POLIPROPILENO
Aprovada por:
___________________________________________________________
Prof. Anna Laura Lopes da Silva Nunes, Ph. D.
__________________________________________________________
Prof. Alberto Sampaio Ferraz Jardim Sayão, Ph. D.
__________________________________________________________
Prof. Nilo César Consoli, Ph. D.
__________________________________________________________
Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph. D.
ii
Dedico este trabalho aos
meus pais Ricardo Maurício e Astir
e aos meus irmãos Rodrigo e An-
dréa pelo amor e incentivo
iii
AGRADECIMENTOS
No momento em que o presente trabalho chega à sua etapa final não poderia deixar
de agradecer à pessoas e instituições que, de uma forma ou de outra, auxiliaram-me ou
deram sua contribuição em alguma fase do mesmo.
À Prof. Anna Laura Lopes da Silva Nunes e ao Prof. Alberto Sampaio Ferraz Jardim
Sayão pela constante dedicação, zelo e competência demonstrados ao longo da
orientação do trabalho. Meus sinceros agradecimentos pela amizade, paciência e apoio
em todos os momentos.
Ao meu grande amigo Alexander Magno Borges pela ajuda nos ensaios de campo e
na interpretação da geologia.
Aos amigos Thiago Proto, Alexandre Saré e Fernanda Otto Springer da PUC-Rio
pela amizade e pelo inestimável auxílio nos ensaios de campo e laboratório. Com chuva
ou com sol, vocês não conheciam tempo ruim e estavam sempre prontos para me ajudar
nos experimentos. A vocês meus sinceros agradecimentos.
iv
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Setembro/2005
Este trabalho tem por objetivo estudar a viabilidade do emprego de grampos não
convencionais, reforçados com fibras de polipropileno na técnica de contenção
conhecida como solo grampeado. Propõe-se que os grampos, convencionalmente
executados com barras de aço e nata de cimento, sejam substituídos por uma mistura de
argamassa com fibras de polipropileno, o que pode representar uma grande economia de
recursos. Para atestar esta viabilidade, foram realizados ensaios de arrancamento em
grampos moldados em cotas distintas do talude de uma obra de solo grampeado, situada
no município de Niterói, RJ. No laboratório foram executados ensaios de compressão
uniaxial e diametral em corpos de prova moldados com fibras e com nata de cimento,
para determinação dos parâmetros de resistência e de deformabilidade do material
compósito. Os ensaios de arrancamento indicaram uma resistência de pico inferior para
os grampos com fibras quando comparados aos grampos convencionais. Entretanto, os
resultados de resistência ao arrancamento associados à melhoria das propriedades
mecânicas no estado pós-pico do compósito estudado sugerem a viabilidade do uso de
grampos com fibras de polipropileno para reforço de solos.
v
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
September/2005
This work aims at studying the viability of the use of unconventional nails
reinforced with polypropylene fibres as a soil reinforcement technique known as soil
nailing. It is proposed that the nails, currently executed with steel bars and cement paste,
be substituted by a mortar mixture with polypropylene fibres, which could represent a
great economy of resources. An experimental program has been carried out with field
pull-out tests on nails in different elevations of a slope in a soil nailing site in the city of
Niteroi, RJ. Laboratory uniaxial and diametral compression tests in fiber and cement
paste specimens were also carried out for the determination of strength and
deformability parameters of the composite material. The pull-out tests indicated a lower
peak resistance for the fiber nails, when compared to the conventional ones. However,
the results of pull-out strength together with the increase of the post peak mechanical
properties of the fiber – cement mixture suggest the viability of the use of the
unconventional nails with polypropylene fibres for soil reinforcement applications.
vi
SUMÁRIO
Capítulo 1: Introdução...................................................................................................1
2.2.2: Conceito.......................................................................................9
2.2.3: Aplicações.................................................................................18
2.3.1: Características............................................................................20
2.3.2: Comportamento.........................................................................21
2.4.2: Aplicações.................................................................................27
vii
Capítulo 3: Área Experimental e Materiais Estudados............................................43
6.1: Conclusões...........................................................................................108
Referências Bibliográficas..........................................................................................112
Anexo 1.........................................................................................................................115
viii
Anexo 2.........................................................................................................................119
Anexo 3.........................................................................................................................121
ix
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 2
Capítulo 3
x
Figura 3.12: Disposição de centralizadores e luvas na barra do grampo com
fibra............................................................................................................58
Figura 3.13: Sistema e reinjeção dos grampos................................................................59
Figura 3.14: Barras de aço com espuma, espaçadores, luvas e mangueiras de
reinjeção...................................................................................................60
Figura 3.15: Detalhe dos corpos de prova para ensaios de laboratório moldados em
campo..........................................................................................................62
Capítulo 4
Capítulo 5
Figura 5.1: Esquema dos componentes para o ensaio de arrancamento dos grampos....81
Figura 5.2: Montagem típica dos ensaios de arrancamento dos grampos.......................82
Figura 5.3: Suporte do extensômetro: (a) Esquema e (b) Detalhe ..................................82
Figura 5.4: Escavação mecânica para exumação dos grampos.......................................84
Figura 5.5: Curvas carga-deslocamento dos grampos convencional e com fibras –
Bateria 1.........................................................................................................86
Figura 5.6: Vista frontal do grampo P14, no contato solo residual jovem – maduro......87
Figura 5.7: Histograma das cargas de arrancamento dos grampos – Bateria 1...............88
Figura 5.8: Curvas carga-deslocamento dos grampos convencional e com fibras –
Bateria 2.........................................................................................................90
Figura 5.9: Vista do grampo com fibras P22 após a exumação......................................91
Figura 5.10: Vista do grampo com fibras P24 após a exumação....................................91
Figura 5.11: Histograma das cargas de arrancamento dos grampos – Bateria 2.............92
Figura 5.12: Vista do grampo P21 após a exumação......................................................93
Figura 5.13: Detalhe típico do grampo ilustrando a região sem fissuras........................96
xi
Figura 5.14: Esquema do padrão de fissuração típico para os grampos com fibras........97
Figura 5.15: Detalhe da seção com fissuras do grampo P21...........................................97
Figura 5.16: Perfil dos solos em contato com os grampos – Bateria 2...........................98
Figura 5.17: Distribuição de carga no grampo de polipropileno – Hipótese 1..............102
Figura 5.18: Distribuição de carga no grampo de polipropileno – Hipótese 2..............103
Figura 5.19: Curvas típicas carga-comprimento do grampo convencional (PROTO
SILVA, 2005)...........................................................................................106
Figura 5.20: Distribuição triangular de carga em grampo com fibras...........................106
Figura 5.21: Distribuição uniforme de carga ao longo do grampo com fibras .............107
Anexo 1
Figura A 1: Mapa de locação dos furos de sondagem com identificação das áreas
utilizadas para os ensaios de arrancamento..............................................116
Figura A 2: Boletim de sondagem típico da área experimental....................................118
Anexo 2
Anexo 3
xii
LISTA DE TABELAS
Capítulo 3
Capítulo 4
Tabela 4.1: Características dos corpos de prova para ensaios de compressão uniaxial..67
Tabela 4.2: Resultados dos ensaios de compressão uniaxial dos corpos de prova .........71
Tabela 4.3: Resistência à tração indireta da nata de cimento e argamassa com fibras....77
Capítulo 5
xiii
LISTA DE SÍMBOLOS
xiv
t: Espessura do corpo de prova para o ensaio de compressão diametral
δm: Deslocamento do grampo correspondente à carga de ruptura
δres.: Deslocamento do grampo correspondente à carga residual
ν: Coeficiente de Poisson
σp: Resistência de pico do material (tração ou compressão)
σc/σcmáx: Resistência à compressão uniaxial
σcres.: Resistência residual para o corpo de prova no ensaio de compressão uniaxial
σt,b: Resistência à tração indireta (Ensaio Brasileiro)
xv
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
______________________________________________________________________
A estabilização de taludes e encostas tem sido ao longo dos anos motivo de grande
preocupação para a comunidade geotécnica. Visto que os prejuízos e perdas causados
com a deflagração de movimentos de massa, não raras vezes, são de valor incalculável,
várias metodologias de análise têm sido propostas com o objetivo de avaliar o risco
potencial dos taludes e propor soluções de contenção ou reforço.
Com este objetivo, técnicas que prevêem o emprego de materiais alternativos têm
sido estudadas nos centros de pesquisa tendo em vista a economia de recursos advinda
da utilização de novos materiais quando comparados aos materiais convencionais.
Uma das técnicas que tem merecido grande atenção, não apenas na geotecnia, mas
também em outros ramos da engenharia, é o reforço através da inclusão de fibras
naturais ou sintéticas.
Esta técnica de reforço já vem sendo utilizada há muito tempo pela humanidade,
como por exemplo, a utilização de fibras vegetais e mantas de raízes como elementos de
reforço nos Zigurates, na Muralha da China, entre outras construções antigas. Mais
recentemente porém, a técnica ganhou novo impulso a partir do avanço da engenharia e
ciência de novos materiais poliméricos.
1
Quando inseridas no solo ou em qualquer outro material, como o concreto, as fibras
são responsáveis por uma melhoria significativa nas propriedades mecânicas destes
materiais, podendo-se citar, por exemplo, o aumento da resistência à compressão
simples, tanto de pico quanto residual, ductilidade e tenacidade do material, entre
outras.
Para cumprir tal objetivo, um amplo programa experimental foi elaborado para se
determinar as características de resistência e deformabilidade dos grampos não
convencionais. Este programa experimental contemplou a realização de ensaios de
campo e laboratório.
2
• Determinar e comparar a resistência ao arrancamento dos grampos
convencionais e não convencionais;
• Estudar o comportamento carga-deslocamento do grampo reforçado com
fibras de polipropileno;
• Comparar o comportamento carga-deslocamento do grampo com fibras com
o do grampo convencional;
• Estudar o mecanismo de transferência de carga ao longo do grampo
reforçado com fibras de polipropileno;
• Avaliar a influência do tipo de solo atravessado pelos grampos na
resistência de arrancamento.
3
No Capítulo 4 são descritos os procedimentos experimentais da pesquisa para os
ensaios de laboratório. São apresentados os procedimentos empregados para a
instrumentação dos corpos de prova e os métodos de ensaios de compressão uniaxial e
diametral. Ao final do Capítulo, são apresentados e analisados os resultados dos ensaios
de laboratório executados nos corpos de prova moldados com e sem fibras de
polipropileno.
4
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
______________________________________________________________________
Neste capítulo é feita uma revisão da bibliografia que trata dos assuntos de interesse
da presente pesquisa. Ele se encontra dividido em três partes principais. Na primeira
parte, são introduzidos alguns conceitos básicos que possibilitam uma melhor
compreensão do trabalho.
A segunda parte inicia-se com um breve histórico sobre o surgimento dos sistemas
de contenção do tipo solo grampeado como alternativa frente aos sistemas
convencionais de contenção de taludes e encostas, relatando-se casos de obras no Brasil
e no exterior. Os conceitos e condições relacionados com a técnica, além das vantagens
e desvantagens, são apresentados de forma resumida.
5
2.1 – ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS
6
2.2.1 – BREVE HISTÓRICO DO USO DA TÉCNICA
Em 1945 foi desenvolvido o método NATM (New Austrian Tunneling Method) para
avanço de escavações de túneis em maciços rochosos. Sob efeito do peso e tensões
confinantes do maciço, uma cavidade apresenta deformações, as quais são responsáveis
pela conseqüente redução de seu diâmetro. Na circunvizinhança desta cavidade e no
interior do maciço, desenvolve-se uma zona de plastificação do material.
O revestimento assim executado fica, portanto, sujeito a cargas mais reduzidas, uma
vez que o procedimento construtivo oferece maior liberdade ao maciço para se deformar
até que os elementos de reforço sejam instalados.
Em 1972, na França, a ontenção foi utilizada pela primeira vez com o nome de sol
cloué. A empresa Bouygues, em consórcio com a empresa Soletanche, aplicou a técnica
7
de solo grampeado para um talude ferroviário próximo à cidade de Versailles. Os
maciços constituídos por arenitos apresentavam inclinações da ordem de 70o.
Várias obras foram executadas e a técnica se popularizou entre as soluções para fins
de estabilização de taludes e escavações. Até o ano de 1986, cerca de 12.000 m2 haviam
sido estabilizados. Diversos programas de pesquisa foram desenvolvidos na França,
como os grupos CERMES da École National de Ponts et Chaussées e CEBTP (Centre
d'Études et de Recherches du Bâtiment et des Travaux Public), além de um programa
nacional de estudos denominado Programme Clouterre.
Nos Estados Unidos, o sistema foi empregado pela primeira vez em 1976 nas
escavações para construção de um Hospital em Portland, Oregon. Cerca de 10.000 m2
de contenções em solo grampeado com alturas de até 18 m haviam sido executadas
anteriormente no Canadá (ABRAMENTO et al., 1998).
8
concreto projetado e tela metálica com grampos para estabilizar taludes na área de
reservatório da Barragem de Xavantes (ABRAMENTO et al., 1998).
2.2.2 – CONCEITO
9
Este sistema de contenção é composto por elementos de reforço constituídos por
inclusões semi-rígidas (chumbadores) em um maciço de solo/rocha em corte em
associação à aplicação de um revestimento na face do talude, o qual pode ser, por
exemplo, o concreto projetado armado. Como qualquer sistema de contenção, conta
ainda com um sistema de drenagem superficial e profunda.
10
A altura máxima a escavar em cada etapa depende da resistência do material a ser
escavado e da inclinação da face acabada da estrutura. Segue-se daí a execução da
primeira linha de grampos e posterior revestimento da face com concreto projetado. No
caso de taludes já escavados ou encostas naturais, pode-se trabalhar de forma
descendente ou ascendente, conforme a conveniência (KOCHEN, 2003).
11
Como fluido de perfuração e limpeza do furo, podem ser utilizados água, ar ou
lama, tendo-se também a opção dos trados helicoidais contínuos. O sistema mais
comumente utilizado tem sido aquele onde a água é o fluido de perfuração.
12
As barras que constituem os elementos de reforço são geralmente dobradas a 90o em
sua extremidade, podendo alternativamente receber placa metálica, rosca e porca, se
uma carga inicial for aplicada. Neste caso, deve-se prever um trecho não aderido ao
solo, denominado trecho livre (ABRAMENTO et al., 1998).
Em seguida à etapa de instalação das barras, é feita uma primeira injeção de calda de
cimento para dentro da perfuração, a qual recebe o nome de "bainha". PITTA et al.
(2003) comentam que o fator água/cimento para esta mistura varia em torno de 0,50 a
0,70. ZIRLIS et al. (1999) definem a bainha como sendo a fase inicial de injeção onde
se pretende recompor a cavidade escavada.
A calda pode ser otimizada com o uso de aditivos, como os expansores de calda de
cimento, que evitam a retração, garantindo o preenchimento total e contínuo da
cavidade. GEORIO (2000) afirma que o valor do atrito lateral unitário obtido através
desta adição atinge valores razoavelmente elevados em solos compactos ou rijos.
Qualquer fluido cimentante pode ser utilizado, sendo típicas as injeções com calda
de cimento ou resinas. Em casos de contenção em maciços de solo é comum a utilização
de caldas com elevado teor de cimento, ficando as resinas para o caso de reforço de
materiais rochosos.
Para instalação dos grampos, pode-se realizar a injeção de calda de cimento após a
introdução da barra no talude. Como alternativa, primeiramente é feito o preenchimento
do furo com material cimentante e em seguida, a barra é inserida.
13
Em casos, onde se deseja um aumento na aderência lateral solo-calda é feita uma
segunda injeção (reinjeção) após um período de tempo total mínimo de 12 horas da fase
de injeção inicial (ZIRLIS et al., 1999).
Esta reinjeção é realizada com a calda sob pressão por meio de tubo de injeção
perdido, fixado junto ao chumbador. Nesta fase de reinjeção, é possível controlar a
quantidade de calda de cimento injetada, medindo-se a pressão de injeção e o volume de
calda injetado (PITTA et al., 2003).
A armação da face, caso seja revestida por concreto projetado, pode ser feita com
armação convencional, tela eletrossoldada de aço ou fibras (ZIRLIS et al., 1999).
14
fibras. Tais concretos constituem-se em materiais mais homogêneos com maior
resistência à tração, ductilidade e resistência à corrosão.
A utilização de concreto reforçado com fibras para compor a face dos taludes
apresenta as seguintes vantagens: rapidez de execução devido à eliminação da etapa de
colocação da tela, redução de volume de concreto projetado devido à redução nas perdas
por reflexão e melhor controle sobre a espessura da camada (GEORIO, 2000).
O concreto que irá compor a face do talude é pressurizado por meio de equipamento
especial. O concreto contém, em sua composição, areia média, pedrisco, cimento e água
e desta forma é conduzido por mangotes até o bico de projeção.
O jateamento do concreto pode ser feito de duas maneiras: via seca ou via úmida.
Segundo ZIRLIS et al. (1999), a diferença básica entre os dois métodos está no preparo
e condução dos materiais componentes do concreto. Na via seca, os componentes
sólidos do concreto são misturados sem adição de água. A adição de água (umidificação
do concreto) se dá junto ao bico de projeção, instantes antes da aplicação. Na via úmida,
o concreto é misturado com todos os seus componentes e deste modo é conduzido
através dos mangotes até o local de aplicação.
O jateamento por via seca é mais usado nas obras devido à sua maior praticidade,
não havendo, entretanto, qualquer objeção à utilização do jateamento por via úmida.
ABRAMENTO et al. (1998) afirmam que a elevada energia que a mistura fica
submetida por ocasião de sua projeção promove boas condições de compactação do
concreto colaborando para sua alta resistência, bem como para o adensamento da capa
superficial do solo.
15
Com relação à drenagem destas estruturas, a boa prática recomenda a execução de
sistemas de drenagem profunda e de superfície.
16
Figura 2.4: Detalhe do dreno tipo barbacã (ABRAMENTO et al., 1998).
17
2.2.3 – APLICAÇÕES
Para que esta técnica possa ser aplicada com sucesso, é necessário que o material a
ser escavado e reforçado com grampos apresente uma resistência ao cisalhamento não
drenada de no mínimo 10 kPa (ORTIGÃO e PALMEIRA, 1992). Os autores
argumentam que uma resistência ao cisalhamento desta ordem de grandeza pode ser
observada na maioria dos solos arenosos e argilosos, até mesmo em areias úmidas.
Apesar destes solos não possuírem uma cimentação natural, pode-se contar com este
valor de resistência devido às tensões de sucção (coesão aparente) que se desenvolvem
formando um arranjo mais estável por conta do efeito de capilaridade.
Apenas em taludes formados por camadas de areias secas e sem cimentação natural,
bem como por solos argilosos de baixa consistência (argilas muito moles a moles), este
tipo de contenção não se configura como uma solução tecnicamente viável.
18
• Facilidade de adaptação a geometrias distintas, acomodando-se à forma do
maciço existente, o que contribui para a redução do volume das escavações e
maior estabilidade da obra;
• Mobilização da carga dos grampos para deslocamentos relativamente
pequenos;
• Avanço contínuo dos trabalhos, não necessitando de paralisações para
aguardar cura, ensaios e protensão das ancoragens (comuns em cortinas
ancoradas);
• Face estruturalmente mais leve devido ao baixo nível de carga suportado
pelos grampos quando comparado ao sistema de cortina atirantada;
• Possibilidade de ajuste do projeto, mesmo após iniciadas as escavações;
• Emprego para taludes verticais, caso não haja restrição de movimentações na
crista.
19
2.3.1 – CARACTERÍSTICAS
Quando o diâmetro da barra for maior que 20 mm, não é usual dobrá-la, recorrendo-
se portanto, a um sistema de placa e porca.
Figura 2.6: Detalhe do grampo convencional e suas partes constituintes (ZIRLIS et al.,
1999).
Segundo ZIRLIS et al. (1999), a calda de cimento utilizada para injeção da bainha e
posterior reinjeção é constituída por uma mistura de cimento e água dispostos de
maneira a satisfazer um fator água/cimento em peso aproximadamente igual a 0,50.
20
Aditivos plastificantes podem ser utilizados com o objetivo de produzir misturas que
apresentem uma trabalhabilidade adequada com redução do fator água/cimento.
2.3.2 – COMPORTAMENTO
O grampo, uma vez instalado no talude a ser reforçado, tem como função “costurar”
a zona potencialmente instável (zona ativa), delimitada pela superfície crítica de
deslizamento, e a zona estável (zona passiva), onde o material não apresenta
movimentações significativas.
Os grampos também são projetados para suportar esforços do tipo flexão composta.
No caso de estruturas de solo grampeado, as solicitações a que os grampos ficam
submetidos no campo são de natureza trativa e de cisalhamento.
21
2.4 – CONCRETO REFORÇADO COM FIBRA
Existe atualmente no mercado uma grande variedade de fibras que podem ser
utilizadas para reforço de materiais compósitos. Elas diferem entre si pela composição
física e química, propriedades mecânicas e resistência quando expostas a meios
agressivos (VENDRUSCOLO, 2003).
Estas fibras podem ser divididas em quatro grandes grupos: naturais, poliméricas,
minerais e metálicas.
Fibras Naturais
22
como as fibras de bambu, cuja resistência geralmente supera valores de 100 MPa e com
módulo de elasticidade situado entre 10 e 25 GPa.
Fibras Poliméricas
As fibras poliméricas são aquelas cujo emprego para fins de reforço de solos talvez
seja o mais promissor. Os polímeros, dependendo de sua estrutura química, apresentam
comportamentos diferentes, dando origem a diferentes tipos de fibras.
23
As fibras de polipropileno possuem resistência à tração de aproximadamente 400
MPa e elevada resistência ao ataque de substâncias químicas e álcalis. Fibras de
polipropileno foram utilizadas para reforço da matriz cimentante na presente pesquisa.
24
resistências e módulos de elasticidade podem ser alcançados, como é o caso das fibras
do tipo Kevlar.
Existe no mercado a fibra Kevlar 29, cuja resistência à tração é da ordem de 3 GPa e
módulo de elasticidade intermediário de aproximadamente 64 GPa. Há também a fibra
Kevlar 49, que apresenta a mesma resistência mecânica e módulo de elasticidade mais
elevado (300 GPa).
Fibras Minerais
A família das fibras minerais é composta por fibras de carbono, vidro e amianto,
cujas características mais relevantes são descritas a seguir.
São materiais cujas propriedades são função da resistência das ligações entre os
átomos de carbono e do peso atômico reduzido dos mesmos. As fibras de carbono têm
diâmetros variando na ordem de 5 a 10 µm e são formadas por agrupamentos que
chegam a conter até 20.000 filamentos. Estas fibras podem ser divididas em duas
categorias principais: fibras de alta resistência e fibras de alta rigidez. As fibras de alta
resistência possuem resistência à tração de aproximadamente 2,4 GPa e módulo de
elasticidade de 240 GPa, enquanto as fibras de alta rigidez apresentam resistência à
tração da ordem de 2,1 GPa e módulo de elasticidade de 420 GPa.
25
(iii) Fibras de Amianto:
Fibras Metálicas
Dentre a família das fibras metálicas, as mais comuns são as fibras de aço. Seu
formato pode ser bastante variável, com o objetivo de aumentar a aderência com a
matriz cimentante.
26
2.4.2 - APLICAÇÕES
O concreto reforçado com fibras pode ser utilizado em diversos tipos de obras,
destacando-se o reforço de base de fundações superficiais, reforço de pavimentos
industriais e revestimento de túneis e concreto projetado de face de talude.
27
Reforço de Pavimentos Industriais
28
Revestimento de Túneis
Esta técnica apresenta inúmeras vantagens, se comparada com o reforço com tela
metálica:
29
menor reflexão do concreto devido à ausência de tela metálica e uma maior
homogeneidade do material.
Ao contrário dos países desenvolvidos, que já fazem uso da fibra de aço como
reforço do concreto projetado, mesmo sem haver um consenso geral tanto a nível de
projeto quanto a nível de controle, não havia desde o início da década de 90, registro de
sua aplicação no Brasil.
Um dos fatores que inibiu tal utilização, segundo FOÁ e ASSIS (2002), foi um
comportamento mais conservador adotado pelos projetistas e construtores brasileiros.
Isto se deve porque a construção de túneis pelo método NATM foi feita em São Paulo,
onde o solo exige um baixo período de tempo para que o revestimento primário
apresente resistência suficiente para suportar os deslocamentos do maciço. Deste modo,
os construtores exigiam que a fibra apresentasse uma certa equivalência à tela metálica,
como elemento de reforço.
Outro fator que restringe a aplicação de fibras no Brasil está no fato de ser recente o
seu uso como elemento de reforço para peças moldadas por concreto. As fibras
nacionais eram basicamente subprodutos. Elas produziam baixo desempenho pós-
fissuração ou dificultavam a mistura e a aplicação, provocando entupimentos nos
equipamentos.
Vale dizer que é necessário haver uma grande compatibilidade entre a fibra e a
matriz para que se possa esperar uma durabilidade satisfatória do conjunto. Isto não
ocorre no caso do reforço de matrizes cimentíceas com fibras de vidro, devido à sua
deterioração por parte dos álcalis presentes no cimento.
30
Além das fibras de aço, também são aplicadas fibras de origem vegetal, como a
palha, sisal, casca de coco e celulose. Estas fibras, porém, têm sua durabilidade
comprometida quando aplicadas em meios alcalinos, como é o caso de matrizes
cimentíceas.
Um compósito que tem sido muito aplicado nos últimos anos, inclusive no Brasil,
são as argamassas e concretos reforçados com fibras sintéticas (polipropileno e nylon).
Uma grande melhoria no que diz respeito ao controle de fissuração por retração
plástica foi verificado em compósitos reforçados com fibras desta natureza para
argamassas de reparo, onde o baixo módulo de elasticidade das fibras é suficiente para
inibir a propagação das fissuras.
Outras Aplicações
31
2.4.3 – COMPORTAMENTO DO MATERIAL COMPÓSITO
Para que uma fibra possa ser considerada adequada para reforço de um material
compósito, algumas características devem ser consideradas relevantes: a fibra deve ser
quimicamente neutra e não deteriorável, não deve sofrer ataque de fungos, bactérias ou
álcalis, além de apresentar características físicas e mecânicas adequadas.
32
• Aderência entre a fibra e a matriz: A aderência entre a matriz e o reforço é
o fator fundamental que governa as características de resistência, deformação
e modo de ruptura de uma grande variedade de materiais compósitos à base
de cimento. Uma alta aderência provoca a redução no tamanho das fissuras e
amplia a distribuição destas fissuras pelo compósito;
• Resistência da fibra: Com o aumento da resistência das fibras, aumenta
também a ductilidade dos compósitos, desde que não ocorra o rompimento
das ligações de aderência fibra/matriz. A resistência da fibra depende na
prática das características pós-fissuração desejadas para o material, bem
como do teor de fibra e da aderência fibra/matriz;
• Deformabilidade da fibra: A ductilidade do compósito pode ser aumentada
através da utilização de fibras que apresentam maior deformação até a
ruptura. Isto se deve ao fato de compósitos reforçados com fibras com alto
grau de deformabilidade consumirem energia sob a forma de alongamento da
fibra;
• Compatibilidade entre a fibra e a matriz: A compatibilidade física e
química entre a fibra e a matriz é muito importante. A curto prazo, as fibras
que absorvem água podem provocar perda de trabalhabilidade do concreto e
provocar variações de volume que, por sua vez, podem comprometer a
aderência com a matriz. A longo prazo, observa-se que alguns tipos de fibras
poliméricas não possuem estabilidade química frente à presença de álcalis
nos materiais constituídos por cimento Portland. Neste caso, pode ocorrer
uma rápida deterioração da fibra com perda significativa de suas
propriedades;
• Comprimento da fibra: Quanto menor o comprimento das fibras, maior é a
possibilidade de elas serem arrancadas, devido a um menor comprimento de
ancoragem na matriz. Para garantir um melhor desempenho da fibra, o
comprimento deve ser suficiente para que, a partir de uma dada tensão de
cisalhamento aplicada à fibra, possa ser gerada uma tensão de tração igual à
resistência à tração da fibra.
33
Para que se tenha uma compreensão real do comportamento mecânico de
compósitos reforçados com fibras, há que se considerar também o diâmetro, o qual
influencia a capacidade da fibra em resistir às tensões de cisalhamento e tração.
A Figura 2.8 apresenta a disposição ideal da fibra em relação à fissura, onde fica
clara a importância da relação entre o comprimento da fibra e o diâmetro (l/d).
34
Para cada tipo e aplicação de fibra existe um teor que promove um maior acréscimo
nas propriedades desejadas para o compósito. Um dos fatores que contribui para um
bom desempenho do material compósito fibroso é o número de fibras por metro cúbico
de concreto. Este número varia muito em função do diâmetro e da densidade da fibra.
35
Os reforços com fibras deformáveis (fibras de polipropileno) apresentam
comportamento distinto em relação às fibras rígidas. As fibras mais flexíveis têm
módulo de elasticidade menor se comparada à matriz e, nestes casos, elas não rompem.
Apesar de conferir algum ganho de resistência, o reforço com fibras desta natureza tem
como principal função aumentar a ductilidade do material compósito (MONTARDO et
al., 2001).
SPECHT et al. (2002) ainda relatam que é preciso pouca deformação para mobilizar
a resistência da fibra extensível. Também concluíram que a fibra do tipo inextensível
(fibras mais rígidas) contribui para um incremento na resistência de pico do material e
uma redução no nível de deformações do compósito até a ruptura. Quanto à tenacidade,
foi constatado um ligeiro aumento na capacidade de absorção de energia proporcional
ao comprimento da fibra.
De acordo com DONATO et al. (2004), com a ruptura da matriz cimentada, grande
parte das cargas passam a ser resistidas pelas fibras, reduzindo drasticamente a queda de
resistência pós-pico conferindo, conseqüentemente, um caráter mais dúctil ao
comportamento tensão-deformação do material compósito.
36
MONTARDO et al. (2001) relatam que compósitos reforçados com fibras mais
rígidas podem apresentar ganhos de resistência mecânica, porém podem ocorrer
rupturas catastróficas.
37
À medida que a matriz começa a fissurar com o aumento do carregamento, as fibras
que atravessam as fissuras, unindo os dois lados da mesma, funcionam como pontes
transferindo as tensões de um lado a outro (BANTHIA e SHENG, 1996).
Também foram ensaiados corpos de prova com diferentes idades a fim de se avaliar
a influência do tempo de cura no comportamento tensão-deformação do material. A
Figura 2.9 ilustra os resultados obtidos para amostras reforçadas com fibras de
polipropileno de 51 mm de comprimento e título de 12.000 denier para 30, 90 e 190 dias
de cura (HUGHES e FATTUHI, 1977). Os resultados mostram que, quanto maior for o
tempo decorrido desde a moldagem do corpo de prova até o instante do ensaio (tempo
de cura), maior é a resistência de pico do compósito e o índice de fragilidade.
38
Figura 2.9: Influência do tempo de cura na resistência à compressão do compósito
(adapt. de HUGHES e FATTUHI, 1977).
39
2.4.3.2 – RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
Desta forma, fibras mais rígidas desenvolvem maior resistência à tração para
menores níveis de deformação. Isto leva, conseqüentemente a um aumento na
resistência à tração do compósito.
SPECHT et al. (2002) citam que fibras mais flexíveis não são solicitadas a baixas
deformações devido à perda de aderência que surge com a quebra de nódulos de
cimentação entre a fibra e a matriz. Esta quebra promove uma redução na resistência à
tração do compósito, que é tanto maior quanto maior for o teor de fibra utilizado.
40
DONATO et al. (2004), através dos resultados de ensaios de compressão diametral
em amostras de concreto compactado com rolo (CCR) reforçadas e não reforçadas com
fibras de polipropileno, concluíram que a adição de fibras (teor de 0,5% em peso)
produz um incremento da ordem de 50% na resistência à tração do material.
• Possuem alta resistência aos álcalis presentes no cimento e são de baixo custo;
• Proporcionam uma ampla distribuição das fissuras ao longo da matriz, sugerindo
uma maior distribuição das tensões;
• Minimizam a fissuração que ocorre no estado plástico do concreto e nas primeiras
horas de endurecimento;
• Restringem as fissuras causadas por retração plástica do concreto, ou sua freqüência
e tamanho são reduzidos;
• Controlam a abertura de fissuras que venham a surgir dentro da matriz;
41
• Diminuem a incidência de fissuras de assentamento dos componentes sólidos
durante o fenômeno de exsudação do concreto;
• Aumentam a resistência à abrasão pelo controle da exsudação do concreto;
• Reduzem a reflexão do concreto projetado devido ao aumento da coesão.
42
CAPÍTULO 3 – ÁREA EXPERIMENTAL E MATERIAIS ESTUDADOS
______________________________________________________________________
A área experimental que serviu para a execução dos ensaios de campo está
localizada no município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma obra
para a implantação de um edifício residencial de apartamentos no bairro da Boa
Viagem.
Para executar este tipo de contenção, foi prevista a instalação de grampos com
barras de aço de diâmetro igual a 22 mm em furos de 75 mm de diâmetro, a execução
43
do paramento da estrutura em concreto projetado com fck igual a 20 MPa, a construção
de sistema de drenagem composto por canaletas de concreto armado e por drenos do
tipo barbacã, e, por fim, a implantação de sistema de proteção superficial contra erosão
próximo à crista do talude.
A geologia desta área é marcada pela grande diversidade das rochas dentro de uma
faixa estreita de terreno, causada por um sistema de falhamentos de direção NE-SW,
intercalando gnaisse facoidal e kinzigito. A zona é extremamente fraturada, permitindo
assim uma intensa atividade intrusiva, com a formação de inúmeros diques de diabásio e
veios pegmatíticos que cortam as rochas em direções NE-SW e E-W preferencialmente
(GOMES SILVA, 2005).
44
O local escolhido para a realização dos ensaios de campo é marcado pela presença
de encosta com altura superior a 30 m e inclinação média da ordem de 30o. Ela
apresenta trechos subverticais (ravinamentos), revestidos por vegetação do tipo rasteira
e arbustiva, de pequeno a médio porte.
O cimento utilizado na mistura para preenchimento dos furos dos grampos do tipo
convencional é o cimento Portland do tipo CP-II-E-32RS (cimento composto com
45
escória e resistente aos sulfatos) da marca NASSAU. Este cimento tem peso específico
da ordem de 12,0 kN/m3 e é comercializado no mercado em sacos de 50 kg.
A água utilizada nas misturas para os grampos convencionais foi obtida no próprio
canteiro e retirada de uma das caixas d’água que serviam à obra.
Este produto, tal como a água, já vinha sendo utilizado na obra e por isto foi
selecionado para moldar os grampos convencionais, bem como preparar as misturas da
etapa de reinjeção.
As barras de aço dos grampos moldados em campo são barras de aço CA75
nervuradas, de diâmetro externo nominal igual a 22 mm (7/8”) da marca INCOTEP.
Conforme informações do fabricante, as barras de aço possuem as seguintes
propriedades: seção efetiva de 314 mm2, tensão limite de escoamento do aço igual a 660
MPa, tensão limite de resistência igual a 800 MPa e cargas de escoamento e ruptura
iguais a 207 e 251 kN, respectivamente.
46
3.2.2 – GRAMPO COM FIBRAS DE POLIPROPILENO
Esta areia possui um peso específico de 18,3 kN/m3 e densidade real dos grãos Gs
média igual a 2,63. A areia apresenta granulometria de média a grossa e é isenta de
finos, mica e matéria orgânica. Estas propriedades foram obtidas a partir de ensaios de
caracterização realizados segundo a norma brasileira NBR 7181/84 da ABNT nas
dependências do Laboratório de Geotecnia da COPPE/UFRJ. A Figura 3.1 apresenta a
curva granulométrica da areia utilizada nas misturas.
Figura 3.1: Curva granulométrica da areia utilizada na argamassa do grampo com fibras.
47
As fibras de polipropileno utilizadas nesta pesquisa foram fornecidas pela empresa
Ober S.A. São fibras com cerca de 30 mm de comprimento e 0,018 mm de diâmetro
nominal (Figura 3.2). A Tabela 3.1 resume as propriedades das fibras de polipropileno.
48
Estes ensaios tiveram por objetivo determinar e comparar as cargas de arrancamento
de grampos convencionais e com fibras moldados in situ para cada bateria, bem como
estudar o comportamento da resistência ao arrancamento qs em função dos
deslocamentos. Além disso, procurou-se também avaliar a distribuição de tensões ao
longo dos grampos através da investigação do padrão de fissuramento observado na
exumação dos grampos, após os ensaios de arrancamento.
Para cumprir tais objetivos, esta fase de campo compreendeu a execução das
seguintes atividades para cada bateria de ensaios de arrancamento:
49
A idéia inicial para a presente pesquisa era a de estudar a viabilidade do emprego de
grampos não convencionais reforçados com fibras de aço, de polipropileno e de bambu.
A utilização de reforço dos grampos com fibras de bambu foi descartada logo de início
devido à fibra confeccionada a partir deste material não se encontrar disponível no
mercado. O custo destas fibras não seria, portanto, competitivo se comparado às outras
fibras citadas.
Antes das duas baterias de ensaios de arrancamento que são analisadas nesta
dissertação, procedeu-se uma bateria preliminar de ensaios que foi feita durante a fase
inicial dos trabalhos da obra. O objetivo destes ensaios preliminares, realizados em uma
elevação mais próxima à crista do talude foi estudar o comportamento de grampos não
convencionais quando inseridos em material de natureza mais terrosa, já que as
investigações geotécnicas realizadas no local acusaram a presença de camadas de solos
residuais jovens (saprolitos) de gnaisse e maduros mais próximos à crista do talude,
conforme apresentado no item 3.1. Além disto, esta bateria preliminar de ensaios
objetivou avaliar as técnicas de mistura e injeção da calda de cimento com fibras de
polipropileno e de aço.
50
Outras duas baterias de ensaio com grampos com fibras de polipropileno foram
então programadas em cotas inferiores, mais próximas ao nível da rua. Para estas duas
novas baterias, segue-se a descrição das atividades de campo que possibilitaram a
execução dos ensaios.
O local escolhido para a realização dos ensaios da primeira bateria foi uma face
lateral do talude a ser reforçado. Para a segunda bateria de ensaios, o local escolhido foi
um talude remanescente da escavação que vinha sendo feita na face frontal do talude e
distante do paramento da estrutura em solo grampeado. Com isto, portanto, também não
houve qualquer interferência dos ensaios nos trabalhos pertinentes à obra.
A altura dos furos em relação à base dos taludes nas bancadas onde os grampos
seriam inseridos foi escolhida igual a 1 m, de maneira a facilitar a montagem e execução
dos ensaios de arrancamento.
51
Figura 3.3: Detalhe da etapa de execução do furo para execução do grampo no talude.
Em cada bateria de ensaio, foram executadas seis perfurações ao todo, sendo que
todos os furos se encontravam à mesma altura e dispostos em linha. As Figuras 3.4 e 3.5
mostram esquematicamente a disposição de cada um dos grampos para as baterias 1 e 2,
respectivamente. A Figura 3.6 ilustra a face do talude preparado para a execução dos
grampos da bateria 2.
52
Figura 3.6: Face do talude com os furos dos grampos – Bateria 2.
À medida que o furo era executado, o material recolhido na perfuração era analisado
a fim de que se pudesse classificar o tipo de solo circunvizinho aos grampos.
53
Figura 3.7: Misturador manual utilizado em campo.
Os traços adotados para as misturas sem fibras (grampo convencional) e com fibras
de polipropileno estão resumidos na Tabela 3.2.
Além do traço ótimo da mistura com fibras, nesta pesquisa também estudou-se a
seqüência mais adequada para lançamento dos materiais no misturador manual.
54
Ressalta-se que o lançamento indiscriminado pode resultar em misturas heterogêneas
com concentração de fibras no fundo do misturador. Esta seqüência é apresentada na
Tabela 3.3, com a porcentagem lançada em relação à quantidade total de cada material
do grampo com fibras.
Tabela 3.3: Seqüência específica de lançamento dos materiais dos grampos com e sem
fibras.
% em Relação ao total de
Quantidade Cada
Etapa Material Unidade Material
Grampos Grampos
Polipropileno Convencional Polipropileno Convencional
1 Água m 3
0,045 0,095 34,6 97,4
2 Cimento sacos 2 3 50,0 100,0
3 Areia kg 7 - 35,0 -
4 Água m 3
0,040 - 30,8 -
5 Fibra kg 0,400 - 40,0 -
6 Areia kg 7 - 35,0 -
7 Cimento sacos 1 - 25,0 -
8 Água m 3
0,040 - 30,8 -
9 Cimento sacos 1 - 25,0 -
Água c/
10 m3 0,005 0,0025 3,9 2,6
aditivo
11 Fibra kg 0,300 - 30,0 -
12 Areia kg 6 - 30,0 -
13 Fibra kg 0,300 - 30,0 -
Após esta etapa, tanto a argamassa reforçada com fibras de polipropileno quanto a
calda de cimento eram injetadas nos furos com o auxílio de um sistema contendo uma
bomba do tipo Hidrojet e um conjunto de tubos de PVC com diâmetro externo
ligeiramente inferior ao diâmetro do furo. Um detalhe da bomba usada na injeção das
misturas feitas na obra é apresentado na Figura 3.8.
55
Figura 3.8: Bomba do tipo Hidrojet utilizada para injeção dos grampos.
56
Além destes, a barra também contou com a presença de duas luvas para garantir a
mesma configuração adotada para o trecho com barra do grampo com fibras. As Figuras
3.9 e 3.10 ilustram o grampo convencional e o detalhe de posicionamento dos
espaçadores e luvas no trecho injetado, respectivamente.
57
As Figuras 3.11 e 3.12 ilustram o esquema do grampo com fibras e o detalhe do
comprimento ancorado, respectivamente.
Desta forma, os grampos com fibras podem ser divididos em partes, de acordo com
a presença de alguns de seus componentes (espuma e barra de aço). O grampo de
polipropileno foi assim dividido:
58
Figura 3.13: Sistema e reinjeção dos grampos.
Esta reinjeção utiliza apenas nata de cimento, isto é, cimento, água e aditivo nas
proporções iguais a 1:0,5:0,003, respectivamente. A reinjeção foi feita com o auxílio de
mangueiras de diâmetro igual a 10 mm, as quais eram fixadas às barras de aço. Depois
que a mangueira era presa à barra, abriam-se pequenos orifícios, os quais eram vedados
com fita crepe, ao longo das mesmas por onde extravazaria a nata de cimento para o
interior da perfuração. A Figura 3.14 mostra um detalhe das barras de aço com as
mangueiras de reinjeção, prontas para serem instaladas nos furos.
O objetivo desta reinjeção é preencher os vazios que possam ter se formado após a
primeira fase de injeção e aumentar o contato nata de cimento – solo, aumentando
conseqüentemente, a resistência ao arrancamento.
59
Figura 3.14: Barras de aço com espuma, espaçadores, luvas e mangueiras de reinjeção.
60
atividades que compreendem a preparação das superfícies laterais dos corpos de prova
para a colagem dos strain gages e os ensaios de compressão uniaxial e diametral.
Para tal, após a injeção das misturas para o interior das perfurações no canteiro, a
mistura remanescente que ainda se encontrava no misturador manual era despejada em
moldes de PVC, cortados em dimensões pré-estabelecidas, até preenchê-los por
completo. Os moldes de PVC foram cortados com a ajuda de equipamento elétrico de
corte tipo serra. Após serem cortados nas alturas especificadas, os moldes eram cortados
longitudinalmente, a fim de deixar um rasgo que facilitasse sua abertura durante o
desmolde.
Foram também moldados três corpos de prova (dois reforçados com fibras e um
convencional) com 150 mm de diâmetro e 300 mm de altura (relação H/D=2), com o
intuito de se verificar a influência das dimensões (efeito de escala) na resistência
mecânica do material compósito fibroso e da nata de cimento.
61
Figura 3.15: Detalhe dos corpos de prova para ensaios de laboratório moldados em
campo.
Devido à exposição destes corpos de prova à insolação, a retração foi elevada desde
o momento da moldagem no campo até a chegada ao laboratório, fato que inviabilizou
sua utilização para os ensaios. Além disso, a superfície destes corpos de prova se
mostrou muito irregular, o que exigiria um trabalho de retificação adicional para deixá-
los em condições de ensaio.
Devido a estes problemas, decidiu-se então fazer uma nova moldagem agora em
condições controladas em laboratório.
62
A mistura dos materiais foi realizada com o auxílio de um misturador elétrico, por
um período de tempo total de 2 minutos no intuito de assegurar que as fibras (no caso
das misturas com fibra) se espalhassem por todo o volume da mistura, e assim, pudesse
ser garantida a sua homogeneidade. Em seguida, procedeu-se à moldagem dos corpos de
prova.
Logo após a moldagem, os corpos de prova foram colocados sobre uma mesa
vibratória e submetidos à vibração por 1 minuto. Em seguida, foram armazenados em
câmara úmida para minimizar os efeitos de retração ao final do período de cura.
Ainda assim, como poderá ser visto mais adiante no Capítulo 4, os corpos de prova
apresentaram alguma retração. Como esta retração foi observada tanto nos corpos de
prova com fibra quanto nos corpos de prova sem a presença do reforço fibroso, ela pode
ser atribuída ao tipo e qualidade do cimento utilizado.
Foram moldados ao todo dez corpos de prova com a mistura sem fibras (cimento,
água e aditivo), sendo que quatro seriam cortados em discos para os ensaios de
compressão uniaxial. Para os corpos de prova moldados com a mistura reforçada por
fibras (cimento, água, areia, aditivo e fibra), foram moldados ao todo 19 corpos de
prova, sendo 14 para os ensaios de compressão uniaxial e o restante a ser cortado em
discos para os ensaios diametrais.
Foram cortados ao todo dois corpos de prova moldados a partir da mistura sem
fibras e cinco corpos de prova para a mistura com fibras. Como a altura era de, no
mínimo, 79 mm após a cura, foi possível obter três corpos de prova para os ensaios de
compressão diametral (25 mm de altura) de cada amostra de compressão uniaxial,
perfazendo um total de seis corpos de prova constituídos com a mistura sem fibras e
quinze corpos de prova formados a partir das misturas com fibras de polipropileno.
63
CAPÍTULO 4 – PROGRAMA EXPERIMENTAL DE LABORATÓRIO
______________________________________________________________________
indireta (st,b). Estes valores de resistência são analisados e comparados com àqueles
Um total de 6 corpos de prova com e sem fibras foi instrumentado com strain gages
para medição das deformações nas direções axial e radial nos ensaios de compressão
uniaxial.
64
Primeiramente, era necessário preparar a superfície do corpo de prova antes da
colagem do strain gage. Com este objetivo as seguintes atividades foram realizadas:
65
Figura 4.1: Sistema utilizado para os ensaios de compressão uniaxial.
Os ensaios dos corpos de prova moldados a partir das misturas com e sem fibras
foram precedidos por um ensaio de calibração, executado em um corpo de prova de
alumínio de dimensões iguais a 38,9mm de diâmetro e 77,8mm de altura (relação
H/D=2). Este corpo de prova foi instrumentado com quatro strain gages (dois na direção
axial e dois na direção radial). O objetivo deste ensaio era servir de calibração para os
demais.
66
Tabela 4.1: Características dos corpos de prova para ensaios de compressão uniaxial.
Altura
CP Final H/D ∆H Retração Observação
(mm) (mm) (%)
CC1 79 1,58 21 21,0 Não Instr.
CC2 83 1,66 17 17,0 Não Instr.
CC3 84 1,68 16 16,0 Instr.
CC4 83 1,66 17 17,0 Instr.
CF1 86 1,72 14 14,0 Instr.
CF2 84 1,68 16 16,0 Não Instr.
CF3 91 1,82 9 9,0 Instr.
CF4 86 1,72 14 14,0 Não Instr.
CF5 88 1,76 12 12,0 Instr.
CF6 86 1,72 14 14,0 Instr.
CF7 86 1,72 14 14,0 Não Instr.
CF8 87 1,74 13 13,0 Não Instr.
CF9 280 1,87 20 6,7 Não Instr.
CF10 270 1,80 30 10,0 Não Instr.
Obs.:
CC: nata de cimento Instr.: Instrumentado
CF: argamassa com fibras Não Instr.: Não Instrumentado
67
4.2 – ENSAIOS DE COMPRESSÃO DIAMETRAL EM LABORATÓRIO
Foram ensaiados 15 corpos de prova moldados com a mistura com fibras (TF1 ao
TF15) e 6 corpos de prova constituídos pela mistura de cimento, água e aditivo sem
fibras (TC1 ao TC6).
68
Figura 4.2: Sistema do ensaio de compressão diametral.
69
Também são apresentados e discutidos os resultados de resistência à tração indireta
σt,b obtidos a partir de uma série de ensaios de compressão diametral (Ensaio Brasileiro)
realizados para os corpos de prova com e sem fibras.
70
60
50
Argamassa com
Fibras
40
Carga (kN )
30
20
N ata de
C imento
10
0
0.000 0.500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500
Figura 4.3: Curvas carga-deslocamento típicas dos corpos de prova com e sem fibras de
polipropileno.
Tabela 4.2: Resultados dos ensaios de compressão uniaxial dos corpos de prova.
71
Pode-se visualizar através da Tabela 4.2, que a resistência à compressão uniaxial dos
corpos de prova é influenciada pela presença das fibras. Os valores de resistência dos
corpos de prova moldados com nata de cimento se mostraram muito próximos entre si e
variaram entre 9,64 e 11,11 MPa. O valor médio de resistência para este material é igual
a 10,70 MPa.
A resistência residual dos corpos de prova foi adotada igual ao valor correspondente
a 50% do deslocamento total medido no estado pós-pico. A Tabela 4.2 apresenta os
valores calculados.
72
Analisando os corpos de prova com fibras, pode-se observar da Tabela 4.2 que os
valores de resistência residual foram superiores aos encontrados para os corpos de prova
de nata de cimento. Estes valores variaram entre 9,14 e 16,60 MPa. O valor médio de
resistência residual é igual a 9,60 MPa. O cálculo deste valor médio desconsiderou os
valores encontrados para os corpos de prova CF3, CF7 e CF8.
Observa-se das curvas carga-deslocamento dos corpos de prova com fibras (Figura
4.3 e Anexo 3), que, de maneira geral, após ter sido atingida a condição de resistência
de pico, há uma queda significativa de resistência com a deformação do corpo de prova,
sem que um patamar de estabilização da carga/tensão com os
deslocamentos/deformações seja atingido.
73
Em relação à rigidez do material, a Tabela 4.2 apresenta os valores calculados para
os corpos de prova com e sem fibras de polipropileno. Estes valores foram determinados
a partir das curvas carga-deslocamento considerando os estados pré-pico (k1) e pós-pico
(k2).
Comparando os resultados obtidos dos corpos de prova com e sem fibras, pode-se
concluir que as misturas com fibras de polipropileno são mais rígidas em relação à nata
de cimento no estado pré-pico. Isto significa dizer que, nos estágios iniciais de carga
antes da ruptura do material, o material compósito fibroso apresenta uma deformação
menor em relação à calda de cimento para um mesmo intervalo de tensão aplicado ao
corpo de prova.
Análises feitas para a condição pós-pico dos materiais ensaiados demonstraram que
o valor de rigidez encontrado para a nata de cimento se situou entre 4,3 e 11,8 MN/m,
com valor médio de 5,3 MN/m, desconsiderando-se o valor de CC1.
A rigidez pós-pico calculada para os corpos de prova com fibras variou entre 1,4 e
11,6 MN/m. A exemplo do que foi observado para o estado pré-pico, também ocorreu
grande dispersão nos resultados obtidos para o material compósito fibroso. O valor
médio calculado para este material é igual a 2,7 MN/m, desconsiderando-se os corpos
de prova CF3, CF7 e CF8.
74
Comparando as rigidezes pós-pico calculadas para as duas misturas, pode-se
concluir que a argamassa com fibras de polipropileno apresentou valores cerca de 51%
inferiores aos dos corpos de prova de nata de cimento.
A menor rigidez pós-pico da mistura com fibras novamente confirma o papel das
fibras em conferir à matriz reforçada uma maior ductilidade e melhorar as
características de comportamento pós-pico do material.
Os valores de módulo de elasticidade variaram entre 1,77 e 3,13 GPa para os corpos
de prova de nata de cimento e 2,17 e 5,95 GPa para as misturas com fibras de
polipropileno.
O valor médio para os corpos de prova de nata de cimento é igual a 2,62 GPa. Este
valor foi obtido desconsiderando o corpo de prova CC3. O valor médio do módulo de
elasticidade da mistura com fibras é igual a 3,53 GPa, desconsiderando os valores dos
corpos de prova CF3 e CF4.
75
Comparando os valores obtidos, pode-se observar um acréscimo no valor do módulo
de elasticidade das misturas com fibras. Em média, o módulo de elasticidade para estes
compósitos foi cerca de 35% maior que o dos corpos de prova de nata de cimento.
A Figura 4.4 mostra as curvas carga-deslocamento típicas dos corpos de prova com
e sem fibras. O Anexo 3 apresenta todos os resultados obtidos dos ensaios de
compressão diametral.
A Tabela 4.3 apresenta os resultados de resistência à tração indireta σt,b obtidos dos
ensaios de compressão diametral executados nos corpos de prova com nata de cimento e
com argamassa com fibras.
3.50
3.00
Argamassa
com Fibras
2.50
2.00
Carga (kN )
N ata de
C imento
1.50
1.00
0.50
0.00
0.600 0.800 1.000 1.200 1.400 1.600 1.800 2.000
Figura 4.4: Curvas carga-deslocamento típicas das amostras com e sem fibras em
compressão diametral.
76
Tabela 4.3: Resistência à tração indireta da nata de cimento e argamassa com fibras.
CP Fmáx σt,b
(kN) (MPa)
TC1 1,113 0,57
TC2 1,916 0,98
TC3 3,186 1,62
TC4 1,384 0,71
TC5 2,005 1,02
TC6 2,345 1,19
TF1 3,319 1,69
TF2 2,309 1,18
TF3 2,538 1,29
TF4 3,198 1,63
TF5 2,600 1,32
TF6 3,353 1,71
TF7 1,066 0,54
TF8 3,120 1,59
TF9 2,359 1,20
TF10 2,777 1,42
TF11 1,753 0,89
TF12 4,864 2,48
TF13 1,731 0,88
TF14 2,736 1,39
TF15 2,994 1,53
Os valores de resistência à tração dos corpos de prova com fibras variaram entre
0,54 e 2,48 MPa, com valor médio de 1,36 MPa. Os cálculos dos valores médios
desconsideraram os valores máximo e mínimo obtidos.
77
Estes resultados confirmam a eficiência das fibras em conferir maior resistência à
tração às matrizes cimentíceas.
78
CAPÍTULO 5 – PROGRAMA EXPERIMENTAL DE CAMPO
______________________________________________________________________
Segue-se uma comparação entre os resultados obtidos nas duas baterias de ensaio,
com o objetivo de quantificar a influência do material atravessado na resistência ao
arrancamento dos grampos ensaiados.
79
Cada bateria contou com um total de seis grampos, sendo que em cada uma delas,
um grampo era do tipo convencional e os demais eram reforçados com as fibras de
polipropileno. A Tabela 5.1 resume os grampos ensaiados em cada bateria e a respectiva
convenção adotada para denominação dos grampos.
A preparação e o acerto das superfícies dos taludes para se proceder à instalação dos
grampos foi feita com o auxílio de ferramentas como picaretas e enxadas. O objetivo
desta atividade era o de deixar as superfícies planas e retas o tanto quanto fosse
possível, a fim de que elas pudessem servir de apoio para as placas de reação do sistema
de arrancamento do grampo.
80
Antes do ensaio de arrancamento propriamente dito, procedeu-se à montagem de
todo um aparato necessário para a sua realização. A montagem era realizada no trecho
inicial das barras de aço com comprimento igual a 80 cm (externo ao talude). Este
comprimento foi assim definido, de forma a apoiar todo o sistema de arrancamento
composto por uma placa de aço de reação, macaco hidráulico, célula de carga, placas e
duas luvas. As Figuras 5.1 e 5.2 ilustram o esquema do sistema de arrancamento
adotado e a montagem típica para os ensaios dos grampos, respectivamente.
α = 10o
Figura 5.1: Esquema dos componentes para o ensaio de arrancamento dos grampos.
Este suporte do extensômetro era formado por uma haste nervurada de aço embutida
em um bloco de concreto e munida de duas luvas para a fixação de uma placa metálica
onde o extensômetro se apóia (Figuras 5.2 e 5.3). As luvas se encontram abaixo e acima
da placa, e possibilitam subir ou descer com a placa através da haste, permitindo um
melhor ajuste do extensômetro na placa de aço de referência para as medidas de
deslocamento do grampo.
81
Figura 5.2: Montagem típica dos ensaios de arrancamento dos grampos.
(a) (b)
82
Procurou-se ter o cuidado para que, na montagem de todo o aparato composto por
célula de carga, macaco e demais peças acessórias, ele ficasse o mais perpendicular
possível em relação ao eixo do grampo e que o extensômetro, depois de posicionado,
ficasse o mais paralelo possível em relação a este mesmo eixo.
Depois de tudo preparado para o ensaio, a célula de carga era ligada ao sistema de
aquisição de dados e o macaco era conectado à bomba. Após a estabilização do sistema
de aquisição, o valor da leitura inicial da célula de carga era anotado e começava-se
então o ensaio. Aplicava-se a carga ao grampo por meio do macaco hidráulico em
estágios com incrementos de tensão de 1 MPa. As medições de carga e deslocamentos
eram registradas através de célula de carga e extensômetro, respectivamente. Para cada
estágio de carregamento, monitorava-se a carga e deslocamento correspondentes aos
tempos de 0, 30, 60,120 e 240 s.
Com o término do ensaio, todo o esquema era desmontado e abria-se nova cava
abaixo do furo onde seria realizado o próximo ensaio. A partir daí, o extensômetro e seu
suporte eram posicionados e o macaco e a célula de carga eram novamente ligados à
bomba e ao sistema de aquisição de dados, respectivamente. Após a estabilização das
leituras no canal correspondente à célula de carga no sistema de aquisição de dados,
dava-se início a um novo ensaio.
83
5.2 – EXUMAÇÃO DOS GRAMPOS NO CAMPO
Primeiramente, era feita uma escavação mecânica com o auxílio de uma retro-
escavadeira CATTERPILLAR com capacidade de 320 litros, a fim de se obter mais
velocidade nesta atividade de escavação e descoberta dos grampos a serem exumados.
84
Na primeira bateria de ensaios, só foi possível exumar o grampo P11 (grampo
reforçado com fibras de polipropileno c/ cura de 7 dias) em virtude da impossibilidade
de se escavar a face lateral do talude reforçado com os grampos definitivos da obra.
Já na segunda bateria foi possível exumar todos os seis grampos ensaiados, uma vez
que foram executados em talude provisório de escavação, situado em frente à obra.
Tão logo o grampo ficava totalmente descoberto, eram colocados marcos a cada
metro de comprimento do mesmo. Estes marcos tinham por objetivo separar o grampo
em seções, possibilitando a contagem do número de fissuras existentes em cada seção e
a conseqüente definição do trecho do grampo onde as fibras estariam sendo mais
solicitadas.
Na etapa seguinte, o grampo era retirado e transportado até um local seguro, onde se
realizava novo levantamento das fissuras existentes em cada grampo, com a marcação
das distâncias entre fissuras ou entre uma determinada fissura e o início do trecho livre
do grampo (trecho envolto com a espuma).
85
5.3 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CAMPO
120
100
80 C11
P11
Carga (kN)
P12
60 P13
P14
40 P15
20
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
A Tabela 5.2 resume os valores das cargas das cargas de arrancamento (pico) Tm e
residual Tres obtidos a partir dos ensaios de arrancamento dos grampos.
Carga Deslocamento
Grampo Tm Tres. δm δres
(kN) (kN) (mm) (mm)
P11 56,5 56,5 53,8 53,8
P12 105,9 70,5 42,2 43,7
P13 46,5 46,1 70,1 81,8
P14 30,8 23,6 8,1 74,1
P15 49,7 49,7 51,1 51,1
C11 101,8 100,0 22,8 33,3
86
Na bateria 1, verifica-se que o grampo P12 apresentou a maior carga de
arrancamento (105,9 kN), enquanto o grampo P14 atingiu a menor carga (30,8 kN)
analisando-se apenas os grampos com fibras de polipropileno. Além disto, observa-se
que a curva carga-deslocamento do grampo P12 se assemelha à do grampo
convencional, ao contrário dos outros grampos (Figura 5.5).
O maior valor de carga de arrancamento verificado para o grampo P12 pode ser
explicado pelo contato da sua extremidade com o grampo P11. Este contato pôde ser
observado através da exumação do grampo P11. Na realidade, verificou-se que a
execução do furo do grampo P12 não obedeceu aos padrões de qualidade exigidos para
a realização das perfurações. Usualmente, a execução do furo é realizada com o auxílio
de um gabarito de madeira que minimiza as distorções dos ângulos de inclinação e
direção do furo. Infelizmente, o gabarito não foi utilizado durante a execução do furo
para o grampo P12, resultando em desvio inaceitável que promoveu a sua ancoragem no
grampo vizinho (P11). O valor de carga de arrancamento do grampo P12 não deve,
portanto, refletir a resistência real do sistema grampo-solo.
Por sua vez, o valor de carga de ruptura mais reduzido observado para o grampo P14
pode ser atribuído ao contato da camada de solo residual jovem com o solo residual
maduro observado justamente no local onde este grampo foi executado (Figura 5.6).
Figura 5.6: Vista frontal do grampo P14, no contato solo residual jovem – maduro.
87
O contato do grampo com materiais mais alterados pode promover uma redução no
valor da resistência ao arrancamento por unidade de comprimento do grampo (qs). Isto
explica, portanto, a baixa resistência do grampo P14 em relação aos demais grampos da
mesma bateria.
A carga de arrancamento atingida para o grampo convencional C11 foi igual a 101,8
kN. Comparando-se os valores dos grampos com fibras com o grampo convencional,
conclui-se que a carga de arrancamento média resistida pelos grampos reforçados com
fibras de polipropileno é igual a 47,2% da carga de arrancamento do grampo
convencional (Figura 5.7).
120.0
100.0
80.0
Tpico (kN)
60.0 101,8
47 2%
48 1
40.0
46,5 49,7
20.0
0.0
P13 P15 C11
Grampos - Bateria 1
88
Por sua vez, observa-se da Figura 5.5 e Tabela 5.2 que as cargas residuais variaram
entre 23,6 kN (grampo P14) e 70,5 kN (grampo P12). Os valores máximo e mínimo de
carga residual dos grampos P12 e P14 são consistentes com seus valores máximo e
mínimo de carga de arrancamento.
A carga residual média resistida pelos grampos com fibras situou-se entre 40 e 60
kN, enquanto a carga residual do grampo convencional C11 da mesma bateria foi
aproximadamente igual à de pico (100 kN).
Também pode ser notado que os grampos com fibras (excetuando o P14)
apresentaram em média deslocamentos de pico substancialmente maiores que o do
grampo convencional C11. Isto corrobora o comportamento mais frágil da nata de
cimento em relação à mistura com fibras de polipropileno. Além disto, sabe-se que a
barra de aço utilizada no grampo convencional é mais rígida que a nata de cimento.
Como o módulo de elasticidade do aço é mais elevado, resulta que o deslocamento total
do grampo convencional é menor que o das matrizes de cimento reforçadas com fibras
de polipropileno.
89
mais significativa apresentada pelo grampo P12 pode ser atribuída à ruptura da ligação
como o grampo P11 durante o ensaio de arrancamento.
250
200
C21
150 P21
Carga (kN)
P22
P23
100 P24
P25
50
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Carga Deslocamento
Grampo Tm Tres. δm δres
(kN) (kN) (mm) (mm)
P21 130,6 117,3 72,8 83,7
P22 151,1 151,1 78,6 78,6
P23 112,5 110,5 15,2 28,4
P24 93,0 93,0 17,1 17,1
P25 112,8 110,3 71,9 71,9
C21 206,5 205,8 22,6 36,5
Observa-se da Figura 5.8 que as curvas carga-deslocamento dos grampos com fibras
de polipropileno são semelhantes entre si e mostram comportamento mecânico muito
distinto do apresentado pelo grampo convencional.
90
Nesta bateria, pode ser observado que os valores máximo e mínimo das cargas de
arrancamento foram atingidos para os grampos P22 e P24, respectivamente.
A carga de arrancamento do grampo P22 foi igual à 151,1 kN e pode ser atribuída à
natureza do material atravessado por este grampo. A exumação dos grampos revelou a
ocorrência de pacotes de siltes areno-argilosos derivados de rochas do tipo quartzito e
pegmatito no local onde este grampo foi executado (Figura 5.9). O grampo P22
atravessa em grande parte do seu comprimento materiais menos alterados (solo residual
jovem), os quais oferecem uma maior oposição ao arrancamento do grampo,
aumentando consequentemente a resistência.
A carga de arrancamento do grampo P24 foi igual a 93,0 kN. Este valor também
pode ser explicado pela geologia local identificada após a exumação. Ao longo de
grande parte do comprimento do grampo encontra-se uma espessa camada de solo de
alteração de rocha (gnaisse calcissilicático), conforme ilustrado na Figura 5.10.
Material mais
alterado
91
O produto de alteração dessas rochas são solos menos competentes de natureza
síltico-arenosa e coloração branca. Este material mais alterado reduz a adesão e o atrito
ao redor do grampo, resultando em uma menor resistência ao arrancamento.
O valor médio da carga de arrancamento para os grampos com fibras nesta bateria
foi igual a 118,7 kN. O cálculo deste valor desconsiderou os valores máximo e mínimo
dos grampos com fibras P22 e P24. A carga de arrancamento do grampo convencional
C21 foi igual a 206,5 kN.
200.0
150.0
Tpico (kN)
57 5 206,5
11
100.0
50.0
0.0
P21 P23 P25 C21
Grampos - Bateria 2
92
As cargas de arrancamento dos grampos com fibras considerando toda a campanha
de ensaios de campo variaram em média entre 47% a 57% da carga resistida pelos
grampos convencionais, independente do tipo de solo. Este resultado era esperado, uma
vez que a barra de aço é um elemento mais rígido em comparação com a argamassa
reforçada com fibras.
Através da Figura 5.8 e com o auxílio da Tabela 5.3, pode-se observar que os
ensaios realizados nos grampos com fibras foram conduzidos além da condição de pico
até que se chegasse a um patamar de estabilização da carga residual.
As cargas residuais atingidas por estes grampos variaram em uma faixa de 110,3 kN
(grampo P25) a 117,3 kN (grampo P21). As diferenças entre cargas de pico e pós-pico
foram respectivamente iguais a 2,1 kN (1,83%) para o grampo P23 e 13,4 kN (10,22%)
para o grampo P21.
O grampo P21 apresentou a maior carga residual dentre todos os grampos com
fibras. Este valor é devido à maior carga de arrancamento apresentada por este grampo
em comparação aos grampos P23 e P25, bem como a qualidade dos materiais
atravessados por este grampo. A etapa de exumação mostrou a ocorrência de camadas
de um material silto-areno-argiloso no local onde este grampo foi executado (Figura
5.12). Este material é muito pouco alterado e preserva ainda as características da rocha
mãe. Desta forma, o material ofereceu uma maior oposição à tendência de arrancamento
do grampo, justificando o valor de carga de arrancamento atingido.
93
De forma análoga às cargas de arrancamento, as cargas residuais dos grampos P21,
P23 e P25 se mostraram muito semelhantes devido à similaridade dos tipos de solos
encontrados à partir da exumação. Inclusive, as cargas residuais obtidas a partir dos
ensaios realizados nos grampos P21 e P25 também foram atingidas para deslocamentos
muito próximos e da ordem de 70mm (Figura 5.8).
A similaridade dos materiais atravessados pelos grampos com fibras P21, P22 e P25
pode explicar a semelhança nos deslocamentos apresentados por estes grampos no pico.
A presença de materiais mais fracos (solos siltosos derivados de gnaisses
calcissilicáticos) nos locais onde foram executados os grampos P23 e P24 também
confirma os menores valores encontrados para estes reforços.
O deslocamento apresentado pelo grampo convencional C21 foi igual a 22,6 mm.
Como já observado na bateria 1, o grampo convencional atinge um menor nível de
deslocamento em comparação aos grampos reforçados com fibras de polipropileno,
devido à maior rigidez da barra de aço inserida dentro do sistema.
94
Durante a exumação, verificou-se também em todos os grampos exumados a
presença de uma trinca aberta na seção que delimita os trechos injetado com barra e sem
barra, distante 1,5 m da boca das perfurações.
Esta separação do grampo na junção dos dois trechos pode ser atribuída à diferença
de rigidez entre a nata de cimento com barra de aço e a argamassa reforçada com fibras
de polipropileno. A Tabela 5.4 mostra os comprimentos das trincas abertas medidos na
exumação e compara com os deslocamentos máximos medidos pelo extensômetro
durante os ensaios de arrancamento.
Tabela 5.4: Comparação entre abertura de trinca e deslocamentos máximos dos grampos
– Bateria 2.
Exumação Arrancamento
Grampo Abertura de Deslocamento
trinca (cm) total (cm)
P21 8,5 8,4
P22 8,0 7,9
P23 6,0 2,8
P24 3,0 1,7
P25 7,0 7,2
Entretanto, a exumação dos grampos nas duas baterias demonstrou que as seções
com argamassa e fibras dos grampos com polipropileno foram solicitadas durante os
ensaios de arrancamento de campo. Esta conclusão está baseada na observação das
fissuras dos grampos identificadas após a exumação e extração dos grampos ensaiados.
95
As fissuras demonstram que durante os ensaios, a carga aplicada ao grampo excedeu
a resistência à tração da matriz que, por conseqüência, fissurou. Com a fissuração da
matriz, as fibras receberam um incremento de carga e contribuíram para garantir a
resistência à tração do grampo compósito no estado pós-pico.
Tabela 5.5: Comprimento sem fissuras na ponta dos grampos com fibras – Bateria 2.
96
Tabela 5.6: Resumo da exumação dos grampos da bateria 2.
TOTAL 4,00 10 10 11 8 8
Figura 5.14: Esquema do padrão de fissuração típico para os grampos com fibras.
Nos outros trechos, observa-se a intercalação deste material mais intacto com o
material mais alterado e de menor resistência. Pode-se visualizar os diferentes materiais
atravessados por todos os grampos com fibras e grampo convencional da bateria 2
através da Figura 5.16.
97
EXUMAÇÃO DOS GRAMPOS DE POLIPROPILENO – Descrição e Ilustração
0,0 - 1,0 m 1,0 - 2,0 m 2,0 - 3,0 m 3,0 - 4,0 m
GRAMPO CONVENCIONAL
GRAMPO GP21
GRAMPO GP22
GRAMPO GP23
GRAMPO GP24
Silte areno-argiloso,
Silte areno-argiloso, amarelo intercalado
Silte areno-argiloso, cinza esverdeado com vermelho com Silte argiloso com silte areno-
intercalações de silte argiloso branco. intercalações de silte branco argiloso, vermelho e
argiloso branco com o silte argiloso
branco
GRAMPO GP25
98
O grampo P22 apresenta um padrão de fissuração inverso ao observado para o
grampo P21, com maior concentração de fissuras ao longo do trecho injetado com barra,
enquanto os outros trechos apresentam basicamente a mesma quantidade de fissuras,
com exceção do trecho final do grampo. Isto se deve à ocorrência de um pacote de solo
silto-areno-argiloso amarelo mais resistente entre as seções de 1 e 2 m distante da boca
do furo. Nos outros trechos, nota-se a presença de um silte areno-argiloso
cinza/vermelho com veios do material menos resistente.
Para o grampo P23, nota-se que há uma grande quantidade de fissuras ao longo da
porção média do trecho injetado sem barra (terço médio), enquanto que os outros
trechos apresentaram o mesmo número de fissuras. A exumação deste grampo revelou a
ocorrência de um pacote de silte arenoso vermelho neste local. A presença de materiais
mais resistentes oferece uma maior ancoragem do grampo. À medida que este grampo
fica impedido de se deslocar por conta do maior atrito do material mais resistente,
surgem concentrações de tensões nas regiões mais rígidas, as quais são mais sujeitas ao
aparecimento de fissuras.
Tomando-se como base para esta análise o menor valor de carga de arrancamento
por metro linear encontrado para os grampos com fibras na bateria 2, tem-se o valor de
13,6 kN/m. Calculando-se a tensão de arrancamento atuante em uma seção genérica do
99
grampo, tem-se 3,08 MPa, valor superior ao da resistência à tração média da mistura
com fibras (1,36 MPa), o que explica o surgimento de fissuras de tração nos grampos
por ocasião dos ensaios de arrancamento.
100
qsc = (Qsc/πD) = (Tgc/(πDLinj)) (5.2)
No caso estudado, o comprimento injetado é igual a 3,5 m, e portanto a Eq. 5.1 pode
ser expressa por:
Com o valor da taxa de carga de arrancamento por metro linear para o grampo
convencional (Qsc), calcula-se a parcela de carga resistida pelo trecho injetado com
barra dos grampos com fibras de polipropileno através do produto do valor desta taxa
pelo comprimento do trecho, conforme a expressão seguinte:
onde: Tconv.: Parcela de carga do trecho injetado com barra do grampo com fibras;
Lc/barra: Comprimento do trecho injetado com barra do grampo com fibras.
101
Ts/barra = Tm – Tconv. (5.5)
onde: Ts/barra: Parcela de carga do trecho injetado sem barra do grampo com fibras;
Tm: Carga de arrancamento máxima do grampo com fibras.
onde: Qsf: Taxa de carga de arrancamento por metro linear para o trecho injetado
sem barra do grampo com fibras;
Ls/barra: Comprimento do trecho injetado sem barra do grampo com fibras.
102
Figura 5.18: Distribuição de carga no grampo de polipropileno - Hipótese 2.
Hipótese 1 Hipótese 2
Grampo
(kPa) (kPa)
P11 68,48 46,48
P12 128,42 130,40
P13 56,39 29,56
P14 37,30 2,84
P15 60,27 34,99
C11 123,46 -
103
conservativos em relação àqueles calculados através da hipótese 1 de carregamento
(carga uniformemente distribuída ao longo do grampo).
O valor de carga reduzido a ser resistido pelo grampo ao longo do seu trecho
injetado sem a presença da barra de aço contribui portanto, para uma transferência
menos significativa de carga ao longo deste trecho, o que muito possivelmente
representa de forma mais adequada a real resistência ao arrancamento do grampo com
fibras de polipropileno.
Hipótese 1 Hipótese 2
Grampo
(kPa) (kPa)
P21 158,39 121,64
P22 183,21 156,36
P23 136,45 90,89
P24 112,80 57,77
P25 136,79 91,38
C21 250,36 -
104
Fazendo uma comparação entre os valores médios de resistência ao arrancamento
calculados segundo as duas hipóteses com o valor de resistência ao arrancamento do
grampo convencional na bateria 2, conclui-se que estes valores foram iguais a 57,5% e
40,5% para as hipóteses 1 e 2, respectivamente.
105
140
120
Carga no grampo (kN)
100
80
60
40
20
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Comprimento dos grampos (m)
Figura 5.19: Curvas típicas carga-comprimento do grampo convencional (PROTO
SILVA, 2005).
106
Figura 5.21: Distribuição uniforme de carga ao longo do grampo com fibras.
Devido a estas razões, foi também admitido na presente pesquisa, tanto para a
hipótese 1 quanto para a hipótese 2, um carregamento uniformemente distribuído ao
longo do grampo. A hipótese 2 parece mais representativa do comportamento do
grampo com fibras, visto que elimina a influência da barra de aço para a determinação
da resistência ao arrancamento do compósito.
107
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES
______________________________________________________________________
6.1 – CONCLUSÕES
108
A carga de arrancamento do grampo convencional foi de 101,8 kN. O valor médio da
carga de arrancamento dos grampos com fibras nesta bateria é igual a 48,1 kN, cerca de
47% da carga de arrancamento do grampo convencional.
109
Os grampos com fibras de polipropileno apresentaram resistências residuais
significativas, da ordem de 66% da resistência de pico, no mínimo, com grandes
deslocamentos.
Como primeira sugestão para futuros trabalhos a serem desenvolvidos neste tema,
aponta-se a necessidade da realização de ensaios de arrancamento in situ com o auxílio
de instrumentação dos grampos via strain gages com a finalidade de conhecer melhor o
comportamento tensão-deformação no campo, e verificar a distribuição do
carregamento ao longo do grampo.
110
cimento seco) são também recomendados. Estes ensaios poderiam indicar o tipo e teores
de fibras que conduzem a um melhor desempenho dos grampos em termos de
resistência e deformabilidade.
111
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114
ANEXO 1
115
116
(a)
117
(b)
118
ANEXO 2
119
Figura A.3: Detalhe do grampo P21.
120
ANEXO 3
121
25,00
C1
C4
20,00
15,00
Carga (kN )
C3
10,00
5,00
0,00
0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 3,500 4,000 4,500 5,000 5,500
60,00
F8
50,00
F7
40,00
Carga (kN )
30,00 F5
20,00
F1
F4 F6
10,00
F2
0,00
0,000 1,000 2,000 3,000 4,000 5,000 6,000 7,000 8,000 9,000
122
3,50
TC -3
3,00
2,50
TC -6
2,00
Carga (kN )
TC -2
1,50
TC -1
TC -4
1,00
TC -5
0,50
0,00
0,400 0,600 0,800 1,000 1,200 1,400 1,600 1,800 2,000 2,200
7,00
TF-3
6,00
TF-6
5,00
4,00
Carga (kN )
TF-9
3,00
TF-2
TF-1
2,00
TF-7
TF-4
1,00
0,00
0,000 0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 3,500 4,000
Figura A.11: Ensaios de compressão diametral em corpos de prova com fibras – parte I.
123
5,00
TF-12
4,00
TF-15 TF-10
3,00
Carga (kN )
TF-14
2,00
TF-11
TF-13
1,00
0,00
1,000 2,000 3,000
Figura A.12: Ensaios de compressão diametral em corpos de prova com fibras – parte II.
124