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Educação Literária

Grupo I (100 pontos)

A (60 pontos)

Lê atentamente as seguintes estâncias d’Os Lusíadas.


105
O recado que trazem é de amigos,
Mas debaxo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que, aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!
106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Luís de Camões, Os Lusíadas, Ministério da Educação, 1989.

1. Situa esta reflexão em função da estrutura global d’ Os Lusíadas, atendendo ao


plano estrutural representado.

2. Interpreta os dois versos finais da estância 105.

3. Atenta nos quatro versos finais da estância 106 e explica de que modo podem
encerrar uma valorização do Homem.

Grupo II (50 pontos)

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Leitura | Gramática

1
Ecos de Camões em Cesário Verde
No cerne do poema épico de Camões está o mar, espaço percorrido pelas naus de Vasco da
Gama, mas também cenário mítico em que decorrem os vários planos da narração que
complexificam a temática do texto, fazendo da viagem à Índia a jornada simbólica em que
Camões retrata a saga dos Lusíadas. (…)
5 O mar das navegações é para o autor d’Os Lusíadas o símbolo ambíguo de Portugal (…).
O tempo passado vê-se elevado à categoria simbólica do Bem absoluto, com a glória, a harmonia
e o ideal coletivo por corolários; e o mar é o espaço da viagem aventurosa em busca de novos
mundos, é a possibilidade de partir, levando a outros lugares a energia positiva dos navegadores e
do povo que eles representam.
10 Uma tal perspetiva que coloca a par a visão épica e positivada do passado com um presente
decetivo e de impasse, tem múltiplos ecos na história literária nacional. Detenhamo-nos por agora
em dois exemplos disso, colhidos em textos de fins de oitocentos, período em que retorna essa
memória do passado histórico, como via da busca de um esteio que sustente o presente de
inquietação e de mudança: tomemos “O Sentimento dum Ocidental” de Cesário Verde (…).
15 O poema de Cesário foi publicado no número Portugal a Camões do Jornal de Viagens de 10
de junho de 1880, uma das edições comemorativas de um centenário que erigira Os Lusíadas e o
épico em porta-bandeiras do nacionalismo; tal perspetiva não atraía o poeta de “O Sentimento
dum Ocidental”, que se situa à margem do tom laudatório e exaltado de outros seus
contemporâneos. Com efeito, Cesário trabalhará a sua homenagem no arame frágil do paradoxo,
20
tratando os temas da épica (o mar, a viagem, o herói) por um prisma decetivo.
O mar está presente como elemento espacial, situando desde o título o sujeito do poema como
um ocidental, oriundo das mesmas mas tão mudadas praias que viram partir os descobridores; na
25 primeira secção, o sujeito desloca-se ao longo dos cais que figuram a possibilidade de partir, sim,
mas para outros – não para o “eu” errante, só, presa de um spleen [tédio] que lhe faz sentir como
fechado um espaço fisicamente aberto. Esse tema estende-se ao modo como é vista a gare de
onde partem os outros, “Felizes!”, para o mundo mítico da Europa cosmopolita (“Madrid, Paris,
30 Berlim, S. Petesburgo, o mundo!, I, 3”); notemos também como aos cais do presente, herdeiros
daqueles de que partiram as naus das Descobertas, se atracam agora botes (I, 5), caricaturas dessa
grandiosidade perdida, ou como a partir deles se avista ao largo “o couraçado inglês” (I, 7) que
representa o poderio estrangeiro e assinala a decadência e a impotência da pátria.
Paula Morão, “Ecos de Camões em Cesário Verde e em Nobre”, in Românica, Revista de Literatura, n.º 1/2,
Lisboa: Ed. Cosmos, 1992, p. 27.

1. O mar é, n’Os Lusíadas,


A. simultaneamente, um espaço real e perigoso.
B. um espaço com duplo significado: real e simbólico.
C. o espaço que permite a concretização de um sonho pessoal.
D. um espaço desejado, mas nunca navegado.

2. Cesário Verde homenageia Camões


A. num tom elogioso e elevado.
B. comungando a perspetiva nacionalista das comemorações d’ Os Lusíadas.
C. ao publicar a sua obra literária.
D. de modo marginal ao dos seus contemporâneos.

3. O “Sentimento dum Ocidental” adota uma perspetiva


A. subversiva do imaginário épico.

2
B. épica, de ações grandiosas e heróis sublimes.
C. eufórica para exaltar os antigos heróis nacionais.
D. pessimista causada pela sua fragilidade.

4. “Cesário Verde” (l.14), o “poeta de ‘O Sentimento dum Ocidental’” (ll.17-18) e


“Cesário” (l.19) contribuem
A. para a coesão interfásica.
B. para a coesão frásica.
C. para a coesão referencial.
D. para a coesão lexical.

5. No segmento “para o mundo mítico da Europa cosmopolita (“Madrid, Paris, Berlim,


S. Petesburgo,”) (ll. 26-27), os vocábulos sublinhados mantêm entre si uma relação
semântica de
A. meronímia-holonímia.
B. hiponímia-hiperonímia.
C. hiperonímia-hiponímia.
D. holonímia-meronímia.

6. Identifica a função sintática da expressão “de Cesário” (l. 15).


7. Indica o processo de formação da palavra “porta-bandeiras” (l. 17).
8. Indica o antecedente do pronome pessoal presente em “que lhe faz sentir como
fechado um espaço fisicamente aberto.” (ll. 25-26).

Grupo III (50 pontos)


Escrita

Na nossa Era surge o conceito de navegação associado à Internet. Esta, tal como a
navegação marítima dos marinheiros portugueses na época das descobertas, traz
benefícios e encerra perigos.

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de


trezentas palavras, apresenta uma reflexão sobre as vantagens e os riscos da navegação
na Internet.

Fundamenta o teu ponto de vista, recorrendo a dois argumentos, ilustrando cada


um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

3
4

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