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AULA 2

DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO (Título III)

DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO (Capítulo I)

FORMAS DE ESTADO – ASPECTOS CONCEITUAIS

 Diz respeito ao modo de “exercício” do poder político em função do território (limite


espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo o poder de império sobre as pessoas
e bens) dá origem ao conceito de forma de Estado (difere de República, que é forma de
Governo, como já estudado). Pode ser:

a) Estado UNITÁRIO: quando existir um único centro dotado de capacidade legislativa,


administrativa e política, do qual emanam todos os comandos
normativos e no qual se concentram todas as competências
constitucionais, ocorre a FORMA UNITÁRIA de ESTADO.
Se exite unidade de poder sobre o território, pessoas e bens, tem-se o Estado Unitário
(França, Inglaterra, Uruguai, Paraguai, entre outros), ainda que esse
Estado possa ser descentralizado. O movimento descentralizador nos
Estados Unitários vem dando origem a outra forma de Estado,
intermediária entre o Federalismo e o Unitarismo: o Estado Regional
(Itália) e o Estado Autonômico (Espanha).

b) Estado FEDERAL: quando as capacidades políticas, legislativas e administrativas são


atribuídas constitucionalmente a entes regionais, que passam a
gozar de autonomias próprias, surge a FORMA FEDERATIVA.
Neste caso, as autonomias regionais não são fruto de delegação
voluntária de um centro único de poder, mas se originam na própria
Constituição, o que impede a retirada de competências por ato
voluntário de poder central. Se o poder se reparte no espaço territorial
(divisão espacial de poderes), gerando uma multiplicidade de
organizações governamentais autônomas, distribuídas regionalmente,
tem-se o Estado Federal ou Federação de Estados.

A Constituição de 1988 adotou como forma de Estado o FEDERALISMO.

Na lição de Alexandre de Moraes (“Direito Constitucional. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 245-247), fundamentada
nas doutrinas de Dalmo de Abreu Dallari, Geraldo Ataliba e Ferreira Filho, reforçam-se as seguintes idéias:

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FEDERALISMO
• aliança ou união de Estados, baseada em uma Constituição;
• associação de Estados para formação de novo Estado (o federal)
com repartição rígida de atributos entre eles.
• os Estados perdem sua soberania no momento que ingressam na
Federação, mas preservam uma autonomia política limitada.
• autonomia recíproca da União e dos Estados, sob a égide da
Constituição Federal (todos os entes extraem suas competências da
mesma norma, a Constituição, não se comparando à supremacia
nacional da República e da própria Constituição).
• Difere do Estado Unitário, que é rigorosamente centralizado,
política e administrativamente, em um só centro produtor de
decisões, identificando um mesmo poder para um mesmo povo,
num mesmo território;
• Difere da Confederação, que consiste na união de Estados-
soberanos por meio de um Tratado internacional dissolúvel.
(Exemplo?)
• Exige, inicialmente, a decisão do legislador constituinte, por meio
de uma Constituição, em criar o Estado Federal e suas partes
indissociáveis, a Federação ou União, e os Estados-membros, pois
a criação de um governo geral supõe a renúncia e o abandono de
certas porções de competências administrativas, legislativas e
tributárias por parte dos governos locais.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...].

Não é a República (que é forma de Governo) que detém a propriedade de ser uma “união
indissolúvel”, e sim a Federação, representada no artigo pelo adjetivo “federativa” (linguagem que
vem do contexto histórico de nossas Constituições desde a Proclamação da República).

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende


a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição.

§ 1º - Brasília é a Capital Federal.

§ 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou


reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.

Atualmente, não existem territórios brasileiros (mas eles podem ser criados). Os existentes à
época da promulgação da Constituição, Amapá e Roraima, tornaram-se Estados membros, e
Fernando de Noronha reincorporou-se à Pernambuco, conforme se depreende dos arts. 14 e 15 do
ADCT, CF.

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ELEMENTOS DA FEDERAÇÃO:

UNIÃO (art. 20-21); ESTADOS (art. 25); MUNICÍPIOS (art. 29), DISTRITO FEDERAL (art. 32).

- Todos autônomos – a República Federativa do Brasil é soberana, seus entes federativos são
autônomos. A autonomia caracteriza-se pela capacidade de auto-governar-se, auto-administrar-se
(competência), auto-legislar-se (leis) e auto-organizar-se (lei fundamental – Lei Orgânica ou
Constituição)

UNIÃO entidade que confere unidade aos Estados-membros reunidos num


Estado federal. É pessoa jurídica de direito público interno, não é
soberana, é autônoma em relação aos Estados.

ESTADO FEDERAL pessoa jurídica de direito público internacional. É soberano.


Apresenta-se como um Estado que, embora parecendo único nas
relações internacionais, é constituído por Estados-membros dotados
de autonomia político-administrativa.

• A autonomia federativa assenta-se em dois elementos:

a) na existência de órgãos governamentais próprios;


b) na posse de competências constitucionais exclusivas.

AUTONOMIA União Estados DF Municípios

Organizacional Constituição Constituição Lei Lei


Federal Estadual Orgânica Orgânica

Governador
Governamental Presidente Governador Prefeito
Distrital
Administrativa/ Tributos/ Tributos/ Tributos/ Tributos/
Financeira Orçamento Orçamento Orçamento Orçamento

Congresso Assembléia Câmara Câmara


Legislativa
Nacional Legislativa Legislativa Municipal

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Requisitos do Federalismo:

a) unicidade de nacionalidade: os cidadãos dos diversos Estados-membros aderentes à


Federação devem possuir nacionalidade única, no caso,
a brasileira.

b) repartição de competências: repartição constitucional de competências entre a


União, Estados-membros, Distrito Federal e
Municípios. Analisar-se-á mais adiante.

c) repartição de rendas: entes federativos com capacidade de instituir impostos


e repartir receitas tributárias. Necessidade de que cada
ente federativo possua uma esfera de competência
tributária que lhe garanta renda própria. (Direito
Tributário).

d) existência de constituições estaduais: poder de auto-organização dos Estados-


membros, atribuindo-lhes autonomia
constitucional, porém com supremacia da
Constituição Federal.

e) indissolubilidade: união indissolúvel dos entes federativos e integridade


nacional. Federalismo protegido por cláusula pétrea
(art. 60, § 4º, I). Contudo, há possibilidade de criação
de novo Estado ou modificação territorial de Estado
existente, dependendo da aquiescência da população do
Estado afetado (art. 18, § 3º). Vale o mesmo para os
Municípios (art. 18, § 4º). Plebiscito.

f) representação senatorial: o Senado Federal é órgão de representação dos


Estados-membros no Congresso Nacional
(representação paritária), 3 senadores por Estado,
eleitos por maioria simples. Participação dos Estados
no Poder Legislativo Federal, de forma a permitir-se a
ingerência de sua vontade na formação da legislação
federal;

g) defesa da Constituição: existência de um órgão de cúpula do Poder Judiciário


para interpretação e proteção da Constituição Federal.
O STF é o guardião da Constituição.

h) Intervenção Federal: a União, em casos extremos, pode intervir nos Estados-


membros. Possibilidade constitucional excepcional e
taxativa de intervenção federal, para manutenção do
equilíbrio federativo.
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