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Essas miras são quase sempre objetos de muita curiosidade por parte do público leigo,
não muito familiarizado com armas, o que muitas vezes acaba gerando lendas e
alguns exageros sobre o limites que, na realidade, esses aparelhos conseguem atingir.
Fomentadas por alguns filmes, por exemplo, muitas pessoas julgam o tiro efetuado
com armas dotadas de luneta, como algo infalível e de muito fácil utilização.
O emprego das lunetas, principalmente em armas longas, existe de longa data, pois se
tem conhecimento da existência delas desde o século 17, instrumentos rústicos, a
bem da verdade. Mas só a partir de 1835 a 1840 é que se tem notícia de que os
inventores norte-americanos Morgan James e William Malcolm haviam desenvolvido
suas lunetas com relativo sucesso e com bom desempenho. Aliás, atribui-se a
Malcolm, por volta de 1855, a criação da primeira mira telescópica com retículo
regulável internamente. As miras desenvolvidas por Malcolm tornaram-se padrão em
uso militar nos USA por volta da Guerra Civil (1860-1865), onde eram utilizadas pelos
“snipers” (atiradores de elite) da época.
Afirma-se que o Major General John F. Reynolds, do Exército da União, foi morto por
um atirador de tocaia do Exército Confederado, posicionado sobre uma árvore e
armado com um fuzil equipado com uma dessas lunetas. Foi um tiro certeiro na nuca,
quando o General se encontrava montado em seu cavalo, durante a batalha de
Gettysburg, em julho de 1863.
Uma magnitude muito alta também restringe o campo de visão a uma determinada
distância, o que em alguns casos prejudica a “visão de conjunto”. Um alvo a 50 metros
de distância, por exemplo, dependendo do seu tamanho e da magnitude que a lente
possui, poderá facilmente preencher todo o campo de visão da lente, não permitindo
ao atirador um pouco da visão periférica. Por isso as lentes variáveis, com zoom, são
mais versáteis principalmente na atividade de caça.
Luneta Schmidt-Bender de fabricação alemã, modelo PM II de 5-25X56, ocular
regulável e ajuste de foco (paralaxe); ótica de primeira linha mas com um preço
compatível e salgado, algo em torno de US$ 3.000,00.
A luminosidade está diretamente relacionada ao diâmetro da objetiva. Portanto,
quanto maior o valor do diâmetro mais luz teremos na saída da ocular, embora a
magnitude também interfira como fator importante. Exemplificando, duas lentes da
mesma magnitude mas com objetivas diferentes, como uma 4X50 e uma 4X32, a
primeira será bem mais luminosa que a segunda. Porém, se temos uma lente 8X32 e
uma outra 12X40, como saberemos qual é a mais luminosa? O índice que nos dá essa
luminosidade, independente do aumento da lente, se chama “pupila de saída”, ou “ exit
pupil” . Quanto maior o diâmetro de pupila de saída, mais clara e luminosa será a
lente. Chega-se neste valor dividindo-se o diâmetro da objetiva pela sua magnitude.
Nos dois exemplos acima, temos:
32/8 = pupila de saída de 4mm
Portanto, a primeira lente, apesar de ter magnitude inferior (8X) é mais luminosa do
que a segunda. Percebemos então que em uma lente variável (zoom), a pupila de saída
varia de acordo com a magnitude: temos a lente 3-9X40: sua pupila de saída será de
13,3mm (na posição 3X) até 4,4mm (na posição 9X).
Construção:
Vista interna de uma mira telescópica moderna, de magnitude fixa, onde se observa a
montagem com dois tubos, interno e externo, para possibilitar os ajustes.
No desenho acima podemos ver como é a construção de uma mira telescópica atual,
de magnitude fixa. A objetiva é o lado que fica voltado ao alvo e a ocular, voltado ao
olho do atirador. Um retículo é montado na extremidade de um segundo tubo (interno)
existente no interior do tubo externo. Falaremos de retículos mais adiante, mas eles
são basicamente compostos de dois fios posicionados em formato de uma cruz, para
servirem de referência à pontaria. Dentro do tubo interno também estão as lentes
destinadas a inverter a imagem e as lentes oculares, por onde sai a luz que entrou pela
objetiva.
Montados, um deles em cima e o outro num dos lados do tubo externo, situam-se os
botões de ajuste: o botão de cima ajusta a mira quanto à elevação e o botão lateral
ajusta a mira lateralmente. Ambos possuem uma capa de proteção rosqueada e
dispõem de uma escala graduada; seu movimento é clicado em ambas as direções,
para evitar que girem livremente. Cada posição ou clique ajusta a posição do tubo
interno e consequentemente do retículo que é montado nele, para permitir a
regulagem da mira em relação ao cano da arma e em relação à distância do alvo. De
maneira geral e dependendo da luneta, um clique de ajuste, seja para cima ou para
baixo, seja para a direita ou para a esquerda, altera o ponto de impacto do projétil em
cerca de 3 mm a 10 mm, a 100 metros de distância.
Na figura ao lado, vemos exemplos dos retículos mais comumente utilizados, alguns
deles com funções específicas.
O retículo tipo “mil-dot“, por exemplo, muito em moda hoje em dia, ajuda no cálculo
da distância atirador-alvo, de forma muito rápida e simples, sem o custo adicional de
dispositivos “range-finder” mecânicos.
Este retículo possui no seu “cross-hair” uma série de 10 pontos em ambos os sentidos,
espaçados de forma regular. O fabricante fornece no manual qual a relação que cada
espaçamento tem em determinada distância. O atirador mira em um objeto cuja altura
ou largura seja sua conhecida e verifica quantos pontos ou meios-pontos a figura
preenche. A quantidade de pontos ou de frações deles, multiplicado por um fator,
indica a distância do objeto.
Há retículos denominados de BDC, abreviatura que significa Bullet Drop Compensator,
que permite ao atirador estabelecer o ajuste da luneta à diversas distâncias diferentes,
levando-se em conta a queda natural da trajetória do projétil. É claro que para cada
cartucho deve-se ter ajustes diferentes; há lunetas que são fornecidas com meia-dúzia
de knobs de ajuste que podem ser trocados a qualquer momento, cada um apropriado
para os calibres mais populares.
O modelo SVD visto ao lado é de uso militar, onde uma escala é exibida baseada em
um alvo de uma pessoa de 1,70m de altura; com a ajuda das escalas ali fornecidas, o
atirador com o alvo humano em mira saberá determinar a distância que o alvo se
encontra.
Os retículos com círculos em diversos tamanhos são os mais indicados para uso em
espingardas. Muito em uso hoje em dia são os modelos dotados de retículos
iluminados, seja com o uso de pequenas baterias de fácil substituição ou com uso de
isótopos radioativos como o tritium, que não necessitam de fonte de alimentação,
embora possuam uma duração estimada entre 8 a 12 anos, quando perdem suas
características luminosas. Para utilização noturna os retículos iluminados são de
grande valia.
Acima, ajuste de paralaxe posicionada em 50 metros – à esquerda, anel de zoom
(ajuste de magnitude) em uma luneta de 6 a 24 X
Exemplo: temos uma típica objetiva com distância focal de 100mm, sistema com 10X
de magnitude e lentes focadas, de fábrica, à distância de 1000 metros. Se formos
utilizar essa luneta em um objeto distante à 100 metros, a imagem resultante se
formará em foco perfeito à: (1000m / 100m) / 100mm = 0.1mm., ou seja, 0.1 mm
atrás do retículo; parece pouco mas isso, multiplicado por 10X (aumento da lente)
ocasionará um erro de 10 mm de variação no alvo.
Montagem na arma:
A montagem das miras telescópicas nas armas é feito geralmente por dispositivos
denominados de “mounts“, ou suportes, que quase sempre em número de dois,
abraçam o tubo central da luneta e fixam-se nas ranhuras existentes na arma. Essas
ranhuras, também chamadas de trilhos, são usinadas geralmente na culatra das armas
longas, com larguras padronizadas. Sem essas ranhuras, é mais difícil e trabalhoso de
se montar lunetas pois esses “mounts” necessitam ser de tipo diferente do padrão,
como é o caso dos modelos que se fixam em trilhos adaptados à arma.
Nas fotos acima, vemos típicos suportes para lunetas com tubo de 1/2 polegada de
diâmetro e engates para trilhos de 11mm de largura.
Esses suportes, que normalmente podem ser seccionados em duas metades e presos
por um parafuso em cada extremidade, medem normalmente 3/4″ (19mm), passando
por 22 mm, uma polegada (25,4mm), 26, 30 e 34mm. adaptando-se assim a uma
variedade muito grande de lunetas.
A fixação dos suportes é algo que tem que ser feito cuidadosamente para não danificar
a luneta nem as ranhuras. Geralmente eles são primeiramente fixados ao corpo da
luneta e só depois montados à arma. Nesta etapa, deve-se ter muito cuidado com o
alinhamento vertical do retículo em relação à arma, para evitar que o mesmo fique
inclinado, para um lado ou outro. Também é importante verificar o posicionamento
dos suportes em relação ao trilho da arma e verificar, quando se posicionar a lente
sobre a arma, se a distância da ocular em relação ao olho do atirador, o chamado
“eye-relief“, está de acordo com a especificação.
Dentro do possível a luneta deverá estar montada na posição mais baixa, o mais
próxima do cano, mas isso nem sempre ocorre devido à possíveis interferências da
luneta com alguma peça da arma, principalmente com as alças de mira, que
normalmente são removidas.
Uma vez determinada a posição correta da luneta sobre o trilho, monta-se a mesma e
aperta-se bem seus parafusos para que se obtenha uma montagem firme, sem folgas
e livre de trepidação.
Existem suportes específicos para alguns modelos de armas que não possuem trilhos,
suportes que são afixados por parafusos diretamente à armação ou na culatra de rifles
e carabinas.
Na figura acima, um interessante sistema “snap-in” de encaixe nos trilhos, sem uso de
parafusos, onde é possível a instalação e a remoção da luneta sem uso de
ferramentas.
Há casos em que, dependendo das características de uma arma, seja um pouco mais
complicado de se utilizar uma mira telescópica, como por exemplo nos típicos rifles
Winchester de alavanca, onde a extração dos cartuchos se faz por cima da culatra, o
que ocasionaria se chocarem contra a lente, e também pelo fato de não haver trilhos
para montagem. Outro caso comum são fuzís baseados na ação Mauser, onde a luneta
sobre a culatra dificulta o carregamento dos cartuchos, com o uso de clipes. Neste
último caso, pode-se optar por lunetas de “eye-relief” mais longos, de cerca de 20 mm
a 30 mm, podendo-se assim montar a luneta sobre o cano, para a frente da abertura
do ferrolho. Outro problema comum em armas de ferrolho é a possibilidade da
alavanca de manejo bater no corpo da luneta, ao ser aberta. Muitas vezes será
necessária uma modificação nessas alavancas.
Entretanto, soluções como essa podem causar, às vezes, efeitos indesejáveis pois
qualquer articulação ou peças móveis no conjunto da luneta e seu suporte podem
causar variação nos ajustes, afetando a precisão do tiro. Não é o caso deste fabricante,
mas claro que esse conjunto articulado deverá sempre ser construído com materiais de
primeira linha, evitando-se assim folgas e desgastes no decorrer do uso.
Para cada caso, existe disponível ao atirador uma infinidade de peças fornecidas por
diversos fabricantes como trilhos, extensores, prolongadores e calços, permitindo que
virtualmente possa se montar uma mira telescópica em qualquer arma.
Escolha da luneta:
Importante ponto na hora da escolha da luneta é a compatibilidade dela com a arma
onde vai ser utilizada e a aplicação que se pretende, como caça ou tiro esportivo. Há
lunetas específicas para carabinas de ar comprimido, de calibres não muito potentes,
até os rifles de alta potência e grande recuo. Uma luneta mal concebida e mal
empregada pode sofrer danos internos em seus elementos devido ao excesso de
vibração de uma carabina de ar do tipo bomba ou de um rifle com grande recuo.
Efetue agora outros disparos até que consiga agrupar uns dois ou tres sobre, ou bem
próximo, à linha vertical do alvo. Passamos agora à regulagem vertical. Meça a
distância dos impactos na linha vertical em relação ao centro do alvo e clique o ajuste
de elevação de acordo com os dados de M.O.A. do fabricante. Faça com que os
grupamentos cheguem todos sobre, ou bem próximo, ao centro da cruz do alvo. A
luneta está regulada para 25 metros.
Obreie os furos ou faça um novo alvo e posicione-o agora à 50 metros. Efetue uns
dois disparos e verifique que o desvio lateral não deve ter sofrido alteração, uma vez
que não haja a presença de ventos laterais. O que deve ter ocorrido foi a queda da
trajetória típica dos projéteis, de poucos centímetros, dependendo do calibre. Meça
esse desvio e clique, calculando novamente pelo índice de M.O.A. agora dividindo o
resultado de cliques por dois, pois estamos agora a 50 metros. Efetue mais alguns
disparos e ajustes adicionais até confirmar o agrupamento no centro do alvo. Neste
caso, regulou-se a luneta para 50 metros. O procedimento é o mesmo,
posteriormente, para 100 metros.
Se os botões de ajuste do modelo de luneta em uso permite que seja ajustado para
zero, efetua essa operação, zerando ambos os ajustes para as posições de 50 ou 100
metros. Desta forma, qualquer utilização fora dessa distância poderá ser mais
facilmente revisada, baseada na quantidade de cliques necessária. Por exemplo, se a
queda do projétil de um determinado cartucho é de 5 cm a partir de 50 metros até 100
metros, pelo índice M.O.A. calcule quantos cliques serão necessários para corrigir
esses 5 cm. Se forem 10 cliques, somente gire o ajuste em 10 cliques, partindo do
zero, para usar a arma a 100 metros. Retorne o ajuste ao zero para utilizar novamente
a arma para a distância de 50 metros.
Entendendo o M.O.A.:
Se uma luneta possui ajustes de 1/4 MOA como a ilustrada ao lado, as medidas de
MOA devem ser divididas por 04. Então temos para essa luneta que um clique equivale
a 06 mm a 100 metros, 03 mm a 50 metros ou 1,5mm a 25 metros.
No ajuste dessa mira da foto, por exemplo, se os impactos dos projéteis num alvo a 50
metros causam um desvio para baixo de 06 cm (60 mm), serão necessários 20 cliques
no sentido correto (UP), para corrigir.
Os fabricantes de lunetas telescópicas fornecem suas lentes com ajustes de 1/2 MOA
ou de 1/4 MOA para cada clique de posição de ajuste. Quanto menor for o M.O.A. mais
preciso será o ajuste da mira. Como o M.O.A. é uma medida linear, isso significa que o
dobro da distância é também o dobro do desvio.
Acessórios:
Considerações finais:
O mercado hoje é muito favorável na área das miras telescópicas, pois com a entrada
agressiva dos produtos chineses, o preço é muito acessível, porém, a qualidade nem
tanto. A exemplo do que ocorreu na indústria de equipamentos fotográficos, os
tradicionais e melhores fabricantes, tais como os alemães, japoneses e americanos,
partiram para a opção de instalarem suas fábricas nos países asiáticos, como Coréia
do Sul, Tailândia e China, onde a possibilidade de produção desses instrumentos, com
custo final mais baixo, é melhor. Nestes casos ainda vale a premissa de que as marcas
de prestígio como Leopold, Weaver e Bushnell (norte-americanas), Nikon (japonesas) e
Leitz (alemãs), e que hoje também são produzidas no oriente, mesmo assim ainda
possuem qualidade muito acima da média.
Produtos europeus como os da linha Carl Zeiss, Ernst Leitz, Schmidt-Bender e outras,
ainda mantém valores elevados de preços, mas com a certeza da aquisição dos
melhores produtos deste tipo que o mercado pode oferecer.
Entretanto, há uma infinidade de marcas disponíveis hoje, tanto nas lojas como na
Internet, como as Bushmaster, Bosile, Titan, Nikko, Tasco, Gamo e Shilba, entre
outras, com preço bastante convidativo mas que merecem muita atenção e cuidado na
hora da escolha. Falta de luminosidade, aberrações óticas e foco impreciso são fatores
que não são tão raros nessas lentes, algumas delas com preços inferiores a R$ 150,00.
Muito cuidado também na escolha a ser feita em relação à arma: há muitas lunetas
baratas no mercado que, pelo preço baixo, estimulam os atiradores de carabinas de ar
comprimido por ação de mola, a adquiri-las. É necessária uma pesquisa bem feita e
indagações aos vendedores sobre a construção dessas lunetas, pois mesmo nesse tipo
de arma, o contra-recuo que ocorre no momento da distenção da mola e no seu
impacto no final do pistão, causam vibrações tão grandes que acabam, literalmente,
destruindo e desalinhando os elementos internos das lunetas.