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Resumo: Este estudo define como tema a leitura literária na educação infantil e apresenta
reflexões sobre o repertório do educador, acervo das instituições de ensino e práticas educativas
que valorizem o teor literário a partir de experiências significativas com o livro de literatura. São
abordados o papel e a função emancipatória da leitura literária no estímulo à construção de
sujeitos, por meio de um efetivo letramento literário. O referencial teórico busca evidenciar a
leitura literária para pequena infância, em particular no acervo disponibilizado pelo Programa
Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e os documentos que versam sobre ele, como o guia
“PNBE na escola: literatura fora da caixa” (2014), entendendo este acervo como resultado de
uma política pública de leitura. A pesquisa, do tipo exploratório-descritiva, com abordagem
qualitativa e de natureza aplicada, aponta para a importância do mediador de leitura no acesso às
construções de sentido por parte das crianças na educação infantil.
Palavras-chave: leitura literária, educação infantil, letramento literário, PNBE
1
Doutorando em Letras na Universidade de Passo Fundo (UPF). Mestre em Letras pela mesma
instituição. Professor do Departamento de Linguística, Letras e Artes da Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de Erechim/RS e da Faculdade
Anglicana de Erechim/RS.
2
Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Este texto tem como propósito apresentar reflexões sobre leitura literária
no espaço da Educação Infantil, em particular sobre repertório do/a
educador/a, acervo das instituições e possibilidades de práticas educativas que
valorizem o literário a partir de experiências significativas com o livro de
literatura, capazes de levá-lo a sair do conforto do já conhecido e enveredar
por novas searas. Lembramos que para isso ele também precisa conhecer e
valorizar a literatura, ter um repertório que lhe permita transitar sem
sobressaltos pelos diferentes gêneros literários.
entre eles o literário. Percival Lemes Britto (2005), ao trazer a discussão sobre
a leitura e escrita na educação infantil, destaca que mais importante do que ler
com os olhos e escrever com as mãos, neste momento, é importante
proporcionar à criança uma leitura pelos ouvidos e uma escrita pela boca. O
professor escriba transcreve a produção autoral de sua criança e a esse mesmo
professor cabe a tarefa da leitura compartilhada.
Cosson (2009) traz à cena, em sua reflexão, uma prática muito comum
na escola: a utilização do texto literário como mero pretexto para ensinar
aspectos gramaticais relativos à estrutura das palavras, deixando de lado a sua
fruição estética e o seu poder humanizador, ou seja, aquilo que Candido (2004,
p.180) se refere como os traços essenciais ao humano: “o exercício da
reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o
afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o
senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo
do humor”.
REPERTÓRIO LITERÁRIO
Para um trabalho significativo com a literatura, cabe ao professor se
munir de um repertório que contemple os diferentes gêneros literários, valorize
o repertório da criança e o amplie, desse modo,
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livros. O próprio título do guia nos remete ao livro Literatura Fora da Caixa:
O PNBE na escola – Distribuição, circulação e leitura (2012), de Aparecida
Paiva, que, entre outros textos, apresentou três artigos resultados de pesquisas
sobre o acervo em espaços de bibliotecas escolares de Belo Horizonte,
constatando não apenas a inserção dos títulos no acervo, mas a
descontinuidade da mediação. Soares e Paiva (2014) dão início, na Introdução
do Guia 1 do PNBE 2014, à reflexão sobre as propostas de atividades com
leitura literária em sala de aula sugerindo que
[...] após a leitura pela professora, as crianças podem representar
em desenhos partes da história, fábula ou conto de fadas; a
história [...] pode ser dramatizada pelas crianças; as crianças
podem apresentar e “ler” um livro de imagem para os colegas de
uma outra sala; as crianças podem recontar oralmente uma
história que foi lida pela professora; as crianças podem
memorizar e recitar poemas curtos; as crianças podem preparar
um cartaz de propaganda de um livro que tenham gostado, para
expô-lo na biblioteca e incentivar colegas a procurá-lo.
(SOARES; PAIVA, 2014, p. 17).
para as crianças a primeira coisa que elas fazem é procurar no texto conexões
com suas vivências”. (SOUZA; GIROTTO, 2014, p. 36).
Ainda que textos desse gênero não tenham uma condução guiada, como
é o caso dos textos verbais, é possível perceber e explorar sua narratividade e
teor literário, incentivando a ampliação do senso estético e o interesse pela
leitura por parte da criança que, efetivamente, passa a buscar as significações
emocionais (e cognitivas) envolvidas na narrativa de imagens, mesmo antes de
sua alfabetização: trata-se da familiarização com elementos do discurso
literário.
Uma vez que ler imagens não é uma prática inédita (percebamos desde
quando a comunicação se dá por meio delas), o que se manifesta como desafio
é auxiliar a criança a construir os sentidos coerentes dos registros literários
visuais para que o contato com tais obras enriqueça suas experiências e
(re)encontros com o mundo ao seu redor. Recorrendo uma vez mais à
estudiosa citada acima, percebemos que
[...] as ilustrações não existem apenas para a identificação e a
constatação. Por meio delas podemos alcançar outros pontos de
vista, representações, convenções, simulações e tantos outros
desdobramentos. Afinal, mesmo terminadas enquanto
concepções de arte, as imagens impressas num livro podem
continuar sendo lidas sem fim, por muitos leitores e seus pontos
de vista. (PAIVA, 2014, p. 57).
Acerca desses “novos gêneros”, vale que salientemos que tanto os livros
de imagens quanto as histórias em quadrinhos constroem narrativas através de
sucessões de imagens produzidas, potencialmente, por meio das mais variadas
técnicas artísticas. Cabe ao mediador da leitura, então, promover às crianças da
educação infantil o acesso às possíveis e diversificadas construções de sentido
engendrando as noções mencionadas até então.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, P. S. A literatura para infância e o programa nacional biblioteca
da escola (PNBE): reflexões sobre uma política pública de leitura para a
Educação Infantil. (Monografia) – Universidade Federal de Santa
Catarina, 2014.
BAPTISTA, M. C. Leitura literária na primeira infância: a experiência da
bebeteca Can Butjosa em Barcelona. In: MACHADO, M. Z. V. A criança e a
leitura literária: livros, espaços, mediações. Curitiba: Positivo, 2012.
LACERDA, V. M. Quando uma imagem vale mais que mil palavras: Livros de
Imagem e Histórias em Quadrinhos no PNBE. In: BRASIL. Ministério da
Educação. PNBE na escola: literatura fora da caixa. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2014.
Recebido em 07/02/2016
Aprovado em 29/09/2016