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a SAUDADE E£ PROFETISMO FERNANDO PESSOA ALFREDO ANTUNES SBD-FFLCH-USP AMON SAUDADE E PROFETISMO EM FERNANDO PESSOA Elementos para uma Antropologia Filoséfica DEDALUS - Acervo - FFLCH-LE (ONAN 21300005432 PUBLICAGOES DA FACULDADE DE FILOSOFIA BRAGA ~ 1983 GEBTRO DE ESTUDIOS FH USP 4 BIBLIOTECA isi puBLICAGOES DA FACULDADE Fraga de Face, 9 BRAGA Coden = EDITORIAL 4.0. Lasgo das Teron 5 719 BRAGA Coden - UNRARIAA ‘Rua de Boavinw, 591 4000 FOKTO PROLOGO Sempre a saudade andow associada aos grandes periodos da reflexdo cr ica portuguesa. Logo no primeiro grande momento da nossa maturidademental » seculo XV da wlnclita Geragao» ~ vemos Jd 0 Ret-fildsofo D. Duarte perplexo pe- za deste sentimento. Dois séculos mais tarde, o tema da saudade 2 “acupar espiritos superiores como D. Francisco Manuel de Mello, novo surto de consciéncia critica se forma em torno dos nossos valores e daquilo que somos, é ainda a saudade um dos elos pedagogt os a conduzir-nos d indagagdo colectiva sobre o que nos constitul como povo € ‘omo histéria Tal vinculago da reflexao filoséfica ao sentimento da saudade aponta, desde logo, para uma segunda constatagao: a de que 0 nosso pensamento mals xe aborados sistemas filoséficos mas, antes, nas Jor~ sso lirismo, muito especialmente na Poesia E nemo n st0 nos diminuimos como pensadores. «Em todo 0 poeta ver dadeiro existe um filésofo adormecido», escrevia Pascoaes(). Afirmagao que Fer nando Pessoa parece reforcar quando diz: «é na poesia que vamos buscara alma filosojia dessa poesia aquilo a que se pode chamar a filosofia da Achegar-nos ao homem portugués e, nele, ao homem universal, tal 6, » objectivo primeiro do nosso trabalho. E fazemoslo por aquele método sso. 0 da atengio lirica; atengao esta que vai pressupor a saudade como nscendéncia expressiva que tais formas liricas representam, Se- ‘assim, uma forma indirecta, mas, segundo pensamos, a mais decisiva para a aproximagao antropologica desejada. Se a saudade ~ traco essencial do nosso psiquismo ~ fol sempre a matriz inspiradora da nossa lirica, desde os cancioneiros aos dias actuals, teria que ser um poeta, a plataforma de apoio para o nosso estudo. Apoio duplo, aprevenir-nos de um duplo risco: 0 das abordagens genéricas ou 0 das teorias subjectivas, ) Uma Cara a Dols Fildsofos. tn 4A Agua, 2* Série, 11 (1915) . Uh ) ANPP. p80 quanto possivel, as suas raize esa», onde floresceu 0 Saudi fascenga Portugues laudosis titi raizes novas dimmensdes de saudadelusiadg fo de um Portugal renascido. Um poeta polariza ‘mesmo tempo, assaudade, o Saudosismno e 0 messia Serum Pascoaes outro. Optamos, no entanto, por Fe Hemassemprepressentido que, por detras do seu platonismy ima soudade muito propria eoculta. Por outro, por desejay. Hiidaanigasobreo usitanismo, ou nao, de Pessoa: le queja renanuralizadon ¢ de ano saudosista”. fassim, em Femando Pessoa um estudo amplo sobre a sav franspondo para o plano universal um fendmeno particular tbuindo, apartirde elementos essencialmente portugueses, pa Piosifica. Besta a razao de ser do subtitulo do nosso estudo, ‘deuim poeta universal, universalizamos a saudade; e através da ‘0 homem portugues. idewmamera inventariagao da saudade e profetismo na obra Trata-se, sim, duma tentativa de compreendermos 0 fend- samedida em gue vamos compreendendo os estados saudosos yE pela compreensao de ambos, chegarmos a compreender és € universal.) indo consegulu, pessoalmente, realizar o sonho do Quinto ‘cura lusiada, mas talvez nos tenha universalizado, Saudade com tonalidades estranhas e tinicas. yo homem sente saudade, Pessoa foi capaz de dar-lhe @hossa saudade revelada; e porque idealizada Universalizada. indss0 estudo inscreve-se numa perspectia sis- a textual de Fernando pessoa, referida Aperspectiva é sistemdtica, porquanto nao pensamos ser possivel, em se tratando dum poeta como Pessoa, interpretara parte sem ter em conta 0 todo. E.0 todo éa fusao da histéria pessoal com a expresso, em poesia, dessa historia. Tentamos, pois, sentir Fernando Pessoa tal € qual ele Se sentiu asi mesmo e ao mundo real. Isto para ld de todos os riseosque as barrele ras estéticas e psicoldgicas represemam. Dentro desta perspectiva sistemdtica procuramos, regra geral, a via feno- menoldgica como a mais consentdnea para definir sentimentos. Aqui e ali, con- tudo, nomeadamente na primeira parte, langamos mao do processo histérico- “genético, mais como esforgo complementar do que como um método novo. Faldmos acima em leitura textual de Femando Pessoa. Cremos, no entan= 10, que ao tratar-se dum poeta e duma psicologia a muitos titulos estranhos, essa leitura nao pode reduzir-sea um mero «soletrar», mas antes captagao dovespirito que as palavras escondem.\Dai uma vez mais, 0s riscos ea necessidadede, no par ticular, ter sempre presente a globalidade Numa perspectiva sistemdtica a organizagio intema do nosso trabalho po- deria ser pontualmente discutivel. Dir-se-d que, ter dedicado a saudade dols cap tulos na primeira parte e um, na segunda, sem aparemte vineulagdo a Femando Pessoa, pode produzir um corte na unidade. Nao pensamos assim. Mais: napers= pectiva em que o trabalho esté langado (a linha duma antropologla iloséfiea) nao poderia ser doutro modo, ja que da prépria definigho da saudade ~ espécie de «campo» ambiental ~ é que vai surgindo, gradualmente, a definigho de Femando Pessoa e, de ambos, a do homem portugues. Assim, a primeira parte do nosso trabalho é um lento caminhar da sauda= de ao encontro de Fernando Pessoa. Um movimento de fora para dentro emquea saudade traz consigo todo 0 peso étnico, cultural e psicolégico do povo lusiada, em cujo contexto Fernando Pessoa ird sentir e expressar-se como poeta. Apés breve atengao linguistica, descrevemos 0 que chamamos aespagon da saudade, bem como a sua «transcendéncia» real, traduzida nas formas liricas que” ‘0 nosso poeta conheceu e vivenciou. Terminamos esta primeira parte com a outra vertente do «encontro» de Pessoa com a saudade: um encontro operado na interio= ” de desenraizamento. E de ambos 0s niveis deste 2 modo que Camoes, tamby ‘saudosa. Do mesmo Mm em ene — «A saudade escreve € eu traslado» (Elegia [)) essa wirasladagdo» saudosa: a pura saudade ma Toda a segunda parte smente da sua vinculagao existen. ssoanos, independentemente len mente menariagio e andlise dum sentimento manifestado, fade que os artficios pocticos possam esconder de toda aah capitulo apresent0r0S@ Patra trig ssi, ser saudade pessoana como manifestacio, buscamas as ue nos permit nascent impessoo's °F" da obra aponta-nospara o «desencanto do presente Fee naan elo passado ou pelo fuuo. Nesta clareira temporal se teal com Pre ade como adistanciarDistancia dum bem, imprecisamente len. Parr esjado, que va sucesivamenieassumindo concrees diferentes, con- “Forme se situa no passado ou no fururo. Em aie 0h xr dos casos, cremos nés, este it ido ou no. Em qualq ‘objecto de sauda smando Pessoa, situar-se entre uma infan ide pode, no caso de Fernan Y cia Se erie ‘€ um profetismo messidnico. y so estudo sobre a saudade de WPoderi parecer temerério erguerum volumoso és ; Ti tome ue em vérias ocasidesafrmou nao terjamais sentido «saudades de Seer calsun ), ou, quando muito t-las sentido apenas wliterariamente» | Fernando Pessoa é, ‘«paradoxo» (°) e, como tal, é possivel ver ny gor qnendo see tais afirmagies, quer quando diz sim- ete M enho saudades de tudo...» (°). No mintmo, aponta-nos para ura dade que ao.sviajar) sem «evoluir» ’), parece cumprir em si proprio “aguele seu verso que diz: «Saudade eterna que pouco duras!» ’) muma coeréncia para a sua fuga obsessiva do y Nao julgamos dever prolongar estas palavras introdi como 0 proprio Pessoa ~ Alvaro de Campos escreveu: «O tinico obra é 0 cérebro de quem lé»(?). Antes, porém, queremos deixar aqui a nossa palavra de} quantos tornaram possivel este trabalho. A mulher e filhas, que, auséncia, nos ajudaram a entender melhor ofenémeno da saud de Catolica de Pernambuco (Brasil), pelo incentivo e disponibilidade ¢ 4 Fundagao Calouste Gulbenkian, pela dupla bolsa de estudos que nos dois ‘mos anos amparou nosso estudo em Portugal; @ Faculdade de Filosofia d pelo acothimento profundo que, desde a primeira hora nos concedeu, pecialmente, ao Dowtor Sitio Fragara, orientador deste trabalho, qué, bedoria e amizade nos ajudow a ver mais claro em Fernando Pessoa sides onde a ciéncia e a vida se identificam, PIAL, p. 429, ABREVIATURAS DAS OBRAS DE FERNANDO PESSOA. MAIS FREQUENTEMENTE CITADAS NO TEXTO. mal Inquérao, Lisboa, 1944 ie Esquemas Cokes Cok Arcadian, Edel Gale Mana Isabel Rocheta Mana Paula Eaigoes Atca, Lisboa, 1979 Coordenscio © Preficio de Petras. = Nous de Cleonice Berandineti, Rie a Aiete Galho. Rio de Janeiro, 2 imprensa, sau a publicagdo © pelo qual aio figura come fonte de de Domina Estetica. Ses, ret = Piinas Trquerno Limitads, Lsbos, 1946 (PETCa — Pigmss oe Ents ode Teor, © § Faios por Geos Radi! Lind ¢ Jan ‘ica, Lisboa, 1973, ‘pice darmas de Antoineprctacic GerPrado Coelbo ¢ Georg Rudol!L Go Comercio. Notas Pos! altura, Poros. ‘Sabre Porrgal ~ I Rochew © Maria P Lisboa, 1979 Testes de Cries ¢ de Inte 1 Feats Fiosoicos. | vol bes Ati, Lisbon. 196! os. it vo Te esos Pies ges Ata, Lsho ‘ PRIMEIRA PARTE PSP - Ulmer ¢ Poe Maria Paula Mori 1980. 7 FERNANDO PESSOA ENCONTRO COM A SAUDADE ‘Cada homem é, por condigio, um ser situado, Vivendo o tempo histori- co num espago concreto, ele em seu destino inevitavelmente vinculado afuctoe res que muitas vezes transcendem a pura esfera das opg6es individuals, Sem ser Presa do fado, ele ¢ presa de herangas. A origem étnico-familiar, o meio geogrific Co, a conjuntura sécio-cultural e, de forma decisiva, o mundo psiquico pessoal ue os acontecimentos ea liberdade foram modelando, constituem 0 grande SO= ™mat6rio de elementos que iro configurar a sua situagio eonerela como indivie duo, Configurar aquilo a que poderemos chamar; © «encontron. a Na primeira parte do presente estudo, o nosso objective & Fernando Pessoa, nao na globalidade do seu wencontro» com aexistén ‘numa importante fragmentagao do mesmo; fragmientagho que julgamos: va para o compreendermos como homem e, sobretudo, como poeta 6 contro» com a saudade, Seo psiquismo de cada individuo é, emcerta medida, resultado eon) do de herangas anteriores a todas as opgdes livres, niio é possivel uma ‘gem compreensiva da sauudade em Fernando Pessoa, sem que, tenhamos no estudo desses factores que, a modo de «campo esthticos, maram, por refracgao, a sua peculiar maneira de se sentir @ si m coisas. Nesta perspectiva ~ e ap6s breve aproximag&io ao misténo enigmas da palavra «saudade» parece ocultar-se =, julgamos i © Poeta no seu espago étnico-geogrifico — esse mesmo espago dade tem a sua acolhida privilegiada, E uma marcha lenta a p mentos mais exégenos ~ a integragao fisica ~ para aqueles outros! perderem a dimensio de exterioridade, fazem ja sentir oS seus re de forma mais decisiva, na transcendéncia sentimental do Posta: Lirica peculiar E é assim que, num terceiro momento, arrancamos ja Fé Soa ao mero anonimato étnico em que se dissolvia, para o como poeta concreto, integrado num lirismo conereto: o lirismo pendor atévico de um povo ao qual pertence, A SAUDADE ENCONTRO COM A pESSOA NO a dimensio analitica, mas ij ind Pr co, PTOCUTAMOS apresentar Fae ae ays nao or fOrGa de OCOes eng y modo Macrio psicol6gica que © meio involyn. ie de relftjn, apertando 0 «eNcOntro» com Fer. de Ya epi nme a ania» lusiada que aliments a lticasaudos, como salma Montro» com a saudade fora de ears: Kiemna, reluindo num «habitab» histériy cas involuntiries, im, so» & resultado de heranas invo , importa, Srestrutura sentimental do Poets.’ Imporiy ‘rand coma: tera Fernando Pesson sentido o wencon. Ea pani : assim, enfrentar 2 io meio, ou, também, a partir da See Spi aibuirse preponderantemente a factores de rita eonjuntural, ou procede ela de uma genuina vivén, E na vida? Tel oar em que medida 0 , nj ia vars ologos ¢ eruditos. Nem tio-pouco py sais divid® “ojuido da mesma solitate, Por via semi-erudita, (coms endo eroimjo | intervocilico), € a mesma coisa que asimee jeeido maior dificuldade ~ e no se pode consider - se pacifica -, & explicar a passagem do ditongo 0; (4 ay ae pen be i formagao definitiva da palavra wsaudaden. At a) ida nossa fonética culta no possibilitam fazer den {vo latino solitarem. Rejeita ela, sem excepgio, co aor yesseen see . info se diz do movimento inverso, isto ¢, 0 ditongo o/ (equiva. p apipley iprovém, como regra normal, de au. E 0 caso, por exempig ene (ouro), que decorre do latim auru 7 ‘ser, entio, a saida para o impasse’ Warias tém sido as explicagdes, algumas delas apelando, inclusive, (umm vinoulagao a elementos ¢ raizes completamente alheios aqueles i nossa anise a fimologista Goncalves Viana, j4 no século passado fazia uma in oy a BAvE tastase € 0 verbo «saudam, pretendendo que feria influenciado o primeiro (*8). Nao se detém, no entanto o th fundamentar 0 asserto por via etimologica, mas, unicamente por via (bu seja, pela aproximacao de elementos € associagdes sociopsicols- "Plectivamente, esta parece ser uma via, nao porventura tao explorada, s capar de fornecer luz nova sobre o intrincado problema que nos ocupa, ino vinaular filologicamente a palavra saudade exclusivamente a forma (olitate (nem, semanticamente, a ideia de «estar sO»), mas, antes Ids Sus hipoteses de origem, aos campos da interinfluéncia associa- mo 2s ideias de wsalide», «saudar» e «salvacao». Somando a tudo imponderiveis das etimologias ¢ associagdes populares, na gene- @ processos evolutivos coerentes, podemos chegar a uma ‘quanto possivel aprofundada, da realidade léxica que hoje ‘Wo naturalmente nossa, a palavra saudade. Talvez a obscuri- mesmo, a complexa procedéncia estrutural desta palavra- poms aos dicion. port, i., p. 408. Cit. por A. A. Cor A SAUDADE COMO PALAVRA -ideia, possa constituir-se na primeira justificativa para se dade de mistério e de interna dialéctica que a saudade, visivelmen Tal € a tese amplamente desenvolvida por D. Carolina «Temos de recorrer, ~ escreve ~ (...) & analogia, & associaglio d 4 etimologia popular, isto ¢ a processos psicolégicos, para enco chave do enigma e explicar a substituigdo esporidica de o-! por ay aumentando a sonoridade melancélica do voedbulo, aumentou 0 ff ago: 0 contetido, o espirito, a alma.» (8), r E supée a Autora que tal influxo por associago ¢ analogia se deve ir buscar 40s vocibulos filolégica ¢ semanticamente apatentados, com fore magio a partir da raiz saud...: «Distingo dois grupos, - continua ela = diver" sos, conquanto aparentados. Primeiro, 0 verbo saudar de salutare com © substantivo saude ~ salute, populares ¢ muito usados. Segundo; © substan= tivo culto, mas biblico, e por isso até certo ponto popularizado que acabo de citar: saudade de saludade~salutate 0 que significa salvagao (Heil), € substituia as vezes (em Espanha) o adj. lat. (heilsam). Na boca do vulgo saludade devia forgosamente passat a saudade. Ja outeos autores Supuse- ram influxo de saude em saudade. Mas nfo disseram como se realizaria © fenémeno, surpreendente realmente, visto que entre salus saluiatis e seus derivados, ¢ a doentia soidade, e mais derivados de solus, ha um abismo, que nem mesmo com ajuda de saludade na acepgao de salvagao se transpoe a contento. Eis 0 que penso e como combino suidade com saude € com saludade, ¢ solus com salutaris.> (2). ‘Com esta nova hipotese, trés novos elementos entram em jogo, € todos eles, de clara aproximagio associativa com a tonica geral da sau dade. Se desta palavra-ideia se depreendem, como implicitos, os vagos sentimentos de «estar s6», «estar distante», «estar ausente», «estar doenter, é fora de duvida que as referidas ideias de «saudagio», de «aide» e de «sal- vagdo», ganham, no contexto, uma ressondncia nova que as interliga, por via seméntica, a forma vocalica mais corrente: «soidade», E a mesma emi- nente erudita, quem, a modos de confirmagio da tese levantada, chama a atengio para'a pritica, ainda hoje corrente na correspondéncia epistolar familiar, onde os termos «saide», «saudades» ¢ «saudagbes» so quase reli- giosamente usados, numa alterndneia indistinta. Tao natural é enviar «sau- dagdes @ todos», como «saudades a todos». Ora, nds sabemos que 0 gesto de saudar ¢ algo que naturalmente ocorre no primeito contacto com 0 ente da relagio. No caso epistolar, celebra-se 0 «encontro» distancia, com «vo~ tos de boa saiiden; isto é, augura-se ao amigo, ou ente querido ausente, um (4 Saudade Poruuesa. 2 Edigdo, Renascenga Pontuguess, Port, 1922, p. 62: ©) Carolina Michadlis, opt, pp. 623. oa samanpo resson #ENCONTHO COM A SAUDAD saad (de santo ee searasd 02 ausente. Sb dapie,™ mento presen, deride ea. a qual, POr SUA Ved, envolve utr yo? cocorre a situaeso O° Or mplicita na formula ésaudaydes; mesmo que. ae saudost. SR erect Tepetigao ou redundincia, a Rae es Pggaoencon™ com 70 Inco: & an, im vocdbulo s6 ~ saudade io) que condensa Num de dads (de salutati) Gt Cer ago». Salvagio, de que mancira? p Se rard a stidade (). «Dessas iais formulas {Convensionaes, ~ cone Michaélis - ¢ de outras am milk a e yr pti Fisentes, das saudapées com eles trocadas, da sensagio de soedade sida ‘suidade provocada pelo afastamento; ¢ do desejo da unica pes foram, basicamente, 4s formas de estudarmos a origem 8 ay, 8S ideas lugio wi apesar do enigma con 5 a au; a segunda, por via psicoassociativa, | Por. Gquanio nao se constitui numa tcoria alternativa, mas, antes, complement Numa e noutra forma permanece, como indiscutivel, a procedéncia i S6 -, do vocébulo latino so da palavra saudade — no sentido de esi aie do qual derivaram, por via fonética normal, as formas portuguesas ide soedade, soidade e suidade; formas estas que, como vimos, também se foram sucedendo, segundo circunstincias de lugar (4) Nem se deve ignorat 2 pr sar 0 «Deus vos saver, como forma fea sdeitar de saudarr por m nedade, que esti ausente 0 sentiment ) Op. cit, pp. 6-4 (8) sSoedade soidade suidede sempre contar 5 quatro si bas, comespondentes as do latim soluates, de que sai teas norms IGieds de 1 ilenoeilicn, redusio das outras duas consoantes mediais, de dentas fortes a Frandas, redugio do / stono 3’ surdo; finalmente pronun. redusi 4 144 Que, pela tendéncia do portugués a formar e se deviam funit ecessriamente num is. Carolina Michaelis, op c Soedade ¢, portanio a forma mais primitiva, logo ev ‘tesco, € amplamente divulgada jé desde as «Cantigas del-r assou, posteriormente a ser a preferida até 4 dominagéo dc A SAUDADE COMO PALAVRA. Face 4 anomalia fonética de estabelecer a ponte entre saudade, ¢, recusando-se alguns autores em perfilhar a tese de: que considerava 0 caso como simples corrupedo da palavra, surgitt explicagao, a qual, sem alterar 0 valor seméntico Original, Veio novas tonalidades de conteddo a palavra saudade; Ampliarhe 1 ndria de «estar sé», com as conotagbes de «satiden, «saudagion alicercar, logo & partida, um entrelagado interno de estados: sido amplamente evidenc ideia-saudade uma espécie de dialéctica interna, envolvendo!o doso conteuidos de sinal contririo, Fala-se, por exemplo, em delicioso pungir», «dor que tem prazeres» (1), Oray tal bipo do proprio vocabulo, é possivel ver anunciada, ainda que de form cisa, essa pluralidade de conceitos confrontados. Associar a ideia de) vaaor a ideia de «estar s6» é, desde ja, redimir a saudade day sua: fatalista ou meramente sombria. E, por isso, achamos justificavel a ab sm da saudade como palavra, antes de Nao queremos finalizar este estudo sintético sobre a origem e evolu io da palavra saudade, sem mencionarmos também, ainda que a titulo de Curiosidade, duas teorias mais. Teorias que, nao chegando embora a ganhar €60 significative entre os estudiosos do assunto, apresentam, porventura, éle= mentos sugestivos. A primeira & apresentada por Joio Ribeiro (2) que, para obvian, como ele diz, a «dificuldade fonética que se encontra na silaba inicial da palavra saudade» (*), levanta a hipotese de ter-se esta originado do arabe saudd, Segundo Joao Ribeiro, saudé (do mesmo modo que as formas suad © suaida) tem «o sentido normal de profunda tristeza e literalmente do sangue pisado ¢ preto dentro do coragio» (*). E fundamenta a sua hipétese com aproximagies linguisticas e semanticas tiradas do campo médico-socioldgico: «Na medicina, — continua ~, as-saudé 6 uma doenga do figado que se revel pela tristeza amarga e melancolia. Os arabes dizem: Qualaini as-sualdd Alcicer Quibir, Na Galiza conservouse « forma primitiva soedade até a0 ste. XV, € est Voltando a ser prelerentemente usada na moderna teratura galega, alternando-se, indistint (0) Veja-se Garrett. In Camdes, 1.1L ©) Cunisidades verbais,S, Paulo, . d. (192 ©) Op eit, p. 201 0) Thid,, p20)

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