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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE

FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE


DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

CURSO DE QUÍMICA
LICENCIATURA

EXPERIMENTO 02: DETERMINAÇÃO DA ENTALPIA E ENTROPIA DE


DISSOLUÇÃO DE UMA SUBSTÂNCIA

ELIVELTON SANTOS DA SILVA

CARLOS DA SILVA ALVES

Relatório referente à disciplina de Físico-Química Experimental


Ministrada pela Profa. Dra. Adriana Evaristo de Carvalho

DOURADOS-MS

MARÇO/2020
1. INTRODUÇÃO

Calor de dissolução representa a variação de entalpia que resulta na formação de


uma solução de concentração específica, a partir de 1 g/mol do composto e o número de
g/mol de água líquida. Com esses dados pode calcular-se o calor total de formação de
uma substância dissolvida [1]. O ramo da química que estuda o calor absorvido ou
produzido em transformações físico-químicas, baseadas nos princípios da
termodinâmica, é chamado de termoquímica. No qual esses tipos reações físico-químicas,
costumam serem representadas na forma de equações, chamadas de equações
termoquímicas. Distinguidas muito pouco das equações químicas comuns; que
diferentemente, não informam a variação de entalpia, a pressão e nem temperatura de
transformação. Com poucas ressalvas, informam os estados físicos dos reagentes e dos
produtos. E é com base nesses conhecimentos, que são estudas muitas propriedades
curiosas e relevantes para a termoquímica. Tais como a determinação do equivalente em
água de um calorímetro, e o calor de neutralização das reações exotérmica de ácidos e
bases fracas [2].

A solubilidade de um soluto é a massa do soluto que pode ser dissolvida numa


certa quantidade de solvente a uma determinada temperatura. Usualmente, a solubilidade
é expressa em gramas de soluto por 100 mL (100 cm³) ou por 100 g de solvente a uma
dada temperatura. A interação entre um soluto e um solvente determina quanto soluto
pode se dissolver [3].

Para uma reação química em equilíbrio temos que [4, 5]:

𝛥𝐺° = −𝑅𝑇𝑙𝑛𝐾 (1)

Em que T é a temperatura termodinâmica, R é a constante universal dos gases, K


é a constante de equilíbrio e ΔG° a variação da energia livre de Gibbs padrão.
Considerando que a constante de equilíbrio é uma função da temperatura, a equação 1
fornece:

𝑑𝑙𝑛𝐾 𝛥𝐻°
1 = − (2)
𝑑( ) 𝑅
𝑇

1
Para um processo reversível que ocorre à pressão constante, temos que a variação
de entropia do sistema é dada por:

𝛥𝐻°
𝛥𝑆° = (3)
𝑇

Assim sendo, a partir da equação 2, a variação de entropia pode ser obtida


experimentalmente através da equação:

𝑑𝑙𝑛𝐾 𝛥𝑆º
= (4)
𝑑𝑙𝑛𝑇 𝑅

A equação 2, ou equação de van't Hoff, mostra que um gráfico de ln K em função


de 1/T terá coeficiente angular positivo se a reação for exotérmica, e coeficiente angular
negativo se a reação for endotérmica. Um coeficiente angular positivo significa que o
valor de ln K aumenta à medida que T diminui, isto é, a reação não é favorecida por
aumento de temperatura: ela é exotérmica. O mesmo raciocínio pode ser feito no caso de
reações endotérmicas.

Considerando a dissolução de um sólido (X), por exemplo, em água,

X(s) → X(aq) (5)

temos que a relação entre a constante de equilíbrio e a solubilidade (s) de X será dada por
Kps= [X] = S [6]. Portanto, para o equilíbrio de solubilidade, as equações 2 e 4 podem
ser reescritas como:

𝑑𝑙𝑛𝑆 𝛥𝑑𝑖𝑠𝐻º
1 =− (6)
𝑑(𝑇) 𝑅

𝑑𝑙𝑛𝑠 𝛥𝑑𝑖𝑠𝑆º
= (7)
𝑑𝑙𝑛𝑇 𝑅

2
Nas equações 6 e 7, as grandezas ΔdisHº e ΔdisSº são, respectivamente, as
variações de entalpia e de entropia molares padrões associadas ao processo de dissolução.
Assim sendo, a determinação experimental da constante de equilíbrio da reação de
dissolução de um sólido em função da temperatura permite determinar as variações de
entalpia (calor de dissolução) e de entropia associadas a este processo.

2. OBJETIVOS

2.1.Objetivo Geral: determinar a entalpia e entropia de dissolução de uma


substância.
2.2.Objetivos específicos: Medir a solubilidade do ácido benzoico saturado em
diferentes temperaturas e determinar a variação de entropia e entalpia a partir
de gráficos.

3. METODOLOGIA

3.1. Materiais e Reagentes

2 Termômetro com resolução 1°C, Bastão de vidro


até 100° C
4 Erleynmayers de 125 ml
Espátula metálica
Ácido benzoico (C6H5COOH)
Balão volumétrica de 100 ml
Ácido oxálico (HO2CCO2H)
Béqueres de 500 ml
Hidróxido de sódio (NaOH) 0,1088
Pipeta graduada de 20 ml mol/L

Bureta de 10 ml Solução de fenolftaleína

3.2. Procedimentos Experimentais

Os seguintes reagentes foram devidamente preparados pelos técnicos do


laboratório. Utilizou-se 100 mL de solução aquosa de NaOH, aproximadamente 0,1
mol/L, já padronizado com ácido oxálico.

3
Utilizou-se 100 mL de solução aquosa saturada de ácido benzoico a cerca de
80ºC, aquecida a solução em banho-maria.

Com o auxílio dos banhos-maria foram realizados 4 procedimentos de titulação


com temperaturas de 65, 55, 45, 35°C e a segunda bateria de análise aferiu-se a
temperaturas de 60,50,40,30°C nos banhos-maria. (A utilização deste procedimento foi
crucial para facilitar e encurtar o tempo em nosso experimento, pois foi necessário
aguardar a queda de 5 °C de uma etapa para outra dos 4 respectivos banhos-maria).

Realizou-se a filtração simples do ácido benzoico de cada banho para garantir


sua pureza nos respectivos banhos-maria, não sendo necessário utilizar algodão na ponta
da pipeta como foi pedido no procedimento. Mantivemos os banhos nessas temperaturas
por cerca de 10 min, agitou-se periodicamente a solução de ácido benzoico com o auxílio
de um bastão de vidro.

Em seguida garantiu-se o atingimento do equilíbrio de solubilidade, com o


auxílio de uma pipeta graduada, retirou-se uma amostra de aproximadamente 5 mL do
sobrenadante da solução saturada de ácido benzoico e transferiu-se, rapidamente esta
amostra para um Erlenmeyer de 125 mL. Diluiu-se em 20 mL de água destilada e em
seguida adicionou-se 3 gotas de fenolftaleína como indicador.

Logo após realizou-se a titulação das soluções de ácido benzoico contidas nos
Erlenmeyer com as diferentes temperaturas, utilizou-se a solução de NaOH previamente
padronizada com auxílio de uma bureta graduada, até que a solução de ácido benzoico
chegasse em seu ponto de equilíbrio alterando a sua coloração de transparente para rose.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores obtidos para os volumes usados de base para as temperaturas estão listados
na tabela 1:

4
Tab 1. Volume da espécie básica utilizada na titulação

Titulações Temperatura/K NaOH/mL

1 338,15 2,45

2 333,15 2,60

3 328,15 2,35

4 323,15 2,55

5 318,15 2,35

6 313,15 2,45

7 308,15 2,25

8 303,15 2,00

Utilizamos 8 titulações para termos uma gama maior de dados, para termos mais
confiança quanto aos resultados. Percebe-se na tabela 1 dois valores do volume de NaOH,
utilizados para a titulação, idênticos. Optou-se por retirar dos dados 3 desses volumes de
titulação que diferem do comportamento, sendo elas: 2,45; 2,35 e 2,35. Sabendo que,
esses pontos que apresentariam divergência quanto a reta (apresentada posteriormente),
por mostrarem uma constante na reta, ao serem retirados, não interferem na inclinação da
mesma.

As concentrações do ácido benzoico foram obtidas através da equação 8:

𝐶1. 𝑉1 = 𝐶2. 𝑉2 (8)

Onde C1: é a concentração do ácido benzoico;

V1: volume da alíquota do ácido benzoico;

C2: concentração de NaOH;

V2: volume de NaOH gasto na titulação.

5
Titulação 2: C1.V1 = C2.V2

𝐶1. 5𝑚𝐿 = 0,1088 𝑥 2,6𝑚𝐿

𝐶1 = 0,0566

Repetiu-se este cálculo para as titulações 4, 6, 7 e 8. As concentrações estão


listadas na tabela 2:

Tab 2. Concentrações do ácido benzoico em diferentes temperaturas

Titulação Temperatura em K Concentração

2 333,15 0,0566

4 323,15 0,0554

6 313,15 0,0553

7 308,15 0,0490

8 303,15 0,0445

Nota-se que a concentração de ácido benzoico diminui conforme o decaimento da


temperatura. Percebe-se a tendência da solubilidade do ácido benzoico aumentar com o
incremento da temperatura, isso geralmente ocorre quando o soluto é dissolvido com
absorção de calor, o que denominamos de dissolução endotérmica [7].

Com os valores de concentração podemos partir para o cálculo do logaritmo


natural de Kps. Sabendo que Kps= [X] = S, temos para a titulação 2:

ln [S]= ln 0,0566

ln= -2,87

Repetiu-se este cálculo para as titulações 4, 6, 7 e 8. Os valores dos respectivos


logaritmos naturais estão listados na tabela 3:

6
Tab 3. Valores dos logaritmos naturais em diferentes concentrações

Titulação Concentração ln[S]

2 0,0566 -2,87

4 0,0554 -2,89

6 0,0553 -2,89

7 0,0490 -3,02

8 0,0445 -3,11

Encontramos nossos logaritmos naturais para cada solubilidade.

A tabela 4 apresenta os valores do inverso da temperatura, para aplicarmos na


equação 6:

Tab 4. Valores de lnS em função do inverso da temperatura

Titulação lnS 1/T (K-1)

2 -2,87 0,00300

4 -2,89 0,00309

6 -2,89 0,00319

7 -3,02 0,00325

8 -3,11 0,00330

Através dos dados da tabela 4, pode-se plotar o gráfico para encontrarmos o


coeficiente angular da reta, como mostrado no gráfico 1:

7
Gráf.1: Variação do logaritmo natural da solubilidade em função do inverso da
temperatura.

0,00335

0,0033

0,00325

0,0032
lnS

0,00315

0,0031
y = -2,9596x + 0,00226
0,00305

0,003

0,00295
-3,15 -3,1 -3,05 -3 -2,95 -2,9 -2,85
1/T

Para determinar o ΔdisHº, utilizamos a equação 6:


𝑑𝑙𝑛𝑆 𝛥𝑑𝑖𝑠𝐻º
1 =−
𝑑(𝑇) 𝑅

𝛥𝑑𝑖𝑠𝐻º = −(−2,9596) 𝑥8,314


𝛥𝑑𝑖𝑠𝐻º = 24,61 kJ.mol-1

Observa-se que o valor de ΔdisHº é positivo, trata-se de uma reação endotérmica,


em que ΔdisHº>0. O valor de ΔdisHº encontrado é de 24,61 kJ.mol-1, que se aproxima do
valor encontrado na literatura de ΔHº= 25,984 kJ.mol-1 a 31,41 kJ.mol-1.

Temos que o lnS em função do lnT, para encontrarmos nosso coeficiente angular
da reta:

Tab 5. Valores de lnS em função do ln da temperatura

Titulação lnS lnT

2 -2,87 5,81

4 -2,89 5,78

8
6 -2,89 5,75

7 -3,02 5,73

8 -3,11 5,71

Através dos dados da tabela 5, pode-se plotar o gráfico para encontrarmos o


coeficiente angular da reta, como mostrado no gráfico 2:

Gráf.2: Variação do logaritmo natural da solubilidade em função do logaritmo natural


da temperatura.

-2,8
5,7 5,72 5,74 5,76 5,78 5,8 5,82
-2,85

-2,9

-2,95
y = 2,307x - 16,235
lnS

-3

-3,05

-3,1

-3,15
lnT

O gráfico mostra que ao aumentar a temperatura, a desordem do sistema também


aumenta, ou seja, para a entropia, este é um processo espontâneo, já que a desordem tende
a acontecer espontaneamente.

Para determinar o ΔdisSº, utilizamos a equação 7:


𝑑𝑙𝑛𝑠 𝛥𝑑𝑖𝑠𝑆º
=
𝑑𝑙𝑛𝑇 𝑅

𝛥𝑑𝑖𝑠𝑆º = 2,307 𝑥8,314

𝛥𝑑𝑖𝑠𝑆º = 19,18 kJ.mol-1

9
5. CONCLUSÃO

Em suma, concluímos que a temperatura influencia diretamente na solubilidade


das substâncias, aqui representada a solubilidade do ácido benzoico, como é relatado na
literatura. Conclui-se que a variação de entalpia é positiva, sendo um processo
endotérmico, podemos expressar como uma reação não espontânea, no entanto, a
literatura aborda que exista reações endotérmicas espontâneas. Já a desordem do sistema
é um processo espontâneo. Assim sendo ΔH é positivo, assim como ΔS, o ΔG depende
diretamente da temperatura para haver uma espontaneidade.

6. REFERÊNCIAS

[1]. HOUGEN, O.A., Watson, K.M., RAGATZ, R.A., Princípios dos Processos
Químicos, Vol. 1, Lopes da Silva, 1984.

[2] ATKINS, P. W. - Físico-Química – 6ª edição, vol. 1. Editora LTC. Rio de Janeiro,


2001.

[3] UCKO, David A. Química Para as Ciências da Saúde – Uma introdução à química
geral, inorgânica e biológica. Tradução de José Roberto Giglio. 2ed. São Paulo: Manole,
1992.

[4] ATKINS, P. W.; DE PAULA, J. Físico-Química. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC/GEN,


2012. v. 1.

[5] LEVINE, 1. N. Físico-Química. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC/GEN, 2012. v. 1.

[6] SILVA, R. R.; BOCCHI, N.; ROCHA-FILHO, R. C.; MACHADO, P. R L. Introdução


à química experimental. 2. ed. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

[7] FILHO, O, C.; RASMUSSEN, P. Solubities of Salts in Mixed Solvents. J. Chem. Eng.
Data, v.38. 367-369, 1993.

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