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Resumo
O presente ensaio teve como objetivo apresentar reflexões sobre o design para
inovação social a partir da filosofia de Paulo Freire. Essas reflexões se deram a
partir de aspectos ontológicos e epistemológicos, ligados respectivamente aos
eixos design e realidade e design e conhecimento da filosofia do design. Como
resultado, as reflexões inserem o design para o inovação social em uma realidade
pautada pela contradição entre opressores e oprimidos, de modo que sua ação
precisa se posicionar entre um desse pólos antagônicos, compactuando com a
manutenção das opressões ou lutando coletivamente com os oprimidos pelo sua
libertação.
Palavras-chave: filosofia do design, opressão, inovação social.
Abstract
This essay aimed to present reflections on design for social innovation based on
the philosophy of Paulo Freire. These reflections took place from ontological and
epistemological aspects, respectively linked to the axes design and reality and
design and knowledge from the philosophy of design. As a result, the reflections
insert the design for social innovation in a reality guided by the contradiction
between oppressors and oppressed, so that their action needs to be positioned
between one of these opposing poles, granting the maintenance of oppression or
fighting collectively with the oppressed for their freedom.
Keywords: philosophy of design, oppression, social innovation.
1.Introdução
O presente ensaio tem como objetivo refletir sobre o design para inovação
social a partir de aspectos filosóficos presentes na obra de Paulo Freire. Para
isso, as reflexões se dão a partir dos eixos para uma filosofia do Design propostos
por Beccari, Portugal e Padovani (2017), especialmente os eixos design e
realidade e design e conhecimento, relacionados, respectivamente, com os ramos
filosóficos da ontologia e epistemologia.
2.Filosofia do Design
A discussão apresentada neste ensaio está relacionada com a abordagem
para uma filosofia do design conforme defendida por Beccari, Portugal e Padovani
(2017). Longe de buscar uma instrumentalização ou apresentar um método de
aplicação prática da filosofia no campo do design, os autores defendem a
configuração de seis eixos que podem ser explorados como frameworks
reflexivos. Ou seja, não se trata de um modelo analítico unificado pronto para ser
aplicado sistematicamente, mas sim de possíveis perspectivas por meio das quais
reflexões no campo do design podem assumir um caráter filosófico.
O que Freire nos coloca, portanto, é uma obrigação em fazer uma escolha,
em tomar um partido, escolha essa que pode restaurar nossa vocação ontológica
ou continuar a nos desviar dela. Escolher o lado do opressor é perpetuar, seja de
forma intencional ou por omissão, a nossa desumanização, ao manter um status
quo que nega à determinados grupos sociais sua liberdade. Escolher o lado do
oprimido é engajar-se na luta para superar essa contradição, restaurando a
humanidade tanto de oprimidos quanto de opressores, que passam a ser sujeitos
em busca constante por sua liberdade.
Como Freire (1970) coloca, a luta por essa superação deve partir dos
próprios oprimidos, já que aos opressores interessa apenas a manutenção do
status quo. Nesse sentido, o entendimento da inovação social como um processo
de “baixo para cima” e que empodera os participantes está em pleno alinhamento
com a visão freiriana, já que permite aos grupos oprimidos se tornarem
protagonistas e sujeitos ativos do processo de design e de transformação de suas
própria realidades sociais.
Olhar o design para inovação social a partir de Paulo Freire nos impõem a
reflexão sobre o porquê e o para quem fazemos design. Um design alinhado com
a manutenção de uma realidade opressora, ou, de forma oposta, engajado na luta
com os oprimidos em busca da superação da opressão. Sendo que apenas a
última é opção que respeita nossa vocação ontológica de “ser mais”. Como afirma
Freire (1970), "aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos –
libertar-se a si e aos opressores”.
Para Freire essa visão epistemológica opressora não pode nem ser
considerada uma forma possível de conhecimento, já que este só pode existir a
partir da construção dialógica, na comunicação compartilhada entre os sujeitos,
jamais isolado em apenas um deles, passível de ser transmitida para o outro.
Como Freire (2013) aponta, não pode haver pensamento isolado, pois não há
homem isolado. Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto
pensado, que mediatiza o primeiro sujeito do segundo e a comunicação entre
ambos. Sem a relação comunicativa entre sujeitos cognoscentes em torno do
objeto cognoscível desapareceria o ato cognoscitivo.
6.Conclusões
Para Freire, a liberdade é a condição indispensável que nos faz humanos,
em busca por contemplar nossa vocação ontológica de “ser mais”. Negar essa
liberdade, é negar também a própria humanidade, gerando a violência da
opressão e da desumanização. Mesmo não sendo nossa vocação, a existência da
opressão é realidade histórica, e reconhecer essa existência é o primeiro passo
para superá-la.
Olhar para o design para inovação social a partir dessa perspectiva reforça
a importância das ações coletivas em detrimento das individuais, ações essas que
podem ser mediadas pelo design participativo. Mas uma participação que seja
radical, realmente horizontal, onde não haja a dicotomia entre designers e não-
designer, mas sim a construção coletiva envolvendo designers-participantes e
participantes-designers.
7.Referências
ALVES DA SILVA, Ana; ALMEIDA, Joana. Palcos de inovação social: atores em
movimento(s). In: Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, Vol. XXX, 2015, p.35-54.
FIORI, Ernani Maria. Aprenda a dizer sua palavra. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia
do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.