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Revisão
Mariana Bard
Projeto gráfico
Fernando Rodrigues
Imagem da capa
Cartão Postal da Ponte Zigue-zague do Jardim Yuyuan, Xangai, 1995
Em um belo jardim chinês, em Xangai, há uma ponte em zigue-zague. Diz a lenda que
o espírito do mal caminha em linha reta, mas ele não consegue atravessar a ponte em
zigue-zague. Esta pode ser uma metáfora para pensar como se produz o conhecimento
em uma visão dialética, em que o ser é e não é ao mesmo tempo, e não vemos as coisas
linearmente, mas em relação umas com as outras.
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prazer de fazer as acreditações necessárias na primeira oportunidade.
C497t
Ciavatta, Maria, 1936-
O trabalho docente e os caminhos do conhecimento:
a historicidade da Educação Profissional
Maria Ciavatta
Ia edição - Rio de Janeiro: Lamparina, 2015
1.000 exemplares
128 p., il.; 14 x 21 cm
ISBN 978 85 8316 037 3
1 Educação - Brasil
2 Professores - Formação
I Título
15-26110 CDD 370.1
CDU 37.01
Lamparina editora
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Prefácio 7
Marcelo Badaró Mattos
Apresentação ii
O trabalho docente e a
pesquisa em Educação 16
A historicidade da pesquisa em Educação
Profissional: questões teórico-metodológicas 32
A interdisciplinaridade e a formação integrada:
exercício teórico ou realidade possível? 54
O uso da fotografia na
pesquisa social e a Educação 71
Estudos comparados em Educação:
sua epistemologia e sua historicidade 96
Referências 117
32
A historicidade da
pesquisa em Educação
Profissional: questões
teórico-metodológicas
16. Segundo François Dosse (1992), apesar dos investimentos sobre outras linhas de
pesquisa, a École des Annales introduziu a fragmentação dos objetos, cujos aspectos
são vistos isoladamente. Na história serial [quantitativa], “a seriação do campo histórico
tem por efeito dar a cada objeto independência em relação aos outros elementos do
real. Desprendido das contingências do concreto, o objeto levanta voo, existe em si,
recobrindo as outras dimensões do real.” (Dosse, 1992, p.190)
34
17. Sobre o termo “narrativa” e a discussão sobre seu uso na história e na literatura, entre
outros, ver Moscatelli (2004) e Cardoso (2000).
18. Pesquisa do DIEESE sobre a população brasileira, com base nos dados do IBGE,
registra a taxa de analfabetismo de 12,2 % em homens e mulheres de 10 anos idade ou
mais, e a taxa de estudo de pessoas ocupadas de 19,3%, com 437 anos de estudo (Ensino
Fundamental incompleto), e de 20,5% com 8 a 10 anos de estudo, o que, considerando
o fenômeno da repetência e da frequência à escola fora da idade prevista, pode chegar a
39,6% com baixa escolaridade (DIEESE, 2011, p.84-85).
<) trabalho docente e os caminhos do conhecimento 35
21. "... enquanto a educação recebeu apenas 3,34%; a saúde, 4,17%; segurança, 0,39%;
transportes, 0,7%; e, habitação, 0,01%. São dados do Orçamento Geral da União
executado em 2012, que foi de R$ 1,712 trilhão.” (Elaboração da Auditoria Cidadã
da Dívida apud Fattorelli, 2013, p.235-236) “Experiências da Auditoria Cidadã vêm
revelando que a maior parte da dívida pública não foi gerada pelo efetivo ingresso de
recursos, mas, sim, pela utilização de uma série de mecanismos, condições viciadas e
medidas impostas por organismos internacionais que originam um processo contínuo de
autogeração de dívidas ...” (Fattorelli, 2013, p.4)
I > trabalho docente e os caminhos do conhecimento 39
São essas características gerais das muitas línguas (faladas e escritas) que
permitem a linguagem e a comunicação. O que entendemos por “letra”
independe de suas formas particulares, tamanho, modo de escrever etc.24
No caso desta pesquisa, quando falamos em como se constroem
as categorias, queremos partir das classificações mais simples dos fenô
25. Parece-nos que esse é o fundamento mais próximo ao pensamento de Paulo Freire,
que, diferentemente do filósofo grego, o conjugou a uma visão de transformação da
sociedade.
Maria Ciavatta 42
“Com efeito, cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes
dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar
seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros
da sociedade, isto é, para expressar isso mesmo em termos ideais:
é obrigada a emprestar às suas idéias a forma de universalidade, a
apresentá-las como sendo as únicas racionais, as únicas universalmente
válidas.”
(1979, p.75)
temporais” (Vilar, 1992, p.21, grifos do autor). Mais adiante, ele delineia
toda uma perspectiva de trabalho para a pesquisa histórica:
I ’rocedimentos teórico-metodológicos
Nesta seção, nos detemos na apresentação breve de alguns procedimentos
icórico-metodológicos da pesquisa social de interesse para a pesquisa em
l.ducação, tanto quanto possível, nos limites deste texto, a partir de uma
visão crítica dos mesmos.
Alguns historiadores sinalizam questões conceituais e teórico-
metodológicas, considerando as transformações sociais e intelectuais de
correntes da violência das guerras e dos conflitos políticos, econômicos e
religiosos que conturbaram todo o século XX. Vivemos cotidianamente
um processo de aceleração dos deslocamentos no tempo e no espaço. Os
meios de transporte e os meios de comunicação introduziram a possibi
lidade de deslocamentos de um lugar para outro, em áreas distantes, em
outras partes e outras culturas do mundo, impensáveis décadas atrás.
As pessoas agem como se tivessem a aceleração do movimento incor
porada a seu ritmo e a seus movimentos, contrariando o ritmo interior do
corpo humano e suas conexões mentais. A aceleração do espaço-tempo
dos transportes, da comunicação digital altera a rapidez e a quantidade
de informações e introduz mudanças na subjetividade com que os su
jeitos sociais lidam com o tempo, com os espaços ou territórios em que
se movem e tendem a abreviar o tempo das relações sociais.
O historiador EnzoTraverso (2012) sinaliza quatro pressupostos da
pesquisa historiográfica: a contextualização, a historicização, a compa
ração e a conceituação, ressaltando que não são simples procedimentos
metodológicos. Concordamos com sua advertência porque não há proce
dimentos de pesquisa que não tenham conteúdos teóricos de uma visão
da realidade, uma visão do mundo e uma concepção do ser humano. As
Maria Ciavatta 48
27. Traverso explica que seu método difere “tanto do ‘historicismo’ clássico (Niebuhr,
Ranke e Droisen), quanto do historicismo positivista, hoje mais difundido do que parece,
ou do que é admitido por quem o pratica” (2012, p.17).
28. Não obstante a pertinência dos procedimentos indicados por Traverso (2012), não
O trabalho docente e os caminhos do conhecimento 49
termos, sem nunca esquecer que a história real não coincide com suas
representações abstratas.” ParaTraverso (2012), “os conceitos dão forma
a uma ‘prática’ - escrever a história - que permanece profundamente
ligada ao presente”. É sempre no presente que os historiadores procuram
“reconstruir, pensar e interpretar o passado” (p.17-18).
vem dos séculos XIX e XX, dos antropólogos europeus e americanos, que
trabalharam intensamente sobre cultura, evolução e povos primitivos. Um
dos mais recentes e influentes antropólogos foi Clifford Geertz (1926-
2006), que elaborou a teoria da etnografia como “descrição densa” sobre
as “estruturas de significação” de uma cultura (Geertz, 1978, p.15-19).
Fundamentalmente, a distinção entre essas concepções, procedi
mentos e a pesquisa histórica aqui apresentada se dá em três aspectos: o
tipo de dados utilizado, as teorias de interpretação e a presença do ele
mento político de transformação da sociedade. Em primeira instância, o
tipo de fontes: na antropologia e, em sua técnica mais apurada, na etno
grafia, é o trabalho de campo, são os dados empíricos obtidos pela obser
vação e pela interação, incluindo seu registro oral e iconográfico.
Não são os dados que distinguem essencialmente a antropologia e
a história. Nesta última, as fontes usuais são os documentos (escritos,
iconográficos etc) e toda a ampliação de documentos e objetos de estudo
ocorrida nas últimas décadas, inclusive a história oral. São as concepções
de sociedade, cultura e conhecimento e o tipo de narrativa que as aproxima
ou distancia.
O segundo aspecto das distinções encontradas são as teorias de sus
tentação para a interpretação dos fenômenos. A antropologia, a socio
logia, a economia, a ciência política, a psicologia, a história, incluindo a
visão marxista, têm seus clássicos próprios, a partir das pesquisas e es
tudos de fenômenos específicos de seu campo de estudos.
Em terceiro lugar, o elemento político, no materialismo histórico,
não é apenas um componente descritivo da sociedade ou dos grupos so
ciais. Do ponto de vista da educação como formação humana, os procedi
mentos podem ser comuns às outras ciências humanas e sociais, quando
exigidos pelo objeto de estudo. Sua interpretação, entretanto, está na
forma como se estruturam os fenômenos educacionais, na formação dos
sujeitos envolvidos. Sua particularidade está na análise da sociedade em
que vivemos, no modo de produção social da existência, nas classes so
ciais e na estratégia de transformação ou manutenção do status quo das
sociedades capitalistas, como parte substantiva da visão de história e do
presente que estuda o passado para projetar o futuro.
Considerações finais
Concluindo esta reflexão teórico-metodológica sobre a pesquisa histórica
no campo Trabalho e Educação, recuperamos algumas proposições apre
sentadas ao longo do texto. Se a crítica à economia política e a análise do
sistema capital configuram o primeiro eixo teórico-metodológico a ser
observado, o segundo ponto é a reconstrução histórica dos fenômenos,
que deve estar voltada para a história como processo social de produção
Maria Ciavatta 52
Ume texto, em sua versão preliminar, discute a história do presente e foi preparado
pura o VII Seminário do Grupo THESE - Projetos Integrados sobre Trabalho, História,
liilucação e Saúde (UERJ-UFF-EPSJV/FIOCRUZ), realizado entre os dias Io e 13 de
dezembro de 2012.
Icoria e pesquisa
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