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Joaquim Sande silva INCENDIOS FLORESTAIS. AS DIMENSOES Os tnctndios forestais sto um fené- meno prprio de varias regides, incluin- do as que apresentam clima com carac- teristicas mediterr2nicas como 0 nosso pais «, como tal, a sua ocomténcia nests regites tem sido uma constante a0 longo da sua his- \6ria, Na verdade a coincidéncia da época ‘mais seca do ano com a época mais quen- te, faz com que se reunam nests rgides con- digdes propicias para aignicio e para a pro- ppagaco de incéndios. Em épocas anteriores 2 ocupaio humana 0s incBndios jé ocorre- riam naturalmente, em grande parte devido & ignicio provocada por "trovoadas secast, Com © inicio da utitizago do fogo pelo homem, 6s inoéndios passaram a ter uma causa adi- cional e consequentemente, ciclos de ocor- réncia muito mais curtos. Ao longo da Bacia Medtertnica a uilizaco do fogo para des- bbravarterras ou para a renovacio de pastos para 0 gado foi sendo uma constante 2 me- ida que as diferentes civilizagdes evolutam ce quea populacio aumentaya. A legislacdo mais antiga que se conhece em Portugal regulamentando a utilizagio do fogo nos cespacas florestais, data de ha mais de qui hentos anos, o que demonstra que 0s in- DE UM PROBLEMA NACIONAL céndiosfloresais si0 um problema que tern de certa forma zcompankado a evolugio da flocesta1no nosso pats. No entanto nem sem- ‘re a questio dos incndios esteve tio pre- sente na opinito pbica como hoje em cia ‘munca como hoje este problema movi- _mentou tantos interesses e verbas to im- portantes. Tal fcto esté bem patente nos montantes orgamentados anualmente para 0 combate (Servigo Nacional de Bombeiros) e 4 prevengio de incéndios forests (Comiss0 ‘Nacional Especilizada de Fogos Florestas e Minisiéio da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pesca). Wie decor pac 1998 fora 197s 1994 1995 19961997 1996, Boe Mow Hive Fo: MADR ONE SB ste fenémeno ndo € exchusivo do nosso pais jf que outros paises mediterrineos, nomea- ddamente os paises do Sul da Europa, tém do uma evolucio semelhante a este nivel. Em Portugal sé recentemente (desde 1978) se pas sot a fazer um levantamento sistemitico do rximero de incndios ocortidos e das areas ‘queimadas para todo o terit6rio nacional. No entanto existem estatisticas mais antigas, 1e- lativas aos incéndios ocorridos em povoa- rmentos nas propiedad getidas pelos Servigos ddo Estado, que revelam um actéscimo sig- nificativo do ntimero de incéndios a pat- tir de 1974. 7” or E i ar | ie : : a° 2 fon 00F Paitindo do principio razoavel que esta evo- Jugao ilustra um pouco © que se passou no esto do teritério nacional, uma série de 1a es S40 normalmente apontadas para este actéscimo significativo do néimero de ocor- séncias de incéndloe de rea queimada. Uma das razbes mais importantes ted sido, even- twalmente, o abandono progressive dos meios rurais e das antigas priticas agri- ‘colas, 2s quais, devido 3 recolha frequent dde mato e 4 permanéncia constante do gado permitiam que os espagos ruraisfossem bas- tate menos susceptveis relativamente & de- flagragio de incéndios de grande intensida- de. Outra raz & 0 aumento importante de incéndios intencionais, ateados com motiva- bes diversas, que se verfica desde 1974 A situagao actual para otetitio de Portugal Continental tem-se caracterizado por uma gran- de variacio da Area total queimada em cada ano, tal como se pode inferir da observaga0 do grifico seguinte. zg si i lai Se considerarmos a evolugio do niimero anual de ocorréncias de incéndlios, verifica- ‘mos que revela uma tendéncia claramente crescente. O nimero de ocorténcias regsta- do entre 1995 99 & extrardinariamente ele- vado © nto tem paralelo em nenhum dos anos anteriores. E de salientara fraca rela- ‘¢io existente entre a érea total ardida em. ‘cada ano € 0 ntimero total de incéndios rregistados. Tal facto consttui uma caracte- sfstiea comum das estatisticas sobre incén- dios floreszise deve-se a0 peso absoluta- ‘mente determinante dos grandes incéndios ‘na contabilizacio da Area total queima- dda em cada ano, Na verdade a ocorréncia de grandes incéndios esta bastante depen- dente da conjugacio de condigdes meieo- rol6gicas extremas, as quais, quando se ve- sfiara em determinadas ds do ano, pemitem {que se atinjam valores de érea queimada ex- tremamente elevados para um tinico incén- dio, Deste modo um nimero muito reduzi- do de grandes incéndios é normalmente responsivel pela maior percentagem da rca total queimada em cada ano. Durante 0 pe- ‘fod 1989-1993 apenas 0,44 dos incéndios tiveram uma dimensio superior a 250 ha, tendo no entanto sido responsiveis por 63% da frea queimada, Por outro lado todos os ‘anos ocorre uma infinidade de pequenos in- céndios os quais sto responsaveis por uma selativamente pequena petoentagem de drea ‘queimada, Durante 0 mesmo periodo, os in- ‘éndios com dimensio inferior a 2 ha re- presentaram 78% do total, mas foram res- ponsaveis por apenas 4% da érea queimada. Como balango global para o periodo 1980- 1999 poxlemos referir que o fogo percorren Al ede, [El <250h0 I) ~ 2500 100% aoe 20% = veins Hi -2te [ae nt: Comino Evepn 1988 ‘uma média anual de 87 400 hectares de ‘matos ¢ povoamentos, correspondendo alum registo médio de cerca de 15 000 in- ‘céndios/ano. A distribuigao do nimero de incéndios das éreas queimadas pelos diferentes dis- trtos do territério nacional obedece a pa- droes especificos de regio para regio. De ‘um modo geral 6 regides mais populo- sas estd associado um maior niimero re- lativo de ocorréncias (niimero de incén- dios/1000 ha de Floresta e mato), 0 que nao implica forgosamente wma maior percenta- gem de rea queimada (Porto, Braga, Lisbon), Por outro lado a importincia de ambos os indicadores (periodo 1980-1997) decresce notavelmente nos distritos do Sul e nos de Castelo Branco e Braganga devido as for- mas de ocupacio do solo € ao tipo de flo- resta dominant. ‘Um aspecto muito debatido e clifundido pe- la comunicago social prende-se com as cate a dos incéndlios floestais. Mais do que as aparéncias, importa sobretudo analisar os re- sultads das investgagies levadas a cabo pe- Jos especialistas que integram as Brigadas de Investgagao de Fogos Florestas da Diteccio- Geral das Floresas. Tomando camo base ape- nas as causas conhecidas referentes 10 pe- siodo 1990-1995, existe inequivocamente uma grande percentagem de incEncios originadas por negligencia © uma percentagem menor, ‘mas apesar de tudo importante, de incéndios causados intencionalmente, A este respeito vale ainda a pena refit que o universo das ‘casas intencionais inci categorias que d= ficilmente se podem identficar com 0 cha~ mado "Togo criminoso', como as queimacas por pasiores realizadas clandestinamente, ot © fogo iniciado por indivitaos nao imp ‘eis, Deste modo, e de acordo com os dacs dlisponiveis para 0 periodo referido, 0 fogo posto com carécter tipicamente doloso restringese apenas cerca de 17% dos i- céndios com causa conhecida, Date Fon 06F ‘No que diz respeito a situagao do nosso pais relativamente aos restantes patses mediterri- ‘ncos pertencentes & Unido Europeia hé que atentar por um lado na percentagem de rea florestal queimzadae por outro no nimero de cocorréncias por cada 1000 ha de floresta. Os valores referentes 20 decénio 1985-1995 in- dicam a existéncia de uma grande percenta- gem ce freaflorestal queimada comparaiva- rmente aos restantes paises comunitirios do Sul da Buropa, No entanto as ciferencas re- Iativamente aos restantes pafses sio ainda ‘mais notrias se compararmos o ntimero mé- clio de ocorréncias relatvamente & rea flo- restal, ff que © nosso pats apresenta valores tués vezes superiones ao pals imediatamente a seguir, a Ilia 5 2 Fabel pee es ee Ga Th scot grime rindi 0 bls ew 1h 97 ‘Aanilise do grfioo deveréterem conta a pro- porclo de floresta com caracteristcas medi- ternicas de cada paisa qual & bastante dife- rente em cada um dos casos, Muito embora ‘io tenha existido até agora uma absobta coin- cidéncia de citéros entre os ciferentes patses, 20 nivel da recolha de elementos estatsticos sobre incéndios floesas, tudo aponta no sen- tido de uma maior gravidade do problema dos incéndias em Portugal, relativamente & gene- ralidade dos paises europeus, nomeadamente «6s paises da Bacia Meditersinea, CCONMISSION ELROPFENNE, 1996, Ls fe de fort dans le Sul de Union Burnpéenne, Offic des publications offceles des Communauées Buropéenes, Lixembourg, FAO, 1997. Fares Fire Stasis 193-1995. Timber Bulletin, Vol XLIK, 294 NATARIO, , 1997 Tatamento des dads dos incédios rests em Portugal. Reista Hones, NOL X91 pp. a8, [Nota As resantes fortes cada no texto referemse a dados gentente disponbilzados pela eniades em ‘questo, cee eeen aoe In Manual de stu para a presen de inci. Uisboa : Direcgdo-Geal das Forests, 202. Revisoténica deste cade: Clos Texel, Josefa Baro de Cava © Manuela Domingues.

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