A (60 pontos)
3. Atenta nos quatro versos finais da estância 106 e explica de que modo podem
encerrar uma valorização do Homem.
Leitura | Gramática
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Ecos de Camões em Cesário Verde
No cerne do poema épico de Camões está o mar, espaço percorrido pelas naus de Vasco da
Gama, mas também cenário mítico em que decorrem os vários planos da narração que
complexificam a temática do texto, fazendo da viagem à Índia a jornada simbólica em que
Camões retrata a saga dos Lusíadas. (…)
5 O mar das navegações é para o autor d’Os Lusíadas o símbolo ambíguo de Portugal (…).
O tempo passado vê-se elevado à categoria simbólica do Bem absoluto, com a glória, a harmonia
e o ideal coletivo por corolários; e o mar é o espaço da viagem aventurosa em busca de novos
mundos, é a possibilidade de partir, levando a outros lugares a energia positiva dos navegadores e
do povo que eles representam.
10 Uma tal perspetiva que coloca a par a visão épica e positivada do passado com um presente
decetivo e de impasse, tem múltiplos ecos na história literária nacional. Detenhamo-nos por agora
em dois exemplos disso, colhidos em textos de fins de oitocentos, período em que retorna essa
memória do passado histórico, como via da busca de um esteio que sustente o presente de
inquietação e de mudança: tomemos “O Sentimento dum Ocidental” de Cesário Verde (…).
15 O poema de Cesário foi publicado no número Portugal a Camões do Jornal de Viagens de 10
de junho de 1880, uma das edições comemorativas de um centenário que erigira Os Lusíadas e o
épico em porta-bandeiras do nacionalismo; tal perspetiva não atraía o poeta de “O Sentimento
dum Ocidental”, que se situa à margem do tom laudatório e exaltado de outros seus
contemporâneos. Com efeito, Cesário trabalhará a sua homenagem no arame frágil do paradoxo,
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tratando os temas da épica (o mar, a viagem, o herói) por um prisma decetivo.
O mar está presente como elemento espacial, situando desde o título o sujeito do poema como
um ocidental, oriundo das mesmas mas tão mudadas praias que viram partir os descobridores; na
25 primeira secção, o sujeito desloca-se ao longo dos cais que figuram a possibilidade de partir, sim,
mas para outros – não para o “eu” errante, só, presa de um spleen [tédio] que lhe faz sentir como
fechado um espaço fisicamente aberto. Esse tema estende-se ao modo como é vista a gare de
onde partem os outros, “Felizes!”, para o mundo mítico da Europa cosmopolita (“Madrid, Paris,
30 Berlim, S. Petesburgo, o mundo!, I, 3”); notemos também como aos cais do presente, herdeiros
daqueles de que partiram as naus das Descobertas, se atracam agora botes (I, 5), caricaturas dessa
grandiosidade perdida, ou como a partir deles se avista ao largo “o couraçado inglês” (I, 7) que
representa o poderio estrangeiro e assinala a decadência e a impotência da pátria.
Paula Morão, “Ecos de Camões em Cesário Verde e em Nobre”, in Românica, Revista de Literatura, n.º 1/2,
Lisboa: Ed. Cosmos, 1992, p. 27.
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B. épica, de ações grandiosas e heróis sublimes.
C. eufórica para exaltar os antigos heróis nacionais.
D. pessimista causada pela sua fragilidade.
Na nossa Era surge o conceito de navegação associado à Internet. Esta, tal como a
navegação marítima dos marinheiros portugueses na época das descobertas, traz
benefícios e encerra perigos.
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