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INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA DE GOIÁS - IFITEG

CURSO DE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA (BACHARELADO)


DISCIPLINA: FENOMENOLOGIA DA RELIGIÃO
PROFESSOR: Me. Hébert Vieira Barros
ACADÊMICO: José Arnóbio Almeida Leite

ELIADE, Mircea. A Estrutura dos Mitos. Grandeza e Decadência dos Mitos. In: Mito e
Realidade. Tradutor: Pola Civelli. 6a edição. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A, 1972,
p. 7-23, 123-128.

Neste texto, retirado dos capítulos I e VIII da obra supracitada, o autor explicita
a compreensão do mito na Antiguidade, seu apogeu, sua evolução e sua
degradação, a partir de uma investigação de como o mito foi sendo transformado, i.é.,
reinterpretado e reelaborado, por pensadores e historiadores, sempre enfocando a
influência cultural que os mesmos exerceram nas sociedades arcaicas até chegar à
hodierna.
Foi imprescindível para os eruditos ocidentais do inicio do século XX resgatar o
sentido original do termo mito, pois o vocábulo havia sido impregnado por
significados equivocados à medida que os estudiosos deixaram de o compreender da
maneira como as sociedades arcaicas; para estas o mito representa uma historia
verdadeira, uma revelação primordial, uma tradição preciosa por seu timbre sagrado,
seu modelo exemplar da criação no princípio e de todas as atividades humanas, além
de ter um valor religioso e metafísico, quiçá comportamental já que normatizava as
práticas profanas individuais e coletivas. Para aquelas sociedades, o mito era uma
instituição viva. Vale relatar aqui o fato de que o mito não seria uma fábula, que
significa história falseada a relatar acontecimentos que não interferiam com a
natureza humana. Logo a transformação do significado de mito se inicia na Grécia
Antiga com Xenófanes (565-470), não aceitou mais as acepções míticas das
divindades gregas relatadas por Homero e Hesíodo, iniciando o embate mithos-logos
e a sua denotação para ficção, fábula, invenção, ou tudo aquilo que não pode existir
realmente. Com a vitória da religião cristã, o mito perdeu qualquer validação pois não
estava contido na Bíblia. Enquanto para as sociedades arcaicas, o mito revela um
tempo homogêneo de rememoração cíclica da criação, o homem moderno perdeu o
contato com a história sagrada passando a ser orientado pela uma história profana de
fatos irreversíveis. O mito vivido funciona como uma verdadeira experiência religiosa
na medida em que foge do quotidiano ordinário e leva à comunicação com os entes
sobrenaturais do mundo transfigurado, e satisfaz a profundas necessidades
religiosas, morais, sociais e de labor. Neste enfoque, o mito transmite os valores
axiais, absolutos, ou paradigmas recebidos dos ancestrais para guiar todas as
atividades humanas, conferindo-lhes uma existência sagrada, sempre reatualizada
nos ritos, que nada mais são que a repetição do fixo e duradouro no universo; trata-
se de uma janela transcendental que ao mesmo tempo não só abole o tempo profano
e recupera o tempo sagrado mas também permite ao homem se sentir presente no
período primordial, fazendo-o seguro de suas façanhas e sem dúvidas quanto aos
resultados. De certa forma o ritual permite a aplicação da linguagem do mundo que é
formada por símbolos, imprescindíveis para que o mundo deixe de ser uma massa
amorfa (caos) e se transforme no cosmo.
O mito revela a realidade primordial cujo conhecimento dá sentido aos ritos e à
moral e indica a forma de executar as atividades tal como os deuses as realizaram.
Esta coparticipação do homem deixa o mundo apreciável, inteligível, mais confortável
e explorável, quer dizer um mundo aberto sem deixar de ser misterioso quanto à
natureza ontológica original. E a comunicação do homem com o mundo ocorre pela
linguagem do símbolo.

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