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ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO

SOBRE O ROMPIMENTO DA BARRAGEM


DO FUNDÃO E OS IMPACTOS

ATIVIDADE E - A VISÃO DO GOVERNO

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Elaborado por: Ana Luísa Avelino Brito e Márcio Henrique Reis Santos
Disciplina: Conservação, Dinâmica de Sistemas Naturais e Aspectos Econômicos
Turma: 0420-0_1

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Introdução
Conforme observou Lopes (2018), a OMS (Organização Mundial de Saúde) considera
o conceito de saúde ambiental, com algo determinante para promoção da qualidade de vida e
saúde. Tal conceito foi proposto no encontro realizado na Bulgária nos idos de 1993, quando
definiram que saúde ambiental é:

“Saúde ambiental são todos aqueles aspectos da saúde humana, incluindo a qualidade
de vida, que estão determinados por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e
psicológicos no meio ambiente. Também se refere à teoria e prática de valorar,
corrigir, controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que, potencialmente,
possam prejudicar a saúde de gerações atuais e futuras” (OMS, 1993).

Pensando nessa interconexão entre saúde e meio ambiente, pode-se citar o recente o
rompimento da barragem de Fundão, próximo ao município de Mariana, em Minas Gerais, em
novembro de 2015, um evento internacionalmente conhecido e divulgado. Alguns falam em
acidente, outros em crime, a verdade é que as consequências deixadas pelo evento serão
sofridas por muitos anos pela população local e pelo meio ambiente. O presente trabalho não
enfatiza ou aprofunda nos aspectos relacionados à saúde dos afetados pelo rompimento da
barragem, mas demonstra que a ação e a omissão produzem seus efeitos e que tudo se
interconecta.

De acordo com o Jornal UniCamp, em reportagem publicada em setembro de 2018, a


tragédia em Mariana foi “o maior desastre e crime ambiental da história do Brasil” e “o maior
desastre de mineração do mundo”. Além disso, ressaltam que haverá cicatrizes, consequências
do rompimento, que jamais deixarão de existir.

Muito mais que analisar o que deu certo e o que não deu certo, com relação às ações
tomadas, o objetivo do trabalho é analisar, do ponto de vista do governo, a tragédia do
rompimento da barragem. As ações escolhidas e as decisões tomadas, ao longo desses quatro
anos e meio, foram apresentadas e criticadas, além de verificadas suas efetividades, sob
diversas perspectivas.

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Desenvolvimento
O governo tem papel fundamental na prevenção e mitigação dos efeitos de acidentes
ambientais, mesmo aqueles que são frutos da negligência de uma empresa. É preciso um
trabalho a longo prazo de fiscalização e regulamentação de atividades que tenham qualquer
dano potencial ao meio ambiente ou à população da região do empreendimento. Além disso,
as medidas emergenciais também são muito importantes para reduzir os impactos e salvar
vidas. A seguir são apresentadas as ações governamentais e outros aspectos relacionados aos
efeitos do rompimento da barragem do Fundão, em 2015.

1. A Fundação RENOVA e a esfera judicial


Como premissa é importante esclarecer que todas as ações para reparação e ou
mitigação, envolvendo as partes que integram o conflito produzido pelo desastre que afetou
toda a bacia hidrográfica do Rio Doce, tramitam na esfera judicial, através de uma ação civil
pública. Como produto da referida ação civil pública, através do Termo de Transação e
Ajustamento de Conduta (TTAC), foi estabelecido a criação e o escopo de atuação da
Fundação Renova, que é uma entidade sem fins lucrativos, responsável pela mobilização e
reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão.
Ainda sobre os custos de reparação, conforme citado anteriormente, a Fundação
Renova tem por objetivo exclusivo atuar na administração dos recursos. Dados da própria
fundação indicam que o orçamento previsto para as ações de reparação e compensação
atualmente somam R$ 12,31 bilhões e não existem restrições orçamentárias para as ações
reparatórias previstas no TTAC; desse total, até o momento, foram desembolsados R$ 8,48
bilhões nas ações de reparação. O orçamento para 2020 é previsto em R$ 4,68 bilhões e em
2019 foram realizados R$ 2,72 bilhões. A Fundação Renova ainda informa que os valores
pagos em indenizações somam para dano água e dano geral o total de R$ 1,15 bilhão e para
auxílio Financeiro Emergencial R$ 1,27 bilhão.
O trabalho da Fundação Renova contempla os 670 quilômetros de área impactada ao
longo do rio Doce e afluentes, passando pelos estados de Minas Gerais até a foz no Espírito
Santo, atuando em 42 projetos simultâneamente, os quais são divididos em três eixos
temáticos, os quais são: 1 Pessoas e Comunidades, 2 Terra e Água e 3 Reconstrução e

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Infraestrutura; os resultados obtidos em cada programa são submetidos periodicamente ao
Comitê Interfederativo (CIF).
A atuação da Fundação Renova ao longo do tempo tem sido objeto de
questionamentos por diversas partes. Destaca-se, inclusive, que em 25 de junho de 2018 foi
firmado um acordo entre o Ministério Público Federal (MPF) , Ministério Público de Minas
Gerais (MPMG), Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e mais diversos órgãos
públicos, além das empresas Samarco Mineração, Vale e BHP Billiton Brasil, que mudou a
governança da Fundação Renova. O novo acordo previa a criação de novas estruturas para
garantir a efetiva participação dos atingidos nas decisões referentes à reparação dos danos
causados pelo rompimento da barragem de Fundão (MPF, 2018). Segundo o MPF a estrutura
proposta no acordo tinha três grandes alterações: a mudança do processo de governança do
TTCA para definição e execução dos programas, projetos e ações da integral reparação dos
danos causados; o aprimoramento de mecanismos de efetiva participação das pessoas
atingidas pelo rompimento da barragem em todas as etapas e fases do TTAC e no novo
acordo; e o estabelecimento do processo de negociação visando à eventual repactuação dos
programas já em curso sob a responsabilidade da Fundação Renova.
Outra frente de questionamento sobre a atuação da Fundação Renova é oriunda da
comunidade afetada pelo rompimento da barragem. Eles questionam sobre a atividade e
cumprimento do papel social da Fundação Renova, por compreenderem que as ações da
fundação são marcadas pela parcialidade, em favor das empresas financiadoras em detrimento
aos interesses dos atingidos. A principal ferramenta utilizada e criada pela comunidade de
atingidos é o jornal “A Sirene”, o qual tem o objeto social e editorial marcado pelo
compromisso em dar voz às vítimas, questionar e reivindicar os direitos dos atingidos pelo
rompimento da barragem. O jornal é mantido por um acordo entre os atingidos, o Ministério
Público e a Arquidiocese de Mariana.
Em novembro de 2019, foi lançada uma edição especial do jornal “A Sirene”, o qual
marca o quarto ano do rompimento da barragem, no qual observa-se que dois aspectos são
relevantes. O primeiro sobre a forma como os editores classificam o rompimento da
barragem, deixando claro o entendimento e posicionamento editorial, no qual sempre se
referem ao ocorrido com “crime-desastre”. Tal situação decorre do entendimento que o
rompimento da barragem tem natureza criminosa, pelo fato das empresas envolvidas terem

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negligenciado vários aspectos, desde técnicos até legais, por não terem atuado
preventivamente e pelos danos causados, que o desastre é consequência do crime, que afetou
todas as dimensões da vida, comunidades e natureza em toda a extensão do rio Doce e seus
afluentes.
E segundo, não menos importante, traz o questionamento sobre a atuação da Fundação
Renova, quando denunciam em uma balanço após decorridos quatro anos do rompimento da
barragem, sobre as condições de vida dos afetados, ao relatarem que “o grande empecilho na
reparação integral do crime-desastre é, sem sombra de dúvida, a própria Fundação Renova”.
No texto expõem a sua visão alegando que a instituição atua de forma parcial, ou seja, a
instituição “opera com base em forte seletividade, ao estabelecer critérios não
fundamentados na realidade territorial local” (A Sirene, 2019 p.9), sem levar em
consideração as peculiaridades das pessoas e seus modos de vida. Tal interpretação por parte
da Fundação Renova, segundo o jornal “A Sirene”, afeta a forma de mensurar, por exemplo,
se uma pessoa tem direito ou não ao benefício emergencial ou qualquer outra frente de
reparação da perda sofrida.
Todavia, em um projeto denominado “Projetos”, uma publicação da FGV, apresentou
os resultados do seminário “Desastres Ambientais: Experiências Nacionais e Internacionais”,
realizado no dia 13 de setembro de 2017, na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Neste referido material, Leal, Zillikens, et.al. (2017) destacam que, a Fundação Renova
representa uma boa prática, sendo inclusive, uma oportunidade para se propor um sistema
moderno de governança participativa, com amplas possibilidades de interações das dimensões
social, econômica, política e ambiental.
Atualmente o processo jurídico têm constituído por rés as empresas BHP BILLITON
BRASIL LTDA, VALE S.A. e SAMARCO MINERACAO S/A e acumula milhares de
páginas, uma quantidade enorme de recursos, agravos, embargos e toda sorte de instrumentos
jurídicos, produzidos por mais de duas dezenas de advogados, os quais tentam mitigar os
prejuízos as empresas causadoras do reconhecido dano ambiental. Em decisão proferida
dentro do mesmo processo, em 22 de janeiro de 2016, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da
1ª Região), estima que os danos socioambientais causados foram de R$ 20.204.968.940,00
(TRF-1, 2016). Em último ato, conforme processo disponível no sítio Jusbrasil é possível
conferir que a Samarco faz um agravo para não realizar o acautelamento de dois bilhões de

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reais, pretendidos conjuntamente pelo Governo Federal, através da ANA (Agência Nacional
das Águas), governos estaduais de Minas Gerais e Espírito Santo. No referido processo a
Samarco alegava que “por injunção de outras medidas - judiciais e não judiciais -, já teria
promovido o aprovisionamento de valores que ultrapassam, inclusive, o valor fixado e que se
destinaria à mesma finalidade”, entretanto, houve decisão contrária ao agravo proposto pela
empresa.
É importante salientar que muitas das intervenções de reparação, contenção e ou
mitigação dos danos foram determinadas na esfera do poder judiciário, tal afirmativa encontra
respaldo em um audiência pública na Câmara dos Deputados, em 2017, na qual o promotor de
justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Dr. Guilherme de Sá, enfaticamente afirma:
(...) não se fez nada sem intervenção judicial, o que se tentou fazer através desse acordo, Sr.
Roberto Waack (Diretor da Fundação Renova), isso é um golpe contra o direito das
vítimas”. Na mesma audiência, o referido promotor ainda denuncia que as ações de
publicidade realizada pelas empresas envolvidas não são provenientes da benevolência ou
reconhecimento da dor dos afetados e tão pouco uma tentativa de minorar tal dor e
sofrimento, como veiculam as empresas, e sim, obrigações impostas ou obrigadas pelo poder
judiciário.

2. O papel do Governo Federal


No âmbito federal pré-acidente de Mariana, o Brasil já possuía uma legislação
específica sobre barragens, denominada Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei
12.334/2010), além de diversas resoluções e regulamentações determinadas pelo Conselho
Nacional de Recursos Hídricos, tais como as resoluções nº 143/2012 e 114/2012. Neves
(2018) destaca que os diversos órgãos fiscalizadores - IBAMA, ANA, DNPM, ANEEL e
órgãos estaduais - foram inseridos no tema para executá-lo, ou seja, a legislação de 2010 deu
poder e organizou os meios para que tais órgãos fiscalizadores pudessem atuar e prevenir os
desastres ambientais e sociais. A fiscalização de barragens é um dos objetivos da PNSB
(Política Nacional de Segurança de Barragens), que diz que é preciso a partir da sua
publicação “criar condições para que se amplie o universo de controle de barragens pelo
poder público, com base na fiscalização, orientação e correção das ações de segurança”.
Entre outros aspectos, a lei de 2010 é muito objetiva quanto à disposição final ou temporária

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de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, além de ter criado o Sistema Nacional de
Informações sobre Segurança de Barragens (Neves, 2018).
Além da Política Nacional de Segurança de Barragens, o Brasil contava, na época
anterior ao acidente de Mariana, com o DNPM (Departamento Nacional de Produtos de
Mineração), autarquia federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Este foi
substituído pela criação da ANM (Agência Nacional de Mineração), através da Lei nº 13.575,
de 26 de dezembro de 2017. A ANM, por ser uma autarquia nova, com pouco mais de 2 anos
desde a sua criação, ainda está em consolidação, mas alguns passos importantes como a
construção de um planejamento estratégico e a definição de metas globais e intermediárias já
foram estabelecidos. O planejamento estratégico expõe que a missão da ANM é de
“promover o acesso e uso racional dos recursos minerais, gerando riquezas e bem-estar para
a sociedade” e seus valores são: autonomia, cooperação, excelência técnica, transparência,
inovação, integridade (ANM, 2019).
As metas globais e intermediárias para avaliação de desempenho da ANM para o
período entre 1º de maio de 2020 e 30 de abril de 2021 foram construídas e aprovadas na
Portaria nº 293, de 30 de abril de 2020. Estas focaram em quatro frentes: outorga em área de
mineração, fiscalização da atividade mineral, eficiência na constituição do crédito de cobrança
de Receitas e cumprimento do Programa de Regulação. A fiscalização, por sua vez, foi
dividida em metas intermediárias que observam o índice de segurança das barragens, o índice
de fiscalização da produção mineral e o índice de Análise de Relatório de Pesquisa. A meta
relacionada ao índice de segurança de barragens, por exemplo, prevê que se tenha 80% das
barragens fiscalizadas com 70% com DPA (Dano Potencial Associado) alto e 30% com DPA
médio ou baixo, além de 15% dos autos de infração e de interdição analisados e 5% de
redução no número de barragens com categoria de risco (CRI) com relação ao número de
barragens incluídas na Política Nacional de Segurança de Barragens (ANM, 2020).
As frentes de atuação do governo federal após o rompimento da barragem se dividiu
em três principais: as ações ambientais, as ações sociais e as diretamente relacionadas às
barragens. Em cada frente, diferentes órgãos federais foram acionados e atuaram com ações
específicas com o meio ambiente e a população das regiões afetadas (MMA, 2015).
As ações ambientais visam a proteção à fauna e o monitoramento da qualidade da
água da região afetada. Os órgãos envolvidos foram o Ministério do Meio Ambiente (MMA),

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o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Agência Nacional de
Águas (ANA). Algumas ações realizadas por esses órgãos foram (MMA, 2015):
- Aplicação de R$ 250 milhões em multas à Samarco por tornar áreas urbanas
impróprias para ocupação humana, poluição hídrica, provocar a mortandade de
animais e a perda da biodiversidade ao longo do Rio Doce, causar interrupção
do abastecimento público de água e lançar resíduos em desacordo com as
exigências legais;
- Transferência de ninhos de tartarugas marinhas para regiões seguras, que não
iam ser atingidas pela onda de rejeitos;
- Mapeamento dos recursos hídricos que serviram de refúgio aos peixes de
superfície, os mais afetados com o acidente, em toda a extensão do Rio Doce;
- Acompanhamento do movimento da onda de rejeitos diariamente e
monitoramento da qualidade da água e dos sedimentos;
As ações sociais objetivaram o apoio às vítimas, o assistencialismo e o resgaste às
pessoas e aos animais. Foi liberado o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para
as pessoas que perderam suas casas, diminuindo paliativamente os prejuízos logo após o
acidente (MMA, 2015), além de antecipar o Bolsa Família. Equipamentos e maquinários
doados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram enviados à região para
ajudar no socorro às vítimas (PT, 2015).
Já as ações ligadas diretamente às barragens são, por exemplo, a substituição do
DNPM pela ANM, citado anteriormente; além da consequente criação do Sistema Integrado
de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM). Com a criação do SIGBM o
gerenciamento das barragens brasileiras foi facilitado; nele os empreendedores fazem o
cadastro das estruturas, o envio de Declaração de Condição de Estabilidade para as Inspeções
de Segurança Regulares e para as Revisões Periódicas de Segurança, entre outros (ANM,
2017).
Neste contexto, o “Relatório Sobre as Causas Imediatas da Ruptura da Barragem de
Fundão”, elaborado pelo Comitê Independente de Especialista para Análise da Ruptura da
Barragem de Rejeitos, contratado pela empresa Samarco e seus acionistas BHP Billiton e
Vale SA, indicam que anteriormente a 2015 a barragem já havia sofrido alguns incidentes,

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mais especificamente em 2009, 2011 e dois eventos em 2012. No relatório os especialista
indicam claramente que tais eventos somados às diversas alterações de projeto e negligências
contribuíram conjuntamente para a ocorrência do desastre de 2015 (Comitê de Especialistas,
2016). O referido relatório faz apenas uma análise técnica, sobre os projetos alterados, rejeitos
e suas condições de depósito na barragem, e em nenhum momento analisam os aspectos
legais, de atendimento a legislação de barragem e tão pouco sobre o licenciamento ou
homologação e condicionantes de funcionamento da barragem.
Apesar de entendermos como uma omissão, o fato é que o maior fundo soberano do
mundo, gerido pelo Norges Bank, na Noruega, anunciou, no início de maio de 2020, que,
com base no relatório acima citado, excluiu a Vale de seus investimentos. Sob a
argumentação que “o incidente causou a morte de 19 pessoas e teve sérias consequências
ambientais. O relatório de um inquérito encomendado pela BHP Billiton apontou graves
falhas na barragem. Os defeitos eram de natureza tal que tornava provável que a empresa
tivesse conhecimento deles” (Chade 2020).

3. O papel do Governo Estadual e Municipal

A atuação do governo estadual de Minas Gerais é bastante peculiar e chama atenção o


fato que não há acesso às informações oficiais sobre a condução realizada pelo estado em
relação ao desastre. A única informação oficial disponível informa que o governador do
estado em 2019, após 4 anos, criou um comitê intitulado “Pró-Rio Doce”, com o
compromisso de planejar, coordenar e executar as ações no âmbito estadual. Após ampla
pesquisa não foi identificado nenhuma fonte de acesso às informações produzidas pelo comitê
Pró-Rio Doce, tão pouco os resultados alcançados com sua atuação. O Estado possui um
“portal da transparência do Meio Ambiente”, mas para o usuário comum não corrobora para
obtenção e acesso às informações, pois para realizar qualquer tipo de pesquisa são necessárias
informações cadastrais das empresas, não há nenhuma menção sobre os episódios recentes
envolvendo os diversos rompimentos de barragens no Estado de Minas Gerais.

O estado mineiro sofre sistematicamente uma severa crise financeira. No ato de


criação do comitê Pro-Rio Doce, o governo estadual assumiu o compromisso com o

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município de Mariana de antecipar parcelas dos repasses devido ao município. Conforme
mencionado pela Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Social)
foram pagas três parcelas de R$ 1,66 milhão nos meses de maio, junho e julho, referentes à
dívida de janeiro (R$ 5 milhões) e, a partir de agosto de 2019, ficou o compromisso de
pagarem em 30 parcelas de R$ 311 mil, referentes à dívida do governo anterior (R$ 9,3
milhões). Essa é uma das poucas informações oficiais disponíveis no site do governo estadual
de Minas Gerais.

A bacia do Rio Doce passa também por um segundo estado, até sua foz na cidade de
Linhares no distrito de Regência, no Espírito Santo, também afetado pelo rompimento da
barragem em Minas Gerais. Através do Iema – Instituto de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos, é possível ter acesso a todos os atos realizados pelo estado, mesmo em gestões
anteriores, desde a primeira iniciativa em 05 de novembro de 2015, data do desastre.
Diferentemente de Minas Gerais, no Espírito Santo o decreto para criação do Comitê Gestor
ocorreu 11 dias após o rompimento da barragem. Por meio do Decreto Estadual nº 3.896-
R/2015, publicado em 16 de novembro de 2015, foi criado o Comitê Gestor da Crise
Ambiental na Bacia do Rio Doce (CGCA/Rio Doce), reunindo entes do poder executivo para
gerenciar e monitorar as medidas emergenciais para o melhor enfrentamento do desastre. As
medidas para a gestão do desastre são informadas no site do IEMA por meio de uma linha do
tempo, apresentada abaixo - Figura 1 -, na qual é possível compreender e tomar conhecimento
de cada medida realizada pelo Estado.

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Figura 1 - A linha do tempo dos acontecimentos no ES após o rompimento
Fonte: IEMA, disponível em: https://iema.es.gov.br/historico

Os Municípios
O Rio Doce possui uma bacia com área de 83.400 km², com visto anteriormente, distribuída
em dois Estados, Minas Gerais (nascente) e Espírito Santo (foz). Em toda a sua extensão o rio
passa por 228 municípios, sendo 204 em terras mineiras e 24 em capixabas. A configuração
básica de 93% desses municípios é de até 20 mil habitantes e o rio responde pelo
fornecimento de água em 70% destes, dos quais apenas 58% são cobertos por rede de esgoto,
mas muitíssimo pouco é tratado, apenas 4,7% (Leal, Zillikens, et.al., 2017).

Ao considerar a atuação dos municípios o que se viu foram tentativas desesperadas e isoladas
para mitigar os danos que o desastre causou efetivamente. Através da linha do tempo abaixo
(Figura 2) é possível resumir a evolução e os impactos da lama nos municípios do Espírito
Santo. Obviamente o número de municípios atingidos foi muito maior, apenas pretende-se
demonstrar que o desastre foi implacável e extremamente ágil em produzir os seus efeitos
dentro do território Capixaba, ao contrário das autoridades que foram e são lentas em conter
ou mitigá-lo. É possível observar que desde o rompimento da barragem em 05 de novembro
os rejeitos levaram 11 dias para chegar no Estado do Espírito Santo e mais 6 dias para chegar
na foz em Regência e alcançar o mar.

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Figura 2 - Evolução dos impactos da lama nos municípios do ES
Fonte: Adptado de http://g1.globo.com/espirito-santo/desastre-ambiental-no-rio-doce/noticia/2016/05/lama-no-rio-doce-linha-do-tempo-
mostra-o-desastre-no-espirito-santo.html

Doravante estão apresentadas as informações disponíveis na internet sobre dois municípios


que foram diretamente afetados, o primeiro Mariana, local de origem do rompimento da
barragem e o segundo Linhares, onde fica a foz do rio Doce, no distrito de Regência.

O site da prefeitura de Mariana, não faz nenhuma referência ou presta qualquer tipo de
informação sobre o desastre, é como se quisessem esquecer ou apagar o ocorrido ao não
informarem. O mestre e professor Magalhães Azevedo, procurador do Tribunal de Contas de
Minas Gerais, destaca em sua fala em um seminário, que a cidade de Mariana vive a síndrome
de Estocolmo, que em apertada síntese, é o comportamento colaborativo que a vítima
desenvolve por seu agressor (Leal, Zillikens, et.al. 2017).

A Prefeitura de Linhares em 2017 firmou convênio com a Defensoria pública do Estado com
o objetivo de realização de diagnóstico sobre os impactos causados pelo rompimento da
barragem de Mariana (MG), com dados coletados pela Prefeitura de Linhares de forma

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autônoma. Divulgam em sua página na internet diversas providências que foram e estão sendo
adotadas com relação ao rompimento da Barragem.

Relatório produzido pelo Greenpeace entre 2016 e 2017, indicam que o desastre trouxe
mudança na vida das pessoas que habitam a Foz do rio Doce, em nível drástico. Os moradores
foram impactados em diversas áreas: na agricultura, na pesca, no varejo, na oferta de lazer,
em todos os segmentos da vida. Através de uma séria de questionários a organização
conseguiu apurar que 96,4% dos entrevistados tinham a “percepção de riscos” para o
consumo de água do rio, 94.5% para consumo de peixe, 90,7% para banho no rio (Greenpeace
2017).

4. Críticas ao governo

A atuação governamental deixou várias lacunas, muitas ainda persistentes, desde o processo
fiscalizatório, quanto ao licenciamento e operação da barragem. Neste sentido, a nossa
Constituição Federal em seu Artigo 225 (1988) determina que, “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo (…)”. Como visto, há uma responsabilidade compartilhadas entre o poder público
e a coletividade, entretanto, aquele por sua definição e propósito seguindo a ordem do texto
recai a primeira imposição. Uma constatação é a falência do sistema de gestão vigente no
país, sistema este que não foi capaz de impedir esse desastre, mesmo diante de alertas e
indicações como, por exemplo, o Relatório do Instituto Prístino anteriormente mencionado.
(Leal, Zillikens, et.al. 2017).

Acerca do papel e responsabilidades dos diversos órgãos reguladores e fiscalizadores,


destaca-se a fala do representante do poder público o ex-superintendente do IBAMA de Minas
Gerais, Marcelo Campos, em evento realizado em 2017, declarou que “o Ibama realizou um
licenciamento de minerodutos da Samarco e conheceu os profissionais bem qualificados que
compunham a empresa. Por isso, o rompimento da barragem, que foi o maior desastre desse
gênero no mundo, foi uma surpresa” (grifos dos autores). (Leal, Zillikens, et.al. 2017 – p.44).

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Se na visão do principal órgão regulador e fiscalizador do país o rompimento foi “uma
surpresa”, imagina para os atingidos!

No que diz respeito a atuação e assitência oferecido pelo Governo Federal e Estadual, sendo
bem verdade, que ao longo de todo o trabalho há outras evidências que permitem ao leitor
chegar as sua próprias conclusões. Apesar de todo o noticiário e ampla comunicação que o
rompimento da barragem proporcionou em diversas mídias e meios de comunicação, no
Brasil e no mundo, somente após 6 (seis) dias a presidente da república, Dilma Rousseff, à
época em entrevista coletiva, segundo o canal de notícias G1, disse que “o governo ia rever
como a mineração acontece no país”.

Um grande crítico da atuação governamental, em todas as esferas é o Coordenador da força-


tarefa do MPF (Ministério Público Federal), José A L Sampaio, que atuou na apuração do
rompimento da barragem. Em entrevista à revista Época Negócios em 2019, ao analisar os
seguidos eventos de rompimentos de barragens em Minas Gerais, declarou que o acordo
firmado pelo governo com a Samarco poucos meses depois do rompimento teria atrapalhado,
e foi classificado como intempestivo e impensado. Ainda segundo Sampaio, há muito que se
estruturar nos órgão fiscalizadores, que em nada adianta realizar fiscalizações “pro-forma”
apenas com apresentação de laudos, que se faz necessária a verificação “in-loco” das
informações prestadas pelas empresas, e isto caberia ao governo.

Na esfera estadual, é fato que diversas ações foram adotadas, entretanto chama a atenção que
apenas em 2019, o estado Mineiro criou um comitê para gerir os impactos do desastre,
anteriormente detalhado. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, em 2017, na qual
o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Dr. Guilherme de Sá, também
faz duras críticas, ao dizer que “e o que o poder político desse país fez? Calou-se!”.

A fiscalização ambiental é complexa e árdua, quando se leva em consideração as extensões


territoriais brasileiras e o número de servidores envolvidos nesta atividade. O poder público
federal precisa trabalhar em parceria com os governos estaduais e municipais frente ao
combate e prevenção de tragédias como a de Mariana. Esse é um trabalho a longo prazo e que

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exige que seja colocado em pauta a questão ambiental como uma das prioridades, realidade
que o Brasil parece estar cada vez mais longe.

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Conclusão
O estudo viabilizou algumas reflexões sobre a atuação das esferas governamentais, em
seus diferentes níveis, no momento posterior ao rompimento da barragem de Fundão.
Apresentando as versões das partes envolvidas e analisando os aspectos legais e normativos,
mostrou-se que há dispositivo legal a ser observado e cumprido para implementação,
operação e descomissionamento de barragens no país. Essa atividade é potencial poluidora só
por existir e que por isso, é preciso uma olhar atento do poder público.
Não pretendia-se com este breve estudo, aprofundar na tramitação jurídica do processo
relacionado ao desastre do Rio Doce, mas esclarecer que desde a primeira peça jurídica
distribuída em 30 de novembro de 2015, decorreram 04 (quatro) anos, ainda sem solução
definitiva. Dada a complexidade da questão, a lentidão do sistema judicial brasileiro e as
dimensões dos acontecimentos que ainda produzem seus efeitos ambientais e sociais, é muito
provável que o processo ainda tramitará por anos.
Por derradeiro, resta certo que além das 19 (dezenove) vidas ceifadas subitamente,
houve alteração do modo de vida de várias comunidades e danos ambientais gigantescos e
quase irreparáveis. E o pior, não foi aprendido a lição com o rompimento da barragem da
Samarco/Vale, e um pouco mais de 3 anos depois, veio o caso de Brumadinho, em contexto
muito semelhante, mas que deixou mais 250 famílias em luto.

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Referências bibliográficas
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Disponível em: http://www.anm.gov.br/assuntos/barragens/sigbm. Acesso em: 12 mai. 2020.

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http://www.anm.gov.br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/planejamento-
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