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XI FATECLOG

OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REAL NO UNIVERSO


VIRTUAL
FATEC JORNALISTA OMAIR FAGUNDES DE OLIVEIRA
BRAGANÇA PAULISTA/SP - BRASIL
23 E 24 DE OUTUBRO DE 2020

O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NAS


OPORTUNIDADES MERCADOLÓGICAS DE UMA
IMPORTADORA DE SUPRIMENTOS CLÍNICOS
BÁRBARA PIRES DA SILVA
babi.mica96@gmail.com
BRUNO DE OLIVEIRA EVANGELISTA (FATEC ZONA LESTE)
brunodoe@gmail.com
LUCAS FERREIRA COSTA (FATEC ZONA LESTE)
lucas.costa31@fatec.sp.gov.br

RESUMO
Em 2020, o mundo está passando por um período de crise causada pela pandemia de COVID-19, com isso,
percebe-se um aumento na procura por material biológico e suprimentos clínicos. O objetivo deste artigo é analisar
as oportunidades mercadológicas de uma empresa que atua na importação de suprimentos clínicos e identificar os
impactos no funcionamento dessa empresa. Em relação a metodologia, foi utilizada pesquisa bibliográfica, estudo
de caso e, aplicação de um questionário aberto para a gerente comercial da empresa. Os resultados do estudo
mostram que a crise comercial mundial e a redução da oferta de voos internacionais são os maiores desafios para
a empresa, por outro lado, houve crescimento nos envios diretos aos clientes, além das oportunidades decorrentes
do crescente número de pesquisas clínicas ativas no país, bem como os testes de diagnósticos e novas vacinas.

PALAVRAS-CHAVE: Suprimentos clínicos. Covid-19. Oportunidades mercadológicas. Importação.

ABSTRACT
In 2020, the world is going through a period of crisis caused by the COVID-19 pandemic, with the result that an
increase in demand for biological material and clinical supplies is perceived. The objective of this article is to
analyze the market opportunities of a company that operates in the import of clinical supplies and identify the
impacts on the operation of this company. In relation to methodology, bibliographic research, case studies and
the application of an open questionnaire for the commercial manager of the company were used. The results of
the study show that the global commercial crisis and the reduction in the supply of international flights are the
greatest challenges for the company, on the other hand, there was growth in direct shipments to customers, in
addition to the opportunities arising from the growing number of active clinical researches in the country, as well
as diagnostic tests and new vaccines.

Keywords: Clinical supplies. COVID-19. Market opportunities. Imports.

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1. INTRODUÇÃO

A pesquisa clínica é um ramo da ciência que tem por objetivo o estudo de patologias e
o desenvolvimento seguro e eficaz de medicamentos ou procedimentos para novos tratamentos,
por meio da coleta de dados (exames, procedimentos, coleta de sangue e outros materiais
biológicos etc.) (Hospital Israelita Albert Einstein, 2020).
Estima-se que no Brasil existam cerca de 120 estudos ativos, dirigidos por diversas
indústrias farmacêuticas. Durante esse processo inúmeros testes e coletas de material biológico
de potenciais pacientes são colhidos e transportados entre laboratórios mundialmente para
análise e apuração de resultados.
Os transportes ocorrem mandatoriamente sob temperatura controlada, constituindo parte
de um sistema de “cold chain” (a Cadeia de Suprimentos com temperaturas controladas).
Com a pandemia de Covid-19 a demanda por material biológico e suprimentos clínicos,
como teste de diagnóstico, por exemplo, no Brasil está em crescimento, um dos problemas que
atingem esse mercado, é a redução das rotas aéreas e as limitações de infraestrutura adequada
no sistema rodoviário, sendo comum as intercorrências durante o trajeto que podem atrasar a
chegada do material no seu destino.
Isso impacta diretamente nas amostras, que devem ser transportadas em uma caixa com
temperatura controla e os suprimentos (testes em sua maioria) muitas vezes também. Fazendo
com que o mercado de suprimentos clínicos tenha alguns desafios por eventuais perdas de
material ou atrasos .
Essa situação gera inúmeras oportunidades de expansão de mercado para empresas
especializadas do segmento e esse será o objeto desse estudo. Quais as oportunidades
mercadológicas dos suprimentos clínicos no período da pandemia de Covid-19 no Brasil?
O objetivo geral desse estudo é analisar as oportunidades mercadológicas de uma
importadora de suprimentos clínicos de São Paulo visando manter um nível de serviço logístico
que atenda o crescimento da demanda no período da pandemia COVID-19.
Os objetivos específicos é entender o crescimento da demanda dos suprimentos clínicos
importados; identificar os aspectos favoráveis e desfavoráveis nas oportunidades selecionadas
no estudo.
A metodologia de pesquisa usada, segundo Kauark, Manhães e Medeiros (2010), a
ciência é a acumulação de conhecimentos sistemáticos, sendo caracterizado pelo conhecimento
racional, exato, sistemático e verificável. A pesquisa é buscar a solução de um problema que
alguém queira saber a resposta, para a realização da pesquisa deverá utilizar diferentes
instrumentos para alcançar uma resposta mais precisa.
Quanto aos objetivos esta pesquisa é exploratória, pois, de acordo com Kauark, Manhães
e Medeiros (2010, p. 28) objetiva a maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito,
ou à construção de hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que
tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem
a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisa Bibliográfica e Estudo de Caso em
uma empresa importadora especializada em suprimentos clínicos. Quanto aos procedimentos
técnicos esta pesquisa se utilizará de análise documental referentes aos processos de importação
e aspectos técnicos da carga. Na pesquisa de campo é aplicado um questionário aberto em junho
de 2020 enviado por e-mail para a gerente comercial.

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2. EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 Pandemia Coronavírus

Segundo a Folha Informativa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2020),


a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi notificada pela primeira vez, no dia 31 de
dezembro de 2019, sobre a ocorrência de diversos casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na
China. Na semana seguinte, autoridades chinesas confirmaram que tratava-se de um novo tipo
de coronavírus.
Atualmente, são conhecidos sete tipos de coronavírus humanos (HCoVs), os coronavírus
são o segundo principal causador de resfriados nos seres humanos e, até as últimas décadas,
dificilmente ocasionavam doenças mais graves do que o resfriado comum. Entre os tipos
identificados estão: o SARS-COV, o MERS-COV e, o mais recente, SARS-CoV-2 (nomeado
em 11 de fevereiro de 2020) e causador da doença COVID-19.
A OMS, em 30 de janeiro de 2020, diante dos surto dos casos do novo coronavírus, foi
declarado como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), sendo
o mais alto nível de alerta Organização. Em 11 de março, a nova doença foi caracterizada como
pandemia.
Entre os sintomas da COVID-19 estão tosse, perda do olfato e paladar ,febre e, em casos
mais graves, dificuldade de respirar ou dor no peito. Na maioria dos casos, não é necessária
internação, o mais indicado é fazer o auto isolamento e seguir as orientações dos médicos e
autoridades.
Segundo a Universidade Jhons Hopkins (2020), até o dia 27 de agosto de 2020, o número
de casos confirmados de COVID-19 no mundo foi de 24.242.062 e 827.165 mortes. No Brasil,
segundo o Painel Coronavírus do Ministério da Saúde (2020), são 3.717.156 casos confirmados
e 117.665 óbitos.
Segundo a nota técnica da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (DIMAC,
2020) do Ipea o comércio internacional poderá enfrentar grandes dificuldades em função da
crise causada pela pandemia global, principalmente por conta da redução da demanda mundial
de bens e das limitações na capacidade de oferta em diversos setores e países por conta das
restrições de movimentações de pessoas e o isolamento social. As incertezas causadas pela
pandemia pode causar uma mudança no fluxo de investimentos estrangeiros e nas cadeias
globais de valor.

2.2 Nível de Serviço Logístico na Cadeia de Suprimentos

Segundo Closs (2014), desde a Revolução Industrial o sistema logístico evoluiu muito e
enorme mudanças ocorreram no século XX e continuará se expandindo no século XXI por conta
da era da informação ou também chamada de era digital. Nessa nova ordem de negócios
denominada como gestão da cadeia de suprimento os administradores estão, cada vez mais,
melhorando suas práticas logísticas. Hoje por exemplo, já existe sistemas logísticos com
capacidade de realizar uma entrega em um horário exato previamente acordado e as frequentes
falhas nos processos logísticos bem característicos do passado estão cada vez menores.
A realidade de uma gestão de cadeia de suprimentos é a busca pelo seis sigma, que
podemos traduzir como os pedidos perfeitos (entregar a variedade e a quantidade desejada de
produtos no tempo previamente acordado, sem avarias e com a fatura correta). E dentro dessa

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evolução um dos fatos mais importante é que esse alto desempenho está sendo alcançado
através de um custo total cada vez mais baixo.
Segundo Ballou (2006), o nível de serviço logístico dentro da cadeia de suprimentos se
tornou uma estratégia das empresas contemporâneas que trata todas as atividades de
movimentação e armazenagem, com o objetivo de facilitar o fluxo de produtos desde a
aquisição da matéria prima até o cliente. Ele se dá por uma soma de uma série de elementos
que são avaliados pela satisfação do cliente e dentro desse contexto o profissional da logística
tem como função realizar as melhorias dos elementos do processo a partir do feedback do seu
cliente.
Sendo assim se torna extremamente importante para manter um nível de serviço elevado
como é exigido hoje pelas empresas ter um gerenciamento para que os acordos sobre os serviços
sejam definidos e cumpridos. Isso envolve o monitoramento continuo das necessidades dos
clientes e adaptações atendendo a exigência de cada um.
Segundo a nota técnica da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (DIMAC,
2020), na Cadeia Global de Valor (CGV) atual, grande parte das atividades de agregação de
valor das manufaturas estão localizadas em países com menor custo de mão de obra, baixos
custos de produção e próximos aos principais mercados consumidores. A fragmentação da
produção em diferentes países levou à um aumento no comércio internacional.
Com a crise do novo coronavírus e o isolamento de algumas cidades, foi possível notar
que linhas de produção inteiras podem parar devido à falta de acesso a insumos, partes, peças e
componentes. Com isso, ao fim da pandemia, pode ocorrer um aumento da pressão dos
governos em repatriar ao menos parte das etapas industriais atualmente realizadas no exterior,
se essa mudança for concretizada, pode levar a um processo de desfragmentação da produção
e, consequentemente, uma retração no processo de globalização.
Em relação as limitações na capacidade de oferta na CGV, um exemplo é a produção de
fármacos e de equipamentos e materiais médicos que, atualmente, está concentrada em poucos
países, principalmente na Índia e China, os governos de países ricos poderão pressionar as
multinacionais para que aumentem a produção desses produtos em seus territórios.

2.3 Pesquisa Clínica

Por definição, pesquisa clínica ou estudo clínico é:

"Qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir ou verificar os


efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e/ou outros efeitos de produto(s)
e/ou identificar reações adversas ao produto(s) em investigação com o objetivo de
averiguar sua segurança e/ou eficácia. (EMEA, 1997, s.p.).

De acordo com Mancini (2019), o objetivo dos estudos clínicos é desenvolver drogas
para tratamentos de alguma patologia, ou, melhores soluções para patologias já existentes, nesse
caso, medicamentos mais eficazes e/ou com menos efeitos colaterais.
De acordo com a descrição do Ministério da Saúde (1997) as pesquisas clínicas são
divididas entre 4 fases subsequentes, sendo essas precedidas pela fase pré-clínica, em que não
há testes em humanos. Para que seja viabilizada é necessária a participação de pacientes
voluntários, saudáveis ou não, e o cumprimento de diversos requisitos de entidades regulatórias,
como a Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Comitê Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP) e os Conselhos de Ética em pesquisa (CEP).

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Abaixo são apresentadas as quatro fases da pesquisa clínica, definidas pelo Ministério
da Saúde (1997):
Na fase I o medicamento em estudo é aplicado pela primeira vez em um ser humano,
saudável, para que sejam estudadas as vias de aplicação, doses e efeitos concomitantes ao uso
de outras drogas e álcool. Essa fase conta com a participação de 20 até 100 voluntários.
Na fase II o medicamento é aplicado em cerca de 100 a 300 voluntários, com a doença
estudada pela pesquisa, e tem como objetivo coletar mais dados sobre a segurança da droga,
bem como iniciar a análise da eficácia no combate à patologia.
Caso os resultados apresentados na fase II sejam promissores, inicia-se a fase III do
estudo, nessa etapa o medicamento investigado é confrontado diretamente com as alternativas
existentes, ou com um placebo, caso a patologia não tenha nenhum medicamento ou tratamento
ativo. Nessa fase o número de voluntários chega aos milhares e, geralmente, são divididos em
dois grupos aleatórios, em que um receberá o tratamento existente (ou o placebo) e o outro
receberá a droga pesquisada.
Essa fase pode durar anos e é nela em que as informações sobre dosagem, efeitos
colaterais e efetividade são apuradas e todas as informações que constarão nos rótulos e bulas
são apresentadas, dependo dos resultados, as aprovações de comercialização são solicitadas as
autoridades sanitárias.
A fase IV é conhecida como Farmacovigilância e nela o medicamento já está sendo
comercializado e são feitos acompanhamentos de tendências da população alvo, com o objetivo
de identificar efeitos colaterais não previstos anteriormente.

3. ESTUDO DE CASO
3.1 A Importadora

Para a melhor abordagem do tema proposto, escolheu-se uma empresa do setor como
referencial para o estudo, que é a única organização da cadeia de suprimentos centrada no
paciente, 100% dedicada às indústrias farmacêutica e de ciências da vida, multinacional com
sedes em 54 países e operações comerciais com operações regulares para 200 países, líder de
mercado no segmento de envios direto ao paciente e remessas de amostras biológicas.
A empresa conta com cerca de 1.100 funcionários globalmente, sendo 45 no Brasil e
opera cerca de 85.000 envios mensalmente.

3.2 Processo de importação de suprimentos clínicos

As diretrizes para o processo de importação de suprimentos clínicos, atrelados à


pesquisa em território nacional são dadas a partir da RDC 09/2015 do Ministério da Saúde.
O passo inicial é garantir que existe um protocolo clínico aprovado pela ANVISA e ativo
no território nacional em que todos os produtos estejam previstos em documento específico,
chamado Comunicado Especial (CE) e emitido pela ANVISA à empresa responsável pelos
ensaios.
Como muitas vezes as empresas responsáveis pelas pesquisas não tem experiência ou
qualificação para coordenar o processo de importação de insumos, são contratadas importadoras
dedicadas a esse tipo de transporte, ocasionando a necessidade de uma carta de delegação de
responsabilidades, emitida pelo detentor do CE em que são concedidos à importadora o poder

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de executar as operações logísticas internacionais em nome da responsável legal pelo protocolo


de estudo.
Por se tratar de transporte de materiais sensíveis, em que a previsibilidade da
disponibilidade de insumos nos centros de pesquisa é fundamental para a condução adequada
dos estudos e procedimentos com os paciente, o principal modal utilizado nesse tipo de
transporte é o aéreo, devido ao menor lead time e maior segurança, quando comparado à outros
modais, como o marítimo, por exemplo.
As importações são regulamentadas e controladas pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), a modalidade de transporte mais utilizada para a importação de kits de
laboratório utilizados para coleta de material biológico é a Remessa expressa e os documentos
requeridos para anuência e desembaraço aduaneiro são os seguintes:
Fatura comercial: São requeridas informações do exportador, importador e destinatário,
descrição detalhadas dos produtos, mencionar o protocolo clínico ao qual os materiais estão
atrelados, mencionar o número do conhecimento de embarque, Incoterm e o valor comercial
dos bens, quando aplicável, considerando-se que amostras biológicas humanas atreladas à
pesquisas não tem valor comercial.
Conhecimento de carga embarcada: São requeridas informações da empresa
transportadora, modal utilizado, informações de consignação do material.
Termo de Responsabilidade: Esse documento é requerido pela ANVISA e tem suas
diretrizes apresentadas pela RDC 81/2008 do Ministério da Saúde em seu capítulo XXV e deve
ser emitido pela empresa importadora, mencionando seus dados cadastrais, indicando qual será
o uso e finalidade dos materiais importados e deve-se listar todos os itens declarados na fatura
comercial bem como a quantidade de cada item e número do protocolo atrelado. Esse
documento deve ser assinado pelo responsável legal da empresa e pelo seu representante
técnico, que deve ser um profissional da saúde com registro de CRM (Conselho Regional de
Medicina) ou CRF (Conselho Regional de Farmácia) ativo.
Petição de anuência ANVISA: Esse documento precisa ser assinado pelo responsável
legal da empresa e deve conter as informações do exportador, importador, empresa
transportadora, número do conhecimento de embarque, quantidade de itens a serem
importados, posto fiscal e aduaneiro ao qual a mercadoria será enviada, descrição detalhas dos
itens com informações do país de origem e procedência, condições de armazenagem e
temperatura que o material deve ser mantido.
Comunicado especial: Documento emitido pela ANVISA, que regulamenta o ensaio
clínico em território nacional e tem todos os detalhes da pesquisa e lista todos os suprimentos
que tem a importação prevista para uso nos procedimentos.
O tempo médio de liberação aduaneira para esse tipo de material é em torno de 5 dias
úteis embora, legalmente, não exista um prazo máximo estabelecido para que a ANVISA
analise as importações, de acordo com informações da empresa objeto desse estudo de caso.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentro desse cenário caótico para vários setores no Brasil e no mundo, as empresas
precisaram se adaptar ao novo cenário. Por isso, foi realizado um questionário aberto, em junho
de 2020, enviado por e-mail para Fernanda Vasti, gerente comercial, responsável pelas
negociações e novos projetos da empresa usada como referencial para a abordagem do tema
nesse artigo, profissional com mais de 10 anos de experiência sendo 5 em pesquisa clínica, para
entender-se como a empresa e o setor reagiram frente a pandemia.
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Ao questionar os principais impactos da pandemia de COVID-19 no funcionamento da


empresa, a especialista entrevistada informou que a empresa desenvolveu um plano de
contingência para que todos os funcionários, exceto os envolvidos diretamente na operação,
trabalhassem de casa, em sistema home office, com o fornecimento de notebooks,
redirecionamento das linhas fixas para celulares coorporativos. Alguns dos principais impactos
identificados foram: a pausa temporária dos projetos de diversos clientes, inicialmente sem uma
previsão de retomada ainda em 2020; Redução da malha aérea nacional e internacional e
Medidas de Lockdown (isolamento completo de todas as atividades econômicas) em diversos
países onde há atuação da empresa.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (2020) disponíveis na plataforma
International Clinical Trials Registry Platform, até 27 de agosto de 2020 existiam 5.344 estudos
clínicos relacionados à Covid-19 iniciados no mundo, sendo 146 com participação do Brasil.
Considerando esse cenário, Vasti informou que os principais impactos desse aumento de
estudos, comercialmente, nas operações da empresa foram:
• Aumento de aproximadamente 120% dos envios DTP (Direct to Patient), em que as
importações são direcionadas diretamente aos pacientes, que recebem os medicamentos
em suas casas ao invés de irem aos hospitais;
• Aumentos dos processos de importação de novos medicamentos, focados no combate à
Covid-19
• Absorção majoritária dos processos de importação das vacinas com testes aprovados
pela ANVISA no Brasil.

Em contrapartida, estima-se que em março houve uma redução de 70% nos envios que
não eram relacionados à Covid-19, que iniciaram retomada gradual dos volumes pré-pandemia
à partir da segunda quinzena de maio.
Ao questionar as principais oportunidades que a pandemia do novo coronavírus trouxe
ao setor de pesquisa clínica no Brasil e os maiores desafios criados, pôde-se perceber que, de
acordo com Vasti, começou-se uma busca por novos mercados e formas de operacionalizar os
envios, foi necessária também a busca de novos parceiros, análise de viabilidade do uso de
outros modais, como o rodoviário, incomum para o setor, em cenários pré-pandêmicos e até
mesmo o uso de motoboys para entregas na mesma cidade. A empresa estudada implementou
o serviço de Home Healthcare no Brasil, que até então só era feito pela empresa em filiais
estrangeiras.
Os maiores desafios apontados pela gerente comercial foram relacionados à
concorrência de empresas que não tinham a expertise neste mercado mas quiseram se beneficiar
da pandemia oferecendo serviços de baixo custo e qualidade. Além disso também a restrição
de oferta de voos das cias aéreas, o que além de falta de opções causou um aumento muito
grande das tarifas daquelas que continuaram operando, de acordo com informações de Faria e
Yukari, publicadas na Folha de São Paulo (2020), em abril o número de voos globais foi
reduzido em 78%, enquanto no Brasil a redução chegou a 90%, ainda de acordo com
informações da Folha, 184 países e territórios impuseram restrições a voos ou entrada de
estrangeiros.
Mesmo com o cenário pandêmico, devido ao grande número de estudos iniciados,
buscando tratamentos para a Covid-19, globalmente a empresa pesquisada apresentou um
aumento de 27% no lucro, de acordo com dados internos da companhia e no Brasil, de acordo
com a entrevistada, devido à queda das demandas dos demais tipos de produtos, em junho a
filial apresentava leve redução no lucro operacional.
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Em junho as perspectivas de mercado para os meses seguintes era o aumento gradual


dos negócios, com a retomada de protocolos clínicos até então interrompidos devido à
pandemia, também foram apontadas oportunidades relacionadas a análise de testes de Covid,
vacinas em Fase 3 de testes com voluntários Brasileiros incluídos no protocolo. Ao ser
contatada em agosto para uma breve atualização de cenário Fernanda Vasti informou que a
empresa fechou, de fato, novos contratos relacionados aos protocolos de vacina em andamento
no Brasil e que isso gerou um aumento de 40% no quadro de funcionários da empresa.
Sobre o esquema de trabalho a entrevistada informou que não há expectativa de que
todos os funcionários voltem a trabalhar no escritório, sendo o modelo híbrido, mesclando
trabalho in loco com home office, o mais provável para o futuro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo desenvolvido nesse artigo foi possível perceber que a pandemia de
COVID-19 mudou a forma como as empresas fazem negócios bem como suas estratégias e
abordagens.
Apresentamos o cenário das pesquisas clínicas no Brasil, suas especificidades, processos e
nuances, como o cenário atual impactou a operação de uma empresa especializada do setor de
logística clínica internacional, com atuação no Brasil e em mais 54 países.
Foi possível perceber que diversas oportunidades mercadológicas surgiram e têm sido bem
aproveitadas, devido ao crescimento exponencial de protocolos clínicos iniciados objetivando
a busca por novos tratamentos e vacinas, porém também foi notável o impacto negativo em
departamentos não ligados diretamente às operações relacionadas diretamente ao cenário
pandêmico, sendo o cenário ainda mais crítico, quando analisamos o recorte temporal dos três
primeiros meses que quarentena global (março a maio).
A entrada de novos concorrentes, que oferecem um nível de serviço menor do que o padrão
para a cadeia de suprimentos de pesquisa clínica tem sido considerada um dos maiores desafios
comerciais a se enfrentar tanto para o caso da empresa estudada nesse artigo como para as
empresas engajadas nas pesquisas, que demandam os serviços de logística internacional,
principalmente importação. Operacionalmente os maiores desafios estão ligados a restrição de
voos internacionais, que também impactam nos serviços que lançam mão da cadeia fria,
fazendo com que os cuidados com cargas de temperatura controlada, majoritariamente
medicamentos, amostras biológicas e vacinas sejam redobrados.
Pode-se concluir que o cenário atual é desafiador mas oportuno à grande resiliência,
propício a novos negócios focados em serviços mais personalizados aos clientes finais.
É recomendado que novos estudos relacionados ao tema sejam produzidos para que possa-
se analisar quantitativamente as demandas e para que possa-se detalhar ainda mais os tipos de
materiais mais demandados globalmente, bem como o impacto direto nos pacientes impactados
pelos novos tratamentos desenvolvidos nesse período, após o final do cenário pandêmico
também será possível analisar um recorte definitivo de todos os impactos causados pela nova
doença global.

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6. REFERÊNCIAS

BALLOU, R. H. GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS/LOGÍSTICA


EMPRESARIAL. [S.l.]: Bookman, 2006.
CLOSS, D. J. Gestão Logística da Cadeia de Suprimentos. [S.l.]: Mcgraw Hill Education,
2014.
DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS MACROECONÔMICAS (DIMAC). Comércio
exterior, política comercial e investimentos estrangeiros: considerações preliminares sobre os
impactos da crise do Covid-19. IPEA, 25 de maio de 2020. Disponivel em:
<https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/wpcontent/uploads/2020/04/CC47_NT_Com%C
3%A9rcio-externo-Covid-19.pdf>. Acesso em: 25 maio 2020.
FARIA, Flávia; YUKARI, Diana. Coronavírus provoca redução de 90% dos voos no Brasil,
mais que média global, 20 de abril de 2020. Disponível em: <
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/coronavirus-provoca-reducao-de-90-dos-
voos-no-brasil-mais-que-media-global.shtml>. Acesso em: 14 de setembro de 2020
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN. O que é a Pesquisa Clínica? Hospital
Israelita Albert Einstein, 25 Maio 2020. Disponivel em:
<https://www.einstein.br/pesquisa/pesquisa-clinica/o-que-e>. Acesso em: 25 maio 2020.
JOHNS HOPKINS UNIVERSITY & MEDICINE. COVID-19 Dashboard by the Center for
Systems Science and Engineering (CSSE). Johns Hopkins University & Medicine, 27 de
agosto de 2020. Disponível em: < https://coronavirus.jhu.edu/map.html>. Acesso em: 27 de
Agosto de 2020
KAUARK, Fabiana; MANHÃES, Fernanda Castro; MEDEIROS, Carlos Henrique.
Metodologia da pesquisa: guia prático /. – Itabuna. Via Litterarum, 2010. Disponível em:<
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. RESOLUÇÃO Nº 251, DE 07 DE AGOSTO DE 1997.
Biblioteca Virtual em Saúde, 1997. Disponivel em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1997/res0251_07_08_1997.html>. Acesso
em: 25 junho 2020.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Painel Coronavírus. Coronavírus Brasil, 2020. Disponivel em:
<https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 23 junho 2020.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, ANVISA. RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA -
RDC Nº 81. RDC 81/2008, 2008. Disponivel em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/rdc0081_05_11_2008.pdf/a02a1a3f-
eaf1-4264-b1c0-084eb426fc37>. Acesso em: 1 junho 2020.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, ANVISA. RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA -
RDC Nº 9. RDC 09/2015, 2015. Disponivel em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/3503972/RDC_09_2015_COMP.pdf/e26e9a44-
9cf4-4b30-95bc-feb39e1bacc6>. Acesso em: 1 maio 2020.

XI FATECLOG - OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REAL NO UNIVERSO VIRTUAL


FATEC JORNALISTA OMAIR FAGUNDES DE OLIVEIRA
BRAGANÇA PAULISTA/SP - BRASIL
23 E 24 DE OUTUBRO DE 2020
XI FATECLOG
OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REAL NO UNIVERSO
VIRTUAL
FATEC JORNALISTA OMAIR FAGUNDES DE OLIVEIRA
BRAGANÇA PAULISTA/SP - BRASIL
23 E 24 DE OUTUBRO DE 2020

OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Painel International Clinical Trials


Registry Platform, Disponível para download em: <https://www.who.int/ictrp/en/>. Acesso
em: 27 de agosto de 2020
OPAS. Folha informativa – COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus). Organização
Pan-Americana da Saúde - Brasil. Disponivel em:
<https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19
&Itemid=875>. Acesso em: 25 maio 2020.

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XI FATECLOG - OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REAL NO UNIVERSO VIRTUAL


FATEC JORNALISTA OMAIR FAGUNDES DE OLIVEIRA
BRAGANÇA PAULISTA/SP - BRASIL
23 E 24 DE OUTUBRO DE 2020

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