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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Goiânia
2
2001
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA
COMISSÃO EXAMINADORA:
Goiânia
2001
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas que mais contribuíram para a realização deste de
maneira direta ou indireta, até mesmo sem saber: À minha avó Emília, à minha mãe Ginalva,
à minha esposa Valéria e os meus filhos Anna Clara e Victor Tadeu. Todos eles, estando
longe ou perto, através de seu amor, às vezes sem saber, deram força suficiente para concluir
este trabalho que tanto exigiu de mim e cederam momentos inestimáveis de sua existência em
AGRADECIMENTOS
Aos Professores Fausto Sahium, Anna Luíza Sant’Anna, João Varanda e Amilton
Fonseca Júnior, por terem aberto as portas das academias que fizeram parte deste estudo, bem
como a toda a equipe de professores e funcionários que me auxiliaram na identificação dos
meus informantes.
Finalmente, tenho um agradecimento muito especial à minha orientadora, a
Professora Doutora Maria Hermínia Marques da Silva Domingues, que durante todo esse
tempo, exerceu uma função muito acima da que lhe era devida, sendo uma amiga
compreensiva em momentos difíceis deste período e sem a qual, este trabalho não teria
conseguido atingir ao ponto que chegou.
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SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
Tabela 23: O lazer como objetivo dos praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária ..................................................................................................... 157
Tabela 24: Realização de outras modalidades dos praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária ......................................................................... 158
Tabela 25: Modalidades realizadas pelos praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária ........................................................................................... 159
Tabela 26: Motivo porque pratica outra modalidade, segundo os praticantes de
Atividade Física, por Faixa Etária. ........................................................ 160
Tabela 27: Opção por outra modalidade, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária ........................................................................ 161
Tabela 28: Modalidade referida como opção pelos praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária ......................................................................... 162
Tabela 29: Relação entre os exercícios e o Lazer, segundo os praticantes de
Atividade Física, por Faixa Etária ......................................................... 163
Tabela 30: Influência dos exercícios sobre o lazer, segundo os praticantes de
Atividade Física, por Faixa Etária ......................................................... 164
Tabela 31: Objetivo almejado pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária ..................................................................................................... 165
Tabela 32: Índice de Satisfação com os resultados alcançados pelos praticantes
de Atividade Física, por Faixa Etária .................................................... 167
Tabela 33: A contribuição da Atividade Física, segundo os praticantes, por Faixa
Etária ..................................................................................................... 168
Tabela 34: Comparação entre as médias obtidas entre as Categorias estudadas,
segundo os praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária.* ............ 169
Tabela 35: Motivos para a realização de Atividade Física, segundo os praticantes,
por Faixa Etária .................................................................. 170
Tabela 36: Comparação entre as médias obtidas pelas categorias em estudo,
segundo os praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária. .............. 172
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RESUMO
nessa prática. Finaliza-se, apresentando a idéia que a academia de ginástica deve ser vista pelo
Professor de Educação Física como locus de educação não-formal, destacando a prática
pedagógica como elemento fundamental.
ABSTRACT
The aim of this text is to think about the practice of physical activity realized for
adults from 20 to 50 years old in the gymnastics fitness centers in the Goiânia City. So, it was
selected four gymnastics fitness centers with different characteristics. The problem of this
research is to know “Why adults from 20 to 50 years old practice physical activity?”
Objectives of this work are: a) identify how important are health, aesthetics and leisure to
adults when they practice physical activity; b) investigate the level of the influence of
autoconscience and media in this process. The theoretical referential adopted was Marx,
Adorno, Horkheimer and Leontiev. To reach objectives purposed, it was made a survey trough
meeting appointment with 77 practitioners of physical activity in gymnastics fitness centers of
Goiânia. Data were analyzed by Epi Info and had a statistics treatment by chi-square. The
conclusion was: 1st) the principal objective of physical activity practice between adults from
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20 to 50 years old is aesthetics, followed by health and by leisure; 2nd) It was demonstrated
that media influences the practice of physical activity more than autoconscience. Finally, it’s
presented the idea that the gymnastics fitness centers must be seen for Physical Education
Teacher like a site of a no-formal education, emphasizing pedagogical practice like
fundamental element.
INTRODUÇÃO
Desde a antigüidade o ser humano se utiliza do seu corpo para estabelecer a sua
relação com o mundo, sendo o corpo aqui entendido como a forma da espécie humana estar
presente no mundo, atuando sobre ele, transformando-o de acordo com as suas necessidades,
promovendo ao mesmo tempo a sua transformação pessoal, porquanto a sua ação retorna para
ele. Este processo de ação se dá pelo trabalho, que por sua vez, só é possível quando ocorre o
movimento.
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disponível, tendo assim o objetivo de propiciar ao ser humano momentos de livre escolha, de
expressão de sua corporalidade e de se atar relação direta com o mundo. Assim, a atividade
física também acaba sendo utilizada na forma de lazer, onde a espontaneidade na busca pela
forma de ocupação do tempo livre é importante para a sua caracterização, enquanto tal (lazer).
Pode-se levantar, também, a possibilidade de se usar o movimento como forma de
conhecer as próprias potencialidades, tendo maior clareza das capacidades e limites de cada
um, buscando-se a superação das dificuldades pessoais de relacionamento, não havendo, aqui,
a preocupação com a superação de recordes esportivos. Existe, ainda, uma relação da prática
corporal com a melhoria do aspecto estético das pessoas onde há, cada vez mais, a divulgação
por parte dos meios de comunicação de massas (mídia), de imagens corporais entendidas
como perfeitas.
Esses elementos afetam a vida das pessoas de maneira geral, mas principalmente
das adultas que estão entre os 20 e 50 anos. Essa relação é provavelmente maior devido à
presença dessas pessoas no meio produtivo, ou seja, a maioria dos adultos nessa faixa etária
possuem obrigações sociais e familiares maiores do que outras faixas etárias, como as
crianças, os adolescentes e os idosos. Mesmo tendo clareza da grande divergência existente
sobre o início desta última fase, pode-se apresentar esse momento da vida – dos 20 aos 50 –
como o período de maior estabilidade física, psicológica e social na vida do ser humano.
É procurando entender as várias influências que aspectos sociais relacionados aos
conceitos de saúde, de estética e de lazer, procurando perceber ainda a influência da
autoconsciência e da mídia na vida das pessoas, é que se levantou o questionamento central
deste estudo: “Por que adultos de 20 a 50 anos praticam atividade física?”
Esta pesquisa tem como objetivos norteadores, dois pontos centrais:
a. identificar o nível de importância da saúde, da estética e do lazer na realização
de atividades físicas por parte de adultos;
b. investigar o nível de influência da autoconsciência e da mídia neste processo.
O estudo foi realizado dividindo-se os adultos em três faixas etárias: de 20 a 30
anos, de 31 a 40 anos e de 41 a 50 anos, o que se justifica devido às similaridades das
características apresentadas em cada período. Este corte também é justificado pelo fato dos
adultos estarem muito presentes dentro das academias de ginástica, além do que essa faixa
etária ainda é pouco estudada dentro da Educação Física. Outro ponto de corte adotado foi o
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tempo de três meses, uma vez que, segundo Dantas (1998), necessita-se de um tempo
aproximado a esse para se perceber o nível das alterações ocorridas.
Para se chegar às respostas pretendidas foi feito um estudo descritivo
normalmente utilizado quando o (...) foco essencial destes estudos reside no desejo de
conhecer a comunidade, seus traços característicos, suas gentes, seus problemas(...), seus
professores, sua educação, sua preparação para o trabalho, seus valores, (...)etc.
(Triviños,1987: 110)
O estudo descritivo foi feito na forma de um levantamento (survey), onde se
procurou entrevistar pessoas que praticavam atividade física em academias. Este delineamento
(...)pretende descrever ‘com exatidão’ os dados e fenômenos de determinada realidade.
(Triviños, 1987: 110)
Para se obter as informações necessárias seguiram-se aos seguintes
procedimentos: o primeiro está relacionado com a seleção dos locais a serem pesquisados. A
primeira opção foi de pesquisar os locais onde os praticantes de atividades físicas obtivessem
a orientação de Professores de Educação Física, pois nessa fase pretendia-se, inclusive,
realizar entrevistas com esses professores. Foi descartada a realização da pesquisa em locais
como as pistas de caminhada espalhadas pela cidade, bem como em parques, porque nesses
locais a orientação profissional é bastante reduzida.
Posteriormente, optou-se por realizar esta pesquisa em sete locais: cinco
academias de ginástica, que possuem um bom conceito com relação ao tipo de serviços
prestados; um clube do Serviço Social da Indústria (SESI), que também possui bons serviços
prestados, ao mesmo tempo que possibilitaria encontrar uma população de classe social mais
baixa. Por fim, a Faculdade Estadual de Educação Física de Goiânia, a qual ministra aulas
para a comunidade, a partir de um programa de extensão que tem como objetivo aprimorar a
formação profissional de seus alunos, servindo como campo de estágio.
A seguir, esses locais foram visitados para que se pudesse detectar as principais
características de cada local. Após as visitas, detectou-se a discrepância entre as características
das academias, do clube e da faculdade. Optou-se por eliminar o clube e a faculdade de
Educação Física. Além disso, a coordenação de uma das academias ofereceu resistência à
coleta de dados, o que determinou a sua eliminação. Finalmente, foram definidas as quatro
academias de ginástica que acabaram participando da realização deste trabalho, as quais
possuíam características diversificadas, mas que, ao mesmo tempo, apresentavam elementos
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próprios informantes. Ele continha dois blocos de afirmações onde os graus para as respostas
variavam de “concordo totalmente” a “discordo totalmente”. O 1º bloco, sobre a
contribuição da atividade física, consta de 21 afirmações (Anexo III-A) e o 2º bloco, sobre os
motivos da prática, com 20 afirmações (Anexo III-B).
Os instrumentos foram analisados por três Professoras Doutoras da Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Goiás – UFG. Após suas considerações, foi
reformulado para suprir as deficiências, sendo em seguida submetidos a um estudo piloto com
11 alunos das turmas de adultos de Iniciação Esportiva da Escola Superior de Educação Física
e Fisioterapia de Goiás, entre os dias 01 e 10/11/99. Em seguida à tabulação dos dados e da
identificação de pequenos problemas, chegou-se ao formato final, com as características
mencionadas anteriormente.
Após a realização e análise do piloto, utilizando-se a pergunta 2.13 do Roteiro de
Entrevistas, calculou-se a amostragem através do teste t de student, que determinou que para
haver possibilidade de generalização para a cidade de Goiânia, com p < 0,05, deveriam ser
entrevistados 116 informantes de maneira aleatória, o que corresponde a 15,97% do universo.
Foi obtida, junto à direção de cada academia, a relação dos alunos de 20 a 50 anos
que faziam atividade física há mais de três meses, os quais foram divididos por sexo e em três
faixas etárias, sendo elas de 20 a 30; de 31 a 40 e 41 a 50 anos. A partir desta relação, os
alunos foram sorteados, a fim de se identificarem os sujeitos do estudo.
Dentro do quantitativo geral das academias pesquisadas existiam 726 alunos que
atendiam ao perfil da presente pesquisa. Desses, foram entrevistados 77 alunos que atendiam
aos critérios: idade entre 20 e 50 anos e que praticavam atividade no mínimo há três meses.
O período de coleta dos dados foi do dia 24/11/99 até 22/05/00. Para não haver
problema entre os dias e horários, procurou-se fazer a pesquisa nos horários de maior
movimento, alternando-se as academias em relação aos dias e horários. As entrevistas
seguiram o seguinte procedimento:
a. chegada à academia e contato com a recepcionista;
b. identificação dos alunos presentes ou que provavelmente compareceriam
naquele dia, com a ajuda da recepcionista e/ou dos professores da academia;
c. abordagem ao aluno, com ajuda ou não dos funcionários da academia, e
questionamento se o aluno poderia responder às perguntas;
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A vida humana é marcada por diversas fases durante o seu curso, sendo essencial,
ao longo de toda história pessoal, a vivência dos diversos momentos em toda a intensidade
que cada um deles exige. A existência de cada instante pode ser dividida em períodos mais
longos ou mais curtos, deixando maiores ou menores lembranças, mas nem por isso cada uma
delas deixa de ser importante. Essas fases podem ser descritas de diferentes formas,
dependendo da abordagem utilizada, sendo, todavia, percebida a existência de pelo menos três
momentos: a infância (de 0 a 10 anos), a adolescência (dos 10 aos 20 anos) e a vida adulta
(dos 20 anos até a morte). Pode-se, ainda, considerar um outro período de vida: a velhice,
sendo essa compreendida a princípio, na elaboração deste trabalho, a partir dos 65 anos, idade
adotada para se definir o período de aposentadoria.
Dentro dessa divisão, tanto a Educação como a Educação Física sempre deram
bastante atenção para as duas primeiras etapas, deixando em segundo plano a fase adulta
como parte do desenvolvimento do ser humano. Da mesma forma, só nos últimos anos
começou-se a dar atenção para os idosos, fato ocorrido devido ao crescente aumento da
expectativa de vida, não apenas no Brasil como no mundo, aliado à uma redução na taxa de
mortalidade infantil e aos avanços da medicina, que permitem um combate cada vez mais
eficaz contra os diversos tipos de doença.
A intenção deste capítulo é estabelecer uma discussão a respeito do que venha a
ser essa fase da vida, entendida como o período adulto, onde se percebe, sem muito esforço,
um “momento de estabilidade” no que concerne ao desenvolvimento do ser humano.
Entretanto, essa constância pode ser real nos aspectos biológicos, porém está longe de sê-la
em relação às dimensões psicológicas e sociais da humanidade.
Porém, antes de se discutirem todas as características da vida humana em sua
adultez devem-se apresentar as formas que são adotadas para a sua divisão. Nesse sentido,
buscar-se-á uma divisão que atenda às necessidades deste trabalho, contudo atendendo as
demandas da Educação Física enquanto uma área do conhecimento que se preocupa com o
desenvolvimento total da pessoa, sem poder, para isso, selecionar uma dimensão como sendo
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a mais importante. Dessa maneira, poder-se-iam considerar, ao menos, três vertentes quanto à
divisão desse período da vida, sendo elas: a) a psicologia social; b) a psicologia do
desenvolvimento e c) o desenvolvimento motor. Entretanto, considera-se que a discussão
dentro de cada tendência poderia constituir uma reflexão desnecessária, embora não se possa
deixar de mencionar essas diferentes abordagens.
Pensando assim, deve-se destacar que qualquer abordagem adotada terá efeito
meramente didático, uma vez que a apreensão da essência de um objeto que se movimenta,
que é dinâmico em suas relações, seria extremamente simplista e parcial. Mesmo adotando
esta posição de extrema parcialidade, procurar-se-á adotar uma divisão para o período de vida
adulto que, no conjunto dessa discussão, possa dar o maior nível de sustentação e coerência na
relação entre o referencial teórico e os dados obtidos em campo. Por isso, será como ponto de
corte nesta reflexão uma abordagem que atenda a necessidade de procurar entender o ser
humano na totalidade de suas relações. Mesmo não se conseguindo fazer uma discussão
detalhada das várias etapas da vida, serão apresentados os aspectos centrais do
desenvolvimento de um período onde o ser humano passa a assumir maior número de
responsabilidades sociais.
Todavia, ainda se entende que determinados aspectos devem ser compreendidos
de maneira suficiente para dar o devido suporte às relações da atividade física com a saúde e
mesmo com a estética, uma vez que essas alterações, esses objetivos precisam dessa base para
se justificar, e, também, por entender que os processos fisiológicos responsáveis pela vida do
ser humano não podem ser negligenciados.
Assim, adota-se a seguinte classificação para efeito didático desta pesquisa:
¨ Adulto Jovem – Dos 20 aos 30 anos de idade. Nesse período da vida o ser
humano passa a assumir um grande número de papéis sociais, sendo inclusive o
momento no qual, teoricamente, está se inserindo no mundo do trabalho,
iniciando, assim, a sua “carreira” profissional. Nesse período, normalmente, o
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adulto já tem parte de sua personalidade formada, tendo que passar pela definição
e escolha de um companheiro, com o qual passará a dividir uma parte importante
de sua vida. Além disso, nesse momento o jovem está no ápice da sua capacidade
corporal, estando em plenas condições de desenvolver qualquer atividade física
que tenha vontade.
¨ Adulto Médio – Dos 31 aos 40 anos. Nesse período o ser humano já tem (ou
deveria ter) normalmente uma profissão, na qual já possui experiência suficiente
para realizar as atividades com desenvoltura. Do ponto de vista psicológico, o
homem e a mulher já devem ter maturidade suficiente para enfrentar as
dificuldades da vida e as perdas que começam a acontecer. Passam por um
período de opção quanto à realização de atividades produtivas que podem ser
refletidas na capacidade de gerar e criar filhos ou enfrentar novos desafios no
trabalho, como modificar as relações dentro do seu local de trabalho. Do ponto de
vista físico, começam a perder velocidade e força, tendem a engordar e começam
a ocorrer perdas orgânicas gradativas, embora se possa considerar essa época
como de relativa estabilidade.
¨ Adulto Maduro – Dos 41 aos 50 anos. Nesse período já existe uma
consolidação da carreira e a estabilidade atinge o seu cume no início dessa década.
Do ponto de vista psicológico existe um momento de reflexão, de balanço sobre
os rumos que foram tomados na vida, que embora possa ser bastante diferente
entre as pessoas, naquelas que o vivem mais intensamente, é uma fase muito
importante para ajudar até mesmo na consolidação da personalidade e dos planos
futuros. Para as mulheres pode ser ainda mais crítico devido à menopausa, que
altera o funcionamento fisiológico, fazendo com que ela perca a capacidade de
engravidar por meios naturais, e, inclusive, gerando maior risco para algumas
doenças, devido à falta de circulação de hormônios sexuais. Do ponto de vista
motor, as perdas se acentuam um pouco mais e, a partir daqui, são
contra-indicadas atividades esportivas competitivas em categorias principais. A
partir dos 45 anos torna-se obrigatória uma avaliação médica mais rigorosa para a
realização de atividade física.
Depois desses três períodos, pode-se pensar em pelo menos mais dois. Um que
poderia ser chamado de “adulto tardio”, entre os 51 e 65 anos. Outro, o “adulto idoso” acima
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de 65 anos. Como o presente trabalho se preocupa com o período que vai dos 20 aos 50 anos,
esses dois períodos não serão tratados.
As características relatadas até agora servem apenas para justificar a opção pela
divisão dessa fase da vida. A seguir, serão abordados os elementos físicos, psicológicos e
sociais de uma forma mais detalhada e abrangente, discutindo o adulto em seu todo, pois as
alterações ocorridas dentro de todo o ciclo vital são decorrentes de um processo de
desenvolvimento contínuo, no qual cada ser humano está inserido.
... a maturidade sexual atinge seu máximo durante os anos adultos de modo que as
mudanças na estrutura física e no funcionamento fisiológico associadas com
diferenças em sexo são maximizadas. Embora o período da maioridade seja
marcado pelo fechamento da epífise óssea pela estabilidade em crescimento físico e
funcionamento fisiológico de cada indivíduo, a dotação genética e as influências
ambientais agindo sobre diferentes indivíduos faz o período da fase adulta um dos
que exibem a maior variação em parâmetros de desempenho dentro de cada sexo e
entre eles. (ECKERT, 1993: 331)
Não se pode esquecer, todavia, que essa maior quantidade de gordura é essencial
no controle das funções hormonais nas mulheres, ao ponto de sua pouca quantidade ser
responsável por distúrbios como a amenorréia. Esse fato ocorrerá caso o percentual de gordura
da mulher fique abaixo de 12%, considerado o nível de gordura essencial para as mulheres.
Nos homens, a gordura essencial fica em 3%. Associada a essa questão fisiológica, pode
aparecer outra mais individual, pois a prática de atividade física pode interferir no nível de
capacidade aeróbia. Além disso, a mulher parece não receber muitos estímulos para se manter
ativa fisicamente. Essa redução acaba contribuindo para os altos níveis de sedentarismo entre
as mulheres, além de redução na sua capacidade orgânica. Estão ainda relacionados a essa
menor capacidade aeróbia, outros fatores como a menor quantidade de hemoglobina no
sangue, a menor volemia, menor capacidade pulmonar, entre outros.
Outros parâmetros físicos importantes, são a velocidade, a força e a resistência
anaeróbia. A primeira, tanto nos homens quanto nas mulheres, atinge o seu pico em torno dos
22 anos. Já a segunda alcança seu máximo, em ambos os sexos, até os 30 anos (Barbanti,
1979). O pico da força para as mulheres se inicia aos 16 e para os homens aos 20.
Como a força absoluta mostra (...) pouco declínio durante o mesmo alcance de
idade, (sic!) pareceria que este declínio em desempenho motor é devido ao peso
crescente (...) o qual parece ser principalmente de tecido adiposo e, por este motivo,
retarda o desempenho nos itens do teste. (ECKERT,1993: 348)
Embora este estudo não se preocupe com a competição, o item levantado acima
serve para demonstrar dois aspectos. O primeiro é que o adulto jovem tem todas as condições
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Katch (1998) e Lee (2000a), com esta pesquisadora apontando inclusive para a diminuição de
risco de doenças cardiovasculares, além de outras como o câncer de cólon.
Todas essas características dão uma rápida dimensão do desenvolvimento
fisiológico e motor nos jovens anos adultos. Apresentar-se-ão agora, os aspectos
característicos do adulto médio. Esse período da vida se inicia geralmente aos 31 anos,
quando o adulto alcança o ápice das suas responsabilidades profissionais e familiares. Pode
ser considerado um período de gradativas perdas no desempenho motor, um vez que a maioria
dos processos biológicos começam a se degenerar, perdendo, gradativamente, a sua máxima
capacidade de desempenho, pois,
Até o final da terceira década, já são bem altas a rapidez e a extensão do retrocesso
de rendimento em solicitações de rendimento (...) motor (...).
Consequentemente, o processo de retrocesso é de início muito maior,
em termos absolutos, que nas décadas de vida seguintes. (MEINEL, 1984: 371)
Gráfico 1: Distribuição de faixa etária dos praticantes de Atividade Física, por Academia
34
Gráfico 2: Distribuição por sexo dos praticantes de Atividade Física, por Academia
35
Nesse caso se torna bem claro que as pessoas que realizam atividades físicas
regularmente possuem um nível de instrução bastante elevado. A maior parte das pessoas
possui nível superior. Destas, 42,85% estão cursando Pós-Graduação. Vale a pena atentar para
o fato de que apenas a Academia 2 apresenta pessoas com ensino fundamental incompleto,
correspondendo a 12,5% de seus alunos, e mais 25% de alunos com o ensino médio
incompleto. Essa característica se dá provavelmente por sua localização. Esses dados sugerem
a elitização desse espaço que trata de alguns dos elementos da cultura corporal, entendendo-se
que pessoas de nível superior são, em sua maioria, de classe média e alta.
Dentro da pesquisa realizada, uma das perguntas que ajudava a traçar o perfil dos
entrevistados questionava sobre a profissão exercida. No que se refere à profissão, verifica-se
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ampla dispersão. A fim de possibilitar melhor leitura dos dados, foram congregados os
seguintes grupos:
1. Saúde – Arte Terapeuta; Biomédico; Enfermeiro; Médico; Odontólogo.
2. Administrativas – Administração; Analista; Assessor; Auxiliar De Diretoria; Consultor;
Coordenador; Diretor; Economista; Gerente; Secretária; Proprietário; Recursos Humanos.
3. Comércio – Comerciante; Representante Comercial; Vendas.
4. Ciências Humanas – Advogado; Arquiteto; Assistente Social; Decorador; Repórter.
5. Educação – Estagiário, Estudante, Professor de Educação Física, Professor.
6. Outros – Cabeleireira, Do Lar, Fazendeiro, Fiscal, Funcionário Publico; Mecânico;
Técnico, Indefinido.
7. Não Exerce. – Sem Atividade Definida..
Tabela 1: Profissão exercida pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Profissão exercida 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Saúde 2 5,7 5 20,8 0 0 7 9,0
Administrativas 10 28,6 10 41,7 4 22,2 24 31,2
Comércio 3 8,5 2 8,3 2 11,1 7 9,1
Ciências Humanas 6 17,1 0 0 5 27,8 11 14,3
Educação 9 25,7 5 20,8 4 22,2 18 23,4
Outros 4 11,4 2 8,3 3 16,7 9 11,7
Não Exerce 1 2,8 0 0 0 0 1 1,3
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
saúde, uma vez que esses profissionais até certo tempo atrás, gozavam de prestígio social.
Dentro do teste estatístico (X2), essas diferenças não são consideradas significativas,
provavelmente em decorrência do alto índice de dispersão, pois, ao todo, foram detectadas
quarenta profissões diferentes.
Deve-se refletir, ainda, em relação às profissões consideradas fisicamente ativas.
Do total da amostragem, apenas 10,39% podem ser consideradas como tal, e isso se nelas
forem incluídas cabeleireiro, pessoas do lar, mecânico e professores de Educação Física. E
mesmo assim, deveria haver outras perguntas para se identificar o real grau de atividade física
no trabalho. Assim, se for levada em consideração a atividade laboral em relação às
características apresentadas até aqui, essas pessoas tenderão a manter um maior nível de
capacidade física em todas as faixas etárias, porque suas profissões possuem, teoricamente,
maior exigência orgânica, fazendo com que as perdas decorrentes da idade sejam ainda mais
lentas. Nesse sentido, McArdle, Katch & Katch (1998) demonstram que atualmente admite-se
uma maior estabilidade da condição física, mesmo em idades mais avançadas, para as pessoas
que se mantêm em atividade física constante. Ademais, essa maior prática corporal pode
apresentar aspectos positivos em relação à manutenção da saúde fisiológica.
Quanto ao local de trabalho, devem-se destacar as repartições públicas com
19,48% do total; escolas e cursos livres, com 16,88%; trabalho em casa, com 14, 29 %, e
centros de saúde, com 7,79% do total.
Contudo, não são apenas os aspectos fisiológicos que são importantes na
existência das pessoas; os aspectos psicossociais são cruciais para se pensar até mesmo na
melhoria das condições biológicas. Esse é o ponto que irá ser discutido a seguir.
atividade física. Por outro lado, entende-se aqui que cada ligação psicológica que o Homem
trava com o seu semelhante e com a natureza é, antes de tudo, uma vinculação desenvolvida
no contexto social e histórico no qual se estabelece.
Deve-se também registrar que essa abordagem, ora realizada, não pode excluir a
discussão sobre os aspectos fisiológicos, pois as duas formas de desenvolvimento se dão de
maneiras diferentes, porém de modo dialeticamente conjunto:
implicações na vida dos indivíduos, é preciso que se tenha como parâmetro algumas
afirmativas gerais:
O desenvolvimento humano acontece devido às alterações nas relações de
produção. O Homem atingiu o seu desenvolvimento filogenético devido à necessidade de
estabelecer uma relação de equilíbrio com o seu meio, o que se tornou possível pela utilização
de sua consciência. A atividade consciente, de acordo com Lúria (1979), se pauta por três
traços importantes, que são: 1) a não ação pelos motivos biológicos, que estão relacionados às
necessidades orgânicas básicas; 2) a ação independente da experiência individual imediata,
que pode dar ao Homem formas de comportamento, aparentemente incoerentes entre o motivo
e a ação.
A partir do momento que o Homem não é mais direcionado apenas por seus
determinantes biológicos e suas vivências imediatas e pessoais, abre-se a possibilidade de
aquisição de outros elementos que passam a fazer parte da sua vida não apenas como ser
individual, mas, também, como ser grupal, o que por sua vez lhe permite o desenvolvimento
de habilidades diferenciadas.
O processo de evolução, que depende dos três elementos citados por Lúria, dão ao
ser humano a condição de perceber e enfrentar o seu meio, forjando, necessariamente, um
aspecto próprio do ser humano: a consciência, desenvolvida no processo de suas condições
materiais. Essa, por sua vez, permite a evolução de um ser meramente natural a um ser
também com características sociais, pautadas pelo trabalho social, pela utilização de
instrumentos e pela aquisição da própria linguagem (Lúria 1979).
A ação mediada e a assimilação da experiência de toda a humanidade estão
intimamente vinculados, vistos como uma inter-relação entre ambos. Ao fabricar os
instrumentos, como as pedras primitivas, as quais permitiam o desenvolvimento de funções,
para as mulheres, esfolar a caça e, os homens, caçar, também permitiam aos seres humanos
um desenvolvimento diferenciado, porquanto não haver mais a necessidade de atender apenas
41
condições mínimas de existência pelo emprego e pelo salário. Esses recursos não são, todavia,
suficientes, pois
além de alienar a produção em si, tem também a capacidade de obter, pelo trabalho de outros,
todo o conforto necessário à sua vida, pois acumula capital, o qual é decorrente do não
pagamento do que é devido para o trabalhador. A propriedade privada dá ao burguês aquilo
que ao operário não será possível: o seu sustento e a sua dignidade.
O individualismo, dentro do modo de produção capitalista, é a exacerbação da
capacidade da pessoa se perceber como única. Em um primeiro momento, para que houvesse a
possibilidade de haver movimento entre as classes sociais, a questão da percepção de cada um
como sendo diferente dos outros é fortalecida. Entretanto, com o desenrolar dos
acontecimentos dentro do modo de produção, essa percepção, quando consciente, poderia
gerar a necessidade de todas as pessoas ascenderem socialmente, que não era (e não é) uma
possibilidade posta pelo capitalismo, pois a detenção dos meios de produção não é possível
para todos, e nem mesmo um salário que pagasse exatamente aquilo que custa cada bem
produzido, pois esse fato levaria ao fim da exploração e de uma classe privilegiada. Destarte,
era preciso que as pessoas se percebessem enquanto peças importantes e diferentes dentro da
grande engrenagem da sociedade, onde cada um deve exercer o seu papel para que todos (os
burgueses) sejam beneficiados.
Por fim, a competição. O objetivo central desse preceito é demonstrar que dentro
da lógica do mercado sobrevive apenas o mais forte, o mais capaz de vencer a concorrência,
sendo sempre o número 1. Esse fato só é possível para aqueles que se esforçam, que se
dedicam a um grande ideal e para os que correm atrás de seus objetivos. Essa doutrina se
vincula às outras duas no sentido de que cada indivíduo deve ser melhor do que o outro, não
havendo, assim, espaço para a cooperação, pois todos estão querendo sobrepujar o seu
oponente. E isso só será possível através da própria propriedade privada, onde se retoma a
necessidade da exploração, do individualismo, da competição e assim sucessivamente.
Para tornar possível esse processo de exploração necessita-se de outro fator que,
em relação direta com os aspectos anteriores, implica o processo de absorção da cultura. Esse
conceito deve ser entendido a partir da materialidade da existência do homem sobre a terra,
pois,
... homem apropria-se de forma global, isto é, como homem total. Cada uma de suas
relações humanas com o mundo – ver, ouvir, cheirar, saborear, sentir, pensar,
45
... a grande maioria dos conhecimentos e habilidades do homem se forma por meio
da assimilação da experiência de toda a humanidade, acumulada no processo da
história social e transmissível no processo de aprendizagem. (...) Por meio da fala
transmitem-lhe os conhecimentos mais elementares e posteriormente, por meio da
linguagem, ele assimila na escola as mais importantes aquisições da humanidade. A
grande maioria de conhecimentos, habilidades e procedimentos do comportamento
de que dispõe o homem não são o resultado de sua experiência própria mas
adquiridos pela assimilação da experiência histórico social das gerações. (LÚRIA,
1979: 73) (Grifos do autor)
O processo de transmissão dos conhecimentos acumulados historicamente, bem
como, da própria cultura, trazem juntos os conhecimentos a respeito das relações entre o
48
Essas mudanças, por sua vez, são potencializadas pela configuração de dois
aspectos essenciais: a consciência e a linguagem, conforme foi colocado anteriormente.
Enquanto aquela evolui pautada no próprio desenvolvimento das condições materiais, por sua
vez, atreladas às próprias relações envolvidas no processo de trabalho, sendo definidas pela
própria divisão social do trabalho, esta [a linguagem] exerce o papel de verdadeira fonte de
desenvolvimento social e individual, uma vez que, a partir da sua utilização na transmissão de
valores culturais próprios da sua época, abre possibilidade de intervenção dos Homens entre
si. Essa intervenção permite a cada um, mesmo que de uma maneira incompleta, realizar as
suas potencialidades e, assim, criar a possibilidade de desenvolver a consciência de si próprio,
ou seja, desenvolver os seus aspectos psíquicos.
A partir da relação estabelecida entre o desenvolvimento ontogenético e o trabalho
enquanto categoria central para tal, precisa-se retornar à discussão das profissões exercidas
pelos praticantes de atividade física nas academias de Goiânia, decorrente da necessidade de
se saber o nível de apreensão cultural que seria possível inferir a partir do nível de
escolaridade dos informantes, além de procurar identificar quais as profissões apresentam
maior nível de escolarização. Esse cruzamento de dados se justifica, porque, a partir dele
pode-se inferir, ainda, que a presença de profissões que exigem cursos superiores contribui
para garantir maior possibilidade de emprego. Isso fica demonstrado ao se cruzar a profissão
exercida com o grau de escolaridade. Entre as pessoas entrevistadas durante a realização da
pesquisa conseguiu-se identificar as profissões que mais procuram aumentar a qualificação
através dos cursos de pós-graduação. Dentre essas, verificam-se que as que já têm
pós-graduação completo, 31,3% atuam na área da saúde; 12,5% na de ciências humanas; 25%
são da área administrativa; 18,8%, da educação, e 12,5% de outros grupos profissionais.
Nenhuma das pessoas do comércio e daquelas que não trabalham tem curso de pós-graduação
completo.
Com relação às pessoas que estão cursando pós-graduação (incompleto), 18,2%
são da área de ciências humanas; 11,1%, da educação; 8,3%, da de atividades administrativas.
Nenhum dos outros grupos apresentou pessoas que ainda estivessem cursando a
pós-graduação. Essas áreas de atuação profissional são, provavelmente, as que mais
50
Quando se tem o ser humano como objeto de estudo, fica uma certa preocupação
em relação a melhor forma de abordá-lo, pois ele possui diversas dimensões que não podem
ser compreendidas de maneira isolada. O ser humano é necessariamente fruto das relações
sociais às quais está vinculado e, nesse sentido, vive intensamente todas as contradições
materiais da sua existência. Destarte, para se compreender cada pessoa precisa-se entender um
pouco mais aquilo que ela tem – e é – de mais concreto, o corpo.
Construir uma concepção de corpo implica apreender diferentes dimensões.
Implica, em primeiro lugar, discutir a questão do corpo entendendo que esse é o local onde se
instalam os signos sociais e a partir de onde o Homem trava todas as relações sociais com o
seu semelhante e consigo mesmo; em segundo, relacionar a sua interação pessoal abordando
de forma mais específica a questão da autoconsciência que, para Leontiev, é um dos suportes
mais importantes para o desenvolvimento da personalidade, o que permitirá discutir a
consciência como constituição do co-conhecimento, locus que faz da convivência social o
ponto-chave para qualquer desenvolvimento; e, em terceiro, abordar as relações entre o corpo
e o mundo a partir da relação entre o indivíduo, a sociedade e a mídia, entendida como um
mediador privilegiado entre os interesses sociais, sobretudo das classes hegemônicas.
1. A Questão do Corpo
52
Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é o corpo dele, com o
qual deve manter-se em contínuo intercâmbio a fim de não morrer. A afirmação de
que a vida física e mental do homem e a natureza são interdependentes
simplesmente significa ser a natureza interdependente consigo mesma, pois o
homem é parte dela. (MARX, 1983: 95)
Para Marx, a natureza é histórica, ao mesmo tempo que a história é, antes de tudo,
da própria natureza, e isso se explica através do trabalho. Nos primórdios da vida humana na
terra, o ambiente se apresentava extremamente hostil para a vida do Homem. Para que ele
conseguisse sobreviver e retirar da natureza o seu sustento, precisou transformar o meio onde
vivia, começando a produzir instrumentos que, ao mesmo tempo que permitiam a sua ação
sobre a natureza, permitiam também o desenvolvimento das suas capacidades motoras,
psicológicas, culturais e mentais.
53
atividade voltada contra ele mesmo, independente dele e não pertencente a ele. Isto
é auto alienação, ao contrário da acima mencionada alienação do objeto. (MARX,
1983: 94)
Esse mesmo autor ainda complementa esses dois conceitos com um terceiro, qual
seja
Uma vez que o objeto por ele produzido não lhe pertence, tornando-se antes um
elemento para a sua própria destruição, produzindo a si próprio enquanto uma mercadoria e
incapaz de se relacionar com outros homens de uma maneira que não seja o padrão produtivo,
ele acaba por criar-se enquanto uma mercadoria, e como tal, o Homem perde a si mesmo,
enquanto um ser histórico. Perder-se mais uma vez implica a perda da consciência,
pensando-se a própria história enquanto a mola propulsora dessa. Assim, volta-se ao começo,
pois o momento histórico é definido de acordo com o modo de produção e a tecnologia
existente em cada momento. Contudo, existe aqui um outro problema. A mercadoria
produzida por cada trabalhador não lhe pertence, e nisso também está presente o processo de
alienação humana. A única coisa que lhe pertence é a força de trabalho, explorada pelo patrão
e geradora do salário pago pelo dono do meio de produção, sendo que este, o salário, já foi
visto como uma condição para a não extinção do trabalhador. Assim, a sua capacidade de
existência se torna cada vez mais abstrata.
Essa observação pode ser complementada pelos dizeres de Gonçalves (l994: 63),
fazer “(...) com que esse corpo subsista como força de trabalho é o único objetivo do capital.”
55
Para Marx (1983), o Homem existe enquanto um capital para si, sendo isso
possível quando há capital para o homem. Todavia, no modo de produção capitalista, não
existe capital para o trabalhador, apenas para o patrão, detentor dos centros de produção. Ao
fazer isso o trabalhador cria para si condições onde por
... certo, o trabalho humano produz maravilhas para os ricos, mas produz privação
para o trabalhador. Ele produz palácios, porém choupanas é o que toca ao
trabalhador. Ele produz beleza, porém para o trabalhador só fealdade. Ele substitui
o trabalho humano por máquinas, mas atira alguns trabalhadores a um gênero
bárbaro de trabalho e converte outros em máquinas. Ele produz inteligência, porém
também estupidez e cretinice para os trabalhadores. (MARX, 1983: 92)
“(...) corpo explorado devia representar para os inferiores o que é mau e o espírito, para o
qual os outros tinham o ócio necessário o sumo bem” (Adorno & Horkheimer, 1985: 216).
Cada uma dessas marcas é transmitida de geração para geração tal qual a cultura,
sendo melhor firmadas no corpo, desde a sua infância. É como diz Vigarello,
... ‘O corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto marca a criança, ele é o
primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados a
sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como
também seus brasões’. (apud SOARES, 1998: 17)
Esses sinais decorrem do próprio processo produtivo, pois é a divisão entre o labor
intelectual e braçal, e as condições nas quais é realizado, os responsáveis pela característica
corporal, pensando-se que cada um deles desencadeará a construção de um corpo diferente,
burguês e marginal, respectivamente. Embora a construção do corpo do trabalhador
“intelectual” possa acontecer de uma maneira diferente do corpo do trabalhador braçal,
mesmo se aproximando da formação do corpo burguês, o seu corpo continua alienado. E o
que é mais grave, mesmo que ele não perceba isso, a possibilidade de ele se embrutecer ao
ponto do “corpo marginal braçal”, é bastante grande. E o que é pior, do ponto de vista dos
sentidos (visão, olfato e outros) isso já aconteceu.
Esse processo de alienação, de não vinculação entre o bem produzido e a sua
subjetivação por parte do trabalhador, bem como pelo lucro por ele gerado, relaciona-se com a
propriedade privada. Essa conexão é propiciada pela aquisição do produto do trabalho de um
ser humano por outro.
Dessa forma, pretende-se explicar que, antes mesmo de a linguagem verbal ser
desenvolvida, a diversidade dos gestos já consegue cumprir o papel de estabelecer um nível
importante de comunicação entre os homens.
consciência individual, sendo essa, por sua vez, a conseqüência do desenvolvimento material
na vida das pessoas. “(...) A consciência do homem é a forma histórica concreta do seu
psiquismo” (ibid.: 88).
Ao perceber a importância da linguagem corporal enquanto uma maneira de
estabelecer as relações humanas, o corpo ganha o papel central na forma de produção
capitalista em decorrência de alguns aspectos que podem ser apresentados. O primeiro deles
tem a ver com a produção e a reprodução do modo de produção em si, uma vez que, apesar da
mecanização, é necessário que homens se façam máquinas, para que a espoliação e geração do
capital propriamente dito sejam possíveis. Além disso, a manutenção do corpo e das
mensagens, por ele transmitidas, demonstram elementos da perpetuação ou não da sua
subsistência corporal, uma vez que, quando esses corpos não transmitirem as mensagens
adequadas eles podem ser isolados ou mesmo destruídos. Nesse processo, o “(...) amor-ódio
pelo corpo impregna toda a cultura moderna. O corpo se vê de novo escarnecido e repelido
como algo inferior e escravizado, e, ao mesmo tempo, desejado como o proibido, reificado,
alienado” (Adorno &Horkheimer, 1985: 217).
O segundo aspecto está relacionado à utilização do corpo enquanto sede dos
signos sociais, pois as mensagens veiculadas por esses corpos que se movimentam, podem ser
as mais fantásticas possíveis, pensando-se rapidamente nas capacidades físicas desenvolvidas
principalmente pelos atletas, sobretudo os de modalidades como ginástica olímpica, nado
sincronizado, entre outras, que exigem um domínio corporal altamente sofisticado. Essas
modalidades transmitem, por si só, aquilo que o ser humano é capaz de realizar quando
empenhado nas superações das deficiências pessoais.
Esses signos corporais representam toda a capacidade de expressão e de afirmação
de um modelo de sociedade que busca a perfeição, sendo essa perfeição expressa na exposição
de corpos belos, saudáveis, jovens e atraentes. É a própria tensão gerada pelo desejo
incontrolável, pelo prazer que não se realiza e pela própria dor, sofrimento e sacrifício que
promove a conquista de um lugar ao sol, pois
O cuidado com o corpo (leib) tinha, ingenuamente uma linguagem social. O kalos
kagathos só em parte era uma aparência, o ginásio servindo, por outra parte, para
preservar o poder pessoal, pelo menos como training para uma postura
dominadora. Quando a dominação assume completamente a forma burguesa
mediatizada pelo comércio e pelas comunicações e, sobretudo, quando surge a
indústria, começa a se delinear uma mutação formal. (ADORNO & HORKHEIMER,
1985: 217) (Grifos do autor)
59
Ainda assim, por outro lado, esse mesmo modelo corporal que entra todos os dias
nas casas das pessoas através da mídia, por exemplo, e que é extremamente valorizado pelo
capitalismo, traz em si toda a perversidade e controle que o treinamento corporal voltado para
a alta performance pode trazer aos seus praticantes. Segundo Vaz (1999), essa é uma forma
não só de treinar o corpo, mas também, de dominar a natureza.
Em síntese, o que Vaz (1999) aponta é que o corpo perde a sua humanidade, a sua
essência, e, enquanto tal, deteriora-se, perde a sua objetividade no meio social.
A última reflexão que se pretende elaborar aqui é a utilização de uma linguagem
corporal que transmita a idéia da necessidade de um corpo hígido, forte, resistente e
disciplinado(r). A partir do advento da revolução francesa e da revolução inglesa, chamada
por Hobsbawn (1977) de “dupla revolução”, instaura-se um momento histórico chamado
modernidade, pautado em um grau elevado de industrialização, apoiado por um bom
desenvolvimento de maquinário, sobretudo pela utilização das máquinas a vapor, pela
cientificidade de cunho positivista, pelo desenvolvimento das ciências de maneira geral, a
grande migração das pessoas para as cidades, e o desenvolvimento do modo de produção
capitalista.
Face a esse perfil, sobretudo pelo crescimento das cidades e também pelas más
condições de salubridade das fábricas, maior fonte de emprego, aumenta a quantidade de
doenças, principalmente na periferia das cidades. Para se evitar o aumento das doenças e
evitar as faltas ao serviço, que provocavam prejuízos, discute-se a possibilidade de se
desenvolver a força e a resistência das pessoas às infecções, através de práticas que
desenvolvessem a saúde e o vigor físico, utilizando-se, para isso, a ginástica, que traz,
intrinsecamente, os conhecimentos da medicina, sobretudo de saúde pública associada aos
conceitos de anatomia e fisiologia aplicadas. Destarte, o que se procurava desenvolver eram
os bons hábitos de vida que fossem capazes de desenvolver um homem novo, mais
precisamente o trabalhador. Por isso, havia a necessidade de transmissão de novos valores e
novos padrões culturais. Assim, há de se
60
Coube, por isso, à ginástica realizar o ideal de um corpo saudável, pois a ciência
lhe dava essa condição, evitando, assim, as deformidades físicas, inclusive como uso de
aparelhos, capazes de dar “retidão” aos corpos e até mesmo aos próprios propósitos das
pessoas, principalmente dos trabalhadores, ao se evitar entre outras coisas diversos excessos
para o corpo. Assim a
... atividade física fora do mundo do trabalho devia ser útil ao trabalho. A atividade
livre e lúdica, encantatória (...)devia ser redesenhada no imaginário popular. Em
seu lugar e a partir daquele universo gestual, nasceriam as ‘séries de exercícios
físicos’, pensados exclusivamente, a partir de grupos musculares e de funções
orgânicas, a serem aplicados com finalidades específicas, úteis, e não como mero
entretenimento. (SOARES, 1998: 24)
É o corpo que objetiva a ação educativa e moral por excelência... [assim diz Revel]
‘os gestos são signos e podem organizar-se em uma linguagem; expõem a
interpretação e permitem um reconhecimento moral, psicológico e social da
pessoa’. (SOARES, 1998: 37)
61
Porém, considera-se no âmbito deste trabalho que o paradigma que consegue dar melhor
suporte às ciências humanas e sociais é o materialismo histórico e dialético.
Esse paradigma epistemológico tem como grande marco as idéias de Marx, que
procura desvendar o invólucro místico que permeia a sociedade, analisando a totalidade e
buscando desvelar a essência. Necessita-se que o Homem lance mão de um elemento
fundamental em qualquer método de busca pelo conhecimento: a atividade.
A atividade para Leontiev é o mediador entre o sujeito que aprende e o objeto que
se dá a conhecer. A atividade pode estar presente sob qualquer forma, seja na leitura de um
livro, em um experimento, em uma entrevista ou mesmo na relação que as pessoas
estabelecem entre si como forma de se conhecer a si mesmas, bem como de conhecer o
mundo que as cerca, em síntese, a própria vida.
Devemos apenas sublinhar que não utilizamos o termo ‘motivo’ para designar o
sentimento de necessidade; ele designa aquilo em que a necessidade se concretiza
de objectivo nas condições consideradas e para as quais a actividade se orienta, o
que a estimula. (LEONTIEV, 1978b: 97)
63
O motivo tem, nesse autor, muito mais o caráter de encorajamento do que de uma
necessidade propriamente dita. Assim, as pessoas fazem não só aquilo que se faz necessário
em suas vidas, mas aquilo que, para elas, possui algum significado. Ao se dar um significado
para cada uma das atividades realizadas, pode-se pensar em um nível adequado de reflexão
para o qual a realização da atividade é necessária. Assim, descrevem-se dois níveis de atuação
na atividade: a ação e a operação.
Esses dois níveis possuem características diferenciadas, de acordo com a situação
de sua realização. Logo, “(...) as ações estão correlacionadas com os fins, as operações com
as condições” (Leontiev, 1978a: 85).
... o indivíduo não possui linguagem própria nem significados elaborados por ele
mesmo; sua tomada de consciência dos fenômenos da realidade só podem operar-se
por meio de significados ‘acabados’ que assimila do exterior, ou seja,
64
risco nessa atividade, não apenas da tecnificação e mecanização da ação, mas da mecanização
do próprio ser humano, o que parece uma ação premente nos dias atuais. Essa mecanização do
ser humano o remete ao processo de reificação, entendido aqui como a coisificação do
Homem e de sua consciência. Isso acontece devido à necessidade do ser se colocar como
mercadoria no mercado de trabalho, uma vez que ele não possui condições financeiras para ter
o seu próprio negócio. Assim, ele aceita as condições impostas pelo trabalho,
transformando-se na máquina que produz. Enfim, o
Esse processo de reificação acaba por estabelecer relações com a própria operação
proposta por Leontiev (1978a), uma vez que a cessão do trabalho para o qual não existe uma
identificação, ou mesmo uma reflexão sobre ele, fato esse que transforma o Homem em
objeto. Em síntese, a operação reifica o Homem.
Enfim, ao se repensar na questão, não só da operação, mas da atividade enquanto
base de formação para o desenvolvimento da personalidade, há de se refletir sobre o papel que
cada uma dessas atividades têm na vida das pessoas, isto é, não é necessário apenas que haja
um motivo para a prática da atividade. Deve haver, também, importância dessa prática na vida
de cada um, ou seja, ela deve possuir significado. Desse modo,
desenvolvimento de várias ações realizadas por motivos que, em sua origem externa,
encontram-se relacionados com as influências sociais às quais essas pessoas estão submetidas.
Nesse caso específico a atividade física depende, também, do seu grau de hierarquização
perante as outras “atividades” realizadas diariamente. Dessa forma,
Tabela 2: Atividades mais importantes na vida dos Praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Atividades mais TOTAL
20-30 31-40 41-50
importantes
X CLAS. X CLAS. X CLAS. X CLAS.
Trabalho 31,57 1 38,95 1 36,94 1 35,82 1
Atividade Física* 31,57 1 23,54 3 18,61 4 24,57 2
Família 13,57 3 27,70 2 18,88 3 20,05 3
Lazer 13,28 4 21,04 4 21,66 2 18,66 4
Atividades Diversas** 13,14 5 8,95 5 12,22 5 11,43 5
Estudos* 14,42 2 2,29 8 8,88 7 8,53 6
Casa 4,85 6 3,95 6 10,00 6 6,26 7
Religião 3,71 7 2,08 9 6,94 8 4,24 8
Amigos/Namorados 3,42 8 3,54 7 4,16 9 3,70 9
* Apresentam diferença significativa (p < 0,05), segundo o índice de Krusk-Wallis.
** Atividades que não se encaixavam nos outros grupos, tais como: a Saúde, o Descanso, a Alimentação, a
Música, o Equilíbrio, o Kart, entre Outros.
68
que também apresenta o mesmo resultado da média geral. Deve-se registrar, ainda, que, do
total de entrevistados, seis pessoas colocam as práticas corporais como o aspecto mais
importante da sua vida, sendo todas do sexo feminino. Desse grupo, uma pessoa trabalha na
área administrativa; uma, no comércio; três estão na área da educação, sendo uma Professora
de Educação Física e uma em outras atividades profissionais. Dessas, quatro são adultas
jovens (20-30 anos) e duas são adultas médias (31-40 anos). A explicação para isso não parece
fácil de ser dada. Existe, aqui, a possibilidade dessa experiência ter um significado maior na
vida dessas mulheres, podendo ser uma ação ou uma operação. Entretanto, os objetivos mais
direcionados para a estética não permitem se inferir sobre a possibilidade de ação nessas
práticas.
Há de se acrescentar, ainda, que esse levantamento foi realizado dentro de
academias de ginástica, o que pode induzir as pessoas a apresentarem as atividades físicas
prioritariamente sobre as outras. Entretanto, essa hipótese pode ser refutada devido ao número
de casos que Atividade Física é posta em primeiro lugar. Se o local da coleta tivesse
influenciado os dados, provavelmente o número de casos da primeira colocação para essa
variável seria maior.
No segundo caso, da não menção das práticas corporais, encontra-se uma outra
distribuição. No total de 22 pessoas, 6 estão na faixa de 20 a 30 anos; 8, entre os 31 e os 40
anos, e, por fim, 8, de 41 a 50 anos. Em percentuais, esses dados correspondem a 17,14%,
33,33% e 44,44%, respectivamente, estabelecendo, no total, 25,97% da amostragem.
Deve-se discutir, ainda, essa não menção, de acordo com as profissões. Entre
essas, observa-se a seguinte distribuição: na de Saúde, 14,28%; nas profissões
Administrativas, 33,33%; na de Comércio, 42,85%; na de Ciências Humanas, 18,18%; na de
Educação, 22,22%; entre as Outras, 44,44%; com um total, 28,57% do total da amostra. Esses
dados demonstram que a prática de Atividades Físicas não possuem nenhum significado na
vida dessas pessoas, e que, nesse sentido, pode-se afirmar que, em não havendo nenhum
motivo para desenvolver uma ação, se ela não é hierarquicamente importante na vida das
pessoas, e, se mesmo assim aquela prática persiste, isso é provavelmente fruto de alienação e
da reificação do indivíduo, uma vez que essa operação serve apenas para coisificá-lo. Esse
dado pode ser ainda mais preocupante considerando que o grau de instrução dessas pessoas é
bastante alto.
70
Por fim, pode-se procurar entender esse aspecto relacionando-se essa prática com
o gênero dos praticantes. Verificou-se diferença significativa (p < 0,05) entre os sexos, na
medida em que 32,14% das mulheres e 19,04% dos homens não indicaram os exercícios como
importantes na sua vida.
Registra-se que o aspecto central, aqui, não é colocar a Atividade Física em
primeiro plano, mas de considerá-la importante, sobretudo quando os informantes desse
estudo são praticantes de Atividade Física, o que, mais uma vez, leva a inferir sobre um
possível fetiche em relação a esse aspecto na vida das pessoas. Retornando a Leontiev
(1978a), que essa prática não passa de “Operação Física”, indicando não haver importância da
execução para as pessoas. Esses dados podem ser confirmados quando se verifica a definição
dos motivos apontados. Entre os entrevistados, 48,1% das pessoas não tinham clareza do
motivo que as levaram a estabelecer a hierarquia de atividades de sua vida. Muitas respostas
eram dadas apenas com frases como “é a prioridade”, “por ordem de importância” ou
mesmo respondendo que não sabiam dizer o porquê. Apesar de os adultos jovens terem dado
respostas que apresentam uma elaboração mais detalhada a essa pergunta, com 54,3%; nas
outras faixas etárias essa resposta mais detalhada não foi apresentada por metade dos
informantes (50%) dos adultos médios e maduros. Esses elementos tornam-se ainda mais
preocupantes quando se pensa que a imensa maioria possui nível universitário.
Ao se cruzarem os dados entre o sexo e os motivos pelos quais estabeleceram a
ordem de importância, a maioria das mulheres apresentam respostas sem definição clara,
51,78%; enquanto entre os homens (38,09%) teve-se esse mesmo resultado. Retomando a
discussão sobre a necessidade de hierarquização das atividades e o motivo para elas, as
mulheres demonstram um nível de realização de operações maior se comparadas aos homens,
uma vez que as suas respostas não definem claramente o porque da hierarquia apresentada.
A Tabela 3 apresenta o porquê da localização da Atividade Física entre as
atividades mais importantes na vida das pessoas. Várias respostas surgiram. Muitos diziam
apenas que é “porque é importante”, ou ainda “porque é sinônimo de saúde”. Outras
pessoas, sobretudo as que não tinham mencionado a Atividade Física como sendo importante
para elas, mas não só elas, diziam que a atividade física era saúde ou lazer, que estava no
mesmo âmbito desses objetivos, entre outras. Cinco pessoas (6,49%) responderam não saber
71
porque fazem; outras quatro (5,19%) fazem por “obrigação”, pois a prática corporal não é
uma coisa que dá “prazer”, e, ainda, 34 pessoas (44,16%) dizem que existem coisas mais
importantes em sua vida.
Tabela 3: Motivo referido pelos Praticantes de Atividade Física para a posição desta prática
em sua vida, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
O porque da localização entre as coisas mais TOTAL
20-30 31-40 41-50
importantes
f % f % f % f %
Outros aspectos são mais importantes 14 40 14 58,3 6 37,5 34 44,1
Por gostar e se sentir bem 9 25,7 5 20,8 7 43,7 21 27,2
Por saúde 9 25,7 1 4,1 2 12,5 12 15,5
Por estética 3 8,5 0 0 0 0 3 3,8
Porque é perto de casa 1 2,8 0 0 1 6,2 2 2,5
Atividade física é uma rotina de vida, sem prazer 1 2,8 2 8,3 1 6,2 4 5,1
Não Sabe 3 8,5 2 8,3 0 0 5 6,4
* Foi dada mais de uma resposta a esta pergunta
A partir dos dados da tabela 3 percebe-se que os adultos jovens e médios indicam
ter coisas mais importantes na vida. Porém, entre os adultos maduros, 43, 75% afirmam prazer
em realizar a atividade física o que pode ser um índex de boa relação deles com aquilo que
estão praticando. Também chama a atenção o fato de adultos jovens e médios não saberem
porque localizam a atividade física entre as coisas mais importantes. Ademais, em todos os
grupos destaca-se o fato de existirem pessoas que entendem a Atividade Física como uma
rotina, algo que fazem sem prazer.
Nesses casos, é redundante falar da prática de Operações Físicas, e não de Ações
e/ou Atividades. Todavia, esses aspectos representam, provavelmente, níveis de alienação em
relação a esses elementos, entendendo que as pessoas não conseguem a sua subjetivação
naquilo que realizam, ou seja, existe uma objetivação sem retorno na relação sujeito – objeto.
Além das perguntas utilizadas na entrevista, também foram levantadas questões
relativas à autoconsciência no questionário (Anexo III A e B). Nesse instrumento, buscou-se
complementar dessa variável. Deve-se apontar ainda que, para essa questão, a pontuação em
relação às demais perguntas utilizadas neste questionário eram invertidas. Em todas as outras
afirmações, quanto mais as pessoas se aproximavam do parâmetro “concordo totalmente”,
maior era a pontuação, ou seja, se para uma afirmação qualquer, a pessoa marcasse “concordo
totalmente”, na hora da análise a sua pontuação era de 5 pontos. Contudo, em relação às
perguntas presentes nas tabelas 4 e 5, menor era o valor a elas atribuído. Assim, se a pessoa
marcasse “concordo totalmente”, ela obteria 1 ponto apenas, pois se entendeu que, nesse caso,
quanto mais ela concordasse, menor seria a consciência de si própria.
Os dados foram analisados a partir das médias entre os praticantes de atividade
física encontradas de acordo com a idade. Os valores encontrados, nas respostas aos
questionários (A e B) são apresentados nas tabelas 4 e 5.
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral as pessoas praticam Atividade Física ...
20-30 31-40 41-50
1. Para conhecer o próprio corpo 1,65 2,08 1,88
2. Para se disciplinarem física e/ou mentalmente 1,51 1,79 0,77
3. Para se tornarem o centro das atenções durante a aula 3,80 4,08 4,05
4. Porque dá status socialmente dentro do grupo 3,31 3,50 3,44
* Respostas relativas ao Questionário III-B.
Conforme se percebe na tabela 5, assim como na tabela 4, o nível de
autoconsciência pode ser considerado baixo a partir das médias obtidas. Esses dados
demonstram que a consciência de si é o último aspecto que influencia a realização de práticas
corporais. É importante perceber, aqui, ao menos um ponto positivo. Ao se perguntar se as
pessoas realizam exercícios para se tornarem o centro das atenções, em todos os grupos
etários as respostas foram de que “esse não era um aspecto importante”. Se, por um lado, não
se pode dizer que a autoconsciência é um aspecto importante na vida das pessoas, por outro,
ao menos nessa resposta, pode-se dizer que elas não têm a necessidade de serem o centro das
atenções para se sentirem felizes. Mesmo que a teoria proposta por Leontiev não faça essa
discussão, ao menos pode-se inferir sobre um nível de autoconsciência que também não é o
último do mundo.
Como consideração preliminar, é importante se dizer: a autoconsciência, enquanto
causa para a realização de Atividades Físicas, não é um aspecto importante para quem procura
realizar atividades físicas nas academias pesquisadas. Porém, pode-se dizer que as pessoas
aparentam possuir um certo nível de conhecimento de si, porquanto não haver a necessidade
de se tornarem o centro das atenções para poder se perceber enquanto pessoa pertencente a um
determinado grupo social. Apesar de essas pessoas não se objetivarem em suas relações de
trabalho e não terem clareza da hierarquização de suas atividades cotidianas, deve-se
considerar, sobre a autoconsciência, que esse é um tema que deve ser mais estudado no
âmbito da Educação Física, pois o desenvolvimento da consciência de si e das condições
materiais postas, principalmente no trabalho, devem ser constantemente questionadas e
repensadas, porquanto é papel de qualquer profissional que atue com práticas pedagógicas
buscar o desenvolvimento de seus alunos, principalmente no que diz respeito ao
conhecimento e à consciência de si.
74
partir de regras impostas pelos patrões, que buscam adquirir para si o máximo de capital
possível. Essa tarefa contudo não é fácil, pois é necessário que sejam postos ao trabalhador
determinadas idéias e objetivos que atendam aos interesses do capital, uma vez que a
produção das mercadorias depende de seu consumo. Para isso, é importante que as duas
classes sociais, os burgueses e os trabalhadores, se disponham a gastar aquilo que ganham
com o seu salário, nas mercadorias postas à venda. É essencial que se torne claro que as
pressões que a sociedade exerce sobre cada indivíduo podem ser feitas de formas
diferenciadas em relação à disciplina, à ordem, e ao bom funcionamento social onde a meta
central é a manutenção da lógica do sistema. Nesse aspecto,
discutir-se-á como aparece o indivíduo nesse processo, além de algumas contradições na qual
ele está constantemente inserido. Ao final, pretende-se verticalizar a constituição da indústria
cultural propriamente dita, identificando qual é o seu papel na sociedade capitalista atual.
A ascensão da burguesia e as transformações ocorridas na esfera da produção
material possibilitaram o advento da produção em larga escala que substituiu o artesanato.
Esse processo foi acelerado pela Revolução Industrial na Inglaterra, cujo processo, quando
associado à revolução Burguesa na França, foi denominado por Hobsbawm (1977) de “Dupla
Revolução”.
Entretanto, para a difusão desses dois processos, era necessário o suporte de uma
nova forma de conhecimento, possibilitada pelo iluminismo. Esse, por sua vez, procurou
superar a metafísica, pela explicação dos diversos fenômenos da natureza, bem como das
relações sociais. Esse fato veio substituir os dogmas de fé impostos pela teologia ditada pela
Igreja Católica, pela comprovação dos fenômenos observáveis nas ciências naturais. Sendo
assim, os homens só poderiam tornar-se iguais a partir do momento que se “iluminassem”,
fossem “esclarecidos”, garantindo a capacidade de explicar o mundo pelo estudo científico,
tornando os homens livres do seu infortúnio de serem servos eternos dos senhores feudais,
bem como da vontade divina. Foi colocado, na mão de cada um, o seu destino e os rumos da
sua vida.
Por sua vez, coube à ciência contribuir para a revolução industrial na Inglaterra,
pela substituição do trabalho manual pelo trabalho mecanizado. Com o surgimento da
necessidade de uma produção cada vez mais acelerada, foi-se configurando lentamente a
associação entre a indústria e a ciência, favorecendo cada vez mais o aparecimento do lucro.
Esse processo impossibilitava ao trabalhador adquirir o objeto que ele produz, quando era ele
que dava vida à mercadoria, perdendo-se dela. Por outro lado, esse bem produzido tornava-se
um objeto estranho ao operário, acontecendo o que Marx (1967) chama de trabalho alienado.
Esse autor nos explica esse termo dizendo:
... ser o trabalho externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e, por
conseguinte, ele não se realizar em seu trabalho mas negar a si mesmo, ter um
sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas
energias mentais e físicas mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido.
O trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seu tempo de Folga, enquanto
no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é
trabalho forçado. Ele não é satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio
para satisfazer outras necessidades. Seu caráter alienado é claramente atestado
pelo fato de, logo que não haja compulsão física ou outra qualquer, ser evitado
como uma praga. O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a si
mesmo, é um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação. Por fim, o caráter
exteriorizado do trabalho para o trabalhador é demonstrado por não ser o
trabalho dele mesmo mas trabalho para outrem, por no trabalho ele não se
pertencer a si mesmo mas sim a outra pessoa. (MARX, 1983: 97) (Grifo nosso)
naturais, através de leis imutáveis, já que são leis da própria natureza. Sobre as ciências
naturais Marx & Engels (1971) dizem que
que cada ser humano é, em certos aspectos, diferente de todos os demais, e talvez
deva sê-lo. (ELIAS, 1994: 130)
último, os desejos do próprio indivíduo, enquanto o novo dono e senhor do seu próprio
destino. Dentro dessa tensão, no entanto, o
... indivíduo burguês não se via necessariamente como oposto à coletividade, mas
acreditava ou estava fortemente inclinado a acreditar ser ele o membro de uma
sociedade que só podia atingir o mais alto grau de harmonia através da competição
irrestrita dos interesses individuais. (HORKHEIMER, 1976: 150)
Nota-se que dentro dos princípios liberais, sobretudo da “burguesia em si”, não
havia necessariamente contraposição entre os interesses individuais e coletivos, pois o
“(...)indivíduo totalmente desenvolvido é a consumação de uma sociedade totalmente
desenvolvida” (Horkheimer, 1976: 146). Nesse sentido, toda a possibilidade de
desenvolvimento social está associada na relação da sociedade com o indivíduo. Esse é o
paradigma social fundamental do liberalismo, o “individualismo”, que se contrapõe ao
socialismo, onde a priori os interesses coletivos prevalecem sobre os individuais.
O “excesso de autonomia” poderia levar o indivíduo a questionar as suas
condições de trabalho, de vida e seu salário, que é cada vez mais insuficiente para mantê-lo.
Isso poderia gerar desordem e, consequentemente, romper a ordem estabelecida, que fazia
com que esse “organismo social” funcionasse tão bem. Desse modo, uma nova perda de
identidade se fazia necessária para que o sistema mantivesse a sua saúde. Assim, o novo
discurso do interesse da coletividade atuava de maneira ideológica para que os acontecimentos
futuros deixassem as coisas exatamente com estavam anteriormente, ou seja, com a burguesia
mantendo-se no poder por mais algum tempo. Começava assim, por necessidade da
manutenção do status quo, a se desenvolver um processo inverso ao que vinha acontecendo,
que é exatamente entre a descaracterização do indivíduo enquanto um ser único e,
evidentemente, que o indivíduo só se reconheça enquanto um ser social. É como se diz
... o homem se espelha primeiro em outro homem. Só por meio da relação com o
homem Paulo, como seu semelhante, reconhece-se o homem Pedro a si mesmo
como homem. Com isso vale para ele também o Paulo, com pele e cabelos, em sua
corporalidade paulínica, como forma de manifestação do gênero humano. (MARX,
1996: 181).
Ocorre, contudo, uma pequena diferenciação entre o ser individual que surge no
capitalismo, enquanto um modo de produção que procura se fixar, e no capitalismo, enquanto
modo de produção que busca reproduzir-se nas relações sociais. No primeiro, pode-se apontar
81
o indivíduo enquanto um ser dotado de individuação (crítico e participante das decisões que
regem sua vida); já no segundo momento, o ser se torna individualização (apático, isolado e
sem condição de decidir o rumo de sua vida; um ser diferente e igual a todos os outros). Esse
ser se desenvolve
... quando a sociedade passou a exercer uma tremenda pressão sobre o indivíduo e
as reações individuais são contidas em limites muito reduzidos, sendo as
considerações sociológicas freqüentemente preteridas pelas de ordem psicológica.
Quanto menos são indivíduos, tanto maior é o individualismo. (ADORNO &
HORKHEIMER, 1973: 53).
É essa pressão que contribui para que cada pessoa passe a tomar conta daquilo que
é de seu interesse, e não daquilo que é interesse coletivo. Sendo assim, o sujeito desse tempo,
e também o sujeito do tempo que se segue, no século XX, é aquele que tem cada vez menos
controle sobre sua vida e o seu destino, pois nesse momento todas as certezas e incertezas são
reguladas pelo mercado, que tem a sua lógica própria e constituída de uma racionalidade
pragmática e perversa.
Dessa maneira, sem se perceber, continua-se vinculado ao processo de exploração
necessário para a manutenção do sistema produtivo, político e cultural, pois se pretende
... subordinar da mesma maneira todos os setores da produção espiritual a este fim
único: ocupar os sentidos dos homens da saída da fábrica, à noitinha, até a
chegada ao relógio de ponto, na manhã seguinte, com o selo da tarefa de que
devem se ocupar durante o dia (...). (Adorno & Horkheimer, 1985: 123)
condições de vida e das contradições sociais, mas, caso esses mecanismos de meditação sejam
adotados, deve-se fazê-lo causando indignação momentânea e, jamais, através de ações com
capacidade de colocar em risco a “segurança” da sociedade. Não se torna possível utilizar
qualquer mercadoria que não seja sinônimo de lucro e venda garantida.
Para fazer funcionar esse aparato, a sociedade capitalista passa a produzir um
modelo de “arte” a ser consumida com facilidade, propiciando uma identificação do indivíduo
com o que ele escuta ou vê. Assim, busca-se não a arte que se pretende popular, mas a
vinculação imediata entre sujeito e o objeto (produto). Torna-se, então, vantajoso, do ponto de
vista econômico, produzir “arte” e obter lucros enormes em cima disso. Um exemplo clássico
são os “famosos” filmes de Hollywood, onde em cada produção gastam-se cifras
astronômicas, as quais, em contrapartida, conforme o loby feito em cima das fitas, cada
centavo gasto é recuperado em menos de um ano, a um custo muito baixo para se ver a mais
nova obra-prima do cinema, um verdadeiro “campeão de bilheteria”.
Além do mais, a eterna semelhança entre as estórias faz dos espectadores mais
atentos experts em desvendar o final feliz de cada enredo. Busca-se, assim, levar cada sujeito
a uma situação de suspense extremamente segura e confortável. Isso ajuda a transformar cada
espectador em um sujeito passivo perante o enredo apresentado, o que não acontece apenas
em relação ao cinema, mas também à televisão, que poderíamos entender enquanto uma coisa
mais viva, se forem levados em conta os telejornais, que apresentam diariamente “as notícias
do dia no Brasil e no Mundo”. Essa passividade atua como uma “substância analgésica” sobre
as emoções, transformando cada reação individual em puro espanto e apatia, o que
corresponde a uma certa inércia no espectador face aos fatos apresentados. Todavia, Rudiger
(1997) menciona que, na realidade, essa assistência passiva não existe, pois as pessoas têm
plena consciência que os meios de comunicação de massa procuram enganá-las, fato este com
o qual se deve concordar. Dessa forma, cada um consegue distinguir o que é bom do que é
ruim. Esse autor destaca,
outra parte, a necessidade, imposta pelas leis do mercado, de ocultar tal equação
conduz a manipulação do gosto e à aparência individual da cultura oficial, a qual
forçosamente aumenta na proporção em que se agiganta o processo de liquidação
do indivíduo. (...) A igualdade dos produtos oferecidos, que todos devem aceitar,
mascara-se no rigor de um estilo que se proclama universalmente obrigatório; a
ficção da relação de oferta e procura perpetua-se nas nuanças pseudo-individuais.
Se contestamos a validade do gosto na situação atual, é muito fácil compreender de
que se compõe na verdade este gosto em tal situação. (ADORNO, 1999: 80)
Essa falta de identidade torna-se tão forte que, aos olhos de todos, existe a
impossibilidade aparente de romper com uma racionalidade onde mesmo as demonstrações
mais autênticas de cultura se perdem no mercado. Dentro de toda essa produção destacam-se
mercadorias que se tornam cada vez mais essenciais para as pessoas, pois o próprio processo
de massificação estabelece os produtos que devem ser consumidos pela comunidade em geral.
Esses aparelhos que surgem na indústria automobilística e que são gradativamente
transferidos para outras instâncias, são denominados “gadgets”, que têm a mera função de
aumentar o preço de alguns produtos, ao mesmo tempo que se apresentam como algo
essencial para o conforto dos consumidores. Sendo assim, cria-se o que se pode denominar
fetiche. Esses fetiches atuam como forma de aumentar o consumo criando necessidades que,
na realidade, não existem, mas, por outro lado, compelem as pessoas a se apropriar do
desnecessário para que mostrem o seu poder (de compra) além de sua atualidade com as
86
coisas da moda. Esse processo, em muito vinculado pela mídia, serão fundamentais na difusão
das idéias e dos valores do sistema.
Só que, nesse sentido, resta uma questão em relação aos meios de comunicação de
massa. Será que, nesse processo, cada um dos sujeitos expostos à mídia oferece alguma
resistência às mensagens veiculadas? Eis a grande controvérsia, pois,
Okuma (1990) destaca ainda que o “(...) tratamento dado ao corpo prima pela
ênfase a um padrão de saúde e beleza, mas deixa de lado a essência do próprio corpo, o que
88
se tem dele e o que ele é” (p. 118) (Grifo Nosso). Assim sendo, o corpo enquanto uma
demonstração histórica de relações do ser humano, é totalmente desconsiderado, passando a
interessar apenas aquilo que cada um deles (máquina/ideologia) é capaz de produzir, bem
como consumir novos produtos e, até mesmo, novos padrões corporais.
Um outro estudo que procura relacionar o discurso televisivo sobre corpo, saúde,
atividade física e beleza, e o discurso de praticantes de atividade física, é o de Gonçalves
(1995). Ao fazer a sua análise, ela destaca que:
Ao comparar os discursos de forma geral com as mensagens
televisivas estas apresentam algumas semelhanças.(...) É possível afirmar que neste
processo acontecem diferentes mediações, comprovadas aqui através dos estilos de
vida diferenciados, que permitem uma apropriação e reapropriação diferenciada
das mensagens produzidas pela televisão.(...) Desta forma pode-se entender que a
realidade discursiva destas pessoas está vinculada também a valores hegemônicos
que reproduzem os valores de uma classe dominante. (GONÇALVES, 1995: 124).
A análise apontada por essa autora mostra que existem algumas semelhanças
devido a mediações que são importantes no processo de “adesão” das pessoas a um
determinado discurso, havendo uma similaridade entre o utilizado na televisão de formas
diferentes e o dos praticantes de variadas modalidades de atividade física, o que sugere, por
um lado, a recepção ativa dos informantes dessa pesquisa em relação aos “mass media”, onde
acabam sendo importantes outros mediadores como a família, a igreja, a associação de bairro,
ou outro grupo social, ao qual se está filiado. Por outro lado, o discurso dos praticantes
também se aproxima do discurso hegemônico, que é veiculado pela televisão, o que
demonstra, ao menos, uma contaminação parcial das pessoas consultadas, o que faz delas um
alvo potencial da indústria cultural e dos interesses que ela representa.
Mesmo entendendo que a adesão dos grupos é diferenciada quanto ao vínculo com
a mídia, pode-se, mesmo assim, refletir que a adesão a certos tipos de apelo estão presentes.
Além do mais, os discursos feitos pela mídia tendem a ser direcionados para um determinado
“público-alvo”, o que não diminui, ao que tudo indica, a influência da mídia, como elemento
da Indústria Cultural, sobre as pessoas.
Essa contaminação dá elementos para se voltar à discussão do padrão corporal que
está sendo veiculado pela mídia, entendido enquanto corpo ideologizado, que transmite a idéia
de produtividade, “beleza” e saúde, o qual se relaciona com um padrão corporal, cujo o poder
do dinheiro lhe permite um acesso quase irrestrito aos mais caros tratamentos, todas as vezes
que precisa de “manutenção e reparos”. Por outro lado, é também um corpo mercadoria que
89
pode ser adquirido como qualquer outro produto industrial, sendo importante para a aquisição
desse corpo a utilização de remédios, cosméticos, roupas, acessórios, aparelhos de ginástica
que estão à venda, “no supermercado mais próximo de sua casa, ou pelo telefone 0800-...”, e
que desconsideram não só as diferenças individuais, como o corpo marginal constituído
historicamente.
Esse dado remete ao aspecto da tentativa de influência dos meios de comunicação
sobre os indivíduos. Sobre isso, precisa-se apontar que a indústria cultural tenta exercer toda a
sua influência, que é bastante forte e que não pode ser descartada, enquanto sistema que busca
legitimar as idéias hegemônicas. Entretanto, concorda-se com Rudiger (1997) quando destaca
que cada um, ao menos até certo ponto, tem consciência da tentativa dos meios de
comunicação, de convencê-los sempre dos rumos que eles têm que tomar em sua vida.
Os meios de comunicação de massa são, portanto, instrumentos importantes
dentro da sociedade de consumo e de sua indústria (indústria cultural), que contribuem de
forma decisiva no conceito de corpo, e sobre todos os elementos que são necessários para a
sua manutenção (medicamentos, cosméticos, entre outros), sendo ele próprio, o corpo, tratado
apenas como mais uma mercadoria à disposição de todos e desconsiderado enquanto realidade
histórica. Para cumprir essa missão, são utilizadas várias formas de difusão. Entre elas,
utiliza-se a exposição de pessoas “(...) de projeção na sociedade de consumo – estrelas de
cinema e de televisão e cantores – são pessoas que sustentam a filosofia do ‘divertimento’.
Têm prestígio, são modelos de corpos.” (Carvalho, 1999: 244)
O fato demonstrado por essa autora permite a referência a um “modelo de corpo”
que é, antes de tudo, uma moda. Enquanto tal, enquanto um “fetiche”, assume as
características da provisoriedade, e não obstante a sua “forma”, o que importa é a sua
exteriorização.
À guisa de conclusões bastante provisórias, percebe-se que, para se chegar à
essência das relações entre o indivíduo, a sociedade e a mídia faz-se necessária a utilização de
uma teoria ampla, capaz de dar suporte para o entendimento aprofundado dos mecanismos de
cooptação da sociedade capitalista.
Enfim, procurando-se relacionar todos esses aspectos discutidos até aqui,
retornar-se-á aos dados encontrados na pesquisa. Foi perguntado aos alunos “onde ou com
quem eles obtiveram informações sobre atividades físicas”. A intenção central é procurar
90
Pelos dados, verifica-se que a academia foi a escolhida por mais da metade dos
adultos jovens e médios. Esse fato direciona a prática dos exercícios para determinadas
modalidades, uma vez que algumas academias possuem apenas duas opções. Além disso,
mesmo que as atividades sejam sugeridas pelos professores, pode haver um certo
direcionamento face à preferência do professor por esta ou aquela modalidade que ele acha
melhor, mais fácil, ou com a qual ele trabalha.
Deve-se levar em consideração que algumas pessoas já procuram a academia de
acordo com a modalidade. Mesmo assim, tendem a adquirir outras informações na própria
academia, que muitas vezes contribuem para redirecionar os alunos novatos.
Há de se destacar também, o fato de que, entre os adultos maduros, o percentual
de informações adquiridas com profissionais de saúde é igual ao das adquiridas na academia,
o que pode sugerir uma maior preocupação com a saúde do que com outros elementos.
Essas respostas apresentam uma relação com os dados apresentados por
Gonçalves (1995), quando essa pesquisadora demonstra a influência das diferentes mediações
91
na vida das pessoas. Entretanto, devem-se olhar outras respostas para se confirmar ou refutar
tal hipótese.
Além do local, foi solicitado dos praticantes que relacionassem as fontes de
informação sobre atividades físicas que consideravam importantes. Por ordem decrescente a
partir de uma relação apresentada pelo pesquisador (Anexo II). Há de se registrar que várias
pessoas deixaram de relacionar algumas das fontes de informação, enquanto outros
acrescentaram novas fontes, a partir da referência “Outros”.
Para facilitar a análise dos dados e, levando em conta que eram nove as fontes
mencionadas na tabela, as respostas eram pontuadas de nove a um, de forma decrescente, ou
seja, a fonte mais importante recebia 9 pontos, a segunda, 8; a terceira, 7; e assim
sucessivamente. Caso a fonte não fosse mencionada, ela recebia como pontuação 0 (zero).
Depois da pontuação, os dados foram cruzados entre a faixa etária e a média de pontos,
obtendo-se os resultados apresentados na tabela 7.
fontes de informação, uma vez que elas não podem ser consideradas fontes científicas de
consulta.
Um outro ponto digno de nota é o fato de o professor de Educação Física escolar
assumir o último lugar, enquanto fonte de informação, principalmente se for levado em conta
o alto grau de escolaridade apresentado pela população pesquisada, o que, se for colocado na
média de um ano para cada série, as pessoas estudaram ao menos durante onze anos, nos
quais, teoricamente, elas tiveram contato com a disciplina Educação Física. Esse fato deixa
uma pergunta no ar: O que o Professor de Educação Física tem feito na escola? A intenção
colocada aqui não é que ele faça apologia de um ou outro objetivo, mas que ele enquanto um
profissional da educação que tem as informações a respeito da prática de Atividades
Corporais, desempenhe o seu papel de fonte privilegiada de informação e esclarecimento dos
alunos aos quais tem acesso.
A fim de verificar a perspectiva dos praticantes quanto à influência da mídia na
prática de atividade física, foram apresentadas 4 questões no questionário B.
Os dados obtidos foram analisados pelo índice de Krusk-Wallis, para se
determinar a relação entre as variáveis. Os resultados são apresentados na tabela 8.
Tabela 8: Influência da mídia sobre os Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral as pessoas praticam atividade física...
20-30 31-40 41-50
1. Por influência dos meios de comunicação áudio visuais. 3,51 3,33 3,22
2. Por influência dos meios de comunicação impressos. 3,34 3,62 3,11
3. Porque está na moda. 2,97 2,79 3,05
4. Porque todas as pessoas famosas o fazem. 2,54 2,54 2,33
A primeira análise que os dados sugerem é de que em nenhum caso apareceu
diferença significativa entre os grupos etários. Todavia, para se entender melhor o significado
dos dados, foi feita uma média geral relacionada à cada faixa etária, obtendo-se, como
resultado geral, a média de 3,09 pontos para o grupo de adultos jovens; 3,07 para o de adultos
médios; 2,92 para o de adultos maduros. Estabeleceu-se, como média geral 3,02 pontos para a
“influência da mídia”. Isso demonstra uma certa influência da mídia nesse parâmetro, que se
apresenta maior do que a influência da autoconsciência. Esses dados acabam por confirmar as
respostas da entrevista quanto aos objetivos e as fontes de informação. Entretanto, apesar de
estar acima de uma possível média de 2,5 pontos, que se poderia considerar como 50% do
94
está relacionado com a saúde e com a estética. Dessa maneira, a repetição periódica da
atividade não é prioritária para a sua realização, e sim o lazer.
Por fim, a atividade física como competição. Essa possui características próprias
sob todos os aspectos, e assim deve ser estudada de forma totalmente separada dos outros
objetivos, pois a sua especificidade em relação às demais propostas justifica tal abordagem,
desvinculada das outras três. Além disso, a atividade física centro do estudo deste trabalho
está voltada às outras três questões básicas, sendo elas a saúde a estética e o lazer. Portanto,
adotar-se-á a influência da prática corporal na aquisição, manutenção e utilização desses três
elementos.
Há de se observar, além dos objetivos dos praticantes de cada atividade, um outro
aspecto também importante, que passa pelo entendimento de que cada modalidade possui, ela
própria, na sua concepção, uma meta específica enquanto uma proposta de trabalho
diferenciada. Cada um desses métodos foi proposto em um determinado momento histórico,
conforme as exigências e condições da situação de sua origem.
Em estudo sobre as concepções estéticas na ginástica de academia, Novaes (1998)
traça os diferentes objetivos nos mais variados procedimentos utilizados em Academias de
Ginástica ao longo de todo o século XX.
Como a intenção do presente trabalho é identificar esses objetivos, do ponto de
vista dos praticantes do final do século XX, optou-se por apontar os principais modelos de
ginástica existentes na década de 1990. O que se procura aqui é apenas demostrar que cada
método possui seus objetivos próprios, o que permitirá, por sua vez, entender como eles
podem ser utilizados no dia-a-dia. o que justifica o recorte adotado.
Há de se ressaltar ainda, segundo Novaes (1998), que o período médio de
subsistência de cada atividade é de dez anos (uma década), sendo que as modalidades são, em
seguida, substituídas por outras. Apesar desse autor não fazer essa discussão, pode-se levantar
uma hipótese para tal fato: a necessidade de mudança das mercadorias postas à venda, pois
essa é a principal característica desses métodos. Todos eles são entendidos enquanto produtos
e, como tais, necessitam de reformulações e aperfeiçoamento para que possam continuar
vendendo, alimentando, assim, a indústria cultural. Cada uma dessas práticas corporais
apresentadas aos consumidores promete operar milagres semelhantes aos propostos pelas
religiões. Se não é possível salvar a alma, que se tenha ao menos um corpo jovem e eterno, ...
enquanto dure.
97
· Ginástica · Estético-Corporal
· Musculação · Estético-Corporal
· Aero-Local · Estético-Saúde
Localizadas
· Step-Local · Estético-Saúde
· Flex-Local · Estético-Performance
· Bike-Class · Estético-Saúde
· Step Training · Saúde-Estética
Aeróbicas · Hidroginástica · Estético-Saúde
· Aerodança · Descontração Física e Mental
· Biodança/ Eutonia/ · Equilíbrio Interior/
Bioenergética/ Autoconhecimento/ Saúde/
Consciência Corporal/ Estética/ Sociabilidade/
Corporais Yoga/ etc. Transformação de Vida Pessoal
Alternativas · Watsu · Relaxamento e Equilíbrio
Psico-Físico
· Personal Training · Estética-Saúde e Consciência
Corporal
* NOVAES, 1998: 57
Além dessas atividades descritas por Novaes (1998), podem-se, ainda, citar outras
bastante praticadas em Goiânia, estando entre elas as aulas de Body-Pump, ABS (aula
específica de exercícios localizados para o abdômen), GAP (Tipo de Ginástica Localizada,
onde se trabalha apenas Glúteos, Abdômen e Perna, normalmente praticada pelas mulheres),
entre outras. Todas elas encaixam-se na classificação de Atividades Localizadas e têm o
objetivo estético – corporal. Dessas, apenas o Body-Pump já é mencionado pela literatura,
98
pois esse é um método internacional de ginástica, o qual para ser aplicado depende, inclusive,
de aquisição de franquia da Les Mills Internacional ou de seus representantes credenciados.
Possui uma “metodologia própria” e os seus pontos positivos e negativos são discutidos por
Novaes & Vianna (1998). Esse método pode ser identificado como a essência da globalização
e da divisão social do trabalho, pois, os professores que ministram essas aulas simplesmente
reproduzem aquilo que é estabelecido pela franqueadora. Deve-se comentar ainda que, para
Novaes (1998), o Step (modalidade de ginástica que usa uma plataforma que varia de acordo
com a condição física do praticante) é a modalidade que durante a década mencionada – 1990
– substituiu a Ginástica Aeróbica, a qual perdeu bastante espaço devido ao elevado índice de
lesões, entre outros motivos mercadológicos.
Na discussão sobre os diferentes objetivos, o ideal seria cada praticante escolher
as atividades a serem realizadas de acordo com a proposta de cada método, havendo a
necessidade de uma perfeita conexão entre eles para que se possam atingir as metas propostas.
Nesse sentido, é importante demonstrar as modalidades mais praticadas, pois,
partindo desse ponto, poder-se-ia começar a inferir sobre os principais objetivos dos
praticantes de Atividades Corporais da cidade de Goiânia. Tais dados estão presentes na
tabela 9.
99
Tabela 9: Modalidades realizadas pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Modalidades Realizada 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Musculação 31 88,57 20 83,33 12 66,66 63 81,81
Ergometria 26 74,28 20 83,33 13 72,22 59 76,62
Ginástica Localizada 4 11,42 05 31,25 4 22,22 13 16,88
ABS 5 14,28 05 31,25 1 5,55 11 14,28
Natação 5 14,28 3 18,75 1 5,55 9 11,68
Body Pump 5 14,28 2 8,33 0 0 7 9,09
Step 4 11,42 0 0 3 16,66 7 9,09
Alongamento 5 14,28 1 6,25 1 5,55 7 9,09
Exercícios Localizados 2 5,71 2 8,33 1 5,55 5 6,49
Hidroginástica 0 0 0 0 3 16,66 3 3,89
Outros 5 14,28 0 0 4 22,22 9 11,68
* Houve mais de uma resposta a esta pergunta
** Os Exercícios Localizados são o GAP, a Superlocal, Trabalho para Braços e Trabalho para pernas
Como pode ser verificado, a oferta de atividades nos locais pesquisados é bastante
diversificada. Nesse sentido, deve-se lembrar que as pessoas também buscam práticas bastante
diferentes. Não foi rara a menção de realização de mais de uma prática, havendo inclusive, o
caso de uma moça que chegou a mencionar seis atividades diferentes no local da entrevista e
mais uma que ela fazia em outro local.
A alta incidência das modalidades sugere a utilização das Atividades Físicas como
mercadoria vendida (Novaes, 1998), o que coloca as práticas da cultura corporal entre os
diferentes elementos da indústria cultural. Pode-se justificar isso através da apropriação pelo
mercado, das diferentes atividades inerentes à vida humana. Com a prática corporal não seria
diferente, porquanto há a possibilidade de se utilizarem estas práticas para gerar novas
necessidades – fetiches – bem como desenvolver novos paradigmas do ponto de vista estético,
100
Emerge, pois, uma nova área do conhecimento científico denominada então como
Educação Física, a qual se apropria de todo o discurso inerente às ciências naturais da época
para justificar a sua existência e a sistematização do conhecimento referente a todas as formas
de movimento humano. Afinal de contas,
Não podemos nos livrar do corpo e nós o louvamos quando não podemos golpeá-lo.
(...) Os que na Alemanha louvavam o corpo, os ginastas e os excursionistas, sempre
tiveram com o homicídio a mais íntima afinidade, assim como os amantes da
natureza com a caça. Eles vêem o corpo como um mecanismo móvel, em suas
articulações as diferentes peças desse mecanismo, e na carne o simples
revestimento do esqueleto. Eles lidam com o corpo, manejam seus membros como se
estes já estivessem separados. (ADORNO & HORKHEIMER, 1985: 219)
... deveria ser pensada pelo aparato científico disponível e assim colocada em
igualdade com outras práticas sociais, explicada e sistematizada. Devia tornar-se
obrigatória para a sociedade em geral, bem como prática regular em todos os
currículos escolares. (SOARES, 1998: 22)
militares que ao agirem na ‘defesa dos interesses de Pátria’, utilizavam de várias estratégias
para o disciplinar dos comportamentos sociais. (Goellner, 1996: 136)
Não é apenas o sentimento nacional-patriótico que é o ponto chave nesse
processo. Através da Educação Física havia o objetivo de promover a
... esporte é que legitima a EF [Educação Física] porque faz coincidir seu discurso
com o daquela no que diz respeito ao seu papel nos planos educativo e da saúde – o
esporte se impôs também enquanto tema e orientador da teorização neste campo
acadêmico em construção. Em suma, o discurso pedagógico na EF foi quase que
sufocado pelo discurso da performance esportiva; literalmente afogado pela
importância sóciopolítica das medalhas olímpicas, ou pelo ‘desejo’, tornado
público por medalhas. (BRACHT, 1999: 23) (Grifo nosso)
Não-Propositivas, são assim denominadas por fazerem críticas ao estágio da Educação Física
sem, contudo, fazer um proposta que possa ser aplicada no âmbito escolar. Essas concepções
são chamadas de Abordagem Sociológica, Fenomenológica e Cultural.
O segundo grupo, o das Concepções Propositivas, é dividido entre dois subgrupos:
Sistematizadas e as Não-Sistematizadas. As Concepções Propositivas Sistematizadas são
assim denominadas por possuírem uma proposta efetiva para a Educação Física Escolar,
contando inclusive com a proposta dos conteúdos curriculares a serem trabalhados em cada
série. Entre elas estão a abordagem da Aptidão Física, que tem por princípio o
desenvolvimento da condição física quase que de maneira exclusiva, bem como a Tendência
Crítico-Superadora, a qual, apoiando-se em uma referência marxista, entende que o papel da
Educação Física Escolar é desenvolver os elementos da cultura corporal, cujos conteúdos
estão relacionados ao jogo, às lutas, aos esportes, à dança, à ginástica, as atividades circenses
e à mímica. Esses conteúdos devem ser trabalhados em uma perspectiva de historicidade
aliando à crítica social e à defesa de um novo modo de produção.
Já as Concepções Propositivas Não-Sistematizadas são assim denominadas por
fazerem crítica à atuação da Educação Física na Escola, enfatizando algumas propostas.
Porém, essas não se encontram ainda sistematizadas no nível das outras duas, ou seja, não
possuem uma proposta curricular clara a ser desenvolvida dentro das séries. Entre elas se
encontram as abordagens Desenvolvimentista, que se preocupa com as fases do
desenvolvimento motor do ser humano; a Construtivista, de inspiração piagetiana; a
Crítico-Emancipatória, apoiada na teoria da ação comunicativa proposta por Habermas e, por
fim, a Plural, com uma bagagem antropológica. Não é feito no referencial utilizado uma
discussão mais detalhada sobre essas concepções para que possam ser dados detalhes sobre
cada uma delas. A apresentação mais superficial dessa temática tem como objetivo aqui,
apenas mostrar a evolução das discussões existentes na área, as quais, nesse momento,
encontram-se em pleno curso.
Pelo menos desde a Grécia Antiga a atividade física é exaltada pelos seus aspectos
terapêuticos, sendo daquela época a célebre frase de Juvenal: “Mente sã em corpo são”. Essa
máxima, ainda usada nos dias atuais, procura expressar a necessidade dos cuidados com o
107
corpo, enquanto uma maneira de permitir à mente o melhor de sua utilização. Para que isso
aconteça, a atividade física tem que se tornar uma febre mundial e conseguir cada vez mais
adeptos. Ainda é necessário adequar a sua prática a todos os tipos de pessoas, sejam elas
jovens, idosas, deficientes, com ou sem saúde aparente, pois, apesar das diferentes correntes já
discutidas e de seus objetivos mais ou menos específicos, sempre foi o carro chefe dessa área.
Dados apresentados por Santos (1987) a respeito do objetivo da prática de corrida na zona sul
do Rio de Janeiro, por exemplo, destacam a saúde como o principal objetivo entre os
informantes entrevistados.
Mas afinal, quais são os argumentos para justificar a prática treino corporal como
elemento constitutivo da saúde? Devido a possibilidade de a lista de motivos ser enorme,
tentar-se-á apresentar algumas explicações utilizadas comumente para justificar esse discurso.
Embora não tenha sido o primeiro a defender esta idéia, Cooper (1972) descreve
que o pessoal da força aérea americana, que se encontrava em situação de baixa por problemas
cardiovasculares, artrite, obesidade ou fumo, conseguiu melhorar seu quadro de saúde em
decorrência da atividade física proposta por ele. Essas observações são importantes do ponto
de vista histórico, entendendo que a sistematização feita por aquele autor foi um marco em
relação à necessidade da atividade física enquanto um elemento de promoção à saúde, dando
assim um novo impulso às práticas corporais, tendo por efeito retardado o grande “boom”
dessas atividades e até mesmo do aumento significativo no número de academias de ginástica
no início dos anos de 1980.
Seguindo essa abordagem, Barbanti (1990) destaca que a atividade física capaz de
propiciar uma boa aptidão física terá, ao menos, três efeitos importantes, sendo eles: “1- para
ajudar a prevenir doenças hipocinéticas (doenças coronarianas, hipertensão arterial,
diabetes, osteoporose etc.); 2- para se obter o máximo das capacidades mentais; 3- para se
sentir bem, energético, alegre” (p. 10). O autor menciona que a melhoria da saúde, através do
aperfeiçoamento da aptidão física, se concretiza, sobretudo, na otimização da resistência
aeróbia e muscular localizada, da força, da flexibilidade, alterando também a composição
corporal, ainda destacando que os
... estudos têm mostrado uma forte probabilidade de que o risco de doenças
cardiovasculares é aumentado por falta de atividade física satisfatória. A atividade
física principalmente o exercício, o esporte, aumenta o rendimento físico das
pessoas. Este aumento está associado com uma melhora na eficiência funcional de
todas as células do nosso corpo. Essa eficiência funcional, chamada de Aptidão
108
Esses dizeres são reafirmados por outros autores que defendem também como
importantes quatro aspectos ligados à aptidão física enquanto saúde, como a “função
cardiovascular e respiratória, composição corporal, flexibilidade e resistência musculares”
(Gettman, 1994: 156). Percebe-se que muitos adultos são acometidos de doenças cardíacas,
obesidade, lombalgia, entre outros por falta de “exercícios”, já que esses indivíduos não
possuem “sólida fundamentação sobre o conhecimento e práticas nas áreas relacionadas ao
estado da saúde” (ibid.). Entretanto, a sólida fundamentação sobre o conhecimento deve-se
confirmar na realização de tais atividades, pois o mero conhecimento dissociado da prática
não terá em si nenhuma utilidade. Em síntese, o conhecimento dessa teoria deve-se efetivar na
prática de uma vida fisicamente ativa.
Sharkey (1998) corrobora com essa opinião, pois para ele a atividade física
aprimora o condicionamento físico por promover a redução no índice de doença coronariana,
por desencadear o que chama de “mecanismos cardioprotetores”, reduzindo o processo
aterosclerótico, aumentando a eficiência do coração e elevando o suprimento sangüíneo. Além
disso, a atividade física reduz o índex de risco de hipertensão e acidente vascular cerebral
(AVC). Esses aspectos são considerados importantes porque, segundo a Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS), no Brasil, do número de óbitos registrados entre 1990 e
1994,
... 33,9% do total foram devidas às doenças cardiovasculares, que são a primeira
causa de morte em todas as regiões do país, (...). As causas específicas mais
freqüentes de mortes do aparelho circulatório nas capitais brasileiras foram, em
1991, a doença cerebrovascular (11,6%), a doença isquêmica do coração (9,8%) e
a hipertensão arterial (2,3%). (OPAS, 1998: 45)
arterial, sobretudo em repouso, embora haja relatos da diminuição desse parâmetro durante as
atividades sub-máximas (McArdle; Katch & Katch, 1998).
Além disso, a realização dos exercícios aumenta o tônus muscular, facilitando o
retorno venoso, já que os músculos acabam por impulsionar o sangue venoso em direção ao
coração.
A atividade física também exerce efeitos importantes em patologias como câncer,
diabetes, obesidade, artrite, osteoporose e problemas nas costas, além de haver indícios de
melhoria no sistema imunológico. Do ponto de vista mental, reduz a ansiedade e a depressão,
melhora as estratégias de consciência, auto-estima, autoconceito e imagem corporal. Altera
também os mecanismos bioquímicos e reduz níveis de estresse. (Sharkey, 1998)
Para descrever a ação dos exercícios sobre os problemas patológicos, deter-se-á no
que existe de evidências mais utilizadas, restringindo-se ao mecanismos considerados
importantes em relação à diabetes, à osteoporose e à obesidade e câncer de cólon. Essa
seleção se justifica pela utilização da Atividade Física na prevenção e, em alguns casos, no
tratamento dessas doenças, entendendo que as relações existentes entre as práticas corporais e
as doenças de cunho cardiovascular já foram discutidas.
A diabetes é uma doença que interfere na captação de glicose pela célula,
aumentando-se, assim, a taxa de glicose (açúcar) circulante no sangue. Essa doença atinge,
segundo dados da OPAS (1998), 7,6% da população urbana de 30 a 69 anos, podendo
aumentar a sua incidência de acordo com a idade, aí sendo chamada de diabetes senil.
Normalmente, essa patologia ocorre devido à insuficiência de insulina em relação
à quantidade de glicose circulante no sangue, e com a redução desse hormônio produzido pelo
pâncreas, a glicose, necessária para a produção de energia nos tecidos, não entra na célula,
provocando alterações metabólicas que podem causar, entre outras complicações, a
macroangiopatia, a retinopatia, a nefropatia e a neuropatia diabética, que são doenças que, de
forma geral, atacam os vasos sangüíneos, os rins e os nervos, respectivamente (Lima &
Franco, 1997). Dessa maneira, o exercício físico regular atua pelo aumento da utilização de
glicose, pois os (...) exercícios regulares aceleram as adaptações metabólicas e hormonais
precoces que aparecem no início da atividade física e contribuem para reduzir as
necessidades de insulina.” (LEON. 1991: 139)
Segundo McConell et al, “(...) o exercício físico melhora a captação de glicose
pelas células, aumentando a translocação de transportadores GLUT-4 para a membrana
110
... o exercício regular (...) pode levar à diminuição na dose total de insulina e à
menor resposta hipertensiva ao exercício. (...)Do mesmo modo, em pacientes
diabéticos, a prática de exercícios determina queda no colesterol total, no
LDL-colesterol e nos triglicérides e aumento na relação HDL-colesterol/colesterol
total. (p. 105)
Um terceiro fator diz respeito aos hábitos de vida. Existem algumas evidências de
que a utilização de tabaco, café e o sedentarismo são aspectos responsáveis pela aceleração da
perda de massa óssea. Desses, provavelmente o mais importante é o sedentarismo. Apesar de
não haver ainda muita clareza a respeito dos mecanismos de ação, acredita-se que a falta de
estímulos como a sobrecarga gravitacional e a falta de contração muscular, facilitam a perda
de minerais, uma vez que o tecido ósseo não é obrigado a sofrer grandes tensões; em outras
palavras, a falta de necessidade acaba provocando uma “adaptação” específica a essa situação.
Assim sendo, o exercício pode contribuir significativamente na prevenção dessa
doença, pois a sua ação é justamente o contrário do que fora descrito acima. Por isso, segundo
Mellerowicz & Meller (1987: 9), as Atividades Físicas conseguem promover o “(...)
crescimento ósseo e o aumento das saliências dos ossos”. Leite (1990) apresenta como uma
alteração importante o fortalecimento da estrutura esquelética, muscular e articular. McArdle;
Katch & Katch (1998), abordam a elevação do conteúdo mineral nos ossos; por fim, Dantas
(1998) descreve o aumento da elevação das enzimas ósseas e hipertrofia óssea.
112
Apesar de todo esse mecanismo de desenvolvimento dos ossos ainda não estar
muito claro, infere-se que a Atividade Física praticada de maneira regular e adequada à
situação de cada pessoa pode promover resultados bastante importantes nas transformações
fisiológicas. Por outro lado, é necessário reforçar a idéia de que a prática excessiva de
qualquer exercício é capaz de causar lesões. Em relação à questão do próprio esqueleto, é
comum ouvir-se falar de atletas que sofreram fratura por estresse. Nesses casos,
provavelmente a ação dos osteoclastos, células de desgaste dos ossos, é maior que a ação dos
osteoblastos, células responsáveis pela regeneração desse tecido. Dessa forma, ao invés de se
prevenir a osteoporose, pode-se promover a sua aceleração.
Outra doença aqui descrita, que sofre uma influência positiva do exercício, é a
obesidade. Essa se caracteriza pelo acúmulo acentuado de tecido adiposo subcutâneo, sendo
muitas vezes associada a outras doenças, como a hipertensão, a diabetes, entre outras.
As causas da obesidade são bastante diversificadas, podendo ser provocadas por
alterações hormonais, hiperfagia e por sedentarismo, entre outras. Independentemente dessas,
um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento dessa doença é o chamado balanço
calórico positivo. Esse, por sua vez, é ocasionado pela relação entre ingestão de alimentos e
gasto energético diário, ou seja, todas as vezes que se come mais do que se gasta existe a
tendência de acúmulo dessa energia na forma de gordura, que, por sua vez, fica armazenada
113
logo abaixo da pele. A sua prevenção é, teoricamente, bastante simples, pois ela pode ser
evitada, simplesmente, gastando-se mais energia do que se consome diariamente. Para dar um
exemplo prático, pode-se dizer que um homem de 25 anos de 1,70 metros e com 70 quilos de
peso gasta diariamente algo em torno de 2200 quilocalorias (kcal) por dia. Se ele estiver
engordando, é suficiente que ele passe a gastar, por exemplo, 2500 kcal diariamente. Assim,
ele entra em um balanço calórico negativo, passando teoricamente a retirar, do tecido adiposo
a energia que está faltando para manter as funções necessárias à manutenção de sua vida. Esse
processo pode ser feito de três formas básicas, sendo: 1) fazer mais atividade física
diariamente, ou seja, gastar mais energia; 2) ingerir uma menor quantidade de alimentos e; 3)
aumentar a atividade física e reduzir a ingesta de alimentos, ou seja, reunir as duas
possibilidades anteriores. Segundo Powers & Howley (2000) e McArdle, Katch & Katch
(1998), cada vez que se gasta 3500 quilocalorias, perde-se 454 gramas de peso.
O excesso de peso em Goiânia chega a atingir 44,1% da população se considerado
os níveis enquanto sobrepeso/obesidade, apesar de haver diferenças entre estes conceitos, os
quais serão discutidos a seguir (Baptista, 2000).
A obesidade, enquanto uma doença, só é assim considerada a partir de
determinados níveis de acúmulo, podendo, dessa maneira, diferenciar-se do sobrepeso. Para se
falar nisso é fundamental que, antes de tudo, se defina quais são os padrões considerados
normais pela fisiologia, permitindo-se ainda considerar dois parâmetros diferentes. O primeiro
está baseado no percentual de gordura considerado ideal para que o organismo exerça as suas
funções normais, uma vez que esse tecido é responsável pelo controle de várias atividades
orgânicas. O segundo, mais simples de ser utilizado, é o índice de massa corpórea,
comumente denominado de IMC ou Índice de Quetelet.
De acordo com o primeiro parâmetro, o nível de gordura considerado como médio
varia entre homens e mulheres. Para eles, o peso de gordura médio varia de 9 a 16% de
gordura, sendo considerado acima da média de 17 a 24%, e obeso, acima de 25%. Para elas, o
peso considerado médio varia de 15 a 22%, evidenciando-se como acima da média de 23 a
29%, e a obesidade, acima de 30% (Farinatti & Monteiro, 1992). Esse fator se justifica devido
às diferenças de composição corporal entre homens e mulheres. Aqueles têm maior
quantidade de massa muscular, enquanto estas possuem uma maior quantidade de tecido
adiposo. Esse aparente excesso no caso das mulheres é responsável pelo controle do ciclo
menstrual. Existem evidências de que a redução acentuada do percentual de gordura das
114
mulheres (< 12%) pode gerar amenorréia, sendo esse um fato relativamente comum na vida de
mulheres atletas.
O segundo parâmetro adotado, o índice de massa corpórea (IMC), é a divisão
entre o peso corporal em quilogramas (Kg) e a altura ao quadrado em metros (m2). Segundo
McArdle, Katch & Katch (1998), valores entre 20 e 25 kg/m2 apresentam, baixo risco para a
obesidade, sendo que valores superiores a 40 kg/m2, apresentam alto risco para a saúde.
O que muitas pessoas consideram o grande problema da obesidade é que
normalmente ela está associada a uma maior incidência de problemas cardiovasculares,
sobretudo quando existe um alto grau de concentração de gordura na região do abdômen,
denominada de gordura andróide ou em maçã. Além disso, a obesidade geralmente predispõe
o organismo a outras doenças como a diabetes, o câncer e outras mais.
Um outro fator importante nessa discussão é a própria estética da obesidade. Em
uma sociedade em que o padrão corporal é determinado como um corpo magro, esguio e/ou
musculoso, o excesso de gordura destoa e incomoda por ser um corpo capaz de ser alcançado
por qualquer um.
Em relação a essa “patologia”, a atividade física teria basicamente duas funções. A
primeira delas é funcionar como um mecanismo cárdio-protetor, tal qual o padrão discutido na
questão da hipertensão e das adaptações cardiovasculares descritas anteriormente. Sobre essa
questão, Reid et al (1994) concluem que a redução de peso e o exercícios são parâmetros
aditivos, além de existir uma interação positiva em relação aos lípides. Essa pesquisa
apresenta uma possível redução nos riscos cardiovasculares quando se associam esses dois
aspectos.
O segundo, talvez mais importante, diz respeito ao aumento do gasto calórico
diário. Já foi visto anteriormente que, do ponto de vista teórico, é muito fácil emagrecer. Para
que isso aconteça, o organismo humano precisa gastar diariamente uma quantidade maior de
energia do que aquela que ele consumiu. Por isso, a Atividade Física se torna tão importante,
pois este aumento do gasto energético acontece através da prática corporal. Isso procede por
meio de três ações específicas e interligadas. A primeira diz respeito à utilização de gordura
subcutânea como fonte energética principal, fato que depende de uma série de reações
químicas e só se torna possível pela oxidação beta (Farinatti & Monteiro, 1992). Esse
115
A segunda forma é por meio da utilização de qualquer fonte energética que esteja
disponível, e ao se ingerir menos nutrientes do que aqueles depletados durante a realização
dos exercícios. Assim, qualquer atividade física que for realizada pode ajudar no processo de
perda de gordura desde que a ingestão alimentar seja reduzida em relação ao gasto. Dados
apresentados por Powers & Howley (2000), mostram que devido à alteração da composição
corporal, mesmo que houvesse uma ingesta próxima do gasto calórico, ainda assim haveria a
possibilidade de emagrecimento.
A terceira forma é aumentando a taxa metabólica basal – TMB. Essa taxa é a
resultante da quantidade de energia gasta diariamente para se exercerem as funções normais
do organismo e pode ser alterada em decorrência do efeito térmico dos alimentos, ou seja, o
dispêndio de energia necessário para se digerir os alimentos e pela Atividade Física, a qual,
por sua vez pode aumentar em até 10 vezes o valor da TMB. Essa alteração ocorre quando se
aumenta a quantidade de massa muscular no organismo, pois essa consome maior quantidade
de energia do que o tecido adiposo. Esse processo é conseguido com o aumento da massa
muscular por hipertrofia (aumento no tamanho das células). Segundo De Francischi & Lancha
Júnior (1997), a atividade aeróbia consegue manter ou mesmo aumentar os níveis de TMB,
desde que as restrições calóricas não sejam muito acentuadas. Segundo ela, a única forma que
provoca redução de peso às custas de massa magra (músculos) são as dietas feitas sem a
realização de Atividades Física paralelas.
Para concluir, apresenta-se a ação do exercício no câncer de cólon. Os dados
referentes a essas pesquisas ainda são recentes. Segundo Lee (2000b), a prática de atividades
físicas pode reduzir a incidência desse tipo de câncer. Isto acontece porque a “(...) atividade
física pode diminuir o período de trânsito intestinal, reduzindo então o risco de câncer pela
redução do contato entre cancerígenos, co-cancerígenos ou promotores no bolo fecal e na
mucosa do cólon” (Lee, 2000b: 31). Apesar desse dado estar posto de forma isolada, é
bastante interessante, pois, mesmo não havendo dados definitivos quanto à eficácia das
práticas corporais em outros tipos de câncer, no momento, diversos estudos estão sendo feitos
para se ter maior clareza sobre os possíveis efeitos das diferentes atividades, principalmente as
moderadas.
116
digno com um salário compatível, boas condições de moradia, saneamento básico, transporte,
alimentação, lazer entre outros indicadores sociais do mesmo porte. Dessa forma, a realização
de práticas corporais, por mais que tenham possibilidade de intervenção sobre uma série de
aspectos fisiológicos, como foi visto anteriormente, torna-se insuficiente para, sozinha,
promover saúde. Essa possibilidade não está dada nem a outras áreas de atuação profissional,
como a medicina, enfermagem, nutrição, apenas para citar algumas. É preciso, assim,
transformar a sociedade de maneira ampla para que esse conceito da OMS seja possível a
todas as pessoas. Nesse sentido a realização de Atividades Corporais, pelo menos como
elemento constitutivo dos momentos de lazer, ou seja, ela também deve estar incorporada ao
quotidiano das pessoas como instrumento de obtenção de um patamar de saúde elevado.
Mas, afinal, quando se estabelece o nexo da relação Atividade Física e Saúde, de
que saúde está-se falando? Onde aparece esse discurso que mantém a sua força e quais os seus
objetivos reais? Tentar-se-á responder a essas perguntas por partes, como forma de se
evitarem equívocos.
A resposta à primeira pergunta já foi dada de uma certa forma quando se discutiu
a corrente higienista da Educação Física no início deste capítulo. Porém, falta dizer do “tipo”
de saúde: a saúde pública, a qual, conforme disse Soares (1994), era responsável pelo controle
das epidemias dos trabalhadores. Os modelos de saúde pública, principalmente na Europa dos
séculos XVIII e XIX, tiveram pelo menos três formatos: o alemão-estatal, que primava pela
normalização principalmente dos médicos; o francês-urbano, pautado na vigilância e nas
quarentenas; e o inglês, entendido como o mais eficiente, sendo
... essencialmente um controle da saúde do corpo das classes mais pobres para
torná-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas às classes mais ricas.
Essa fórmula da medicina social inglesa foi a que teve futuro,
diferentemente da medicina urbana e sobretudo da medicina de Estado. O sistema
inglês (...) possibilitou, por um lado, ligar três coisas: assistência médica ao pobre,
controle de saúde da força de trabalho e esquadrinhamento geral da saúde pública,
permitindo às classes mais ricas se protegerem dos perigos gerais. (FOUCAULT,
1999: 97)
epidemias, precisa sofrer a ação de um controle eficiente. O autor apresenta três razões que
permitiram o aparecimento dessa forma de saúde pública na Inglaterra: a) política, devido aos
vários levantes decorrentes da revolução francesa no início do século; b) a dispensa de
serviços realizados pelos pobres, que tiraram deles o sustento, e: c) a epidemia de cólera,
ponto de partida para a criação, dentro das cidades, dos bairros ricos e pobres. Esses fatos
geram
Fica evidente o controle que é exercido pela medicina nesse momento da história
inglesa. No Brasil, o processo é bastante semelhante no sentido de que as informações e
saberes advêm dos países desenvolvidos. Esses, por sua vez, desencadeiam uma estrutura de
pesquisas isoladas e, posteriormente, realizadas em institutos. O conhecimento produzido
beneficia primeiro as populações urbanas e os militares, só se tornando acessível às outras
classes posteriormente. Nesse processo,
controle dos pobres, que essa “nova área do conhecimento” vai fixar-se, estabelecendo a
relação com a saúde, apropriando-se, inclusive do discurso das ciências naturais, um discurso
positivista que lhe garante status suficiente para se firmar na constelação social. Isto irá
constituir-se em um processo que Foucault (1999) denominará de tecnologia da disciplina.
Ainda sobre isso, Soares (1994) diz que,
Outra autora que parte do mesmo ponto é Carvalho (1995), quando define a
relação anterior como um mito. Ela explicita que
Mas, afinal, se a Atividade Física não é sinônimo de saúde e sim um mito que se
perpetua, e que ainda é utilizado no processo de exclusão social e controle da população, qual
é então o seu objetivo? O que faz presente uma prática social que apresenta um discurso por
vezes contraditório?
120
Nessa mesma esteira de compreensão, a atividade física acaba por ser entendida
como um processo, muito mais preocupado com a circulação de mercadorias entre as quais se
encontram o próprio corpo, os tênis, as roupas e agasalhos, além da própria atividade física –
do que com o desenvolvimento da saúde em si. Pode-se finalizar essa pequena discussão de
apresentar a não existência dessa relação ao menos de forma direta utilizando as palavras de
Schineider (1999), quando diz:
ou de contemplação como objeto dos desejos, para aqueles que por falta de
condições concretas, absorvem apenas o discurso irreal/ideal do corpo perfeito. (p.
878) (Grifo Nosso)
Essa reflexão sobre o papel do corpo e do padrão de beleza, sobretudo deste, como
superior a uma possível saúde fisiológica, está atrelada a um discurso em muito relacionado
com o higienismo do final do século XIX, que precisa ser constantemente repensado.
A fim de verificar o nível de influência da saúde, como elemento fundamental na
prática de Atividades Corporais dos sujeitos estudados, foram levantados alguns dados. As
tabelas 10 a 17 analisam essas questões.
Tabela 10: Relação Entre tempo de atividade dos Praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tempo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
3 Meses 0 0 5 31,25 0 0 5 6,49
4-6 meses 5 14,28 3 18,75 1 5,55 9 11,68
6-11 meses 6 17,14 3 18,75 1 5,55 10 12,98
1 ano 05 14,28 4 16,66 7 38,88 16 20,77
2 anos 8 22,85 2 12,5 2 11,11 12 15,58
> 3 anos 11 31,42 7 43,75 7 38,88 25 32,46
Total 35 100 24 150 18 100 77 100
122
de um ano. Por outro lado, se forem consideradas as três primeiras colocações para a
Atividade Física, com o tempo de prática, observa-se que 16 pessoas (20,77%) têm 3 anos ou
mais; 12 (15,38%) têm 2 anos; 6 (7,79%) têm 1 ano; 4 (5,19%) praticam de seis a onze meses;
6 (7,79%) têm de três a seis meses, e apenas 2 (2,59%) praticam há três meses. Esses dados
permitem inferir que as pessoas que consideram essa prática mais importante realizam-na há
mais tempo.
Na tabela 11, são destacados os dados relativos ao número de vezes na semana
que as pessoas freqüentam as academias. Do total, 33,76% realizam atividades 5 vezes na
semana e 29,87%, três vezes. Apesar das pessoas informarem que vão à Academia todos os
dias, pelo menos de segunda-feira à sexta-feira, esse dado se apresenta como contraditório,
pois uma das maiores dificuldades encontradas na coleta dos dados foi conseguir localizar as
pessoas sorteadas para realização da entrevista, apesar de ser feito um rodízio entre os dias e
horários. Os dias em que se encontravam maiores dificuldades em achar as pessoas eram as
quintas e sextas-feiras, dias em que as academias ficavam bastante vazias.
Tabela 11: Freqüência Semanal à academia dos Praticantes de Atividades Físicas, por
Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Freqüência semanal 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
02 vezes 2 5,71 0 0 0 0 2 2,59
03 vezes 9 25,71 11 45,83 3 16,66 23 29,87
04 vezes 6 17,14 3 12,5 2 11,11 11 14,28
05 vezes 13 37,14 6 25 7 38,88 26 33,76
124
Outro aspecto importante de ser apresentado é o fato das pessoas informarem uma
quantidade de práticas que se pode tornar inviável nas academias, pois mencionam realizar
atividades 7 vezes por semana, uma vez que as academias não abrem aos domingos. Todavia,
pode-se inferir que, ao indicar essa quantidade de vezes, as pessoas poderiam estar indicando
a realização de atividades fora da academia, como as caminhadas, que não dependem daqueles
locais. Apesar de ser uma possível falha na coleta de dados, a elaboração do instrumento, a
priori, tinha um direcionamento geral, não se restringindo, nesse caso específico, ao que
ocorre na academia. Do ponto de vista da saúde, entretanto, teoricamente, quanto maior o
número de dias da semana que as atividades físicas são realizadas, maior a probabilidade delas
surtirem os efeitos desejados na saúde. Além disso, as práticas realizadas nos finais de semana
podem ter outros objetivos como o lazer.
Na tabela 12, verifica-se o período de realização das atividades físicas.
Tabela 13: Tempo gasto no treinamento (por dia) pelos Praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tempo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
< 1 hora 2 5,71 4 16,66 4 22,22 10 12,98
126
Tabela 14: Realização de Exame Médico pelos Praticantes de Atividade Física por Faixa
Etária.
Exame médico FAIXA ETÁRIA TOTAL
127
Tabela 15: Local do Exame Médico realizado pelos Praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
Local de realização TOTAL
20-30 31-40 41-50
do exame
f % f % f % f %
128
Tabela 16: Motivo para a realização do Exame Médico pelos praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Por que fez o exame 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Exigência da Academia 12 50 10 55,56 5 33,33 27 47,36
Para Saber como estava 4 16,66 0 0 3 20 7 12,29
Histórico Familiar/Pessoal 4 16,66 2 11,11 0 0 6 10,52
Rotina 1 4,16 2 11,11 4 26,67 7 12,29
Pela Idade 0 0 1 5,56 1 6,67 2 3,51
Outros Motivos 3 12,5 3 16,66 2 13,33 8 14,03
Total 24 100 18 100 15 100 57 100
preocupados com isso ou mesmo saber algo a esse respeito. Entre os outros motivos
apontados, encontram-se a presença de problemas anteriores, histórico familiar e exame de
rotina. Esta devendo ser estendida a todos os praticantes, pois evita surpresas desagradáveis e
pode até mesmo garantir a integridade dos alunos. Após analisar o motivo pelo qual as
pessoas realizaram os seus exames, é interessante se retomar a discussão, sobre qual é o
gênero que mais o fez. Ao se pensarem os dados da tabela 14, com a 16, pode-se inferir, além
de uma maior preocupação das mulheres com a saúde, uma possível pressão por parte das
academias, sentida por elas mais do que pelos homens, quanto à necessidade de realização dos
exames médicos.
Além disso, os próprios dados apresentados na tabela 15, quanto ao local de
realização dos exames, apresentam uma incidência significativa de realização dentro das
academias (29,82% do total). Da freqüência total, entre as 47 mulheres que fizeram o exame
médico, 15 (31,91%) delas o realizaram na própria Academia, enquanto apenas 2 (20%) dos
10 homens utilizaram esse local. Se por um lado esses dados refletem a preocupação delas
com a saúde, por outro parecem refletir uma cessão aos “serviços” prestados pelas academias,
influenciadas, ambas – Academia e alunas – pelas necessidades postas pela Indústria Cultural,
uma vez que um de seus papéis é a cooptação dos indivíduos para seguir a lógica do mercado.
Os dados referentes à presença de saúde como objetivo definido de realização da
atividade física podem ser verificados na tabela 17.
Tabela 17: A Saúde como objetivo dos praticantes de atividade física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Praticam atividades por TOTAL
20-30 31-40 41-50
saúde
f % f % f % f %
Sim 18 51,42 10 41,66 9 50 37 48,05
Não 17 48,58 14 58,34 9 50 40 51,95
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Entre os objetivos apontados por todas as faixas etárias, chama a atenção o fato de
os adultos jovens indicarem mais aspectos relacionados à prática das Atividades por saúde, do
que as outras faixas etárias, até mesmo da dos adultos médios, que se esperava apresentarem
essa preocupação. Embora essa diferença não seja considerada significativa do ponto de vista
130
estatístico, pode sugerir dois aspectos interessantes. O primeiro é o fato de os próprios adultos
maduros não terem a saúde como um ponto principal, visto que entre eles as alterações
orgânicas decorrentes da idade são mais acentuadas. Um segundo aspecto é o fato de os
adultos jovens terem apontado a saúde como objetivo, o que poderia sugerir uma maior
conscientização dessa geração com a necessidade da prática regular de Atividades Corporais,
o que poderia justificar a denominação “Geração Saúde”, embora se possa pensar em
aspectos ideológicos dessa nomenclatura devido a uma possível exacerbação de preocupação
com a saúde e não com outros aspectos sociais importantes. Esses fatos indicam uma
influência importante das relações sociais, colocadas pela Indústria Cultural, pois a saúde e o
corpo se apresentam como mercadorias de alto valor, aspecto no qual se deve concordar com
Schineider (1999).
Pode-se destacar, ainda, o nível de satisfação que foi indicado pelos praticantes
que freqüentam as academias pesquisadas procurando saúde. Entre as trinta e quatro pessoas
consultadas que mencionaram esse objetivo, a média de satisfação com a suas atividades é de
7,16 pontos, apresentando um desvio padrão de 1,25. Essa média dá a entender um nível
bastante razoável em relação ao alcance do objetivo mencionado.
A informação dos sujeitos sobre a relação entre as atividades físicas e a saúde
pode ser verificada na tabela 18.
Tabela 18: Relação entre os exercícios e a saúde, segundo os praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária
131
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para:
20-30 31-40 41-50
1. Auxiliar no tratamento de diabetes* 4,20 4,54 3,27
2. Encontrar o equilíbrio pessoal 1,42 1,45 1,27
3. Melhorar a resistência* 4,97 4,91 4,55
4. Prevenir a obesidade 4,85 4,91 4,61
5. Prevenir doenças do coração 4,85 4,79 4,88
6. Reduzir a pressão arterial 4,51 4,70 4,38
7. Reduzir as conseqüências da Osteoporose 4,54 4,50 4,88
8. Ter mais saúde 4,94 5,00 4,77
9. Viver com melhor qualidade* 4,94 4,70 5,00
* Estas afirmações apresentam diferenças significativas entre os grupos (p< 0,05).
Tabela 19: Influência dos exercícios sobre a saúde, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física para...
20-30 31-40 41-50
1. Para aumentar a capacidade física 4,68 4,75 4,61
2. Para se sentirem bem 4,65 4,70 4,44
3. Para terem sua saúde melhor 4,82 4,87 4,94
4. Porque o médico mandou 3,65 3,70 4,22
A primeira análise que pode ser feita a respeito desses dados é de que em nenhum
item ocorreu diferença significativa entre os grupos, segundo o índice de Krusk-Wallis.
Destaca-se o fato dos Adultos Maduros acreditarem que a maior parte das pessoas realizam
práticas corporais por saúde. Apesar da pergunta ser feita pensando-se em outras pessoas, ela
pode representar aquilo que a pessoa faria no caso dela. Isso significa que essas pessoas
possivelmente fazem Atividades pensando em saúde, embora esse possa não ser o seu
objetivo principal. Também é digno de nota que esse “interesse” pela saúde aumenta com a
idade, segundo os dados, visto como a média dos itens de 4,38 entre os adultos jovens; 4,44
entre os adultos médios; e 4,59 para os adultos maduros.
Enfim, a saúde acaba por se apresentar como aspecto importante na prática
corporal nas academias pesquisadas. Resta saber se esse é o elemento principal, haja vista que
outros componentes devem ser discutidos.
Para se iniciar esta discussão deve-se, em primeiro lugar, definir o que seja
estética. A princípio, a estética tem a ver com tudo o que é belo e, nesse sentido, pode-se
encontrar a estética presente no corpo humano, em um texto literário, na música ou em
qualquer forma de arte. A estética pode estar na sublimação de um sentido ou na percepção
sutil de um pequeno gesto. A leveza, a perfeição são normalmente palavras usadas para
133
exprimir algo que, na realidade, em algumas situações, não pode ser expresso. A estética é,
assim, o ser ou algo emanante a ele, justamente no que possui de mais completo/complexo. É
o êxtase em estado puro.
Essa palavra, que pode representar a beleza em seu estado máximo, na realidade
... surgiu como um discurso sobre o corpo. Em sua formulação original, pelo
filósofo alemão Alexander Baumgarten, o termo não se refere primeiramente à arte,
mas, como o grego aisthesis, a toda a região da percepção e sensação humanas, em
contraste com o domínio rarefeito do pensamento conceitual. A distinção que o
termo ‘estética’ perfaz inicialmente, em meados do século XVIII, não é aquela entre
‘arte’ e ‘vida’, mas entre o material e o imaterial: entre coisas e pensamentos,
sensações e idéias; entre o que está ligado a nossa vida como seres criados
opondo-se ao que leva uma espécie de existência sombria nos recessos da mente.
(...) Este território é nada mais do que a totalidade de nossa vida sensível – o
movimento de nossos afetos e aversões , de como o mundo atinge o corpo em suas
superfícies sensoriais, tudo aquilo enfim que se enraiza no olhar e nas vísceras e
tudo o que emerge de nossa mais banal inserção biológica no mundo. (...) Ela
representa assim os primeiros tremores de um materialismo primitivo – de uma
longa e inarticulada rebelião do corpo contra a tirania do teórico. (EAGLETON,
1993: 17) (Grifo do autor)
Essa última descrição a respeito da estética faz necessária a discussão sobre dois
elementos que acabarão se tornando freqüentes nessa questão, e cujos pontos centrais estão
grifados acima: a busca pela liberdade e o universalismo das formas. O primeiro aspecto
coloca a estética justamente no ponto da realização máxima do Homem, no sentido dessa
poder ser, assim, a maior expressão da sua capacidade e da sua interação com o mundo. É o
livre arbítrio exercido em sua plenitude. É a utilização plena dos sentidos, expressa na
continuação dos sujeitos, estando essa seqüência no objeto.
O segundo elemento, a utilização das formas universais, expressa, por outro lado,
toda a opressão gerada pela estética. Nesse sentido, o caráter estético das formas é mais um
elemento de padronização do ser humano face aos desejos e mecanismos de controle impostos
pelo modo de produção capitalista. A sua utilização é usada então como forma de
padronização, de uniformidade e de individualização, sendo esta última a expressão de uma
subjetividade fragmentada, esfacelada e convertida numa busca consumista desenfreada em
direção ao padrão do impossível. A sua realização plena, se for procurada uma explicação em
Marx, provavelmente só será possível ao burguês que expropria a condição humana e guarda
para si o que o proletariado produz de mais belo, e que, pela sua alienação, não lhe pertence.
Pode-se afirmar que a expropriação do corpo jamais poderá ser correspondida pelo operário.
A busca pela estética é um dos principais objetivos da prática de atividades físicas
em todo o Brasil. Os estudos de Pereira (1996), Lovisolo (1997), Novaes (1998) e Anzai
(2000), demonstram que aproximadamente 70 a 80% dos sujeitos pesquisados apresentam
esse objetivo como o principal em suas atividades. Apesar de os dados apresentados
demonstrarem que outros objetivos têm a sua importância, a busca pelo corpo belo tem o
maior destaque. Pereira (1996) observa, na fala de seus informantes, que, muitas vezes, apesar
do caráter estético ou de saúde da atividade física, há também uma busca pelo equilíbrio
pessoal, na tentativa de obtenção de um estilo de vida mais harmônico.
Lovisolo (1997) discute a estética dentro do contexto sócio-antropológico
estabelecendo, inclusive, relações entre a questão estética e a “boa mesa”. Novaes (1998) ao
analisar a prática de atividades físicas em academias no Rio de Janeiro, apoiando-se nos
conceitos do esteticismo e da estetização do cotidiano propostos por Schiller, demonstra que
esse é o objetivo central dos alunos de academias de ginástica desde a década de 1930 no Rio
de Janeiro. Anzai (2000) chega à mesma conclusão comparando estudos realizados no Rio de
Janeiro (Dantas, 1988), em Cuiabá (Nigro, 1992) e em Várzea Grande (Sá, 1992). A estética
135
se torna um aspecto tão forte que poderia ser comparada a um mito, conforme discute
Carvalho (1995), em relação à saúde.
A reflexão sobre a estética corporal, aqui entendida como a beleza expressa na
forma do corpo, traz intrinsecamente os problemas imanentes de seu universalismo. Assim,
esses paradigmas estariam vinculados a regras sociais estabelecidas com fins bastante
variados. Para melhor compreensão dessa afirmação, há que se destacar: a) qual a utilização
feita pela sociedade capitalista desses conceitos e por quem eles são produzidos e utilizados?
b) qual o paradigma corporal estabelecido e como ficam, nesse meio, diferentes situações
como a dos homens, das mulheres e dos obesos frente a essa série de implicações sociais? que
concepção se tem deles?
Para esclarecer a questão da estética, deve-se pensar na relação que ela estabelece
com o modo de produção no qual ela se constitui. Assim, recorrer-se-á principalmente a
Eagleton (1993), para se buscarem algumas respostas a esse respeito, principalmente nas
discussões que ele faz em relação a Marx e Adorno, os quais, se entende, têm contribuições
bastante elucidativas. Entretanto, iniciar-se-ão pelas reflexões do próprio Marx, a esse
respeito, o que foi possível detectar com a ajuda de Eagleton (1993).
Em Marx, essa questão está posta, principalmente, na relação que se estabelece os
sentidos humanos e a propriedade privada, onde o trabalhador sofre as conseqüências da
imposição da economia política. Dessa forma.
relação à percepção que os seus sentidos lhe dão. Apenas para complementar, vale mencionar
Adorno (1999), quando fala da regressão da audição, ou seja, do embrutecimento dos ouvidos,
causado pela indústria cultural. Pare ele
Em outras palavras, pode-se dizer que a felicidade de uma audição é uma ilusão
promovida pela incapacidade de se perceber, que o “lixo” que se escuta nada mais é do que
mais uma forma de exploração dos sentidos dos oprimidos. Estes – os sentidos – por sua vez
são adquiridos pelo próprio burguês, pois “(...) apareceu assim a simples alienação de todos
esses sentidos, o sentido do ter.” (Marx, s.d.: 177). Eis por que a necessidade de superação da
propriedade privada, pois
Ao falar assim Marx, segundo Eagleton (1993), exerce toda a sua discussão
estética entendendo dessa maneira a necessidade de utilização plena dos sentidos pelo ser
humano, o que só se torna possível na possibilidade de superação de um modo de produção
onde essa possibilidade não está dada. É na condição da realização concreta dos sentidos que
o Homem terá a condição de transgredir as regras sociais e com isso alcançar a objetividade
de uma subjetividade plena, ou seja, como “(...) produto de uma complexa história material, e
137
Ao fazer essa última discussão, Marx (s.d.) apresenta, de certa maneira, uma
relação entre forma e conteúdo, o que não é, contudo, possível no capitalismo. Ele busca “(...)
distinguir a matéria (forças produtivas) e a forma (relações sociais) de uma determinada
sociedade, (...). Pois ao negar o valor da troca, o comunismo libera a economia de conteúdo
fetichizado que está aprisionado na forma.” (Eagleton, 1993: 160). Mas porque se encontra
138
aqui a determinação do fetiche. O fetiche, para Marx, é uma qualidade inerente à própria
mercadoria. Assim, a mercadoria passa a valer socialmente muito mais do que aquilo que lhe
poderia ser atribuído pelo seu valor de uso, relacionado com a importância dela para quem vai
usá-la, e do valor de troca, que estabelece o seu valor conforme o tempo necessário para a sua
produção, sobretudo se for estabelecida alguma relação com outra mercadoria.
Dessa forma, enquanto fetiche, ela assume um valor estabelecido socialmente, por
isso a
... forma mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho, na qual ele se
representa, não tem que ver absolutamente nada com sua natureza física e com as
relações materiais que daí se originam. Não é mais nada que determinada relação
social entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica
de uma relação entre coisas.(...) Aqui, os produtos do cérebro humano parecem
dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantêm relações entre si e com os
homens. (MARX, 1996: 198)
... nas relações de poder, nos deparamos com fenômenos complexos que não
obedecem à forma hegeliana da dialética. O domínio da consciência do seu próprio
corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a
ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltação do belo
corpo... tudo isto conduz ao desejo de seu próprio corpo através de um trabalho
insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças,
dos soldados, sobre o corpo sadio. Mas, a partir do momento em que o poder
produziu este efeito, como conseqüência direta de suas conquistas, emerge
inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo contra o poder, a saúde
contra a economia, o prazer contra as normas morais da sexualidade, do
casamento, do pudor. E, assim, o que tornava forte o poder passa a ser aquilo por
que ele é atacado...O poder penetrou no corpo, encontra-se exposto no próprio
corpo... Lembrem-se do pânico das instituições do corpo social (médicos, políticos)
com a idéia de união livre ou do aborto... Na realidade, a impressão de que o poder
vacila é falsa, porque ele pode recuar, se deslocar, investir em outros lugares... e a
batalha continua. (FOUCAULT, 1999: 146)
140
Como resposta à revolta do corpo, encontramos um novo investimento que não tem
mais a forma de controle-repressão, mas de controle-estimulação: ‘Fique nu.... mas
seja magro, bonito, bronzeado!’ A cada movimento de um dos adversários
corresponde o movimento do outro. (...) É preciso aceitar o indefinido da luta... O
que não quer dizer que ela não acabará um dia. (idem, p. 147)
Nesse eterno processo de tensão entre as partes, com uma possível vantagem em
prol das classes hegemônicas, que se institui e se inspira esse padrão corporal onde o magro,
bonito, musculoso é exaltado em detrimento de seus opostos. Mas essa não é uma luta em
condições de igualdade. Não há uma uniformidade do pensamento, o que apresenta, ou até
mesmo se exige um padrão diferenciado, onde a própria obesidade pode possuir percepções
ambíguas.
O que é ser obeso na sociedade da magreza e do consumo? A resposta deve ser
dada abordando a saúde e a estética, centrando-se, nesse momento, a reflexão no segundo
item. A obesidade é vista atualmente como uma doença associada a outras doenças
consideradas graves (Seidell et al, 1986). Normalmente, os obesos apresentam altos índices de
colesterol sangüíneo, hipertensão e grande possibilidade de desenvolver doenças isquêmicas.
Assim, a obesidade é entendida, nesse momento, como um problema de saúde
pública, ao ponto de se acreditar que ao fim do século XXI, o Brasil será um país de obesos.
(Faria, 2000). Não se deve esquecer, contudo, que a saúde pública, conforme já foi visto,
acaba por funcionar como um mecanismo de controle utilizado pelo capitalismo, para evitar a
queda nos seus lucros. Isso tem a ver possivelmente com o obeso muito mais pelo seu lado
estético e pelas concepções que ele suscita.
141
Essa discussão é feita por Fischler (1995), ao apresentar duas concepções quanto
ao obeso. A primeira, que o vê como benigno, e a segunda, que o vê como maligno. Na
primeira versão, o gordo (bom), é visto como uma pessoa simpática, amável, comunicativa.
Por outro lado, na segunda visão, o gordo “mau” sofre discriminação e em algumas situações
perde o emprego pelo seu excesso de peso, associando-se normalmente a idéia da obesidade à
trapaça, à preguiça, à sujeira, à feiura, entre outros. O autor apresenta como uma possível
justificativa para esses fatos a relação que se estabelece entre o corpo e as regras sociais como
a distribuição e a reciprocidade. Assim, as pessoas com sobrepeso despertam a sensação de
reter algo a mais, ou algo que não lhes pertence.
Como forma de punição ou de remissão, o obeso tem que pagar um preço
relativamente alto, devido à sua condição corporal. Assim, em algumas situações a percepção
parece diferente, podendo acontecer três situações distintas. A primeira quando ele apresenta
força; então, a pessoa deixa de ser gorda para ser forte: a segunda, sendo engraçado, cômico; e
a última, transgredindo pequenas regras. Dessas três maneiras, o obeso parece pagar seus
débitos sociais. No entanto, ainda “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Essas
percepções do gordo são determinadas socialmente e, para que ocorra essa mudança, deve-se
perguntar “(...) se a imagem social não influencia o julgamento estético que dirigimos à
aparência, o julgamento moral ou afetivo que fazemos da personalidade; em uma palavra, se
ela não permite prever o caráter maligno ou benigno do obeso.” (Fischler, 1995: 73)
Ao que tudo indica, esse é apenas mais um mal-estar causado pela modernidade,
no sentido de tornar estranho e discriminar tudo aquilo que não se relaciona com a imagem
pessoal. Ou seja, a maior dificuldade que se tem de lidar com o gordo é procurar entender e
aceitar que na diferença não se encontra necessariamente o agressor; ele pode estar mais
presente naquele que reflete a imagem mental que tenho como igual.
Outro aspecto que deve ser destacado do ponto de vista da estética é a diferença
apresentada nas “formas” masculinas e femininas. Essa diferença se apresenta nas diferenças
de papéis sociais desempenhados pelos dois em diferentes períodos históricos.
Independentemente da época, e até mesmo na atualidade, em boa parte dos casos pode-se
designar ao homem a demonstração de força, virilidade e coragem para guiar a sua mulher e a
família, enquanto à mulher cabe demonstrar fragilidade, resignação, meiguice e fertilidade.
Dele deve sair o sustento; dela, a educação familiar.
142
O corpo, qualquer que seja seu sexo, vai desde então, desempenhar um papel
essencial no imaginário americano de promoção individual. A beleza é um capital,
a força, um investimento; todos dois são mercadorias cujo valor de troca vai
crescer ao longo do século. (COURTINE, 1995: 98)
A mulher já apresenta uma condição diferente da do homem, pois ela, mais do que
ele, está submetida a um duplo papel que, muitas vezes, se apresenta como contraditório. Por
um lado, o papel da mulher sedutora, forte, decidida, sensual que ocupa o seu papel no
mercado de trabalho. Por outro, a mulher doce, amiga, afável e carinhosa, responsável quanto
às suas obrigações no lar enquanto esposa e mãe. Em nenhum do dois casos a mulher pode
prescindir de algo que lhe é inerente: a beleza. Para que ela possa estar em dia com esse
quesito, independente do papel que lhe for destinado, a mulher deve apresentar uma forma
física que seja compatível com o seu tempo que apresente “(...) a naturalidade e a expressão
ao mesmo tempo juvenil e sexy em voga.” (Sant’Anna, 1995: 134)
O desenvolvimento dessas idéias não são, contudo, de agora. Desde a década de
1930, as idéias de beleza e de saúde, os cuidados corporais com a utilização de exercícios
ginásticos que não ferissem a delicadeza feminina, nem fizessem dela um homem, já eram
amplamente divulgados pela Revista Educação Physica. Segundo Goellner (1999), essa
revista dedicava, sobretudo a partir de 1939 – ela circulou de 1932 a 1945, uma parte especial
dedicada à mulher, onde eram dadas orientações quanto aos cuidados com a pele e o corpo, a
“necessidade” de utilização de cosméticos e, sobretudo, a realização de atividades físicas que
prometiam corrigir o corpo, fatos esses apontados também por Sant’Anna (1995). E, “(...)
apesar de compreenderem a beleza a partir de um ideal de perfeição inatingível para a
144
grande maioria das leitoras, não deixam de exibi-la como uma conquista a ser alcançada por
cada uma, (...).” (Goellner, 1999: 1339)
O paradigma de mulher apresentado na revista “ (...) toma como referência a
mulher adulta jovem, branca, heterossexual e de classe média,(...).” (idem, p. 1336). Enfim, o
padrão de normalidade estabelecido para as mulheres, assim como para os homens americanos
adeptos do body-building, expressavam não só a necessidade de uma construção corporal
sólida, mas, também, ainda que de maneira implícita para a maioria da população, o fetiche
expresso em um corpo jovem, branco e de classe média. Essas são, provavelmente, formas de
poder expressas nessas relações sociais, e que atendem às necessidades de construção de uma
raça –eugenia – bem como de um processo social mais amplo fundado em um modelo de
sociedade excludente, ou ainda, onde a responsabilidade social de cada um está posta em um
conceito de “liberdade”, ou seja, cada um pode ter o corpo que quiser, desde que esse corpo
respeite o que é preconizado, o qual, na realidade, não é possível à grande maioria das
pessoas, sejam elas homens ou mulheres. E a explicação para isso é bastante fácil de ser dada:
em um padrão societário, onde a aquisição da beleza está vinculada ao consumo de atividades
físicas em academias, associado aos produtos de beleza (cosméticos, alimentos próprios do
tipo diet, light, entre outros), as condições salariais mínimas não possibilitam esse tipo de
consumo. Isto é, mais uma vez está na ordem do dia o embrutecimento das condições do
trabalhador e a dificuldade de ele desenvolver um padrão estético pautado na utilização dos
seus sentidos humanos e espirituais.
Enfim, de todas as confusões e satisfações que a estética pode causar algumas
conclusões são possíveis, entre as quais se pode perceber que o paradigma do corpo perfeito é
o fetiche propalado, a necessidade de cultuá-lo, de acordo com o que é estabelecido pelos
mandamentos (do consumismo), pelos deuses (do mercado) e pelos sacerdotes (da beleza),
gerando uma idolatria a corpos esculturais, criados por “bombas” e elementos artificiais como
o silicone, que se tornam mais importantes do que os corpos saudáveis.
Codo e Senne (l984), chamam a isso de corpolatria, pois, segundo eles, a atividade
física e o próprio corpo deveriam ser a salvação (céu), acabando por se constituir em uma
condenação (inferno), transformando-se ao final em mais um tipo de alienação. O resgate
deveria acontecer, dessa forma, em locais onde esta reaproximação consigo mesmo e a
realização de algo que causasse prazer fosse possível: as academias de ginástica, por exemplo.
Contudo, a sua transformação enquanto templos da corpolatria são as portas de saída para a
145
utilizado constantemente como forma de aumento do consumo das mercadorias mais diversas.
Conforme já foi colocado, esse processo não deixa de existir sem que o corpo em si se torne
um elemento de consumo, havendo como desdobramento a indução à corpolatria, que não
deixa de contribuir para a venda de produtos dietéticos, roupas, calçados, equipamentos de
ginástica, além de prestação de serviços (como as próprias aulas nas academias de ginástica)
que, de tempos em tempos, lançam uma nova moda, que promete atingir os objetivos de cada
pessoa na aquisição de um corpo saudável (esteticamente perfeito).
A discussão das questões apresentadas são fundamentais para mostrar, através da
imagem corporal transmitida, padrões sociais a serem seguidos. De uma maneira ou de outra
irá servir a interesses vinculados a esse modo de produção, seja pela sua produção
146
Tabela 20: A Estética como objetivo dos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária*
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Estética 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 30 85,71 17 70,83 12 66,66 59 76,62
Não 5 14,29 7 29,17 6 33,34 18 23,38
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
* Havia possibilidade de mais de uma resposta.
147
Pelos dados da tabela 20, percebe-se que, dentro do total de informantes, 76,62%
realizam atividade física por Estética. Deve-se observar, todavia, o fato da estética diminuir a
sua incidência de acordo com a faixa etária mantendo, entretanto, um percentual bastante
elevado de respostas. Nem mesmo os adultos maduros fogem a essa regra, embora o seu
percentual em relação à estética seja o menor entre os grupos.
Entretanto, os dados relacionados à estética devem ser confrontados com outros. O
primeiro desses cruzamentos procurou identificar o nível de freqüência estabelecida entre as
três principais fontes de informação, pela seqüência, Professor da Academia, Médico e
Televisão, e o objetivo da estética. Para se fazer isso, considerou-se todos os informantes que
haviam indicado essas três fontes entre as quatro mais importantes. Como resultado,
percebeu-se que 40 dos 51 informantes que apontaram o Professor da Academia como fonte,
têm como objetivo a estética, o que corresponde a 78,43% desse grupo e 57,14% do total de
informantes.
Das 46 pessoas que colocaram o médico como fonte, 34 (73,91%) fazem
atividades por estética, e, entre as 44 pessoas que mencionaram a televisão entre as quatro
fontes principais, 34 (77,27%) também fazem por estética. Apesar de as pessoas poderem ter
mencionado mais de uma fonte, parece bastante evidente que a realização por estética é
fundamental.
Ao se analisar essa resposta, comparando com a fonte de informação sobre a
modalidade, percebe-se que, ao indicar uma modalidade, os professores da academia,
aparentemente, também estão induzindo as pessoas à estética, cedendo, dessa forma às
influências da mídia e da industria cultural. Isso significa dizer que as fontes que deveriam
estar indicando a prática corporal como saúde, na realidade se deixam seduzir pelo discurso
hegemônico do corpo perfeito, ainda que, a sua atuação, principalmente dos professores de
academia e dos médicos, deveria, a princípio, estar voltada para a questão da saúde como fator
principal, entendendo-os, a priori, como profissionais de saúde.
Outro aspecto a ser analisado é a relação entre sexo e estética. Entre as mulheres,
47 das 56 alunas entrevistadas fazem atividade física visando estética, o que corresponde a 83,
92% das mulheres entrevistadas. Entre os homens, 12 dos 21 praticantes fazem por estética, o
que eqüivale a 57,14% da amostragem. Esses números apresentam diferenças significativas (p
< 0,05), indicando uma maior preocupação por parte das mulheres quanto à “aquisição” de um
corpo perfeito.
148
Infere-se, por isso, que as mulheres estão aderindo mais aos discursos da indústria
cultural do que os homens, fato já demonstrado por Okuma (1990). Ademais, cabe ressaltar
que os dados em seu todo refletem aquilo que já era considerado um padrão normal de
mulher, conforme cita Goellner (1999), da mulher ao menos adulta jovem e de classe média
(para alta nesse caso), uma vez que, pela coleta de dados, não foram registrados aspectos
relativos à cor da pele e da preferência sexual. Pode-se, inclusive, mencionar Sant’Anna
(1995) e Goellner (1999) quando elas falam do padrão de corpo perfeito e inatingível pela
maioria das mulheres, embora exista a possibilidade dessa conquista no âmbito individual.
Enfim, não há possibilidade de relacionar esses dados aos de Melo (1997), quanto
à região do corpo mais trabalhada de acordo com o sexo, o que se relaciona com a própria
questão do gênero. Todavia, pode-se concordar com Courtine (1995), com relação ao fato do
corpo belo ser posto como um capital e a força como um investimento para ambos os sexos.
Eis a mercadoria destes “tempos modernos”.
Um outro aspecto que deve ser apontado é o nível de satisfação com os objetivos
já alcançados. Entre os 59 praticantes com objetivos estéticos, a média de satisfação é de 6,
95, com desvio padrão de 1,44. Esse desvio padrão (DP) relacionado com o X2 demonstra um
alto grau de homogeneidade da amostragem. Por outro lado, percebe-se uma certa insatisfação
com os níveis alcançados, o que reforça a posição de Goellner (1999), quanto à dificuldade de
se atingir o padrão de corpo posto socialmente como referência. Deve-se registrar, ainda, que
esse nível de satisfação é mais baixo que o da saúde. E embora este [da saúde] apresente uma
menor amostragem, ele se apresenta mais homogêneo quando comparado ao da estética.
É interessante observar que, entre todos os grupos, o dos adultos médios parece
estar mais satisfeito com a sua modalidade principal: a musculação; e o alcance dos seus
objetivos: a estética. Levando-se ainda em conta que esse grupo possui uma maior incidência
de realização de três vezes por semana, pode-se inferir que a musculação apresenta bons
resultados para esse objetivo e essa freqüência semanal.
A relação entre os exercícios e a estética está demonstrada na tabela 21.
Tabela 22: Influência dos exercícios para a Estática, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física para...
20-30 31-40 41-50
1. Emagrecer 4,68 4,58 4,55
A primeira análise que pode ser feita a respeito dessa tabela é de que em nenhum
caso apareceu diferença significativa entre os grupos. Destaca-se também o fato de os adultos
maduros não apresentarem preocupação em ficar com o corpo mais torneado. Além disso, os
dois critérios melhor pontuados estão relacionados a enrijecer a musculatura, o que dá uma
aparência mais forte ao corpo e melhora a aparência. O primeiro, enrijecer a musculatura, com
maior destaque entre os adultos jovens, que é seguido dentro desse grupo pelo corpo mais
torneado. Os adultos médios, por sua vez, estão preocupados com os dois aspectos (aparência
e enrijecimento), e os maduros, com a aparência propriamente dita.
Nesse último grupo, a segunda questão mais importante é o emagrecimento. Essa
categoria foi incluída entre os aspectos estéticos por se considerar que essa questão, hoje,
possui uma tendência mais estética do que de saúde, embora este último discurso possa ser
mais forte. Todavia, deve-se destacar, que nas Academias pesquisadas, apesar de não haver
uma quantificação nesse número, não se observou uma freqüência significativa de obesos que
procurassem saúde, o que aparentemente não é comum de se ver nas academias – os obesos.
Deve-se finalmente cruzar os dados mencionados por idade na tabela 22, com o
sexo. Em todos os parâmetros as mulheres apresentaram maior interesse pela estética do que
os homens. Elas obtiveram como médias na seqüência das respostas de 4,73; 4,58; 4,75 e
4,44; enquanto eles tiveram como médias 4,33; 4,52; 4,33 e 4,19 respectivamente. De acordo
com o índice de Krusk-Wallis, são consideradas diferenças significativas (p< 0,05) a questão
do emagrecimento e do enrijecimento da musculatura. Enfim, apesar desta parte do
instrumento não confirmar o que foi detectado no questionário A, ele confirma as hipóteses da
entrevista, onde as mulheres apresentam maior interesse pela estética de que os homens.
Entretanto, a possibilidade dessa inversão parece estar posta, e, apesar de haver um possível
151
direcionamento para as perguntas dentro dos instrumentos, não se acredita que este tenha sido
o fator principal. Esse aspecto, apesar de precisar de um complemento como o proposto por
Melo (1997), em relação às partes do corpo que são mais trabalhadas de acordo com o gênero,
deve ser olhado com bastante cuidado, pois, na atualidade, as mulheres passaram a assumir
papéis que eram considerados masculinos, e não há nada que justifique a não mudança de
postura por parte dos homens; nesse sentido, a necessidade de se sentir desejado, forte e
elegante pode não ter relação apenas com as questões estéticas corporais, mas com a própria
postura das pessoas dentro da sociedade, uma vez que o mercado de trabalho estabelece tantas
exigências dos trabalhadores, que mesmo sendo qualificados, como se indica no perfil dos
praticantes, ainda assim precisam-se submeter à idéia do corpo forte e produtivo, como
destaca Foucault (1999). Em síntese, a estética é a plena expressão do poder sobre o corpo
orgânico e social, e esse é um elemento ideológico bastante eficaz.
Um terceiro ponto a ser tratado aqui é a relação entre a prática de atividade física e
lazer. Para se estabelecer essa discussão de forma mais profícua, deve-se primeiro caracterizar
o tema em si, descrevendo-se inicialmente as próprias concepções de lazer que estão
respaldando o presente estudo, bem como as suas diferentes interfaces.
Deve-se inicialmente caracterizar o que seja o lazer. Apesar de esta ser uma
pergunta até certo ponto fácil de ser respondida, é essencial levar em consideração que são
várias as maneiras de se interpretar esse conceito. Dessa forma, optou-se por adotar o conceito
do sociólogo francês Jofre Dumazedier. Para ele o lazer “Corresponde a uma liberação
periódica do trabalho ao fim do dia, da semana, do ano ou da vida funcional” (Dumazedier,
1980: 108). Foi feita a opção por esta forma de entendimento do lazer por se pressupor a
realização de trabalho, sem o qual a própria definição não seria possível.
Nessa perspectiva, especificamente, o lazer está relacionado ao fator tempo, ou
seja, se estabelece a relação e o próprio conceito de lazer com tempo do dia, mês, ano que se
tem disponível para se fazer aquilo que se deseja e que se tem prazer. Por isso, Marcellino
(1996a) explica que não é apenas o tempo destinado às obrigações trabalhistas que devem ser
consideradas, mas, também, as obrigações religiosas, familiares e sociais, pois o tempo gasto
152
nesses aspectos, por mais que sejam voluntários ou até mesmo prazerosos, estão ligados às
atividades que devem ser cumpridas.
Assim, o lazer passa a assumir uma posição diferente do ócio. Este poderia ser
compreendido como a falta de afazeres e obrigações, ou seja, um tempo disponível do qual se
pode fazer o que quiser por não haver qualquer obrigação ou compromisso. No entanto,
aquele pressupõe obrigações, pois o “(...) lazer não é a ociosidade, não suprime, supõe o
trabalho (Dumazedier, 1980: 108). O lazer passa a estabelecer assim um par dialético com o
trabalho, ou mesmo às obrigações e deveres, uma vez que a constituição de um irá gerar o
outro, necessariamente.
Entendendo essa inter-relação, deve-se, então, questionar que elementos
funcionam como norteadores das atividades de lazer. Essa é uma discussão que pode ser
buscada em Adorno, quando ele fala na utilização do tempo livre. Para ele, o tempo livre se
... distingue do tempo não livre, aquele que é preenchido pelo trabalho e,
poderíamos acrescentar, na verdade determinado desde fora. O tempo livre é
acorrentado ao seu oposto. Esta oposição, a relação em que ela se apresenta,
imprime-lhe traços essenciais. (ADORNO, 1995: 70).
mesmo essa forma subsumida do lazer ao trabalho, faz dele um mero complemento
coisificado.
Consequentemente, a própria heteronomia do lazer perante o trabalho facilita a
ação da Indústria Cultural sobre ele, entendendo-se aqui as suas diferentes funções, como a
cooptação dos indivíduos, a identificação imediata com os bens produzidos, a produção de
bens de consumo e a massificação. A produção de bens para serem consumidos, além das
próprias atividades que podem ser realizadas nos momentos de folga, facilita a ação dos
interesses hegemônicos. Dessa maneira, a liberdade de escolha tende a se tornar determinada
de fora, pois
devido à formação de uma necessidade social. A mecanização do lazer é posta de maneira tão
forte que atinge as pessoas em sua felicidade. Assim, “(...) ela determina tão profundamente a
fabricação de mercadorias destinadas a diversão que esta pessoa não pode perceber outra
coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.” (Adorno &
Horkheimer, 1985: 128)
Entretanto, não só a força da Indústria Cultural deve ser vista; deve-se analisar
também a atitude das pessoas perante às atividades de tempo livre. “O lazer considerado
como atitude será caracterizado pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a
experiência vivida, basicamente a satisfação provocada pela atividade” (Marcellino, 1996a:
8). Dessa maneira, podem-se considerar ao menos dois tipos de atitude perante o lazer: uma,
que pode ser chamada de ativa, e outra, passiva.
O ponto destacado por Cunha (1999) é bastante interessante. Por mais que se
realize uma determinada atividade, por exemplo uma aula de ginástica, isso não significa que
156
a pessoa esteja sendo ativa em seu momento de tempo livre. Ela pode estar ali apenas para dar
uma justificativa à sociedade e dizer que é uma pessoa fisicamente ativa. Essa pessoa, nesse
momento, está sendo tão ou mais passiva quanto uma pessoa que pára no corredor ao ouvir a
música e ficar olhando a aula que está sendo ministrada. Aquela atividade, na realidade, além
de estar sendo praticada de maneira passiva, assume um ar de atividade supérflua. “Também a
atividade supérflua e sem sentido do tempo livre é socialmente integrada. Novamente entra
em jogo uma necessidade social.” (Adorno, 1995: 77)
As necessidades sociais estão nas atividades que se realizam como lazer, e podem
variar de acordo com o tipo de atividade realizada. Destarte, é importante destacar quais são
as atividades que podem ser realizadas como lazer. Elas podem, a grosso modo, ser divididas
em seis grupos fundamentais, considerados os mais importantes, a saber aquelas com: “(...)os
interesses artísticos, os intelectuais, os físicos, os manuais, os turísticos e os sociais.”
(Marcellino, 1996a: 18)
Para Marcellino (1996a), as atividades de interesse artístico estão relacionadas à
estética no sentido amplo, abrangendo, de uma maneira geral, as manifestações artísticas. Nos
interesses intelectuais preocupa-se com o conhecimento, efetivando-se por participação em
cursos ou leituras. Nos aspectos físicos, prevalecem os exercícios físicos, os passeios e as
diferentes manifestações da cultura corporal. Nas atividades realizadas com objetivos
manuais, expressa-se a capacidade de manipulação e transformação de objetos, como
exemplo, tem-se o bricolage (atividade relacionada com o conserto e pintura de pequenos
objetos e utensílios domésticos). Os interesses turísticos relacionam-se com o
desenvolvimento de passeios, viagens e busca de paisagens diferenciadas. Por fim, as práticas
com objetivos sociais, onde a meta principal é a busca do relacionamento, contato social em
bailes, bares, associações.
Mesmo assim, ao se seguir a linha de raciocínio de Marcellino, precisa-se destacar
que, para ele, várias atividades são realizadas inicialmente com um objetivo, e que, com o
passar do tempo, esses interesses podem mudar. É comum verificar que alguns grupos que se
constituem inicialmente para a realização de atividades físicas ou artísticas, podem-se manter
apenas para perpetuar o vínculo social. Esse vínculo, que facilita os contatos face a face, pode
promover não só o encontro das pessoas, mas a transmissão de valores dentro do grupo de
relacionamento. Marcellino (1990), discutindo a questão do lazer em suas formas mais
abrangentes, diz que essa é uma maneira de se fundamentarem mudanças no âmbito cultural e
157
moral, pois a associação informal das pessoas, os contatos face a face, desenvolvem relações
afetivas que podem contribuir para o associativismo da população. Essa mudança de postura
pode ocorrer através das desculpas, já mencionadas, e da realização de atividades de lazer que
favorecem a satisfação de interesses sociais mais amplos.
Dentro da perspectiva defendida por Marcellino, o lazer deve assumir um papel
crucial na vida das pessoas, sendo por sua vez um dos responsáveis pela melhoria das
condições de vida das pessoas. Esses interesses tão diversificados são essenciais para a
constituição do ser humano enquanto ser social. É a possibilidade de preservar o prazer na
realização das práticas de lazer, dentro das diferentes formas de interesse colocadas.
Todavia, de todos os tipos de interesse, o que mais interessa a este estudo é a
discussão a respeito das atividades de lazer físico. As atividades realizadas nas academias de
ginástica se encaixam com facilidade dentro desse grupo. A própria forma de execução em si
já estabelece o conceito. Entretanto, quais são os objetivos que podem ser visualizados dentro
dessas práticas? Já foi visto aqui a própria aplicação enquanto saúde e estética. E nesses dois
elementos estão presentes os interesses vinculados ao trabalho. Também com o lazer esse
aspecto já foi demonstrado. Mesmo assim, deve-se retornar a essa discussão procurando
visualizar a perspectiva nesse tipo de lazer (lazer físico). Adorno (1995) fala sobre a ação do
esporte nesse processo, aspecto considerado importante para a construção deste estudo. Ele se
pronuncia da seguinte forma:
outras, não só no sentido de sua segurança, mas também de sua supervisão. O próprio
processo produtivo atual exige ações coletivas, de grupos que se responsabilizam por
determinadas ações, nos quais é comum a supervisão dos próprios companheiros, pois existem
metas a serem alcançadas.
Além disso, a menção ao esporte, nesse sentido, pode ser adotada pensando-se que
é comum as pessoas confundirem esporte com qualquer prática de atividade física. A
realização da modalidade predileta tende a assumir a mesma postura das práticas esportivas. E
assim, as pessoas não percebem ou não lhes é informado a diferença entre elas, embora a
própria mídia, de certa maneira, seja responsável por essa confusão, o que não é casual.
Apesar disso, há de se concordar com Marcellino (1990) em relação à questão do
associativismo e das práticas que têm uma função muito mais social do que fisiológica
propriamente dita.
Entretanto, até que ponto as práticas corporais em academias, enquanto forma de
ocupação do tempo livre, podem ser consideradas Atividade, no sentido que é proposto por
Leontiev? Será que essas execuções não serão meramente “operações”? Essa discussão, por
todos os dados que foram apresentados até agora, demonstra que as pessoas parecem não
saber o porquê de suas práticas, ou, se possuem essa noção, de uma forma mais organizada, a
grande maioria parece não direcionar essas práticas como forma de aproveitamento de seu
tempo livre.
Entretanto, defende-se a idéia de que as atividades que são realizadas como lazer
devem ser feitas de maneira consciente, lúdica e que sirvam de emancipação dos seus
praticantes. Afinal, o lazer não pode ser entendido como esmola, e sim como direito humano,
já dizia Adorno (1995). Infelizmente, a lógica que rege o lazer é a mesma que rege o trabalho;
e por isso é relegado a segundo plano, pois o trabalho recebe toda a primazia. Não há como
negar que a “(...) própria isenção do trabalho impede o elogio da preguiça (...).” (Adorno,
1993: 154).
consumo puro e simples. Sobre esse aspecto do consumo, que é “regulado” pelos interesses da
Indústria Cultural, há de se concordar com Farias (1999: 250): “(...) a indústria cultural
precisa se retro-alimentar continuamente com futilidades, pois se restarem alguns instantes
entre os produtos massificados, o indivíduo poderia vir a refletir sobre tudo o que recebe da
indústria cultural.”
Eis o grande risco para o capitalismo: a possibilidade de reflexão. Afinal de contas
... as pessoas aceitam e consomem o que a indústria cultural lhes oferece para o
tempo livre, mas com um tipo de reserva, de forma semelhante à maneira como
mesmo os mais ingênuos não consideram reais os episódios oferecidos pelo teatro e
pelo cinema. Talvez mais ainda: não se acredita inteiramente neles. É evidente que
ainda não alcançou inteiramente a integração da consciência e do tempo livre. Os
interesses reais do indivíduo ainda são suficientemente fortes para, dentro de certos
limites, resistir à apreensão [Ersfassung] total. (ADORNO, 1995: 81)
Para superar essa situação de lazer em uma perspectiva funcionalista, esse autor
faz algumas propostas importantes, sendo a primeira desenvolvida no âmbito da participação
cultural, onde existe a
desenvolvimento sensorial, capaz de descobrir, nas pequenas coisas, a estética de uma vida
com conteúdo e forma coincidentes.
Toda a discussão sobre o lazer deve retornar ao ponto que é crucial para esta
análise que são os dados coletados entre os informantes. O primeiro aspecto a ser levantado é
a quantidade de pessoas que apontam o lazer como objetivo central de sua prática dentro das
academias de ginástica, o que pode ser verificado na tabela 23.
Tabela 23: O lazer como objetivo dos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Lazer 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 1 2,85 1 4,16 1 5,55 3 3,89
Não 34 97,15 23 95,84 17 94,45 74 96,11
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Tabela 24: Realização de outras modalidades dos praticantes de Atividade Física, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
Prática de outra TOTAL
20-30 31-40 41-50
atividade
f % f % f % F %
Sim 15 42,85 07 29,16 09 50 31 40,25
Não 20 57,14 17 70,83 09 50 46 59,74
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Dentro dos resultados, 40,25% dos praticantes têm o hábito de praticar outras
atividades físicas, não havendo diferença significativa entre os grupos. Mais uma vez o grupo
dos adultos médios, apresenta uma menor busca de atividades “extras”. O grau de satisfação
com a prática atual pode ser o principal motivo para esse quadro. Entre os três praticantes que
consideraram o lazer como elemento importante na prática corporal, dois deles deram nota
seis e um deu dez. Isso significa que, se a pessoa não se realiza plenamente naquilo que faz,
essa execução tende a ser complementada ou até mesmo abandonada posteriormente.
Por outro lado, o grupo de adultos maduros também chama a atenção, devido à
divisão exata entre os que praticam e os que não praticam outra atividade; isso faz com que
esse grupo, do ponto de vista percentual, apresente a maior incidência de outras práticas. Essa
resposta pode estar relacionada com os anseios e outros interesses das pessoas que foram
apontados em momentos anteriores, com relação à prática visando saúde e/ou estética.
Pode-se inferir, também, sobre a adesão dessas pessoas, a lógica posta por Adorno (1995) em
relação às cobranças feitas socialmente. Essa é uma forma da Indústria Cultural estar atuando
sobre as pessoas, a partir da grande oferta de mercadorias e produtos vendidos, não só nas
academias como em outros lugares. Mas quais são as outras atividades praticadas? Esses
dados são complementados na tabela 25, sobre o tipo de atividade realizada, e na tabela 26,
sobre os motivos que levam a essas práticas.
163
Tabela 25: Modalidades realizadas pelos praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Tipo de atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Aeróbias 9 60 3 42,85 6 66,66 18 58,06
Alternativas 0 0 1 14,28 1 11,11 2 6,45
Esportes 6 40 3 42,85 2 22,22 11 35,48
Total 15 100 7 100 9 100 31 100
Tabela 26: Motivo porque pratica outra modalidade, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Por que faz outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Gosta 5 33,33 5 71,42 4 44,44 14 45,16
Emagrece 2 13,33 1 14,28 1 11,11 4 12,90
Aliviar Stress 1 6,66 0 0,00 1 11,11 2 6,45
Equilíbrio e Harmonia 0 0,00 1 14,28 1 11,11 2 6,45
Sair da Rotina da Academia 1 6,66 0 0,00 1 11,11 2 6,45
Outros 6 40 0 0,00 1 11,11 7 22,58
Total 15 100 7 100 9 100 31 100
Já em relação aos dados da tabela 26, fica bastante nítida a prática por afinidade,
isto é, 44,44% realizam outras atividades porque gostam, o que sugere a prática de atividades
fora da academia por lazer. Essa contradição entre o fazer fora por gostar, e fazer por outros
motivos, dentro da academia, demonstra que existem necessidades que não estão sendo
alcançadas dentro das academias. Todos os grupos mostraram prevalência desse argumento
para realizar outras atividades que não aquelas realizadas dentro das academias de ginástica.
Também chama a atenção o percentual de pessoas que realiza as outras atividades para
emagrecer, com 12,90%, sugerindo, mais uma vez, a prática com objetivos estéticos. Embora
o emagrecimento também seja uma questão de saúde, a baixa incidência de obesos nos locais
pesquisados, sugere esse objetivo.
Ainda em relação à tabela 26, deve-se perceber que essa “segunda” atividade
parece complementar o objetivo principal, embora mais direcionada para o lazer, o gostar de
fazer. A “atividade principal”, entendida aqui como a atividade realizada na academia
pesquisada, parece ser realizada apenas por obrigação; isso é o que se pode inferir dos dados.
Demonstra-se, mais uma vez, a possível influência da Indústria Cultural, bem como a possível
cobrança social da qual fala Adorno (1995).
165
Tabela 27: Opção por outra modalidade, segundo os praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Faria outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Sim 30 85,71 22 91,66 15 83,33 67 87,01
Não 5 14,28 2 8,33 3 16,66 10 12,98
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
Na tabela 27, percebe-se um certo grau de insatisfação das pessoas, pois 87,01%
fariam outra atividade física. Os motivos são bastante diversificados, indo da troca por
considerar a outra atividade mais completa (3,9%), por aptidão, para a outra atividade (6,5%),
para relaxar (7,8%) e por gostar da outra atividade (31,2%), entre outros motivos. Ao se
refletir sobre esse dado, em comparação com o nível de satisfação com a atividade, parece
haver no âmbito geral uma contradição, pois o nível de satisfação com os resultados pode ser
considerado alto; por outro lado; 67 praticantes (87,01%) deixariam de fazer o que estão
fazendo para realizar outras atividades das quais gostam mais. Esse aspecto demonstra a
lógica das cobranças sociais, ou seja, não importa fazer o que dá prazer e sim aquilo que
oferece mais resultados, e estes de forma cada vez mais rápida. Essa é, mais uma vez, a
demonstração dos interesses sociais e econômicos acima da individuação.
Dos que responderam que não fariam outra atividade, existem os que consideram
as que fazem suficiente, ou porque gostam do que fazem. Provavelmente essas pessoas
tenham uma maior consciência do que fazem e/ou maior capacidade de individuação. É
interessante perceber que a média de satisfação é maior nos que mudariam de atividade (7,06),
do que nos que não mudariam a atividade que realizam (7,00). Esse aspecto demonstra que
não é o grau de insatisfação que gerou a necessidade de mudança e sim outros fatores, como
provavelmente a rapidez de obtenção de resultados. Mais uma vez fica evidente a não
preocupação com a prática de atividades enquanto lazer.
166
Tabela 28: Modalidade referida como opção pelos praticantes de Atividade Física, por
Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Outra atividade 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Esportes 13 43,33 11 50 05 33,33 29 43,28
Natação 10 33,33 5 22,72 7 46,66 22 32,83
Dança 6 20 4 18,18 0 0,00 10 14,92
Outros 1 3,33 2 9,09 3 20 6 8,95
Total 30 100 22 100 15 100 67 100
Dos que escolheram realizar outras modalidades (tabela 28), os esportes parecem
exercer um maior fascínio sobre as pessoas, sobretudo os adultos jovens e médios. De maneira
geral, as atividades esportivas, por todo o estímulo que sofrem, podem ser consideradas as
mais escolhidas. Entretanto, a crítica feita por Adorno (1995) em relação ao esporte é
contumaz, postura com a qual se concorda, pois é no esporte que se expressam os maiores
valores da sociedade burguesa, sendo também nele que se desenvolve todo o comportamento
social desejado. Aí se justificam as posturas do corpo no time, muitas vezes abrindo mão do
próprio bem-estar, a necessidade de manutenção da capacidade física e o rendimento
necessário no esporte e no trabalho.
A segunda modalidade mais escolhida pelas pessoas foi a natação, com 33,83% do
total. Essa atividade, apesar de também poder ser considerada um esporte, se diferencia das
outras modalidades esportivas, devido a seu aspecto terapêutico, o qual é bastante procurado,
sobretudo pelos adultos, principalmente os maduros, faixa etária que mais a mencionou. A
natação parece exercer um certo fascínio sobre as pessoas, talvez pelo velho mito de que essa
é a “atividade mais completa que existe”, ao mesmo tempo que pode ser “praticada por
qualquer pessoa sem limite de idade ou problema médico.” Todavia, essas duas afirmações
são mitológicas, pois uma atividade completa depende de uma série de fatores nos quais
167
várias atividades se encaixariam, até mesmo mais que a natação. Além disso, a natação, como
qualquer outro exercício, possui as suas contra indicações, e não-indicações; um exemplo
disso é a osteoporose, distúrbio para o qual a natação não apresenta benefícios.
As questões levantadas pelo questionário, referentes ao lazer, bem como as médias
das respostas, são apresentadas nas tabelas 29 e 30.
Tabela 29: Relação entre os exercícios e o Lazer, segundo os praticantes de Atividade Física,
por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para:
20-30 31-40 41-50
1. Desfrutar os momentos de folga 3,85 4,16 4,38
2. Obter mais prazer na vida 4,54 4,58 4,55
3. Relaxar as tensões do dia-a-dia* 4,48 4,91 4,83
4. Ver pessoas e fazer amigos 4,17 4,12 3,83
* Apenas este item apresentou diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)
significativas. As médias obtidas pelas mulheres foram 4,10; 4,51; 4,71 e 4,14, enquanto os
homens tiveram, para as mesmas respostas, as médias 4,00; 4,66; 4,66 e 3,90. Em cima dos
dados, pode-se deduzir que as mulheres apresentam maior preocupação com as questões
relacionadas ao lazer, uma vez que todas as suas médias são superiores às dos homens,
principalmente na relacionada à questão de se fazer amigos e ver pessoas, diferença que se
apresentou como a mais significativa entre os grupos.
A seguir, serão apresentados os resultados do questionário b (Tabela 30).
Tabela 30: Influência dos exercícios sobre o lazer, segundo os praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física...
20-30 31-40 41-50
1. Como lazer 3,65 4,12 3,50
A primeira análise que pode ser feita a respeito desses dados é de que em nenhum
item apareceu diferença significativa entre os grupos. Se os resultados dessa tabela forem
comparados aos resultados anteriores, fica evidenciada uma redução nos valores encontrados
aqui. Esses dados parecem confirmar as respostas da entrevista em relação ao objetivo central
da práticas corporais, ou seja, as pessoas não apresentam uma preocupação central com o
lazer. Em síntese, infere-se que o tempo livre das pessoas está sendo ocupado com atividades
que não dizem respeito às práticas corporais, caracterizando-as pelas obrigações com a saúde
e a estética, que acompanham as necessidades orgânicas de manutenção das condições para o
trabalho. Eis a lógica da sociedade burguesa, do culto ao trabalho e discriminação com o lazer.
Os dados que revelam esse aspecto estão baseados nas médias alcançadas para as respostas a
essas perguntas, onde as médias alcançadas foram 4,04 para os adultos jovens; 4,07 para os
médios; 3,75 dos adultos maduros, correspondendo à uma média geral de 3,95 pontos, valor
que está abaixo da média encontrada na tabela 29. Deve-se ressaltar, ainda, que as atividades
169
Tabela 31: Objetivo almejado pelos Praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
TOTAL
Objetivo 20-30 31-40 41-50
f % f % f % f %
Saúde 18 51,42 10 41,66 9 50 37 48,05
Estética 30 85,71 17 70,83 12 66,66 59 76,62
Lazer 1 2,85 1 4,16 1 5,55 3 3,89
Outros 0 0 6 25 3 16,66 9 11,68
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
170
Apesar de todos esses dados já terem sido apresentados ao longo desse capítulo,
far-se-á a sua retomada dentro do contexto geral, apresentando-os em conjunto. Nela, havia a
possibilidade de mais de uma resposta; por isso, tomou-se como referência o total de sujeitos
e não de respostas.
O objetivo de as pessoas realizarem Atividades Físicas nas academias segundo os
informantes aponta que 76,62% o fazem por Estética; 48,05% por saúde e apenas 3,89% o
realizam por lazer.
Ao se analisar essa resposta, comparando com a fonte de informação sobre a
modalidade, percebe-se que ao indicar uma modalidade, os professores da academia,
aparentemente, também estão induzindo as pessoas a determinado objetivo, a estética,
cedendo, dessa forma, às influências da mídia e da Indústria Cultural, fato esse que pode ser
demonstrado pelos dados da tabela 6. Evidencia-se, nesse caso, a contradição entre a fonte de
informação (professores de academia, médico) proveniente da área da saúde e o objetivo das
pessoas: a estética. Assim sendo, por que a saúde não é o objetivo central dos praticantes? Por
que a estética é tão fundamental? Ao que tudo indica, reforça-se a idéia de que, na realidade,
as fontes de informação hegemônicas estão vinculadas a uma lógica onde a saúde não é o mais
importante e sim a forma, a estética definida como um paradigma ao qual não se pode escapar.
Destaca-se que o “frêmito delicado, o pathos, de ser diferente, não passam de máscaras
padronizadas no culto da opressão. Foi justamente aos nervos esteticamente desenvolvidos
que o esteticismo presunçoso se tornou insuportável.” (Adorno, 1993: 128)
Justamente a esse padrão estético insuportável, definido pela Indústria Cultural,
que se estão guiando não só os alunos das academias pesquisadas, mas também os seus
professores, ou seja, é a lógica do lucro, da perfeição inexistente que se freqüenta as
academias. Mesmo que se pense na questão da saúde, não se foge à essa regra. A idéia da
produtividade continua presente nessa ótica, e, quanto mais sadio o trabalhador, maior
quantidade de dinheiro ele pode gerar; e, ainda mais, quanto mais saudável, mais ele reduz os
custos para o patrão e para o próprio sistema de saúde governamental.
Outro aspecto que pode ser ressaltado na análise, em relação ao objetivo das
pessoas, é a própria modalidade escolhida por elas. O principal objetivo da musculação,
atividade escolhida pela maioria dos alunos, segundo Novaes (1998) é a estética, fato que
demonstra a coerência entre o objetivo do aluno e da modalidade. Do ponto de vista da saúde,
171
29 alunos que têm como meta a saúde fazem musculação. Embora, muitas vezes esta não seja
uma ação isolada, aqui existe, ao que tudo indica falta de informação sobre o objetivo da
atividade realizada, ou mesmo incoerência entre os dois objetivos. Em relação à segunda
atividade mais realizada, a ergometria, poder-se-ia dizer que o seu objetivo principal é a
saúde, uma vez que ela pode ser entendida como uma atividade aeróbia, as quais, de uma
maneira geral, têm este objetivo (Novaes, 1998). Das 59 pessoas que fazem ergometria, 45
(77,58%) pretendem melhorar a sua estética, enquanto apenas 30 (50,84%) o fazem visando
saúde. Entendendo que a ergometria é uma maneira eficaz de se emagrecer por utilizar
gordura como fonte energética, é que se pode retomar uma afirmação anterior que as pessoas
que pretendiam emagrecer estavam mais preocupadas coma a saúde, do que com a estética.
A tabela 32 apresenta o nível de satisfação com os resultados alcançados, de
acordo com a faixa etária. A média de satisfação com a modalidade escolhida na atividade
física foi medida através de uma escala de 0 a 10. O praticante deveria escolher um número
que indicasse seu grau de satisfação, sendo 0 o menor e 10 o maior. A tabela 32 apresenta os
dados obtidos.
Tabela 32: Índice de Satisfação com os resultados alcançados pelos praticantes de Atividade
Física, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
Índice de TOTAL
20-30 31-40 41-50
satisfação*
f % f % f % f %
04 2 5,71 0 0 0 0 2 2,59
05 3 8,57 3 12,5 2 11,11 8 10,38
06 6 17,14 6 25 2 11,11 14 18,18
07 14 40 7 29,16 7 38,88 28 36,36
08 6 17,14 6 25 2 11,11 14 18,18
09 3 8,57 1 4,17 3 16,66 7 9,09
10 1 2,85 1 4,17 2 11,11 4 5,19
Total 35 100 24 100 18 100 77 100
* Não houve escolha para os 3 primeiros números.
172
Tabela 33: A contribuição da Atividade Física, segundo os praticantes, por Faixa Etária
FAIXA ETÁRIA
De uma forma geral a atividade física contribui para: DP
20-30 31-40 41-50
1. As pessoas gostarem mais de si mesmas 1,57 1,14 1,16 0,24
2. Auxiliar no tratamento de diabetes* 4,20 4,54 3,27 0,65
3. Desfrutar os momentos de folga 3,85 4,16 4,38 0,26
4. Encontrar o equilíbrio pessoal 1,42 1,45 1,27 0,09
5. Ficar com o corpo mais elegante 4,82 4,41 4,72 0,21
6. Ficar mais forte 4,20 4,08 4,22 0,07
7. Melhorar a aceitação social ou grupal 2,71 2,12 2,50 0,29
173
8. Melhorar aparência para conseguir bons empregos 3,42 3,66 3,66 0,13
9. Melhorar a resistência* 4,97 4,91 4,55 0,22
10. Obter mais prazer na vida 4,54 4,58 4,55 0,02
11. Preservar a juventude e retardar a velhice 4,65 4,50 4,44 0,10
12. Prevenir a obesidade 4,85 4,91 4,61 0,15
13. Prevenir doenças do coração 4,85 4,79 4,88 0,04
14. Reduzir a pressão arterial 4,51 4,70 4,38 0,16
15. Reduzir as conseqüências da Osteoporose 4,54 4,50 4,88 0,20
16. Relaxar as tensões do dia-a-dia* 4,48 4,91 4,83 0,22
17. Ser mais desejado 2,28 1,91 2,55 0,32
18. Ter consciência do próprio corpo 1,37 1,66 1,61 0,15
19. Ter mais saúde 4,94 5,00 4,77 0,11
20. Ver pessoas e fazer amigos 4,17 4,12 3,83 0,18
21. Viver com melhor qualidade* 4,94 4,70 5,00 0,15
* Apresentam diferença significativa pelo índice de Krusk-Wallis (p < 0,05)
Tabela 34: Comparação entre as médias obtidas entre as Categorias estudadas, segundo os
praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária.*
FAIXA ETÁRIA
Categoria MÉDIA GERAL
20-30 31-40 41-50
Saúde 4,72 4,75 4,54 4,67
Lazer 4,26 4,44 4,39 4,36
174
A partir dessa tabela percebe-se que as pessoas têm mais informações a respeito
da saúde, seguida pelo lazer, pela estética e, por último, pela autoconsciência. Um aspecto
bastante interessante é que não ocorrem grandes diferenças entre os grupos etários. Entre as
categorias, a da autoconsciência apresenta, como já foi dito, a menor pontuação. Esse aspecto
pode confirmar a realização de Operações Físicas, ao invés de Atividades Corporais. Por
outro lado, pode sugerir desconhecimento das pessoas em relação a si, e em relação às
influências dessas Atividades, enquanto elementos sociais em sua vida, e, como tais,
responsáveis pelo desenvolvimento de sua consciência e de sua personalidade. A própria
alienação está posta a serviço do desenvolvimento social.
Outra diferença que chama atenção é o fato da estética estar ligeiramente à frente
do lazer, entre os adultos jovens, embora essa diferença não seja significativa. Infere-se, a
partir daí, que apesar da mídia não ter entrado explicitamente nessas questões, a sua inserção,
sobretudo pelos elementos da Indústria Cultural, se fazem presentes. Ademais, parece comum
entre as pessoas mais jovens uma maior preocupação com relação à sua forma, e, por isso, um
maior índice de informação em relação à estética. Essa é, provavelmente, uma das formas de
se manter sempre jovem, magro, forte, ágil, produtivo.
A seguir, serão apresentados os resultados do questionário B (tabela 35) que foi
analisado da mesma forma que o questionário A, utilizando o índice de Krusk-Wallis, para
determinar a relação entre as variáveis. Acrescentaram-se, aqui, perguntas relacionadas à
mídia, porquanto não ter sido possível adequar as perguntas relacionadas a essa categoria no
questionário anterior.
Tabela 35: Motivos para a realização de Atividade Física, segundo os praticantes, por Faixa
Etária
FAIXA ETÁRIA
As pessoas praticam atividade física... DP
20-30 31-40 41-50
1. Como lazer 3,65 4,12 3,50 0,32
2. Para conhecer o próprio corpo 1,65 2,08 1,88 0,21
3. Para emagrecer 4,68 4,58 4,55 0,06
175
A primeira análise que pode ser feita a respeito dessa tabela é de que em nenhum
item apareceu diferença significativa entre os grupos. Além disso, a homogeneidade também
se manifesta no desvio padrão, onde os valores são sempre menores que 0,5. A única questão
que se diferencia das demais, e, assim mesmo, por muito pouco está relacionado com a
disciplina física e mental. Mesmo assim a discrepância, nas médias, pode ser considerada
pequena.
Aqui também a autoconsciência aparece como a categoria com menores médias,
sobretudo nos itens 2 e 9. Entretanto, no item 11, as pessoas apresentam um nível de
autoconsciência maior, uma vez que não têm que usar esse elemento para se convencerem da
sua importância no mundo. Deve-se registrar, ainda, que o item com maior grau de
heterogeneidade (DP), está relacionado à autoconsciência (9). Outro fator que não aparece
aqui como muito importante é a influência da mídia que, por sua vez, também obteve médias
relativamente baixas se comparadas aos outros itens.
176
Outro fato que se destaca entre os grupos, são os itens com menor desvio padrão
(DP = 0,06), que são “para emagrecer”, “para melhorar a aparência” e “para terem a sua saúde
melhor”, sendo os dois primeiros relacionados à estética e o último relacionado à saúde.
Destaca-se o fato de os adultos médios apresentarem as maiores médias nos itens da estética,
enquanto os adultos maduros apresentam maior média no item relacionado à saúde.
Por sua vez, os adultos jovens demonstram maiores médias em dois aspectos
relacionados à estética (8 e 20)e um relacionado ao lazer (7). A impressão que se tem é que,
no transcorrer da vida, existe inicialmente uma preocupação com o lazer (encontrar os
amigos) e com a estética, passando na fase seguinte a se preocupar apenas com a estética,
para, no momento posterior, se preocupar com a saúde. Essa dedução é retirada dessas últimas
análises, uma vez que uma conclusão a esse respeito necessitaria de um estudo longitudinal.
Deve-se observar, ainda, que dentro da psicologia do desenvolvimento, Bee &
Mitchell (1984), mencionam a redução do número de amizades, em decorrência do aumento
da idade. Quanto à questão da saúde e da estética, parece haver uma maior preocupação com a
manutenção da juventude. E, ao se perceber que existem outros aspectos importantes na vida,
passam-se a direcionar as atividades, físicas ao menos, para a questão da saúde. Entretanto,
esses dados também necessitariam de um estudo longitudinal, o que não é o caso desta
pesquisa.
Todavia, para se entender melhor o que significa essa tabela, foi feito, como no
questionário A, o agrupamento de respostas por categoria, apresentando-se os resultados da
tabela 36.
Tabela 36: Comparação entre as médias obtidas pelas categorias em estudo, segundo os
praticantes de Atividade Física, por Faixa Etária.
FAIXA ETÁRIA
Categoria MÉDIA
20-30 31-40 41-50
Estética 4,66 4,50 4,37 4,51
Saúde 4,38 4,44 4,59 4,47
Lazer 4,04 4,07 3,75 3,95
Mídia 3,09 3,07 2,92 3,02
Autoconsciência 2,56 2,86 2,53 2,65
177
Os resultados dessa tabela demonstram, mais uma vez, que o principal motivo da
prática de Atividade física é a Estética, havendo diferença apenas em relação ao grupo de
adultos maduros, sendo que, nesse caso, existe a relação mencionada por Meinel (1984)
anteriormente de prática visando saúde para os adultos maduros. Além disso, demonstra-se
uma certa influência da mídia, que se apresenta maior que a influência da autoconsciência.
Esses dados acabam por confirmar as respostas da entrevista quanto aos objetivos e as fontes
de informação, que, apesar de se caracterizarem como fontes relacionadas à promoção da
saúde, provavelmente, encontram-se contaminadas pelas propostas da Indústria Cultural.
À guisa de considerações finais, devem-se realizar, ainda, algumas reflexões que
os dados permitem. Para se tentar estabelecer as conexões necessárias, em primeiro lugar
precisam ser discutidos os objetivos da prática de atividades físicas. Conforme demostram os
dados, a principal causa da prática é a estética. Essa pode ser vista, apoiando-se em Marx na
sua relação com a propriedade privada e como forma de atender aos diferentes fetiches com a
qual a sociedade atual bombardeia a todos diariamente. Tenta-se não virar o gordo mal, ou
não ter que pagar o preço para ser visto como bonzinho. É a ideologia trabalhando a todo
vapor para que as pessoas não se ocupem do processo de transformação social. Além disso, ao
se pensar na relação dos dados apresentados na entrevista, e confrontando-os com os dois
questionários, percebe-se que as pessoas possuem um nível bastante razoável de
conhecimento a respeito da realização de exercícios como saúde (questionário A); porém, esse
dado não é o mais atrativo, uma vez que o fetiche produzido pela mercadoria corpo é mais
forte que o desenvolvimento da saúde ou do lazer.
Em segundo lugar, deve-se prestar atenção na relação, falsa como se viu, da
prática de exercícios enquanto saúde. Ao que parece, ao menos no imaginário dos praticantes,
a ginástica e o exercício, apesar de estarem direcionados para a questão da estética, parecem
manter o ideário de um corpo forte e disciplinado, produtivo e com saúde suficiente para
atender às necessidades de um padrão social. A garantia e a necessidade de desenvolvimento
de boas condições orgânicas, parecem estar ainda fixados, como o modelo de saúde ideal.
Contudo, é o próprio indivíduo que assume esse papel, pois o cuidado com o corpo, com a
saúde é uma responsabilidade individual. O Estado só tem para oferecer como esmola um
serviço público que se torna cada vez mais precário dentro da lógica do Estado mínimo.
Além disso, o cuidado com o corpo obedece à lógica do consumo, onde a
atividade física, como qualquer outra mercadoria oferecida, é influenciada pela necessidade de
178
e se equiparam na totalidade brasileira. Adorno & Horkheimer (1985) parecem iluminar essa
questão, pois só a necessidade da reprodutibilidade técnica, da massificação, da cooptação dos
indivíduos e a venda de produtos parecem identificar essas práticas.
Há de se apontar, ainda em relação aos elementos da Indústria Cultural, dois
fatores relacionados: a) a questão do corpo perfeito e, b) a questão do gênero. Em relação a
esse primeiro ponto, deve-se ressaltar a necessidade que as pessoas têm de seguir um
determinado padrão imposto como ideal. Esse modelo, porém, continuará sendo uma meta
inatingível, uma vez que a própria diferença genética entre as pessoas é um limite natural. Não
se quer, aqui, fazer apologia à genética; o que se pretende discutir é que o corpo perfeito é
aquele que se encaixa nos padrões de saúde proposto pela OMS, e que deve ser alcançado em
sua totalidade, enquanto acesso a condições dignas de vida, como apontam Quint & Matiello
(1999). A estética nesse caso, pode ser um elemento presente; entretanto, há de se preocupar
com a exacerbação no alcance dos objetivos. Esse fato se torna mais preocupante quando as
pessoas que devem orientar a prática de atividades corporais cedem ao discurso proposto pela
Indústria Cultural, com relação à questão do paradigma do corpo perfeito.
Outro aspecto que deve ser apresentado para discussão é a questão do gênero. As
transformações das relações sociais entre homens e mulheres, bem como a competição
existente entre eles, parecem estar alcançando índices cada vez mais altos. A entrada
definitiva da mulher no mercado de trabalho parece estar mexendo com os homens mais do
que se esperava, pois elas estão assumindo papéis que antes eram exclusividade masculina.
Dentre as pessoas entrevistadas, percebe-se um predomínio das mulheres sobre os homens
como professoras, estudantes, assessoras, arquitetas, advogadas, comerciantes e
administradoras. Em todas essas profissões exercidas, as mulheres são, quantitativamente,
superiores aos homens, fato esse que não exime a sua superioridade qualitativa. Isso significa
que elas estão assumindo papéis sociais cada vez mais importantes, e consequentemente, as
exigências sobre elas também aumentam. Por outro lado, as mulheres não podem, apesar de
seu “novo papel social”, perder as responsabilidades que já lhes eram imputadas
anteriormente. Ela deve continuar sendo bela, feminina, jovem, com a pele bem tratada, para
que possa continuar atendendo aos anseios de uma sociedade que precisa definir os padrões
pelos quais se guiar. Apesar de isso não ter sido o foco deste estudo, poder-se-ia dizer que a
mídia e a Indústria Cultural reforçam essa imagem através dos modelos de corpos das pessoas
famosas como diz Carvalho (1995). É o padrão social que não desapareceu desde a década de
180
1930, como foi expressa por Goellner (1999). A busca pela juventude e pela perfeição
provavelmente ainda permearão a sociedade por muito tempo.
Não se pode finalizar essa análise sem antes serem discutidos os aspectos
relacionados ao tempo livre e sua relação com o trabalho. Como já foi dito, a realização de
atividades físicas está relacionada à lógica necessária ao desenvolvimento do capital, uma vez
que a sua realização passa, também, por influências da Indústria Cultural, enquanto um pólo
privilegiado de informação, que diz às pessoas como utilizar o tempo livre. Entretanto, o que
se observa é a adesão das pessoas a atividades que dão resultados rápidos, como a
musculação, uma vez que, dentro da lógica do sistema, não se tem tempo a perder. O trabalho
exteriorizado para outrem, como diz Marx (1983), é um trabalho que não garante ao
trabalhador a apreensão de seu produto, e muito menos o reconhecimento de si, naquilo que é
produzido. Esse processo impede a realização plena do Homem enquanto tal; é o animal que
se apresenta nesse momento.
Na atividade física, ao que tudo indica, é isso que está acontecendo, é o animal
que precisa ser solto, para que se perceba a realização na atividade. É o condicionamento
físico máximo, a força que têm primazia, em um cotidiano onde não se exige essa necessidade
para a maioria das pessoas pesquisadas. De onde vem, então, a necessidade da hipertrofia?
Provavelmente do padrão estético, que elege a possibilidade de rendimento máximo como
fundamental. Um padrão que definitivamente não foi definido por quem está “malhando” em
academias de Goiânia. Além disso, a profissão exercida em si não justifica esse aumento
corporal, pois, com raras exceções, as atividades profissionais são sedentárias. Deve-se
apontar, ainda, que, apesar de essas pessoas provavelmente possuírem salários elevados, e não
serem operários da indústria, a grande maioria ainda é de trabalhadores (aproximadamente
97,4%), o que demonstra, provavelmente, uma falsa consciência dessas pessoas em relação à
sua classe social, apesar do trabalho realizado ser privilegiado, se comparado com o da grande
maioria da população.
Defende-se, aqui, a idéia de um tempo livre que propicie, acima de tudo, a
emancipação do ser humano. Essa emancipação, no entender deste estudo, far-se-á com a
adequação das políticas públicas de saúde e de lazer, que devem primar, necessariamente, pela
dignidade da vida humana. Para ocorrer essa mudança fazem-se necessárias a realização de
Atividades Corporais e a sublimação da estética. Em relação ao primeiro ponto, deve-se
destacar a necessidade de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de ações, que
181
contribuam para conscientizar as pessoas dos benefícios das práticas corporais, para que a sua
opção, por qualquer uma delas, seja feita da maneira mais clara possível, não apenas pela
venda de mercadorias. As pessoas têm que adquirir gosto e prazer nas atividades realizadas;
deve haver, assim como nas práticas desenvolvidas fora das academias, o gosto pela
realização. É a consciência de si e daquilo que se pratica que deve estar acima dos interesses
comerciais.
Esse ponto, o da consciência acima de tudo, também deve permear o próprio
conceito estético. Deve ser a busca da sublimação, como diria Marx, que deveria ser
privilegiada. Todavia, assim como ele, acredita-se que essa possibilidade se está dada na
emancipação do Homem – acompanhando também Adorno – bem como na superação de um
modo de produção perverso, como o atual vivido no Brasil. A Atividade Corporal, em sua
essência, deve atender a estética, na direção da plena satisfação de todos os sentidos humanos,
sentidos esses que devem estar aprimorados e não embrutecidos, como acontece atualmente.
Por fim, a atividade física na Academia nada mais é do que uma operação física,
procurando desenvolver os termos a partir do que é proposto por Leontiev, pois, se existem
coisas mais importantes a serem feitas, se não provoca prazer, ou mesmo se ela não é sequer
importante na vida de quem a pratica, ela não pode ser entendida enquanto Atividade, muito
menos corporal, procurando entender essa concepção em uma perspectiva marxista. É
importante também se ressaltar o fato aparencial da sua importância, o que não é identificado
no essencial da vida das pessoas. Nesse todo da vida, a atividade física é uma prática
supérflua, regida pelos interesses mercadológicos e por todos os fetiches que regem a
sociedade capitalista.
Enfim, há de se refletir sobre essas práticas, pois o que está acontecendo nada
mais é do que uma prática elitista, reificada e alienada, que precisa com urgência atingir as
classes populares como forma de sublimação.
182
aqui. Essas explicações dependem de uma sustentação que se faz necessária no âmbito deste
trabalho.
A priori, um aspecto que precisa ser ressaltado é o transcorrer da vida adulta. Não
é possível desenvolver nenhum trabalho em qualquer área sem que se conheça aquilo que o
constitui. O adulto, em cada um dos momentos da sua vida, apresenta características
diferenciadas em todos os âmbitos, e não apenas no biológico, como defendem muitos
Professores de Educação Física. Cada uma delas deve ser compreendida em sua totalidade,
sendo que as diferenças que lhe são inerentes devem ser, antes de tudo, respeitadas. Não se
trata aqui, de defender a vertente Desenvolvimentista dentro da Educação Física, e sim de
procurar apreender o ser humano dentro de sua totalidade. E, para que isso aconteça, a
percepção das diferenças decorrentes da idade devem ser levadas em conta.
A plenitude do adulto jovem, a estabilidade de adulto médio e o início da
retrogênese no adulto maduro, são aspectos a serem considerados no desenvolvimento de
atividades físicas que se queiram eficazes. Além disso, o aspecto psicossocial também deve
ser levado em consideração. Afinal, o desenvolvimento da personalidade é inerente ao meio
onde se vive. Na idade adulta a personalidade ainda está em construção, ela só será
interrompida com a morte.
Por outro lado, deve-se compreender que, ao se trabalhar com o corpo de uma
pessoa, não se está trabalhando uma massa qualquer, muito menos com uma máquina. Na
realidade, o corpo precisa ser entendido como a manifestação social, psicológica e histórica do
Homem em seu meio, enquanto um ser imerso em uma cultura, que faz ele ser o que ele é.
Assim, deve-se ter claro que, ao se trabalhar o corpo do Homem, também se está trabalhando
a sua consciência do mundo, consequentemente do seu corpo inorgânico, e a consciência de si
mesmo (autoconsciência), da qual faz parte o seu corpo orgânico.
No processo de totalização do ser humano, vários fatores podem influenciar o seu
desenvolvimento e o de sua consciência. O primeiro é a relação que se estabelece com o
trabalho, enquanto forma de aquisição da cultura. O segundo, é o contato com outros seres
humanos, naquilo que Elias (1994) vai chamar de relação nós – eu, onde o Homem aprende a
ver o outro e a si mesmo. O terceiro, é a mídia enquanto um posto avançado da Indústria
Cultural. Essa máquina de construir mentes atua quase que silenciosamente como um
instrumento a serviço dos interesses capitalistas. Esse processo é tão bem feito que nós
passamos a adotar a fala da burguesia, muitas vezes sem perceber o quanto aquele discurso e
184
aquela prática estão nos destruindo. Entretanto há de se registrar que desses três elementos o
trabalho possui o papel central, uma vez que as relações interpessoais e a utilização da própria
mídia, estão permeadas pelas influências do processo produtivo e de seus interesses.
Nesse procedimento de percepção e de desenvolvimento da consciência e da
autoconsciência, o aluno da academia tem que se perceber como um trabalhador. E, ao
refletirmos sobre o público entrevistado, poucos deles poderiam ser considerados burgueses –
detentores dos meios de produção – em sua grande maioria, as pessoas entrevistadas, apesar
do alto nível da escolarização, e talvez até do salário, não se percebem enquanto “classe
explorada”. Se isso não lhes é perceptível, poderíamos afirmar, no mínimo, que a sua
alienação já está efetivada, e que a reificação de sua consciência se instalou com sucesso,
fatos esses que não poderiam ser diferentes em uma sociedade capitalista. Enfim, esta
alienação, e não-percepção das pessoas entrevistadas como trabalhadores, se dá
provavelmente pela classe social, à qual estão vinculadas, pelos salários ou pelos cargos que
ocupam. Todavia, elas se esquecem que “não é a roupa que faz o rei”. Afinal, ser
administrador, gerente, assessor ou diretor, não faz do indivíduo o proprietário do local de
trabalho. Dessa forma, a necessidade de quem trabalha é diferente da de quem é dono.
Segundo Marx, a própria consciência, a priori, surge nas suas condições materiais de
existência, na sua classe social, o que é derrubado pelo processo de alienação no qual
vivemos.
Mas, onde é que ficam as práticas corporais dos adultos? Essas fazem parte da
mesma lógica que rege o mercado, ou seja, a maior parte delas são apenas mercadorias, cujo
objetivo central é promover lucros. Porém, esta é apenas a parte boa da história. Na realidade,
a prática destas atividades tem outros objetivos implícitos, que estão ligados aos interesses do
modo de produção, mais uma vez.
Se praticada enquanto saúde, a meta central é o aprimoramento do capital
humano, evitando-lhe distúrbios e aumentando-lhe a produtividade. A relação atividade física
e saúde é entendida como sinônimo, e até mesmo se defende essa idéia pelo fato de que ela
também gera lucros, não só para quem a promove, mas também para as indústrias que
produzem materiais esportivos.
Se praticada com objetivos estéticos, o processo de alienação e reificação da
consciência é ainda maior, pois a pessoa passa a ser tratada como uma massa que precisa de
uma forma que atenda aos interesses impostos pelas classes hegemônicas. Esse padrão,
185
contudo, não é aleatório; ele também procura atender às necessidades do modo de produção,
pois o corpo que interessa é o corpo forte, resistente, ágil e produtivo; nisso Foucault tinha
plena razão. Entretanto, é necessário o conteúdo para essa forma; precisa-se atingir a
sublimação proposta por Marx, mesmo que, para isso, seja necessária a transformação do
modo de produção, se possível, sem ter que dar a vida por isso.
Com o lazer, os interesses acabam sendo semelhantes. Aqui, a preocupação se
estabelece apenas com a recuperação da mão-de-obra, com o alívio do stress e com a
manutenção da lógica do trabalho entre a saída da noite e a entrada do dia seguinte, da forma
mais segura possível, como diriam Adorno e Horkheimer. Pode-se, porém, ir ainda mais
longe; as práticas do tempo livre agem de maneira conjunta, ou, talvez seja melhor dizer,
também fazem parte da indústria cultural, embora os responsáveis por ela saibam que a
população não seja assim tão fácil de se convencer, como diria o próprio Adorno. Todos esses
elementos conjuntos nos dão uma pequena noção de todas as influências da sociedade sobre
nós; e elas estão muito longe de ser ocasionais ou acidentais.
Após estas rápidas reflexões, ficam algumas questões a serem respondidas. Uma
delas é: Qual é o papel do professor da academia? Que tipo de profissional ele é? Poderíamos
iniciar esta resposta da maneira historicamente mais correta. O papel do Professor da
academia de ginástica é cuidar da saúde das pessoas, pois esta é a sua área de atuação. Esse
ponto é defendido no âmbito da Educação Física “com unhas e dentes” por vários autores.
Para citar apenas um, Menestrina (1993) considera que o Profissional de Educação Física deve
desenvolver vários conhecimentos técnicos, pedagógicos e sociais para “(...) contribuir na
formação de gerações saudáveis e conscientes e colaborar com o aumento do nível
qualitativo de vida.” (Menestrina, 1993: 28). Essa concepção está equivocada em sua raiz,
pelo fato de que as gerações saudáveis, como aborda o autor, necessitam de outras coisas para
alcançar este objetivo e não apenas o exercício físico. Apesar de ele destacar os
conhecimentos pedagógicos e sociais, a sua visão se apresenta bastante biologista e nós não
acreditamos que esse seja o melhor caminho a ser tomado.
Poderíamos apontar como uma segunda possibilidade a visão de Cunha (1999),
que de certa maneira defende que somos profissionais de lazer. A sua justificativa se aproxima
do âmbito do presente trabalho, por destacar que a academia de ginástica é um espaço de
práticas de lazer, e os profissionais que ali atuam, seriam, consequentemente, profissionais de
lazer. Concordamos parcialmente com ela, ao apontar que as academias são aparelhos de
186
lazer, contudo a nossa ação profissional não se restringe a este âmbito do não-formal. A nossa
ação tende a ser um pouco mais ampla do que isso, pois, além de possuirmos uma ação dentro
das práticas formais que deve ser considerada, a própria ação dentro desses aparelhos se
caracteriza como pedagógica.
Por último, poderíamos entender que professores de academia são profissionais da
educação. Esta é a nossa opinião particular e apresentamos duas justificativas para isso. A
primeira delas se justifica no fato de que todas as vezes que se ministra uma aula, seja ela do
que for, existe uma intencionalidade e aí se estabelece um relação pedagógica, uma relação de
ensino-aprendizagem; assim sendo, está presente neste momento a ação educativa. Esse fato
também acontece dentro da academia de ginástica, mesmo que de maneira muito restrita,
situada muitas vezes em aprendizagem de movimentos relativamente simples. Embora os
alunos não tenham uma avaliação definida, caracterizada como uma ação não-formal, já que
não existe uma mensuração que permita aprovação ou reprovação, ou mesmo obtenção de
uma titulação como na escola, as relações pessoais e pedagógicas se manifestam pela presença
do planejamento das atividades, pelo estudo de novas pesquisas e de novos fundamentos
técnicos e metodológicos, pela reunião e discussão entre os professores e entre estes e a
direção da instituição entre outros. Além disso, muitas vezes as notas fornecidas por
academias são validadas em certas escolas para constar como avaliação da disciplina
Educação Física no boletim escolar. Fato esse com o qual não concordamos, haja vista que a
aula de Educação física deve ter objetivos diferenciados e conteúdos próprios que foram
historicamente construídos e socialmente sistematizados.
Um outro ponto que reforça essa posição está na formação profissional. Pelo
menos no âmbito de Goiás, os profissionais formados até agora possuem o título de
“Licenciatura Plena em Educação Física”, ou seja, esses profissionais saem com habilitação
para trabalhar principalmente em escolas; entretanto, a abrangência de seu conhecimento
permite-lhes a atuação em um âmbito, que podemos chamar de não-formal. Essa formação
deve dar ao professor pleno domínio dos aspectos didático-pedagógicos, conforme menciona
Menestrina (1993); todavia, defendemos aqui a idéia de que essa formação não deve estar
voltada apenas para a formação de gerações saudáveis, mas para a emancipação do ser
humano e para a superação dos atuais problemas sociais.
A própria maneira como a formação profissional é encarada torna-se um ponto
fundamental de discussão. Por um lado, entende-se que a formação profissional deve primar
187
sendo uma incógnita. A produção dentro dessa áreas nos últimos 20 anos tem sido
significativa demais para que as mudanças ainda não tenham chegado até à escola. Mesmo
que se pense na base curricular, desde 1987 o então Conselho Federal de Educação modificou
a estrutura curricular dos cursos de Educação Física, buscando, entre outras coisas, um maior
conhecimento das ciências humanas que não eram contempladas até então.
A partir desses fatos, podemos dizer que existem duas possibilidades. A primeira,
que essas modificações curriculares não conseguiram se efetivar na prática, provavelmente
por dificuldade dos professores das Instituições de Ensino Superior se adequarem aos “novos
tempos”. Ou, então, as transformações realizadas em nível curricular não conseguiram
convencer os alunos em formação da necessidade da transformação da postura profissional,
ou, ainda, a força dos professores e das instituições que se engajaram nas mudanças, ainda é
insuficiente perante a força da Indústria Cultural e dos interesses que regem o atual modo de
produção. Gostaríamos de dizer que consideramos insuficientes essas mudanças, porque
existe uma tensão em marcha no país que dificulta o alcance de um consenso, embora
possamos entender que o conflito é salutar e importante.
Apesar de entender que a discussão em curso é importante e necessária,
entendemos que não há possibilidade de, no âmbito deste trabalho, esgotá-la por dois motivos:
1) não é esta a nossa intenção e nem o nosso foco central neste trabalho e; 2) essa discussão é
muito ampla, dependendo os seus desdobramentos inclusive da conjuntura nacional da
Educação Física.
Precisamos, contudo, retomar a discussão a respeito da academia enquanto um
locus de educação não-formal. Entendemos que a mesma já foi abordada satisfatoriamente, no
entanto, gostaríamos de retomar a nossa linha de raciocínio dizendo que a academia de
ginástica, bem como os profissionais que nela atuam, poder-se-iam encaixar na área da saúde,
do lazer e até mesmo da estética. Justifica-se isso pela gama de atividades que a Educação
Física abrange, ao mesmo tempo que pretendemos demonstrar o nosso respeito às diferentes
linhas de pensamento dentro da área, embora não concordemos com várias delas.
Todavia, queremos defender aqui a idéia de que esse é um local privilegiado de
educação não-formal. Parte desta defesa já foi feita quando falamos de todos os elementos
educacionais que estão presentes aí, devendo-se assim ressaltar a necessidade de perceber os
seus freqüentadores não apenas como clientes atrás da prestação de serviços ou de uma
mercadoria que pode ser ele mesmo. Uma mercadoria que se põe na mão de um profissional
190
que irá modificá-la para aumentar o seu valor de mercado. Devemos perceber essas pessoas,
os adultos principalmente, enquanto seres humanos que, apesar de seu estágio biológico mais
completo no sentido de maturação funcional, ainda estão em processo de formação de sua
consciência em relação ao mundo e à si mesmos.
É exatamente nesse ponto que o Professor de Educação Física deve agir. É na
totalidade deste homem ou mulher que precisamos investir. É necessário desenvolver a sua
autoconsciência. A prática Corporal, como diria Leontiev, tem que ser a Atividade, ou seja, o
mediador privilegiado na relação sujeito/objeto. Esse objeto que o aluno tem que conhecer é,
principalmente, o seu corpo orgânico, lembrando-se entretanto, que ao conhecer essa
dimensão ele irá conhecer a sua dimensão inorgânica, que, por sua vez, interfere direta e
constantemente na sua esfera orgânica. É na materialidade de suas ações que se devem abrir as
possibilidades da emancipação do homem. Para que isso seja possível, as políticas públicas,
em seu sentido emancipatório, devem estar convergindo nas áreas da educação, da saúde, do
lazer e até do esporte. O lançamento deste novo olhar sobre a Atividade Corporal se faz
urgente. No entanto, não temos a ilusão de que isso irá acontecer de forma linear, mecânica ou
sem sofrimento.
Por isso, apresentamos uma outra defesa, a de que a academia de ginástica, tal
qual a escola em meados da década de oitenta, deva entrar em crise. Crise no sentido de que
os seus profissionais realmente questionem os seus valores, as suas propostas, a sua função
social. Precisa-se também questionar as metodologias adotadas no seu interior; se elas estão
sendo suficientes para pensar os alunos dentro de sua totalidade, ou se elas continuam
considerando apenas os aspectos higienistas, estéticos ou aqueles que são ditados pela
Indústria Cultural. Os Professores precisam definir claramente os seus papéis, e não pousarem
de profissionais de uma área que defende outros interesses, isto é no mínimo incoerente. Ao
passar por este vendaval, caso isso venha a acontecer, haveria a possibilidade de clarear quais
são as defesas que cada Professor faz individualmente ou dentro de um coletivo. Se a sua
opção está relacionada aos interesses do capitalismo ou da emancipação dos seres humanos?
Se o papel da academia de ginástica é ser um aparelho de lazer passivo ou ativo? As respostas
têm que ser dadas, embora, implicitamente, elas já estejam postas à mesa. O que se defende
aqui é simplesmente clareza e reflexão do papel do Professor da Academia. Afinal, ele é a
fonte de informação mais importante para os seus alunos.
191
... com o prognóstico social, segundo o qual, uma sociedade, cujas contradições
fundamentais permanecem inalteradas, também não poderia ser totalmente
integrada pela consciência. A coisa não funciona assim tão sem dificuldades, e
menos no tempo livre [como acontece com as práticas da academia], que sem
dúvida, envolve as pessoas, mas, segundo seu próprio conceito, não pode
envolvê-las completamente sem que isso fosse demasiado para elas. Renuncio a
esboçar as conseqüências disso; penso, porém, que se vislumbra aí uma chance de
emancipação que poderia, enfim, contribuir algum dia com a sua parte para que o
tempo livre [Freizeit] se transforme em liberdade [Freiheit]. (ADORNO, 1995:
81-2)
192
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ANEXOS
201
ANEXO I
ROTEIRO DE ENTREVISTA.
1. IDENTIFICAÇÃO
2.08. Você fez algum exame médico ao iniciar a prática de atividade física? Em caso
afirmativo onde e por que? SIM ( ) NÃO ( )
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.09. Como você escolheu esta atividade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.10. Onde ou com quem você obteve informações sobre esta modalidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.11. Exatamente por que você escolheu esta modalidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.12. O que você pretende atingir com ela?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.13. Em uma escala de 1 a 10, quanto você já atingiu do que você pretende com esta
atividade física? ______________________________________________________________
2.14. Você pratica outra atividade física? Em caso afirmativo, qual e por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.15. Se pudesse escolher, você faria uma outra atividade física? Qual e por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
203
2.16. Nesta relação indique em ordem decrescente de importância as fontes onde geralmente
obtém informações sobre o papel da prática de atividade física na vida de homens/mulheres?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.17. Quais são as principais atividades da sua vida, em ordem de importância decrescente?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.18. Por que você estabeleceu esta ordem?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2.19. Por que esta localização da atividade física?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
204
ANEXO II
· AMIGOS(AS)/PARENTES
· JORNAIS
· MÉDICO
· PROFESSOR(A) DA ACADEMIA
PASSADA)
· RÁDIO
205
· TELEVISÃO
· OUTROS(AS). QUAIS?
ANEXO III–A
QUESTIONÁRIO
ANEXO III-B.
3. Para emagrecer