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Universidade Estácio De Sá

Bacharelado Em Direito

O Direito a Saúde em tempos de Pandemia em Castanhal


Fabíola Ferreira Figueira

Castanhal-PA
10º Semestre
O Direito a Saúde em tempos de Pandemia em Castanhal1
Autor(a): Fabíola Ferreira Figueira2
Orientador(a): Isabela Pinto Figueiredo3

1 Artigo apresentado como exigência parcial para a conclusão do curso de Bacharelado em Direito pela
Faculdade Estácio de Sá – Castanhal.
2 Autor(a): Fabiola Ferreira Figueira
3 Orientador(a): Isabela Pinto Figueiredo
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a efetividade do Direito
à Saúde em Castanhal em uma situação de crise como a Pandemia de Covid-19. Para
isso foi realizada a revisão da literatura para definir o regime jurídico conferido a esse
direito pela sua inclusão na CF/88. Então foi realizada a contextualização do impacto
da pandemia no mundo. Em seguida foi verificado através da atuação da Promotoria
de Justiça, se o direito a saúde em Castanhal tinha efetividade antes da pandemia ou
se a sua a sua falta de efetividade foi determinante para o colapso do sistema de
saúde da cidade e alto grau de letalidade em virtude da COVID-19.

Palavra-chave: Direito à Saúde; Covid-19; Judicialização; Efetividade.


SUMARIO
1 INTRODUÇÃO 6

2 O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE 7

3 O INUSITADO CENÁRIO DA COVID-19 19

4 DADOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE CASTANHAL 24

5 ANÁLISE DE RESULTADOS 31

6 CONCLUSÃO 34

REFERÊNCIAS 36
6

1 INTRODUÇÃO
Como se mede a efetividade de um direito? Como medir a
efetividade do Direito à Saúde de determinado local durante uma pandemia? Essas
perguntas podem ter infinitas respostas, por exemplo: pela expectativa de vida da
população; pela avaliação do perfil epidemiológico; simplesmente parando na rua e
perguntando, ou através de um método mais sofisticado como a matriz de indicadores
criada pela OMS. A proposta desse trabalho é avaliar a efetividade do direito à saúde
no município de Castanhal durante a Pandemia de COVID-19.
Considerando que, para qualquer avaliação são necessários dois
elementos: 1) Uma unidade de medida; 2) Um parâmetro para comparação. A
unidade de medida utilizada nesse trabalho será a atuação da Promotoria de Justiça
de Castanhal, nas esferas judicias e extrajudiciais, para, através dos objetos das
ações ou pretensão do reclamante, se possa delinear a forma que esse direito é
prestado em Castanhal, além de usar como parâmetro a comparação da atuação da
promotoria nos dois contextos.
A escolha desse tema não se deu de forma aleatória. Ela se justifica pela
importância de ter o direito à saúde garantido e acessível, diante de uma ocorrência
como a pandemia do COVID. Dizer que sistema de saúde não suportou e entrou em
colapso em virtude do vírus, da falta de isolamento social ou devido a população não
ter usado máscara é uma avaliação bastante superficial. Uma cidade precisa ter leitos
suficientes para atender seus habitantes em uma situação normal, em um tempo
razoável. Agora como dizer que um sistema colapsou devido ao vírus, quando todos
os meses era necessário a intervenção judicial para garantir um leito, um
medicamento, um pacote de fraldas para a sua população.
Nesse sentido esse trabalho tem como principal objetivo avaliar a
efetividade do Direito a Saúde de Castanhal antes da pandemia, para esclarecer se o
colapso foi causado pelo vírus ou por falhas anteriores. Para atingir esse objetivo o
roteiro se dará através dos seguintes objetivos específicos: 1- Criar o arcabouço
teórico sobre o direito a saúde para identificar diferenças e semelhanças entre a lei e
o praticado pelos gestores; 2- Entender o contexto nacional e internacional da
Pandemia e impactos no modo de vida da nossa sociedade; 3 – Verificar, através de
dados obtidos das demandas judiciais e extrajudiciais, além de outras fontes oficias,
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quais fatores relacionados a efetividade das políticas públicas, podem ter contribuído
para o colapso do sistema de saúde e alta mortalidade.
A metodologia utilizada consistiu na pesquisa bibliográfica realizada em
livros e artigos científicos, Além de pesquisa documental, quantitativa e qualitativa
utilizando como principais fontes o site da Prefeitura Municipal de Castanhal, portal do
Ministério Público do Estado do Pará, IBGE, e dados sobre a saúde pública de
Castanhal pesquisados no CNES- DATASUS. OS dados referentes à atuação da
Promotoria de Castanhal foram extraídos do Sistema de Informações de
Procedimentos, de acesso livre à população, como forma de possibilitar a repetição
da pesquisa.
Este trabalho de pesquisa está organizado em três sessões: Na primeira é construído
todo o arcabouço teórico utilizado neste artigo, apresentando o conceito de Saúde e
o Direito à Saúde no Brasil, o seu regime jurídico, aplicabilidade e execução, através
do SUS. No fim dessa sessão são discutidos os obstáculos encontrados para
concretizar o direito à saúde. Na segunda sessão é descrito, de forma breve, o
surgimento do Coronavírus, sua disseminação, impactos causados pelo mundo e as
políticas de enfrentamento adotadas para mitigar seus efeitos. A terceira sessão é
onde desenvolve-se a pesquisa propriamente dita, onde são apresentadas as fontes,
a forma como foi estruturada a pesquisa, e os resultados obtidos, sintetizados em
função do contexto para facilitar a compreensão das conclusões obtidas a partir da
análise do resultado. E finalizando com as considerações pessoais da pesquisadora
e aprendizado adquirido e resultados obtidos a partir da pesquisa, principalmente no
entendimento da integralidade da prestação do direito à saúde, não podendo ser
dissociado entre antes e durante a pandemia, e sim quais os fatores na sua prestação
contribuíram para o colapso.

2 O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE


O Direito à Saúde, mencionado 66 vezes na Constituição Federal, de
forma proposital foi alocado no rol dos Direitos Sociais, elevados ao status de Direitos
fundamentais pelo texto constitucional, e recebendo a mesma ampla proteção
conferida aos direitos elencados no artigo 5º da CF/88, devendo ser entendidos como
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as liberdades normatizadas na forma de garantias para assegurar uma vida livre,


convivência digna e igualitária (SILVA, 2009)
O Direito a Saúde portanto, tem como atributo uma característica
inerente aos direitos fundamentais que é a dupla fundamentalidade, ou seja sua
proteção é oriunda tanto do aspecto material do direito quanto do formal. Conforme
explica Sarlet, a relevância do bem protegido pela constituição traduz-se na
fundamentalidade material, em se tratando do direito a saúde é derivada a inafastável
ligação com o direito à vida e dignidade (SARLET, 2002)
Além do aspecto material o direito à saúde também possui os contornos
de fundamentalidade formal, que segundo o autor é relativa ao direito constitucional
positivo, uma vez que ao ser incluído no texto constitucional, a saúde passa a
perceber alguns atributos como o status de norma constitucional, ou seja encontra-se
hierarquicamente superior em relação demais regras do ordenamento jurídico, é
considerado cláusula pétrea e está protegido contra o legislador ordinário e contra o
poder de reforma, e por último, goza de aplicabilidade imediata em virtude do disposto
no art. 5º, § 1º, da CF/88.(SARLET,2002)
2.1 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO À SAÚDE
O Direito à Saúde, nos contornos que conhecemos hoje, como um direito
fundamental, protegido pela constituição federal, trata-se de um arranjo relativamente
novo no Direito Brasileiro e representa uma enorme conquista obtida através dos
movimentos pela democracia que antecederam a Assembleia Constituinte,
especialmente à grande mobilização social ocorrida em favor da reforma sanitária.
Nas Constituições anteriores à de 1989, ou este Direito se encontrava ausente ou era
mencionado apenas de maneira incidental, como benefício previdenciário, conferido
apenas aos trabalhadores formais.
Sobre o desenvolvimento histórico do Direito a Saúde, Asensi explica
que esse termo já apresentou diversas interpretações no decorrer do tempo.
Inicialmente o acesso a saúde era restrito a quem tinha condições de arcar com os
custos, na esfera particular. Nesse período não existia nenhum mecanismo jurídico
que garantisse o direito a saúde, quaisquer ações adotadas pelo estado eram de
caráter meramente discricionário ou com viés autoritário, a exemplo do que ocorreu
na Revolta da Vacina em 1904. (ASENSI, 2010)
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No período compreendido entre a era Vargas até a redemocratização,


iniciou-se, com a Lei Eloy Chaves, uma certa atuação estatal na esfera da saúde,
porém não se reconhecia o direito à saúde, este era tratado com um benefício
vinculado ao direito previdenciário, desse modo quem possuísse carteira de trabalho
e contribuísse para o sistema de previdência, teria direito à assistência médica para
fins curativos. Para aqueles que não estavam inseridos formalmente no mercado de
trabalho, a alternativa era recorrer as Santas Casas de Misericórdia, que ofereciam
serviços filantrópicos. Outra alternativa começou a surgir junto ás caixas de
assistência e com o aparecimento dos primeiros planos privados. Nesse período
começou uma intensa mercantilização dos serviços de saúde, os quais passaram a
ser admitidos como um bem de consumo, e preferíveis aos serviços de
caridade, (ASENSI, 2010).
No final dos anos 70 e início da década de 80, durante o período que
ficou marcado pela redemocratização do Brasil, iniciou-se um movimento que ficou
conhecido posteriormente como Reforma Sanitária. Esse termo tratava das diversas
manifestações no sentido de provocar mudanças na forma como era encarado o
serviço de saúde e o seu acesso no Brasil. Para os sanitaristas, como ficaram
conhecidos posteriormente, a saúde era um direito de cidadania, e por isso deveria
ser universalmente acessível, (FINKELMAN, 2002).
Em seu livro, “Os caminhos da Saúde Pública no Brasil”, Jacobo
Finkelman relata que os princípios defendidos pelos sanitaristas eram:
1) A melhoria das condições de saúde da população; 2) o reconhecimento
da saúde como direito social universal; 3) a responsabilidade estatal na
provisão das condições de acesso a esse direito; 4) a reorientação do modelo
de atenção, sob a égide dos princípios da integralidade da atenção e da
equidade; 5) a reorganização do sistema com a descentralização da
responsabilidade pela provisão de ações e serviços (FINKELMAN, 2002).
Um grande marco do movimento pela Reforma Sanitária, foi a 8ª
Conferência Nacional de Saúde, onde houve a grande disseminação dos ideais de
saúde como direito fundamental, universal, integral e igualitário, e ainda que deveria
ser efetivado pelo estado através das políticas públicas, estabelecidas e
implementadas em conjunto com a sociedade através da direta participação popular,
ou seja, na conferência começou-se a delimitar o que viriam a ser o Direito
Fundamental Social a Saúde e os seus princípios que posteriormente foram
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estabelecidos como elementos norteadores do Sistema Único de Saúde, criado em


1990.
No mês de março de 1986, realizou-se a 8ª Conferência Nacional de
Saúde, contando com a participação de vários segmentos da sociedade, vinculados e
alheios à área da saúde. A acentuada influência da Conferência na abordagem dada
pela Assembleia Nacional Constituinte à matéria na Saúde no texto constitucional, fez
com que se referissem à conferencia como sendo a “pré-constituinte”. O relatório final
apresentado na conferência consistia na proposta de efetivação do Sistema único de
Saúde – SUS, e o seu texto foi o principal subsídio utilizado na elaboração do capítulo
destinado a saúde na referida Assembleia (BALSEMÃO, 2002, p. 532).
Outro exemplo do protagonismo representado pela Conferência no
desenvolvimento dos contornos do Direito a Saúde na Constituição de 1988, é o
relatório apresentado no evento, pelo então deputado Carlos Santana, cujo texto já
apresentava em seu teor previsão da saúde como direito fundamental e dever do
estado, bem como a participação da sociedade na formulação, fiscalização e
avaliação das políticas sanitárias (OLIVEIRA, 2005)
De acordo com Dallari, tal envolvimento popular poderia explicar o
motivo pelo qual, de modo contrário a tradição, desde a promulgação da Constituição
o direito a saúde vem sendo eficaz. Segundo a autora, diferentemente dos demais
direitos afirmados na Carta Magna, o direito a saúde é intimamente relacionado as
políticas econômicas e sociais, suas diretrizes são expressamente formuladas, e tem
o apoio de diversos setores da sociedade que fazem parte do sistema e nele tem as
suas atribuições expressamente enumeradas no próprio texto constitucional, nos
artigos 196, 198 e 200. (DALLARI, 2008).
2.2 O QUE É SAÚDE?
No âmbito internacional, no período pós-guerra, em 07 de abril de 1948,
foi fundada a Organização Mundial de Saúde. A OMS é uma agência vinculada à
Organização das Nações Unidas, e teve sua origem nas atividades de socorro
prestado às populações civis encontradas na Europa, nos locais ocupados pela
Alemanha, Japão e Itália (MORALES, 2020).
Diante de toda a tragédia resultante das guerras, além da forte influência
de um movimento conhecido como medicina social, despontado na Europa no fim da
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década de 40, a OMS foi fundada com objetivo de promover discussões de aspecto
democrático, geopolítico e humanitário, além da partilha de descobertas na área
médica, de modo a alcançar a paz duradoura através de uma nova ordem
internacional, além da ousada pretensão de ser instrumento da promoção mundial da
saúde a todos os seres humanos. (VENTURA, PEREZ, 2014).
Em seu ato constitutivo, a OMS conceituou a saúde como “o estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença
ou enfermidade”. Essa interpretação foi um marco na delimitação do moderno
conceito de saúde, uma vez que conseguiu alinhar e relacionar as definições de
cidadania, dignidade da pessoa humana com a saúde. Desse modo usufruir de um
adequado estado de saúde significa, para o indivíduo, não apenas viver uma vida
longa e saudável, mas também deter os conhecimentos que tornem isso possível,
além de possuir a aptidão para o exercício das suas capacidades e a possibilidade de
se autodesenvolver (GLOBEKNER, 2011).
A amplitude de tal conceito, não tardou a receber críticas de diferentes
naturezas, segundo Scliar a abrangência do conceito adotado pela OMS, angariou
críticas motivadas pela natureza técnica, uma vez que a saúde seria algo ideal,
inatingível; não podendo a sua definição ser usada como finalidade para serviços de
saúde. Continua o autor informando que também surgiram posições contrarias em
virtude de natureza política e libertária, já que tal conceito seria passível de justificar
abusos por parte do Estado, em eventual intervenção na vida dos cidadãos com o
subterfúgio de promover a saúde. (SCILAR, 2007)
Diante de posições conflitantes, mostra-se a complexidade da
definição do que é a saúde. Porém ao localizar o direito à saúde juntamente com a
seguridade social, verifica-se no nosso texto constitutivo, a tendência a entender a
saúde além dos aspectos biológicos, os alargando para abarcar aspectos sociais e
ligados a qualidade de vida.
No ano de 1978, a OMS e UNICEF, realizaram a Conferência
Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, e ao final dessa conferência foi
elaborada a Declaração de Alma-Ata, no documento ocorre a reafirmação da saúde
como direito humano fundamental, e a promoção desse direito é uma das metas
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mundiais essenciais para melhoria das condições de vida dos povos e diminuição das
igualdades sociais (SOUTO e OLIVEIRA, 2016)
O documento inaugurou uma nova dimensão do conceito de saúde,
pois afirmou que o indivíduo era titular não apenas do direito a saúde, como também
do acesso aos cuidados, fazendo que a ideia de saúde como direito, antes abstrata,
se tornasse um direito concreto à atenção sanitária. A essência da declaração
consiste no direito a ter acesso aos cuidados de saúde, bem como no dever do estado
em proporcionar esse direito, sendo tal percepção difundida posteriormente e servido
de inspiração para o movimento da Reforma Sanitária no Brasil. (GLOBEKNER,
2011).

2.3 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO À SAÚDE


O Direito à Saúde é considerado pela Constituição um Direito
Fundamental Social, integrando assim, o Título III - Da Ordem Social, Capítulo II, onde
consta no Artigo 194, que a saúde, juntamente com a assistência social e previdência,
fazem parte de um conjunto integrado de ações e inciativas dos Poderes Públicos,
denominado “A Seguridade Social”. Conforme conceitua Torres, o termo seguridade
social encontra-se definido na própria constituição, compreendendo o conjunto de
inciativas e instrumentos, através dos quais se busca alcançar a erradicação da
pobreza, redução de desigualdades e marginalização em uma sociedade livre e justa.
A Constituição Federal dedicou uma Seção inteira apenas para tratar o direito à saúde,
correspondendo aos artigos 196 até 200, da Seção III da CF/88. Sendo o artigo 196 o
mais emblemático.
Art. 196. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediantes
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
A importância contida em tal artigo reside no fato dele não apenas definir
que a saúde é direito de todos, como também, de maneira imediata, atribui um dever
para o Estado. De acordo com Sarlet tal situação configura a hipótese conhecida como
direito-dever, quando deveres conexos ou correlatos, nascem junto a previsão
constitucional do respectivo direito fundamental, ou seja o direito fundamental
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contraposto com o dever prestacional nascidos do mesmo ato do legislador (SARLET,


2007).
Sobre o regime jurídico previsto no Artigo 196, Silva explica que apesar
de possui caráter notadamente programático, ainda assim, o direito à saúde apresenta
os requisitos para a aplicabilidade imediata, uma vez que a Constituição Federal lhe
atribuiu o status de direito fundamental (SILVA, 2014). Ou seja, para ser eficaz não
depende de regulamentação por lei, de modo que produz efeitos práticos e cria a
obrigação do Estado em garantir a saúde do destinatário da norma desde sua entrada
em vigor.
Uma vez que foi estabeleceu-se que a Saúde é direito de todos e dever
do estado, a Constituição passa a dispor a respeito da forma que esse direito será
prestado. No Artigo 197, disciplina que esse direito poderá ser executado de maneira
direta ou indireta através de terceiros, cabendo também sua prestação por pessoa
física ou jurídica de direito privado. Ainda no mesmo Artigo o legislador determina que
a saúde é tema de relevância pública, devendo ser regulamentado, fiscalizado e
controlado.
Sobre o teor do Artigo 197, Lenir Santos observa que o Direito à saúde
foi o único ao qual foi atribuída de maneira explicita, a relevância pública, e ainda, que
o legislador ao atribuí-la vinculou o Poder Público à sua prestação, regulamentação e
fiscalização de maneira inafastável (SANTOS, 2010)
O dever de regulamentação obriga o Estado e normatizar e regulamentar
sobre o direito sanitário, através da expedição de leis complementares, ordinárias,
decretos, portarias e etc. Em relação à fiscalização e controle devem ser exercidos na
forma preconizada pela Constituição Federal, ou seja, conferindo legitimidade ao
controle de órgãos internos, nos sistemas de controle interno e auditoria e externos,
sendo representados pelos conselhos de saúde e também o controle judicial e de
contas.
O Artigo 198, por sua vez, estabelece de que foram o direito à saúde
previsto no Artigo 196, será efetivamente prestado. Ou seja, determina que: “as ações
e os serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem
um sistema único”. Nessas poucas linhas o legislador delimitou as principais
características do SUS, que representaram grande inovação à época, estabelecendo
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ainda que esse sistema seria organizado de acordo com as seguintes diretrizes,
comentadas por Lima da seguinte maneira:
(i) descentralização, com direção única em cada esfera de governo – o que
impõe responsabilidade à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios; (ii) atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais – o que reforça a
necessidade de ações de caráter preventivo; (iii) participação da comunidade
– o que é essencial para que se entenda o direito à saúde como relação e
não como poder individual. Ainda no mesmo dispositivo são definidas as
regras de financiamento para o SUS e a responsabilidade a União, Estados
e Municípios (LIMA, 2006)
Um dos aspectos notáveis da abordagem dada ao direito à saúde pela
Constituição Federal diz respeito ao fato de que ela não apenas estabeleceu tal direito,
como trouxe no seu conteúdo normativo, em especial no artigo 198, a forma de
garanti-lo, e como se daria seu financiamento. Certamente tal medida tinha por
objetivo conferir maior dificuldade na alteração desses parâmetros, que de fato são
essenciais para a satisfação plena do direito à saúde. Porém ainda assim, no que se
refere ao financiamento, de acordo com (FUNCIA, 2019), houveram sucessivas
alterações, que em conjunto acabaram extirpando do Sistema Único de Saúde a
capacidade de efetivar em sua totalidade o direito à saúde em caráter universal e
igualitário, surgindo assim, o controverso fenômeno da judicialização da saúde.
Ingo Sarlet atribui ao Artigo 196 da Constituição feral, “onde o direito à
saúde encontrou sua maior concretização ao nível normativo-constitucional”
(SARLET,2011), porém a raiz da materialização desse direito está disciplinada no
Artigo nº. 198, que foi a previsão normativa que deu origem ao Sistema Único de
Saúde, que é por excelência, a maior política pública de promoção à saúde realizada
pelo Estado brasileiro (COSTA, 2010). Assim sendo, no artigo 198, caput, é definido
o SUS; nos incisos I a III são estabelecidas suas principais diretrizes. No Artigo 200,
atribuídas suas competências. Por fim retorna-se ao art. 198, §§ 1º a 3º onde são
fixados os parâmetros de financiamento que darão suporte às ações e serviços
públicos de saúde (AITH, 2019).
2.4 O SUS
O Sistema Único de Saúde, é um sistema repleto de particularidades,
constituindo-se a maior instituição em matéria de Direito Sanitário no país, uma vez
que integra, coordena e organiza diversas outras instituições jurídicas, cada uma
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tendo uma atribuição bem específica, mas que somados, conferem grande amplidão
no leque ade atividades desenvolvidas pelo SUS. As principais atribuições em relação
a gestão dos serviços de saúde competem à União, Estados e Municípios, juntamente
com o total de instituições responsáveis por diversas áreas do serviço em saúde,
vigilância sanitária, vigilância em Saúde, controle de endemias. Tais órgãos recebem
o nome de agências reguladoras.
Conforme ensina Aith, a responsabilidade de organizar e promover a
saúde para todos, através dos serviços e ações é do Estado, sendo que o instrumento
para cumprir tal objetivo é o Sistema Único de Saúde. Pois, compreende-se que é
esta instituição, a qual possui os mecanismos necessários para garantir o
desenvolvimento das atividades prestacionais da saúde em todo o país. (AITH, 2007)
De acordo com Ocké-Reis, o SUS é um dos mais complexos sistemas
públicos de saúde no mundo todo, desempenhando atividades de assistência à saúde
para milhões de pessoas, nos diversos graus de complexidade, além dos serviços de
emergência. No âmbito da prevenção em saúde o sus possui um excelente programa
de vacinação, combate ao vírus causador da zyka, tendo o seu serviço de vigilância
epidemiológica realizado um trabalho mundialmente reconhecido. Realiza também
pesquisa para desenvolvimento de novas técnicas, inclusive células-tronco.
O Programa de Atenção Primária em Saúde, batizado como Programa
de Saúde da Família – PSF, oferece uma variedade de serviços curativos e
preventivos de assistência à saúde, prestados por equipe composta por um
enfermeiro, um auxiliar e um médico, juntamente com a equipe de Agentes
comunitários que atual às proximidades da Unidade Básica de Saúde.
O principal objetivo do programa é alcançar o acesso universal à assistência primária
para todos os cidadãos (OCKÉ-REIS, 2012).
O seu conjunto normativo é composto pela Constituição Federal, em
especial pelo artigo nº. 198, pela lei 8.080/90, também conhecida como a Lei Orgânica
da Saúde, onde são regulados e organizados os mais diversos serviços, programas e
ações de saúde em todo o Brasil; e pela lei 8.142/90, que dispõe sobre transferências
de recursos fundo a fundo e regulamenta a participação popular do SUS (SOUZA,
2002).
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2.5 DIRETRIZES DO SUS


A Constituição Federal, através do seu artigo 198, estabelece que o
Sistema único de Saúde é um sistema regionalizado e hierarquizado, as diretrizes do
SUS que são a: descentralização, com direção única em cada esfera de governo, o
atendimento integral, dando-se preferência às atividades de prevenção, além de
serviços assistenciais e a participação social.
O Sistema deve se organizar por regiões, porém de maneira hierárquica,
seguindo com direção única em cada esfera de governo por meio da descentralização
política, administrativa e financeira da União, estados e municípios, de modo a criar
uma rede capilarizada que possibilite o atendimento à toda a população (MATTA,
2007)
De acordo com SARLET, o SUS tem como princípio a unicidade, o que
significa que as ações e serviços de saúde se complementam integrando um sistema
único. Ainda que seja descentralização, todas as suas esferas de administração, deve
seguir os mesmo princípios e diretrizes, e caminhar para o mesmo objetivo
(SARLET,2002). Sobre o tema, destacou CARVALHO:
“Que a unicidade se deve pelo fato do SUS ser responsabilidade
constitucional das três esferas de governo, não podendo nenhuma delas se
eximir dessa obrigação. O comando legal é de que, em cada esfera de
governo, só possa ser gestor uma das esferas de governo. No município
comanda o prefeito e o secretário municipal” de Saúde. No Estado, o
governador e seu secretário de Saúde; e na União, o presidente e o ministro
da Saúde. A direção única em cada esfera de governo é um complemento da
descentralização.
Desse modo embora seja único, o SUS é constituído por uma rede
hierarquizada e regionalizada, composta por cada ente federativo, União Estados e
Municípios, numa atuação autônoma e conjunta, segundo o princípio da
descentralização. A regionalização da atuação permite que, em um país com
dimensões continentais, como do Brasil, sejam adaptados os serviços e ações de
saúde as características epidemiológicas locais. Processo que foi idealizado pela
Reforma Sanitária e recomendado pela Organização Mundial de Saúde (MATTA,
2007).
O principal mecanismo para promover essa descentralização, de acordo
com SARLET é municipalização da saúde, cabendo aos municípios primordialmente
a prestação de cuidados de saúde, principalmente nos aspectos tocantes à atenção
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básica, cabendo ao Estado e posteriormente à união atuar subsidiariamente,


principalmente nos casos que atuação do município é limitada, uma vez que deve ser
responsabilidade do ente que tenha melhores condições a efetivação da assistência em saúde (tratando-
se no caso do melhores condições e qualidades de acesso) (SARLET, 2014).
No SUS, a diretriz da descentralização corresponde á repartição de
atribuições entre os três entes federativos, ocorrendo, portando a distribuição de
responsabilidades, poder político e recursos direcionado da união para os estados e
municípios. Ou seja, estamos falando de uma verdadeira desconcentração do poder
da União, que passaria a ser exercido em maior grau pelos estados e mais ainda pelos
municípios, de modo a concretizar os objetivos e diretrizes do SUS (MATTA, 2007).
Além da regionalização hierarquizada, a descentralização, também é
diretriz do SUS a participação social e democrática das decisões. Essa diretriz foi uma
vitória especial para os militantes do movimento da reforma sanitária sendo encarado
como um marco histórico do movimento. Na concepção do Sistema Ùnico de Saúde
foram incorporados os princípios defendidos pelos sanitaristas que seriam
participação da comunidade, integralidade no atendimento e Universalidade de
acesso (MATTA, 2007).
A partir de então a participação da comunidade passou a integrar a
operacionalização e organização do SUS no concernente às suas esferas de gestão,
por vezes, sendo confundidas com os princípios do SUS, disciplinados na lei nº.
8088/90. Conforme explica MATTA, a participação da comunidade, realizada através
dos conselhos municipais de saúde, bem como a integralidade e universalidade,
independentemente de serem princípios ou diretrizes, são os elementos mais fortes
no sentido da identidade do Sistema Único de Saúde (MATTA, 2007).
2.6 PRINCÍPIOS DO SUS
Basicamente os princípios são os elementos que integram a base
ideativa, cognitiva, e filosófica do sistema de saúde brasileiro, previsto na CF de 88.
(MATTA, 2007). Ou seja, os princípios constituem o DNA do sistema de saúde
brasileiro, e com base neles devem ser tomadas todas as decisões estratégicas,
criadas políticas públicas e efetivadas as ações de saúde de modo que estejam de
acordo com esses elementos imprescindíveis.
Nas palavras de Noronha:
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“Sistema Único de Saúde (SUS) conforma o modelo público de ações e


serviços de saúde no Brasil. Orientado por um conjunto de princípios e
diretrizes válidos para todo o território nacional, parte de uma concepção
ampla do direito à saúde e do papel do Estado na garantia desse direito,
incorporando, em sua estrutura político-institucional, espaços e instrumentos
para democratização e compartilhamento do processo decisório e da gestão
do sistema de saúde. (NORONHA, 2012).”
Os Princípios norteadores do SUS, estão inseridos em diversos artigos
dispersos na são especificamente detalhados na Lei Orgânica da Saúde estabelece
princípios e diretrizes basilares do funcionamento do SUS. Entre eles, destacam-se:
A Universalidade no acesso aos serviços de saúde, tanto nos que se
referem a promoção e proteção, como aqueles referentes a recuperação, em todos os
níveis de assistência, o que significa que todos têm o mesmo direito de conter as
ações e os serviços de que necessitam. De acordo com GIAVANELLI, a
universalidade é um contraponto a uma realidade onde o direito a saúde dependia da
contribuição previdenciária (GIAVANELLI, 2012).
O princípio da igualdade é indissociável do princípio da universalidade,
e quer dizer que é garantido a todos o mesmo tratamento, não devendo haver
privilégios ou preconceitos (MATTA, 2007). A essência deste princípio consiste na
proibição expressa de discriminação no acesso a serviços de saúde, ou seja, não é
aceitável que somente alguns grupos, por motivos relacionados a cor, gênero renda
ou religião, obtenham acesso a determinados serviços. Porém, segundo Giavanelli,
o princípio da igualdade não implica que o tratamento será padronizado, para todos,
sem observância das particularidades e necessidades diferenciadas. Sendo sempre
a análise do paciente, em todos os aspectos que deve orientar a escolha das técnicas
utilizadas no cuidado à saúde (GIAVANELLI, 2012).
A integralidade pode ser entendida como um conjunto contínuo e
articulado de serviços e ações, tanto de caráter preventivo como curativo, coletivos e
individuais, em todos os graus de especialidade admitidos no sistema. (MATTA, 07).
Ou seja, esclarece que nessa organização haverão níveis diferentes de atendimentos,
destinados á baixa, média e alta complexidade, e a integralidade garante que o
cidadão tenha acesso dos cuidados mais básicos e simples, oferecidos em geral pelo
município, até, se for necessário. os serviços de média e alta complexidade, onde
recaia a atribuição sobre estados e União.
19

A ideia é que as ações voltadas para a promoção da saúde não sejam dissociadas
das ações de prevenção de agravos ou de doenças, permitindo assim a atenção
ambulatorial e hospitalar direcionadas para o diagnóstico, o tratamento e a
reabilitação. Por isso, os profissionais de saúde e os gestores do SUS devem
empenhar-se em organizar os processos e procedimentos de trabalho além das
práticas diárias e administrativas de modo a permitir que essa integração ocorra
(GIAVANELLI, 2012).

3 O INUSITADO CENÁRIO DA COVID-19


Cientistas alertavam à tempos sobre a possibilidade do surgimento de
uma zoonose que poderia infectar seres humanos. Cada vez mais estava-se alterando
o meio ambiente, deixando animais sem habitat e aproximando espécies que nunca
haviam se encontrado. Tais fatores constituem um terreno fértil para a disseminação
de patógenos. Foi exatamente o que ocorreu em Wuham.
O Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, constituiu o local
perfeito para o surgimento de uma nova doença. NO local se amontoavam barracas
vendendo toda a sorte de animais silvestres, confinados em pequenas gaiolas perto
uma das outras. O saneamento era péssimo, e o local pouco arejado. (R7, 2020).
Segundo as autoridades chinesas, o mercado era o possível elemento de conexão
entre os primeiros casos de uma pneumonia misteriosa, que surgiu na china no início
de dezembro de 2019 (ÉPOCA, 2020). O Mercado foi fechado em 01/01/2020 e todas
as espécies encontradas sacrificadas, porem o Coronavírus já tinha se instalado com
facilidade entre a espécie humana, sendo esse o começo da pandemia que assolaria
o mundo todo.
Durante o mês de dezembro a misteriosa pneumonia era assunto
apenas no meio médico de Hubei, que foram os primeiros a tratar os casos. Eles
escreveram e divulgaram um artigo sobre a doença em 21/12/19. Poucos dias depois
os médicos apresentaram sintomas e foram internados. Em 24/12, o vírus foi isolado
e o seu sequenciamento genético divulgado. Os números de casos nos hospitais que
tinham sido atendidos os primeiros pacientes estava aumentando rapidamente.
Estudantes de medicina que haviam avaliado o caso foram postos em quarentena.
20

Durante essa fase o governo chinês ainda não havia se manifestado. A


China havia passado pela epidemia da SARS no ano de 2003, levando 9 meses para
controlar a doença que provocou 774 mortes,.e da MERS, surgida no ano de 2012,
que levou 858 pessoas à morte. O vírus causador da SARS e da MERS também eram
da família Coronavírus, porém a infecção causada por eles era muito mais agressiva,
em razão disso foi relativamente fácil identificar quem estava doente e isolar a pessoa,
diferente do que aconteceu com o COVID-19.
Em 31/12/2020 a China entrou em contato com a OMS relatando casos
de “pneumonia de causa desconhecida detectados em Wuhan". No dia 05/01 o
Hospital em Wuhan se pronunciou, informando que já contavam 60 pessoas
infectadas e 7 delas estavam em estado gravíssimo. No dia 07 de Janeiro cientistas
chineses identificam e divulgam mundialmente o genoma do causador da doença,
trata-se de nova espécie de coronavírus, sendo inicialmente chamado de2019-nCov,
pela OMS, que fez recomendações de prevenção genéricas como a lavagem as mãos.
As primeiras mortes ocorreram na China no início de janeiro. Por volta
do meio do mês, surgiram caso em Taiwan e Japão. No dia 20/01/20 a China
contabilizava 139 casos e 3 mortes. No dia seguinte apareceria o primeiro caso nos
Estados Unidos, levados por um viajante oriundo de Wuham. A partir de então o
governo da China resolve adotar medidas drásticas, isola a província de Wuham
decretando quarentena além de começar a construir hospitais de campanha para
atender os casos que aumentavam dia após dia.
Os Estados Unidos se pronunciaram no dia 29/01, informando que em
seu território haviam sido confirmados 5972 casos e 132 mortes. Já haviam sido
confirmados casos em diversos países. Nessa conjuntura a OMS ainda não havia
classificado a doença como pandemia, tendo apenas trocado o nome para COVID-19.
Em 14 de fevereiro ocorreu a primeira morte na Europa. Dias depois ocorre uma
explosão de casos na Lombardia, região da Itália..
O Brasil assistindo o drama enfrentado pela Itália e Nova York, no dia
07/02/2020, sancionou lima lei dispondo das medidas que poderiam ser adotadas em
território nacional caso viesse a ser acometido pela doença, inaugurando os atos
normativos para tratar da pandemia no Brasil. Criou um plano de ação com base no
21

manual de enfrentamento do vírus Influenza, e Iniciou as tentativas de compra de


respiradores, máscaras, álcool em gel e Equipamentos de proteção individual.
NO Dia 26/02, foi confirmado o primeiro caso de COVID-19 no Brasil, as
reuniões no Ministério da saúde passaram a ocorrer todas as tardes, abertas à
imprensa, onde eram atualizadas a contagem dos casos no mundo e divulgado
medidas de prevenção e enfrentamento. No comércio exterior os insumos relativos a
pandemia haviam sumido do mercado junto com álcool em gel e máscaras. Municípios
inteiros ficaram desabastecidos de medicação e não havia previsão de reposição do
estoque (VARGAS, 2020)
No dia 1º de março foi diagnosticado o segundo caso de COVID no
Brasil. Até então a OMS não se manifestara no sentido de classificar o Coronavírus
como um pandemia. A Organização permanecia afirmando que o vírus poderia ser
contido, apesar de demonstrar preocupação com os últimos óbitos ocorridos no Irã,
Japão e Itália. No dia 11/03/20, por fim, a OMS declarou que doença provocada pelo
Coronavírus, tratava-se de uma PANDEMIA, nomenclatura designada para doença
de rápida disseminação e abrangência global (G1,2020)
A partir de meados do mês de março todos os Estados brasileiros já
tinham casos confirmados da doença. No dia 18 o Presidente Jair Bolsonaro enviou
pedido ao Congresso para que seja decretado estado de calamidade pública em
território nacional. Na mesma data foi diagnosticado o primeiro caso de COVID no
Pará, na cidade de Belém.
Nesse ínterim, o Presidente Jair Bolsonaro já havia feitos diversos
pronunciamentos, ora falando em isolamento vertical, ora falando que o vírus não se
disseminaria no Brasil devido ao clima tropical, ora comparando a Covid a uma
“gripezinha”. Esse comportamento diante da crise sanitária provou grande desagrado
nos governadores estaduais, e fez com que cada estado implementasse as medidas
que achava necessário sem ter um direcionamento vindo do Governo Federal.
As ações adotadas a nível nacional na maior parte, foram inciativas do
Ministério da Saúde, que se reunia com seu staff frequentemente para discutir a
estratégia de enfrentamento e medidas de fortalecimento do SUS, que serviria para
tratar dos que haviam se contaminado. Outra questão é que o sus possui um ampla
rede de postos de saúde, programas de vacinação, agentes comunitários que dariam
22

suporte para tais ações. Intensificou-se a expedição de memorandos sobre a


notificação imediata em caso de suspeita. Houve também a divulgação do Boletim
Epidemiológico contendo os dados conhecidos da doença e orientações de manejo e
notificação. Notificou aeroportos, Anvisa, Agencias de Abastecimento e o serviço de
Vigilância em Saúde. o posicionamento geral era que o Ministério da Saúde deveria
adotar medidas para: “Divulgar informações sobre prevenção e controle da doença
nas regiões onde há maior circulação e casos de influenza. [...] Intensificar as
orientações e divulgação de material educativo sobre etiqueta respiratória, higiene das
mãos” (Brasil, 2016 ).
A quantidade de atos normativos estaduais expedidos em razão da
COVID foi elevada, tanto dos poderes executivos e legislativos, como também
oriundos do poder judiciário, pois em todos os Estados e Distrito federal foram
identificadas decisões diretamente relacionadas ao combate ao novo coronavírus. As
decisões abordam os mais variados assuntos, como a regulação de regimes de
trabalho, o reforço ou flexibilização de decretos municipais e estaduais, obrigam a
implementação de políticas públicas e ações do governo, dentre outros (VIANNA
SILVA E FRANÇA, 2020).
Os principais aspectos decididos pelos poderes executivos e dos
Estados foram referentes aos seguintes eixos: Lockdown, adotado em todos os
Estados, fechamento de rodovias, Hospitais de Campanha, auxílios econômicos,
auxílios fiscais, Consórcios e Convênios, doações, tratando ainda da suspensão das
aulas e adoção do regime de Home Office pelos funcionários do executivo, legislativo
e judiciário, sendo adotada largamente também por empresas privadas (VARGAS,
2020)
A rápida evolução da pandemia da COVID-19, colocou a prova sistemas
de saúde de todo o mundo. A dramaticidade das imagens noticiadas diariamente
ilustra, por si só, o desafio que os diversos países enfrentam para garantir suporte à
demanda por atendimento médico-hospitalar e, nos quadros mais graves, de
mecanismos de suporte vital e respiratório oferecidos pelas Unidades de Terapia
Intensiva. E no Brasil não foi diferente, conforme eram noticiados os aumentos nos
casos, o pânico se espalhava e pouco a pouco começou a surgir expressivo número
23

de mortes e diariamente eram noticiadas novas cidades nas quais o sistema de saúde
local havia colapsado.
Foi disponibilizado para União e estados créditos suplementares para
serem aplicados ao enfrentamento do COVID, construção de Hospitais de Campanha
e compra de matérias e respiradores, porém grande parte dessa verba, apesar de ter
sido empenhada, ficou parada meses e meses nos cofres do Ministério da Saúde,
aguardando que fosse realizada a execução orçamentaria e respectiva destinação da
verba. Concomitante a isso pessoas morriam, e alguns governadores, empregavam
com terrível erro de julgamento os recursos dos seus Estados, na compra de
equipamentos inadequados oriundos da china (FUNCIA, OCKÉ-REIS, 2020)
Isso, além de chamar atenção pública para o fato da possível
improbidade, levou a percepção quem o parque industrial brasileiro estava defasado
e sem capacidade atender a demanda nacional no que se refere a equipamentos de
proteção individual, respirados, álcool em gel e até mascaras. Esse Item, junto com o
álcool em gel foi um dos primeiros a sumido do mercado nacional, e pior, o Brasil não
possuía condições de fabricá-los rapidamente na escala necessária. No cenário
mundial, a china era a grande fornecedora de marcaras e de todos esses materiais
hospitalares. A Pandemia prejudicou o mercado internacional e passou a vigorar a lei
do mais forte. Como resultado o Brasil ficou desabastecido e para resolver lançou uma
campanha ensinando a fabricação das máscaras de tecido, que foi adotada pela
população e utilizada por grande parte dela até os dias de hoje, (BRAGA, 2020)
Além da questão do mercado nacional depender de importações de
insumos relativos à área da saúde, houveram outros fatos que dificultaram o controle
da pandemia no Brasil, com por exemplo a ausência da coordenação nacional efetiva,
devido a trocas na cadeia de comando no ministério, não havendo consenso a nível
federal e estadual na uniformização das medidas (VARGAS, 2020)
Apesar dos dados referentes a quantidade de contágios e mortes
provocados pela Covid ter divulgação diária, a confiabilidade de tais números era
baixa devido a pouco quantidade de testes e consequente subnotificação da doença.
Outro fator de extrema importância foi o fato do programa de agentes comunitários de
saúde, que teriam sido essenciais para realizar o rastreamento de casos e com isso
minimizar a disseminação da doença, em grande parte do país de viu impedida de
24

trabalhar pela falta de equipamentos de proteção individual inutilizando um dos


maiores recursos que o país contava para controlar a doença. (CABRAL, BONFADA,
2020)
Dentre inúmeros problemas, houve um movimento de renascimento do
SUS que emergiu como a grande estrela no enfrentamento ao Coronavírus. O Brasil
conta com mais de 70% da população dependente exclusivamente do SUS para
cuidados em saúde, e se não houvesse o Sistema Único, os impactos da pandemia
seriam inimagináveis. O fato de ter se ampliado a visibilidade em relação as políticas
públicas de saúde, em especial ao SUS, fez perceber também os problemas que ele
vem enfrentando no decorrer do tempo, e que voltará a enfrentar se não forem
alteradas as disposições que limitam o seu financiamento (SANTOS, 2020)
Além do financiamento, é necessário a realização de discussões acerca do problema
da terceirização e o contrato das Organizações Sociais para administração das
unidades de saúde. O que antes da Pandemia vinha sendo feito paulatinamente,
através de um processo de desvalorização, sucateamento e discussões sobre a
criação dos planos de saúde de baixo custo, que nada mais seriam do que a
despolitização da saúde no Brasil, jogar fora um direito conseguido a duras penas e
de relevância essencial para a dignidade dos brasileiros.

4 DADOS SOBRE A SAÚDE PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE CASTANHAL


O município de Castanhal foi fundado em 1963, localizado a 65 km de
distância de Belém localizando-se a 65 Km de Belém, sendo parte da Zona
Metropolitana III. Possui área de aproximadamente 1.029,191 km², sua população
está estimada em 203.251 de habitantes, com o índice de desenvolvimento humano
de 0,673 e o PIB per capta de R$ 19.242,51, figurando como um dos municípios mais
importantes do Estado do Pará (IBGE, 2020).
A princípio foi realizado o levantamento dos antecedentes, relatórios e
notícias que dessem um panorama geral sobre a prestação do serviço de saúde no
município. Descobriu-se que Castanhal foi um dos primeiros municípios do Brasil a
efetivar o programa de Agentes Comunitários de Saúde e implementar o Programa de
Saúde da Família, construindo e equipando as unidades básicas e lotando equipes
multidisciplinares para atuarem no programa. No ano de 2002, foi selecionado
25

juntamente com outros 43 municípios, dentre todo o território nacional, para integrar o
projeto piloto de implantação do Cartão SUS, Conforme descrito no Relatório de
Levantamento realizado pelo Tribunal de Contas da União, nº. TC 032.238/2011:
“O projeto piloto foi então iniciado, selecionando-se 44 municípios,
abrangendo aproximadamente 13 milhões de habitantes. O Relatório de
Auditoria Especial da Controladoria-Geral da União – RA 254948 informa que
a seleção dos municípios participantes do piloto considerou os seguintes
critérios: “estar habilitado em alguma forma de gestão da NOB SUS 01/96;
possuir projeto ou experiência em andamento para implantação do Cartão
Municipal; ter implantado ou estar em processo avançado de implantação de
um documento único de saúde municipal; ser a capital do estado; ou estar
em estágio avançado de implantação dos Programas de Saúde da Família e
de Agentes Comunitários de Saúde”. (TCU, 2011).
Através da busca em sites oficiais, verificou-se que no ano de 2012 a
Controladoria Geral da União realizou fiscalização no município em razão da 37ª
Etapa do Programa de Fiscalização a partir de Sorteios. Foram auditadas ações e
programas relativos a aplicação de recursos federais nas áreas de aperfeiçoamento
do SUS e recursos destinados à atenção básica. No relatório expedido após a
fiscalização, constam diversos problemas como fraudes nas licitações de compra de
materiais e insumos referentes ao exercício de 2011 e 2012; jornada de trabalho
inferior à prevista na legislação do Programa de Saúde da Família; Deficiências no
atendimento realizado nas Unidades de Saúde; Unidades de Saúde sem condições
mínimas de infraestrutura; Aquisição de medicamentos com valor superior ao do
Banco de Preços do MS; Controle de estoque de medicamentos ineficiente; Descarte
de medicamentos por expiração do prazo de validade; Obras paralisadas, dentre
outros (CGU, 2012).
Também foram coletados dados, referentes à estrutura da rede de Saúde, no
site CNES-DATASUS, sendo verificado que Castanhal possui 38 unidades básicas,
14 postos de Saúde, 2 Unidades de Pronto Atendimento, e 4 Hospitais vinculados ao
Sistema Único de Saúde, dois deles particulares, um pertencente ao Município e o
outro ao Estado do Pará. O quantitativo de leitos referentes ao mês de fevereiro de
2020 era de 35 leitos complementares e 25 habilitados, desses leitos 20 eram de UTI
tipo II, com 13 habilitados. O total de leitos clínicos e cirúrgicos no município somavam
256, sendo 180 pertencentes ao SUS (DATASUS, 2020).
O Índice de leitos verificado em outubro de 2019 indicava que existiam
39 leitos complementares, sendo 29 habilitados. Esse índice foi mantidos nos meses
26

de novembro e dezembro. No mês de Janeiro os leitos complementares diminuíram


para 35, sendo 25 habilitados. No mês de março o índice voltou para 39 leitos, sendo
29 habilitados. No mês de abril retornou para o índice 35/25. Apenas no mês de julho
pode-se observar um aumento na quantidade leitos, apresentando 55 leitos
complementares, sendo 35 habilitados. Havendo uma alta expressiva no mês de
agosto quando passou a contar com 107 leitos complementares, sendo 35 habilitados,
e manteve essa média nos meses subsequentes (DATASUS, 2020).
Outro parâmetro analisado sobre a saúde pública de Castanhal diz respeito
às Ações Civis Públicas que versam sobre o tema, em que figura como polo passivo
o Município de Castanhal. Os dados foram extraídos do Serviço de Informações ao
Cidadão, localizado no portal do Ministério Público do Estado. A pesquisa se refere
ao período entre outubro de 2016 até março de 2020, período anterior a pandemia.
Nos dados coletados foram contabilizadas 95 Ações Civis Públicas relativas
à saúde ajuizadas, que versavam sobre os seguintes assuntos: 17 ações solicitando
agendamento de exames; 5 ações solicitando transporte para tratamento de saúde e
consultas especializadas; 27 ações requerendo medicamentos, alimentação especial
ou insumos (fraldas, agulhas de insulina); 34 ações cujo objeto era disponibilização
de leitos para internação e 12 ações protocoladas em razão de problemas estruturais
ou de funcionamento de Hospitais e Unidades de Saúde, conforme representação
gráfica abaixo (MPPA, 2020)

Judicialização da Saúde em Castanhal


Total Geral 95 ACP's
30
25
20
ACP's

15
10
5
0
2016 2017 2018 2019 2020
Título do Eixo

EXAMES TRANSPORTE CONSULTAS MEDICAMENTOS/ INTERNAÇÃO HOSPITAIS


FRALDAS/
INSUMOS ALIMENTAÇÃO
27

Uma observação importante é que os resultados dessa fase da pesquisa


divergem dos fornecidos no Mapa Da Judicialização Do Estado Do Pará, uma inciativa
do TJE-PA, onde relata os números referentes a “judicialização da saúde” no Estado
do Pará, pelo TJE-PA, onde constam um número inferior de ações (TJE-PA, 2020).
Ainda no Sistema de Informações ao cidadão, foram coletados dados acerca
da atuação extrajudicial da 4ª Promotoria, na matéria saúde, de 2016 a 2020. Foram
contabilizados 166 procedimentos instaurados, sendo 112 Notícias de Fato, 29
Procedimentos Administrativos e 26 Inquéritos Civis/Procedimentos Preparatório. O
gráfico abaixo demostra a proporção de procedimentos por classe/assunto (MPPA,
2020).

Atuação Extrajudicial
Total Geral 166 Proceimentos

INQUEÉRITOS PROC. PREPAR.

PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS

NOTÍCIAS DE FATO

0 5 10 15 20 25 30 35 40

INTERNAÇÃO POLÍTICAS PÚBLICAS MEDICAMENTOS HOSPITAIS E UNIDADES DE SAÚDE

Os motivos das demandas foram: falta de medicamentos, não


fornecimento de alimentação especial, problemas na distribuição de fraldas, não
fornecimento de agulhas para insulina, falta de insulina, realização de exames,
agendamento de consultas e, com bastante frequências, internações. Sobre o último
fator também observou-se que em 23 demandas o estado figurava o polo passivo
juntamente com o munícipio. Sobre pedido de medicamentos não previstos na
regulamentação do SUS (RENAME), só foi verificada um ocorrência (MPPA, 2020)
Ainda sobre a atuação extrajudicial, foram consultado no sistema o
verbete “Portaria”. Dentre os resultados apresentados, foram selecionadas as
seguintes portarias:
Portaria nº. 025/2019-MP/4ªPJCAssunto: Relatório de Fiscalização do
Conselho Municipal de Saúde no leitos do Hospital Municipal (Dra. Maria
Laise Moreira Pereira Lima), tendo verificado divergência de informações no
que diz respeito aos leitos cadastrados no CNES (4ªPJC, 2020);
28

Portaria nº. 30/2018-MP/4ªpjc


Ministério Público Federal a Notícia de Fato n 1.23.000.001429/2016-30,
que versa sobre possíveis irregularidades referente a: “a) descumprimento
de compromissos por determinados prestadores conveniados no SUS, que não
estariam realizando atendimento aos usuários; b) obras e reformas em
desacordo com os respectivos projetos; c) ausência de explicação sobre o
recurso destinado pelo Município ao Conselho; d) número insuficiente de
ambulâncias”, para conhecimento e providências (4ªPJC, 2020);

Portaria nº. 13/2018-´MP/4ªPJC


Relatório de Fiscalização do Conselho Municipal de Saúde em diversas
Unidades de Saúde, encaminhando relação de demanda reprimida de
consultas e exames especializados desde o mês de agosto de 2016 nessas
Unidades (4ªPJC, 2020);

Portarias nº 31/2020
Assunto: Conselho Municipal de saúde informando que Obras no Bloco
Cirúrgico do Hospital Municipal de Castanhal encontram-se paralisadas
(4ªPJC, 2020);

Portarias nº 31/2020
Assunto: Conselho Municipal de saúde informando que as obras no Centro
de Saúde da Mulher estão Paralisadas (4ªPJC, 2020);

4.1 O SERVIÇO DE SAÚDE DE CASTANHAL NO ÁPICE DA


PANDEMIA – MARÇO A JULHO DE 2020.
O primeiro Ato da Administração Municipal para tratar da COVID, foi o
Decreto 024/20 de 23 de Março de 2020, dispondo sobre as medidas adotadas no
âmbito municipal para enfrentamento da crise sanitária. No dia seguinte foi emitida
Instrução Normativa nº. 001/20, pela Secretaria Municipal de Saúde. Dentre as
medidas previstas foram suspensos todos os atendimentos que não fossem relativos
à COVID; Estabelecido que as unidades de urgência só deveriam atender casos
graves, devendo os casos leves serem atendidos na Unidade de Saúde do Bairro,
também foi suspensa toda a regulação para pacientes de fora do município, e
determinado que os agentes comunitários de saúde deveriam trabalhar mantendo dois
metros de distância das casa atendidas, porém não houve informação sobre o
fornecimento de equipamento de proteção individual para o agente (SESMA, 2020).
29

De acordo com os dados coletados do painel COVID, da Prefeitura


Municipal de Castanhal, ainda no mês de março foi divulgado o primeiro Plano de
Contingencia Municipal, que tinha como objetivos:
Reduzir o impacto da introdução e possível surto da COVID-19 no município
de Castanhal quanto à morbidade e mortalidade; Definir fluxos assistenciais
para os casos suspeitos/confirmados da COVID-19 e medidas terapêuticas e
controle dos contatos; Garantir infraestrutura assistencial adequada para
assistência aos casos suspeitos/confirmados da COVID-19; Discutir e
executar respostas Intersetoriais de enfrentamento e proteção da população;
Otimizar os recursos existentes por meio de planejamento e programação de
ações adequadas e oportunas aos objetivos (CASTANHAL, 2020).
Castanhal seguiu o Protocolo da Secretaria de Saúde do Estado do Pará-
SESPA, encaminhado através do Boletim Epidemiológico n° 07/2020. Este Boletim
esclarece que municípios com mais de 100.000 habitantes podem encaminhar
semanalmente 05 amostras de Síndrome Gripal (casos que não tenham indicação de
internação) para uma ‘amostragem’ de vírus respiratórios circulantes E os casos de
Síndrome Respiratória Aguda Grave (casos com indicação de internação) podem ser
encaminhadas indiscriminadamente, desde que estes pacientes tenham perfil de
internação (SESPA, 2020).
No dia 17 de abril foi divulgado pela Secretaria municipal de Saúde de
Castanhal o planejamento financeiro de enfrentamento à pandemia referente aos
próximos três meses. O valor divulgado foi de R$. 4.212.437,43, uma somatória dos
recursos federais e credito extra mais recursos regulares do fundo municipal de saúde,
que seriam aplicados segundo a planilha abaixo:

Fonte: Prefeitura Municipal de Castanhal – Coronavírus – SESMA


30

Em 07 de maio foi promulgada uma lei autorizando o município a contrair


crédito suplementar no valor de R$14.000.000,00 (catorze milhões de reais) para sem
utilizado no combate a COVID-19. Em 30/06/2020, no portal da Transparência de
Castanhal, a Secretária de saúde prestou contas dos recursos utilizados e trabalho
desenvolvido até então no enfrentamento da COVID. No documento foi relatado que
no ano de 2019 havia sido inaugurada uma nova ala no Hospital Municipal de
Castanhal, que tinha sido esquipada mais leitos para ser utilizada pelos pacientes
Com COVID. Essa informação não foi verificada no site do CNES no decorrer dessa
pesquisa (SESMA, 2020).
A respeito da evolução da doença, verificou-se que primeiro caso foi
registrado no município em 27 de março de 2020. Neste mesmo mês foi expedida pelo
Ministério Público, recomendação à prefeitura a respeito do fechamento do comércio,
escolas e atividades não essenciais de modo a diminuir o ritmo de contaminação.
Boletins diários foram divulgados diariamente, indicando número de casos
confirmados, casos suspeitos, pacientes hospitalizados e óbitos no Município. A partir
dessas publicações verificou-se que a disseminação da doença permaneceu lenta
inicialmente, começando a se acelerar a partir do dia 18 de abril, quando foi divulgado
no informativo às 12:30, que haviam 7 casos confirmados. No mesmo dia, às 18:30, o
número de casos havia duplicado. Ainda com base nos informativos divulgados pela
prefeitura, o primeiro óbito ocorreu em 24/04/2020. A partir de então, no espaço de 7
dias até 30 de abril, foram confirmados 114 casos, com 33 pacientes hospitalizados,
e 10 óbitos, (CASTANHAL, 2020).
No dia 01/05/2020, foi noticiado pela imprensa, que devido a rápida
evolução da doença, o Sistema de Saúde de Castanhal havia entrado em colapso. A
notícia prosseguiu informando que a cidade contava com 55 leitos de UTI para
pacientes acometidos pela doença, sendo 43 leitos de Hospitais Particulares e 12
leitos, pertencentes a rede pública, divididos entre Hospital Municipal e UPA, (G1,
2020).
Como forma de suprir a carência de leitos, no dia 06/05/2020 foi
ajuizada, pela 4ª Promotoria de Justiça de Castanhal, Ação Civil Pública em face do
Estado do Pará, tendo por objeto a implantação de mais 36 leitos em castanhal,
31

finalização das obras referentes ao Hospital Regional, além de medicamentos e


respiradores (MPPA, 2020).
Nos dados constantes no boletim Epidemiológico de 10/07/2020,
referente ao período de 01/03/20 a 01/07/20 e publicado pela Secretaria de Estado de
Saúde Pública, Castanhal liderava dentre os municípios com maior número de casos
na Região Metropolitana III, Na mesma tabela constava ainda que o índice de
mortalidade no município era de 10%, a maior em todo o Estado (SESPA, 2020).

5 ANÁLISE DE RESULTADOS
De acordo com os dados pesquisados o que se notou foi que Castanhal
vinha sofrendo em relação a prestação dos serviços de saúde, de maneira identificável
desde o ano de 2012. Quando foi apurado pela Controladoria Geral da União que
existiam fraudes em licitações para compras de insumos e medicamentos,
medicamentos sem controle de estoque e sendo descartados devido estarem
vencidos, Unidades de saúde sem infraestrutura básica e problemas na prestação dos
serviços de saúde referentes ao Programa de Saúde da Família.
Essas verificações se mostram compatíveis com os motivos das Ações
Civis Públicas ingressadas em face do Município, que em sua maioria dizia respeito
aos serviços básicos e previstos na regulamentação do SUS, como fornecimento de
fraldas, medicamentos previstos no RENAME, insulinas, alimentação especial para
crianças, exames e cirurgias, sendo que a maioria dos procedimentos requeridos
poderiam ser realizados no próprio município.
Castanhal tem elevado número de ações judiciais relativas à matéria da
saúde. Nesse trabalho só foram contabilizadas as ajuizadas pela 4ª Promotoria, e
ainda assim resultou em um número bem elevado. Conclui-se a respeito disso que
ainda que sejam demandas individuais, as ações foram a última tentativa de prover o
direito à saúde previsto na Constituição, uma vez que estavam havendo falhas na
execução de políticas públicas que deveriam garantir esse direito sem necessitar a
intervenção judicial.
Observou-se também, que durante o auge da pandemia, houve apenas
uma ação judicial versando sobre a saúde e tinha como objetivo proteger o direito
coletivo, pleiteando a habilitação de novos leitos, medicamentos, e conclusão do
32

Hospital Regional para dar suporte à população da cidade, que sofreu bastante com
a pandemia, tendo uma taxa de mortalidade duas vezes maior que a média de todo o
estado do Pará.
Os fatores que provocaram a deficiência na prestação desse serviço
podem ser os mais diversos, desde subfinanciamento o subfinanciamento, problemas
institucionais, falta de fiscalização e programação eficiente nos procedimentos
licitatórios para aquisição de medicamentos, insumos, alimentação especial, falta de
organização e controle de estoque de medicamentos. Falta de gerência e fiscalização
nos postos de saúde e nos serviços prestados pelos profissionais de saúde nas
unidades.
Também observa-se que o Município de Castanhal possui várias obras
inacabadas e/ou incompletas de unidades de saúde e essa questão prejudica
bastante o atendimento da população. O Conselho Municipal de Saúde mostra-se
bastante presente, como órgão de controle externo, realizando fiscalizações e
identificando diversas situações irregulares. Os relatórios do conselho são
encaminhados para a Secretaria de Saúde, porém tais demandas não são
solucionadas e o Conselho encaminha para a Promotoria de Justiça. Os
procedimentos são instaurados, porem o principal, que é a correção dos problemas
apontados acaba não ocorrendo. Novos problemas vão surgindo e se avolumando e
a situação fica insustentável diante de um evento como a Pandemia.
De acordo com a Portaria nº. 025/2019, O conselho municipal apontou
irregularidades no quantitativo de leitos reais e o informado no Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde. Já era um indicativo que Castanhal não tinha leitos
suficientes nem para épocas normais. Um indicio disso é o elevado número de ações
pleiteando internação.
Outra questão que permanece em aberto é: Foi noticiado que o sistema
de saúde havia entrado em colapso devido a superlotação dos hospitais. Informando
ainda que existiam 55 leitos na cidade, sendo 43 em Hospitais Privados e 12 nos
Hospitais Públicos. Nessa data de acordo com o Boletim divulgado pela prefeitura,
Castanhal contava apenas com 35 pacientes hospitalizados. Porém dentre os 43 leitos
nos hospitais particulares, se for seguida a proporção verificada no CNES, pelo menos
30 desses leitos seriam conveniados com o SUS. Ou seja matematicamente não é
33

possível justificar esse colapso. A menos que a real situação seja bem pior que o
divulgado.
Consta nos autos de Ação Civil Pública nº 0801461-64.2020.8.14.0015
que tem por objeto o imediato funcionamento do Hospital Regional para suprir a falta
de leitos no município, que no dia 04/05/2020 haviam 4 (quatro) leitos de UTI tipo II
recebendo pacientes, e 16 (dezesseis) esperando implementação, e há 6 (seis) leitos
clínicos regulados pelo Estado, no Hospital São José-HBSJ (CNES 0007641). A ação
também informou que Castanhal contava apenas com 8 respiradores, total insuficiente
para atender a demanda, ainda mais devido castanhal funcionar como um polo para
os municípios vizinhos (MPPA, 2020).
Mais uma evidência que Castanhal realmente estava com uma estrutura
de saúde muito aquém do necessário para atender a população. No decorrer dessa
pesquisa ficou evidente a histórica relação entre os hospitais particulares conveniados
ao SUS e o município. O Hospital Municipal de Castanhal, construído em 2000, pouco
ampliou a sua capacidade de leitos no decorrer de todos esses anos, a despeito do
projeto original até a presente data não foi inaugurado o bloco cirúrgico do Hospital,
revelando uma falta de investimentos e cuidado em unidades de saúde que são
integralmente do SUS. Em castanhal todas as cirurgias são realizadas nos leitos de
Hospitais Conveniados, que perderiam bastante com a inauguração no novo bloco
cirúrgico.
Todos esses fatores, em conjunção com a Pandemia do COVID 19, provocaram, de
maneira precoce, o colapso do sistema de saúde de Castanhal. Como foi explicitado
o município foi munido de recursos para enfrentamento da pandemia, porém é como
querer tratar um paciente que já não respira. Nem todos os recursos do mundo seriam
suficientes para remediar uma situação que vinha se instalando por anos a fio, e
resultou portanto na falta de efetividade do direito a saúde durante a pandemia em
Castanhal.
34

6 CONCLUSÃO
Após todas as considerações acima, verificou-se que a previsão
constitucional do Direito a saúde lhe dotou de várias peculiaridades, para protege-lo.
E que a criação do Sistema Único de Saúde, foi algo que exigiu esforço e coragem
dos legisladores, que ao concebê-lo estavam rompendo com toda a ordem e sistema
de saúde existente, para proporcionar aos Brasileiros, o direito universal e integral à
saúde.
Porém, apesar de toda a beleza da sua garantia constitucional, o Direito
a Saúde sempre encontrou dificuldades quanto a sua efetivação. Os problemas vão
desde o subfinanciamento, até o chamado desfinanciamento da saúde, em virtude da
PEC nº. 95/2016. O Sistema de Saúde suplementar funcionando como um sistema
paralelo, financiado de forma indireta, pelo Estado por meio das isenções fiscais. A
valorização de Unidades de Saúde privadas que possuem leitos credenciados ao
SUS, em vez de priorizar os Hospitais Públicos, e estes funcionando a maior pare das
vezes apenas para atendimentos de Urgência. Existem problemas institucionais de
gestão e falta de organização, exemplificado pelo descarte de medicamento devido o
prazo da validade e a falta do fornecimento para a população de outros medicamentos
básicos, previstos no RENAME.
Nesse contexto a população acabou descobrindo que tem direitos
através da judicialização. Por mais que esse não seja a melhor maneira de garantir a
efetividade, é a única e última oportunidade para algumas pessoas. E ainda é preciso
evidenciar que as ações de saúde servem como indicativo sobre quais os pontos
deficientes no serviço de saúde, podendo-se procurar soluções para melhorar.
Verificou-se, também que todas essas questões foram reprimidas em
virtude do surgimento do Covid. E reconhece-se que nenhum país, estado ou
município estava pronto para uma crise sanitária dessa grandeza. O ser Humano já
passou por outras crises, porém a nossa geração não tem o registro disso na memória,
assim tudo reveste-se de novidade.
Por fim, após a pesquisa e comparação dos dados obtidos, o que
verificou-se é que o Sistema de Saúde de Castanhal já estava bem debilitado. O
surgimento da pandemia só acelerou um processo lento, tornando evidentes todas as
35

falhas, desde falta de leitos, remédios, equipamentos de proteção individual, obras


paradas, e desperdício das verbas públicas.
Então, o que se pode fazer a partir desse contato com a realidade crua
do serviço de saúde oferecido no nosso município, é intensificar, quando passar
definitivamente a pandemia, as formas de controle social e buscar soluções
construídas que deixem de proteger apenas o direito individual e busquem beneficiar
a coletividade.
Um exemplo de iniciativas simples, que poderiam dar resultado seria
uma gestão de estoque mais eficiente, para não faltarem medicamentos e outros
insumos, enquanto se aguarda a conclusão de um processo licitatório; Permitir que os
médicos tivessem acesso as opções de medicamentos e quantidades disponíveis, na
rede municipal, para, na hora de realizar a prescrição, receitar um medicamento que
atenda às necessidades do paciente e já esteja disponível sem depender de compras.
O mesmo controle poderia ser acessível ao público, que poderia requisitar através de
um sistema, com antecedência, fraldas, alimentos, para dar a previsibilidade para a
administração no sistema de compras. Medidas como essas citadas, fortalecem o
SUS e lhe dão credibilidade.
O que verificou-se ao fim desse trabalho, é que não existe a questão da
separação, entre a efetividade antes ou durante a pandemia. O atendimento à saúde
deve ser integral, em todos os níveis de complexidade, conforme dispõe a
Constituição Brasileira. Assim, o colapso ocorrido em maio, apenas deu visibilidade à
crítica falta de leitos, uma vez que essa questão era, com frequência, objeto de ação
judicial.
O problema da falta de leitos melhorou com a inauguração do Hospital Regional,
porém, porém o mesmo estava sendo administrado por uma Organização Social. Os
contratos com médicos e totós os outros funcionários, eram feitos diretamente entre a
O.S. e o profissional. O resultado disso foi noticiado no mês de outubro: os
administradores saíram do Pará, demitiram todos os funcionários sem pagar as verbas
trabalhistas, deixando um grande hospital sem recursos humanos para o Governo do
Estado. A meu ver, essa não a melhor forma de proporcionar o direito à saúde. E para
o povo resta rezar para que a vacina seja criada e distribuída antes de uma eventual
segunda onda.
36

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