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CURSO DE ENFERMAGEM – Grau de Licenciado

Ano Letivo 2018-2019

UC ENSINO CLÍNICO DA APRECIAÇÃO À TOMADA DE DECISÃO EM ENFERMAGEM


3.º Ano – 1.º Semestre
Contributos para a elaboração do Jornal de Aprendizagem

O ato de rotina é, sobretudo, guiado pelo impulso, tradição e autoridade. A pessoa que não é reflexiva
aceita automaticamente o ponto de vista normalmente dominante numa dada situação. A ação reflexiva é
uma ação que implica uma consideração ativa, persistente e cuidadosa daquilo em que se acredita ou que
se pratica, à luz dos argumentos que a justificam e das consequências a que conduz. A reflexão é uma
maneira de encarar e responder aos problemas (Dewey, 1933).

Os instrumentos de reflexividade mobilizados em Ensino Clínico enquadram o Modelo de


Formação Reflexiva, promotor da aprendizagem experiencial e de uma prática reflexiva. Este
modelo envolve a capacidade reflexiva da parte do estudante; um questionamento sistemático na
e sobre a ação de modo a melhorar a prática e a aprofundar o saber em Enfermagem. A prática
reflexiva inscreve-se no paradigma cognitivo-construtivista da formação, no qual o estudante tem
um papel ativo na construção do seu conhecimento e a aprendizagem concretiza-se através da
reflexão sobre a ação (Shön, 1987; Zeichner, 1993).
Dos instrumentos de reflexividade destaca-se o Jornal de Aprendizagem enquanto registo escrito
de reflexão estruturada. É um instrumento de reflexão sobre situações de cuidados vividas em
contexto prático, constituindo por isso um espaço narrativo de pensamentos e sentimentos
centrado no ato de cuidar, na pessoa cuidada e na pessoa do cuidador (o próprio estudante).
Através da procura do significado das suas experiências e da integração desse conhecimento nas
suas ações, o estudante implica-se e responsabiliza-se pelo seu processo formativo e desenvolve
uma capacidade de reflexão e análise crítica, indispensáveis ao seu pleno desenvolvimento pessoal
e futuro profissional.
A reflexão é um processo de aprendizagem no qual a pessoa se envolve intelectual e
afetivamente: o estudante envolve-se em atividades intelectuais (cognitivas, raciocínio lógico,
pesquisa e mobilização do conhecimento) e afetivas (habilidades emocionais como motivação,
consciência de si, autoconhecimento, insights emocionais, introspeção) para explorar as suas
experiências de modo a atingir uma nova compreensão das experiências de cuidar. A ação
reflexiva é um processo que implica mais do que encontrar soluções lógicas e racionais para os
problemas; implica também intuição e sentimento. A reflexividade é a capacidade de dar
significado ao vivido ou ao que está a acontecer à sua volta; decompor em partes para extrair uma
melhor compreensão da experiência; analisar as suas partes para compreender o todo; é a
reflexão na ação e sobre a ação (pré e pós-ação). Por um lado, é uma capacidade introspetiva pois
analisa os pensamentos e as emoções, e por isso promove o desenvolvimento pessoal. Por outro
lado, é um questionamento sistemático da experiência, de modo a melhorar a prática e a
aprofundar o conhecimento.

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O Jornal de Aprendizagem constitui um registo escrito reflexivo concretizado numa narrativa e


análise de situações, considerando que o ato de escrita é por natureza um ato reflexivo e
organizador do pensamento. Quando o estudante escreve sobre a sua ação e sobre si, constrói o
distanciamento necessário para se analisar e avaliar em contexto dessa mesma ação. Por isso, este
registo é um meio de encorajar a autoavaliação e as competências analíticas e reflexivas. Além
disso, a sua elaboração favorece a articulação teórico-prática e a apropriação do corpo de
conhecimentos de enfermagem.
Para facilitar este processo de reflexão segue-se, tradicionalmente, o Ciclo Reflexivo de Gibbs
(Jasper, 2003) constituído por seis etapas:

Sendo o Jornal de Aprendizagem um espaço de reflexão, é importante ter em conta que este
abrange a dimensão referencial, em que é feita uma fundamentação (baseada em conceções e
evidência científica predominantemente de enfermagem) da situação vivida e refletida, e a
dimensão expressiva, em que há a consciencialização de sentimentos, medos e receios que
poderão ser ultrapassados pela própria reflexão. Destaca-se assim uma dupla dimensão do Jornal
de Aprendizagem (Zabalza, 1994):
- Referencial, reflexão sobre a situação de cuidados vivida, narrada e fundamentada em
experiências anteriores, referentes teóricos, evidência científica…
- Expressiva, reflexão e expressão de si próprio, os seus sentimentos e emoções, desejos,
intenções...
O objeto da reflexão é tudo o que se relaciona com a experiência do estudante em Ensino Clínico;
narração de ações, pensamentos e sentimentos, centrada na pessoa cuidada, na pessoa que cuida
e na interação de cuidados.
Com a elaboração do Jornal de Aprendizagem, o estudante expõe-explica-interpreta as suas
experiências de ensino clínico, pois revive as experiências de cuidados; descreve, analisa e avalia a
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ação/interação; e explora os seus próprios pensamentos e sentimentos, as ideias, conflitos,
dilemas que se cruzam na sua mente, num movimento de descentração (movimento de
distanciamento da situação vivenciada para a conseguir analisar exteriormente). O seu conteúdo
deve ser reflexivo, de autoanálise e de autoavaliação.
O jornal de aprendizagem elaborado deve ser enviado ao docente orientador e, se o estudante
assim o entender, pode ser partilhado com o enfermeiro orientador. O feedback ao estudante é da
responsabilidade do docente, numa perspetiva de identificar aspetos ou estratégias de
continuidade no desenvolvimento pessoal e profissional do estudante.
Este instrumento de reflexão sobre a prática concorre para o esclarecimento e a interpretação de
ideias ou acontecimentos experienciados em Ensino clínico prosseguindo o desenvolvimento de
boas práticas, a integração entre teoria e prática pois a reflexão incrementa o conhecimento e o
desenvolvimento do mesmo e, ainda, a consciencialização de sentimentos, medos e anseios, que
podem ser ultrapassados pela própria introspeção e orientação. Por tudo isto, visa o
desenvolvimento de competências no Estudante de Enfermagem.

Bibliografia
Boud, D., Keogh, R., & Walker, D. (1985). Reflection: Turning Experience into Learning. London:
Kogan Page.
Dewey, J. (1933). How We Think. Classic and highly influential discussion of thinking. New York: D.
C. Heath. https://archive.org/details/howwethink000838mbp
Gibbs, G. (1988). Learning by Doing: A guide to teaching & learning methods. Oxford: Oxford
Brookes University.
Harrison, P. & Fopma-Loy, J. (2010). Reflective Journal Prompts: A Vehicle for Stimulating
Emotional Competence in Nursing. Journal of Nursing Education, 49(11), 644-652.
Jasper, M. (2003). Beginning Reflective Practice. Cheltenham: NelsonThornes Ltd.
Kolb, A. (1984). Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development.
Prentice-Hall, Inc.: Englewood Cliffs, N.J.
Schön, A. (1987). La formación de profisionales reflexives, hacia un nuevo diseño de la enseñanza y
el aprendizage em las profesiones. Centro de publicaciones del ministério de educacion y ciência,
Ediciones Paidós: Barcelona.
Warner, H. (2006). Living with disability: Part 2. The child/family/nurse relationship.
Zeichner, K. M. (1993). A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Educa: Lisboa.
Paediatric Nursing, 18(2),38-43.

Autoria: Prof. Paula Diogo


Regente do ECATDE: Prof. Odete Lemos e Sousa
28 de setembro de 2018
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