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Poetas contemporâneos

ESCRITA|EDUCAÇÃO LITERÁRIA APRECIAÇÃO CRÍTICA

1. Redige uma apreciação crítica da pintura de Carlos Botelho.

2. Lê o poema “acordar na rua do mundo”, de Luiza Neto Jorge.

acordar na rua do mundo


madrugada. passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos.
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
5 por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas. no meu quarto cai o pó.

um cano rebentou junto ao passeio.


um pombo morto foi na enxurrada
10 junto com as folhas dum jornal já lido.
impera o declive
um carro foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.

15 sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite


sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme
da joalharia. os lençóis na corda
abanam os prédios, pombos debicam

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Poetas contemporâneos

o azul dos azulejos. assoma à janela


20 quem acordou. o alarme não para o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo
não gravou

e duma varanda um pingo cai


de um vaso salpicando o fato do bancário

JORGE, Luiza Neto. Op. cit., pp. 284-285.

3. Nas primeiras duas estrofes, o sujeito poético observa a sua rua ao amanhecer.
3.1. Identifica os aspetos descritos, tendo em conta o espaço exterior e interior.
3.2. Traça o perfil do sujeito poético.

4. A partir da terceira estrofe, privilegia-se um acontecimento em particular.


4.1. Identifica-o e infere o grau de importância que o sujeito poético lhe atribui.

5. Explicita o sentido global do poema. A informação seguinte pode ajudar-te.

Na sua poesia está o lugar da sua casa, numa Rua que se chamou do
Mundo, a cidade de Silves onde passou uns meses em 1983, a Faculdade de
Letras, Maio de 68, o que se ler. Mas, se tudo o que está nela tem o seu tempo,
esse não é só o tempo em que viveu mas a falha do seu tempo e de todos os
tempos. Através da qual refulge outra paisagem.
MARTINS, Fernando Cabral (1993). “Prefácio”,
in Luiza Neto Jorge, Op. cit., p. 9.

G R A M ÁT I C A

1. Completa o quadro, identificando os valores temporais e as relações cronológicas presentes


nos enunciados seguintes.

Valor Relação cronológica


temporal entre os acontecimentos
descritos
“que dia é hoje?” (v. 5) ___a. ___ —
“um carro foi-se abaixo” (v. 12) ___b. ___ —
“assoma à janela / quem acordou.” (vv. 19-20) ___c. ___ ___d. ___
“e duma varanda um pingo cai / de um vaso ___e. ___ ___f. ___
salpicando o fato do bancário” (vv. 23-24)

2. Reescreve o enunciado Acordei, imprimindo-lhe um valor modal apreciativo.

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Poetas contemporâneos

SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS

“acordar na rua do mundo” (p. 82)


Escrita | Educação Literária

3.1. Espaço interior: “quarto” (v. 3), caracterizado pela ausência de movimento (“cai o pó”, v. 7), inicialmente em silêncio e
na penumbra, e em que depois entra “o som” e “a luz” (vv. 3-4).
Espaço exterior: “rua do mundo” (Nota: Luiza Neto Jorge viveu grande parte da vida na Rua da Misericórdia – rua essa
que, durante a Primeira República, se chamara Rua do Mundo – cf. questão 5), caracterizada pelos seguintes aspetos:
agitação matinal (“passos soltos de gente que saiu / com destino certo e sem destino”, vv. 1-2); sino que toca; pombos;
episódios decorrentes do bulício matutino característico do quotidiano da sociedade contemporânea: cano de água que
rebenta; enxurrada; jornal velho no chão; carro que se vai abaixo.
3.2. O sujeito poético observa, do quarto, a sua rua, descrevendo o que vê e ouve com apatia e indiferença e integrando na
reflexão uma interrogação retórica que reflete um relativo estado de alienação (“que dia é hoje?”, v. 5).

4.1. O sujeito poético observa e descreve com indiferença um assalto violento a uma joalharia, atribuindo a este
acontecimento a mesma importância que atribui aos restantes elementos descritos (roupa no estendal, pombos, azulejos).

5. Poema em que se descreve um aspeto do quotidiano da sociedade contemporânea (azáfama matinal numa rua citadina)
e em que se denuncia a indiferença e o alheamento que a caracterizam indiferença e alheamento esses que são a “falha”
do tempo de Luiza Neto Jorge “e de todos os tempos”.

Gramática
1. a. Presente. b. Passado. c. Presente e passado. d. Relação de anterioridade (“assoma” / “acordou”). e. Presente. f.
Relação de simultaneidade (“cai” / “salpicando”).

2. Exemplo: Felizmente acordei.

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