da consultoria jurídica interna teria que ser objeto
de avaliação por parte da alta administração da Organização Federal, para que a aceitabilidade
desta ação fosse devidamente estudada. Por tratar de aspectos estratégicos, pela subjetividade
do exame a ser realizado, e por ser uma sugestão hipotética, a questão da aceitabilidade da
injeção não foi aprofundada neste trabalho.
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6 Considerações Finais
Como foi demonstrado neste artigo, as ferramentas ARA, DDN e ARF, utilizadas no
plano da “Theory of Constraints”, são eficazes instrumentos na diagnose de “patologias
organizacionais”.
A partir de relatos de pessoas envolvidas no sistema em que se insere o CAq, bem
como do estudo do fluxo de obtenção do SAb, foi possível identificarmos os principais efeitos
indesejados atualmente existentes, e responder a questão de pesquisa proposta na introdução,
sugerindo ações que poderiam ser implementadas na tentativa de solucionar o conflito e
aperfeiçoar o processo.
Porém, a efetiva adoção das propostas elencadas neste trabalho, especialmente em
órgãos onde a cultura está tão rigidamente enraizada na estratégia, depende da
“desaprendizagem” parcial ou esquecimento da lógica dominante anterior (BETTIS e
PRAHALAD, 1995, apud MINTZBERG et al, 2000).
Devemos ter em mente que, não obstantes os aspectos culturais, segundo a escola
ambiental de estratégia, a organização precisa responder às forças do meio externo,
adaptando-se às mudanças, sob pena de ser “eliminada”. Ainda, embora algumas das decisões
em nível estratégico sejam discricionárias, , “a liderança torna-se um elemento passivo para
fins de ler o ambiente e garantir uma adaptação adequada pela organização” (MINTZBERG et
al, 2000).
Tendo em vista a versatilidade das possíveis aplicações do Processo de Raciocínio da
TOC, sugerimos a realização de novos estudos aplicando este método, inclusive considerando
o seu uso também em sistemas atípicos.
7 Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o Art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e
dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 22 jun. 1993. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm>. Acesso em: 04 fev. 2013.
COGAN, Samuel. Contabilidade Gerencial: uma abordagem da teoria das restrições. São
Paulo: Saraiva, 2007.
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GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª ed. São Paulo, SP: Atlas, 1996.
GUERREIRO, Reinaldo. A meta da empresa: seu alcance sem mistérios. São Paulo: Atlas,
1999.
NOREEN, Eric; SMITH, Debra; MACKEY, James T. A teoria das restrições e suas
implicações na contabilidade gerencial. São Paulo: Educador, 1996.
STEELE, Paul T.; COURT, Brian H. Profitable purchasing strategies: a manager`s guide for
improving organizational competitiveness through the skills of purchasing. London:
McGraw-Hill, 1996.
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