Você está na página 1de 14

O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Índice

Introdução 1

O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura 2

Conclusão 11

Referências Bibliográficas 12

0
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina “Do Braille à Braillogia”,


inserida no Mestrado em Psicologia – Desenvolvimento Sensorial e Cognitivo e teve
como principal objectivo investigar acerca do Sistema Braille como meio de acesso à
informação e à cultura.
Frequentemente, no nosso dia-a-dia, não nos apercebemos que nem todas as
pessoas têm a mesma facilidade em ler e escrever. Infelizmente no mundo actual ainda
se encontra muito analfabetismo. Contudo, não são apenas estas pessoas que não
conseguem ler e escrever normalmente. Muitas vezes cruzam no nosso caminho,
pessoas para as quais a visão é um sentido inexistente. Quando isso acontece, muitos de
nós, ajudam-nas a atravessar a rua, a ultrapassar obstáculos e barreiras, mas, por vezes
não nos damos conta de como é difícil a vida para essas pessoas.

De acordo com Martin & Bueno, o défice visual traduz-se numa redução da
quantidade de informação que o indivíduo recebe do meio ambiente, restringindo a
grande quantidade de informação que este oferece e que é de tanta importância para a
construcção do conhecimento sobre o mundo exterior. Consequentemente, o deficiente
visual, pode apresentar (dependendo da gravidade do défice) um conhecimento restrito
do que o rodeia.

Deste modo, a leitura e a escrita a que estamos habituados, não é viável para o
invisual. Foi a pensar nisso que foi criado o Sistema Braille, com o objectivo de permitir
aos cegos a leitura e escrita.

O Sistema Braille, é então, um processo de leitura e escrita através de pontos em


relevo, e é usado, actualmente, em todo o mundo. Trata-se de um modelo de lógica, de
simplicidade e de polivalência, que se adapta a todas as necessidades dos utilizadores,
quer nas línguas e em toda a espécie de grafias, quer na música, matemática, física, etc.

Com esta invenção foram abertas as portas da cultura aos cegos, abrindo-lhes
novos horizontes de ordem social, moral e espiritual.

1
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Mourão (1995) refere que o homem é indissociável da cultura da sociedade a


que pertence. No decorrer da sua existência está continuamente sujeito às influências
culturais do seu grupo social. Cedo o comportamento do indivíduo deixa de ser
biológico para passar a ser biocultural.
Assim, pouco a pouco, a sociedade, por intermédio da família, vai impondo à
criança os seus padrões culturais.
Segundo Dias (1995), tradicionalmente, o homem transmitia os seus
conhecimentos através da linguagem falada, mas após o desenvolvimento da imprensa,
a leitura visual tornou-se o meio mais importante de acesso à informação.
Contudo, a impressão convencional não está ao alcance de todos e um dos
grupos afectados são os deficientes visuais.
No entanto, Guerreiro (1996) revela que, os cegos portugueses podem desfrutar,
na sua língua, de uma significativa “gota de água” do incomensurável “oceano” da
comunicação, da cultura, das ideias. O seu universo cultural tem vindo a redimensionar-
se e a ampliar-se numa perspectiva de grande acessibilidade, graças às novas
tecnologias da informação, mas é ainda muito reduzido relativamente ao dos
normovisuais.
Na nossa época, dita humanizada, Mourão (1995) afirma que, todo o indivíduo
deve ter a possibilidade de desenvolver ao máximo as suas potencialidades, para, assim,
poder realizar, em plenitude, a sua condição humana.
No entanto, segundo Guerreiro (1996) é ainda impossível acessibilizar à
generalidade das pessoas cegas tudo o que se publica no mundo. De acordo com o autor,
tem sido sobretudo por negligência e ausência de generosidade sociopolítica que
escasseia a informação e a cultura a que as pessoas cegas possam aceder com
independência.
O censo comum, segundo Maia (1996) associava à cegueira e à ambliopia um
mundo de trevas, de infelicidade, de impossibilidade de movimento, quase de
incapacidade de pensar.
O estereótipo cegueira físico/ cegueira mental foi ou é, ainda, de acordo com o
autor, uma verdade relativa porque durante séculos os cegos apresentavam-se perante a
sociedade tal como ela os via (salvo muito raras excepções). Isto compreende-se

2
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

facilmente, se pensarmos que aos cegos estava interdita a instrução, a educação, a


aquisição de hábitos sociais, porque estavam privados do convívio com os outros.
No século XVIII, época do pleno “Iluminismo”, surgiu em França um homem,
de seu nome Valentin Hauy, que acreditou na possibilidade dos cegos serem educados.
A experiência resultou, obviamente dentro dos conceitos em vigor na época, mas ficou
provado que os cegos são susceptíveis de aprendizagem e instrução desde que sobre eles
se exerça uma acção educativa (Maia, 1996).
Este facto é verdadeiro para qualquer cidadão.
Mas a grande revolução, o momento da grande libertação cultural veio no século
XIX, igualmente oriunda de França, tal como as ideias de Valentin Hauy.
Um homem francês, de seu nome Louis Braille inventou um sistema, que tem o
seu nome, o qual, segundo Maia (1996), é ainda hoje o mais perfeito, eficaz e rigoroso
processo de leitura e escrita para os cegos de todo o Mundo. Louis Braille era cego e
como tal percebia, plenamente, quais as características a que deveria obedecer um
sistema de leitura e escrita táctil. Como cego sabia quais as verdadeiras características
do tacto e da sua não analogia com a visão. Por isso o sistema Braille é tão perfeito para
o tacto e tão pouco atraente para os olhos.
A organização Lions Clube International (2006), aprofunda a origem do Sistema
Braille, referindo que tudo começou em 1812, quando um menino francês de três anos,
chamado Louis Braille, feriu o seu olho esquerdo. Desenvolveu uma infecção que se
difundiu para o olho direito. Em pouco tempo, a criança estava cega. Aos dez anos, os
pais de Braille matricularam-no no Instituto Nacional para Jovens Cegos, em Paris. Lá,
ele aprendeu a ler letras grandes, ampliadas. Contudo, devido ao tamanho das letras em
alto relevo, os livros para cegos eram muito caros.
Na mesma época, o Capitão Charles Barnier havia concluído a apresentação de
um código alfabético utilizado em comunicações militares nocturnas. Esse sistema
baseava-se numa série de pontos em alto relevo.
Combinando elementos dos dois sistemas, Braille, na época com quinze anos de
idade, inventou o seu próprio sistema de leitura de pontos em relevo.
Ruivo (1997) afirma que nas mãos, o tacto reside de um modo exclusivo,
principalmente na parte inferior das pontas dos dedos, onde, se for exercitado, pode
atingir uma grande capacidade discriminativa. A mobilidade própria das mãos permite
adaptação e acesso às características específicas dos objectos. Elas podem pegar,
empurrar, deslizar, levantar e tactear para reconhecer informação. Dos cinco milhões de

3
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

receptores do tacto, um terço estão localizados nas mãos, permitindo recolher e


transmitir ao cérebro, entre outras, informação sobre textura, pressão e temperatura.
A invenção e divulgação do sistema Braille é, segundo Maia (1996),
completamente revolucionária, porque é a partir daí que fica aberta aos cegos a
possibilidade de lerem e escreverem.
Após a invenção do conveniente e revolucionário instrumento intelectual que
veio proporcionar às pessoas cegas de todo o mundo o acesso à comunicação e à cultura
– o Sistema Braille – Guerreiro (1996) refere que, começaram a surgir em todos os
países, livros escritos em Braille, a princípio por processos manuais (utilizando-se a
régua ou a pauta Braille) e mais tarde por processos mecânicos (utilizando-se a máquina
dactilográfica) e informatizados.
De acordo com o autor, os primeiros livros escritos em Braille surgiram em 1854
na França. Em Portugal só começaram a aparecer livros escritos em Braille pouco antes
de 1890.
Guerreiro (2000), afirma que no final do século XX, muito foi conseguido a
nível mundial, no plano de acessibilidade das pessoas cegas à informação e à cultura,
mediante o recurso ao sistema de escrita e de leitura Braille, aos suportes em formato
áudio, o que se traduz num natural processo de autonomia de integração e interacção.
O nosso país encontra-se ainda mal equipado nestas áreas em relação a outros
países como França, Estados Unidos, Inglaterra e Espanha entre outros.
No entanto, é curioso, observar que em Lisboa se assiste a um alargamento da
acessibilidade ao seu farto universo histórico-cultural a umas largas dezenas de milhar
de cidadãos ávidos de informação e de esclarecimento por iniciativa e sob salvaguarda
da Câmara Municipal de Lisboa, através do seu gabinete de referência Cultural (Pólo
Interactivo de Recursos Especiais) e de «Dinamização Cultural».
O autor refere ainda, que tem vindo a ser realizado um trabalho adequado à
nossa realidade e a ser considerado no âmbito da integração sócio-intelectual e
pedagógico-didáctica das pessoas cegas, inéditos e com algumas repercussões a nível
internacional.
Devido aos serviços de produção e de utilização (pelo menos os portugueses),
Guerreiro (2000) afirma que, temos cerca de 300 pessoas cegas com formação de
licenciatura, mestrado e até doutoramento inclusive, em Matemática e em Biologia.

4
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Aceder à informação e à cultura é, para o autor, estar em constante actualização


e evolução, visto que, vitalmente, é no universo complexo com variadas facetas e de
diversas dimensões da comunicação que tudo se gera e se desenvolve.

Guerreiro (2000) acrescenta que as pessoas cegas não são em nada diferentes das
normovisuais, no que concerne à propensão para este ou para aquele domínio do
conhecimento. Todos temos necessidades e preferências culturais mais ou menos
definidas, todos precisamos de informação e de cultura para que legitimemos o nosso
sentido de vida na nossa comunidade de inserção ou de reinserção.
O autor, refere nomes como Suyin, Herskovits e Jacob para uma definição de
cultura: uma perspectiva de futuro e como factor essencial de diferenciação e
identificação na sociedade e no mundo. Todo o ser humano se realiza numa dimensão
histórica, recebendo-a de braços abertos, repensando-a ou modificando-a de acordo com
as normas do contexto social em que está inserido.
As interacções humanas, nas suas condições e consequências, são, segundo
Guerreiro (2000), geradoras de conduta humana da formação da personalidade
individual pelo que se assume numa forma embrionária (de aprendizagem) e num ajuste
individual (comportamento do indivíduo ao longo da sua existência).
A história de vida é muito importante para a formação, tendo em conta a família,
o círculo de amigos, os mass média, professores, escola, etc.
Assim, o autor refere que, a cultura é o que o indivíduo adquire ao longo do
tempo, em contacto com o meio social, e que transmite às gerações sucessivas
constituindo um elemento precioso, que permite ampliar os recursos com que a natureza
o dotou.
Outros autores como Rodrigues (1987), Eliot (1996), Bragança de Miranda
(1998), Albuquerque e Castro citados por Guerreiro (2000) também integram esta forma
de pensamento.
Para os autores supracitados, a cultura, em todas as circunstâncias e processos
comunicacionais, ajuda-nos a crescer e prepara-nos para a assimilação dos conceitos.
Promove a incursão e automatização nas nossas mentes de valores intelectuais,
comportamentos e regras de conduta cívica, social e moral, que disciplinam a nossa
interdependência e inter-relação na sociedade. Permite ainda, a afirmação da nossa
personalidade com a necessária capacidade de tolerância e de determinação no
estabelecimento de equilíbrios sócio-intelectuais e culturais, na sociedade.

5
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

A cultura deverá mobilizar-nos no sentido de nos mantermos vigilantes,


coerentes, pacíficos e pacifistas, úteis e profícuos à sociedade humana e a nós próprios
(Guerreiro, 2000).
O défice sensorial impõe às pessoas cegas profundas limitações ao acesso à
informação e à cultura e, por vezes, nem mesmo o Braille pode ultrapassar esta
limitação.
Guerreiro (2000) está ciente de que é impossível para a generalidade das pessoas
cegas, aceder a tudo o que se publica a nível mundial, da mesma forma que tal não é
possível fazê-lo para as pessoas normovisuais, atendendo a obstáculos designadamente
de natureza logográfica, idiomático-linguística, preferencial, técnico-funcional,
ergonómica, etc.
No entanto, para o autor, saber Braille é um suporte que permite aceder ao
infinito mundo da informação e da cultura que por sua vez contribui para a eficácia de
ampliação e rentabilidade das inesgotáveis potencialidades do ser humano, seja ele cego
ou não. Saber Braille faculta novos horizontes culturais e facilita a integração ou por
vezes, a reinserção social aos mais diversificados níveis.
A cultura leva o ser humano à sua realização que por sua vez contribui para o
bem da comunidade e toda a sociedade humana.
Actualmente, as pessoas cegas podem também conciliar a utilização do suporte
permanente de ecrã de papel branco, com o rígido ecrã de vidro audiovisual ou
informático. Ou seja, o inconfundível e sempre nobre lugar dos signos onde se elucida o
sentido do mundo, o livro, com o suporte evolutivo, de que o CD – ROM já oferece um
modelo (Guerreiro, 2000).
O século XX, foi o século da informação, tal como o século XIX foi o século da
produção industrial.
A primeira revolução foi no século passado: Escrita/Braille ou melhor a
acessibilidade ao instrumento intelecto-social.
Como já foi referido anteriormente, o braille teve origem num sistema inventado
por Charles Barnier de la Serre, criado para permitir descodificar mensagens militares
na obscuridade. Louis Braille, ainda jovem, criou, a partir daquele método, um sistema
que adoptou o seu nome, vindo a revolucionar a educação de cegos, pois pela primeira
vez foi possível estes terem acesso à escrita e à leitura de uma forma fácil e acessível ao
seu modo táctil de leitura (Ruivo, 1997).

6
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Louis Braille chegou à conclusão que o conjunto total de pontos da célula


geradora não podia ser superior a seis, pois se fosse ultrapassado o espaço da tactilidade
da polpa de um só dedo era perdida a possibilidade de ler com rapidez. De acordo com
Ruivo (1997), o braille mantém ainda hoje as proporções criadas pelo seu autor. Estas
baseiam-se na necessidade das impressões terem de ser alteradas para haver estimulação
táctil, e os geradores do estímulo, os pontos braille, para serem reconhecidos como
coisas distintas, têm de ter entre si distâncias superiores a 2mm. Daqui resulta que o
braille não se amplia nem se reduz, mantém sempre a mesma escala.
O sinal fundamental, célula braille ou geradora, é composto por seis pontos,
ordenados em duas colunas de três pontos cada. Desta célula derivam os agrupamentos
de pontos que formam todas as letras do alfabeto, sinais de pontuação, diacríticos,
numeração, símbolos matemáticos, químicos e de música. Como as combinações dos
seis pontos são limitadas, alguns sinais são compostos por elementos de duas células,
como é o caso dos sinais representativos de números (Ruivo, 1997).
De acordo com a Comissão de Braile (2002), a Grafia Braille da Língua
Portuguesa consiste no conjunto do material signográfico e das
instruções/recomendações orientadoras da sua utilização na escrita. Assim, deverá ser
instituído como objectivo persistente para todos, o completo conhecimento do
respectivo código e a sua correcta aplicação, pois a boa qualidade gráfica dos textos
transmite aos leitores uma saudável influência educativa. Deste modo, é facilitada a
assimilação de padrões propiciadores da melhoria do nível de desempenho, quer na
leitura quer na escrita.
O Braille escreve-se a partir de 63 sinais, obtidos pela combinação de seis
pontos em relevo, dispostos em duas colunas, com três pontos cada, formando a
chamada célula Braille (Dias, 1995).
Segundo a Organização Lions Clube International (2006), dois séculos depois, o
sistema Braille continua em uso, contemplando diversas formas:
Braille literário americano;
Braille britânico;
Braille para computador;
Braille de grau 1;
Braille literário (grau 2);
Braille musical;

7
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Braille em código Nemeth;


De acordo com a Organização, a reglete e o punção foram os primeiros
instrumentos utilizados para escrever Braille. A reglete é um pequeno artefato articulado
com orifícios na parte superior e reentrâncias na parte inferior. O punção é um tipo de
caneta que permite perfurar os pontos numa folha de papel.
A invenção seguinte, para as comunicações em Braille, ficou conhecida como a
máquina de escrever em Braille. Semelhante a uma máquina de escrever, as máquinas
Braille têm um teclado com apenas seis teclas e uma barra de espaço. As máquinas
Braille produzem células Braille em relevo sobre o papel.
Através destes instrumentos, foi possível possibilitar às pessoas cegas o acesso à
informação e a divulgação das suas ideias, ideais, etc.
Desbravado que foi o caminho, o acesso à instrução e ao saber começou
lentamente. Os indivíduos portadores de deficiência visual começaram a instruir-se e a
submeter-se às provas legais que lhes conferem os diversos graus académicos. Uma vez
instruídos e educados, o seu grau de consciência de cidadania aumenta na proporção do
seu conhecimento do Mundo (Maia, 1996).
Cultivado, definitivamente, o acesso ao saber mediante a invenção desse
extraordinário instrumento de trabalho (Sistema Braille), tolerada, ainda que lentamente,
a presença, cada vez mais significativa, dos cegos na escola, até se chegar ao pleno
direito de as frequentar, consagrado por Lei, equacionam-se, não a capacidade dos
cegos “aprenderem”, mas as formas e os modos como os cegos participam e
percepcionam a vida e a sociedade em que estão inseridos.
Presentemente, as sociedades industriais, como a nossa, privilegiam, de modo
crescente, formas de comunicação visuais. A imagem e as mensagens por ela
transmitidas são, segundo Maia (1996), cada vez mais importantes e chamativas. Basta
pensarmos nos anúncios, nos cartazes, nas montras, nos placares dos transportes
públicos, nas prateleiras dos supermercados ou nas montras dos restaurantes para
percebermos quão grande é a desvantagem que os cegos têm perante estas formas de
informação.
Estudos recentes indicam que entre 80 a 85% da informação é obtida através do
sentido da visão.
Calcular-se-á sem dificuldade a enorme desvantagem que têm os cegos e o
grande e permanente esforço que têm que fazer, para se manterem informados acerca
dos acontecimentos que se desenrolam à sua volta.

8
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

De acordo com Maia (1996), vivemos num mundo que não foi nem está
organizado em função dos que não vêem e que para se manterem a par desse mesmo
mundo o enfrentam comunicando com quatro sentidos apenas, sabendo-se que aquele
que lhes falta é o de maior peso e impacto social na comunicação interpessoal.
Mas cultura não é somente ler livros e frequentar a escola com boas notas.
Cultura é, também, o gosto pelo desporto, a música, o teatro, pelos passeios e pelas
obras de arte que pelo seu valor são pertença da Humanidade inteira.
Maia (1996) refere que, o desporto é hoje em dia perfeitamente praticado pelos
deficientes visuais; assim como a música é uma expressão artística plenamente ao
alcance dos cegos. Quanto aos passeios, ao teatro e às obras de arte necessitam de uma
diferente forma de conhecimento, que é a descrição oral feita por pessoas de visão
normal que têm a disponibilidade interior de descreverem com detalhe, precisão e
agrado, aquilo que vêem para que o cego saiba o que o rodeia. Apreciar um lugar
agradável não é privilégio unicamente dos que têm olhos. A temperatura, o som, o
espaço, a exuberância da natureza são aspectos agradáveis que podem ser apreciados
pelos restantes sentidos que não a visão.
A grande predominância do sentido da visão, nas nossas sociedades é, sem
dúvida, a grande responsável pela desvalorização das formas de conhecimento que os
outros sentidos proporcionam (Maia, 1996).
Nos últimos anos, segundo Ruivo (1997), têm sido desenvolvidas, no âmbito das
novas tecnologias, extraordinárias hipóteses para os utilizadores de Braille. É hoje
possível ler textos por “scanner” e transformá-los em Braille, ou ler com voz sintética o
écran do computador, se se dispuser dos periféricos adequados. Os novos meios e redes
de informação e de comunicação estão a permitir, às pessoas cegas, novas, aliciantes e
incomensuráveis hipóteses de acesso à cultura.
De acordo com a Organização Lions Clube International (2006), na década de
80, foi desenvolvido um software de computador para Braille. Recursos adicionais
incluem software de reconhecimento de voz, teclados especiais para computador e
scanners ópticos. Esses dispositivos são capazes de processar e traduzir documentos de,
e para Braille. De um modo geral, cada página de material impresso rende 2 ou 3
páginas em Braille. Os programas de Braille mais recentes conseguem produzir páginas
em frente e verso.

9
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Certo está, que muito se tem feito para permitir o acesso à cultura e informação,
no entanto, este não é um processo de baixos custo e que portanto, pode não estar
acessível a todas as pessoas.

10
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Conclusão

“Não se pode educar as crianças sem livros….”, dizia Louis Braille a seu pai.
Hoje, também devemos repetir esta afirmação tanto às crianças cegas como aos
professores em geral e, fazer com que as crianças cegas percebam que não existe uma
única forma de “ver”, de “escrever” ou de “ler”; devemos fazer compreender que a
comunicação pode-se revestir de muitas e variadas formas.
Segundo Baptista (2000), “a capacidade para intelectualizar os dados captados
pelo cérebro através dos sentidos, eleva o ser humano acima da simples animalidade,
fazendo dele um animal racional. Portanto, o papel desempenhado pelos sentidos
constitui condição essencial para o desenvolvimento das potencialidades humanas no
relacionamento com o meio físico e social e para a afirmação das capacidades
superiores da espécie. Mas os sentidos não concorrem para este fim, todos na mesma
medida. Uns captam maior quantidade e maior variedade de dados do que outros.”
Alguns especialistas dizem que cerca de 80% da informação que chega ao
cérebro é veiculada através do sentido da vista; outros limitam-se a afirmar que através
deste sentido passa mais informação do que por todos os outros sentidos juntos. De
qualquer forma, ninguém duvida de que, dos cinco sentidos, o da vista desempenha um
papel fundamental no desenvolvimento equilibrado do indivíduo, permitindo-lhe
socializar-se através da imitação.
A falta ou diminuição do sentido da vista acarreta, deste modo, um enorme
défice de informação, o que gera um grande número de situações de deficiência, desde
as que apresentam apenas efeitos sociais ligeiros, até às que podem sub-humanizar o
indivíduo, se não se adoptarem procedimentos adequados.
A visão, como sentido unificador de toda a actividade sensorial, contribui
predominantemente para a informação e formação dos indivíduos, o que ocasiona
sérias desvantagens para os deficientes visuais. Contudo, o grau desta desvantagem
pode ser consideravelmente atenuada se, na educação, na reabilitação e na informação
profissional, forem aplicadas técnicas adequadas, se forem convenientemente
explorados e implementados os recursos tecnológicos apropriados; e se forem adoptadas
medidas sociais justas para compensação da deficiência.

11
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

Referências Bibliográficas

ACAPO (2007). http://www.acapo.pt/services.asp?id=351

BAPTISTA, J., ANTÓNIO, S. (2000). A invenção do Braille. Lisboa:


Secretariado Nacional para a reabilitação e Integração da Pessoa com Deficiência

COMISSÃO DE BRAILLE (2002). Grafia Braille para a Língua Portuguesa.


Lisboa: Ministério da Educação. 3ª edição.

DIAS, M. (1995). Ver, Não Ver e Conviver. Secretariado Nacional de


Reabilitação: Lisboa.

GUERREIRO, A. (1996, Agosto-Dezembro.). Síntese no Espaço e no Tempo de


uma Especificidade Cultural em Portugal: Acessibilidade das Pessoas Cegas à
Informação e à Cultura, 11, 10-21.

GUERREIRO, A. (2000). Para uma Nova Comunicação dos Sentidos. Lisboa:

Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência.

MAIA, M. (1996, Agosto-Dezembro). Os Cegos e a Cultura. Integrar. 11, 26-


29.

MARTIM M. F., BUENO, S. (1997). Deficiente Visual e Acção Educativa. In


Bautista, R. et al. Necessidades Educativas Especiais (pp.317-345). Lisboa: Dinalivro
(1ª ed.).

MOURÃO, A. (1995, Dez./Jan./Fev./Mar.). A Integração social do deficiente


visual. Integrar, 6, 23-25.

MOURÃO, A. (1995, Ag./Set./Out./Nov.). O Ensino de Musicografia: Braille


por Correspondência, 8, 21-22.

12
O Braille como meio de acesso à Informação e à Cultura

ORGANIZAÇÃO LIONS CLUBE INTERNATIONAL, (2006).


http://www.lionsclubs.org/PO/content/vision_services_braille.shtml

RUIVO, A. (1997, Out./Dez.). A Aprendizagem da Leitura Braille. A Educação


em Revista – NOESIS, 44, 45-48.

VAZ, S. (2002). Comunicação Verbal: O Sistema Braille. Departamento de


Engenharia Informática - Universidade de Coimbra.
http://student.dei.uc.pt/~svaz/comunicacao%20braille.doc

13

Você também pode gostar