Você está na página 1de 8

tlO rrÍÀRro DE ANDRÂDE POESIAS CO\{PLETA.

' lll

llrasil. . .
\{astigado nr,r gostosura rprente clo arnencloirn...
Eo excesso goitacti pardo selvageml
Cafrarias clesabalirclas
Falado numzr lingun curumim
Ruinas tle linhas puras
De palavras incertas uum remeleixo rnelado melancolico.. . Llm negro clois brancos tres mulatos, despudores...
Sirenr lentas frescirs trituradas pelos meus dentes bons...
\{olham meus beiços que dão beijos alastraclos O animtrl clesembesta aos botes pinotes desengonços
E tlepois sernitoam sem malícia as rezas ber.n nascidas. . . No heroismo clo prazer' §em máscaras supremo natural.
Tremi cle frio nos mells preconceitos eruditos
Brilsil amado não porqlre seja rninha patria, Ante o sangue ardenclo povo chiba fremito e clilngor.
Patriir é acaso cle migrações e do pão-nosso onde Deus der... Risaclas c clansas
Brasil que eu amo porque é o ritmo clo meu braço aventuroso, Batuques maxixes
O gôsto clos meus clescansos, Geitos de micos piricicas
O balanço clas minhas cantigas arlores e dansas. Ditos pesados, graça popular. . .

Ilrasil que ru solr porqlle é a minha expressão muito RisP Todos riern. . .
cngraçarla.
Pt>rr1ur:ó r» merr scntimento pachorrento, O inclividuo é caixeiro de armarinho na Gamboa.
I)orqtre ó «r rncrr geito «lcr ganhar dinheiro, cle conrer Cama cle fen'o curta por demais,
e cle
Espêlho mentiroso de mascate
r'lrlnnir.
E no cabide roupas lustrosas demais. . .
Dansa trma joça repinicada
De gestos pinchando ricliculos l1o âr.
CARNAVAL CARIOCA Corpo gordo que nem cle matrona
a Manuel llandeira Rebolanclo embolado nas sáias baianas,
Braço cle fora, pelanca pulando no espaço
( re23) E no clccote cabeludo cascaveis saracoteanclo
Desritmando a forçura clos musculos viris.
A fornalha estrala em mâscarac{os F'antilsiorr-se de baiana,
cheiros silvos
Btrlhas de cor bruta aos trambolhões, A Baía é boa terra. . .
Setins sedas cassas fundidas no riso febril.. .
Está feliz.
Brasil!
Rio de Janeiro! Entoa trtoit rt toada safada
Queimadas cle verãol E no escuro cla boca banguela
E ao longe, do tição tlo Corcovado a fumarada das nuvens 0 halo dos beiços de carmim.
pelo céu. Vibraçóes em redor.
Pinhos gargalhadas e assobios
Carnaval. . . Mulatos remeleixos e buduns.
Minha frieza dc paulista, Palmas. Pandeiros. - Aí, baiana!
Policiarnentos interiores, Baiana clo coraçáo!
Temores da excepção. .. Serpentinas que saltam dos autos em rÍronoculos curiosos,
Este cachorro espavoriclo,
l12 MÁRIO DE ANDNADE
POESIAS COMPLETÂS
Guarda-civil indiferente.
Iriscalisemos as piruetas. . . Eu mesmo. . . Iiu mesmo, Carnaval . . .
Então só eu que vi? Eu te ]evava uns olhos novos
Risos. Tudo aplaude. Tudo canta: Pra serem lapidados em mil sensaçôes bonitas,
Ir{eus labios murmurejando de comoção assustada
- Aí, baiana faceira, Haviarn de ter purissimo destino. . .
Baiana do coraçãol
Ele tinha nos beiços sonoros beijando se rindo É que sou poeta
Uma ruga esquecida uma luga longinqua E na banalidade larga dos rneus cantos
Como esgar duma angústia indistinta ignorante. ., Funclir-se-ão de máos dadas alegrias e tristuras, bens e males,
Só eu pude gosa-la. Todas as coisas finitas
E talvez a cama de ferro curta por demais. . . Em rondas aladas sobrenaturais.

Ansia ]reróica dos meus sentidos


Canraval.. . Pra acordar o segrêdo de seres e coisas.
A baiana se foi na religião de Carnerval Eu colho nos declos as redeas que param o infrene das vidas,
Corno <lrern cumpre uma promessa, lou o compasso qrle une todos os compassos,
Totlos cumprcn) suirs promessas cle gosar. E com a magia dos meus versos
Explodcrn rcr)c()s loucos trilos tchiqrre-tchiques Crian<lo anibientes longinquos e piedosos
Eo Í:alsetc cnguiir osgtria raltejttndo pelo aquário multicor. Tra"nsporto ern realidades superiores
Cordõcs dc machos mulherizados, A mesquinhez da realidade.
hrglcses evadiclos cla pruderie, Err bailo em pocmas, multicoloridot
Ar:gentinos mascarando a admirarção com desdens superiores Palhaço! À4ago! Loucol Juizl Criancinha!
Degrigolando em lenga-lenga de milonga, Sou dansarino brasileiro!
Polacas de indiscutivel indole nagô, Sou dansarino e danso! E nos meus passos conscientes
Yankees fantasiados cle norteamericanos. . . Glorifico a vexlade das coisas existenies
Coiàsada emproada se aturdindo turtuveando Fixando os écos e as miragens.
Entre os carnavalescos de verdade Sou um tupi tangendo um alaúde
Que pererecam pararacas em derengues rreneios cantigas,
E a tragica mixordia dos fenomenos terrestres
chinfrim de gosar! Eu celestiso em etrritmias soberanas,
Ôh encantamento da Poesia imortal! . . .
Tem outra raça ainda.
Onde que andou minha missão cle poeta, Carnaval?
O rrocinho vai fuçando o manacá naturalisado espanhola. Puxou-me a ventania,
Ela se cleixa bolinar na multidáo compacta. Segundo círculo do Inferno,
Por engano.
,
Rajadas de confetes
Quando aproximam dos polícias halitos diabólicos perfumes
*Co_*o ela é pura- conversando com as amigast Fazenclo relar pelo corpo da gente
Pobre do moço olhandos as fantasias dos oulros, Semiramis Marilia Helena Cleõpatra e Francesca.
Pobre do solitário com o chapeu caicai nos olhos! Milhares cle Julietas!
Naturalmente é um poeta... Domitilas fantasiadas de cow-girls,
Isolclas de pijama bem franceús,
a'

l14 uÁnro DE ÂNDRADE POESIAS COMPLETÂS 115

Alzilcianas portuguêsas holandêsas. . .

Geografia II
Éh liberdade! Pagocleira grossa! É bom gosar!
Levou a breca o clestino do poeta, Na capota franjada com chale chinês
lJtrrreei meus labios com o carmim doce clos cle]rr... Arnor curumim abre as ilsas de rúim papelão.
Amor abandonolr as setas sem prestígio
Teu amor provinha de desejos irritados, E se agarra na cinta fecunda da rnãi.
Irritados como os nlorros do nascente nas primeirirs horas rla Venus Vitoriosa emerge de onclas crespas serpentinas,
manhã. De ondas encapeladas por mexicanos e marquêses cavalganclo
I'eu beijo era como o grito da araponga, autos perseguidores.
\'le alurneava irtorcloa'r,a com o golpe estridente viril, - Quero ir pra casa, mamãi!
Teu abraço era como a noite dorn-rida na rêde
Quo trirz o clia cle rlembros moles mornos de torpor. Amor com medo clos desejos. . .
'fe possrrintlo eu me alimentei com o mel clos guarupirs.
It,lt'l itci«lo, n.rel <yue niro sacia,
N,[r'l rlrrc «L'r sôrlc rlrrirnclo ris fontes estão rnuitas leguas além, III
()trtrrclo rt soirlltt'ilir r1r rnuis rlcsolaclora
Ii <l corpo rnnis t'rirrrsto. O casal jovem ror-npendo a multidão.
O bando de rnascaraclos de sopetão em bofetadas cle coufetes
Carnirval . . . na mulher.
Porénr nllncil tive interrção de escrever sobie ti. . Olhe só a boquinha dela!
Morreu o poeta e um gramofone escravo
,

-
- Ria urn pouco, belezn!
Arranhou discos de sensações. . .
Come do rneu!
-
O marido esperolr (com paciencia) que a espôsa se desvenci-
lhasse do bando de máscaras
I E lá foram rourpendo a rnultidáo.
EIa apertava fernininamente contra o seio o braço protetor clo
I
Enr baixo clo Hotel Avenida em 1923 Espôso.
Na mais pujante civilização do Brasil Do espôso recebido ante a impouencia catedrática da Lei
C)s negros sambando em cadência. E as benção invisiveis - extraviadas? - <Io Senhor. ..
Tão sublime, tão áfrica!
A mais moça bulcão polido ondulações Ientas lentamente Meu Deus. . .
Corl as arrecadas chispanclo raios glaucos oiro na luz peluda Onde que jazem tuas atrações?
de pó. Pra que lados de fora da Terra
Só as ancas ventre dissolvendo-se em vaivens de ondas em cio.
Fugiu a paz das naves religiosas
Tcrmina se benzendo religiosa talqualmente num ritrral. E a calma boa de rezar ao pé da cruz?
Reboa o batuque.
lf o bornbo gargalhante de tostões São priscos risadas
Sincopa a graça da danada. São almas farristas
l' I

116 lrÁnro DE ANDRÂDE POESIAS COMPLETÂS Lr7

Aos pinchos e guinchos Aleluia!


Cambeteando na noite esüval. Louvemos o Criador corn os sons dos saxofones arrastados,
Pierrots-femeas em calções mais estreitos que as pernas, Louvemo-Lo com os salpicos dos xilofones nitidos!
Gambiarras iluminadas! Louvemos o Senhor com os riscos dos recorrecos e os estouros
Oblatas de confetes no ar, do tantan,
Incenso e mirra marca Rodo nacional Louvemo-Lo com a instrumentarada crespa do jazz-band!
Açulam raivas de gosar. Louvemo-Lo com os violões de cordas de tripa e as cordeonas
imigrantes,
Louvemo-Lo com as flautas dos chôros mulatos e os cavaqui-
O cabra enverga fraque de setim verde no esquelto. nhos das serestas ambulantesl
Magro magro asceta de longos jejuns dificílimos. Louvemos O que perÍnanece através das festanças virtuosas e
Jantou gafanhotos. dos gôsos ilegitimos!
E gesticula fala canta. Louvemo-Lo sempre e sobre tudo! Louvemo-Lo com todos
Ilrédicas clc meu Senhor... os iustrumentos e todos os ritmos!. . .
Scrír r6re vai enumerar teus pecados e anátemas justos?
A boca rlcle llorir:rt de bençãos e perdões. . .
Vem de novo em nosso rancho, Seúor!
I)orérn dc rpc liiclos clc fora cla Terra
Descobrirei no colo dengoso da Serra do Mar
lfalarn agorir irs tuas pr.ódicas?
IJm derrame no verde mais claro do vale,
Qtrcdô teus padres? Arrebanharei os cordões do carnaval
Quedô teus arccbis;pos purpurinos? E pros carlitos marinheiros gigoletes e arlequins
Queclele o tempo em que Felipe Neri Tu contarás de novo com tua voz que é ver o leite
Sem fraque de setim verde no esqueleto Essas histórias passadas cheias de bons samaritanos,
Agarrava a contar as parabolas lindas Dessas histórias cotubas em que Madalena atapetava com os
De que os padres não se lembram mais? cabelos o teu chão...
For oncle pràgam os Sumés de meu Senhor?
Aqueles a quem deixaste a tua Escola ...Pacapacapacapão!. .. pacapão! pãol pão!...
Fingem ignorar que gostamos de parabolas lindas,
E todos nos pusemos sapeando histórias de pecado Páo e circo!
Porquê não tinha mais histórias pra escutar...
Roma imperial se escarrapacha no anfiteatro da Âvenida.
Os bandos passam coloridos,
Senhor! I)eus bom, Deus grande sobre a terra e sobre o mar, Gesticulam virgens,
Grande sobre a alegria e o esquecimento humano, Semivirgens,
Vem cle novo em nosso rancho, Senhor! Virgens em todas as frações
Tu que inventaste as asas alvinhas dos anjos Num desespêro de gosar.
E a figura batuta de Satanás;
Tu, tão humilde e imaginoso Flomens soltos
Que permitiste Isis guampuda nos templos do Nilo, N,Iulheres sôltas
Que indicaste a bandeira triunfal de Dionisio pros gregos Mais duas virgeus fuchicando o almofadinha
E empinaste Tupã sobre os Andes da America. . . tr4aridos camaraclas

,
,,{
\
118 MARIO DE ANDNADE POIISIAS CO\{PLETAS

trdãis urbanas Alcgorias, criticas, parodias


À4eninos l)tlacios bêstas do fundo do mar,
Meninas Os alugueis se elevam. . .
Meninos Os senhorios exigentes. . .
Cãis! infames! malditos!. . .
O de dois anos dormindo no colo da mãi...
- Não me aperte! . . . Etr enxerguei com êstes meus olhos que inda a Terra há-de
- Desculpe, À,[adama! comer
Falsetes em desarmonia Anteontem as duas mulheres se fantasiando, de lagrimas.
Coros luzes serpentinas serpentinas A maís .nova amamentava o esqueletinho.
Coriscos córos caras cólos braços serpentinas serpentinas
Matusalem cirandas Breughel Quatro barrigudinhos sem infancia,
Os trastes sem conchego
- Diacho! No lar-de-todos da rua...
Sambas bu_mbos guisos serpentinas serpentinas. . .
E a multidão O Solzão ajudava a apoteose
compa-cta se_ aglomera aglutina mastiga em
apr:oveitamcntos brincadeiras asfixias desejadas ãehrios Com o despejo das cores e calores. . .
sarclinhas clesmaios Segue o prestito numa via-latea de esplendores.
Scrpentinas serpentinas criros Iuzes sons Prêsa num palanquim de onix e porfiro.
E sons! Ota, morena boa!
Os olhos dela têm o verde das florestas,
YAYÁ, FRUTA.DO-CONDE, Todo um brasil de escravos-banzo sensualismos,
CASTANHA-DO-PARÁ!. . . Indios nús balanceando na terra das tabas,
Cauim curare cachirí
Yayá, fruta-do-conde, Caiás... Ariticuns... Pele cle Sol!
i gastanha-do-pará!. . . Minha vontade por você serpentinando. . .

O prestito passaado. O préstito se


Bandos de clarins em cavalos fogosos.
Utiaritis aritis. assoprando cornetai sagradas.
Fanfarras fanfarrani Os Blocos se arnontourn il1e afastando cle você,
fenferrens
Passtr o FIor de Abacate,
finfirrins. . .
Passao Miseria e Fome, o Arncno Ileseclh.
Forrobodó de cúia!
O préstito se vai...
Vitória sobre a civilisação! eue civilisação?... É Baco! Você também se foi rindo pros olltros,
Senhora dona ingrata
É Baco num carro feito de oiro e de mulheres Coberta de oiro e prata...
E dez parelhas de bêstas imorais.
Tudo aplaude guinchos berros, Esfuzios cle
E sobre o Etna de loucuras e polvoras Arrancos cle r.nctais.
Os Tenentes clo Diabo. schlschlsch molrótono clas serpcntinas. .

id
t20 MAP. IO DE ANDRADE
I PoESrÂs coMPLETAs 121

Àfonótono das serpentinas. . . l',cntamente se acalma no país das lembranças


Ii a surpresa do fim: Fadiga de gosar. r\ invasão furiosa das sensações.
( ) poeta sente-se mâis seu.

l,l puro agora pelo contacto de si mesmo


Claros em torno cla gente. l)cscansa o rosto sobre a mão que escreverá.
Bolas de fitas de papel rolando pelo cháo.
Manchas de asfalto. l,lre embala o sono
Os corpos adquirem de novo as sombras deles. A barulhada matinal de GuanabàÍa.. .
Tem lugares no bar'. Sirros buzinas clacsons campaínhas
As árvores poisam de novo no chão graciosas ordenadas, Apitos de oficinas
Os palacios começam de novo subindo no céu., . \{otores bondes prêgóes no ar,
Carroças na rua tranzatlanticos no mar'...
Qtiatro horas da manhã.
í.1a cantiga-de-berço.
Nos cltrbes nas cavernas li o poeta dorme.
Inda se ondula vagamente no maxixe.
()s corpos se unern mais. O poeta dorme sem necessidade de sonhar.
Tem cinzas na cscureza indecisa da arraiada.
fh é quarta-feira no Passeio Público.
Numa sanha final
Os varredores carnavalisam as brisas da manhã COORENADAS
Conr poeiras perfumaclas e cromáticas.
a Cottto d,e Butnts
Feri triste sentou na beira da calçacla.
O carro-chefe dos Democráticos
( 1e24 )
Sem falação do estandarte
Sern vida, sem mulheres
Senil buscando o barraçáo.
Democràticamente. . . RONDÓ PRA VOCÊ

Aurora.. . Tchim! Um farfalhar de plurnas aureâs no ar. De você, Rosa, eu náo queria
E as montanhas que nem tribus de guaianás em rapinas de luz Receber sômente êsse abraço
Com seus cocáres de penas de tucano. Tão devagar que você me dá,
Nem gosar sàmente êsse beijo
Tão molhado que você me dá...
O poeia se debruça no parapeito de granito. Eu não queria só porque
A rodelinha de confeti cái do chapeu dele, Por tudo quanto você me fala
Vai saracotear ainda no samba mole das ondas. Já reparei que no seu peito
Soluça o coração bem feito
De você.
Então o poeta vai cleitar.
I
122 ruÁnro DE ANDRADE POESIAS COMPLETAS

Pois então eu imaginei


Que junto com êsse corpo magro SAÀ4BINTIA
Moreninho que você me dá,
Com a boniteza a faceirice \/ôrn cluas costr,rreirinhas peln rua clas pahneiras.
AÍbbadas^br_aços dados d^epressinha
A risada que você me dá l^hrritas, Senhor! qrre até dão vorrtade
E me enrabicham como o quê, pros homels cla rua,
/\s cosrureÍrrDIlas vão exploranclo perigos...
Bem que eu podia possuir tambem Vc.stido é de seda.
O que mora atr'ás do seu rosto, Rosa, lloupa-bninca é de
O pensamento a alma o desgôsto
Falando conversas fiadas
De você.
As-duas costureirinhas passam por mim.
* Você vai?
- Não vou não!
Parece qug.-o ma parou p.ra escuta-]as.
VIUVITA
Nem os trilhos sapôcas
ljla cra ln('sr)lo bonita, mtrito moça
Jjgo- mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardiuha de Jbrit
lJspclarrtlo itrrtolrorrrlc sàzirrhir utr esquina. entre palpebras
T.'"pll
,{s nuvcns são-asvermelhrs. sapirorlucrrtas dc dtrirs nrrver)s.
Toclos <ls homcns a c]nc:,rlavam sern respeito, dcsejtrndo.
A tardinha é cor-de-rosa.
Vai, pra se livrar de tanta amolação
Ela fez êsse gesto de moça que arranja chapeu, Fiquei querendo costureirinhas. . .
Fizeranr-me neito
Só pra mostrar a defesa que tinha no dedq uma aliança. Tão bonitas,'tão
 moça esqueceu que tinha duas alianças no dedo.. . Isto ó.. .
Por causa disso os homens se aproximaram mais. Uma era italo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era btanca.
Outra era pi.eta.
LENdBRANÇAS DO LOSANGO CÁQUr

Meu Deus como ela era branca!. . . MODA DOS QUATRO RAPAZES
Como era parecida com a neve...
(Campos de lordão)
Porém não sei como é a neve,
Nós somos quatro Iapazes
Eu nunca vi a neve, Dentlo dumâ casa vazia.
Eu não gosto da nevel
Nós somos ouatr.o amigos intimos
r

E eu não gostava dela... Dentro clt má crrs" vazia.


t
f
1
124 MARIO DE ÂNDRADE I POESIÀS COMl'LETÀS L25

Nós fomos ver quatro irmãos


Morando na casa vazia. ACAL.AINTO DA PENSÃO AZUL
(Carnytos de lordão)
Meu Deust si uma sáia entrasse
A casa toda se encheria! ('}h heticas rnaravilhosas
Dos tempos quentes clo Romantismo,
hdaçiis coracias olhos de abismo,
Mas era rlma vez quatro amigos intimos. . . Donas perversas e perigosas,
(fh heticas maravilhosas!
Iião vos compreenrlo, sois de outras erâs,
F azei <le pressa o pneumotorax
MODA DO BRIGADEIRO
N,írrlheres de Anto e de Dumas Filhol
(Cam,pos de lordão) E então seremos bem urtris felizes,
Eu sem receio do vosso briiho,
O brigadeiro ]ordão Vós sem bacilos nem hemoptises,
Possuiu êstes latifundios oh ]reticas maravilhosasl
Dos quais o metro quadrado
Vale hoje uns nove milreis.
Puxa! que homem felizardo NOTURNO Dtr BELO IfORIZONTE
O brigadeiro [ordão!... a Ehtsio de caroalho
Tinha casa tinha pão,
Roupa lavada e engomada (Lgz4)
E terras... Qual terras! mundos
De pastos e pinheirais! Maravilha de milhares de brilhos vidrilhos,
Calma do noturno de Belo Horizonte...
Que troças em perspectiva. . . O silencio fresco desfolha das árvores
Nem pensava em serrarias E orvalha o jardim só.
Nem fundava sanatórios Larguezas.
Nem gado apascentaria! Enormes coagulos de sombra.
Vendia tudo p'or oito O polícia entre rosas...
E com a bolada no bolso Oncle não é preciso, como sempre. . .
Ia no largo do Arouche Ha uma ausencia de crimes
Comprar aquelas pequenas Na jovialidade infantil do friozinho.
Ninguem.
Que moram numa pensão! O monstro desapareceu.
Só as árvores do mato-virgem
ÀrIas não são minhas as terras Pendurando a tapeçaria das ramagens
Do brigadeiro Jordáo... Nos braços cabindas da noite.

Você também pode gostar