Você está na página 1de 2

Penhane

Boletim Oficial da Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades


Director Executivo: Rui de Vasconcelos* Tel. 20030252*email:binfo.aaajc@gmail.com

Cidade de Tete* Edição 522* Data: 31 de Março* Ano 2021

Contraste do relatório da Vale e a realidade em Moatize


isso, a ″Vale tem vindo a instalar marcos, E mais, as casas foram construídas
Um extenso documento da empresa indemnização e participação nos
programas de geração de renda. Mas no placas sinalizadoras e cercas. Além disso sem fundações, vigas ou pilares, e
Vale sobre suas acções em Moçambique, estamos a realizar o processo de
mais concretamente no distrito de
terreno, a realidade mostra-se outra, em abril de 2010, quando
quanto a esta matéria. A empresa faz cadastramento socioeconómico das
Moatize, na província de Tete descreve ocupações já existentes nestas áreas, e a
finalizado o processo de
uma descrição quanto ao cemitério de reassentamento, já apresentavam
que desde 2004, a Vale contribui para o preparar uma equipe de monitores
Chipanga. Diz que durante o
desenvolvimento económico do país. Na
reassentamento da comunidade de sociais que serão responsáveis por dar rachaduras nas paredes e
referida página, publicada pela empresa orientações de segurança às infiltrações no teto. A
Chipanga em 2009, a Vale promoveu a
Vale pode se encontrar informações comunidades″, facto que embora se multinacional brasileira também
transferência dos corpos do cemitério
descritas como sendo ″questões mostre real, constitui uma violação dos
adoptando cerimónias de acordo com atrasou o pagamento da
importantes da nossa relação com as direitos das comunidades pela forma
orientação dos anciãos. Parte das compensação pecuniária às
comunidades″. A Vale descreve muitas como acha-se implementado.
famílias que não acompanharam a famílias que se recusaram a mudar
informações, sendo grande parte delas
exumação por opção própria alega que
em controvérsia com a realidade
Aliás, este facto associa-se ao acesso e
-se para os assentamentos
não foram respeitados os ritos
vivenciada nas comunidades locais. propostos pela empresa Vele.
tradicionais. A Vale está a reforçar o mobilidade das comunidades onde
Quanto ao reassentamento 25 de Além das críticas à má qualidade
diálogo com essas famílias para embora a Vale diz que realocou e
Setembro e Cateme, no distrito de
esclarecer o procedimento adotado. No construiu um novo acesso para as das casas, há um relatório da
Moatize a Vale expõe que foi concluído o
entanto nas comunidades de Chipanga, comunidades rurais à área urbana de Human Rights Watch que destaca
pagamento de indemnizações para a Moatize, garantindo o acesso aos
a verdade não tem nada a ver com esta que a Vale havia prometido dois
reabilitação das 289 casas do Bairro 25
de Setembro, conforme acordado entre a hectares de terra para cultivo a
comunidade, o governo e a empresa. Em cada família em 2009.
Cateme, a Vale diz neste documento,
que está a fortalecer os seus Porém, pelo menos até Abril de
investimentos sociais como por exemplo
2013, ainda não havia sido
os programas de geração de renda e a
construção de espaços públicos de lazer entregue o segundo hectar a
e convívio. nenhuma família. A empresa Vale
rebateu essas críticas atribuindo a
No tocante aos impactos ambientais, a responsabilidade ao governo de
empresa Vale escreve que novos Moçambique, visto que não existe
controles ambientais e procedimentos propriedade privada em
estão a ser implementados para reduzir Moçambique e cabe ao Estado
os impactos operacionais como a poeira,
destinar as concessões de terra
o ruído e vibração nas comunidades
vizinhas. De entre as acções, destacam-se para as comunidades desalojadas.
a ampliação e reforma dos sistemas de E mais do que isso, segundo a
supressão de poeira nas vias e Human Rights Watch, as famílias
instalações internas e do processo de relataram que o abastecimento de
monitorização da qualidade do ar, ruído água era insuficiente para suprir as
e vibração. Foram contratados estudos
necessidades da comunidade e que
complementares para monitorar o
impacto de vizinhança nos bairros de
havia interrupções frequentes no
informação. mercados, renda, acesso a serviços de
Nhantchere, Bagamoio e 1º de Maio. saúde e educação, o referido controle de
fornecimento em função de
Uma informação que contraria a novas ocupações ferre os direitos das defeitos nas bombas e problemas
Já sobre a vedação da área operacional,
verdade, pois, em consequência das comunidades. Uma mentira grosseira da na rede elétrica.
lê-se para garantir a segurança da
vibrações, no último domingo, empresa indica que além dsso, a
comunidade, mantendo-a distante dos
desabaram as 2 casas sendo a de Luis empresa disponibiliza transporte para a Para além da infertilidade do solo
riscos da operação mineira, ″estamos a
Afaiate e da Rosa Calpande, viúva de 68 comunidade em Cateme onde já está
concluir a vedação dessas áreas no limite e a reduzida extensão dos lotes,
anos de idade que ficou ao relento no disponível um autocarro e tuk-tuks, tipo
bairro Nhantchere.
das nossas concessões″. Entretanto, somadas ao acesso intermitente à
quanto ao acesso à água, a empresa txopela, para deslocação. Na verdade, o
programa de reassentamento em água, têm impedido as populações
escreve que ″estamos a implementar
Quanto ao deslocamento económico de Moatize foi alvo de duras críticas e deslocadas de produzir alimentos
furos de água e a incrementar a rede de
machambas e olarias, a Vale escreve abastecimento da vila de Moatize, assim provocou uma ampla resistência das e criar animais para venda e
neste documento na nossa posse que como a disponibilizar pontos de água comunidades locais afetadas que, em consumo próprio, tornando-os
está em processo de negociação com os para o gado, facilitando assim o acesso reação, chegaram a interromper a via dependentes da ajuda alimentar,
oleiros que ocupavam a área de das comunidades a este recurso″. férrea do Sena, utilizada pela Vale para algumas terras na zona de Romaio
concessão. A empresa propôs escoamento da sua produção, durante
em Cateme foram reocupadas
indemnização por perda de actividade protestos em janeiro de 20128. De facto,
económica e inclusão em programa de
Há uma informação sem detalhes
as casas entregues às famílias pelas comunidades nativas.
referente ao controle de novas
geração de renda e investimento inicial transferidas para o reassentamento de
ocupações em que a Vale diz ter a
para fomento para uma nova actividade. Cateme em nada se assemelhavam ao
responsabilidade de manter a área de
Também estão em curso as negociações projeto de casa-modelo apresentado pela
seu Direito do Uso e Aproveitamento de
com os camponeses que ocupavam a Vale ao governo e aos líderes
Terra livre de ocupações não
área de concessão, para os quais estão a comunitários.
relacionadas à actividade mineira. Para
ser avaliadas novas medidas de

Nossa Identidade: A Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), é uma organização da Socie-
dade Civil Moçambicana, não-governamental, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 2008 e com os seus
estatutos legalmente publicados em 2010 no Boletim da República nº. 2, III serie, 4º suplemento de 19 de Janeiro.
Penhane
OFICIAL NEWSLETTER OF THE ASSOCIATION FOR SUPPORT AND LEGAL ASSISTANCE TO COMMUNITIES

Executive Director: Rui de Vasconcelos* Phon. 20030252*email:binfo.aaajc@gmail.com

City of Tete* Edition 522* Date: March 31* Year 2021

Contrast of Vale's report and the reality in Moatize


this end, ″ Vale has been installing land- Furthermore, the houses were
An extensive document by Vale about measures of compensation and partici-
marks, road signs and fences. In addi-
its actions in Mozambique, more specifi-
pation in income generation programs built without foundations,
are being evaluated. But on the ground, tion, we are carrying out the process of
cally in the district of Moatize, in the socio-economic registration of occupa-
beams or pillars, and in April
the reality is different, in this matter. The
province of Tete, describes that since
company describes the cemetery in tions already existing in these areas, and 2010, when the resettlement
2004, Vale has contributed to the coun- to prepare a team of social monitors who process was finished, they al-
Chipanga. He says that during the
try's economic development. On the said will be responsible for giving security
resettlement of the Chipanga communi- ready had cracks in the walls
page, published by Vale, you can find guidelines to the communities ″, a fact
ty in 2009, Vale promoted the transfer of and infiltrations in the ceiling.
information described as being ″ im- that although it proves to be real, it
the bodies from the cemetery by adopt-
portant issues in our relationship with constitutes a violation of the rights of the The Brazilian multinational also
ing ceremonies according to the guid-
communities″. Vale describes a lot of communities by the way it is implement- delayed the payment of mone-
ance of the elders. Part of the families
information, most of which is controver- ed.
that did not follow the exhumation by tary compensation to families
sial with the reality experienced in local
communities. As for the resettlement of
their own choice alleges that the tradi-
In fact, this fact is associated with the
that refused to move to the set-
tional rites were not respected. Vale is
“25 de Setembro” and Cateme, in the access and mobility of communities tlements proposed by the com-
strengthening the dialogue with these
Moatize district, Vale states that the
families to clarify the procedure adopt-
where although Vale says it has relocat- pany Vele. In addition to criti-
payment of compensation for the reha- ed and built new access for rural com- cism of the poor quality of
ed. However in the communities of
bilitation of the 289 houses in the “25 de munities to the urban area of Moatize,
Setembro” neighborhood has been
Chipanga, the truth has nothing to do homes, there is a report by Hu-
guaranteeing access to markets, income,
with this information. man Rights Watch that high-
concluded, as agreed between the com- access to health and education services ,
munity, the government and the compa-
As for the sealing of the operational the said control of new occupations lights that Vale had promised
ny. In Cateme, Vale says in this docu- undermines the rights of communities. each family two hectares of land
area, we read to guarantee the safety of
ment that it is strengthening its social A rude lie from the company indicates
to cultivate in 2009.
investments, such as income generation
programs and the construction of public
However, at least until April 2013, no
spaces for leisure and socializing.
family had yet to deliver the second
With regard to environmental impacts, hectare. Vale countered these criti-
the company Vale writes that new envi- cisms by attributing responsibility to
ronmental controls and procedures are the government of Mozambique, as
being implemented to reduce operation- there is no private property in
al impacts such as dust, noise and vibra- Mozambique and it is up to the State
tion in neighboring communities. to allocate land concessions to dis-
Among the actions, we highlight the placed communities. More than that,
expansion and reform of the dust sup- according to Human Rights Watch,
pression systems in the internal roads
families reported that the water
and installations and the process of
supply was insufficient to meet the
monitoring the air quality, noise and
needs of the community and that
vibration. Complementary studies were
contracted to monitor the impact of
there were frequent interruptions in
neighborhoods in the neighborhoods of supply due to defects in the pumps
Nhantchere, Bagamoio and “1º de Ma- and problems in the electricity grid.
io”. An information that contradicts the
truth, because, as a result of the vibra- In addition to the infertility of
tions, last Sunday, the 2 houses col-
the community, keeping it away from
the soil and the reduced exten-
lapsed, being that of Luis Afaiate and that in addition to this, the company sion of the lots, added to the
the risks of mining operations, ″ we are
Rosa Calpande, a 68-year-old widow provides transportation to the communi-
who stayed outdoors in the Nhantchere
concluding the sealing of these areas at intermittent access to water,
the limit of our concessions ″. However, ty in Cateme where a bus and tuk-tuks,
neighborhood. type txopela, are already available for
have prevented displaced popu-
regarding access to water, the company
writes that ″ we are implementing water travel. In fact, the resettlement program lations from producing food and
Regarding the economic displacement of in Moatize was the target of harsh criti- raising animals for sale and own
boreholes and increasing the supply
farms and potteries, Vale writes in this cism and provoked widespread re-
document in our possession that it is in
network in the village of Moatize, as consumption, making them
well as providing water points for live- sistance from the affected local commu-
the process of negotiating with the nities who, in reaction, came to interrupt
dependent on food aid, some
stock, thus facilitating communities'
potters who occupied the concession the Sena railroad, used by Vale to dis- lands in Romaio in Cateme were
access to this resource″.
area. The company proposed compensa- pose of their production, during protests reoccupied by native communi-
tion for loss of economic activity and in January de 20128. In fact, the houses
There is information without details ties.
inclusion in an income generation pro- delivered to families transferred to the
regarding the control of new occupa-
gram and initial investment to promote Cateme resettlement in no way resemble
tions in which Vale says it has the re-
a new activity. Negotiations are also the model house project presented by
sponsibility to keep the area of its Right
underway with the peasants who occu- Vale to the government and community
to Use and Enjoy Land free from occu-
pied the concession area, for which new leaders.
pations unrelated to mining activity. To

Our ID: Association for Support and Legal Assistance to Communities (AAAJC), is a non-governmental, non-profit,
Mozambican Civil Society organization, nationwide, founded in 2008 and with its statutes published in 2010 in Bulletin
of Republic no. 2, III series, 4th supplement of 19 January. The headquarters is in the city of Tete.

Você também pode gostar