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Resumo
Introdução
grandes arquivados são os homens, nesta (na melhor das hipóteses) equivocada
concepção “bancária” da educação. Arquivados, porque, fora da busca, fora da
práxis, os homens não podem ser. Educador e educandos se arquivam na medida em
que, nesta destorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação,
não há saber (FREIRE, 1987, p. 33)
do conhecimento. Com Freire (1987, p.33) acredito que “só existe saber na invenção, na
reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com
o mundo e com os outros. Busca esperançosa também”. Uma dinâmica que supera
absolutamente os espaços silenciosos e entediantes em que se transformam os ambientes
escolares com práticas bancárias de educação.
Percebemos nesta proposta de educação, que toma o diálogo como método por
excelência, a possibilidade da viabilização da verdadeira formação humana, num claro
processo de superação ou transformação de um modelo de educação maculado pela ideologia
burguesa, a serviço das exigências do modo de produção capitalista que perversamente insiste
em transformar em mercadoria geradora de lucro até mesmo a existência humana.
O ser humano inserido nesse contexto e compreendido como ser em permanente
construção, portanto, ser essencialmente inconcluso encontra na característica positiva da sua
inconclusão a possibilidade de evolução, a concretização do seu ser mais. No entanto, essa
sua característica existencial pode ser também o seu ponto de maior vulnerabilidade, o seu
“Calcanhar de Aquiles”. Isso porque, tal característica exige do ser humano, um processo de
formação constante, e quando esse processo está articulado com ideologias alienantes,
opressoras, o que se processará será a sua “deformação”, a negação da sua ontológica vocação
de ser mais e o forjamento do seu ser menos. Sua liberdade e autonomia furtadas pela
instrumentalização e mercantilização da sua existência. É nesta perspectiva que se justifica a
luta pela transformação da educação num claro e necessário engajamento na construção da
proposta de educação emancipadora.
Entretanto, a transformação da educação não se faz por puro teoricismo acadêmico,
tampouco pelo ativismo irrefletido da prática cotidiana, mas pelo que Paulo Freire
incansavelmente insistiu em toda a sua obra, ou seja, pela práxis: ação refletida e reflexionada
na teoria. Mas não qualquer práxis, mas a práxis comprometida eticamente com os oprimidos
da sociedade.
Transformação por meio da práxis, que encontra seu chão fértil no espaço/lugar da
escola, e aqui neste trabalho especificamente no chão da escola pública de educação básica.
A escola para se tornar o lugar da viabilização da educação emancipadora, precisa
criar coragem de olhar para as suas estruturas, concepções e práticas pedagógicas e, mais do
que simples olhar, precisa imbuir-se da coragem revolucionária para transformá-las. A
articulação dos projetos políticos pedagógicos precisa ser repensada a luz dos princípios da
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educação para a autonomia e mais do que repensá-la, precisa referenciar a prática pedagógica
na cotidianidade do exercício educativo.
A formação inicial e continuada dos professores é, também, fator decisivo no processo
de transformação da educação. Uma formação que oportunize a reflexão sobre as concepções
e práticas educativas pode levar o professor a ressignificar sua ação pedagógica e tornar-se ele
próprio fomentador engajado na proposta de transformação educacional e social.
É neste sentido que se justifica a relevância de compreender as concepções e práticas
educacionais no espaço/lugar da escola pública – que constitui especificamente, o objeto de
investigação neste trabalho – com a intenção de contribuir com a transformação da educação
alicerçada na esperança amorosa freireana.
Para a viabilização de uma educação nesses moldes é necessário uma formação que
possibilite a “reflexão crítica sobre a prática”. Somente quando o professor voltar o olhar
criticamente sobre a sua ação pedagógica é que será capaz de perceber os seus acertos e
desacertos e com isso transcender de um ativismo prático à práxis verdadeira e com isso
concretizar mudanças no seu pensar e agir docentes. Com Freire insistimos que “na formação
permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática
(FREIRE, 1996, p.44).
oficinas como atividades extra classe tornando uma escola mais humana e criativa,
preparando o indivíduo em seu desenvolvimento integral da personalidade e sua
participação na obra do bem comum. (PPP p.10)
alunos como instrumentos de avaliação, sem nenhuma contextualização e nas questões das
avaliações que priorizam o exercício quase exclusivo da memória.
A construção de espaços de diálogo entre professores e alunos, se vê limitada,
segundo o discurso dos professores, pela indisciplina dos alunos. É comum ouvir dos
professores que a tentativa de estabelecimento de uma aula dialogal é sempre frustrada pela
bagunça generalizada, uma vez que os alunos todos querem falar e não há espaço e tempo pra
isso. Ainda em relação ao aspecto dialógico das aulas, alguns professores afirmam não ser
possível em virtude de uma grade de conteúdos excessiva a cumprir: “temos que cumprir os
conteúdos, que não são poucos, além do mais, chega a época das provas e se não tivermos
dado os conteúdos, como poderemos cobrar nas avaliações?” explica uma professora em
reunião pedagógica.
O autoritarismo justificado na premissa da manutenção da disciplina é outro fator
comum, observado na prática pedagógica, solidificando assim uma relação professor/aluno
vertical e antidialógica.
No entanto, não pudemos deixar de observar que, apesar de alguns equívocos na
prática pedagógica, é muito comum a preocupação com a qualidade da educação por parte dos
educadores. Preocupação que se traduz na fala de uma professora em determinada reunião
pedagógica: “sempre busco fazer o melhor, se a minha prática é equivocada, não é porque
fiquei planejando para que fosse ruim, planejo pensando que tem qualidade”. Essa
preocupação expressada pela professora, quase em tom de desabafo, nos remete ao objetivo
inicial de nossa pesquisa: discutir uma proposta de formação continuada de professores que
contribua teoricamente para o repensar da prática docente. Na fala da professora pode-se
perceber que existe a disposição e o objetivo de uma prática pedagógica de qualidade em
conformidade com as linhas teóricas que regem a unidade escolar. Nesse sentido, acreditamos
que a oportunização de espaços de formação continuada dentro da perspectiva da educação
para a autonomia, com o aporte teórico freireano, configurar-se-ia em importante instrumento
de reflexão e ressignificação das práticas atendendo verdadeiramente aos ideais de uma
educação transformadora.
A pesquisa busca compreender as concepções e práticas educacionais dos professores,
para a partir da realidade concreta analisada, estruturar em conjunto com os professores o que
seria uma proposta de formação gestada e conduzida na própria unidade escolar. Os
elementos de que dispomos, como já mencionamos, são ainda rudimentares. A pesquisa
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5- Considerações
Sabemos que os elementos que dispomos até o presente momento da pesquisa, ainda
são insuficientes para que se possa fazer uma análise mais aprofundada do objeto em
discussão, quanto mais para estabelecer conclusões.
O que nos parece evidente, entretanto, é que uma mudança no campo da educação se
nos apresenta como um imperativo do tempo atual, isto mediante os resultados de fracasso
educacional a que nos encontramos envolvidos tanto em termos gerais – a educação nacional
– quanto em termos específicos – a escola lócus de pesquisa. Sabemos que a formação de
professores por si só não pode garantir as transformações educacionais de que necessitamos.
Outros fatores conjunturais de grande relevância para a garantia da qualidade educacional,
precisariam ser repensados como a valorização do profissional docente, salários, condições
estruturais das escolas, planos de carreira entre outros. Porém as mudanças não poderiam ser
pensadas sem se levar em consideração a formação de professores. Com Carvalho
concordamos que:
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas:
Papirus, 2005.
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FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
_______, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção leitura).
_______, Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora
UNESP. 2000.