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eu circulo d O exercicio jamais fechado da “ leitura conti exceléncia do aprendizado de sie do ‘outro, icles se Personalidade fixa, mas de uma identidade obetinedansents em devenir (Compagnon, 2009: 56-7), Depois de ter lido o capitulo anterior, o leitor ja tem uma nocao de como pro- mover o seu circulo de leitura, independentemente da denominagao que Ihe seja dada ou do local e do publico que ira participar. Neste capitulo final, vamos sintetizar € organizar uma proposta de circulo de leitura, imaginando um cenério em que seja construido enquanto comunidades de leituras e pratica de letramento literario. Como acreditamos ¢ defendemos que os circulos de leitura devem funcionar com 0S mesmos pressupostos dentro e fora da escola, ainda que com objetivos diferen- Gados, vamos apresentar as caracteristicas ¢ os passos de one umcirculo deleitura sem distinguir ambientes. Sempre que necessario, po ae - sibilidades de desenvolvimento que © que ¢ peculiar a cada ambiente e as pos do cihelioe 12 i ba que a metodologia @presentam. Nosso objetivo ¢ que 0 leitor rae fee circulo para 0 outro sao os mesma para si se alte! x todas as ocasides. O que interesses e di munidade de leitores ali se presentifica. se demais caracteristicas da co jidade de! que ; -realizados na sala de aula como parte das atividades da discipling Lingua Portuguesa ou Literatura. Também podem ser realizados na biblioteca da escola ou na biblioteca ptiblica do bairro ou da cidade. Nesses espacos, os circulos de lei. tura costumam ter um carater mais formativo e contar com o apoio institucional, Circulos de leitura deveriam fazer parte de todos os programas de leitura, Seja das bibliotecas publicas, seja das escolas. Outros espagos abrigam grupos menos institucionalizados ou formados livre. mente. Aqui as reunides podem acontecer em espagos comunitarios, como salées de igrejas, ou espacos publicos, como restaurantes, cafés ¢ livrarias. Ha circulos que se formam a partir de um grupo de amigos ¢ 0 encontros acontecem nas residéncias dos participantes alternadamente. Os circulos também podem funcionar combinados ou apenas no universo vir- tual. Um blog ou outra forma de escrita colaborativa na internet, tal como algumas bibliotecas oferecem, é a forma mais comum de constituicao de um circulo de leitura on-line. Hé escolas que usam o sistema moodle como ferramenta de discussao do grupo de leitores e ha circulos que se encontram em sala de bate-papo. Em um circulo de leitura, local de intera¢ao é importante para definir varias Saracteristicas, objetivos e modos de funcionamento, mas o que importa mesmo que haja interacao. Um circulo de leitura é essencialmente 0 compartilhamento organizado de uma obra dentro de uma comunidade de leitores que se constituiu para tal fim. TIPOS DE CiRCULOS DE LEITURA et © modo de funcionamento, podemos distinguir trés diferentes e circulos de leitura: SS Para montar © say cievlo de leita 159 enum diario de leitura as quais depois sio organizadas conf | assumida pelo leitor, tal como costuma acontecer nos sexless ae : ee da discussao, 0s alunos usam esses dados para alimentar a discussie, ne seguindo de perto as estratégias basicas de leitura (conhecimento prévio, conexao, inferéncia, visualizagao, perguntas ao texto, Sumarizacao e sintese). Apos a slabeelty os participantes registram as conclusdes que alcangaram no grupo. Esse modelo tem varias versOes, mas todas elas seguem um roteiro com atividades bem definidas para oacompanhamento da leitura, a discussao eo registro de conclusées, Circulo semiestruturado Esse tipo de circulo nao possui propriamente um roteiro, mas sim orientagbes que servem para guiar as atividades do grupo de leitores. Essas orientagdes ficam sob a responsabilidade de um coordenador ou condutor que da inicio a discussao, controla os turnos de fala, esclarece diividas e anima o debate, evitando que as contribuicdes se desviem da obra ou do tema a ser discutido. Também € responsa- bilidade do condutor que seja feito um aprofundamento ou alargamento da leitura, podendo demandar que o grupo se detenha em um ponto ou reveja algum aspecto anteriormente discutido. Circulo aberto ou nado estruturado Muito proximo da ideia que se tem de um clube de leitura, circulo aberto funciona em bases muito simples. Uma vez acordados as obras ¢ 0 cronograma das reunides, os participantes se revezam na condugao das reunides ¢ iniciam as discussdes falando de suas impress6es de leitura ou estabelecendo alguma conexao pessoal. A discussao se desenvolve como uma conversa entre amigos ou familiares, com a diferenga que tem como fonte a leiturt da obra, Mio ha regras a serem se- Buda a nao ser que o encontro sea para falar do testo aloe nao deoutras cosas ainda que nem sempre esse principio consiga ser mant importante detacar que esses iposnio sio excusvos podendo ser combi- 5 desse tipo de atividade precisam ser mais fortemente guiadg, mi bes do que aqueles mais maduros como leitores, Leitores nnale nao institucionais podem preferir circulos abertos que thes deem enn ‘0 compartilhamento de experiéncias. Circulos formados com fing ificos podem preferir 0 tipo estruturado ADS permite um controle maior dy Jeitura, Outros podem desejar alternar entre reunides em que as discussées Seguem ‘o tipo semiestruturado ¢ reunides do tipo aberto, Além disso, cada tipo de circulo apresenta vantagens e desvantagens do Ponty de vista do letramento literario. Se o circulo estruturado é eficiente no controle da leitura, ele também pode constranger essa leitura com suas Tegras. Seo circul ‘aberto favorece a livre expressio por um lado, por outro, pode se perder em dis. ‘Glssbes estéreis. Se o circulo semiestruturado tem um animador Para conduzire ‘Centralizar as discussées, também pode terminar como uma Prelacao disfarcada. Em sintese, os tipos sio apenas formas que podem orientar o funcionamento dos ‘Girculos de leitura ¢ nao formulas das quais nao podemos nos afastar sob 9 risco "dea experigncia desandar. icirculo de leitura é um encontro em torno bem-sucedido, de pessoas e textos. Para que um x € preciso que ambc estejam preparados ¢ as reunides “eeae n devidamente organizadas, Por igs« fundamentais:a selegio s, 2 disposicio dos participantes ¢ a sistematizagao das reunides. ‘obras @bedece x dois principios bisicos, 0 primeiro é que ale os de leitura, mas sim textos adequados aquelt luagdo depende das caracteristicas dos i Fora mower rev cro de tro 161 abtidos ~ pelo menos por meio digital -, nao faz sentido insistir pio apresenta elementos de atragdo para o leitor, Bom para doa ae desperta, inquieta ¢ demanda uma posigao do leitor, um texto na nos exigit © compartilhamento com alguém, users Pree A combinagio dessas duas qualidades em ‘i aso de um circulo constituido por leitores oe peters a pal ¢ interessado no simples compartilhamento das leituras, textos souracline pons de discutir podem ser buscados em sites de resenhas, em listas de premia- gbes, nas recomendagdes de amigos ¢ até na memoria individual de Jeitura, afinal, reler uma obra para compartilhar com o grupo tem um sentido todo novo que a Jeitura solitiria anterior nao poderia oferecer. No caso de um circulo de leitura constituido por leitores iniciantes, em um ambiente escolar, com os objetivos de desenvolver a competéncia literaria ¢ ampliar a formagio do leitor, os textos ade- quados sao naturalmente aqueles que favorecem esses objetivos, sem que deixe de yaler a maxima de que texto bom é aquele que ¢ bom para ler e discutir, ou seja, cabe ao professor apresentar aos seus alunos textos que lhe despertem 0 interesse eoslevem A discussao. O segundo principio é que os textos devem ser escolhidos pelos participantes. Naescola, essa escolha é, naturalmente, delimitada por seus objetivos formativos. A forma mais usual de conduzir essa escolha delimitada consiste em oferecer aos alunos uma lista de obras previamente selecionadas para serem escolhidas pela turma. Os textos devem ser levados para sala de aula eapresentados um a.um pelo professor, explicitando as razes da pré-selegao, 0 que pode ser feito com a ajuda de bibliotecaria ow responsivel pela biblioteca da escola. Os alunos devem poder Manusear esses textos ¢ escolher segundo uma ordem de preferéncia. £ importante ue lista seja ampla o suficiente para atender 08 varios interesses dos alunos. 3 Aopgio pode ser feita simplesmente inscrevendo o nome doaluno ao lado titulo ou ser um pouco mais elaborada, com 0 aluno escrevendo em uma ficha @ titulo do livro e a justficativa da sua escolha ¢ ordem ae eet a 44a justificativa se far em termos de-expectativa, pois 0 aluno vendo tempo de uma aula Pela primeira vez, Nao vale a pena usar mais que ° a *elegio eos livros nd precisam ser lidos por toda fur A que ficam para o semestre ou ane» is experientes em termos de lel ‘elaboragao da lista prévia com a turma, pasando a justificativa Para o momento indicacao da obra, da Aqui cabe lembrar que, a0 montar sua lista, o professor deve Jevar em con. sideragdo que os alunos nem sempre estio no mesmo nivel de leitura, mas ns diferencas podem ser compensadas pela dinimica interna dos grupos, Além disso, um pressuposto relevante da indicacao de leituras na escola nao Pode ser ‘esquecido: as obras devem contemplar diferentes niveis de dificuldades de leitura dentro do horizonte de competéncia da turma ¢, preferencialmente, ter ligagées Entire si, seja de ordem tematica, estilistica ou qualquer outro meio que leve o aluno @ perceber que a literatura funciona como um sistema com as referéncias de uma bra encontradas em outras.¢ que compreender essas relacbes ajuda a aprofundar @ interpretac3o dos textos. Fora da escola ¢ de ambientes institucionais similares, os Participantes devem, Sites de iniciar as reunides para a discussio da leitura, reservar todo um encontro, paras selecio das obras, fazendo a escolha para o semestre ou ano de uma nics wer Isto permite que s¢ faca um calendario de leituras, encontros ¢ locais, a orp mizagSo do circulo de leitura. © ideal é que cada membro apresente determinado dimero de obras ¢ justifique a indicacao para o grupo, seguindo Critérios pessoais 94 previamente determinados. Por consenso, o grupo escolhe as obras ¢ a ordem €m que elas vio ser lidas. © importante ¢ que todos participem da selegio. Tam *€ Preocupar com a forma como a obra vai ser adquirida pelo m0 seu objetivo ou foram lidas em menor espaco de W=mpe deve ter percebido que neste topico da selecio tivenoa® obras ou textos em lugar de livros. Embora o ro 163 Poramontar 0 seu eireulo de I faz presente em diversos meios, e seus produtos podem perfeitamente ser objetos dos circulos de Jeitura, sejam sozinhos ou combinados com livros. Pode haver, assim, um circulo de leitura que leia apenas filmes e outro que alterna entre filmes e livros. Também pode haver circulos que leem apenas obras de ficgao € outros que combinam varios tipos de obras, incluindo nao ficcao. Do mesmo modo, nada impede que um circulo de leitura se ocupe de fotografia ou os diversos quadros de um pintor ou de um movimento artistico, assim como combinar essa leitura com aleitura de livros que tratem desses temas. Canc6es, histérias em quadrinhos, contos orais e todos os meios em que a palavra se faz arte sao literatura ¢ podem ser objetos de leitura de um circulo de leitura. Nem mesmo a pratica usual da leitura do mesmo texto ao mesmo tempo por todos os membros do circulo de leitura precisa ser obedecida. Um circulo pode funcionar com a leitura de diferentes obras que sejam ligadas por um mesmo tema, um mesmo tipo de personagem, um mesmo artificio narrativo, escritas em uma mesma época, de um mesmo género ou obras que sejam do mesmo autor ou outro elemento que seja do interesse do grupo. Naturalmente, nesses casos nao se discute a obra em si mesma, mas sim o elemento das quais elas sao realizagoes ou exemplos, Sao leituras que focam preferencialmente sobre os modos de ler do contexto e do intertexto. A leitura de diferentes adaptacdes de uma obra classica ou a traducao de uma obra em diferentes linguas também é um recurso interessante para circulos de leitura que nao estao interessados em alguns dos aspectos da vida do texto além do texto em si mesmo. Como se percebe, as possibilidades sao muitas € 0 limite de selecao de obras para um circulo de leitura depende apenas da disposi¢ao de seus participantes em escolher como objeto de leitura os textos que lhes sio mais adequados enquanto uma comunidade de leitores. A disposicéo dos leitores CO interesse de um leitor em participar de um circulo de leitura pode ser resul- tado de muitos fatores, que vao desde a solidao nas grandes cidades até as obriga- es escolares, Ainda que relevante, s¢ja qual for esse interesse, o leitor precisa ser devidamente preparado para participar das discussées. Em um primeiro momento, essa preparagdo consiste em apresentar ou dar a conhecer sua historia de leitor. Na escola, o professor pode tragar um perfil Jeitor através de questionarios ou verificando as atividades de leitura (professor anterior da turma, consultando os registros da biblioteca ie 4 ee maduros podem dedicar a primeira reuniao do circulo para que os part = ‘se apresentem como leitores. Uma boa dica é que se sentem em circul ~ ‘um depoimento sobre as leituras que marcaram determinados petal api oo camegd favoritos ¢ assim por diante. Nada impede que, pi a = + Paralelamente atividade, uma ficha com perfil de leitor seja preenchida antecipadamente ee terercane de interesse de integrar 0 grupo ne , giv ‘histéria de leitor sto importantes para ajudar a posterior selecao di — para.o professor que a partir deles constr6i a s Oe eae ua lista prévia, seja ae. em determinadas obras com base ni es i maduros ase nos gost tes para ajudar a determinar a competéncia let ae compe: Miteraria, sobretudo no caso de e: x ime ' tena je estudantes. Pelo num forma como foram lidas, o professor pode trac aie - racar um quadro da competé es competéncia geral da ‘turma, assim como ividualmente. Depois, por mais interessad ste sado que o grupo esteja, professore: ie precisam entender que devemos ni ae a Ry toc cranes pare ae parar para ler determinadas " en para o desenvolvimento di oe eae a | ’ ie ee do leitor e de sua competéncia literiia,

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