Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bacharelado Em Direito
Castanhal-PA
10º Semestre
O Direito a Saúde em tempos de Pandemia em Castanhal1
Autor(a): Fabíola Ferreira Figueira2
Orientador(a): Isabela Pinto Figueiredo3
1 Artigo apresentado como exigência parcial para a conclusão do curso de Bacharelado em Direito pela
Faculdade Estácio de Sá – Castanhal.
2 Autor(a): Fabiola Ferreira Figueira
3 Orientador(a): Isabela Pinto Figueiredo
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a efetividade do Direito
à Saúde em Castanhal em uma situação de crise como a Pandemia de Covid-19. Para
isso foi realizada a revisão da literatura para definir o regime jurídico conferido a esse
direito pela sua inclusão na CF/88. Então foi realizada a contextualização do impacto
da pandemia no mundo. Em seguida foi verificado através da atuação da Promotoria
de Justiça, se o direito a saúde em Castanhal tinha efetividade antes da pandemia ou
se a sua a sua falta de efetividade foi determinante para o colapso do sistema de
saúde da cidade e alto grau de letalidade em virtude da COVID-19.
5 ANÁLISE DE RESULTADOS 31
6 CONCLUSÃO 34
REFERÊNCIAS 36
6
1 INTRODUÇÃO
Como se mede a efetividade de um direito? Como medir a
efetividade do Direito à Saúde de determinado local durante uma pandemia? Essas
perguntas podem ter infinitas respostas, por exemplo: pela expectativa de vida da
população; pela avaliação do perfil epidemiológico; simplesmente parando na rua e
perguntando, ou através de um método mais sofisticado como a matriz de indicadores
criada pela OMS. A proposta desse trabalho é avaliar a efetividade do direito à saúde
no município de Castanhal durante a Pandemia de COVID-19.
Considerando que, para qualquer avaliação são necessários dois
elementos: 1) Uma unidade de medida; 2) Um parâmetro para comparação. A
unidade de medida utilizada nesse trabalho será a atuação da Promotoria de Justiça
de Castanhal, nas esferas judicias e extrajudiciais, para, através dos objetos das
ações ou pretensão do reclamante, se possa delinear a forma que esse direito é
prestado em Castanhal, além de usar como parâmetro a comparação da atuação da
promotoria nos dois contextos.
A escolha desse tema não se deu de forma aleatória. Ela se justifica pela
importância de ter o direito à saúde garantido e acessível, diante de uma ocorrência
como a pandemia do COVID. Dizer que sistema de saúde não suportou e entrou em
colapso em virtude do vírus, da falta de isolamento social ou devido a população não
ter usado máscara é uma avaliação bastante superficial. Uma cidade precisa ter leitos
suficientes para atender seus habitantes em uma situação normal, em um tempo
razoável. Agora como dizer que um sistema colapsou devido ao vírus, quando todos
os meses era necessário a intervenção judicial para garantir um leito, um
medicamento, um pacote de fraldas para a sua população.
Nesse sentido esse trabalho tem como principal objetivo avaliar a
efetividade do Direito a Saúde de Castanhal antes da pandemia, para esclarecer se o
colapso foi causado pelo vírus ou por falhas anteriores. Para atingir esse objetivo o
roteiro se dará através dos seguintes objetivos específicos: 1- Criar o arcabouço
teórico sobre o direito a saúde para identificar diferenças e semelhanças entre a lei e
o praticado pelos gestores; 2- Entender o contexto nacional e internacional da
Pandemia e impactos no modo de vida da nossa sociedade; 3 – Verificar, através de
dados obtidos das demandas judiciais e extrajudiciais, além de outras fontes oficias,
7
quais fatores relacionados a efetividade das políticas públicas, podem ter contribuído
para o colapso do sistema de saúde e alta mortalidade.
A metodologia utilizada consistiu na pesquisa bibliográfica realizada em
livros e artigos científicos, Além de pesquisa documental, quantitativa e qualitativa
utilizando como principais fontes o site da Prefeitura Municipal de Castanhal, portal do
Ministério Público do Estado do Pará, IBGE, e dados sobre a saúde pública de
Castanhal pesquisados no CNES- DATASUS. OS dados referentes à atuação da
Promotoria de Castanhal foram extraídos do Sistema de Informações de
Procedimentos, de acesso livre à população, como forma de possibilitar a repetição
da pesquisa.
Este trabalho de pesquisa está organizado em três sessões: Na primeira é construído
todo o arcabouço teórico utilizado neste artigo, apresentando o conceito de Saúde e
o Direito à Saúde no Brasil, o seu regime jurídico, aplicabilidade e execução, através
do SUS. No fim dessa sessão são discutidos os obstáculos encontrados para
concretizar o direito à saúde. Na segunda sessão é descrito, de forma breve, o
surgimento do Coronavírus, sua disseminação, impactos causados pelo mundo e as
políticas de enfrentamento adotadas para mitigar seus efeitos. A terceira sessão é
onde desenvolve-se a pesquisa propriamente dita, onde são apresentadas as fontes,
a forma como foi estruturada a pesquisa, e os resultados obtidos, sintetizados em
função do contexto para facilitar a compreensão das conclusões obtidas a partir da
análise do resultado. E finalizando com as considerações pessoais da pesquisadora
e aprendizado adquirido e resultados obtidos a partir da pesquisa, principalmente no
entendimento da integralidade da prestação do direito à saúde, não podendo ser
dissociado entre antes e durante a pandemia, e sim quais os fatores na sua prestação
contribuíram para o colapso.
década de 40, a OMS foi fundada com objetivo de promover discussões de aspecto
democrático, geopolítico e humanitário, além da partilha de descobertas na área
médica, de modo a alcançar a paz duradoura através de uma nova ordem
internacional, além da ousada pretensão de ser instrumento da promoção mundial da
saúde a todos os seres humanos. (VENTURA, PEREZ, 2014).
Em seu ato constitutivo, a OMS conceituou a saúde como “o estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença
ou enfermidade”. Essa interpretação foi um marco na delimitação do moderno
conceito de saúde, uma vez que conseguiu alinhar e relacionar as definições de
cidadania, dignidade da pessoa humana com a saúde. Desse modo usufruir de um
adequado estado de saúde significa, para o indivíduo, não apenas viver uma vida
longa e saudável, mas também deter os conhecimentos que tornem isso possível,
além de possuir a aptidão para o exercício das suas capacidades e a possibilidade de
se autodesenvolver (GLOBEKNER, 2011).
A amplitude de tal conceito, não tardou a receber críticas de diferentes
naturezas, segundo Scliar a abrangência do conceito adotado pela OMS, angariou
críticas motivadas pela natureza técnica, uma vez que a saúde seria algo ideal,
inatingível; não podendo a sua definição ser usada como finalidade para serviços de
saúde. Continua o autor informando que também surgiram posições contrarias em
virtude de natureza política e libertária, já que tal conceito seria passível de justificar
abusos por parte do Estado, em eventual intervenção na vida dos cidadãos com o
subterfúgio de promover a saúde. (SCILAR, 2007)
Diante de posições conflitantes, mostra-se a complexidade da
definição do que é a saúde. Porém ao localizar o direito à saúde juntamente com a
seguridade social, verifica-se no nosso texto constitutivo, a tendência a entender a
saúde além dos aspectos biológicos, os alargando para abarcar aspectos sociais e
ligados a qualidade de vida.
No ano de 1978, a OMS e UNICEF, realizaram a Conferência
Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, e ao final dessa conferência foi
elaborada a Declaração de Alma-Ata, no documento ocorre a reafirmação da saúde
como direito humano fundamental, e a promoção desse direito é uma das metas
12
mundiais essenciais para melhoria das condições de vida dos povos e diminuição das
igualdades sociais (SOUTO e OLIVEIRA, 2016)
O documento inaugurou uma nova dimensão do conceito de saúde,
pois afirmou que o indivíduo era titular não apenas do direito a saúde, como também
do acesso aos cuidados, fazendo que a ideia de saúde como direito, antes abstrata,
se tornasse um direito concreto à atenção sanitária. A essência da declaração
consiste no direito a ter acesso aos cuidados de saúde, bem como no dever do estado
em proporcionar esse direito, sendo tal percepção difundida posteriormente e servido
de inspiração para o movimento da Reforma Sanitária no Brasil. (GLOBEKNER,
2011).
ainda que esse sistema seria organizado de acordo com as seguintes diretrizes,
comentadas por Lima da seguinte maneira:
(i) descentralização, com direção única em cada esfera de governo – o que
impõe responsabilidade à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios; (ii) atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais – o que reforça a
necessidade de ações de caráter preventivo; (iii) participação da comunidade
– o que é essencial para que se entenda o direito à saúde como relação e
não como poder individual. Ainda no mesmo dispositivo são definidas as
regras de financiamento para o SUS e a responsabilidade a União, Estados
e Municípios (LIMA, 2006)
Um dos aspectos notáveis da abordagem dada ao direito à saúde pela
Constituição Federal diz respeito ao fato de que ela não apenas estabeleceu tal direito,
como trouxe no seu conteúdo normativo, em especial no artigo 198, a forma de
garanti-lo, e como se daria seu financiamento. Certamente tal medida tinha por
objetivo conferir maior dificuldade na alteração desses parâmetros, que de fato são
essenciais para a satisfação plena do direito à saúde. Porém ainda assim, no que se
refere ao financiamento, de acordo com (FUNCIA, 2019), houveram sucessivas
alterações, que em conjunto acabaram extirpando do Sistema Único de Saúde a
capacidade de efetivar em sua totalidade o direito à saúde em caráter universal e
igualitário, surgindo assim, o controverso fenômeno da judicialização da saúde.
Ingo Sarlet atribui ao Artigo 196 da Constituição feral, “onde o direito à
saúde encontrou sua maior concretização ao nível normativo-constitucional”
(SARLET,2011), porém a raiz da materialização desse direito está disciplinada no
Artigo nº. 198, que foi a previsão normativa que deu origem ao Sistema Único de
Saúde, que é por excelência, a maior política pública de promoção à saúde realizada
pelo Estado brasileiro (COSTA, 2010). Assim sendo, no artigo 198, caput, é definido
o SUS; nos incisos I a III são estabelecidas suas principais diretrizes. No Artigo 200,
atribuídas suas competências. Por fim retorna-se ao art. 198, §§ 1º a 3º onde são
fixados os parâmetros de financiamento que darão suporte às ações e serviços
públicos de saúde (AITH, 2019).
2.4 O SUS
O Sistema Único de Saúde, é um sistema repleto de particularidades,
constituindo-se a maior instituição em matéria de Direito Sanitário no país, uma vez
que integra, coordena e organiza diversas outras instituições jurídicas, cada uma
15
tendo uma atribuição bem específica, mas que somados, conferem grande amplidão
no leque ade atividades desenvolvidas pelo SUS. As principais atribuições em relação
a gestão dos serviços de saúde competem à União, Estados e Municípios, juntamente
com o total de instituições responsáveis por diversas áreas do serviço em saúde,
vigilância sanitária, vigilância em Saúde, controle de endemias. Tais órgãos recebem
o nome de agências reguladoras.
Conforme ensina Aith, a responsabilidade de organizar e promover a
saúde para todos, através dos serviços e ações é do Estado, sendo que o instrumento
para cumprir tal objetivo é o Sistema Único de Saúde. Pois, compreende-se que é
esta instituição, a qual possui os mecanismos necessários para garantir o
desenvolvimento das atividades prestacionais da saúde em todo o país. (AITH, 2007)
De acordo com Ocké-Reis, o SUS é um dos mais complexos sistemas
públicos de saúde no mundo todo, desempenhando atividades de assistência à saúde
para milhões de pessoas, nos diversos graus de complexidade, além dos serviços de
emergência. No âmbito da prevenção em saúde o sus possui um excelente programa
de vacinação, combate ao vírus causador da zyka, tendo o seu serviço de vigilância
epidemiológica realizado um trabalho mundialmente reconhecido. Realiza também
pesquisa para desenvolvimento de novas técnicas, inclusive células-tronco.
O Programa de Atenção Primária em Saúde, batizado como Programa
de Saúde da Família – PSF, oferece uma variedade de serviços curativos e
preventivos de assistência à saúde, prestados por equipe composta por um
enfermeiro, um auxiliar e um médico, juntamente com a equipe de Agentes
comunitários que atual às proximidades da Unidade Básica de Saúde.
O principal objetivo do programa é alcançar o acesso universal à assistência primária
para todos os cidadãos (OCKÉ-REIS, 2012).
O seu conjunto normativo é composto pela Constituição Federal, em
especial pelo artigo nº. 198, pela lei 8.080/90, também conhecida como a Lei Orgânica
da Saúde, onde são regulados e organizados os mais diversos serviços, programas e
ações de saúde em todo o Brasil; e pela lei 8.142/90, que dispõe sobre transferências
de recursos fundo a fundo e regulamenta a participação popular do SUS (SOUZA,
2002).
16
A ideia é que as ações voltadas para a promoção da saúde não sejam dissociadas
das ações de prevenção de agravos ou de doenças, permitindo assim a atenção
ambulatorial e hospitalar direcionadas para o diagnóstico, o tratamento e a
reabilitação. Por isso, os profissionais de saúde e os gestores do SUS devem
empenhar-se em organizar os processos e procedimentos de trabalho além das
práticas diárias e administrativas de modo a permitir que essa integração ocorra
(GIAVANELLI, 2012).
de mortes e diariamente eram noticiadas novas cidades nas quais o sistema de saúde
local havia colapsado.
Foi disponibilizado para União e estados créditos suplementares para
serem aplicados ao enfrentamento do COVID, construção de Hospitais de Campanha
e compra de matérias e respiradores, porém grande parte dessa verba, apesar de ter
sido empenhada, ficou parada meses e meses nos cofres do Ministério da Saúde,
aguardando que fosse realizada a execução orçamentaria e respectiva destinação da
verba. Concomitante a isso pessoas morriam, e alguns governadores, empregavam
com terrível erro de julgamento os recursos dos seus Estados, na compra de
equipamentos inadequados oriundos da china (FUNCIA, OCKÉ-REIS, 2020)
Isso, além de chamar atenção pública para o fato da possível
improbidade, levou a percepção quem o parque industrial brasileiro estava defasado
e sem capacidade atender a demanda nacional no que se refere a equipamentos de
proteção individual, respirados, álcool em gel e até mascaras. Esse Item, junto com o
álcool em gel foi um dos primeiros a sumido do mercado nacional, e pior, o Brasil não
possuía condições de fabricá-los rapidamente na escala necessária. No cenário
mundial, a china era a grande fornecedora de marcaras e de todos esses materiais
hospitalares. A Pandemia prejudicou o mercado internacional e passou a vigorar a lei
do mais forte. Como resultado o Brasil ficou desabastecido e para resolver lançou uma
campanha ensinando a fabricação das máscaras de tecido, que foi adotada pela
população e utilizada por grande parte dela até os dias de hoje, (BRAGA, 2020)
Além da questão do mercado nacional depender de importações de
insumos relativos à área da saúde, houveram outros fatos que dificultaram o controle
da pandemia no Brasil, com por exemplo a ausência da coordenação nacional efetiva,
devido a trocas na cadeia de comando no ministério, não havendo consenso a nível
federal e estadual na uniformização das medidas (VARGAS, 2020)
Apesar dos dados referentes a quantidade de contágios e mortes
provocados pela Covid ter divulgação diária, a confiabilidade de tais números era
baixa devido a pouco quantidade de testes e consequente subnotificação da doença.
Outro fator de extrema importância foi o fato do programa de agentes comunitários de
saúde, que teriam sido essenciais para realizar o rastreamento de casos e com isso
minimizar a disseminação da doença, em grande parte do país de viu impedida de
24
juntamente com outros 43 municípios, dentre todo o território nacional, para integrar o
projeto piloto de implantação do Cartão SUS, Conforme descrito no Relatório de
Levantamento realizado pelo Tribunal de Contas da União, nº. TC 032.238/2011:
“O projeto piloto foi então iniciado, selecionando-se 44 municípios,
abrangendo aproximadamente 13 milhões de habitantes. O Relatório de
Auditoria Especial da Controladoria-Geral da União – RA 254948 informa que
a seleção dos municípios participantes do piloto considerou os seguintes
critérios: “estar habilitado em alguma forma de gestão da NOB SUS 01/96;
possuir projeto ou experiência em andamento para implantação do Cartão
Municipal; ter implantado ou estar em processo avançado de implantação de
um documento único de saúde municipal; ser a capital do estado; ou estar
em estágio avançado de implantação dos Programas de Saúde da Família e
de Agentes Comunitários de Saúde”. (TCU, 2011).
Através da busca em sites oficiais, verificou-se que no ano de 2012 a
Controladoria Geral da União realizou fiscalização no município em razão da 37ª
Etapa do Programa de Fiscalização a partir de Sorteios. Foram auditadas ações e
programas relativos a aplicação de recursos federais nas áreas de aperfeiçoamento
do SUS e recursos destinados à atenção básica. No relatório expedido após a
fiscalização, constam diversos problemas como fraudes nas licitações de compra de
materiais e insumos referentes ao exercício de 2011 e 2012; jornada de trabalho
inferior à prevista na legislação do Programa de Saúde da Família; Deficiências no
atendimento realizado nas Unidades de Saúde; Unidades de Saúde sem condições
mínimas de infraestrutura; Aquisição de medicamentos com valor superior ao do
Banco de Preços do MS; Controle de estoque de medicamentos ineficiente; Descarte
de medicamentos por expiração do prazo de validade; Obras paralisadas, dentre
outros (CGU, 2012).
Também foram coletados dados, referentes à estrutura da rede de Saúde, no
site CNES-DATASUS, sendo verificado que Castanhal possui 38 unidades básicas,
14 postos de Saúde, 2 Unidades de Pronto Atendimento, e 4 Hospitais vinculados ao
Sistema Único de Saúde, dois deles particulares, um pertencente ao Município e o
outro ao Estado do Pará. O quantitativo de leitos referentes ao mês de fevereiro de
2020 era de 35 leitos complementares e 25 habilitados, desses leitos 20 eram de UTI
tipo II, com 13 habilitados. O total de leitos clínicos e cirúrgicos no município somavam
256, sendo 180 pertencentes ao SUS (DATASUS, 2020).
O Índice de leitos verificado em outubro de 2019 indicava que existiam
39 leitos complementares, sendo 29 habilitados. Esse índice foi mantidos nos meses
26
15
10
5
0
2016 2017 2018 2019 2020
Título do Eixo
Atuação Extrajudicial
Total Geral 166 Proceimentos
PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS
NOTÍCIAS DE FATO
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Portarias nº 31/2020
Assunto: Conselho Municipal de saúde informando que Obras no Bloco
Cirúrgico do Hospital Municipal de Castanhal encontram-se paralisadas
(4ªPJC, 2020);
Portarias nº 31/2020
Assunto: Conselho Municipal de saúde informando que as obras no Centro
de Saúde da Mulher estão Paralisadas (4ªPJC, 2020);
5 ANÁLISE DE RESULTADOS
De acordo com os dados pesquisados o que se notou foi que Castanhal
vinha sofrendo em relação a prestação dos serviços de saúde, de maneira identificável
desde o ano de 2012. Quando foi apurado pela Controladoria Geral da União que
existiam fraudes em licitações para compras de insumos e medicamentos,
medicamentos sem controle de estoque e sendo descartados devido estarem
vencidos, Unidades de saúde sem infraestrutura básica e problemas na prestação dos
serviços de saúde referentes ao Programa de Saúde da Família.
Essas verificações se mostram compatíveis com os motivos das Ações
Civis Públicas ingressadas em face do Município, que em sua maioria dizia respeito
aos serviços básicos e previstos na regulamentação do SUS, como fornecimento de
fraldas, medicamentos previstos no RENAME, insulinas, alimentação especial para
crianças, exames e cirurgias, sendo que a maioria dos procedimentos requeridos
poderiam ser realizados no próprio município.
Castanhal tem elevado número de ações judiciais relativas à matéria da
saúde. Nesse trabalho só foram contabilizadas as ajuizadas pela 4ª Promotoria, e
ainda assim resultou em um número bem elevado. Conclui-se a respeito disso que
ainda que sejam demandas individuais, as ações foram a última tentativa de prover o
direito à saúde previsto na Constituição, uma vez que estavam havendo falhas na
execução de políticas públicas que deveriam garantir esse direito sem necessitar a
intervenção judicial.
Observou-se também, que durante o auge da pandemia, houve apenas
uma ação judicial versando sobre a saúde e tinha como objetivo proteger o direito
coletivo, pleiteando a habilitação de novos leitos, medicamentos, e conclusão do
32
Hospital Regional para dar suporte à população da cidade, que sofreu bastante com
a pandemia, tendo uma taxa de mortalidade duas vezes maior que a média de todo o
estado do Pará.
Os fatores que provocaram a deficiência na prestação desse serviço
podem ser os mais diversos, desde subfinanciamento o subfinanciamento, problemas
institucionais, falta de fiscalização e programação eficiente nos procedimentos
licitatórios para aquisição de medicamentos, insumos, alimentação especial, falta de
organização e controle de estoque de medicamentos. Falta de gerência e fiscalização
nos postos de saúde e nos serviços prestados pelos profissionais de saúde nas
unidades.
Também observa-se que o Município de Castanhal possui várias obras
inacabadas e/ou incompletas de unidades de saúde e essa questão prejudica
bastante o atendimento da população. O Conselho Municipal de Saúde mostra-se
bastante presente, como órgão de controle externo, realizando fiscalizações e
identificando diversas situações irregulares. Os relatórios do conselho são
encaminhados para a Secretaria de Saúde, porém tais demandas não são
solucionadas e o Conselho encaminha para a Promotoria de Justiça. Os
procedimentos são instaurados, porem o principal, que é a correção dos problemas
apontados acaba não ocorrendo. Novos problemas vão surgindo e se avolumando e
a situação fica insustentável diante de um evento como a Pandemia.
De acordo com a Portaria nº. 025/2019, O conselho municipal apontou
irregularidades no quantitativo de leitos reais e o informado no Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde. Já era um indicativo que Castanhal não tinha leitos
suficientes nem para épocas normais. Um indicio disso é o elevado número de ações
pleiteando internação.
Outra questão que permanece em aberto é: Foi noticiado que o sistema
de saúde havia entrado em colapso devido a superlotação dos hospitais. Informando
ainda que existiam 55 leitos na cidade, sendo 43 em Hospitais Privados e 12 nos
Hospitais Públicos. Nessa data de acordo com o Boletim divulgado pela prefeitura,
Castanhal contava apenas com 35 pacientes hospitalizados. Porém dentre os 43 leitos
nos hospitais particulares, se for seguida a proporção verificada no CNES, pelo menos
30 desses leitos seriam conveniados com o SUS. Ou seja matematicamente não é
33
possível justificar esse colapso. A menos que a real situação seja bem pior que o
divulgado.
Consta nos autos de Ação Civil Pública nº 0801461-64.2020.8.14.0015
que tem por objeto o imediato funcionamento do Hospital Regional para suprir a falta
de leitos no município, que no dia 04/05/2020 haviam 4 (quatro) leitos de UTI tipo II
recebendo pacientes, e 16 (dezesseis) esperando implementação, e há 6 (seis) leitos
clínicos regulados pelo Estado, no Hospital São José-HBSJ (CNES 0007641). A ação
também informou que Castanhal contava apenas com 8 respiradores, total insuficiente
para atender a demanda, ainda mais devido castanhal funcionar como um polo para
os municípios vizinhos (MPPA, 2020).
Mais uma evidência que Castanhal realmente estava com uma estrutura
de saúde muito aquém do necessário para atender a população. No decorrer dessa
pesquisa ficou evidente a histórica relação entre os hospitais particulares conveniados
ao SUS e o município. O Hospital Municipal de Castanhal, construído em 2000, pouco
ampliou a sua capacidade de leitos no decorrer de todos esses anos, a despeito do
projeto original até a presente data não foi inaugurado o bloco cirúrgico do Hospital,
revelando uma falta de investimentos e cuidado em unidades de saúde que são
integralmente do SUS. Em castanhal todas as cirurgias são realizadas nos leitos de
Hospitais Conveniados, que perderiam bastante com a inauguração no novo bloco
cirúrgico.
Todos esses fatores, em conjunção com a Pandemia do COVID 19, provocaram, de
maneira precoce, o colapso do sistema de saúde de Castanhal. Como foi explicitado
o município foi munido de recursos para enfrentamento da pandemia, porém é como
querer tratar um paciente que já não respira. Nem todos os recursos do mundo seriam
suficientes para remediar uma situação que vinha se instalando por anos a fio, e
resultou portanto na falta de efetividade do direito a saúde durante a pandemia em
Castanhal.
34
6 CONCLUSÃO
Após todas as considerações acima, verificou-se que a previsão
constitucional do Direito a saúde lhe dotou de várias peculiaridades, para protege-lo.
E que a criação do Sistema Único de Saúde, foi algo que exigiu esforço e coragem
dos legisladores, que ao concebê-lo estavam rompendo com toda a ordem e sistema
de saúde existente, para proporcionar aos Brasileiros, o direito universal e integral à
saúde.
Porém, apesar de toda a beleza da sua garantia constitucional, o Direito
a Saúde sempre encontrou dificuldades quanto a sua efetivação. Os problemas vão
desde o subfinanciamento, até o chamado desfinanciamento da saúde, em virtude da
PEC nº. 95/2016. O Sistema de Saúde suplementar funcionando como um sistema
paralelo, financiado de forma indireta, pelo Estado por meio das isenções fiscais. A
valorização de Unidades de Saúde privadas que possuem leitos credenciados ao
SUS, em vez de priorizar os Hospitais Públicos, e estes funcionando a maior pare das
vezes apenas para atendimentos de Urgência. Existem problemas institucionais de
gestão e falta de organização, exemplificado pelo descarte de medicamento devido o
prazo da validade e a falta do fornecimento para a população de outros medicamentos
básicos, previstos no RENAME.
Nesse contexto a população acabou descobrindo que tem direitos
através da judicialização. Por mais que esse não seja a melhor maneira de garantir a
efetividade, é a única e última oportunidade para algumas pessoas. E ainda é preciso
evidenciar que as ações de saúde servem como indicativo sobre quais os pontos
deficientes no serviço de saúde, podendo-se procurar soluções para melhorar.
Verificou-se, também que todas essas questões foram reprimidas em
virtude do surgimento do Covid. E reconhece-se que nenhum país, estado ou
município estava pronto para uma crise sanitária dessa grandeza. O ser Humano já
passou por outras crises, porém a nossa geração não tem o registro disso na memória,
assim tudo reveste-se de novidade.
Por fim, após a pesquisa e comparação dos dados obtidos, o que
verificou-se é que o Sistema de Saúde de Castanhal já estava bem debilitado. O
surgimento da pandemia só acelerou um processo lento, tornando evidentes todas as
35
REFERÊNCIAS
AITH, Fernando. "A saúde como direito de todos e dever do estado: o papel dos
poderes executivo, legislativo e judiciário na efetivação do direito à saúde no
Brasil." AITH, Fernando et al (2010): 73-105.
BOBBIO, N. A Era dos Direitos. 13ª tiragem. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 217p.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros,
2007.
OCKÉ-REIS, Carlos Octávio SUS [livro eletrônico]: o desafio de ser único. / Carlos
Octávio Ocké-Reis. – Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ, 2012. tab. 1.934 Kb; ePUB.
40
SARLET, W. Ingo A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 9ª ed., rev., atual. e ampl.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 240 e ss; e NABAIS, J. C. “A face oculta dos
direitos fundamentais: os deveres e os custos dos direitos”. Disponível
em:<https://www.agu.gov.br/Publicacoes/Artigos/05042002JoseCasaltaAfaceocultadi
reitos_01.pdf>. Acesso em 05 set 2020.