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Bioquímica Clínica

A química clínica tem como função principal fornecer informações bioquímicas


sobre o paciente.

Os testes bioquímicos são muito usados em medicina quer em doenças:


• Em que as alterações se devem patologias metabólicas (diabetes,
hipotiroidismo)
• Em que as alterações são uma consequência da patologia (falha renal, má
absorção).

Pode situar-se a a Bioquímica Clínica em medicina da seguinte maneira:

História do doente
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Exame clínico
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Serviços de diagnóstico
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| Radiografias Testes fisiológicos, electrocardiogramas,
| electroencefalogramas, função pulmonar
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Serviços Laboratoriaias
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| Hematologia | | Histopatologia
| Microbiologia Imunulogia
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Bioquímica Clínica
(1/3 de toda a investigação laboratorial)
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Doseamentos bioquímicos de rotina | |
Doseamentos especiaias |
Doseamentos urgentes

Os testes de rotina mais frequentes:


Sódio, potássio, cloretos, bicarbonato
Ureia e creatinina
Cálcio e fosfatos
Proteínas totais e albumina
Bilirrubina, fosfatase alcalina, alanina aminotransferase (ALT), aspartato
aminotransferase (AST)
γ –glutamiltranspeptidade (γ- GT)
Creatinina cinase
Gases no sangue (H +, PCO2, PO2 )
Glucose
Amilase
Colesterol
Triglicerideos
HDLcolesterol
LDLcolesterol

Testes especiais
Hormonas
Proteínas específicas
Oligoelementos
Vitaminas
Doseamento de medicamentos
Analise de DNA

Testes urgentes
Amilase
Glucose
Electrólitos
Creatinina
Urea

Como podemos constatarum determinado doseamento pode ser usado como teste de
rotina ou como um teste em que seja necessário obter uma resposta urgente , visto que
o resultado do doseamento ira condicionar a intervenção do clínico.

Os testes bioquímicos são usados:

No diagnóstico:
Confirmando ou rejeitando o diagnóstico clínico baseado na historia clínica e
sinais clínicos observados pelo médico no paciente.

No prognostico :
O doseamento da creatinina sérica no caso de doença renal indica a altura em
que é necessário executar a diálise.
Alguns testes podem indicar o risco de desenvolver determinada patologia:
concentrações elevadas de colesterol estão associadas ao aparecimento de doença
cardiovascular.
No entanto convém não esquecer que este risco é obtido a partir de estudos
epidemiológicos não fornecendo indicações rigorosas para um indivíduo em
particular.

Na monitorização:
Da progressão da doença ou da resposta ao tratamento (doseamento da
hemoglobina glicosilada num indivíduo diabético).

Na detecção de complicações no tratamento (aparecimento de hipocalémia


durante o tratamento com diuréticos)

Na detecção de toxicidade dos medicamentos, quer nos ensaios clínicos quer


após serem comercializados.

No Rastreio (“Screening”)
De doenças sub clínicas como a quantificação da fenilalanina para a detecção de
crianças com fenilcetónuria (doença autossomica recessiva, causada pela
deficiência da fenilalanina hidrixilase que converte a fenilalanina em tirosina.
Tem uma incidência de 1 em cada 10.000 nascimentos na população caucasiana)..
Uma dieta pobre em fenilalanina reduz substancialmente o atraso mental nas
crianças e permite um desenvolvimento mental normal..

Portanto, resumindo, podemos resumir a utilidade dos testes bioquímicos:

Diagnóstico Tratamento

Investigação Resultados Prognóstico


Bioquímicos

Ensaio de novos Rastreio


Medicamentos

Actualmente a maioria dos testes bioquímicos são realizados por


autoanalizadores, porém o desenvolvimento científico obriga muitas vezes a
introdução de técnicas executadas por “kit” comercial ou técnicas executadas
manualmente.

Em Bioquímica Clínica existem mais de 400 testes diferentes que podem ser
solicitados, sendo por isso recomendável que os ensaios não executados com
frequência sejam encaminhados para laboratórios que os utilizem frequentemente.
Este procedimento garante a execução correcta do doseamento, trazendo, também,
benefícios económicos.
O melhor conhecimento da doença e os avanços na metodologia analítica
obrigam a introdução de novos testes ou para complementar ou substituir os já
existentes.

As pessoas que trabalham no laboratório clínico deverão ter os conhecimentos


necessários para a correcta execução das diferentes metodologias, assim como
saberem interpreta os resultados obtidos e aconselhar os pacientes sempre que seja
necessário.
A análise bioquímica deve fornecer, sempre que possível, resposta à questão
colocada pelo clínico em relação ao paciente. As vezes esta resposta obtém -se
com a execução duma analise, outras vezes será necessário recorrer a novas
análises.

Amostra
Para se poder fornecer resultados exactos é necessário que a amostra seja
correctamente obtida e acompanhada de todas as indicações necessárias de forma
a evitar erros administrativos ou atrasos no caso de ser necessário a obtenção de
nova amostra ou o esclarecimento de qualquer dúvida por parte do clínico.
Devendo o pedido da análise referir:
• Nome do doente
• Sexo
• Data de nascimento
• Nome do clínico que requere a análise
• Contacto telefónico do clínico que requere a análise
• Possível diagnóstico clínico
• Testes pedidos
• Tipo de espécimen
• Data e hora em que a amostra foi obtida
• Se o doente estiver medicado referir a medicação

Os medicamentos podem interferir no processo analítico in vitro ou podem causar


alterações in vivo que sugiram a presença de patologia:
• A vitamina C interfere negativamente no doseamento da glucose sanguínea,
usando o método da glucose oxidase.
• Os salicilatos interferem positivamente no doseamento da glucose sanguínea,
usando o método da glucose oxidase e hexiquinase.
• Os estrogéneos aumentam a concentração da tiroxina total.
Não se pode esquecer que concentrações alteradas de constituintes normais no sangue
também podem interferir:
• Triglicerideos na concentração de 285 mg/dl interferem negativamente no
doseamento da lipoproteína (a)
• Bilirrubina na concentração de 0,26 mg/dl interferem positivamente no
doseamento da lipoproteína (a).

As amostras usadas nos laboratórios de Bioquímica Clínica são:


• Sangue venoso
• Soro
• Plasma
• Sangue arterial
• Urina
• Fezes
• Líquido cérebro espinal
• Expectoração
• Saliva
• Tecidos e células
Fluído pleural
Ascites
• Aspirados Fluído sinovial
Intestino (duodeno)
Pancreático

Os resultados laboratoriais são afectados por factores analíticos e factores biológicos

Se a evolução da tecnologia tem permitido obter cada vez menor coeficiente de


variação analítica, por muito boa que seja a tecnologia usada , doseamentos repetidos
no mesmo individuo tomam sempre a forma duma distribuição gaussiana.
Define-se coeficiente de variação (CV) de doseamentos repetidos a razão do desvio
padrão ( σ ) a dividir pela média (x) dos doseamentos repetidos e multiplicado por
100.
CV = σ/ m x 100

As condições de obtenção da amostra devem estar rigorosamente padronizadas, mas


essa padronização não elimina os factores biológicos que afectam os resultados
analíticos e que são:
• Sexo (creatinina sérica, ácido úrico sérico, ferro sérico)
• Idade (fosfatase alcalina, lactato desidrogenase)
• Stress e ansiedade (prolactina)
• Altura da colheita da amostra (catecolamina)
• Postura do paciente (proteínas totais, cálcio)
• Efeito do exercício físico (creatinina cinase, HDLcolesterol)
• Gravidez (tiroxina)

Em 1967 os valores recomendados para o colesterol total eram:

Idade Valor de referência (mg/dl)


0-19 120-230
20-29 120-240
30-39 140-270
40-49 150-310
50-59 160-330

Defeitos genéticos dos receptores de LDL:

- O receptor não é sintetizado: o gene dos indivíduos portadores desta alteração não
produz ou produz apenas vestígios da proteína receptora de LDL.

- Mutação do gene: o receptor é sintetizado mas o transporte do retículo


endoplásmatico para o aparelho de Golgi é lento.

- Mutação do gene: os receptores são sintetizados e posicionam-se na superfície


celular, contudo não tem capacidade de reter as LDL.

- Mutação do gene: os receptores posicionam-se na superfície celular e retém as LDL,


mas não permitem a interiorização das partículas de LDL.

Quando os receptores de LDL se saturam, a taxa de remoção de LDL é proporcional


ao número de receptores; e quando o número de receptores está reduzido, as
concentrações de LDL plasmáticas aumentam.
A diferença obtida é significativa?

Quando se obtém dois resultados diferentes no mesmo paciente, o clínico deve decidir
se a diferença obtida entre os resultados é estatisticamente significativa, o que
dependerá da precisão do método e da variação biológica do parâmetro analisado.

Deve calcular-se o desvio padrão do teste (SD) = (SDA2 +SDB2)

Se a diferença entre os dois resultados obtidos no paciente for superior ao valor obtido
do cálculo de:

2,8 (SDA2 +SDB2)

Pode considerar-se que há diferença significativa entre os dois resultados

A variação analítica obtém-se por determinações repetidas da mesma amostra


controlo, calculando-se posteriormente a respectiva média e desvio padrão (SDA2)

A variação biológica obtém-se por determinações repetidas durante 10 semanas (uma


por semana), num grupo de indivíduos saudáveis, calculando-se posteriormente a
respectiva média e desvio padrão.

Doseamento Variação analítica Variação biológica


Sódio 1,1 mmol/L 2,0 mmol/L
Potássio 0,1 mmol/L 0,19 mmol/L
Bicarbonato 0,5 mmol/L 1,3 mmol/L
Urea 0,4 mmol/L 0,85 mmol/L
Creatinina 5,0 µmol/L 4,1 µmol/L
Cálcio 0,04 mmol/L 0,04 mmol/L
Fosfato 0,04 mmol/L 0,11 mmol/L
Proteínas totais 1,0 g/L 1,66 g/L
Albumina 1,0 g/L 1,44 g/L
Transaminase
Aspartato 6,0 UI/L 8,0 UI/L
Fosfatasse alcalina 4,0 UI/L 15,0 UI/L
Caso clínico

Um doente diabético e hipertenso realizou o doseamento da creatinina e obteve um


resultado de 105 µmol/L. Seis meses depois repetiu o doseamento da creatinina e
obteve um resultado de 118 µmol/L, paciente ficou alarmado e consultou o clínico
que o tranquilizou baseado nos seguintes cálculos:

A variação analítica (SDA2) para a creatinina é 5,0 µmol/L

A variação biológica (SDB2) para a Creatinina é de 4,1 µmol/L

2,8 (52 +4,12) = 18 µmol/L

118-105=13

13<18 portanto não existe diferença significativa entre os dois resultados e o doente
voltou tranquilo para casa.
Com os resultados obtidos em 25 determinações de glucose no soro controlo trace a
respectiva carta de controlo

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