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SAÚDE
ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE CÃES E
GATOS
Copyright © Portal Educação
180p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-661-7
CDD 636.0852
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................3
2 FISIOLOGIA DIGESTIVA COMPARADA DE CÃES E GATOS ................................................6
2.1 Comportamento alimentar de cães e gatos ..........................................................................22
2.2 Particularidades nutricionais dos felinos ..............................................................................26 2
3 ENERGIA E NUTRIENTES .......................................................................................................30
3.1 Protocolo mínimo para a determinação da energia metabolizável a partir de ensaios
com animais ......................................................................................................................................33
3.2 Determinação de energia metabolizável de um alimento a partir do uso de equações
de predição .........................................................................................................................................41
3.3 Densidade energética..............................................................................................................47
3.4 Excesso e deficiência energética ...........................................................................................49
3.5 Água .........................................................................................................................................50
3.6 Proteína ....................................................................................................................................65
3.7 Lipídeos ....................................................................................................................................73
3.8 Carboidratos ............................................................................................................................77
3.9 Minerais ....................................................................................................................................80
3.10 Vitaminas..................................................................................................................................89
4 NUTRIÇÃO E MANEJO ALIMENTAR DE CÃES NAS DIFERENTES FASES DA VIDA ........96
4.1 Cães e gatos neonatos............................................................................................................96
4.2 Filhotes em crescimento........................................................................................................102
4.3 Necessidades energéticas e de nutrientes ..........................................................................109
4.4 Animais em reprodução, gestação e lactação .....................................................................115
4.5 Animais em manutenção .......................................................................................................126
4.6 Animais atletas .......................................................................................................................134
4.7 Animais senis .........................................................................................................................137
5 OS ALIMENTOS ......................................................................................................................141
5.1 Alimentos comerciais para cães e gatos..............................................................................141
5.2 Ingredientes utilizados na formulação de rações comerciais ............................................154
5.3 Dietas caseiras para cães e gatos.........................................................................................162
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................168
1 INTRODUÇÃO
A B
Figura 1- Trato gastrointestinal. (A) cão e (B) gato. National Research Council (2006)
Desde o momento em que o alimento entra na cavidade oral até que os resíduos
indigeríveis deixem o corpo, o alimento está continuamente sujeito aos movimentos que o
degradam e garantem sua efetiva mistura com os sucos digestivos. A apreensão, a mastigação,
a salivação e deglutição formam a primeira parte desse processo e constituem uma seqüência
ordenada de eventos que resultam no bolo alimentar misturado com a saliva que penetram no
estômago. Concomitantemente à ação mecânica, ocorre a secreção de eletrólitos, água e
enzimas digestivas; esta é um processo ativo com requerimento energético controlado por 7
sistema neuroendócrino. As glândulas salivares, o estômago, o pâncreas, o fígado e o intestino
são capazes de secretar grandes quantidades de volumes líquidos próprios.
Os agentes extracelulares que iniciam os processos secretórios ativos são os
neurotransmissores do sistema nervoso autônomo e os hormônios gastrointestinais. Os
estímulos centrais ou reflexos promovem aumento na liberação desses agentes que ativam o
sistema por ocupação de receptores específicos sobre as membranas celulares. Os mecanismos
intracelulares são ativados e efetuam uma resposta coordenada que conduz à secreção de
enzimas ou íons pelas células alvo.
Essas funções motoras e secretórias são realizadas pelos órgãos ao longo de sua
passagem pelo trato digestivo. A seguir, a descrição das principais alterações sofridas pelo
alimento, em cada órgão do sistema digestório, durante o processo de digestão.
Boca: A digestão começa nesse órgão, através do qual os alimentos são introduzidos
no organismo animal, iniciando a mastigação física e os misturando com saliva. Esse
desdobramento em partículas menores e o conseqüente umedecimento são de suma
importância para a posterior digestão nos compartimentos seguintes; os dentes, a língua e a
saliva são extremamente importantes nesse processo. Comparados com as numerosas espécies
ruminantes e herbívoras, que mastigam completamente o seu alimento, cães e gatos usualmente
deglutem grandes bolos de comida com pouca ou nenhuma mastigação. No entanto, o exame
dos dentes de ambos revela importantes diferenças entre as duas espécies: a boca dos cães
apresenta mais pré-molares quando comparada à dos gatos, o que indica maior mastigação e
esmagamento do alimento, devido à dieta mais onívora destes.
A língua realiza a apreensão, a mistura e a deglutição e é nela que se encontram as
papilas gustativas, responsáveis pelo paladar. As glândulas salivares (parótidas,
submandibulares, submaxilares, sublinguais e zigomática) secretam a saliva durante a
mastigação do alimento e sua composição varia entre as glândulas e com a taxa de fluxo salivar,
sendo que as submaxilares e sublinguais secretam grandes quantidades de muco e as parótidas
secretam um fluido seroso. Os maiores íons inorgânicos presentes na saliva são sódio, potássio
e cloreto, derivados do plasma e, bicarbonato, secretado pelas células glandulares.
Quando há um alto fluxo salivar, a saliva que é liberada na boca dos animais tem
osmolaridade e relação sódio/potássio similar, mas uma relação bicarbonato e cloreto e pH
menor que o do plasma.
No baixo fluxo, as atividades de absorção das células das glândulas salivares 8
reduzem a osmolaridade, a relação sódio/potássio, as concentrações de cloreto e bicarbonato e
o pH da saliva. O pH da saliva dos cães varia entre 7,34 e 7,80, enquanto que no gato é cerca
de 7,5. Como em muitas espécies, em cães e gatos falta a enzima -amilase que iniciaria o
processo de digestão do amido.
Dentre as funções da saliva podem ser destacadas a capacidade de lubrificação da
cavidade oral, facilitando a deglutição; o estímulo dos receptores do paladar pelos diferentes
compostos encontrados nos alimentos; o controle da população bacteriana da cavidade oral por
inibição do crescimento de algumas bactérias (pela presença de lisozimas, que causam a lise
bacteriana; lactoferrina, que remove o ferro livre da saliva necessário para o crescimento de
algumas bactérias e sialoperoxidase, que oxida o tiocianato em hipotiocianato, um potente
agente antibacteriano) e o estímulo para o crescimento de outras. Além de termorregulação
(através de estimulação parassimpática que leva a uma secreção de saliva cerca de 10 vezes
maior do que em humanos).
Após sofrer esses processos na boca, o alimento está pronto para seguir até o
estômago e inicia-se o reflexo da deglutição. Este é o primeiro reflexo no sistema digestório e
consiste em uma seqüência de eventos ordenados que promovem o deslocamento do alimento
da boca até o estômago, inibindo, ao mesmo tempo, a respiração, e impedindo dessa forma, a
entrada do alimento na traquéia. Este reflexo se inicia pela ativação dos mecanorreceptores,
principalmente aqueles situados na abertura da faringe. Estes emitem sinais até centros
localizados no bulbo e ponte, no tronco encefálico, os quais recebem a denominação de “centro
da deglutição”. Desse centro partem impulsos motores até a musculatura da faringe e esôfago
superior, via nervos cranianos.
Após a fase oral ou voluntária da deglutição dá-se início ao estágio faríngeo. Nesse
processo, o palato mole é puxado para cima, e as dobras palatofaríngeas movem-se para
dentro, em direção uma à outra. Isso impede o refluxo do alimento para a nasofaringe e forma
uma passagem estreita, através da qual o alimento se move para a faringe. A epiglote cobre a
abertura da laringe, que é movida para cima, impedindo a entrada do alimento na traquéia. O
esfíncter esofágico superior relaxa para receber o bolo alimentar. Então, os músculos
constritores superiores da faringe contraem-se fortemente, empurrando o bolo. Uma onda
peristáltica é então iniciada e o alimento move-se em direção ao esôfago através do esfíncter
esofágico superior relaxado, o qual se contrai reflexamente após a passagem do bolo alimentar.
Inicia-se a fase esofágica da deglutição, que se caracteriza por uma onda peristáltica que
começa logo abaixo do esfíncter esofágico superior, indo até o esfíncter esofágico inferior. Este 9
último relaxa em função da ação de fibras vagais que são inibitórias para o músculo circular.
(A) (B)
Assim para cada íon H secretado para o lúmen, difunde-se um íon HCO3 para o
sangue, em troca de um cloro. Essa alcalose metabólica que ocorre durante a secreção ativa
após alimentação é conhecida como maré alcalina (figura 4).
12
Figura 4- Um possível mecanismo para a secreção de HCl pela célula gástrica parietal. Os íons
H e HCO3 formados pela degradação de ácido carbônico são transportados através de
membranas opostas por um processo ativo (H) que necessita de energia e por um mecanismo
de co-transporte (HCO3). Transporte ativo mediado por carreador; transporte mediado
por carreador; ↔ difusão passiva. Adaptado de Swenson e Reece, 1996.
Figura 5- Acetilcolina (ACh), histamina e gastrina estimulam, todas, a secreção HCl. A ação da
ACh ou da gastrina é potencializada pela histamina, a qual está sempre presente em certo grau
nas extremidades da célula parietal. Na presença de bloqueador de receptor de histamina, a
ACh ou a gastrina eliciam respostas apenas fracas. Conseqüentemente, o bloqueio dos
receptores colinérgicos com atropina ou dos receptores de gastrina com proglumida seria menos
efetivo do que aquele com cimetidina para inibir a secreção de HCl. Adaptado de Swenson e
Reece, 1996.
As enzimas presentes em maior concentração no lúmen do estômago do cão são a
pepsina e a lipase. A lipase em pH 4 é cerca de 13 vezes mais ativa nos triacilglicerídeos de
cadeia longa do que nos de cadeia curta. É irreversivelmente inativada em pH abaixo de 1,5 ou
acima de 7,0. Comparada à lipase pancreática, a lipase gástrica tem uma importância muito
menor no metabolismo dos lipídeos, mas auxilia na formação de micelas. Já a pepsina tem uma
atividade ótima em pH 2 mantido pela secreção do ácido clorídrico e é influenciada por
hormônios, tal como o ACTH, sendo inativada em pH neutro. Como essa enzima é mais ativa 14
quando os animais ingerem colágeno, ela é mais ativa na digestão de carnes do que de fontes
de proteína vegetal.
A secreção gástrica é influenciada pela quantidade de proteína da dieta, pela
quantidade de alimento e por hormônios que indiretamente afetam os conteúdos ácidos do
estômago. No cão, a resposta do pH gástrico varia de acordo com a dieta ingerida e com a
capacidade tampão do alimento. Após a ingestão de uma dieta líquida, pode haver queda para
menos que 4 entre 10-20 minutos.
Com uma dieta à base de carne, uma queda para pH 6,0 pode ser verificada após 60
minutos. Já o pH médio do estômago do gato é 2,5. A taxa de esvaziamento gástrico é afetada
pelo volume estomacal, conteúdo de energia, viscosidade, densidade e tamanho das partículas,
temperatura, peso corpóreo, quantidade de ácido no duodeno, ingestão de água, quantidade de
alimento por refeição e tipo de dieta. Para cães, a média de tempo para ocorrer metade do
esvaziamento gástrico varia entre 72-240 minutos e para gatos varia entre 22-25 (estado
acelerado) a 449 minutos (quando alimentados com dietas úmidas).
Pelas características biológicas citadas, a flora autóctone tende a ser estável quanto às
espécies bacterianas e número de colônias ao longo do tempo, acompanhando o indivíduo
durante toda a vida. Algumas bactérias patogênicas autóctones podem viver em harmonia com
os seus hospedeiros, tornando-se patogênicas apenas quando o ecossistema é prejudicado de
alguma forma. Da mesma forma, espécies que são autóctones para o trato gastrointestinal de
um determinado animal pode ser alóctone para outro.
Figura 6- Microbiota canina. (A) Em um estudo em cães pastores, os grupos bacterianos foram
isolados por plaqueamento e confirmados por eletroforese em gel. (B) Grupos bacterianos
isolados de estudo com um cão Labrador. Os números na escala correspondem à escala
logarítmica Fonte: Rastall (2004).
22
Cães
Quanto às preferências, cães normalmente optam por alimentos úmidos aos secos,
alimentos secos extrusados a alimentos secos peletizados, carne bovina a carne de frango,
gordura animal a vegetal, carne cozida a crua, açúcares simples aos complexos, dietas com alto
teor de gordura a dietas com baixo teor de gordura, alimentos mornos a alimentos frios ou
demasiadamente quentes, horários regulares para refeição e companhia de outros cães na hora
de se alimentar.
24
Gatos
Felídeos (exceto os leões) geralmente são caçadores solitários e não apresentam
comportamento onívoro, o que nos permite defini-los como carnívoros estritos. Além disso, a
freqüência de alimentação é um fator importante a ser considerado. Como um camundongo
fornece cerca de 30 kcal de energia metabolizável, os gatos podem precisar caçar 8-12 desses
animais para suprir suas necessidades energéticas diárias. E os gatos fazem diversas pequenas
refeições diárias, devendo o alimento ficar disponível a eles durante as 24 horas do dia, já que
restrição de horários pode levar à diminuição de consumo. Rejeitam os alimentos com sabor
doce e com alta concentração de triglicerídeos de cadeia média, mas gostam de peptídeos e
aminoácidos livres como alanina, prolina, lisina, histidina e leucina. São neófobos, ou seja,
tendem a apresentar diminuição do consumo quando ocorre troca de alimento.
O consumo de alimentos
Quando oferecidas aos cães dietas com diferentes concentrações de proteína, eles
tenderão a ingerir aquelas em que a proteína supre cerca de 25-30% de suas necessidades
calóricas, dependendo do tipo de proteína e quantidade de carboidratos na dieta. Já os gatos
não são capazes de selecionar os alimentos pela sua concentração protéica, o que faz com que
fatores ligados à palatabilidade conferida pelos aminoácidos e peptídeos sejam mais importantes
na manutenção da adequação nutricional dessa espécie.
Para fornecer nutrição e alimentação adequada aos felinos deve-se considerar que
estes não podem ser tratados como cães de pequeno porte, já que cães e gatos pertencem a
espécies bem distintas, o que é evidenciado a partir de diferenças fisiológicas, de conduta e
também dietéticas.
Filogeneticamente, embora ambos pertençam à classe Mammalia e a ordem 26
Carnívora, os cães estão situados na superfamília Canoidea enquanto os gatos pertencem à
Feloidea. Na superfamília na qual estão incluídos os cães encontram-se várias famílias com
hábitos alimentares diferentes, por exemplo: a Ursidae (ursos) e Procinidae são onívoras, a
Mustelidae (doninhas) é carnívora e a Ailuridade (pandas), herbívora. Por outro lado, todas as
famílias incluídas na superfamília Felidae são carnívoras estritas. Dentre elas estão a Viverridae
(ginetes), a Hienidae (hiena) e Felidae (gatos). Enquanto a história do cão levou-os a uma dieta
mais onívora na natureza, os gatos tiveram uma alimentação puramente cárnica, o que levou
esses animais a adaptações metabólicas.
Em relação aos carboidratos, os gatos possuem um metabolismo único que os fazem
ter uma semelhança maior com o metabolismo dos ruminantes do que com o dos canídeos. O
fígado da maioria dos animais classificados como onívoros tem duas enzimas, a glicoquinase e a
hexoquinase, que catalisa a fosforilação da glicose a glicose-6-fosfato. A hexoquinase tem uma
baixa Constante de Michaelis (Km) para glicose, enquanto a glicoquinase tem alta Km e opera
principalmente quando o fígado recebe um grande aporte de glicose pela veia porta. Como a
constante corresponde a concentração do substrato em que a velocidade da reação é metade da
velocidade máxima, isso significa dizer que a hexoquinase age em concentrações mais baixas
de glicose, enquanto que a glicoquinase atua em concentrações mais elevadas desta. A
atividade da glicoquinase em gatos é extremamente baixa, enquanto que a atividade da
hexoquinase é normal. Os carnívoros com hábitos onívoros, como o cão, possuem ambas as
enzimas e tem maior tolerância aos carboidratos na dieta. Não possuem amilase salivar, mas
tem amilase pancreática eficiente.
Os requisitos protéicos dos felinos também são maiores do que o dos cães. Isso ocorre
porque esses animais apresentam maiores necessidades para manutenção do tecido corporal
normal do que para o crescimento. Aproximadamente 60% das necessidades protéicas do gato
em crescimento são utilizadas para a manutenção de tecidos e somente 40% empregadas para
o crescimento, diferente dos cães que empregam 35 e 65% para manutenção e crescimento,
respectivamente. Os felinos são incapazes de regular as enzimas hepáticas responsáveis pelo
catabolismo do nitrogênio em função de mudanças na concentração de proteínas na dieta.
Parece que a extensão com que os animais podem aumentar ou diminuir a quantidade
das enzimas do catabolismo de nitrogênio é o que realmente dita a habilidade, por um lado, para
utilizar eficientemente as dietas altas em proteínas e, por outro, de ser capaz de manter o
balanço nitrogenado quando a dieta é baixa em proteína. Desta forma sugere-se que a alta
exigência de proteína para gatos em manutenção é resultado de sua inabilidade em diminuir a 27
ação das enzimas hepáticas que participam do catabolismo do nitrogênio. Assim, animais
onívoros alimentados com dietas ricas em proteínas aumentam a atividade de enzimas que
intervém no catabolismo do nitrogênio para se adaptarem à alta ingestão de proteínas na dieta.
Da mesma forma, baixa ingestão leva à diminuição na atividade dessas enzimas para
conservar o nitrogênio. E isso não ocorre nos gatos. Além da incapacidade das enzimas
catabólicas adaptarem-se às mudanças dos níveis protéicos da dieta, as enzimas que intervêm
no catabolismo do nitrogênio funcionam com índices relativamente elevados de atividade. Isso
faz com que os felinos catabolizem uma quantidade substancial de proteína depois de cada
refeição, independentemente do conteúdo protéico da dieta. Assim, os gatos não conseguem
conservar o nitrogênio.
Outro fator que deve ser considerado é a necessidade de maiores concentrações de
arginina e de taurina. Metabolicamente a arginina é glicogênica e tem outras funções, além do
seu papel na síntese de inúmeras proteínas. É um intermediário no ciclo da uréia, e quando
absorvida com a dieta atua estimulando a síntese de uréia e como ativador alostérico do acetil-
glutamato, que por sua vez é um ativador essencial da carbamoil fosfato sintase, a primeira
enzima na destoxificação de amônia e síntese da uréia. Em geral, a arginina estimula a liberação
de vários hormônios e mediadores metabólicos tais como insulina, glucagon e gastrina, além de
ser um precursor das aminas biogênicas, importantes na replicação celular.
A arginina também é precursora do óxido nítrico, um neurotransmissor envolvido em
muitos sistemas, desde regulação da pressão sanguínea, via relaxamento dos vasos
sangüíneos, até participação na atividade dos macrófagos na destruição dos antígenos (por
exemplo, bactérias e vírus). Muitos estudos têm usado a arginina como agente terapêutico
devido ao seu importante papel na nutrição adequada e na manutenção da saúde.
Em gatos parece haver dois motivos para a sensibilidade à deficiência de arginina: a
incapacidade de sintetizar ornitina de novo e de produzir arginina a partir da ornitina. Na maioria
dos animais, o glutamato e a prolina funcionam como precursores da ornitina na mucosa
intestinal, mas os gatos têm um nível muito baixo da enzima pirrolina-5-carboxilato sintetase
ativa, essencial nessa vida metabólica. Além disso, os felinos não conseguem sintetizar arginina
a partir da ornitina, para ser utilizada pelos tecidos extra-hepáticos mesmo quando existe ornitina
na dieta. Na maioria dos mamíferos, a arginase hepática impede o acúmulo de arginina a níveis
que permitam a sua saída para a circulação sangüínea, mas a citrulina (uma substância
produzida a partir da ornitina) pode viajar até os rins e lá ser convertida a arginina. A mucosa
intestinal do gato não produz citrulina (pela dificuldade em produzir ornitina) e a presente no 28
fígado parece ser incapaz de sair do hepatócito. As principais passagens estão demonstradas na
figura 8.
Energia
Dessa forma, a principal demanda a ser satisfeita pelo animal é a calórica e somente
após o atendimento dessas exigências é que os nutrientes são direcionados a outras funções. A 31
energia é assim uma propriedade de alguns nutrientes e pode ser mensurada a partir da
produção de calor, sendo expressa em duas unidades: quilocalorias (Kcal) ou quilojoules (KJ),
onde uma caloria equivale a 4,184 KJ. No Brasil, a unidade de medida mais comumente utilizada
é a de Kcal.
Todos os valores realizados devem ser colocados na matéria seca, porção de alimento
e fezes que contém os nutrientes e a energia. O restante corresponde à água. Assim, se um
animal comeu 1320 g de um alimento que contém 90 % de matéria seca, ou seja, 10% de
umidade, isto significa que ele ingeriu, na realidade, cerca de 1200 g de matéria seca.
Por sua vez, a expressão do conteúdo dos nutrientes na matéria seca do alimento
permite que nós façamos comparações entre alimentos que contenham teores de umidade
distintos. Por exemplo, se digo que uma ração úmida (com cerca de 80% de água) tem 6% de
proteína e, uma seca (cerca de 10% de água) tem 26%, pareceria à primeira vista que elas
teriam concentrações muito distintas deste nutriente. Devemos considerar, no entanto, que a
água age como um diluente e se convertermos a proteína para a matéria seca encontraremos
teores de 29% para a ração seca e 30% para a ração úmida (quadro 2).
Quadro 2- Correção dos teores de proteína para a matéria seca
Ração seca
26 ------- 90 35
x ------- 100 = x= 26 x100/90 = 28,89% de proteína na matéria seca
Ração úmida
6 ------- 20
x ------- 100 = x= 6x100/20 = 30% de proteína na matéria seca
É claro que o consumo dessas rações será bem distinto, já que a concentração
energética, assim como a dos nutrientes, é menor no alimento úmido (como será visto adiante e
no próximo módulo). Mas, não há como comparar alimentos com teores distintos de umidade
sem realizar a conversão para a matéria seca.
Feitas essas considerações, a seguir estarão descritos os protocolos para
determinação da energia metabolizável a partir de ensaio com animais, segundo descrito por
Carciofi et al. (2006). As indústrias de alimentos comerciais para cães e gatos normalmente
realizam esses testes para verificar a digestibilidade de suas dietas e determinar o conteúdo de
energia metabolizável.
No método de coleta total, a primeira etapa neste processo é o recebimento e a
identificação da amostra. Os dados referentes ao alimento, tais como tipo, espécie e fase da vida
para o qual é destinado, devem ser anotados, juntamente com a marca, fabricante, lote e data de
fabricação da ração. Devem-se anotar os níveis de garantia de nutrientes e a lista de
ingredientes presente no rótulo da ração, além de verificar e anotar as condições do produto, tais
como odor, cor, aspecto, uniformidade, presença de contaminantes e presença de finos no saco.
Posteriormente, amostra-se cerca de 500 g do alimento, devidamente identificado e vedado que
será utilizado para a realização das análises laboratoriais.
Os animais utilizados no teste (seis no mínimo) devem estar clinicamente sadios,
sendo desverminados e vacinados. Para a determinação da energia metabolizável mediante a
coleta de urina, os animais deverão ser mantidos em gaiolas metabólicas individuais, de inox,
durante todo o período experimental. Caso a urina não seja coletada e a energia metabolizável 36
seja estimada com base nos fatores de correção para a perda urinária (conforme será visto a
seguir). Os animais poderão ser mantidos em gaiolas individuais equipadas com grade no fundo
que permita a separação de fezes e urina, além de permitir a coleta quantitativa segura de fezes,
admitindo-se também o uso de baias que permitam a coleta das fezes não contaminadas.
O protocolo é dividido em duas fases, sendo chamadas de adaptação e coleta. O
período de adaptação é composto por um tempo mínimo de cinco dias, tendo por objetivo
adaptar o animal à dieta, à gaiola, ajustar a ingestão de alimento e, quando necessário, verificar
a manutenção do peso corporal. A fase de coleta deve constar de no mínimo 120 horas para
cães e de sete dias para gatos. Durante este dia, toda a produção de fezes e/ou urina devem ser
quantificadas e recolhidas. Na fase de coleta o consumo alimentar deve ser rigorosamente
mensurado e registrado. O consumo alimentar deverá permanecer constante durante essa
última fase, de forma a evitar variações de excreção.
Para a fase de adaptação devem-se pesar os animais que participarão do ensaio e
anotar o peso em local apropriado, junto com os dados e nome do mesmo. A quantidade de
alimento fornecida a cada animal pode ser baseada na quantidade necessária para manter o
peso corporal ou estimada segundo as necessidades energéticas de manutenção, utilizando-se
os procedimentos recomendados pelo NRC (2006) uma associação norte-americana de
pesquisadores que determina as exigências nutricionais de diversas espécies, incluindo cães e
gatos e que serão detalhadas no módulo 3. e que serão detalhadas no módulo 3. A quantidade
diária de alimento pode ser fornecida uma vez ao dia ou dividida em duas porções. Deve-se
alimentar os animais sempre no mesmo horário ao longo do ensaio e a água deve estar
disponível durante todo o período. Se, na adaptação, o alimento for rejeitado pelos animais ou a
maior parte não consumir 75% da quantidade recomendada, o teste deverá ser interrompido.
Para ensaios com ração semi-úmida e úmida, deve ser recolhida quantitativamente e
armazenada em freezer (-15°C). Ao final do procedimento estas deverão ser homogeneizadas e
sua matéria seca determinada. Esta sobra da matéria seca deverá ser empregada no cálculo da
ingestão de ração.
Por sua vez, na fase de coleta, a quantidade fornecida e as sobras devem ser pesadas
em balança de precisão de no mínimo 0,01 g. As fezes devem ser coletadas no mínimo duas
vezes ao dia, mas preferencialmente à medida que os animais defecarem, pesadas,
armazenadas em saco plástico e congeladas para posterior análise de matéria seca e
composição. Os frascos coletores de urina devem conter 1 ml de ácido sulfúrico 1Eq/L, com a 37
finalidade de evitar a deterioração da amostra, ter o volume medido e congelado para posterior
análise. Se não houver possibilidade de coleta da urina, podem ser utilizados fatores de correção
para estimar as perdas, sendo estes de 1,25 ou 0,86 Kcal/g de proteína digestível ingerida
(PDing), para cães e gatos, respectivamente.
Seguindo o exemplo proposto anteriormente para avaliar a digestibilidade de
nutrientes, nos quadros 3 e 4, estão demonstrados os cálculos da energia metabolizável
aparente, com e sem colheita de urina, respectivamente.
Diferente da coleta total, o método com uso de indicadores exige o preparo do alimento
para o teste. Quando a ração a ser empregada, já se encontrar extrusada, deve-se calcular a
quantidade de alimento necessário para realização do ensaio, moendo com peneira de 2,5 mm
ou maior. Peneiras menores não devem ser utilizadas quando os produtos comerciais forem
empregados no teste, pois uma moagem mais fina do produto em teste pode involuntariamente
elevar a sua digestibilidade, levando a um resultado incorreto. Deve-se pesar exatamente a
quantidade de ração obtida após a moagem e calcular a quantidade de óxido crômico a ser
adicionada. Sugere-se adição de 0,25% a 0,35% de óxido crômico. Deve-se pesar a quantidade
de indicador necessária para a adição na ração e guardar uma amostra de 2 g para uso nas
análises laboratoriais, separando parte da ração moída em um recipiente (cerca de 5 Kg) e
peneirando sobre ela o óxido crômico, em peneira fina, de forma a desfazer todos os grumos. À
medida que o cromo é peneirado sobre a ração, deve ser misturado, para evitar a formação de
novos grumos.
Deve-se colocar a ração farelada e o conteúdo do recipiente (ração pré- misturada ao
óxido crômico) no misturador e efetuar a mistura final do óxido crômico à ração. Depois, retirar
500 g de ração e armazenar em saco plástico apropriado devidamente identificado. Esta amostra
será empregada para as determinações laboratoriais para o cálculo de digestibilidade e energia
metabolizável. Quando o indicador for adicionado ao produto antes da extrusão, este deverá ser
homogeneizado à pré-mistura dos ingredientes da ração e posteriormente extrusado, juntamente
com o produto.
O procedimento experimental incluindo o número mínimo de animais, fase de
adaptação e de coleta, é semelhante ao do método de coleta total, com as seguintes
particularidades: não é necessário colher todo o material fecal e nem quantificar o conteúdo 39
alimentar, a ração farelada e misturada ao cromo deve ser fornecida aos animais, umedecida em
água na forma pastosa. Gatos se recusam a ingerir o alimento dessa forma, sendo preferível
para estes animais a utilização da coleta total ou a mistura do óxido crômico à ração antes da
extrusão, e o óxido crômico contido nas fezes e no alimento deve ser quantificado por
colorimetria ou espectrofotometria de absorção atômica. No quadro 5 e 6 está demonstrada a
determinação da digestibilidade dos nutrientes e da energia metabolizável, respectivamente, com
o uso de indicador.
Então:
Em alguns casos, o valor de energia metabolizável não está presente nos rótulos das 41
dietas destinadas aos animais de companhia. E, como a necessidade de energia determina qual
é o consumo do animal, é primordial saber quanto de energia metabolizável um alimento possui.
Por esse motivo, algumas equações foram desenvolvidas para esse fim. No entanto, é primordial
que se saiba que uma equação só se ajusta adequadamente ao alimento se ele apresentar
digestibilidade semelhante àquela com os quais a equação foi obtida.
Os valores de energia metabolizável podem ser determinados a partir do conteúdo de
carboidratos, lipídeos e proteína bruta de um determinado alimento. A primeira equação de
predição foi obtida por Robner em 1901 para cães alimentados com carne e vísceras; seus
fatores foram mais tarde modificados por Atwater (1902). Os fatores de 4 para proteína, 9 para
gordura e 4 kcal/g para carboidratos (ENN) ainda funcionam relativamente bem para cães,
quando ingredientes caseiros são utilizados: carne, vísceras (exceto ossos e farinha de ossos),
frango, peixe, produtos de amido altamente purificados, produtos lácteos. Nesses alimentos, os
ENN são basicamente açúcares ou amido. Os fatores de Atwater devem ser utilizados com
alimentos altamente digestíveis, como os substitutivos do leite e alimentos líquidos para a
nutrição enteral. Considerando-se os valores de energia bruta de 4,1 kcal/g para carboidratos,
9,4 kcal/g para gordura e 5,7 kcal/g para proteína e mais uma perda urinária de 1,25 de PD, os
fatores de Atwater consideram uma digestibilidade de 98% para carboidratos, 96% para gordura
e 90% para proteína e são 4, 9 e 4, respectivamente.
No entanto, quando os fatores de Atwater são aplicados em dietas padrões para cães,
eles superestimam os fatores de energia metabolizável da dieta. Dessa forma, esses fatores
foram modificados de acordo com a digestibilidade das dietas aos quais foram aplicados.
Por esse motivo, foram criados os fatores modificados de Atwater (3,5 para proteína e
carboidratos e 8,5 kcal/g para gordura) que são na maior parte derivados de alimentos
comerciais padrões típicos disponíveis no mercado na década de 1970 e início da década de
1980, mas que também podem super ou subestimar o conteúdo energético de muitos alimentos
atuais. Esses fatores podem ser aplicados para dietas que contenham digestibilidade, como a de
alimentos padrão, já que consideram coeficientes de digestibilidade de 80, 90 e 85% para
proteína, lipídeos e carboidratos, respectivamente.
42
Coeficiente de Coeficiente de
digestibilidade digestibilidade Fator de Atwater
Nutriente Fator de Atwater
dos alimentos dos alimentos modificado
para humanos para animais
Para calcular a fração carboidrato (ENN) a ser utilizada nessas fórmulas, é necessário
que se conheça os níveis de umidade, proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta e matéria
mineral do alimento. Ele é o resultado da seguinte subtração: 100 – (umidade+ proteína bruta +
extrato etéreo + fibra bruta + matéria mineral). Assim, se um rótulo diz que uma ração para gatos
contém 12 % de umidade, 10% de extrato etéreo, 30% de proteína bruta, 4% de fibra bruta e
10% de matéria mineral, ele terá 34% de ENN (extrativos não nitrogenados, ou seja,
carboidratos), já que o ENN = 100- (12+10+30+ 4+10).
No entanto, atualmente, existe no mercado um grande número de alimentos com
digestibilidades variando de menos de 70 a mais de 90%, o que não permite o uso de uma única
equação com fatores para macronutrientes. A variação na digestibilidade não é menor dentro de
uma mesma categoria de alimentos (seco, úmido ou semi-úmido), dessa forma o uso de
equações diferenciadas para cada categoria não resolve o problema. Algumas equações têm
utilizado a concentração de energia bruta ou fibra (fibra bruta, fibra dietética total ou fibra total)
para predizer a digestibilidade da energia. O uso do conteúdo de fibra bruta em equações para a
predição da digestibilidade da energia abrange uma grande variedade de alimentos preparados
para cães e gatos (quadros 8 e 9). No entanto, em alimentos com um conteúdo de fibra acima de
8% na matéria seca e com uma alta porcentagem de polissacarídeos não amiláceos na fração
de fibra bruta, os valores são sistematicamente subestimados.
43
Atualmente, tem-se recomendado a utilização das fórmulas propostas pelo NRC (2006)
para a determinação da energia metabolizável: a de Atwater modificado para alimentos caseiros
e não processados e aquela a partir da energia bruta para os comerciais. O guia nutricional da
Associação Nacional dos Fabricantes de Alimento pet propõe isso. No entanto, por questões
práticas, pode ser utilizada a de Atwater modificado, dependendo da digestibilidade estimada da
ração, ou seja, se ela é compatível com os coeficientes adotados por essa equação (de 80-90%,
o que podemos supor a partir da composição básica do produto).
Tomando como exemplo os níveis de garantia da ração para gatos citada
anteriormente e de outra mais úmida para a mesma espécie, vamos determinar o conteúdo de
energia metabolizável utilizando as três fórmulas apresentadas:
Seco
EM (kcal/100 g) = (30 x 4) + (10 x 9) + (34 x 4) = 120 + 90 + 136 = 346 kcal/100g ou
3460 kcal/kg. 45
Note que por utilizarmos os valores de 30, 10 e 34, que estão expressos em
porcentagem, obtivemos o valor em kcal/100g. Se tivéssemos utilizado gramas de nutriente por
grama de alimento (0,3, 0,1 e 0,34) obteríamos o valor de 3,46 kcal/g. Normalmente, os valores
são expressos em kcal/kg; nesse caso basta multiplicar o valor obtido por 10 (se utilizarmos
valores expressos em %) ou por 1000 (se usarmos o valor de g do nutriente).
Úmido
EM (kcal/100 g) = (PB x 4) + (EEx 9) + (ENN x 4),
onde PB=proteína bruta, EE= extrato etéreo e ENN = extrativo não nitrogenado
EM (kcal/100 g) = (8 x 4) + (3 x 9) + (5 x 4) = 32 + 27 + 20 = 79 kcal/100g ou 790
kcal/kg.
EM (kcal/100 g) = (30 x 3,5) + (10 x 8,5) + (34 x 3,5) = 105+ 85+ 119 = 309 kcal/100g
ou 3090 kcal/kg.
Note que por utilizarmos os valores de 30, 10 e 34, que estão expressos em
porcentagem, obtivemos o valor em kcal/100g. Se tivéssemos utilizado gramas de nutriente por
grama de alimento (0,3, 0,1 e 0,34) obteríamos o valor de 3,09 kcal/g. Normalmente, os valores
são expressos em kcal/kg; nesse caso basta multiplicar o valor obtido por 10 (se utilizarmos
valores expressos em %) ou por 1000 (se usarmos o valor de g do nutriente).
Úmido
EM (kcal/100 g) = (PB x 3,5) + (EEx 8,5) + (ENN x 3,5),
onde PB=proteína bruta, EE= extrato etéreo e ENN = extrativo não nitrogenado
Úmido
EB (kcal/g) = (5,7 x g de proteína) + (9,4 x g de gordura) + [4,1 x (fibra bruta + ENN)]
EB (kcal/g) = (5,7 x 0,08) + (9,4 x 0,03) + [4,1 x (0,015 + 0,05)] = 0,456+ 0,282 + 0,2665= 1,005
kcal/g ou 1005 kcal/kg
Conforme pôde ser observado, tanto para a ração úmida quanto para a seca, a
equação de Atwater modificado subestimou a energia metabolizável e a de Atwater levemente
superestimou em relação à nova adotada pelo NRC 2006.
Quadro 10- Correção do teor de proteína da dieta para o conteúdo energético do alimento
Exemplos: Para todos os casos, consideramos um cão com necessidade energética diária de
1000 kcal/dia (aprenderemos como calcular a necessidade energética no módulo 3). Para
determinar quanto um animal deve consumir de ração por dia, devemos dividir a sua
necessidade energética diária pela quantidade de energia presente no alimento. Abaixo,
colocaremos exemplos de dietas contendo concentrações maiores e menores do que os 3500
sob os quais as exigências de demais nutrientes são fornecidas para os cães. A AAFCO (2007)
determina que a exigência mínima de proteína é de 22% na matéria seca de dieta contendo
3500 kcal para animais em crescimento. Os exemplos abaixo consideram rações contendo essa
densidade energética, além de densidades maiores e menores:
49
O excesso de energia pode levar ao acúmulo de gordura que em grandes
concentrações culmina com a obesidade. Quando este acúmulo ocorre precocemente pode levar
à hiperplasia de células adipócitas, ou seja, o seu aumento em número, o que predispõe a
ocorrência de sobrepeso e obesidade em fases posteriores. Além disso, em cães de raças
grandes e gigantes pode levar à aceleração da taxa de crescimento o que induz ao
aparecimento de doenças do esqueleto como osteocondroses, osteocondrites e displasias. Essa
situação tem sido bastante freqüente nos últimos anos, já que proprietários preocupados em
nutrir os seus animais adequadamente acabam fornecendo dietas à vontade, sem limitação de
quantidade, o que predispõe a um excesso no aporte energético.
Em relação à deficiência, os sinais são freqüentemente não específicos, e o
diagnóstico pode ser complicado pela deficiência simultânea de vários nutrientes. O sinal mais
fidedigno e visível de uma deficiência de energia é a perda generalizada de peso. Sob condições
de parcial ou completa privação alimentar, a maioria dos órgãos internos sofre alguma atrofia. A
perda de gordura subcutânea, mesentérica, perirenal, uterina, testicular e retroperitonial são os
primeiros sinais. O baixo conteúdo de gordura na medula dos ossos longos é um bom indicador
de inanição prolongada. O tamanho do cérebro é menos afetado, mas o tamanho das gônadas
pode ser grandemente diminuído. Hipoplasia dos linfonodos, baço e timo levam a uma redução
considerável no seu tamanho. As glândulas adrenais normalmente estão aumentadas. O
esqueleto dos animais jovens é extremamente sensível à deficiência de energia, e o crescimento
pode ser diminuído ou completamente parado. No animal adulto, pode haver osteoporose. A
lactação e a habilidade para o trabalho são prejudicadas. Como as proteínas musculares são
catabolizadas para energia, a perda de nitrogênio endógeno aumenta. O parasitismo e infecções
bacterianas ocorrem freqüentemente sob essas condições e podem se sobrepor aos outros
sinais clínicos.
3.5 Água
A água é o nutriente mais importante para o organismo. Ainda que os animais possam
sobreviver à perda de quase toda a gordura e mais da metade da quantidade de proteínas, a
perda de somente 10% de água é suficiente para provocar-lhes a morte. Cerca de 70% do peso
corporal adulto é água; numerosos outros tecidos são compostos de uma porcentagem de água
que oscila entre 70-90%. O líquido extracelular corresponde a aproximadamente 40 a 45% do 50
peso corporal, enquanto que o intracelular constitui entre 20-25%. A presença de um meio
aquoso no interior das células e de muitos tecidos é essencial para que a maioria dos processos
metabólicos e das reações químicas ocorra.
No entanto, é frequentemente esquecida no estudo das necessidades nutricionais,
mesmo porque ainda não há uma definição para as suas reais exigências pelo organismo
animal. Como costuma ser oferecida de forma ad libitum (à vontade), espera-se que os animais
sejam capazes de regular a sua ingestão de acordo com as suas necessidades. No entanto, é
necessário considerar um aspecto importante ao tratar da água: a sua qualidade. A má
qualidade pode interferir grandemente no manejo nutricional dos animais de produção e de
companhia.
No organismo animal, constitui um nutriente indispensável, já que todas as células
necessitam de um aporte de água para exercer as suas funções. Sua bioquímica é complexa e
de difícil entendimento. Não é uma simples molécula de HOH. Grande parte dessas moléculas
está interligada por pontes de hidrogênio formando complexas macromoléculas. A facilidade e a
rapidez com que ocorre a dissociação delas é que caracteriza a sua participação nas reações do
organismo.
Em contraste, as biomoléculas não polares interferem com essas ligações, mas são
incapazes de formar interações água-soluto e, portanto, são insolúveis. As ligações de
hidrogênio são iônicas, hidrofóbicas e do tipo Van der Walls que individualmente são fracas, mas
coletivamente têm uma significância muito grande nas estruturas tridimensionais de proteínas,
ácidos nucleicos, polissacarídeos e lipídeos de membrana.
A água tem um ponto de fusão, de ebulição e calor específico maior do que a maioria
dos outros solventes. Essas propriedades incomuns são conseqüências da atração entre as
moléculas de água adjacentes que dão ao líquido uma grande capacidade interna de coesão. A
observação da estrutura de elétrons das moléculas de água revela a causa dessas interações. 51
Cada átomo de hidrogênio pareia-se com um elétron presente no átomo de oxigênio. A
geometria da molécula é ditada pela forma dos elétrons presentes mais externamente nos
orbitais do átomo de oxigênio. Estes orbitais descrevem um tetraedro, com um átomo de
hidrogênio em cada um dos cantos e elétrons não partilhados nos outros 2 cantos. A ligação
HOOOH tem um ângulo de 104,5, ligeiramente inferior do que 109,5 de um tetraedro perfeito
devido aos orbitais não ligantes do átomo de oxigênio. O núcleo oxigênio atrai elétrons mais
fortemente do que o hidrogênio (um próton); o oxigênio é mais eletronegativo. O resultado disso
são dois pólos elétricos na molécula de água, um ao longo de cada ligação HOO; cada
hidrogênio porta uma carga positiva parcial e o oxigênio possui uma carga negativa igual à soma
das duas cargas positivas dos hidrogênios.
52
Figura 10- Estrutura molecular da água. A natureza dipolar da água é mostrada por (a) modelo ball-and-stick e (b)
modelo space-filling. Onde as linhas tracejadas em (a) representam os orbitais não ligados. É um arranjo quase
tetraédrico das camadas mais externas de elétron formando os átomos de oxigênio; o átimo do oxigênio tem cargas
parciais negativas e os de hidrogênio possuem cargas positiva. (c) duas moléculas de água unidas por uma ligação
de hidrogênio (representadas pela linha azul tracejada) entre o átomo de oxigênio da parte superior da molécula e o
hidrogênio mais inferior. As ligações de hidrogênio são mais longas e fracas que as OOH covalentes (Nelson e Cox,
2004).
d) Idade: para cada kg de peso vivo os animais jovens necessitam de mais água que
animais de maior idade;
O sistema neuronal que controla a sede e o ato de beber está localizado na região 55
hipotalâmica do cérebro. Durante a privação de água, a concentração osmótica dos líquidos
corporais eleva um pouco a sua porcentagem e as células do hipotálamo e, provavelmente
tecidos nas cercanias dos ventrículos cerebrais são sensíveis às mudanças na
osmoconcentração que causam desidratação celular, sede e comportamento de beber.
O local de estímulo são as células que estão expostas à circulação sangüínea, isto é,
onde a barreira hematoencefálica é deficiente. Quando o déficit de água se desenvolve, tanto a
pressão osmótica quanto a concentração do líquido extracelular aumentam. O aumento de sódio
e a concentração de ânions associados são normalmente as causas do aumento da
osmolaridade. O sódio é normalmente retido no líquido extracelular, o que contribui para uma
pressão osmótica efetiva que causa difusão de água a partir das células. Um aumento na
osmolaridade causado pela uréia (livremente difusível) não deve contribuir para uma pressão
osmótica efetiva, e a sede não é estimulada.
Por sua vez, na privação de água, a taxa de excreção na urina diminui, e o inverso
também é verdadeiro, mas existem limites. Um volume mínimo de urina é determinado pela
quantidade de solutos a ser excretado e pela capacidade do rim de concentrar urina. Por outro
lado, o volume máximo também é limitado, mas esse limiar é muito alto e normalmente o
excesso de água será excretado rapidamente. A excreção de água pelos rins é controlada
principalmente pelo ADH da glândula hipófise posterior. O ADH (também conhecido como
vasopressina) age no néfron para permitir o aumento da reabsorção de água e assim diminuir a
excreção da urina. Durante a privação de água, a concentração de ADH no sangue aumenta e o
volume urinário diminui. Se o animal é super-hidratado, menor a concentração de ADH e maior é
o fluxo de urina, que deve ter a sua concentração próxima a do plasma.
Acredita-se que a liberação de ADH pela glândula pituitária posterior seja causada
primariamente por modificações na osmoconcentração do plasma. Uma solução salina
hipertônica injetada dentro da artéria carótida resulta em diminuição de fluxo sangüíneo. Outra
evidência indica que a solução hipertônica age sobre estruturas no diencéfalo ventral e sugere
que o núcleo supra-óptico do hipotálamo contém células que são sensíveis às modificações na
osmoconcentração do plasma. Esse núcleo exerce seu controle por via dos tratos nervoso
57
hipotalâmico-hipofisiários para causar a liberação do ADH.
Qualidade da água
Devido à sua importância funcional é fundamental que se garanta a boa qualidade da
água. O termo "qualidade" se refere às características químicas, físicas e biológicas sob as
quais são estipuladas diferentes finalidades para a água. Assim, a política normativa nacional de
uso da água, como consta na resolução número 20 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio
Ambiente), procurou estabelecer parâmetros que definem limites aceitáveis de elementos
estranhos, considerando os diferentes usos.
58
Os corpos de água foram classificados em nove categorias, sendo cinco classes de
água doce (salinidade <0,5%), duas classes salinas (salinidade superior a 30%) e duas salobras
(salinidade entre 0,5 e 30%). A classe "especial" é apta para uso doméstico sem tratamento
prévio, enquanto o uso doméstico da classe IV é restrito, mesmo após tratamento, devido à
presença de substâncias que oferecem risco à saúde humana. A classificação padronizada dos
corpos de água possibilita que se fixem metas para atingir níveis de indicadores consistentes
com a classificação desejada. Garantir fontes de boa qualidade é uma tarefa difícil, mas
essencial para a garantia da segurança alimentar em seres humanos e animais.
Dentre as características físicas, a água para consumo deve ser inodora, insípida e
incolor. Sabor e odor são características indesejáveis e normalmente são originados da
decomposição de matéria orgânica, atividade biológica de microrganismos ou de fontes
industriais de poluição. Já as alterações da cor indicam a presença de substâncias orgânicas,
oriundas dos processos de decomposição e de alguns íons metálicos como ferro e manganês,
plâncton e despejos industriais. A turbidez refere-se à alteração da intensidade da penetração da
luz nas partículas em suspensão na água (plâncton, bactérias, argilas, material poluente fino e
outros), que provocam a sua difusão e absorção.
À medida que o valor de SDT aumenta a qualidade piora, o que faz diminuir o consumo
de água, causando prejuízos no desempenho zootécnico. O oxigênio dissolvido (OD) é um
índice expressivo da qualidade da água. As águas superficiais devem apresentar-se saturadas
de oxigênio, entretanto, água de captação subterrânea pode ser deficiente de oxigênio, mesmo
não estando poluída, pois o oxigênio pode ter sido consumido pela oxidação de minerais
dissolvidos na água. O OD é de fundamental importância para a sobrevivência dos seres
aquáticos aeróbios.
Outro composto prejudicial à saúde é o nitrato. Este íon geralmente ocorre em baixos
teores nas águas superficiais, mas pode atingir altas concentrações em águas profundas. O seu
consumo por meio das águas de abastecimento está associado a dois efeitos adversos à saúde:
a indução à metemoglobinemia, especialmente em crianças, e a formação potencial de
nitrosaminas e nitrosamidas carcinogênicas.
Quadro 11- Padrão de potabilidade para substâncias químicas com risco à saúde
PARÂMETRO
Unidade Valor máximo
62
INORGÂNICAS
Cobre mg/L 2
ORGÂNICAS
Acrilamida µg/L 0,5
Benzeno µg/L 5
Diclorometano µg/L 20
Estireno µg/L 20
Tetracloroeteno µg/L 40
Triclorobenzenos µg/L 20
Tricloroeteno µg/L 70
Para a sua formação são necessárias diversas etapas consecutivas, que se iniciam
com a adesão do microrganismo a uma superfície, em resposta a estímulos sociais (‘quorum
sensing’) ou a alguma condição do meio, como temperatura, pH, presença de componentes
orgânicos e inorgânicos, com destaque a biodisponibilidade de nutrientes.
A adesão inicial, também tratada por adesão reversível, envolve a participação de
ligações fracas, como Van der Waals, ácido-base de Lewis, pontes de hidrogênio e
hidrofobicidade. Seguindo este processo, inicia-se a colonização da superfície, seguida pela
chamada adesão irreversível à co-agregação de células, a maturação da estrutura e o retorno
das células ao meio. Ao longo de todas as fases, as células procariontes, com o intuito de
sobreviver aos desafios impostos pelos microhabitats de um biofilme, hora caracterizados pela
64
restrição de nutrientes, espaço e oxigênio, requerem uma refinada regulação gênica.
3.6 Proteína
contêm carbono, hidrogênio e oxigênio. No entanto, além disso, elas possuem também enxofre e
cerca de 16% de nitrogênio. São as macromoléculas mais abundantes na natureza, estando
presentes em todas as células e porções celulares. Também ocorrem em grande variedade,
havendo milhares de diferentes tipos de proteína que abrangem desde pequenos peptídeos até
grandes polímeros que apresentam peso molecular na ordem de milhão.
Estruturalmente, podem ser classificadas em quatro diferentes categorias: primárias,
secundárias, terciárias e quaternárias. Isto ocorre porque as centenas de ligações covalentes da
cadeia principal das proteínas podem rotacionar livremente, o que faz com que elas assumam as
mais diversas conformações.
Nas proteínas de estrutura primária, as ligações são rígidas e planas, nas secundárias
em alfa-hélice ou conformação beta, nas terciárias há um arranjo tridimensional de todos os
aminoácidos das proteínas formando cadeias polipeptídicas e nas quaternárias, duas ou mais
cadeias separadas ou subunidades destas que podem ser semelhantes ou diferentes e que
formam complexas estruturas tridimensionais, conforme pode ser verificado na figura 12.
a b c d
Figura 12- Estrutura das proteínas, (a) estrutura primária, onde os aminoácidos são unidos por ligações peptídicas e
pontes dissulfeto; (b) estrutura secundária, helicoidal; (c) estrutura terciária do ovomucóide; (d) estrutura
quaternária. Adaptado de Nelson e Cox, 2004.
São formados por unidades básicas denominadas aminoácidos que se mantêm unidos
por ligações peptídicas, formando cadeias longas. Por sua vez, todos estes são compostos por
uma extremidade carboxil, uma extremidade amina e um radical. Duas moléculas de
aminoácidos podem estar covalentemente ligadas a partir da substituição de uma ligação amida,
para produzir um dipeptídeo.
Tal ligação é formada pela remoção dos elementos de água (desidratação) do grupo
carboxil de um aminoácido e o grupo amino de outro. A formação da ligação peptídica é um 66
exemplo da reação de condensação, uma classe comum de reações nas células vivas.
Da mesma forma em que acontece a ligação peptídica entre dois aminoácidos, três
aminoácidos podem se unidos por duas ligações peptídicas para formar um tripeptídeo e assim
sucessivamente. Quando a estrutura é composta de poucos aminoácidos ela é denominada
oligopeptídeo e quando muitos estão presentes são chamados de polipeptídeos, conforme
demonstrado nas figuras 13 e 14.
Existem mais de 300 aminoácidos na natureza, mas destes, cerca de 22 fazem parte
das cadeias protéicas: arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina,
triptofano, treonina, valina, alanina, asparagina, aspartato, cisteína, glutamato, glutamina, glicina,
hidroxilisina, hidroxiprolina, prolina, serina, tirosina. Destes, os dez primeiros são ditos
essenciais, ou seja, aqueles que os animais não podem sintetizar e que deverão estar presentes
na dieta e os demais são os não essenciais, ou seja, podem ser sintetizados no organismo se
fontes adequadas de carbono e nitrogênio são oferecidas.
Deve-se ressaltar que os felinos, têm necessidade dietética de taurina. Os principais
aminoácidos estão demonstrados na figura 15.
68
Figura 15- Estrutura dos vinte aminoácidos mais comuns. Em vermelho, o radical. Nelson e Cox (2004).
3.7 Lipídeos 73
H O
H C O C R1
O
H C O C R2
H C O C R3
H O
(A) (B)
(C )
Figura 16- Estrutura dos tipos de lipídeos. (A)Triacilglicerídeo (Simples); (B) Colesterol (derivado); (C) Fosfolipídeo
(composto).
Dentre as funções dos lipídeos no organismo animal podemos citar: estrutural em
células e estruturas teciduais (especialmente fosfolipídeos e esfingolipídeos), reserva (principal
estocagem de energia), já que fornecem cerca de 2,25 mais energia de carboidratos e
proteínas, são fontes de ácidos graxos essenciais (necessários para o crescimento, manutenção
de estrutura de membranas, síntese de fosfolipídeos, produção de prostaglandinas),
precursores na biossíntese de prostaglandinas, prostaciclinas, prostaglandinas, troboxanos e
leucotrienos; transporte e solubilização de determinadas vitaminas, proteção renal e intestinal 74
(depósitos perirenal e omental), ação antimicrobiana na pele de mamíferos e palatabilizante, por
isso é pulverizada sobre as rações.
A unidade estrutural do lipídeo é o ácido graxo. Este é formado por uma cadeia
parafínica (hidrófoba) e a carboxila que é hidrofílica:
Cadeia Carboxila
parafínica
Monoinsaturados
Ácido palmitoléico
CH3-CH2-CH2- CH2-CH2- CH=CH- CH2-CH2- CH2-CH2- CH2- CH2- CH2-COOH 75
Poliinsaturados
Ácido linoléico (18:2n-6)- ômega 3
CH3-CH2-CH2- CH2-CH2- CH=CH- CH2-CH = CH-CH2- CH2- CH2- CH2- CH2- CH2- CH2-COOH
Ômega 6 Ômega 3
Ácido linoléico(18:2n-6) Ácido alfa-linolênico (18:3n-3)
Delta 6- dessaturase ↓ ↓
As três hexoses mais importantes do ponto de vista nutricional são: glicose, frutose e
galactose. Os monossacarídeos livres são absorvidos diretamente e por isso não requerem
enzimas digestivas. Somente monossacarídeos presentes como constituintes de polímeros de
carboidratos precisam de enzimas hidrolíticas para serem absorvidos no intestino delgado. Em
cães e gatos (similar a muitas outras espécies), absorção de glicose e galactose através da
borda da membrana ocorre principalmente por um mecanismo de transporte ativo,0 dependente
de Na+, em adição à difusão passiva. A frutose é uma exceção, sendo absorvida por um
sistema transportador de glicose independente (GLUT-5) em humanos e em animais de
companhia.
Desta forma, não somente a extremidade, mas todo o grânulo sofre um ataque
enzimático ao mesmo tempo, liberando grandes quantidades de glicose rapidamente. Além da
importância nutricional, como fonte de glicose, o amido possui importância no processamento de
alimentos extrusados. No processo de extrusão, assim como em outros processos que envolvem
calor e umidade, ocorre um processo chamado gelatinização do amido que consiste em uma
mudança estrutural do grânulo de amido. Onde as pontes de hidrogênio que estabilizam a
estrutura cristalina interna do grânulo começam a se romper assim que se atinge a temperatura
específica para cada tipo de amido e forma de seu grânulo.
Por esse motivo, era considerada substância inerte nas rações de carnívoros e
onívoros, e sua determinação em alimentos tinha apenas o objetivo de estabelecer a
caracterização e o limite máximo de inclusão de ingredientes, sem que se tivesse chegado à
concentração que se otimiza o consumo energético. Pensando em como a fibra hoje é
classificada, a idéia da diluição da energia e diminuição da digestibilidade dos nutrientes não
está totalmente errada, já que um excesso de fibra indigestível poderia causar esses efeitos.
.3.9 Minerais
Cálcio e fósforo
Por sua vez, cerca de 80% do fósforo está presente no esqueleto e 20% nos tecidos
moles, onde está envolvido em vários aspectos do metabolismo: energético (faz parte das
moléculas ATP, GTP, UDPG, etc.) de carboidratos, aminoácidos e gorduras (sistemas
enzimáticos), no equilíbrio químico do sangue, no transporte de gorduras (fosfolipídeos),
participação de produtos, ligação ao DNA-RNA.
O controle metabólico desses dois minerais está completamente interligado e é
realizado especialmente por três hormônios: paratormônio, a calcitonina e o 1,25
diidroxicolecalciferol, que é o metabólito ativo da vitamina D.
O paratormônio é um polipeptídeo de 84 aminoácidos, sendo o aminoácido 33 n-
teminal, um metabólito ativo. Possui um peso molecular de 9500 Da, é sintetizado pela
paratireóide e sua secreção é regulada em grande parte pelos níveis plasmáticos de cálcio. Sua
maior ação é sobre os ossos e rins, mas atua secundariamente na absorção intestinal de cálcio.
Dentre os seus efeitos biológicos estão incluídos estímulo aos osteoclastos, que
promovem reabsorção óssea, reaborção de cálcio e excreção de fosfato pelos túbulos renais e
estímulo para produção de 1,25 diidroxicolecalciferol (metabólito da vitamina D). Esses efeitos
são obtidos após a ligação do aminoácido terminal da molécula de paratormônio ao seu receptor,
que pertence à grande família de receptores que contém domínio transmembrana e que trabalha
a partir da ativação de proteínas G.
A calcitonina é o principal hormônio responsável pela diminuição das concentrações
plasmáticas de cálcio. Seu principal mecanismo de ação seria a diminuição da reabsorção óssea
osteoclástica, pelo aumento na concentração de cálcio citossólico que leva à contração dos
osteoclástos.
No entanto, ela pode ter alguns efeitos positivos sobre a excreção renal e efeitos
negativos sobre a absorção intestinal de cálcio. Sua secreção é estimulada por vários fatores,
mas o principal deles é a administração oral ou parenteral de cálcio. As células parafoliculares ou
células C da tireóide parecem ser o seu principal sítio de produção.
O termo vitamina D é utilizado para descrever genericamente um grupo de esteróides
derivados do anel ciclopentanoperidrofenantreno, sendo os seus dois principais membros, o
colecalciferol (vitamina D3) e ergocalciferol (vitamina D2). A vitamina D é uma forma não ativa
que após se submeter a duas reações de hidroxilação forma seu composto biologicamente ativo
com funções esteróides. Atua em conjunto com os hormônios paratireóideo e com a calcitonina 82
no controle homeostatico do cálcio e do fósforo. É absorvida pelos enterócitos e secretada para
a linfa, associada com quilomicrons.
Para a maioria dos animais é sintetizada durante radiação ultravioleta B da pele a partir
do 7-deidrocolesterol, um intermediário em uma das vias da síntese do colesterol. Produzida na
pele, é transportada para o fígado pela proteína ligada a vitamina D (DBP). No entanto, cães
parecem não realizar bem essa síntese e necessitam de uma fonte dietética de vitamina D pré-
formada.
De qualquer forma, a vitamina D produzida ou consumida via dieta chega ao intestino,
onde passa por hidroxilação na posição 25 para 25-hidroxicolecalciferol sob a ação da 25-
hidroxilase. Esta é uma enzima semelhante ao P450 que é fracamente regulada em muitos
animais, gerando níveis circulantes mais elevados de 25-hidroxicolecalciferol, tornando-o o
metabólito em maior concentração na circulação, o que facilita sua mensuração.
Do fígado, 25-OHD é transportado em DBP para o rim onde ocorre hidroxilação
secundária no carbono 1 pela 1-alfa-hidroxilase para formar o 1α, 25-diidroxicolecalciferol, sua
forma ativa. A 1-alfa-hidroxilase está localizada na mitocôndria dos túbulos proximais do rim e
pertence à classe das enzimas oxidase. A concentração de 1,25 diidroxicolecalciferol no plasma
é controlada principalmente através da atividade dessa enzima no rim, sob regulação de
feedback positivo e negativo, por meio do paratormônio (PTH) e de concentrações séricas de 1-
alfa-hidroxilase, cálcio e fósforo. O PTH liberado em resposta ao baixo cálcio sérico estimula a
atividade da 1α,-hidroxilase e diminui a de 24-hidroxilase, que gera o metabólito, 24,25
diidroxicolecalciferol (National Research Council, 2006). Há várias discussões sobre a
participação desse metabólito na mineralização dos ossos.
Enquanto alguns o classificam como inerte outros autores citam o seu papel sobre a
ossificação endocondral (Hazewinkel et al., 2002). De qualquer forma, sua ação negativa na
produção do PTH é comprovada e ela é um dos produtos de excreção do metabolismo da
vitamina D. Respostas produzidas pela 1α, 25-(OH2)D são mediadas por sua ação nos
receptores nucleares e vias não genômicas, como os canais de cálcio. Os tecidos alvo clássicos
de 1α, 25(OH)2D são aqueles que regulam o status mineral. Quando há uma diminuição no
cálcio sérico, a glândula paratireóide aumenta a secreção de PTH, a qual estimula a 1α, 25-
hidroxilase para aumentar a síntese de 1α, 25(OH)2D. Esses dois hormônios (PTH e 1α,
25(OH)2D) em combinação aumentam a reabsorção óssea e restauram a concentração sérica
de cálcio iônico. Receptores para 1α, 25(OH)2D foram encontrados nos osteoblastos mas não
nos osteoclastos; dessa forma é sugerida que a atividade osteoclástica é estimulada através dos 83
osteoblastos ou por vias de transdução de sinal não genômicas, como abertura dos canais de
cálcio.
A dissolução do osso contribui com ambos, cálcio e fósforo, para o plasma, mas um
aumento no fósforo é regulado por seu maior pool e excreção renal induzida por elevados níveis
de PTH.
A principal função dessa vitamina é estimular a absorção de cálcio através do aumento
da proteína ligante do cálcio (que mantém o cálcio em solução) e da CaATPase dentro dos
enterócitos. Assim, o transporte ativo seria totalmente dependente de vitamina D. Existem várias
proteínas ligantes do cálcio e a calbindina D9k é uma delas. Ela é uma proteína ácida, com
ponto isolelétrico de 4,8 e cuja biossíntese é totalmente d. É encontrada no intestino de
mamíferos em geral e nos intestinos e rins de ratos.
A elevação nos níveis de cálcio ativa essa proteína que atua aumentando o transporte
(de maneira análoga à hemoglobina no transporte de oxigênio). Ao se ligar ao cálcio, dá início ao
processo ativo, aumentando as concentações intracelulares do mineral. Na sua ausência, a
difusão do íon cálcio é aproximadamente 1/70 dos valores habituais.
Chun Li et al. (2001) realizaram um estudo com ratos adultos normais (com receptores
para vitamina D) e geneticamente modificados (sem receptores) e observaram que nos ratos
modificados, a porcentagem de calbindina D9k diminuiu de 50-90% em relação aos ratos
intactos, enquanto os níveis de D28k permaneceram os mesmos. Esses dados sugerem que a
síntese de calbindina D9k, mas não a de D28k, encontrada nos rins dos mamíferos, é regulada
pela ação do 1,25 diidroxicolecalciferol.
Além disso, os resultados apontam que o prejuízo na conservação renal de cálcio
pode ser o fator mais importante para o desenvolvimento de hipocalcemia no grupo com
ausência de receptores, o que indica que a calbindina D9k pode ter papel fundamental na
reabsorção tubular. A síntese da proteína D9k é o papel mais importante exercido pelo 1,25
diidroxicolecalciferol no transporte ativo de cálcio. No entanto, ela também pode atuar
modulando a entrada e a saída do mineral, através do aumento da CaATPase no interior das
células intestinais. Mas, além de promover um aumento na absorção de cálcio e fósforo pelo
trato gastrointestinal, 1,25 diidroxicolecalciferol aumentam a reabsorção óssea e os efeitos do
paratireóideo no néfron. Esse efeito permite a reabsorção tubular do cálcio.
Enxofre
Magnésio
85
O magnésio é o segundo cátion intracelular mais abundante, depois do K, e está
envolvido em mais de 300 processos metabólicos. É essencial para a fosforilação oxidativa e
para a atividade da adenosina trifosfatase (ATPase), metabolismo de DNA e RNA e síntese de
proteínas.
Ele também tem um papel vital na estabilidade de músculos e membranas das células
nervosas, adesão de células, comunicação com a matriz extracelular, regulação do canal de
cálcio em tecidos cardíacos, proliferação de linfócitos e atividades plaquetárias. É necessário
para a secreção e funcionamento de hormônios (ex. PTH) e tem um papel essencial na estrutura
mineral de ossos e dentes. Por volta de 50% do total de Mg corporal são encontrados nos ossos.
Diferente do cálcio, entretanto, o Mg dos ossos não é trocável. Uma pequena fração do
remanescente é encontrada no citoplasma de tecidos moles (ex. músculos), com somente 1% no
espaço extracelular fluido.
Selênio
Cerca de 70% do ferro corporal encontra-se sob a forma heme, presente nas células
vermelhas do sangue e na mioglobina do músculo. Aproximadamente 20% se armazenam sob
formas lábeis no fígado, baço, medula óssea e outros tecidos, onde se encontra disponível para
a formação de hemoglobina. Os 10% restantes se encontram nos tecidos, como parte da
miosina e actomiosina muscular. Está presente ainda nas enzimas metaloporfirínicas (citocromo
C, catalase e peroxidase) e metaloflavínicas (desidrogenase, redutase, xantino oxidase e
NADH). Apenas uma pequena fração de 5 a 10% do ferro na maioria dos alimentos é de fato
absorvida sob a forma ferrosa (Fe2). Absorção é mais eficaz em condições ácidas.
O ferro excretado é constituído principalmente pelo ferro dietético que não se absorve,
pelo ferro endógeno eliminado pela bile e pelo ferro das células intestinais descamadas. A
excreção urinária ocorre somente quando a administração do ferro parenteral é superior à
capacidade do plasma em ligá-lo.
O sulfato cúprico é mais facilmente absorvido que o sulfato cuproso. O cobre metálico
apresenta baixa absorção. O cobre absorvido liga-se à albumina plasmática para ser
transportado ao fígado, onde é armazenado e utilizado na síntese de inúmeras proteínas e
enzimas, ou liberado ao plasma como albumina cúprica e em grande quantidade como
componente da ceruloplasmina. Na medula óssea, o cobre é captado para formar a
eritrocupreína das células vermelhas do sangue. O cobre é excretado pelas fezes, via bile.
Através da célula intestinal e das secreções pancreáticas se perdem quantidades menores, e
pela urina quantidades insignificantes.
3.10 Vitaminas
Vitamina A
O termo vitamina A inclui vários compostos denominados retinal, retinol e ácido
retinóico, sendo o retinol a forma biologicamente mais ativa. No organismo cumpre funções que
afetam a visão, o crescimento, a reprodução e a manutenção do tecido epitelial. Sua origem está
nos carotenóides, sintetizados pelas células das plantas. Quando os animais consomem esses
pigmentos, uma enzima localizada na mucosa intestinal os converte em vitamina A.
Embora haja diversos carotenóides capazes de serem convertidos em vitamina, o beta
caroteno é o que possui maior potência biológica. No entanto, o gato doméstico ao contrário do 90
cão, possui deficiência da enzima que desdobra o caroteno e deve receber uma fonte de
vitamina A pré-formada na dieta. As fontes naturais de vitamina A são o óleo de fígado de peixe,
leite, o fígado e a gema de ovo.
Vitamina E
Vitamina D
Vitamina K
Cobalamina (B12)
Cobalamina, o nome utilizado para designar a família dos derivados conhecidos como
vitamina B12, é a única entre as vitaminas que é sintetizada somente por certos microrganismos.
Sempre que as cobalaminas ocorrem na natureza, são oriundas da síntese pelas bactérias ou
outros microrganismos no rúmen, intestino ou solo.
A cobalamina forma duas coenzimas, adenosilcobalamina e metilcobalamina, que
participam do funcionamento de mais de uma dúzia de sistemas enzimáticos, mas apenas dois -
o dependente de adenosilcobalamina metilmalonil CoA mutase e o dependente de
metilcobalamina metiltetrahidrofolato-homocisteína metil transferase (agora chamado metionina
sintase) - são importantes em cães e gatos.
As enzimas dependentes de adenosilcobalamina catalizam rearranjos moleculares dos
esqueletos de carbono, enquanto que as dependentes de metilcobalamina estão envolvidas na
transferência de grupos metil de uma amina terciária. Participam no metabolismo dos lipídeos,
carboidratos, na síntese de mielina e na hematopoiese.
Ácido Fólico
Originalmente, pensou-se que o ácido fólico era o único fator necessário para o
tratamento da anemia perniciosa em humanos, mas mais tarde descobriu-se que ele era o
segundo fator envolvido. O ácido fólico (ácido pteroilmonoglutâmico) consiste de uma porção
pterina (2-amino-4 hidroxipteridina) ligada a um grupo metileno no carbono 6 do ácido p-
aminobenzoilglutâmico. Os folatos naturais ocorrem nas formas reduzidas 7,8 diidro e 5,6,7,8
tetraidro. Os folatos na natureza ocorrem como pteroiloligo-γ-L-glutamatos (PteGlun), onde n é 1-
9 ou glutamatos mais longos.
Quando o folato não está disponível para desempenhar essas funções, há distúrbio na
síntese de DNA e anemia megalobástica. Na síntese de purina, os carbonos nas posições 2 e 8
do anel de purina são derivados do 10-formil-H4PteGlun que segue da oxidação do H4PteGlun . O
folato também participa na oxidação das moléculas de um carbono para dióxido de carbono. A
enzima 10-formil-tetrahidrofolato desidrogenase catalisa a oxidação do grupo 10 formil do
H4PteGlun. Um papel menos relatado do folato é na biossíntese de proteína na mitocôndria, que
é iniciada pela transferência especial de RNA, N-formilmetionil-tRNAf . O grupo formil para esse
RNA é doado pelo 10-formil- H4PteGlun.
Biotina
A biotina é um composto bicíclico, que tem anéis contendo grupo ureído e outros
contendo enxofre, em uma estrutura tetrahidrofeno, com um ácido valérico num dos lados da
cadeia. A biotina tem 3 átomos de carbonos assimétricos; dessa forma, há 8 esteroisômeros dos
quais apenas um, d-(+)-biotina, que ocorre naturalmente, é enzimaticamente ativo.
A biotina serve como um co-fator em quatro reações de carboxilase, em mamíferos
que catalizam a incorporação do bicarbonato como grupo carboxil nos substratos. Em sistemas
94
não mamíferos, as enzimas biotina dependentes também atuam como transcarboxilases e
descarboxilases.
Três das quatro carboxilases dos mamíferos são enzimas mitocondriais (piruvato,
propionil-CoA e metilcrotonil-CoA carboxilases) e a quarta, acetil Côa carboxilase ocorre na
mitocôndria e no citossol. A piruvato carboxilase catalisa a incorporação do bicarbonato no
piruvato, na forma de oxalacetato, que em tecidos gliconeogênicos como fígado e rim pode ser
convertido à glicose. A degradação dos aminoácidos isoleucina, metionina, treonina e valina
resultam na produção de propionil Côa, que na carboxilação (catalisada pela propionil Côa
carboxilase), é convertido para o isômero D de miltmalonil-CoA.
Após vários passos, a metilmalonil Côa é convertida a succinil CoA, que alimenta o
ciclo do ácido tricarboxílico. Metilcrotonil-CoA carboxilase, a terceira enzima carboxilase
dependente de biotina, está envolvida na degradação de leucina. E a acetil Côa carboxilase
catalisa a incorporação de bicarbonato pelo acetil CoA para formar malonil-CoA, um substrato
para o alongamento de ácidos graxos. Nas carboxilases, a biotina é ligada à apocarboxilase por
uma reação de condensação catalisada pela holocarboxilase sintetase que está presente tanto
no citossol quanto na mitocôndria. A junção ocorre via ligação amida, formada entre ε-amino
grupo de um resíduo de lisina na apocarboxilase e o grupo carboxílico ácido valérico da biotina.
Colina
Classicamente, a colina não é uma vitamina verdadeira, porque muitos animais são
capazes de sintetizá-la no fígado, através da metilação de etanolamina, usando grupo metil
doado pela S-adenosilmetionina. A metilação acontece em duas etapas e envolve duas
metiltransferases. Já que a síntese sob algumas condições é inadequada e pequenas
quantidades de colina na dieta podem prevenir certas condições patológicas, ela é
tradicionalmente incluída com as vitaminas do complexo B.
A necessidade de colina na dieta de cães foi inicialmente definida junto com as
pesquisas de insulina, quando se descobriu que a lecitina preveniu o fígado gorduroso e morte
em cães sem o pâncreas. O termo “lipotrófico” foi aplicado para a colina e outros fatores que
previnem o acúmulo de gordura no fígado. A colina é um componente integral do fosfolipídeo
fosfatidil-colina ou lecitina. O maior papel da colina é como doador de grupos metil para as
reações de metilação. Outros componentes incluindo a metionina também doam grupos metil,
mas a colina tem três grupos metil comparados com somente um da metionina. 95
Como o ácido fólico e a vitamina B12 estão envolvidos na transferência de grupos
metil, as funções dos três estão inter-relacionadas. Uma pequena fração de colina dietética é
acetilada em neurônios colinérgicos para a síntese de acetilcolina. A colina tem 3 papéis
principais: na fosfatidilcolina, como um doador de metil, e como componente da acetilcolina.
Fosfatidilcolina (lecitina) é um elemento estrutural em membranas e é componente do VLDL. Na
deficiência de colina a capacidade diminuída do fígado para sintetizar fosfatidilcolina resulta no
acúmulo de lipídeos.
Vitamina C
As primeiras horas de vida do cão e do gato constituem um dos períodos mais críticos
do ponto de vista nutricional. Os cuidados nas primeiras 36 horas são fundamentais para garantir
a sobrevivência dos animais nessa fase. Fisiologicamente, cães e gatos neonatos ainda são
imaturos e o parto, juntamente com as condições ambientais, pode ser estressante.
Dessa forma, minimizar as causas de estresse é o principal objetivo do manejo de
animais recém-nascidos. Dentre as principais particularidades fisiológicas nessa fase podemos
citar: o controle ineficiente da homeotermia (a variação da temperatura corpórea é bastante
grande e influenciada pelo ambiente, podendo chegar até 29,5ºC nos primeiros dias de vida, o
que é bem abaixo do observado em um animal adulto- 38,1-39,5ºC); freqüência cardíaca variável
nas primeiras semanas, quando o coração passa a exercer a função de bombeamento do
sangue, nutrição e oxigenação de tecidos (o que não ocorria no útero da mãe quando a placenta
realizava esse trabalho); freqüência respiratória variando de 15-35 movimentos por minuto;
densidade urinária mais baixa devido à reabsorção de água ineficiente, o que predispõe a
desidratação, podendo haver presença de pequenas concentrações de proteína devido ao
desenvolvimento incompleto da capacidade de reabsorção dos túbulos contorcidos; reserva
limitada de glicogênio e incapacidade da gliconeogênese em suprir as necessidades e sistema
nervoso imaturo com alterações ou ausência de alguns reflexos.
O cão é considerado neonato até 6-8 semanas e após esse período passa a ser
designado por filhote. Durante a fase neonatal, as necessidades nutricionais dos animais são
normalmente supridas por leite materno. No entanto, em algumas condições tais como morte da
mãe, incapacidade de produção de leite da cadela, mastites, cadelas recebendo medicamentos
que serão excretados pelo leite e podem prejudicar o desenvolvimento dos filhotes, ninhadas
muito grandes e animais muito menores do que o restante da ninhada, a alimentação artificial 97
deve ser adotada.
Para realizar o manejo nutricional adequado é importante que se conheça a
composição do leite da cadela e da gata. Logo após o parto, os mamíferos produzem o colostro,
que possui uma composição especial e é de vital importância na transferência da imunidade
passiva ao filhote.
A maioria dos fatores presentes são proteínas grandes e intactas que necessitam ser
absorvidas pela mucosa intestinal com o objetivo de conferir imunidade aos neonatos. Com o
avançar da idade, a possibilidade de absorção dessas proteínas em sua forma original vai se
perdendo, pois as enzimas passam a agir de forma mais eficiente, levando a hidrólise das
imunoglobulinas e eliminando a sua capacidade de proteção contra agentes infecciosos. O
período em que os anticorpos de origem materna podem ser absorvidos pela mucosa intestinal
dos recém-nascidos é curto, estendendo-se até 24 horas após o nascimento do cão ou gato.
Após esse tempo a proteção via colostro não mais ocorrerá.
No entanto, além da proteção imunológica, outras funções são conferidas ao colostro:
a nutrição (é o único alimento ingerido pelo animal nas primeiras horas de vida) e a regulação do
volume circulatório do animal; assim, uma deficiência no consumo pode levar à desidratação,
bem como o excesso pode causar diarréias osmóticas, que em casos extremos pode levar os
recém-nascidos a óbito. Dessa forma, garantir a ingestão de colostro é primordial para o bom
desenvolvimento dos animais.
Com o passar do tempo, a composição dessa primeira secreção láctea vai se alterando
devido às mudanças nas necessidades dos animais, conforme o crescimento avança. De forma
geral, o leite é uma emulsão de gordura em água, com uma suspensão de micelas de caseína
(proteína) e solução de vitaminas, minerais, carboidratos e proteínas. A caseína é uma proteína
rica em aminoácidos essenciais ao desenvolvimento do filhote e está organizada em frações nas
micelas, ligada ao cálcio e ao fósforo de forma a garantir as necessidades desses minerais
necessárias ao crescimento; as proteínas do soro incluem a alfa-lactalbumina (que faz parte da
enzima lactose sintetase, necessária à síntese de lactose), a beta-lactoglobulina (essas duas são
também sintetizadas na glândula mamária), além de imunoglobulinas, albuminas (provenientes
do soro da cadela ou gata) e uma série de enzimas como a fosfatase alcalina, as lipases e
proteases; a gordura é composta especialmente de triglicerídeos de cadeia média que possuem
uma absorção e uma digestão mais fácil, essencial para essa fase da vida; o carboidrato
presente no leite é a lactose, principal fonte de energia nesse período.
Além disso, é o componente osmótico da secreção láctea, ou seja, sua presença no 98
leite influencia na produção, pois ela atrai água para a glândula mamária. É exclusivo do leite e
sintetizado na glândula mamária, constituindo-se em um dissacarídeo composto por D-glicose e
D-galactose. Para sua utilização pelo animal é necessária a presença da enzima lactase na luz
intestinal e essa consideração é bastante importante; vitaminas e outros minerais estão
presentes no soro e são provenientes da circulação materna. A diferença na composição entre
colostro e leite da cadela está demonstrada no quadro 13.
Água 100 ml
Considerações iniciais
A fase de crescimento é uma das mais exigentes e importantes do ponto de vista
fisiológico e nutricional. O manejo adequado dos filhotes é fundamental para o bom
desenvolvimento e a boa saúde dos cães adultos e os primeiros seis meses, período em que a
taxa de crescimento é mais rápida, é crucial nesse processo.
O crescimento esquelético é influenciado grandemente por diversos fatores, tais como
potencial genético do indivíduo (raça e sexo), o meio ambiente e a alimentação.
Os cães, dentre todas as espécies de mamíferos, são os que mais apresentam
variedade racial, especialmente quanto ao tamanho. As diferenças no peso corpóreo podem
chegar a mais de 100 vezes quando se compara o Chihuahua de um quilo com um São 103
Bernardo de 100 quilos, por exemplo. As grandes variações raciais fazem com que as taxas de
crescimento sejam diferenciadas, havendo um crescimento explosivo de raças grandes e
gigantes em relação ao peso inicial, nos primeiros seis meses (atingindo cerca de 60-65% do
peso adulto em raças gigantes e grandes, respectivamente). Esse crescimento se prolonga até
aproximadamente os 18 meses. Por sua vez, as raças pequenas e médias costumam atingir o
seu peso maduro por volta dos 10-12 meses. Essas diferenças marcantes no desenvolvimento
dos cães exigem manejos nutricionais diferenciados, dependendo do porte do animal.
Por sua vez, os gatos, nascem com aproximadamente 100-120 g e com cerca de dois
meses pesam 500g. Após o desmame seguem crescendo até alcançar o peso adulto por volta
de 8-12 meses. Diferentemente dos cães, em felinos a variedade racial não é grande, sendo
atualmente reconhecidas um pouco mais de 60 raças. Estas, não possuem grande amplitude no
peso corporal, sendo que as maiores raças pesam um pouco mais de 10 kg e os pesos médios
variam de 2-7 kg.
De qualquer forma, energia e alguns nutrientes como proteína e cálcio são críticos no
período de crescimento e as necessidades, nessa fase, excedem a de qualquer outra, com
exceção da lactação. As exigências energéticas aumentam especialmente durante a fase de
rápido desenvolvimento que se prolonga até aproximadamente seis meses de idade. Com a
diminuição dessa velocidade as exigências vão diminuindo até que o crescimento se complete e
as necessidades do animal sejam as de manutenção. As proteínas são utilizadas na formação
de novos tecidos e devem ser de alta qualidade e digestibilidade para que sejam fornecidos
todos os aminoácidos essenciais. O cálcio, por sua vez, é extremamente importante para o
crescimento e desenvolvimento ósseo.
A adoção de um programa nutricional rigoroso é essencial para que se evite a
subalimentação ou a superalimentação. A subalimentação pode acontecer na parcela dos
animais que se alimentam de restos de comida (que é bem diferente de dieta caseira, conforme
veremos no módulo IV). No entanto, com o grande avanço nos conhecimentos e a grande
disponibilidade de alimentos no mercado de nutrição de animais de companhia, a
superalimentação é uma realidade. Com a finalidade de proporcionar uma dieta de qualidade e
que resulte no bom desenvolvimento e na saúde de seus animais, muitos proprietários oferecem
a eles alimentos comerciais associados a suplementos nutricionais. Apesar da boa intenção,
esta prática ao invés de proporcionar melhor nutrição e melhoria à saúde, pode induzir a
prejuízos futuros e devido às variações no crescimento, os animais de raças grandes e gigantes
são os mais predispostos à ocorrência de doenças ósseas e articulares. 104
O crescimento
Figura 20- Influências hormonais e minerais no metabolismo da vitamina D. Adaptado de Hazewinkel et al. (2002).
O hormônio de crescimento (GH) é liberado pela hipófise de modo pulsátil e atua sobre
os órgãos alvo (osso, cartilagem, músculo, rins e fígado) de modo direto e indireto, através das
somatomedinas. O disco epifisário é extremamente sensível ao GH e sua secreção aumenta a
atividade mitótica com proeminente atividade osteoblástica. Embora o GH possua meia vida
curta, as somatomedinas têm uma meia vida maior. Esse hormônio está envolvido na grande
variedade de tamanhos e formas (diferentes raças) encontradas na espécie canina. Segundo
Favier et al. (2001) as diferenças entre o peso corpóreo entre animais médios e gigantes estão
associados com diferenças na liberação de GH em animais jovens e não a diferenças na
concentração de IGF-I ou IGF-2 circulantes.
Tanto em Dogue alemão quanto em Beagle há um período de hipersomatotropismo
juvenil. A relativa longa permanência desta liberação em cães de raças gigantes pode ser o
atraso na maturação dos mecanismos que inibem a secreção de GH. Assim, as diferenças entre
os tamanhos estariam relacionadas ao tempo mais prolongado de secreção do hormônio de 108
crescimento nas raças grandes e gigantes.
Devido à ação desse hormônio temos diferentes tamanhos raciais e distintas curvas de
crescimento (figura 21). Assim, cães de raças pequenas e médias completam o seu
desenvolvimento mais precocemente, mas o seu peso final não aumenta tanto em relação ao
seu peso de nascimento, quando comparados com os animais de maior porte. Por esse motivo,
a nutrição entre as raças maiores e menores deve ser diferenciada e as conseqüências de uma
má nutrição normalmente são mais sérias nos animais gigantes.
Figura 21- Curva média de crescimento de doze raças de cães. Mastife Inglês (-X-), São Bernardo (●), Irish
Wolfhound (----), Dogue Alemão (▲), Terra Nova (+), Labrador Retrivier ( ), Beagle (■), Springer Spaniel Inglês (■
■ ■), Cocker Spaniel Inglês (■■), Schnauzer miniatura (●●●), Cairn Terrier (-X), Papilon (----). Fonte: Hawthorne et
al. (2004).
Além da curva de crescimento, a capacidade do sistema digestório de animais de
raças grandes e gigantes é diferenciada. O tamanho relativo do trato gastrointestinal de cães de
grande porte é menor do que nos pequenos sendo que o intestino equivale a cerca de 3-4% do
peso corporal nos primeiros e 6-7% nos outros. No entanto, o tempo de trânsito é maior nas
raças grandes (cerca de 43,2 x 22,9 horas), sendo que a permanência no cólon representa cerca
de 80-90% do período total. Isso estimula o desenvolvimento da microflora intestinal com a
produção de ácidos graxos voláteis que aumentam a osmolaridade e reduzem a absorção de 109
água, gerando fezes mais moles.
É extremamente importante também ressaltar que o consumo de alimento por quilo de
peso vivo diminui à medida que o tamanho do cão aumenta. Enquanto um poodle miniatura de
35 semanas consome cerca de 34,4 g de alimento/kg de peso vivo, um dogue alemão com a
mesma idade ingere cerca de 18,6 g.
aproximadamente 25 kcal/100 g (Kienzle et al., 1985). b As exigências energéticas de manutenção de cães inativos,
tais como cães de companhia sem acesso ou estímulo ao exercício podem ser 10-20% mais baixas, e as de animais
muito ativos como os Dogue alemães, em canis, podem ser maiores. Fonte: NRC (2006).
Quadro 16- Energia metabolizável diária para gatos em crescimento após desmame
Deve-se ter em mente que a alimentação na fase de crescimento deve ser controlada
com o objetivo de evitar o desenvolvimento de obesidade juvenil, mais difícil de ser tratada. Além
disso, o excesso de energia nos cães grandes tem sido associado a uma série de doenças
esqueléticas, tais como osteocondrites,osteocondroses e displasias. Num estudo realizado por
Kealy et al. (2000) com 48 cães das raças Labrador Retriever divididos em dois grupos, o
controle (com alimentação restrita em 25%) e o grupo ad libitum, constatou-se que a prevalência
e a severidade da osteoartrite em diversas articulações foram menores nos cães com restrição
alimentar do que em cães do grupo controle.
Dämmrich (1991) também concluiu que a superalimentação é um dos fatores mais
importantes no desenvolvimento das osteocondroses, já que o excesso de ingestão de alimentos
pode promover um aumento da massa muscular e peso maior do que as superfícies articulares 111
são capazes de suportar. A supernutrição (administração à vontade) pode promover um aumento
na velocidade de crescimento e a combinação entre crescimento esquelético rápido e
desenvolvimento muscular proeminente leva à concentração de forças biomecânicas na
superfície articular, onde elas são estruturalmente fracas. Assim, nos cães grandes, de
crescimento rápido, esta combinação aumenta não só o desenvolvimento da doença, mas
também o agravamento da severidade de lesões presentes.
As necessidades protéicas nessa fase são mais elevadas que a de animais adultos,
porque além de suprir as exigências de manutenção, requerem proteínas para o
desenvolvimento de tecidos associados ao crescimento. Estas devem ser de alta digestibilidade
e elevado valor biológico. Sua relação com a energia é importante devido ao intenso anabolismo,
sendo necessário que ela corresponda, no mínimo, a 22% da energia metabolizável em cães e
26,25% em gatos, ou seja, da energia fornecida ao animal por carboidratos, lipídeos e vitaminas
essa é a porcentagem mínima que cabe à proteína.
Segundo a AAFCO (2007) deve-se fornecer no mínimo 22% de proteína na matéria
seca de dieta contendo 3500 kcal para cães e 30% na matéria seca de dieta contendo 4000 kcal
para gatos em crescimento. Quanto aos aminoácidos, as exigências mínimas para cães filhotes
são arginina, 0,62%; histidina, 0,22%; isoleucina, 0,45%; leucina, 0,72%; lisina, 0,77%;
metionina-cisteína, 0,53%; fenilalanina-tirosina, 0,89%; treonina, 0,58%; triptofano, 0,20%; valina,
0,48%. Para gatos, as concentrações mínimas são arginina, 1,25%; histidina, 0,31%; isoleucina,
0,52%; leucina, 1,25%; lisina, 1,20%; metionina-cisteína, 1,10%; metionina, 0,62%; fenilalanina-
tirosina, 0,88%; fenilalanina, 0,42%; taurina (alimento extrusado), 0,10%; taurina (alimento
enlatado), 0,20%; treonina, 0,73%; triptofano, 0,25%; valina, 0,62%.
Quantidades dietéticas de gorduras totais exigidas para o crescimento de animais são
maiores do que aquelas requeridas para a mantença de adultos, mas menores do que o
conteúdo de gordura do leite canino. Assim, as necessidades para o crescimento encontram-se
provavelmente entre os perfis de nutrientes do leite e do necessário para a mantença. Para cães,
recomenda-se cerca 8,5% da matéria seca (MS) (18% EM) em gordura.
Para ácidos graxos, uma estimativa de ingestão de ácido linoléico (LA) de 1,3% da MS
e de 0,08% da MS de ácido linolênico (ALA) seria adequada, com relação LA:ALA de 16,3. Para
o ácido docosahexaenóico (DHA), a ingestão adequada parece ser entre 0,03 a 0,05% da MS.
Já para eicosapentaenóico (EPA) as exigências são menores e não devem exceder mais que
0,03% da MS. A AAFCO (2007) recomenda um mínimo de 8% de gordura e de 1% de ácido 112
linoléico.
Para gatos, o NRC recomenda 9% de gordura total, 0,55% de ácido linoléico, 0,02% de
alfa-linolênico, 0,02% de araquidônico, 0,01% de docosahexaenóico e 0,01% de
eicosapentaenóico por quilo de dieta contendo 4000 kcal/kg. Os perfis da AAFCO indicam 9,0%
de gordura, 0,5% de ácido linoléico e 0,02% de ácido araquidônico por quilo de dieta contendo
4000 kcal. Não há indicações para DHA e EPA nas tabelas da AAFCO.
Segundo o NRC (2006), as necessidades de cálcio para cães após o desmame são de
1,2% na matéria seca de dieta contendo 4000 kcal/kg, com nível máximo de 1,8%. Quanto à
AAFCO (2007), é de 1,0% na matéria seca de dieta contendo 3500 Kcal, com um limite máximo
de 2,5%. Para o fósforo, as recomendações são de 1,0%, segundo o NRC (2006) e 0,8%,
segundo a AAFCO, sendo que a AAFCO estabelece um limite máximo de 1,6%. Ainda segundo
a AAFCO, a relação cálcio e fósforo, mínima, deve ser de 1:1, com máximo de 2:1. Já gatos
necessitam de 0,8% e 1,0% de cálcio na matéria seca de dieta contendo 4000 kcal/kg, segundo
o NRC (2006) e a AAFCO (2007), respectivamente. Para o fósforo, as recomendações são de
0,72% segundo o NRC (2006) e 0,8%, segundo a AAFCO. Não há níveis máximos estabelecidos
para felinos em nenhum dos dois boletins.
O cálcio e o fósforo são minerais importantes durante a fase de crescimento. Para
permitir um crescimento ótimo dos ossos, a sua ingestão deve ser cuidadosamente controlada,
particularmente nos cães de raças grandes e gigantes. O intervalo de tempo mais crítico situa-se
entre o desmame e cinco meses. Um teor inadequado nessa fase prejudica o crescimento ósseo
e aumenta o risco de distúrbios do crescimento (Martin, 2004). A relação cálcio-fósforo também é
extremamente importante. Dietas com alta concentração de fósforo causam mudanças
bioquímicas que incluem a diminuição do fósforo plasmático, o aumento da fosfatase alcalina e
da hidroxiprolina urinária total, nefrocalcinose, diminuição do cálcio urinário e redução da
densidade óssea no fêmur (Schaafsma e Visser, 1980).
Diversos autores têm relatado a influência de altos níveis desse mineral. Numa extensa
revisão realizada pelo National Research Council há uma listagem de trabalhos clássicos.
Hedhammar et al. (1974) citados por National Research Council (2006) descrevem que se
alimentando à vontade, por um ano, filhotes de Dogue Alemão com dietas contendo 20,4g de
Ca/Kg (5,2g por 1.000Kcal de EM) desenvolveram-se mudanças clinicas e patológicas
esqueléticas incluindo osteocondrose, diminuição do turnover dos ossos e aumento do índice de
minerais, comparado a animais alimentados de forma restrita. Hazenwinkel et al. (1985), citados 113
por National Research Council (2006), verificaram que dieta contendo 33g de Ca/Kg na base da
MS causou osteocondrose, curvatura do osso rádio e retardo no crescimento.
Hazewinkel et al. (1991) demonstraram diminuição da porcentagem da absorção
intestinal de Ca, aumento da absorção de Ca total, diminuição das taxas de turnover dos ossos e
uma mudança similar patológica em Dogue Alemão em crescimento, alimentado com dietas
contendo 8,9g de Ca por 1.000Kcal de EM, 33g de Ca/Kg de dieta com 3.700Kcal de EM/Kg na
base da MS. Nap et al. (1993) alimentando filhotes de Poodle Miniatura com dietas similares,
causou mudanças metabólicas parecidas com as alterações vistas em cães de raças gigantes;
no entanto, não foram observadas anormalidades esqueléticas significativas.
Goodman et al. (1998), citados por National Research Council (2006), e Lauten e
Goodman (1998), citados por National Research Council (2006), também relataram
conformações inadequadas e lesões esqueléticas em filhotes de Dogue Alemão alimentados
com dietas contendo 6,8g de Ca por 1.000Kcal de EM. Já Slater et al. (1992), encontraram que
dietas com concentrações de Ca > que 3,6g por 1.000Kcal de EM estão associadas ao aumento
do risco de osteocondrites. Assim, os excessos de cálcio dietético têm mostrado ser causa de
anormalidades ósseas em cães em crescimento. No entanto, esses efeitos parecem restritos a
filhotes de raças grandes e gigantes.
Quanto às doenças carenciais, o hiperparatireoidimso nutricional secundário foi um
problema significativo em filhotes de cães, até o último terço do século XX. Nesta patologia,
níveis reduzidos de cálcio causados pela baixa biodisponibilidade ou redução na absorção
intestinal, muitas vezes aliada a concentrações normais a elevadas de fósforo, ativam o PTH a
realizar a reabsorção osteoclástica óssea, reabsorção renal de cálcio e excreção de fosfato com
produção mais ativa da vitamina D. Com a intensa reabsorção, más formações esqueléticas com
predisposição a fratura são observadas e em alguns casos, podem ser fatais. Atualmente esse
quadro é menos comum em clínicas veterinárias, mas não podemos esquecê-lo, pois sabemos
que ainda há uma parcela relativamente grande da população canina e felina que não tem
acesso a dietas balanceadas.
Duas vitaminas exercem efeitos importantes sobre o esqueleto, A e D. A vitamina A
parece estar associada à atividade de osteoclastos e de osteoblastos na cartilagem epitelial e à
divisão e manutenção das membranas celulares mediante a síntese de glicoproteínas. Ela
estaria envolvida nos processos de regeneração e sua deficiência pode causar herniação,
distorção e degeneração de nervos, por alterações na passagem dos nervos pelos ossos. A 114
vitamina D foi extensamente revisada no módulo anterior e seu papel estaria associado à
absorção ativa do cálcio, a partir da participação na síntese da proteína ligante de cálcio (a
calbindina).
Do ponto de vista nutricional, a fase de crescimento é uma das mais críticas e as
medidas adotadas durante esta etapa se refletirão no desempenho e na conformação do animal
adulto. O fornecimento de dieta equilibrada e de manejo adequado é fundamental para a
obtenção de resultados positivos e manutenção da saúde do filhote.
Muito tem sido discutido sobre o fornecimento de energia, proteína e cálcio, já que
esses elementos são pontos de destaque na nutrição durante essa fase. O fornecimento de
alimentações controladas, baseadas nas necessidades energéticas dos animais parece ser uma
medida importante para evitar a aceleração da taxa de crescimento e o sobrepeso que podem
ter conseqüências graves, com o aparecimento de uma série de doenças ósseas.
A proteína é necessária para o bom desenvolvimento; quantidades superiores às
recomendadas pela AAFCO não parecem ter efeitos deletérios sobre o esqueleto. Fontes de
elevado valor biológico e alta digestibilidade são essenciais para proporcionar o crescimento
adequado aos filhotes. Dentre todos os pontos críticos, o cálcio é o mais preocupante. Além das
quantidades presentes nos alimentos comerciais, a suplementação realizada por muitos
proprietários e criadores, predispõe a distúrbios esqueléticos graves em animais de raças
grandes e gigantes. Cabe ao profissional da nutrição de pequenos animais orientar proprietários,
criadores e colegas, que maximizar a taxa de crescimento não é proporcionar o desenvolvimento
adequado e saudável. E de que excessos podem ser tão ou mais prejudiciais do que a própria
deficiência.
Em relação ao manejo alimentar, é importante ressaltar que a alimentação deve ser
controlada nesta fase, especialmente para cães de raças grandes e gigantes que devem receber
a quantidade necessária para suprir as suas necessidades, em duas ou mais refeições diárias.
4.4 Animais em reprodução, gestação e lactação
A seleção dos animais para cruzamento deve incluir o controle de qualquer defeito ou
anomalia que possa ser transmitida geneticamente. Todos os animais devem ser submetidos a
uma avaliação concreta de seu temperamento, estrutura e saúde, antes de serem admitidos num
programa de reprodução. Diversas provas de funcionalidade e morfologia corporal podem ser
utilizadas para avaliá-los e compará-los, a fim de estabelecer os padrões de cruzamento. Uma 115
vez escolhido o cão ou o gato que será utilizado como reprodutor, deve-se fazer um exame físico
completo, incluindo exames coproparasitológicos, com desverminação e aplicação de vacinas
necessárias. Assim, antes do cruzamento, os animais devem estar em excelente estado físico e
adequadas condições de saúde.
116
Onde=
L= fator de correção para semana de lactação: semana 1- 0,75; semana 2- 0,95, semana
3- 1,1; semana 4- 1,2.
Exemplo: 120
Já a gata, produz cerca de 1,5-8% de seu peso vivo no pico de lactação, sendo que
aquelas com um ou dois filhotes normalmente produzem abaixo de 2% do peso vivo, as com 3-4
filhotes têm a produção de leite entre 5-6% e um máximo de 8% foi observado em gatas com 6
filhotes. Estima-se que essa produção esteja distribuída da seguinte forma: 85% na primeira
semana, 95% na segunda, 100% na terceira e na quarta, e 85,75 e 60% nas semanas 5,6 e 7,
respectivamente.
Exemplo:
122
Gata de 3,5 kg, 4 filhotes, terceira semana de lactação
Com relação aos carboidratos, embora estes não sejam dieteticamente essenciais,
deve-se considerar que há uma essencialidade metabólica de glicose. Como o feto utiliza
exclusivamente glicose como fonte energética, a presença de carboidratos é fundamental ao
bom desenvolvimento do feto durante a prenhez.
Por sua vez, vitaminas e minerais têm uma participação extremamente importante na
reprodução e por serem co-fatores metabólicos colaboram para a otimização do processo
reprodutivo e para a viabilidade pré e pós-natal dos filhotes. Durante a gestação, por exemplo,
diferentes vias metabólicas são alteradas levando a um maior consumo de oxigênio e a 124
modificações que resultam no consumo de substratos energéticos, com maior exposição ao
estresse oxidativo.
Para gatos, as quantidades são as seguintes: 9000 UI/kg de vitamina A, 750 UI/kg de
vitamina D, 30 UI/kg de vitamina E, 0,1 mg/kg de vitamina K, 5 mg/kg de tiamina, 4 mg/kg de
riboflavina, 5 mg/kg de ácido pantotênico, 60 mg/kg de niacina, 4 mg/kg de piridoxina, 0,8 mg/kg
de ácido fólico, 0,07 mg/kg de biotina, 0,02 mg/kg de cianocobalamina, 2400 mg/kg de colina,
0,1% de taurina para alimento extrusado e 0,2% para alimento úmido.
105 x PV 0,75
Onde:
a Cães mantidos em um ambiente doméstico com forte estímulo e ampla oportunidade de
exercício, tais como cães em casas de campo múltiplas ou em casas com grandes jardins; b 128
Cães mantidos em um ambiente doméstico com poucos estímulos e oportunidade para
exercício. Necessidades para cães idosos ou com sobrepeso podem estar sendo
superestimadas.
Para gatos, como o peso e a forma do corpo não variam tão grandemente entre as
raças, era comum utilizar-se o peso vivo como forma de definir as suas exigências energéticas.
O modelo linear era mais comum que o alométrico, já que se baseava no peso corpóreo e não
no metabólico. No entanto, o NRC propõe a utilização do expoente 0,67 (intra-específico) que
evitaria a superestimação das necessidades em animais mais pesados. No entanto, animais com
sobrepeso devem utilizar o expoente de 0,4 já que o tecido adiposo possui uma taxa metabólica
bem menor do que o muscular e conseqüentemente diminui as necessidades energéticas do
animal. Para felídeos e gatos exóticos, no entanto, recomenda-se a utilização de 0,75. As
equações para gatos adultos em manutenção estão demonstradas no quadro 21.
a
Necessidades individuais de gatos podem ser menores ou subestimadas em mais de
50%; Escore de condição corporal ≤ 5 em uma escala de 9; c Escore de condição corporal > 5
b
em uma escala de 9
Quanto às necessidades de proteína, lipídeos, minerais e vitaminas, elas são menores
do que as exigidas para crescimento e reprodução. As concentrações mínimas para a
manutenção segundo a AAFCO estão demonstradas nas tabelas 2 e 3.
Proteína Bruta % 18
arginina % 0,51
histidina % 0,18
isoleucina % 0,37
leucina % 0,59
lisina % 0,63
metionina+cistina % 0,43
fenilalanina+tirosina % 0,73
treonina % 0,48
triptofano % 0,16
Valina % 0,39
Gordura % 5
Ácido linoléico % 1
Minerais
Cálcio % 0,6
Fósforo % 0,5
Manganês mg/kg 5
Vitaminas e outros
Tiaminae mg/kg 1
Piridoxina mg/kg 1
Proteína Bruta % 26
arginina % 1,04
histidina % 0,31
isoleucina % 0,52
131
leucina % 1,25
lisina % 0,83
metionina+cistina % 1,1
fenilalanina+tirosina % 0,88
fenilalanina % 0,42
treonina % 0,73
triptofano % 0,16
Valina % 0,62
Gordurab % 9
Minerais
Cálcio % 0,6
Fósforo % 0,5
132
Potássio % 0,6
Sódio % 0,2
Cloreto % 0,3
Magnésioc % 0,04
mg/k
Ferrod g 80
mg/k
Cobre (extrusado)e g 5
Cobre (úmido)e 5
mg/k
Manganês g 7,5
mg/k
Zinco g 75 2000
mg/k
Iodo g 0,35
mg/k
Selênio g 0,1
Vitaminas e outros
UI/k
Vitamina A g 5000 750000
UI/k
Vitamina D g 500 10000
Vitamina Ef 30
UI/k
g
Vitamina Kg 0,1
mg/k
Tiaminah g 5
mg/k
Riboflavina g 4
mg/k
133
Ácido pantotênico g 5
mg/k
Niacina g 60
mg/k
Piridoxina g 4
mg/k
Ácido fólico g 0,8
Biotinai 0,07
mg/
Cianocobalamina kg 0,02
mg/
Colinaj kg 2400
Há uma classe especial de cães que embora sejam adultos não estão em manutenção
porque exercem um tipo de atividade mais intensa que os passeios diários ou as brincadeiras
com os donos. Atualmente, os cães auxiliam as pessoas em diversas atividades, seja
pastoreando rebanhos, exercendo a função de guias para cegos, guarda em residências ou
estabelecimentos comerciais, programas de terapia de pacientes em estado terminal ou em
recuperação ou ainda participando de competições, como os agility, corridas ou em países frios,
a tração de trenós. Animais que exercem esses tipos de funções precisam de nutrição
específica.
Para determinar qual o tipo de alimentação que o animal deverá receber é necessário
que primeiramente se defina qual o tipo de exercício que ele realiza. De forma geral, os
exercícios podem ser classificados em três tipos: os aeróbios ou de resistência, os anaeróbios
ou de curta duração e os mistos.
Os de curta duração exigem especialmente carboidratos como fonte de energia, pois a
duração breve impede a mobilização de ácidos graxos e oxigenação necessária para o
metabolismo aeróbio. As fibras predominantes nesse tipo de atividade são as do tipo 2B, que
apresentam contração mais rápida, maior reserva de glicogênio, maior capacidade glicolítica e
menor capacidade oxidativa. As corridas são exemplos típicos deste tipo de exercício.
Os animais submetidos a elas precisam de dietas ricas em carboidratos, de fácil
digestão, que favoreça a manutenção da glicemia e das reservas de glicogênio. As principais
fontes de energia utilizadas nas corridas são o ATP, armazenado no músculo, a creatina quinase
(necessária para a explosão e que fornece energia nos primeiros 20 segundos de atividade),
glicose e glicogênio armazenados. 135
Os exercícios de longa duração ou de resistência recrutam preferencialmente fibras
do tipo 1, que apresentam contração lenta, são especializadas em manter a contração muscular
sem fadiga e tetania por longos períodos, ideal para a resistência. Essa resistência à fadiga é
atribuída à maior densidade de mitocôndrias do tecido, o que confere uma maior capacidade
aeróbica ou oxidativa. Esse tipo de fibra apresenta também uma maior reserva lipídica, maior
irrigação capilar, menor reserva de glicogênio e menor atividade de enzimas glicolíticas.
Nesse caso, os ácidos graxos oxidados nas células musculares são derivados de
ácidos graxos livres de cadeias longas circulantes no plasma. Os ácidos graxos livres penetram
na célula por um processo de difusão; uma vez no interior, a carnitina desempenha o papel de
transporte através da membrana mitocondrial. Ao mesmo tempo, ácidos graxos livres podem ser
removidos pelo fígado, convertidos em corpos cetônicos e liberados na circulação. A oxidação de
ácidos graxos livres atua como principal fonte de energia durante exercícios prolongados de
baixa ou moderada intensidade. Exercícios de resistência (tração) são os principais exemplos de
atividades aeróbias (de longa duração).
Nos exercícios mistos, utilizam-se as rotas aeróbia e anaeróbia e as fibras
musculares predominantes são as do tipo 2 A, intermediárias, em velocidade de contração e
propriedades metabólicas. Esse tipo de fibra favorece a oxidação de lipídeos e carboidratos, mas
também a degradação de glicogênio no exercício anaeróbico. O agility é o principal exemplo
desse tipo de atividade, já que as provas exigem tanto a explosão, para ultrapassar os
obstáculos de salto, quanto a persistência no exercício que permitam completar todos os
obstáculos presentes na prova (saltos, pneu, muro/viaduto, salto em distância, túnel aberto, túnel
fechado, “slalom”, mesa, paralela, rampa A e gangorra).
Além de lipídeos e carboidratos, deve-se ter em mente que os aminoácidos podem
disponibilizar de 5 a 10% da energia oxidativa para os músculos. Seu grupo amino é transferido
para o piruvato, formando alanina, e para o glutamato, formando glutamina. Alanina e glutamina
são liberadas na corrente sangüínea, removidas pelo fígado e usadas para a síntese de glicose.
Uma vez sintetizada, esta é liberada no sangue e se torna disponível para a oxidação
intramuscular.
A maioria dos músculos apresenta uma mistura dos diferentes tipos de fibras e utilizam
os nutrientes que fornecem energia de forma diferenciada. A proporção entre elas não é
constante e o treinamento pode alterar a composição e o tamanho da fibra no mesmo músculo.
Após um curto período de tempo e treinamento, existe um aumento no volume e na densidade
das mitocôndrias, acarretando em um aumento da capacidade oxidativa da célula. Ocorre 136
também um aumento na relação entre as fibras 2A:2B e da capilaridade local, proporcionando
maior oxigenação e suprimento energético para o músculo em exercício, facilitando a retirada
dos metabólitos que levam à fadiga muscular. A fadiga é resultado da diminuição de algumas
substâncias durante o exercício (ATP e glicogênio) e acúmulo de outras (lactato e íons
hidrogênio). A transição do ácido lático derivado do músculo para o sangue é aumentada devido
à rápida circulação e presença de bicarbonato no sangue. O acúmulo de ácido lático é
tradicionalmente associado com metabolismo anaeróbico. Por outro lado, a oxidação de ácidos
graxos poupa nitrogênio muscular, especialmente após longa adaptação metabólica. Dessa
maneira, o animal que se adapta ao exercício consegue utilizar de forma mais eficiente a gordura
com economia de glicogênio e reduzido acúmulo de lactato.
A dieta para atender o cão atleta deve ser de alta densidade energética (dietas com
baixa densidade, aumentam o consumo o que leva a um maior volume no trato gastrointestinal,
indesejável para animais que se exercitam), possuir fontes de proteína de alta digestibilidade e
alto valor biológico (ovos, caseína, carnes), conter carboidratos de alta digestibilidade, utilizar
triglicerídeos de cadeia média (mecanismo de absorção diferenciado; as gorduras são fontes de
água metabólica, podendo contribuir para a hidratação do animal, além de contribuir para
aumentar a densidade energética e a palatabilidade), e suplementação de vitaminas (a A,
participa da estrutura de ligamentos, a D, importante no equilíbrio do cálcio e do fósforo, a K,
responsável pelas boas características sangüíneas, a E, um importante antioxidante que mantém
a estabilidade de membranas e as do complexo B, que participam como coenzimas no
metabolismo energético). Estão disponíveis dietas comerciais próprias para cães em atividade.
Com relação aos suplementos disponíveis para a utilização em cães atletas é
importante lembrar que antes de realizar qualquer suplementação é importante que se conheça
a dieta e o tipo de exercício ao qual o animal está sendo submetido, para avaliar se há real
necessidade da utilização destes. Atualmente, com o objetivo de obter o máximo desempenho
de seus cães, muitos proprietários e criadores têm errado pelo excesso.
Creatina, leucina e glutamina poderiam aumentar a síntese protéica e contribuir para o
aumento da massa muscular (Kreider, 1999) e a L-carnitina auxilia na oxidação de ácidos
graxos, por exemplo.
137
Segundo o NRC (2006) embora os termos idoso, senil e geriatra sejam freqüentemente
utilizados como sinônimos, eles têm definições distintas. A senilidade é o conjunto de eventos
que começa a ocorrer assim que o cão atinge a maturidade, tais como diminuição da atividade,
do ganho de peso e alterações comportamentais que culminam com o envelhecimento. Portanto,
está relacionado às alterações fisiológicas inerentes a esse processo. Por outro lado, a geriatria
é um termo relacionado à idade cronológica em que a partir de um determinado período os
animais são assim determinados.
Todas essas condições derivam da ocorrência de uma série de fenômenos biológicos
complexos que são definidos em conjunto como envelhecimento. Este se caracteriza pela
redução na capacidade do organismo em manter a homeostasia frente aos estresses fisiológico
interno e ambiental externo. A etiologia desse processo ainda não está completamente
elucidada, mas acredita-se que seja multifatorial e que eventos metabólicos, nutricionais,
ambientais e genéticos contribuam para a ocorrência de alterações degenerativas para a perda
de reservas e das capacidades de regeneração e adaptabilidade.
O tamanho do animal influi marcadamente nesse processo e mudanças celulares
imperceptíveis começam a ocorrer nos animais em uma fase precedente à senil e denominada
como maturidade. Os cães de raças grandes e gigantes tornam-se maduros aos 5-6 anos e
vivem em média 10; já os pequenos e médios são maduros entre 7-8 anos e tem sobrevida
média entre 13-20.
Dentre as alterações que os animais senis sofrem destaca-se a diminuição do
metabolismo basal e da atividade, da capacidade de termorregulação, da sensibilidade à sede (o
que os torna sensíveis à desidratação), da quantidade e qualidade do sono, do olfato, paladar,
visão e audição (o que conduz a diminuição no consumo voluntário de alimentos), formação de 138
tártaro que leva a doenças periodontais e agrava a tendência a diminuição na ingestão de
alimentos, redução da função hepática, da absorção intestinal e da motilidade do cólon (que leva
a constipação), da funcionalidade da maioria das glândulas endócrinas (hipófise, adrenais,
tireóide, pâncreas endócrino, o que aumenta a sensibilidade a diabetes melitus), da função renal
(em até 50%, o que conduz ao dano progressivo por sobrecarga funcional dos néfrons que ainda
funcionam, com aparecimento de poliúria, polidipsia e incontinência), neoplasias testiculares e
mamárias, endometrite e problemas reprodutivos, diminuição da massa e tônus muscular,
alterações ósseas que predispõem a fraturas e alterações articulares, incidência de bronquite
crônica e patologias respiratórias, como enfisemas com redução da capacidade respiratória e
diminuição em até 30% da eficiência cardíaca, com aumento da resistência periférica levando à
hipertensão e congestão cardíaca. Com todas essas alterações fisiológicas fica claro que a
concentração de energia e nutrientes e o manejo da dieta devem sofrer modificações para os
animais na fase de senilidade.
A redução da taxa metabólica e da atividade faz com que haja uma diminuição nas
necessidades energéticas dos cães e gatos senis. A inatividade somada à redução na taxa
metabólica leva à queda de 30-40% nas exigências. A perda de massa muscular e a maior
porcentagem de massa gorda é uma das causas da redução das necessidades energéticas. É
importante que se estimule os animais a consumirem o alimento, mas deve-se atentar para a
exigência energética a fim de evitar a ocorrência de obesidade.
Em relação à concentração de proteínas, é importante ressaltar que o fornecimento de
proteína é um dos assuntos mais discutidos na nutrição humana e de pequenos animais. As
altas concentrações desse nutriente nos alimentos comerciais e a grande prevalência de
doenças renais em animais idosos levam ao debate sobre se o seu consumo em excesso
poderia predispor à ocorrência de danos renais pela sobrecarga desse órgão, causada pelo
aumento crônico da pressão glomerular e pela hiperfiltração. Algumas correntes de
pesquisadores dizem que deve haver uma diminuição na concentração de proteínas assim que o
animal atinge a maturidade e outros defendem que essa não é a postura mais adequada, já que
o catabolismo protéico ocorre mais acentuadamente e é necessário para responder ao estresse
e às doenças comuns nessa fase. De qualquer forma, é importante que as fontes protéicas
tenham valor biológico alto e sejam de excelente digestibilidade, com o objetivo de suprir as
necessidades dos animais.
Com relação aos lipídeos, pode-se dizer que os cães geriátricos apresentam uma
menor capacidade na utilização das gorduras e uma discreta diminuição em sua concentração 139
pode ser benéfica. Dietas com menos de 20% da energia disponível vinda das gorduras são
desejáveis, embora em ocasiões especiais (tais como animais abaixo do peso) a utilização de
até 30% possa ser recomendada. Lembrar sempre que embora deva ser diminuída a gordura é
necessária, já que fornece os ácidos graxos essenciais, garante a palatabilidade às rações e é
importante para a absorção de outros nutrientes como as vitaminas lipossolúveis.
Quanto aos carboidratos, há declínio na capacidade de cães e gatos em regularem a
concentração de glicose no sangue, necessitando de um maior período pós-prandial para o
retorno aos seus níveis basais, como resultado de menor resposta da insulina aos tecidos
(National Research Council, 2006). Assim, a utilização de carboidratos com menor índice
glicêmico e de fibras solúveis e insolúveis na alimentação tem sido adotada como estratégia na
nutrição humana e de cães e gatos.
Na nutrição mineral, há diminuição na capacidade em eliminar os fosfatos e na
produção do calcitriol (vitaminaD3 ativa) responsável pela absorção intestinal de cálcio que pode
levar ao desenvolvimento de hiperparatireoidismo. Uma redução de 15-20% do teor de fósforo e
um ligeiro aumento do cálcio sem comprometer a relação cálcio fósforo é importante. O teor de
sódio também deve ser diminuído para evitar o agravamento de hipertensão secundária a
doenças renais. Outros microminerais, tais como o selênio (propriedades antioxidantes), o zinco
e o cobre são importantes para os cães senis, mas normalmente as rações comerciais possuem
níveis adequados ou superiores deles e se um cão tiver ao menos 50% com ração, não há
necessidade de suplementação.
Em relação às vitaminas, um aumento nas vitaminas do complexo B pode beneficiar os
animais geriátricos, já que o comprometimento do sistema digestivo aumenta as suas
necessidades. As vitaminas E e C têm importância como antioxidante, embora a suplementação
para a expressão dessa atividade deva ser em dosagens superiores às para a obtenção de suas
atividades fisiológicas. A vitamina A é não é um potente antioxidante, mas o seu precursor beta
caroteno sim. Isso não significa que a adição de vitamina A pré-formada não seja importante na
dieta de gatos senis. Sua participação na manutenção da integridade visual é importante, já que
como vimos, há perdas importantes de função no processo de envelhecimento.
Como manejo, mudanças súbitas na rotina diária e na dieta desses animais devem ser
evitadas; deve-se utilizar o esquema de alimentação controlada para auxiliar na manutenção do
peso ideal e fornecer um alimento facilmente digerível e de alta palatabilidade.
140
5 OS ALIMENTOS
Segmento 2007(U$$) %
Serviços 13
546.080.000,00
Equipamentos e acessórios 5
215.622.000,00
Total 100,00
4.101.894.248,69
2007, em bilhões de dólares
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos Pet (2008) citado por Aquino et al. (2008)
E há um grande potencial para crescimento da indústria pet nacional. Isto porque o
percentual de animais que consomem alimentos industrializados no país é de apenas 45%.
Estes valores são baixos quando comparados a países europeus como Reino Unido (60%) e
França (80%). No entanto, a produção brasileira é a segunda do mundo (1,8 milhões de
toneladas com um faturamento de U$$ 3,07 bilhões) perdendo apenas para os Estados Unidos
(tabela 5). A Região Sudeste é a maior responsável por este resultado, respondendo por 52,64%
do mercado, seguida pela Sul (40,42%), Centro-Oeste (4,45%), Nordeste (1,94%) e Norte 142
(0,55%).
Tabela 5 – Produção de alimentos comerciais pela indústria brasileira - ano de 1994 a 2007.
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos Pet ANFAL PET (2006); * 2006 - valores
estimados
No entanto, em 2007 o crescimento foi de 4,26%, o que não correspondeu às
expectativas iniciais de 8%. Isso poderia ter ocorrido, em parte, pelo aumento no custo das
matérias-primas, mas especialmente devido aos altos tributos, um dos grandes desafios da
indústria de alimentos para animais de companhia no Brasil. No total, os alimentos para os
animais de companhia são taxados com 49,9% de impostos, enquanto que os insumos
agropecuários com 15,25%, e a cesta básica, 7%. Isso acontece porque estes são taxados como
supérfluos, apesar desta nutrição substituir os alimentos de consumo humano. A reivindicação 143
do setor é enquadrar os alimentos para os animais de companhia com alíquota idêntica àquela
determinada ao alimento humano, assim como é feito nos Estados Unidos (onde têm alíquotas
idênticas e não superiores a 7,5%) e na Europa (onde a maior taxa é a da Alemanha, que não
ultrapassa 18%). No entanto, mesmo frente a essa dificuldade, a estimativa é de que o mercado
reaja e cresça pelo menos 5%, o que deve representar um faturamento em torno de US$ 3,22
bilhões para Pet Food no ano de 2008.
Nos últimos anos, devido ao crescimento acelerado da indústria de alimentos
comerciais para cães e gatos, foi possível verificar a multiplicação de marcas (hoje mais de 600,
provenientes de aproximadamente 100 fabricantes). Com melhora na estética das embalagens,
comunicações de vários atributos e benefícios de ingredientes como condroprotetores,
imunomoduladores, redução do odor de fezes, redutores de tártaro, alta digestibilidade,
melhoradores da saúde de pêlos, entre outros. No entanto, a ampla diversidade de alimentos
gera no consumidor e mesmo no clínico veterinário, uma dificuldade a mais na hora de escolher
qual o melhor alimento para o animal de companhia.
Quanto ao teor de umidade, as rações podem ser classificadas em: secas, semi-
úmidas ou úmidas. Os alimentos secos ou desidratados possuem entre 6-10% de umidade, ou
seja, 90% ou mais de matéria seca. Incluem alimentos completos, além de snacks e biscoitos
utilizados como petiscos. São obtidos a partir do processo de extrusão e correspondem à maioria
do mercado de alimentos para cães e gatos (cerca de 80%). Os alimentos semi-úmidos contêm
entre 15-30% de água, possuem uma textura mais branda do que os alimentos secos e
normalmente contêm alguns antiumectantes com o objetivo de prolongar o tempo de vida de
prateleira. Por sua vez, os alimentos úmidos ou enlatados também podem ser completos ou
complementares. Entre os ingredientes comumente utilizados na sua formulação, estão as
carnes, subprodutos de peixes, cereais, proteínas vegetais processadas, etc. Possuem uma
concentração bastante elevada de gorduras o que lhes confere boa palatabilidade.
Por outro lado, a classificação dos alimentos quanto à qualidade é ainda muito
subjetiva, sendo a indústria a responsável pela segmentação atual: econômico, standard,
premium e superpremium. Contudo, muitas empresas segmentam ainda mais seus produtos,
denominando-os como high, plus ou advanced premium. Com o objetivo de uma padronização
na segmentação, a ANFAL PET, em 2007, criou o Programa PIQ PET e nele há especificações
para os fabricantes de como segmentá-los quanto à qualidade. Uma classificação, proposta por
144
Carciofi (2007), está apresentada no quadro 22.
Para uma substância ser classificada como prebiótico, ela não pode ser hidrolisada ou
absorvida na parte superior do trato gastrintestinal, e deve ser um substrato seletivo para um
limitado número de bactérias comensais benéficas do cólon, as quais terão crescimento e/ou
metabolismo estimulados, sendo capaz de alterar a microflora intestinal favorável e induzir
efeitos benéficos intestinais ou sistêmicos ao hospedeiro.
148
A lactulose é uma forma isomérica da lactose, com uma molécula desta unida a uma
frutose pela ligação beta 1,4. Os xilo-oligossacarídeos (XOS) são oligômeros de açúcar
formados de unidades de xilose, que estão naturalmente presentes em frutas, vegetais, leites e
mel. Sua produção industrial é realizada a partir de materiais lignino celulósicos. Matérias primas
típicas para a sua produção incluem madeiras duras, bagaços, espiga de milho, entre outros. A
lactosucrose é produzida da mistura de lactose e sucrose, a partir da ação de uma enzima, a
fructofuranosidase. Os isomalto-oligossacarídeos (IMO) são produzidos a partir do amido que é
hidrolisado pela combinação da amilase e pululanase e os malto-oligossacarídeos resultantes
sofrem a ação da alfa-glucosidase. A alfa-glucosidase catalisa uma reação de transferência
convertendo a ligação alfa 1,4 dos malto-oligossacarídeos para alfa-1,6 dos isomalto-
oligossacarídeos. Os comerciais consistem de uma mistura de oligossacarídeos de diferentes
massas moleculares. Os oligossacarídeos da soja são derivados da alfa-galactosil sucrose
(rafinose, estaquiose). Eles são isolados dos grãos de soja e concentrados para formação dos
produtos comerciais.Os gluco-oligossacarídeos são sintetizados pela ação da enzima dextrano-
sucrase sobre a sucrose na presença de maltose. Os oligossacarídeos resultantes contêm
ligações alfa 1,2 tal como o oligossacarídeo seguinte: glucosil (alfa 1,2), glucosil (alfa 1,6),
glucosil (alfa 1,4), glicose. Podem ser produzidos via fermentação do Leuconostoc
mesenteroides.
149
Embora existam todas essas substâncias ditas como prebióticos, o autor responsável
pelo conceito de prebióticos que avaliou todas elas (com exceção do MOS) diz que somente a
lactosucrose, a inulina e o TOS podem ser seguramente classificados como tal, conforme
demonstra a tabela 6.
Não Potencial
Carboidrato degradabilidade Fermentação Seletividade Prebiótico
Oligossacarídeos da
soja sem dados sem dados sem dados não
Vários estudos têm sido conduzidos a fim de avaliar a influência nutricional sobre a
saúde bucal. Os meios dietéticos citados com maior freqüência para prevenir ou retardar o
surgimento da doença periodontal são o conteúdo nutricional, a textura e forma do alimento,
exercícios de mastigação e alimentos ou brinquedos tratados com produtos químicos.
A estratégia padrão para evitar o acúmulo de cálculo dentário envolve o emprego de
raspagem mecânica. Isso foi alcançado, basicamente, alterando-se a textura e o tamanho do
grânulo da ração, porém, exerce efeito apenas nos dentes utilizados para mastigar. Uma nova
abordagem utiliza a inclusão de fontes minerais nutricionais nos alimentos de maneira que
possam proporcionar benefícios em todas as superfícies dentárias. Os fosfatos formam
complexos solúveis com o cálcio presente na saliva, ajudando a prevenir a mineralização da
placa em cálculo. Dessa forma, agem em toda cavidade bucal, inclusive nas superfícies não
envolvidas na mastigação.
Yucca schidigera e zeólita: A Yucca schidigera é uma planta extensamente utilizada
em nutrição de cães e gatos devido ao seu efeito sobre o metabolismo do nitrogênio, que
possibilita a redução no odor das fezes dos animais. Pertence à família Agavaceae e cresce em
desertos, mais especificamente na região sudoeste dos Estados Unidos (sudoeste de Nevada e
Arizona, além do centro-sul da Califórnia) e no México (deserto da Baixa Califórnia). Eram
extensivamente utilizadas pelos índios nativos que a definiam como “árvore da vida” devido às
propriedades benéficas que possuem. Eles comiam os frutos frescos e secavam as sobras para
se alimentarem durante as épocas de escassez no inverno. Essa planta é rica em vitaminas (A,
complexo B, C) e minerais (cálcio, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e silício), mas o
princípio ativo responsável por grande parte de suas ações biológicas é a saponina esteroidal
que possui mecanismo de ação semelhante ao dos corticóides. As saponinas estão presentes
em vegetais e em alguns animais marinhos e apresentam funções antimicrobianas,
hipoglicêmicas, imunogênicas, anticarcinogênicas, entre outras.
Figura 23- Estrutura da zeólita. Fonte: Luz et. al. (1995) apud Maia e Assis (2008)
As fontes de minerais quelatados têm sido utilizadas por sua maior absorção,
favorecimento de alguns processos metabólicos, alta estabilidade e disponibilidade, ausência de
interações com outros macros ou microminerais da dieta, bem como com outros nutrientes,
como fibras e lipídeos.
A β-oxidação de ácidos graxos necessita que eles sejam transportados do citossol para
o interior da mitocôndria. A carnitina desempenha um papel como carreador no transporte, pela
aceitação de ácidos graxos ativados no lado mais externo da membrana da mitocôndria.
Quantidades adequadas de carnitina são sintetizadas a partir da peptidilisina, que é metilada a
trimetilisina, aceitando uma hidroxilação ácido ascórbico-dependente, com posterior clivagem a
partir dos peptídeos. Algumas raças de cães têm um defeito autossômico recessivo na síntese
de carnitina, que leva à deficiência. Estes cães apresentam lipofuscinose serosa (acúmulo de
lipofuscina, um pigmento característico de alteração na atividade de lisossomos) e
cardiomiopatia dilatada. A suplementação com carnitina em alguns casos leva à redução nos
sinais clínicos da doença. Por sua ação no metabolismo de lipídeos tem sido amplamente
utilizada em dietas light.
A utilização de antioxidantes naturais tem como objetivo proteger contra a peroxidação
lipídica e prevenir a oxidação em tecidos animais, aumentando a longevidade dos animais de
companhia. Além das já conhecidas ações de beta caroteno, vitaminas C e E, atualmente
descobriu-se o potencial antioxidante dos polifenóis (substâncias presentes em diversos
alimentos de origem vegetal, como maçã, uva, cebola, repolho, brócolis, chicória e alho, mas
geralmente extraídos da uva e do chá mate-verde). Sua ação como captador de radicais livres e
quelante de ferro é cerca de 20-50 vezes superior a da vitamina E. São utilizados em alguns
alimentos comerciais para cães e gatos.
As vantagens da utilização de alimentos comerciais incluem: custo variável, de acordo
com a classificação do produto, estar pronto para o consumo, dispensando maiores preparos,
produzir fezes mais consistentes e em menor volume, prevenção de placas bacterianas com uso 154
de alimentos secos, fórmulas diferenciadas para cada fase de vida do animal, fórmulas
balanceadas. Dentre as desvantagens podemos citar: difícil aceitação por alguns animais
acostumados com dietas caseiras ou com apetite melindroso, diarréias quando a mudança de
alimentação é brusca. Perda de nutrientes dependendo do tempo de conservação, rações que
trabalham com eventuais substitutivos podem apresentar digestibilidades diferentes de partida
para partida, apresentação de aditivos não nutrientes como corantes, conservantes e
antioxidantes sintéticos, ainda pouco estudados.
Em relação à soja, durante muito tempo e até hoje há preconceito quanto à utilização
dela e de seus subprodutos na formulação de dietas comerciais para cães. Essa postura muitas
vezes é oriunda da falta de conhecimento e de informação sobre as principais características
nutricionais do ingrediente para a espécie e os fatores nutricionais são apontados como a
principal causa de não utilização. A soja integral possui alguns fatores antinutricionais, como
inibidores de proteases (que podem levar à hiperplasia pancreática, devido à secreção
enzimática compensatória que o pâncreas realiza no sentido de suprir a falta de tripsina e
quimotripsina; diminuir a digestibilidade protéica e causar uma deficiência maior de aminoácidos
sulfurados, já que estes são a base da estrutura das proteases do suco pancreático),
hemaglutina (como a lectina, que causa ruptura das células do epitélio intestinal, levando à
diminuição da altura de vilosidades e reduzindo a absorção), lipoxigenases (que causam
peroxidação de ácidos graxos, formando radicais livres de oxigênio), ácido fítico (que
indisponibiliza minerais, como o cálcio e o fósforo) e polissacarídeos não amiláceos (como os
alfa-galactosídeos rafinose e estaquiose que podem levar à flatulência, diarréia, problemas
estomacais e diminuição da digestibilidade dos nutrientes).
Quanto aos ingredientes protéicos de origem animal podem ser citados a carne,
frango, ovos, peixe e seus subprodutos. Normalmente são de composição variada e a qualidade
está relacionada com a origem das matérias-primas e do processamento utilizado. A qualidade
da matéria-prima pode ser avaliada a partir de algumas análises, tais como composição
bromatológica, presença de salmonela, peroxidação de gorduras, presença de poliaminas,
identificação de príons causadores de encefalopatias, etc. Dentre as farinhas utilizadas
encontram-se a de carne e ossos, a de peixe, a de penas e penas hidrolisadas, a de vísceras e
a de carne de frango. A farinha de carne e ossos é produzida em graxarias e frigoríficos a partir
de ossos e tecidos animais, após a desossa completa da carcaça de bovinos e suínos. Seu teor
de proteína varia de 35-55% e a recomendação da relação cálcio: fósforo, máxima, é de 2,15:1.
Por exemplo, para se acrescentar 10% de proteína à dieta por meio da farinha de carne e
ossos, adiciona-se em torno de 2,5% de Ca. Em relação à farinha de peixe (figura 24), existem
dois tipos: a integral e a residual. A residual é obtida a partir de resíduos de partes não
comestíveis. No Brasil, é produzida a partir da inclusão de peixes inteiros ou cortes rejeitados
para o consumo humano. Sua proteína varia de 52-55%. No mercado ainda existe a farinha de
peixes importada do Peru ou Chile, que são produtos integrais produzidos especificamente para
a produção animal com proteína em torno de 62%. A farinha de penas tem baixa digestibilidade
e baixo valor biológico.
156
CDEE CME
Ingredientes CDMS CDPB A B
É importante considerar que nem sempre as fontes protéicas de origem animal são as
que levam ao melhor desempenho de cães e gatos. Fontes vegetais podem ser bem utilizadas,
desde que adequadamente processadas e que sejam de boa qualidade.
O farelo integral de arroz consiste do pericarpo eou película que cobre o grão (Oryza
sativa), estando presentes gérmen e pequena quantidade de fragmentos de cascas,
provenientes exclusivamente do processo normal de obtenção. Poderão ainda estar presentes,
em pequena participação, quirera ou arroz quebrado e, em certos casos, onde o polimento é
mais acentuado, o próprio grão de arroz finamente moído. É resultante do polimento durante o
beneficiamento do grão de arroz sem casca.
O farelo de arroz representa aproximadamente 12% do grão de arroz com casca,
porém pode variar de 5 até 14%, esse rendimento, sendo variável conforme o tipo de
processamento a que o grão é submetido e às características intrínsecas do grão tais como
variedade e tratos culturais. Possui aproximadamente 74% dos ácidos graxos insaturados, sendo
facilmente peroxidados, o que faz com que o farelo de arroz não possa ser armazenado por
longos períodos O processo de rancificação pode ser evitado pela desengorduração. Possuem
158
13% de PB, 10 a 15% de gordura e 12% de FB; tem como inconveniente elevado teor de
gordura (mais ou menos 13 %), sendo facilmente peroxidável. A peroxidação desta gordura leva
a distúrbios intestinais, além de provocar a destruição da vitamina E, da vitamina A, biotina,
metionina, etc. Em dietas para cães é recomendável que a utilização não ultrapasse 10 da ração
(farelos com baixo teor de casca). O sorgo possui em média 90 a 95% do valor nutritivo do milho
quando utilizado na alimentação de aves e suínos,. Possui menor percentagem de óleo e o teor
de proteína bruta é 1 a 2% superior ao do Milho. O revestimento externo do grão é fibroso e isto,
juntamente com a camada de aleurona, dificulta o cozimento. A digestão de seu amido ocorre
de forma mais lenta que a do amido do milho, o que levou algumas empresas a pesquisar e
patentear a utilização destas fontes em rações para cães.
O processamento para a produção de alimentos secos (figura 25) para cães e gatos é
a extrusão. O fluxograma de produção inclui a recepção da amostra, a sua armazenagem, a
moagem, dosagem e mistura, secagem, engorduramento, resfriamento e ensaque.
Posteriormente, essas amostras serão armazenadas até irem para os silos, onde serão
utilizadas. Deve-se garantir que nesta etapa o controle de umidade/temperatura, o controle de
pragas e fungos, qualidade das sacarias, estabilidade das pilhas de sacarias, controle do tempo
de armazenamento e do sistema FIFO (first in, first out), ou seja, o primeiro produto que entra na 160
área de armazenamento deverá ser necessariamente o primeiro a ser utilizado na área de
produção.
162
Antes de falarmos sobre dieta caseira é fundamental considerar que seu conceito é
totalmente distinto de resto de comida. Neste caso, estamos nos referindo a formulações
balanceadas, que têm como objetivo atender as necessidades nutricionais destes animais. Elas
podem ser utilizadas em diversos tipos de casos como por exemplo, alergias nutricionais,
obesidade, síndrome da má absorção, oncologia, problemas renais, ou mesmo quando o animal
é saudável mas seu proprietário quer uma alimentação personalizada e diversificada. Assim, é
importante lembrar que estas dietas devem ser elaboradas de maneira balanceada, respeitando-
se os requisitos dos animais e os objetivos a que elas se destinam.
As dietas caseiras apresentam vantagens e desvantagens quando comparadas aos
alimentos comerciais: palatabilidade e aceitabilidade elevadas, maior variedade, ingredientes
frescos e de alta qualidade, são melhores aceitas por cães de apetite melindroso, podem ser
preparadas visando objetivos específicos, como dietas hipoalergênicas (baseadas em testes de 163
sensibilidade alérgica e eliminando todos os alimentos alergênicos).
Em nutrição animal, deve ser aplicado o princípio da toxicologia: tudo é tóxico, até
mesmo água ou oxigênio, depende apenas da dose e via de administração. Assim, podemos
lançar mão de uma série de ingredientes na elaboração das dietas caseiras, mas é preciso
atentar para os seus limites de inclusão. Além disso, devem-se conhecer os fatores
antinutricionais que limitam o uso de alguns, como cebola, espinafre, chocolate, etc.
Matéria Seca
U MS EM 1 EM1 PCz% FDN% EE% Ca% P% Vit A 2 Vit E
Kcal/g B%
% % Kcal IU/kg mg/kg
Maça 84,8 15,2 58 3,68 1,2 1,6 12,7 2,2 0,05 0,04 5636 54,6
Banana 74,0 26,0 92 3,54 4,0 3,1 6,6 0,7 0,02 0,08 7485 10,5 164
Uva 81,1 18,9 68 3,60 3,6 2,5 - 1,5 0,10 0,11 7937 -
Goiaba 86,1 13,9 50 3,60 5,9 4,3 - 5,9 0,14 0,18 20160 -
Manga 81,6 78,4 65 3,55 2,8 2,7 5,9 1,5 0,06 0,06 261500 65,3
Laranja 85,7 13,3 47 3,36 7,2 3,4 20,1 0,9 0,31 0,11 - 18,5
Mamão 87,9 12,1 40 3,31 4,3 4,5 - 0,7 0,17 0,14 144600 -
Pêssego 87,7 12,3 43 3,46 5,7 3,7 5,0 0,8 0,05 0,10 108100 -
Pêra 84,3 15,7 61 3,89 3,0 2,1 15,5 1,9 0,06 0,10 1274 27,4
Abacaxi 86,5 13,5 49 3,63 8,9 2,1 11,4 3,2 0,05 0,05 5185 7,4
Melancia 91,5 8,5 32 3,77 7,3 3,1 2,4 5,1 0,09 0,11 69410 -
(-) Falta de dados confiáveis
U = umidade; EM=Energia Metabolizável; MS= matéria seca; PB = proteína bruta; FDN + :Fibra Detergente
Neutra, EE = extrato etéreo; Ca + cálcio e P = fósforo.
Fonte: Software Animal Nutritionist apud Dierenfeld et al. (1996) apud Saad et al. (2004).
Tabela 9 - Porcentagem de nutrientes em vegetais talo/polpa e raízes /tubérculos*
Matéria Seca
U% MS EM 1 EM1 P
Cz% FDN% EE% Ca% P% Vit A 2 Vit E
Kcal/g B%
% Kcal IU/kg mg/kg
165
Talos e polpas
Couve flor 92,3 7,7 24 3,12 25,8 8,6 16,0 2,3 0,38 0,60 30 3,9
Aipo 94,7 5,3 16 3,01 12,5 16,8 17,0 2,3 0,70 0,49 45280 67,9
Acelga 78,8 21,2 81 3,81 25,5 4,1 16,0 1,9 0,12 0,51 70 6,1
Berinjela 91,6 8,4 27 3,21 16,6 8,1 13,1 3,1 0,61 0,50 4760 0,3
Pimentão verde 96,0 4,0 13 3,25 13,6 9,5 12,6 3,3 0,35 0,43 20830 37,7
Pimentão vermelho 94,0 6,0 15 2,50 15,0 - 15,0 6,7 0,15 0,42 3667 133,3
Tomate 94,2 5,8 14 2,41 16,4 10,5 31,6 3,6 0,24 0,45 155200 146,6
Raízes/tub.
Beterraba 87,3 12,7 44 3,47 11,7 8,4 11,8 1,1 0,13 0,38 1580 0,8
Cenoura 88,0 12,0 43 3,58 10,0 8,3 8,3 8,3 0,42 0,33 550000 58,3
Batata 77,0 23,0 80 3,48 9,6 4,8 2,4 0,4 0,04 0,26 - 173,9
Rabanete 94,8 5,2 17 3,27 19,2 15,4 14,3 1,9 0,58 0,60 1920 -
Batata doce 69,6 30,4 125 4,11 5,8 2,7 13,5 0,7 0,06 0,18 8800 131,6
Mandioca 68,5 31,5 120 3,81 9,8 3,4 - 1,2 0,29 0,22 320 -
Folhas
Repolho 96,5 7,5 3 3,16 16,2 9,6 14,7 2,4 0,62 0,31 146900 223,5
Alface 94,9 5,1 3 3,14 25,5 15,0 17,0 3,9 0,71 0,88 372500 58,8
Espinafre 91,6 8,4 3 2,62 30,0 15,0 21,0 3,6 1,50 0,66 785700 297,6
Brotos de alfafa 70,0 30,0 2 1,87 6,7 - - - 0,48 0,21 - -
(-) Falta de dados confiáveis
U = umidade; EM=Energia Metabolizável; MS= matéria seca; PB = proteína bruta; FDN + :Fibra Detergente
Neutra, EE = extrato etéreo; Ca + cálcio e P = fósforo.
Fonte: Software Animal Nutritionist apud Dierenfeld et al. (1996) apud Saad et al. (2004).
Tabela 10- Porcentagem de nutrientes em produtos de origem animal
Matéria Seca
U% MS EM 1 EM1 PB% Cz% FDN EE% Ca% P% Vit A 2 Vit E
Kcal/g %
% Kcal IU/kg mg/kg
166
Carne bovina 75,0 25,0 130 5,00 70,0 3,5 20,05 1,09 2000 25,0
2,0
Coração bovino 75,6 26,4 135 5,11 68,6 3,2 - 20,03 0,71 1136 -
5,3
Pulmão bovino 79,0 21,0 100 4,76 79,1 3,8 - 10,05 0,71 3333 14,3
6,7
Rins bovino 77,7 22,3 113 5,07 75,3 5,4 - 10,06 0,98 31390 29,2
7,9
Fígado bovino 73,6 26,4 130 4,92 75,8 4,4 - 10,04 10,3 778400 37,9
7,1
Frango (completo) 73,3 26,7 140 5,23 47,4 - - 31,75 - 23700 30,4
9,8
Ovos com casca 67,0 33,0 142 4,30 33,03 4,5 - 313,80 1,8 14200 33,3
0,3
Ovos sem casca 74,8 25,2 147 5,83 48,8 0 - 40,22 0,80 20500 63,5
3,3
Peixe alta gordura 71-73 27-29 119- 4,4-6,0 46-69 6,2-10 - 21,0-2,0 1,4- 1650- 67-129
(sardinha) 174 0-46 2,0 2160
Peixe baixa 75-80 20-25 86- 4,3-4,6 68-70 8,5- - 11,3-2,9 2-2,5 2100- 94-200
gordura (pescado) 115 10,5 8-20 3300
Carne de cavalo 70,7 29,3 145 4,95 64,5 3,3 - 20,07 1,06 2048 23,9
3,0
(-) Falta de dados confiáveis
U = umidade; EM=Energia Metabolizável; MS= matéria seca; PB = proteína bruta; FDN + :Fibra Detergente Neutra,
EE = extrato etéreo; Ca + cálcio e P = fósforo.
Em relação aos alimentos utilizados em nutrição de cães e gatos pode-se dizer que
tanto as dietas caseiras quanto as comerciais têm vantagens e desvantagens. A escolha de qual 167
a melhor opção depende do animal e também do proprietário. Questões como aceitabilidade por
parte do cão ou gato e disponibilidade do proprietário são alguns dos fatores que precisamos
considerar ao fazermos a escolha. O conceito de que a ração é a única opção para cães e gatos
foi muito difundida com o crescimento da indústria de alimentos para animais de companhia, mas
não corresponde à realidade. Em algumas situações, como nas hipersensibilidades alimentares
ou apetite caprichoso, a dieta caseira pode ser a melhor opção. Mas, ela exige tempo e
dedicação por parte do proprietário que necessitará cozinhar para o seu animal de companhia, já
que as dietas caseiras são formuladas exclusivamente para ele.
A mensagem mais importante é que a nutrição deve funcionar como medida de saúde
preventiva, ou seja, assim como nós, os animais são aquilo que comem e uma nutrição
adequada, desde as fases iniciais, pode evitar o retardar o aparecimento de doenças. Bem como
garantir maior longevidade e qualidade de vida aos cães e gatos.
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