Você está na página 1de 4

SUINOCULTURA

Bem-estar Animal (BEA) Aplicado à Produção de Suínos

O bem-estar é importante não só por respeitar a senciência do animal como


melhorar a qualidade da carne e a qualidade ética dos animais. A qualidade ética inclui
todos os aspectos planejados e implementados da produção, transporte e abate dos animais para
melhoria dos processos pelos quais os animais são manejados.
No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por
intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), abriu em
2013 uma linha de financiamento específico para a melhoria do bem-estar dos animais no setor
produtivo.
O bem-estar animal é uma forma de oferecer a produtores, processadores, varejistas e
redes de restaurantes uma oportunidade de agregar valor aos produtos, respondendo também a
uma demanda do consumidor.
Para avaliar o bem-estar, é necessário que sejam mensuradas diferentes variáveis que
interferem na vida dos animais. É importante compreender as definições de bem-estar animal
que podem ser agrupadas em três categorias: em relação às emoções que os animais vivenciam;
em relação ao funcionamento do organismo; quanto à mensuração do comportamento do animal
e do ambiente em que ele se encontra em comparação ao comportamento e ao ambiente
“natural” do suíno.
O bem-estar dos suínos será melhor quanto mais intensas e duradouras sejam as
emoções positivas, ou seja, as que são prazerosas e, ao contrário, o grau de bem-estar será
menor, quanto mais intensas e duradouras sejam as emoções negativas vivenciadas, como a dor,
o medo e a ansiedade. quando o ambiente é particularmente ruim, a mortalidade e a incidência
ou prevalência de doenças multifatoriais são indicadores de um problema ligado ao bem-estar.
A dificuldade de adaptação é relativa ao custo que o próprio processo de adaptação tem
para o animal. Esse custo é resultado de dois elementos: por um lado, possíveis consequências
negativas da resposta do estresse e, por outro, possíveis consequências negativas das alterações
comportamentais que o animal desenvolve.
Com o enfoque de integrar as três abordagens, o Conselho de Bem-estar dos Animais de
Produção (Farm Animal Welfare Council - FAWC) definiu que o bem-estar de um animal é
atendido, quando se cumprem cinco requisitos, ou as liberdades: nutrição adequada; sanidade
adequada; ausência de desconforto físico e térmico; ausência de medo, dor e estresse intenso;
capacidade de expressar comportamentos típicos da espécie.
O princípio das cinco liberdades constitui uma aproximação prática muito útil para a
ciência do bem-estar e sua mensuração nas criações, no transporte e no abate dos animais de
produção.
Esses quatro princípios são o ponto de partida de um conjunto de 12 critérios em que
qualquer sistema de mensuração do bem-estar dos suínos deveria se basear, tais como: ausência
de fome prolongada; ausência de sede prolongada; conforto em relação à área de descanso;
conforto térmico nas instalações; facilidade de movimento; ausência de lesões; ausência de
doenças; ausência de dor causada por práticas de manejo (castração, corte de cauda); expressão
de comportamento social adequado, de forma que exista um equilíbrio entre os aspectos
negativos (como agressividade) e positivos; expressão adequada de outros comportamentos, de
forma que exista um equilíbrio entre os aspectos negativos (como estereotipias) e positivos;
interação adequada entre os animais e seus tratadores, de forma que os animais não manifestem
medo em relação às pessoas que os manejam; ausência de medo.
Os indicadores baseados no animal podem ser agrupados em quatro categorias:
Indicadores fisiológicos - avaliado pela mensuração da concentração de cortisol no
plasma. E uma diminuição de crescimento ou falha na função reprodutiva ou baixa imunidade
podem indicar situações de estresse e que o animal tem dificuldades de adaptação ao ambiente.
Indicadores de comportamento – mudanças de estereotipias relacionadas a adaptação ao
estresse. Os sistemas de alojamento, manejo ou alimentação que resultam em alta porcentagem
de animais com estereotipias são inadequados do ponto de vista do bem-estar animal.
Indicadores ligados à saúde dos animais - Doenças multifatoriais como diarreias pós-
desmame ou doenças respiratórias são indicadores úteis do baixo grau de bem-estar dos suínos,
assim como também são importantes a mortalidade, as lesões causadas pelo manejo, o ambiente
(físico) e as brigas com outros animais.
Indicadores ligados à produção – a variabilidade entre os animais nos parâmetros
produtivos é um indicador útil de bem-estar.

TÉCNICAS DE MANEJO VOLTADAS PARA O BEA EM SUÍNOS


Após a avaliação do grau de bem-estar, deve-se pensar em quais as formas para
melhorar essa graduação. Em geral, modificações geradas por esses estudos tendem a agradar ao
consumidor. Para facilitar a compreensão das medidas disponíveis para melhorar as condições
de bem-estar, podem ser divididas, didaticamente, em três categorias:
Medidas necessárias: visam à melhoria de manejos necessários e corriqueiros. Tratam
de manejos sem os quais a suinocultura se torna inviável ou de manejos amplamente utilizados
nas granjas.
Medidas importantes: objetivam melhorar a qualidade de vida dos animais, por
atenderem a necessidades da espécie. Sem elas há sobrevivência da atividade e dos animais,
mas a qualidade de vida deles pode estar prejudicada.
Medidas interessantes: podem ser utilizadas para melhorar o ambiente em que os
animais vivem. São pensadas para causar sensações agradáveis, bem como minimizar
problemas provocados pelos manejos convencionais.
As técnicas modernas de manejo e os marcos regulatórios que visam ao bem-estar dos
animais, em geral, levam em consideração os seguintes aspectos: os suínos deverão dispor de
um ambiente que corresponda às suas necessidades de exercício e de comportamento
exploratório; quando os suínos se encontram agrupados, há necessidade de adotar medidas
adequadas de manejo para a sua proteção; as porcas estabelecem facilmente contatos sociais,
quando dispõem de liberdade de movimentos e de um ambiente variado. Por essa razão, não
devem ser mantidas em confinamento rigoroso; os manejos que causam mutilação (castração,
manejo dentário e corte de caudas) provavelmente causam dor. Dessa forma, requerem ter sua
utilização repensada; deve haver um equilíbrio entre bem-estar e sustentabilidade da produção,
considerando os aspectos econômicos, sociais, ambientais e sanitários.
Para a manutenção da temperatura corporal dos leitões neonatos, diversos artifícios são
geralmente utilizados na prática: escamoteadores, resistências elétricas, pisos aquecidos,
lâmpadas incandescentes.
Em conjunto com o aquecimento, um manejo importante é a secagem dos neonatos.
Esse procedimento evita que os animais percam calor. As regulamentações de bem-estar animal
não fazem menção a esse respeito, mas nem por isso deve ser negligenciado. O corte do último
terço da cauda é utilizado para prevenção do canibalismo dos leitões, No entanto, cortar a cauda
pode causar respostas comportamentais e fisiológicas que indicam estresse agudo. A
recomendação para que a cicatrização do tecido seja mais rápida e com menos hemorragia é
cortar e cauterizar ao mesmo tempo.
O manejo da castração de leitões machos tem a função de melhorar o sabor e odor da
carne. É, portanto, uma medida que visa ao bem-estar do consumidor. Contraditoriamente,
possui também implicação positiva no bem-estar dos suínos confinados, uma vez que diminui a
agressividade dos machos e, portanto, as brigas.
Outro ponto do bem-estar animal é o alojamento das fêmeas em gestação. Na maioria
das granjas brasileiras, as fêmeas gestantes são mantidas em gaiolas. O fato de as porcas não
poderem exercer minimamente seu comportamento natural e de não poderem se virar, tanto para
o senso comum quanto para a ciência, torna ruins as condições de bem-estar. Por essa razão, na
Europa, o uso de gaiolas, após a quarta semana de gestação, já está proibido. As gaiolas ainda
predispõem a problemas urinários, problemas ósseos e redução do movimento dos intestinos,
causando maior por dificuldade de defecar. A alternativa às gaiolas são as baias coletivas.

Você também pode gostar