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ARON LOPES PETRUCCI

METODOLOGIA PARA SELEÇÃO DE CONFIGURAÇÃO DE

SISTEMAS PREDIAIS DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES QUE

ABRIGUEM MÚLTIPLAS ECONOMIAS

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção do
título de Doutor em Engenharia.

São Paulo
2001
ii
ARON LOPES PETRUCCI

METODOLOGIA PARA SELEÇÃO DE CONFIGURAÇÃO DE


SISTEMAS PREDIAIS DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES QUE
ABRIGUEM MÚLTIPLAS ECONOMIAS

(Volume 1)

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção do
título de Doutor em Engenharia.

Área de Concentração:
Engenharia de Construção Civil e Urbana

Orientador:
Orestes Marraccini Gonçalves

São Paulo
2001
iii

Aos meus filhos Mariana e André e à


minha esposa Regina, que têm sido
minha fonte de inspiração e meu porto
seguro. Que Deus os guarde, e
recompense sua infinita compreensão.
iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, princípio e finalidade de toda a


caminhada humana. Senhor, que seja feita sempre a Sua vontade.

Ao meu pai, Braulio Petrucci, que acompanhou mais essa etapa de


minha vida escolar com o mesmo carinho e dedicação apresentados desde aquele
dia em que me ensinou a ler. Pai, quero ser para os meus filhos ao menos um pouco
do pai és para mim.

À minha mãe, Dirce Ap. Lopes Petrucci, que sempre, com


carinho, amor e muito senso de responsabilidade me levou pela mão em todas as
escolas da vida. Mãe, mais um diploma que também é seu.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves, pela


segura orientação, e principalmente por nunca se contentar com um trabalho que
estivesse aquém de nossa máxima possibilidade. Prof. Orestes, espero ser para
meus alunos um professor como fostes para mim.

Ao casal, Hilda e Martim Gonçales, pelo comprometimento


conjunto e interesse por essa empreitada. Sr. Martim, Dna. Hilda, saibam que darei
sempre o melhor de mim para que esses conhecimentos adquiridos possam
melhorar, em todos os sentidos, a vida de todas as pessoas que nos são próximas.

Aos colegas de curso, pelo companheirismo e auxílios sempre


prontamente prestados. Vocês têm a verdadeira noção do que seja auxílio mútuo –
guardem isso sempre em seus corações.
v

À CAPES e à Universidade Estadual de Londrina, por terem


investido financeiramente em nossa formação. Num país em que recursos públicos
são muitas vezes drenados sem o correspondente retorno à sociedade, com a Graça
de Deus, não os decepcionarei.

A todos os docentes e funcionários do Departamento de


Engenharia da Construção Civil da Escola Politécnica, que, não somente pelo seu
senso de dever e responsabilidade, mas também por sua amizade e compreensão,
tanto colaboraram para a realização dessa nossa jornada. Espero passar às gerações
futuras a dedicação e alegria que sempre percebi em vocês.

Por fim, de maneira muito especial, à minha esposa, Regina


Soares Gonçalez Petrucci, a quem, se não posso agradecer por tudo, como devo,
agradeço em especial pelo exemplo de paciência e tolerância inesgotáveis. “Xão”,
me esforço a cada dia para aprender a ter sua paciência e compreensão.
vi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 9

3 O PROCESSO DE PROJETO DOS SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS. 13


3.1. Aplicação de Evidências Empíricas................................................................. 15
3.2. Modelos de Cálculo Fechados e Abertos......................................................... 16

3.2.1. Modelos fechados. ........................................................................................ 17


3.2.2. Modelos Abertos. .......................................................................................... 18
3.3. Modelos de Simulação. .................................................................................... 19

4 APARELHOS ...................................................................................................... 23
4.1. Curvas de Descarga dos Aparelhos.................................................................. 24

4.1.1. Aparelhos de ajustes pré-determinados. ....................................................... 25


4.1.2. Aparelhos de ajuste contínuo. ....................................................................... 26
4.2. Formas de Acionamento de Aparelhos. ........................................................... 27

4.2.1. Aparelhos de operação em presença do usuário: .......................................... 28


4.2.2. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática. ..................... 28
4.2.3. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada após ciclo automático..... 29
4.2.4. Aparelhos de acionamento por ação indireta do usuário ou ambiente.......... 29
4.2.5. Aparelhos de acionamento e parada automáticos. ........................................ 30
4.2.6. Aparelhos de operação contínua. .................................................................. 30
4.3. Tempos Característicos de Operação dos Aparelhos ....................................... 31

4.3.1. Aparelhos de operação em presença do usuário. .......................................... 32


4.3.2. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática. ..................... 35
4.4. Aparelhos de Acionamento pelo Usuário e Parada após Ciclo Automático.... 37
vii

4.4.1. Aparelhos de acionamento e parada automáticos. ........................................ 43


4.4.2. Aparelhos de operação contínua. .................................................................. 44

5 COMPONENTES DOS SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS ................... 46


5.1. Conceituação.................................................................................................... 47
5.2. Caracterização dos Componentes. ................................................................... 47
5.3. Caracterização Individual de Componente ...................................................... 48
5.4. Subsistema Tomado como Componente. ......................................................... 50

6 SISTEMAS .......................................................................................................... 52
6.1. Grafos............................................................................................................... 52

6.1.1. Casos especiais de grafos.............................................................................. 53


6.2. Representação de Sistemas Prediais de Distribuição de Água Através de
Grafos............................................................................................................... 56
6.3. Representações de Grafos. ............................................................................... 60

6.3.1. Matriz de adjacências.................................................................................... 61


6.3.2. Lista de adjacências. ..................................................................................... 62
6.3.3. Lista de adjacências reorientada. .................................................................. 64
6.4. Representação das Relações............................................................................. 65

6.4.1. Sistematização das relações. ......................................................................... 66


6.5. Sistemas Equivalentes...................................................................................... 72

6.5.1. Técnica da avaliação de características......................................................... 72


6.5.2. Técnica da lei equivalente............................................................................. 73
6.5.3. Componentes equivalentes intermediários. .................................................. 74

7 CARACTERIZAÇÃO DO USUÁRIO................................................................ 77
7.1. Necessidades Básicas dos Usuários. ................................................................ 78
7.2. Dados sobre o Usuário. .................................................................................... 79
viii

7.2.1. Preferências dos usuários. ............................................................................. 80


7.2.2. Ações dos usuários........................................................................................ 84
7.3. Diretrizes para a Simulação dos Usuários. ...................................................... 86

7.3.1. Restrição de presença.................................................................................... 86


7.3.2. Restrição de disponibilidade. ........................................................................ 87
7.3.3. Restrição de acesso. ...................................................................................... 87

8 SIMULAÇÃO DO SISTEMA ............................................................................. 89


8.1. Tempo de Simulação. ....................................................................................... 89
8.2. Geração das variáveis aleatórias. ..................................................................... 90

8.2.1. O gerador de números aleatórios .................................................................. 91


8.2.2. Retorno de características para dados tabelados. .......................................... 92
8.2.3. A função de retorno de características para distribuições............................. 96
8.3. Registro de Parâmetros. ................................................................................... 98
8.4. Operação da Simulação.................................................................................... 99

9 SIMULAÇÃO DA POPULAÇÃO .................................................................... 102


9.1. Geração de Distribuições de Características.................................................. 103

9.1.1. Objetos de Dados ........................................................................................ 103


9.2. Ocupação Inicial da Edificação...................................................................... 105
9.3. Dinâmica Populacional. ................................................................................. 114

9.3.1. Óbitos. ......................................................................................................... 114


9.3.2. Nascimentos. ............................................................................................... 115
9.3.3. Entrada e saída de famílias no edifício. ...................................................... 117

10 SIMULAÇÃO DE ACIONAMENTO DOS APARELHOS............................ 124


10.1. Atuação do Usuário sobre o Aparelho. ........................................................ 125

10.1.1. Caracterização do instante de acionamento do aparelho. ......................... 125


ix

10.1.2. Caracterização do tempo de acionamento................................................. 131


10.1.3. Caracterização da vazão de utilização. ..................................................... 134
10.2. Considerações sobre a Escolha da Distribuição........................................... 141
10.3. Simulação dos Ciclos de Operação dos Aparelhos...................................... 143

10.3.1. Aparelhos de operação em presença do usuário: ...................................... 144


10.3.2. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática. ................. 144
10.3.3. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada após ciclo automático. 145
10.3.4. Aparelhos de acionamento por ação indireta do usuário ou ambiente...... 145
10.3.5. Aparelhos de acionamento e parada automáticos. .................................... 146
10.3.6. Aparelhos de operação contínua. .............................................................. 147

11 ACESSO DOS USUÁRIOS AOS APARELHOS. .......................................... 148


11.1. Restrições de Utilização de Aparelhos......................................................... 148

11.1.1. Restrições de direito de utilização............................................................. 149


11.1.2. Restrições de acesso por disposição física. ............................................... 150
11.1.3. Uso associado............................................................................................ 152
11.2. Fluxo de Acesso de Usuários aos Aparelhos. .............................................. 153

11.2.1. Geração da necessidade do usuário........................................................... 154


11.2.2. Fila............................................................................................................. 155
11.2.3. Despachante. ............................................................................................. 155
11.3. Outros Aspectos do Acesso a Aparelhos. .................................................... 156

12 APLICAÇÃO................................................................................................... 159
12.1. Análise de resultados ................................................................................... 161

12.1.1. Vazões na saída do Reservatório............................................................... 161


12.1.2. Vazões nos Aparelhos. .............................................................................. 162
12.1.3. Vazão na entrada dos ramais. .................................................................... 165
12.2. Conclusão do Exemplo. ............................................................................... 166
x

13 CONCLUSÃO ................................................................................................. 168

ANEXO A............................................................................................................. 174


A.1. Perdas de Carga............................................................................................. 174

A.1.1. Determinação do fator de atrito (f) para a Fórmula Universal................... 176


A.2. Determinação do Sentido de Fluxo. .............................................................. 188
A.3. Tubos de PVC Soldável ................................................................................ 190
A.4. Joelhos de PVC soldável............................................................................... 191
A.5. Tês. ................................................................................................................ 192
A.5. Entrada de borda por adaptador de PVC soldável longo. ............................. 195
A.6. Torneira de Jardim......................................................................................... 196
A.7. Reservatório Prismático de Base Retangular. ............................................... 197

ANEXO B ............................................................................................................. 198


B.1 Enunciado e Considerações Iniciais. .............................................................. 198
B.2. Encaminhamento da Solução. ....................................................................... 199
B.3 Confirmação dos Resultados.......................................................................... 208
B.4 Considerações sobre o Exemplo..................................................................... 210
B.5 Determinação do Componente Equivalente. .................................................. 210

ANEXO C ............................................................................................................. 212


C.1 Enunciado e Considerações Iniciais. ............................................................. 212
C.2 Encaminhamento da Solução. ........................................................................ 213
C.3 Considerações sobre o Exemplo..................................................................... 225

ANEXO D............................................................................................................. 227


D.1 Enunciado e Considerações Iniciais.............................................................. 227
D.2 Encaminhamento da Solução. ........................................................................ 228
xi

D.3 Resultados Obtidos......................................................................................... 230


D.4 Considerações sobre o Exemplo. ................................................................... 231

ANEXO E ............................................................................................................. 234


E.1 Implementação da Rede de Distribuição. ....................................................... 236

E.1.1. Ramal H1.................................................................................................... 237


E.1.2. Ramal H2.................................................................................................... 240
E.1.3. Colunas AF-1-3-5-7.................................................................................... 243
E.1.4. Colunas AF-2-4-6-8.................................................................................... 247
E.1.5. Barrilete. ..................................................................................................... 251
E.2 Implementação dos Aparelhos........................................................................ 256
E.3 Usuário............................................................................................................ 257

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 258

APÊNDICE I...........................................................................................................I-1
I.1 Questionário.......................................................................................................I-1

APÊNDICE II ....................................................................................................... II-1


II.1 Questionário ................................................................................................... II-1

APÊNDICE III.....................................................................................................III-1
III.1. Utilização da Fórmula Universal. ...............................................................III-1
III.2. Biblioteca Matemática Básica...................................................................III-19

APÊNDICE IV.....................................................................................................IV-1
IV.1. Solução para o Sistema de Equações não Lineares.....................................IV-1

IV.1.1 Fundamentação..........................................................................................IV-1
xii

IV.1.2. Implementação .........................................................................................IV-3


IV.2. Implementação dos Exemplos...................................................................IV-11

IV.2.1. Exemplo do Anexo B – rede aberta. ......................................................IV-12


IV.2.2. Exemplo do Anexo C – rede em anel.....................................................IV-18

APÊNDICE V ....................................................................................................... V-1


V.1. Relógio-calendário......................................................................................... V-1
V.2 Rotina Geradora de Distribuições................................................................... V-9
V.3. Componente para Registro de Valores......................................................... V-16
V.4. Demais Bibliotecas Utilizadas..................................................................... V-24

APÊNDICE VI.....................................................................................................VI-1
VI.1. Função Gama (Γ•) ......................................................................................VI-2

APÊNDICE VII ................................................................................................. VII-1


VII.1 Objetos de Dados e Rotinas Auxiliares – Exemplo do Anexo D............. VII-1
VII.2 Implementação para o Exemplo do Anexo D. ....................................... VII-17

APÊNDICE VIII ............................................................................................... VIII-1


xiii

LISTA DE FIGURAS

Fig. 4.1 Curva de descarga para aparelho hipotético, de ajuste pré-determinado,


com 2 estados (operação e parada)............................................................ 26
Fig. 4.2 Campo de curvas de descarga para aparelho hipotético, de ajuste contínuo
pelo usuário. .............................................................................................. 27
Fig. 4.3 Curva tempo x vazão típica para aparelho que exige a presença contínua
do usuário durante a operação. .................................................................. 32
Fig. 4.4 Duração de uso do lavatório – água quente (ILHA,1991). ....................... 33
Fig. 4.5 Número de usos de água quente por hora – lavatório (ILHA, 1991). ....... 34
Fig. 4.6 Prováveis perfis de consumo e operação para máquina de lavar roupas
submetidas a diversas alturas de carga na entrada da torneira. ................. 42
Fig. 4.7 Curva tempo x vazão para aparelho acionado por temporizador. ............. 44
Fig. 6.1 Representação pictográfica de um grafo .................................................. 52
Fig. 6.2 Representação de uma árvore de raiz em “r”. ........................................... 54
Fig. 6.3. Representação de um grafo em forma de lista, onde “h” corresponde à
cabeça e “f” à cauda. ............................................................................... 55
Fig. 6.4 Exemplo de um sistema predial de distribuição de água........................... 57
Fig. 6.5 Representação em grafo do sistema apresentado na Figura 6.4. ............... 57
Fig. 6.6 Matriz de relação para o sistema apresentado na Figura 6.4.................... 61
Fig. 6.7 Representação do grafo da Figura 6.4 em forma de lista encadeada. ....... 63
Fig. 6.8 Lista de adjacências reorientada para o grafo da Figura 6.5. .................... 65
Fig. 6.9 Grafo para relações hidráulicas do sistema apresentado na Figura 6.4..... 68
Fig. 8.1 Comparativo de distribuições de freqüências (10 000 000 de pontos)...... 93
Fig. 8.2 Comparativo de distribuições de freqüências (1.000 pontos). .................. 95
Fig. 8.3 Comparativo entre população censitária e população gerada. .................. 98
Fig. 9.1 Diagrama relacional para população. ...................................................... 105
xiv

Fig. 9.2 Exemplo de curva de probabilidade para tempo de permanência em imóvel


alugado. ................................................................................................... 122
Fig. 10.1 Número de usos por hora – chuveiro – dias de semana (ILHA, 1991). 126
Fig. 10.2 Número de usos por hora – chuveiro – como números nebulosos........ 127
Fig. 10.3 Curva de densidade de probabilidades (em %) para acionamento de
chuveiros. .............................................................................................. 128
Fig. 10.4 Probabilidades de acionamento do chuveiro – 5 dias – 1 uso por dia... 129
Fig. 10.5 Probabilidades de acionamento do chuveiro. ........................................ 129
Fig. 10.6 Probabilidade de acionamento do chuveiro – 1,5 usos/pessoa.dia........ 130
Fig. 10.7 Duração de uso do chuveiro (ILHA, 1991)........................................... 132
Fig. 10.8 Probabilidades para tempo de acionamento de chuveiro. ..................... 132
Fig. 10.9 Probabilidade de acionamento de chuveiro – histograma. .................... 133
Fig. 10.10 Duração de acionamento para chuveiro – Gama – transladada.......... 133
Fig. 10.11 Probabilidade de acionamento de chuveiro sob distribuição Gama
transladada – histograma. ................................................................... 134
Fig. 10.12 Vazão para chuveiro (ILHA, 1991). .................................................... 136
Fig. 10.13 Vazão do chuveiro como distribuição bi-modal normal...................... 138
Fig. 10.14 Ajuste multimodal para vazão de chuveiro - σ = 1/4 da amplitude de
classe. .................................................................................................. 140
Fig. 10.15 Ajuste multimodal para vazão de chuveiro - σ = 1/2,5 da amplitude de
classe. .................................................................................................. 141
Fig. 11.1 Classes de acesso a aparelhos sanitários quanto ao direito de uso. ....... 150
Fig. 11.2 Diagrama de contenção de aparelhos e usuários no prédio. .................. 151
Fig. 11.3 Núcleo do sistema de requisição e distribuição de aparelhos................ 153
Fig. 12.1 Esquema isométrico dos ramais. ........................................................... 159
Fig. 12.2 Barrilete. ................................................................................................ 160
Fig. 12.3 Colunas de distribuição. ........................................................................ 160
Fig. 12.4 Vazão de saída do reservatório. ............................................................. 162
xv

Fig. 12.5 Vazão em chuveiros............................................................................... 163


Fig. 12.6 Vazão na entrada dos ramais.................................................................. 165
Fig. A.1. Ábaco de Moody (Fonte: FOX e MCDONALD, 1998)........................ 177
Fig. A.2 Fluxograma para determinação do fator de atrito (f) a ser utilizado na
fórmula Universal para problemas do tipo F1. (Unidades SI). ............. 179
Fig. A.3 Fluxograma para determinação do fator de atrito (f) a ser utilizado na
fórmula Universal para problemas do tipo F2. (Unidades SI). ............. 180
Fig. A.4 Fluxograma para determinação do fator de atrito (f) a ser utilizado na
fórmula Universal para problemas do tipo F3. (Unidades SI). ............. 181
Fig. A.5 Fluxograma para determinação do fator de atrito (f) a ser utilizado na
fórmula Universal para problemas do tipo F4. (Unidades SI). ............. 182
Fig. A.6 Convenção de sinais para as vazões ou outras grandezas de fluxo. ...... 189
Fig. A.7. Configurações de entradas e saídas para conexões tês. (a) passagem
direta e lateral; (b) passagem direta e lateral inverso; (c) saída bi-lateral;
(d) misturador central; (e) misturador lateral; (f) misturador lateral
inverso. .................................................................................................. 192
Fig. B.1 Esquema de Lavatório Coletivo com 5 torneiras................................... 198
Fig. B.2 Grafo de relações para o sistema da Figura B.1 .................................... 202
Fig. B.3 Determinação de pontos e trechos referidos na Tabela B-5.................... 209
Fig. C.1 Esquema da rede de distribuição para os lavatórios coletivos. .............. 212
Fig. C.2 Esquema da rede de distribuição com os componentes equivalentes.... 214
Fig. C.3 Grafo de relações para o sistema da Figura C.2 ..................................... 217
Fig. D.1. Resultado de 8 simulações populacionais. ............................................ 230
Fig. E.1.. Aspecto da tela do programa de aplicação. .......................................... 234
Fig. E.2. Aspecto da tela de população................................................................. 235
Fig. E.5. Ramal H1 - esquema.............................................................................. 237
Fig. E.6 Ramal H2 - esquema............................................................................... 240
Fig. E.7 Colunas AF-1-3-5-7 - esquema............................................................... 244
xvi

Fig. E.8 Colunas AF-2-4-6-8 - esquema. ............................................................ 248


Fig. E.9 Barrilete - esquema. ................................................................................ 252
xvii

LISTA DE TABELAS

TABELA 5.1 - CARACTERIZAÇÃO PARA TUBOS DE PVC DN 25. .............. 49


TABELA 6.1 - LEIS “INTERNAS” APLICÁVEIS AOS COMPONENTES DO
EXEMPLO DA FIGURA 6.4 ........................................................ 68
TABELA 6.2 - SIMBOLOGIA ADOTADA PARA O EXEMPLO. ...................... 69
TABELA 6.3 - DESCRIÇÃO DAS RELAÇÕES. ................................................. 69
TABELA 6.4 - REDUÇÃO E UNIFORMIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS ATRAVÉS
DA APLICAÇÃO DO SILOGISMO EXPRESSO NA EQUAÇÃO
6.4................................................................................................... 70
TABELA 7.1 - ESTRUTURA DE BANCO DE DADOS SOBRE
PREFERÊNCIAS DO USUÁRIO ................................................. 81
TABELA 7.2. - RESPOSTAS SUBJETIVAS À EXPOSIÇÃO À ÁGUA, A 37°C,
NO VERÃO. .................................................................................. 83
TABELA 8.1 – PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE VALORES EM
FAIXAS ALVO.............................................................................. 92
TABELA 8.2 – VALORES DE BASE PARA A GERAÇÃO DA FIGURA 8.1. .. 94
TABELA 9.1 – PESSOAS RESIDENTES EM DOMICÍLIOS PARTICULARES.
ÁREA URBANA, BRASIL, 1991............................................... 106
TABELA 9.2 – POPULAÇÃO RESIDENTE. ÁREA URBANA, BRASIL, 1996.
...................................................................................................... 107
TABELA 9.3 – ÓBITOS OCORRIDO E REGISTRADOS. BRASIL. 1994........111
TABELA 9.4 - NASCIDOS VIVOS OCORRIDOS E REGISTRADOS - 1994 . 115
TABELA 9.5 - DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES - 1991....... 119
TABELA 10.1 – CLASSES DE VAZÃO OBSERVADAS PARA CHUVEIRO . 139
TABELA A.1. – FORMULAÇÕES PARA PROBLEMAS QUE ENVOLVAM
PERDAS DE CARGAS. ........................................................... 177
xviii

TABELA A.2 – NÚMEROS DE REYNOLDS VERIFICÁVEIS EM SISTEMAS


PREDIAIS. ................................................................................ 186
TABELA A.3. - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA TUBOS DE PVC
SOLDÁVEIS ............................................................................. 190
TABELA A.4. - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA TUBOS DE PVC
SOLDÁVEIS SIMPLIFICADO PARA REDES RAMIFICADAS.
................................................................................................... 191
TABELA A.5. - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA JOELHOS DE PVC
SOLDÁVEIS ............................................................................. 191
TABELA A.6. - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA JOELHOS DE PVC
SOLDÁVEIS. SIMPLIFICADO PARA REDES
RAMIFICADAS........................................................................ 192
TABELA A.7 - DETERMINAÇÃO DO MODO DE OPERAÇÃO E LEIS
FUNDAMENTAIS DAS CONEXÕES TIPO “TÊ”. ................ 193
TABELA A.8.a - PERDAS DE CARGA, SEGUNDO A NBR5626, PARA AS
CONEXÕES TIPO “TÊ”. ....................................................... 194
TABELA A.8.b – DIÂMETROS INTERNOS E COMPRIMENTOS
EQUIVALENTES, PARA A APLICAÇÃO DA FÓRMULA
UNIVERSAL PARA AS CONEXÕES TIPO “TÊ”. (k =1,5 x
10-5 m)...................................................................................... 194
TABELA A.9. - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA “TÊ” DE PASSAGEM
DIRETA E LATERAL EM PVC SOLDÁVEL......................... 195
TABELA A.10 - DESCRIÇÃO DE COMPONENTE PARA ENTRADA DE
BORDA POR ADAPTADOR EM PVC SOLDÁVEL LONGO.
................................................................................................... 196
TABELA B.1 - VALORES E LEIS PARA OS COMPONENTES DO EXEMPLO.
................................................................................................... 200
xix

TABELA B.2 - DESCRIÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE OS COMPONENTES


DO SISTEMA EXEMPLO, DE ACORDO COM O GRAFO DA
FIGURA B.2.............................................................................. 202
TABELA B.3 - REDUÇÃO DO NÚMERO DE INCÓGNITAS ATRAVÉS DE
SILOGISMO.............................................................................. 203
TABELA B.4 - APROXIMAÇÃO INICIAL. ...................................................... 206
TABELA C.1 - DETERMINAÇÃO DOS COMPONENTES EQUIVALENTES214
TABELA C.2 - VALORES E LEIS PARA OS COMPONENTES DO EXEMPLO.
[Q]=L/s; [H]=kPa......................................................................... 215
TABELA C.3 - DESCRIÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE OS COMPONENTES
DO SISTEMA EXEMPLO, DE ACORDO COM O GRAFO DA
FIGURA C.3 ................................................................................ 217
TABELA C.4 - REDUÇÃO DO NÚMERO DE INCÓGNITAS ATRAVÉS DE
SILOGISMO................................................................................ 219
TABELA C.5 - APROXIMAÇÃO INICIAL. ...................................................... 223
TABELA E.1 – DESCRIÇÃO DE COMPONENTES PARA O RAMAL H-1. .. 238
TABELA E-2 – RELAÇÕES ENTRE COMPONENTES PARA RAMAL H-1. 239
TABELA E.3 – VARIÁVEIS GENÉRICAS. ....................................................... 239
TABELA E.4 – EQUAÇÕES SIMULTÂNEAS PARA RAMAL TIPO H1........ 240
TABELA E.5 – DESCRIÇÃO DE COMPONENTES PARA O RAMAL H-2. .. 241
TABELA E-6 – RELAÇÕES ENTRE COMPONENTES PARA RAMAL H-2. 241
TABELA E.7 – VARIÁVEIS GENÉRICAS. ....................................................... 242
TABELA E.8 – EQUAÇÕES SIMULTÂNEAS PARA RAMAL TIPO H2........ 243
TABELA E.9 – DESCRIÇÃO DE COMPONENTES PARA COLUNA IMPAR.
................................................................................................... 244
TABELA E.10 – RELAÇÕES ENTRE COMPONENTES PARA COLUNA
IMPAR..................................................................................... 245
TABELA E.11 – VARIÁVEIS GENÉRICAS PARA COLUNA IMPAR. .......... 246
xx

TABELA E.12 – EQUAÇÕES SIMULTÂNEAS PARA COLUNA IMPAR. ..... 247


TABELA E.13 – DESCRIÇÃO DE COMPONENTES PARA COLUNA PAR.. 248
TABELA E.14 – RELAÇÕES ENTRE COMPONENTES PARA COLUNA PAR.
................................................................................................... 249
TABELA E.15 – VARIÁVEIS GENÉRICAS PARA COLUNA PAR. ............... 250
TABELA E.16 – EQUAÇÕES SIMULTÂNEAS PARA COLUNA PAR. .......... 251
TABELA E.17 – DESCRIÇÃO DE COMPONENTES PARA O BARRILETE. 252
TABELA E.18 – RELAÇÕES ENTRE COMPONENTES PARA BARRILETE.
................................................................................................. 253
TABELA E.19 – VARIÁVEIS GENÉRICAS PARA O BARRILETE................ 254
TABELA E.20 – EQUAÇÕES SIMULTÂNEAS PARA O BARRILETE. ......... 255
TABELA III.1. – PROPRIEDADES DA VARIÁVEL “ESCOAMENTO”........III-2
TABELA III.2. – PROPRIEDADES DE OBJETOS DO TIPO “TTUBO” ........III-3
TABELA III.3. – PROPRIEDADES DE OBJETOS DO TIPO “TFLUIDO”.....III-3
xxi

LISTA DE SIMBOLOS

γ Peso específico;
α Expoente característico da curva vazão x pressão de aparelhos;
σ Desvio padrão;
ρ Massa específica;
ε Rugosidade relativa;
λ Parâmetro descritor da função Gama;
ν Viscosidade cinemática;
σ2 Variança;
χ2 “Qui-quadrado”;
Γ• Função Gama;
∆H (ou DH) Perda de carga;
∆H(Q) Perda de carga provocada pela vazão “Q”;
Cd Coeficiente de descarga;
D, d Diâmetro;
Dg Desnível geométrico;
E Conjunto de arestas de grafo;
F Frequência diária de uso per capita de aparelhos;
f Fator de atrito;
g Aceleração da gravidade;
H Altura manométrica;
He Altura manométrica na entrada;
Hs Altura manométrica na saída;
I Intervalo;
J Perda de carga unitária;
J Matriz jacobiana
k Rugosidade absoluta;
L Comprimento;
LD Comprimento direto;
xxii
LL Comprimento lateral;
M Massa total;
m Massa de componente;
n Número de elementos ou classes;
NF Número de “faces” ou número de eventos equiprováveis;
p Pressão;
p Probabilidade de ocorrência de evento;
pki Propriedade “k” do componente “i”;
Pn “N-ésima” população amostral;
Q Vazão;
q Probabilidade de não ocorrência de evento;
q Vazão média;
Qe Vazão de entrada;
Qs Vazão de saída;
r Parâmetri descritor da função Gama;
R Conjunto de relações entre componentes;
Re Número de Reynolds;
rij Relação entre componente “i” e componente “j”;
t Tempo de duração de evento;
T Intervalo de tempo entre eventos;
v Velocidade;
V Volume; velocidade;
V Conjunto de vértices de grafo;
vi Elemento de V; valor característico para classe de eventos;
w Largura ou dimensão horizontal;
x Média;
x Vetor solução;
y Altura de lâmina d’água;
z Altura;
Z Nível;
xxiii

RESUMO

O presente trabalho propõe uma metodologia para a seleção de configuração de


sistemas prediais de água fria, em edificações que abriguem múltiplas economias.
Essa metodologia opera através do teste e ajuste de possíveis configurações, em
ambiente de simulação computacional. Para tal foi desenvolvida uma ferramenta
para cálculo de redes de distribuição sob vazões reais. Essa ferramenta de cálculo
de redes, juntamente com a caracterização da operação e simulação dos aparelhos
sanitários, compõe o sistema sob análise. Paralelamente, são definidas, através da
geração de variáveis aleatórias que seguem distribuições estatísticas, preferências
e comportamentos dos usuários. Os hábitos de usuários, especialmente quanto à
forma de acionamento e preferências de ajustes sobre os aparelhos sanitários,
quando simulados, servem como “carga” à rede de distribuição, permitindo simular
a operação do sistema como um todo. Pelo registro dos parâmetros de interesse,
que posteriormente são comparados a padrões de desempenho, podem ser
detectadas situações de não conformidade. Submetendo-se diversas hipóteses de
configuração a tal procedimento, é possível selecionar aquela que melhor se ajuste
aos critérios de desempenho propostos. Através do mesmo processo, a
configuração selecionada pode ter seus pontos de alavancagem localizados e seu
desempenho afinado, de forma a otimizar o sistema.
xxiv

ABSTRACT

This work proposes a methodology to water building systems configuration


selection process, in buildings with multiple units. This methodology works by test
and tuning of possible configurations, in a computational simulated environment.
To this aim, a tool was developed, to afford the calculus of network under a real
flow approach. This tool, when joined with the operational characteristics of
appliances, constitutes the system under analyses. In a parallel way, the users habit
and preferences are achieved by random generation of values following a given
statistical distribution. The users' habits, in a special manner about the kind of
action and preferences over appliances, are the load to the water distribution
network. So, the system operation is simulated at all. By recording parameters for
later comparison with performance standards one can find no-conformity points.
By doing this procedure with many possibilities of configuration and size of
system, one can choose the configuration that has the best match with the
performance standards. By the same process, the selected configuration can have
the “hot spots” located. By action over these points, the selected configuration can
be tuned, searching for the best performance.
1 INTRODUÇÃO

Um projeto de Engenharia é, basicamente, o agrupamento


concatenado e coerente de diversos elementos que, unidos, descrevem um sistema
com funções e características determinadas.

Assim, o que um projeto de Engenharia transmite são idéias,


conceitos e definições.

A definição mais importante a ser tomada no âmbito de um


projeto de sistema predial de distribuição de água, assim como em qualquer
projeto, é, sem dúvida, quanto à concepção de sua configuração.

Especificamente no que diz respeito aos sistemas prediais de


distribuição de água em edificações que abriguem múltiplas economias, objeto
desse estudo, várias definições conceituais e posturas se fazem transparentes na
escolha das configurações a serem utilizadas, em cada subsistema componente
desse sistema de distribuição de água.

Desse modo, fica claro que a opção por determinada


configuração, de cada subsistema, acarreta conseqüências específicas no sentido de
termos um sistema mais próximo ou mais distante de determinado objetivo.

Dada a importância da definição da configuração a ser adotada,


essa etapa merece tratamento especial, tanto nas fases iniciais do projeto, onde via
de regra são tomadas as decisões globais e criadas as configurações gerais, como
nos diversos níveis de detalhes, tendo em vista objetivos gerais e específicos
2

previamente definidos dentro da concepção do empreendimento.

Tem-se ainda como claro o fato de que não há decisão ou


orientação técnica de configuração universalmente aceitável, apesar da existência
de diversas configurações tidas como tradicionais ou comuns, tanto na literatura
técnica como na normalização nacional ou internacional. Tal fato ocorre uma vez
que, as necessidades e expectativas dos usuários envolvidos sempre diferem entre
empreendimentos, sendo que essa diferenciação deveria levar a configurações
diferentes, com grau de similaridade menor ou maior entre si, à medida da
similaridade de exigências e expectativas dos citados usuários, ou seja, o
desempenho que determinado usuário necessita ou espera de um sistema.

WYLY e GALOWIN (1976) apud GRAÇA e GONÇALVES


(1986) nos traz o seguinte conceito de desempenho:

“o conceito de desempenho centraliza-se na idéia de que


produtos, dispositivos, sistemas ou serviços podem ser descritos e
que seus desempenhos podem ser medidos em termos das
exigências dos usuários, desconsiderando-se combinações
particulares de características físicas e químicas, de seus projetos
ou métodos de criação. A chave para o desenvolvimento de
padrões de desempenho é a identificação de critérios
significativos que caracterizem o desempenho esperado e a
subsequente geração de metodologias para medir como esses
produtos, processos e sistemas aderem aos critérios”(grifo
nosso).

Diante dessa definição e com base no exposto por GRAÇA e


3

GONÇALVES (1986), pode-se propor que a abordagem de sistemas,


especialmente na fase de projeto e concepção, através desse conceito de
desempenho, consiste em:

a) identificar os usuários do sistema;


b) caracterizar esses usuários do sistema;
c) definir suas necessidades, exigências e expectativas
hierarquizando-as segundo objetivos decorrentes das
características identificadas;
d) identificar as condições de exposição a que está submetido o
sistema, assim como sua influência e interação com o sistema
maior em que se encontra inserido e o meio considerado;
e) definir os critérios de desempenho do sistema, quantificando
as necessidades dos usuários;
f) prever, através de ferramentas de cálculo e simulações
adequadas, para cada configuração estudada ou cogitada, a
amplitude de satisfação aos critérios de desempenho adotados;
g) estabelecer os métodos para a avaliação do desempenho do
sistema;

Mesmo conhecida a seqüência acima, os sistemas de distribuição


de água em edificações que abrigam múltiplas economias são projetados, com
freqüência, sem a consideração de múltiplas alternativas, no que se refere à
resposta que cada qual teria no sentido de atender aos critérios de desempenho
propostos e, através desses, às necessidades e expectativas dos usuários, fato esse
já ressaltado por IOSHIMOTO (1990) para os sistemas prediais de gás
combustível.
4

É fato conhecido que, quando muito, devido a uma série de


fatores, há análise de um número limitado de alternativas, sendo ainda que, por
vezes, tais alternativas são analisadas sob único e exclusivo critério de se obter um
menor custo direto de execução do sistema entre aquelas que atendam a
determinada prescrição técnica aceita1.1.

Já observado de maneira semelhante por GRAÇA e


GONÇALVES (1987a) para os sistemas prediais de coleta de esgotos sanitários,
essa dificuldade encontrada pelos projetistas para a análise exaustiva de
alternativas tidas como “convencionais”, assim como para o exercício da
criatividade em busca de alternativas novas ou inovadoras, que por sua própria
característica traz a necessidade de análises mais apuradas, acaba conduzindo à
aceitação quase simples e imediata de configurações tradicionais e levando os
usuários à aceitação das limitações inerentes a tais configurações como inevitáveis
ou como “conseqüências de leis físicas ou econômicas irrevogáveis”, o que, de
fato, não são.

Diante desse quadro, ao se propor uma metodologia capaz de


contribuir para a escolha de uma configuração do sistema predial de distribuição de
água, para as edificações sob análise, é necessário, conhecer dos usuários dessa
metodologia1.2, os requisitos mínimos indispensáveis para que possa ser utilizada
na prática de projetos hidráulico-sanitários, com ganhos para os usuários
envolvidos, motivando-os a “maneiras mais adequadas de projetar através da
utilização de procedimentos racionais que possam, efetivamente, conduzir a
resultados mais adequados” (GRAÇA e GONÇALVES 1987a).

1.1
Normas técnicas de organismos normativos, empresas, companhias
concessionárias de serviços públicos, ou outras fontes.
1.2
Engenheiros projetistas e consultores de sistemas prediais de distribuição de
água e empreendedores de edificações que abriguem múltiplas economias.
5

No intuito de verificar se experiências pessoais anteriores, na


elaboração de projetos de Engenharia de Sistemas Prediais, são compartilhadas por
outros profissionais e como uma tentativa de caracterizar, ainda que de forma
expedita, os anseios e dificuldades que os profissionais dessas áreas teriam, em
relação à utilização de uma metodologia que pudesse auxiliar nas decisões
conceituais e de configuração das redes de distribuição de água sob estudo,
procedeu-se a aplicação de um pequeno questionário entre alguns projetistas e
consultores da área (Apêndice I).

A observação das respostas obtidas, com a aplicação desse


questionário, nos permite, entre outras características, detectar, como pontos
predominantes na visão atual dos profissionais projetistas:

• as características principais das configurações dos sistemas


prediais são definidas pelos contratantes, com maior ou menor
influência do projetista;

• os contratantes de projetos são fortemente influenciados pelos


produtores e vendedores de componentes, e bastante presos às
soluções ditas “tradicionais”;

• as maiores preocupações, quanto a custos, fixam-se naqueles


que incidem diretamente sobre a implantação e manutenção.
Já os custos com consumo de água e energia são
preocupações menores quando comparados a esses;

• os contratantes querem os menores gastos iniciais possíveis


(projetos e execução de baixo custo) com desempenho que
6

lhes dê os menores gastos e desgastes possíveis durante a vida


útil da edificação (desempenho ótimo e baixa manutenção);

• novas tecnologias vêm das mais diversas fontes mas devem


superar um forte crivo de tradicionalismo, de forma até a se
tornarem tradicionais, através da experiência alheia, antes de
serem aceitas; sofrem uma espécie de estase coletiva no
aguardo de que alguém dê o primeiro passo;

• as ferramentas ou metodologias que permitam prever ou


apresentar comparativamente as características de diversas
configurações de sistema podem apresentar seus dados de
forma técnica, sem grande preocupação em ser coloquial mas,
devem apresentar, basicamente, rapidez na execução do
estudo, precisão de resultados e baixo custo de operação;

• a existência de uma metodologia desse tipo agregaria valor ao


projeto de sistemas prediais e ao produto final.

Para verificar se as assertivas acima encontravam respaldo, e


como ocorria esse respaldo, junto às empresas construtoras e incorporadoras,
procedeu-se, ainda de forma expedita, uma série de perguntas sobre o assunto junto
a um grupo representativo dessas empresas (Apêndice II).

Dessa tomada de impressões, pode-se observar, além da


confirmação, em essência, das assertivas acima:

• os clientes dos empreendedores, ou seja, os consumidores,


7

apresentam preocupações com economia de água e energia;

• sistemas de baixo consumo de água e energia têm apelo de venda.

Para ir ao encontro dos pontos abordados, e dos desejos de


mercado, devemos dispor de uma metodologia, ou um conjunto de métodos e
procedimento práticos, que permitam:

a) prever a operação hidráulica e energética do sistema da maneira


mais precisa possível, devendo ainda ter a capacidade de se ajustar a novas
tecnologias, como novos componentes, assim como a uma gama variada de formas
de solicitação por parte dos usuários;

b) avaliar o consumo de água e energia do sistema ao longo de sua


utilização;

c) avaliar a distribuição de custos do sistema ao longo de seu ciclo


de vida;

Com objetivo de apresentar uma metodologia nesse sentido, o


presente trabalho traz primeiramente uma proposta de modelo genérico para
caracterização dos sistemas de distribuição de água e seus componentes, seguido
de uma metodologia que, a partir de tais características, permite a avaliação e
projeção de como o sistema irá se comportar perante as exigências hidráulicas,
apresentadas pelo usuário, segundo as várias condições de exposição a que deverá
ser submetido ao longo de sua vida útil, permitindo uma avaliação da amplitude de
satisfação a critérios de desempenho que tenham sido adotados.
8

Desse modo, é de fundamental importância o conhecimento


apurado dos componentes e subsistemas que compõem o sistema de distribuição de
água, assim como das leis físicas que regem a interação desses entre si e com o
sistema maior tomado como ambiente.
9

2 OBJETIVOS

O desenvolvimento desse trabalho tem como premissa o


conhecimento prévio do comportamento de um sistema, segundo cada hipótese
cogitada de configuração, como forma mais adequada de subsidiar a opção por
uma destas.

Assim, a tese que motivou o desenvolvimento desta pesquisa é:

A utilização de técnicas de modelagem que permitam a simulação


da operação real de sistemas prediais de distribuição de água, permitirá o
conhecimento prévio do comportamento do sistema sob a ação do usuário, assim
como do comportamento apresentado pelo usuário diante do sistema.

Com isso, será possível uma escolha mais segura e objetiva entre
diversas hipóteses de topologia, dimensionamento, materiais e técnicas
construtivas, de maneira que se possa satisfazer, no maior grau possível, as
necessidades e expectativas dos usuários quanto a desempenho, custos de
implantação e metas ligadas ao uso racional da água.

Pretende-se, portanto, alcançar os seguintes objetivos:

a) estudar os tipos mais comuns de aparelhos de consumo de


água, segundo sua forma de interação com o usuário e com a rede de distribuição
que os interliga, a fim de determinar quais características devem ser consideradas
nos mecanismos de simulação de seu uso;
10

b) estudar a distribuição dos aparelhos sanitários, segundo sua


disponibilidade, no tempo e espaço, à ação do usuário, a fim de propor regras de
correlação e dependência entre os mesmos, quanto à sua utilização;

c) propor as principais características que se deva conhecer a


respeito dos usuários e seus hábitos, a fim de estabelecer os padrões prováveis de
ação desses sobre o sistema;

d) apontar mecanismos que permitam avaliar a reação do sistema


frente à ação do usuário, e destas perante aquela, prevendo-se o processo de
realimentação a se formar nesse ciclo constituído por: ação do usuário - resposta
do sistema - nova ação do usuário, com vistas a determinar o grau de dificuldade
apresentado na busca do equilíbrio em torno dos padrões de desempenho aceitos ou
tolerados pelo usuário;

e) propor uma metodologia geral, sempre utilizando modelos


abertos ou de simulação, que permita, através da consecução do objetivo (d) acima
juntamente com análises de custo e construtivas, a opção pela configuração que
venha, da melhor forma, ao encontro das necessidades e interesses manifestados na
concepção do sistema, em sucessivas tentativas de otimização do mesmo.

Assim, espera-se, contribuir para a Engenharia de Sistemas


Prediais, com um enfoque metodológico sistêmico, que permita opções mais
seguras, através de um maior conhecimento da operação do sistema, se ainda em
fase de concepção essa operação puder ser simulada e avaliada, de maneira a
orientar ajustes finos, ou mesmo mudanças radicais, quanto à utilização de
determinada topologia de rede, dimensionamento, materiais ou técnicas
construtivas, permitindo uma melhor avaliação comparativa de diversas hipóteses
11

possíveis pela variação dessas características.

Essa abordagem poderá, então, proporcionar um elevado grau de


conformidade às necessidades do empreendedor, do usuário final, de posições
normativas e do meio ambiente, através da capacidade de permitir o
reconhecimento mais preciso de estreitos graus de compromisso entre essas
necessidades, que, por fim, definem a qualidade do produto sob a ótica de cada um
dos agentes citados.

Ao ser iniciada a leitura do presente deve-se ter em mente que o


mesmo se encontra estruturado segundo três níveis: nível conceitual (apresentado
nos capítulos), exemplos (nos anexos) e detalhes de implementação (nos
apêndices).

No Capítulo 3, é apresentada uma série de considerações sobre a


metodologia aqui proposta, passando-se à caracterização dos componentes
(Capítulo 4) e sistemas (Capítulo 5), com métodos de avaliação das redes operando
com vazões reais.

No Capítulo 6 é abordada a questão da interface usuário-sistema,


representada pelos aparelhos. Nesse Capítulo os aparelhos têm suas características
estudadas e estabelecidas.

No Capítulo 7 apresenta-se a caracterização do usuário e uma


introdução de diretrizes para a simulação de seu comportamento.

Na seqüência, Capítulos 8, 9 e 10, há a proposta dos mecanismos


de simulação para sistema, população e aparelhos.
12

Nos Capítulos 11 e 12, juntamente com os anexos e apêndices


correlatos, apresenta-se de forma detalhada um exemplo de simulação de sistema
de distribuição predial de água fria, a partir do qual é indicado o processo de
conhecimento e ajuste desses sistemas prediais pela metodologia aqui proposta.

Encerra-se o presente no Capítulo 13, com algumas conclusões,


considerações finais e sugestões para futuros trabalhos.
13

3 O PROCESSO DE PROJETO DOS SISTEMAS HIDRÁULICOS


PREDIAIS

O processo tradicional de projeto, utilizado para os sistemas


hidráulicos prediais, e portanto, para a rede de distribuição de água em edificações,
consiste basicamente nos seguintes passos:

a) posicionamento dos pontos de consumo (aparelhos) aos quais


os usuários terão acesso;

b) posicionamento das fontes de suprimento de água


(reservatórios);

c) definição e traçado de tubulações e demais órgãos acessórios


que conduzem a água desde as fontes de suprimento até os
aparelhos consumidores;

d) determinação das vazões máximas prováveis em cada trecho da


tubulação;

e) determinação dos diâmetros de cada trecho, a fim de


proporcionar a vazão necessária a cada aparelho, sob critérios
de limitação de velocidades ou perdas de carga;
14

f) verificação de cargas dinâmicas ou pressões3.1 nos pontos de


utilização e em outros pontos de interesse a fim de evitar
valores demasiadamente baixos ou altos;

Feito isso, e após as fases de detalhamentos construtivo, o sistema


é executado e posto em uso.

Dentre as fases acima descritas, aquela apontada no item “d”


assume grande importância, uma vez que, de sua resposta, depende diretamente o
resultado final da rede de distribuição em termos de custos diretos, diâmetros e
segurança de operação.

De forma não excludente quanto a outros aspectos mas com forte


ênfase no dimensionamento das partes constituintes, os projetos de sistemas
hidráulicos prediais, em sua evolução histórica, podem ser agrupados sob 4 fases:

a) aplicação de evidências empíricas;


b) modelos fechados;
c) modelos abertos;
d) modelos de simulação.

Esses 4 grupos, não têm, entre si, fronteiras estanques, mas se


mostram úteis para a caracterização principal de diversos modelos.

3.1
No presente trabalho, o termo “carga” ou “carga dinâmica” é utilizado para
p v2
designar toda a energia hidráulica disponível, correspondendo à soma + + z ; já o termo
γ 2⋅ g
pressão refere-se exclusivamente a “p” ou “p/γ”.
15

3.1. Aplicação de Evidências Empíricas.

Aqui se refere a evidências empíricas como sendo o


comportamento de fenômenos, aplicáveis a projetos de Engenharia, observados no
mundo real, sejam esses frutos da Natureza ou do engenho humano.

Nessas observações é possível verificar o que não funciona, o que


funciona e como funciona. Esse critério milenar de aceitação, liga-se, desde os
primórdios, aos critérios de desempenho e necessidades de usuários., mesmo que, à
época, de forma inconsciente ou não sistematizada.

A partir dessas observações, os sistemas são criados de forma a


replicar ou extrapolar as condições que foram observadas nos modelos de
desempenho satisfatório.

Mesmo sendo adequada, no que se refere à previsibilidade de


resultados, quando se utiliza a simples replicação de sistemas já conhecidos e
“aprovados”, essa técnica de abordagem traz dificuldades quando se deve
extrapolar conclusões para sistemas muito diferentes daqueles já conhecidos. Esse
fato se verifica uma vez que, para representar as variações de solicitação dos
sistemas e suas características físicas finais, poucas são as relações lineares ou
mesmo representáveis por uma curva simples.

É, até os dias atuais, uma técnica muito utilizada, nos sistemas


hidráulicos prediais, para a construção de pequenas edificações, edificações
provisórias e similares, apresentando bons resultados quando as exigências de
desempenho e custos do sistema se mantém dentro de patamares bastante modestos
16

e, os sistemas, por tal motivo, não fogem dos modelos já exaustivamente


observados.

3.2. Modelos de Cálculo Fechados3.2 e Abertos.

Inicialmente deve-se observar que os modelos de cálculo para


sistemas de distribuição de água em edificações, pertencem a dois grandes grupos
de trabalhos científicos:

a) aqueles de cunho físico;


b) aqueles ligados às determinações das necessidades dos
usuários;

Os primeiros, quando pertencentes ao âmbito da Mecânica dos


Fluídos e da Hidráulica, visam descrever as características do escoamento nos
tubos. Se pertencentes à Economia, descrevem custos, juros, taxas de retorno e
similares. Se à Mecânica das Estruturas, descrevem resistências físicas ou
deformações. E assim sucessivamente.

Já o segundo grupo de trabalhos busca respostas no sentido de,


dado um conjunto de usuários, aparelhos, ou outros parâmetros representativos,
fornecer os parâmetros físicos necessários para que se possa, a partir destes,
utilizando as leis físicas disponíveis, dimensionar os componentes dos sistemas
hidráulicos prediais de forma a satisfazê-los.

3.2
Aqui utiliza-se o termo “modelo fechado” em contraposição aos “modelos
abertos”, mesmo que não tenham sido assim definidos por seus mentores.
17

Dada a importância, e dificuldade, desse problema, muitos


pesquisadores, especialmente no século XX, se ocuparam do mesmo, através de
métodos empíricos ou probabilísticos, sempre ligados, de fato, à resposta da
pergunta formulada no item “d” acima, ou seja: quais as vazões máximas prováveis
em cada trecho da tubulação?”.

Um resumo conciso mas esclarecedor dos principais métodos para


tal finalidade pode ser encontrado em GRAÇA e GONÇALVES (1987b).

Os trabalhos nesse sentido podem, de uma maneira genérica, ser


classificados em dois grandes grupos: modelos fechados e modelos abertos.

3.2.1. Modelos fechados.

Os primeiros modelos visando a busca de tal resposta, surgem no


início do século XX, por pesquisadores como Timmis (1922), Dawson e Kalinske
(1932) ou ainda, mais tarde, Hunter (1940) ou Gallizio (1944) assim como diversos
outros métodos, apresentados por pesquisadores e textos normativos, cf. GRAÇA e
GONÇALVES (1987b).

Ainda segundo a mesma fonte bibliográfica, em que pese


existirem diversos métodos para tal abordagem, “não há, no entanto, o consenso
com relação a uma metodologia geral que possa atender de forma satisfatória às
necessidades dos projetistas de instalações hidráulicas prediais.”

A seguir, GRAÇA e GONÇALVES (1987b), pondera sobre a


fragilidade desses modelos teóricos, ou ainda, a insuficiência de dados de campo
18

para que os mesmos possam operar de forma satisfatória; além do fato de que esses
modelos não contemplam as especificidades relativas ao tipo de ocupação, à
disponibilidade e característica dos equipamentos sanitários, a diferenças
climáticas e culturais, assim como diversas outras características específicas de um
determinado sistema, grupo de usuários ou ambiente.

Nesse grupo de modelos, aqui denominados “fechados”, se


incluem aqueles que, mesmo tendo alguns parâmetros variáveis, utiliza ao menos
um destes de forma fixa, implícita e muitas vezes de tal forma encadeado no
modelo que não há como alterá-lo, a não ser pela reconstrução do método. Um
exemplo típico desse grupo de métodos é aquele apresentado na NBR 5626/98
(ABNT, 1998) que trata de forma idêntica cada aparelho, seja o mesmo equipado
com qualquer tipo de metal sanitário ou ligado a qualquer ponto do sistema de
distribuição, independente da disponibilidade física, temporal ou espacial do
mesmo, assim como da carga dinâmica ali disponível.

3.2.2. Modelos Abertos.

Os modelos abertos, surgidos principalmente durante as últimas


décadas, têm como característica principal o fato de permitirem a caracterização do
comportamento do sistema, sendo um modelo de caráter geral, no que diz respeito
ao relacionamento das variáveis intervenientes, mantendo, no entanto,
especificidades que permitam representar as características particulares de cada
situação de projeto (GONÇALVES, 1986).

Esses modelos, então, permitem que se contemple, à medida do


necessário, características como: tipo de edificação, tipo de aparelho, hábitos de
19

usuários e outras características, geralmente de forma condensada em variáveis


independentes como: tempo de duração de acionamento, intervalo entre
acionamentos, vazão característica dos aparelhos, número de acionamentos em
período de pico e outras.

3.3. Modelos de Simulação.

Os modelos acima apresentados, mesmo os mais elaborados,


permitem a determinação de vazões máximas prováveis nos trechos das
tubulações, e seu conseqüente dimensionamento a essas, através do conhecimento
de Hidráulica disponível.

No entanto, se essa técnica segue seu curso tal como proposto,


não existe como “afinar” as determinações obtidas, pois não há maneira econômica
e viável de monitorar a operação do sistema, não havendo ainda como aplicar,
àquele sistema especificamente, o resultado desse monitoramento.

Mesmo no caso, bastante raro, em que se poderia ter outros


edifícios absolutamente idênticos, não há maneira prática e econômica de
instrumentar o primeiro edifício, que serviria de protótipo, a fim de detectar-se
problemas de sub-dimensionamento ou super-dimensionamento; ainda que isso
fosse feito, não seria viável a alteração de trecho ou conjunto de aparelhos dado
como problemático, e a realização de novas medições para a avaliação do
resultado, voltando-se ao anterior, caso não houvesse nenhum tipo de ganho.

Tendo, sob hipótese bastante improvável, todo esse procedimento


20

como possível, um levantamento de medições com duração de 1 (um) ano, tomaria,


de fato, 1 (um) ano, tornando o tempo de “feedback” muito longo.

Diante do exposto, como um aperfeiçoamento às técnicas


tradicionais de projeto de sistemas de distribuição de água em edifícios, este
trabalho propõe que, após os passos de projeto acima apontados, o sistema seja
“construído”, em ambiente de simulação computacional, e exposto à “utilização”,
tendo todos os parâmetros de interesse determinados, registrados e avaliados,
permitindo ajustes finos no dimensionamento, em sucessivas reconstruções e
avaliações, até que se tenha um resultado satisfatório.

Para que se prossiga com tal abordagem, segundo a qual, através


de simulação computacional, o sistema é montado e posto em operação, criando-se
registros sobre cada parâmetro desejado, que, posteriormente, possam ser
comparados a padrões de desempenho, de satisfação ou insatisfação, e ainda
proceder tais registros por tempos de utilização, simulados, bastante longos, uma
vez que, no ambiente de simulação, é possível acelerar o passar do tempo, é
necessário um conhecimento tão apurado quanto possível sobre dois
comportamentos básicos: o do sistema, e o do usuário, além de que, merece
especial atenção, a maneira segundo a qual ocorre a influência mútua entre eles.

Para que tal processo de simulação se viabilize, além de um


eficiente método para cálculo de redes com vazões reais, seria necessário obter-se,
da melhor maneira possível, a determinação de quais aparelhos3.3, e em que grau,
poderiam ou não estar operando em um dado momento, o que é uma tarefa
bastante complexa.

3.3
Nesse trabalho, o termo “aparelho” é utilizado segundo o contexto explanado no
Capítulo 4.
21

Para se conseguir tal intento, com sucesso aceitável, é necessário


o conhecimento de, no mínimo, os seguintes pontos:

a) quais os padrões de comportamento do usuário e como este


interage com o sistema. Essa informação permite criar a
simulação do comportamento das pessoas no uso do sistema;

b) quais as características e regras através das quais os aparelhos


traduzem ao sistema uma ação do usuário. Essa informação
permite simular corretamente as novas condições de operação
do sistema, a cada ação do usuário;

c) como o sistema responde e se ajusta a uma alteração sofrida


em algum dos aparelhos. Esse conhecimento permite simular a
resposta do sistema, em termos de carga hidráulica e vazões
resultantes nos aparelhos, sob cada ação do usuário;

d) como o aparelho traduz para o usuário uma nova condição, ou


novo estado, apresentado pelo sistema;

e) e, por fim, fechando o ciclo de “feedback”, como o usuário


reage a esse novo estímulo;

Também se faz necessário a determinação de quais grandezas se


deseja acompanhar, e portanto registrar, nesse ciclo de vida simulado do sistema.
As grandezas mais indicadas para registro e monitoração são:
22

a) vazão nos aparelhos, em especial quando na presença do


usuário;

b) vazão e velocidade em cada trecho da tubulação;

c) altura de carga dinâmica em cada ponto de interesse;

d) atitudes tomadas pelo usuário frente a alterações do sistema,


refletidas a esses pelos aparelhos em uso;

e) consumo de água em cada momento de operação do sistema;

A comparação desses registros com padrões de desempenho ou


aceitabilidade, assim como o levantamento do número, freqüência e intensidade
das não conformidades com tais padrões, permitiriam, então, a localização dos
pontos de alavancagem, facilitando o ajuste do sistema, pela alteração de
diâmetros, traçados, tipos de aparelhos, por exemplo, ou outra característica,
conforme se mostrem as solicitações de cada trecho e cada aparelho.
23

4 APARELHOS

No presente trabalho, o termo aparelho sanitário (ou somente


aparelho) é utilizado para designar qualquer tipo de objeto componente do sistema
hidráulico predial que, sofrendo o acesso do usuário, altera, por conseqüência de
tal ação, parâmetros hidráulicos da rede de distribuição. Ou seja, é tratado com tal
designação, todo o objeto que sirva de interface entre o usuário e a rede de
distribuição de água da edificação.

Estabelecida tal premissa, pode-se afirmar que o acesso do


usuário ao recurso proporcionado pelo sistema, a água, no caso dos sistemas de
distribuição de água em edifícios, se faz sempre através de aparelhos sanitários.

Por esse motivo, o estudo dos aparelhos sanitários, quanto a suas


propriedades de interface, torna-se primordial, para o conhecimento da interação
usuário-sistema.

As propriedades de interface de um aparelho constituem-se nas


leis e regras que os mesmo segue, para estabelecer o elo entre o usuário e o sistema
como um todo, “traduzindo” a ação do usuário em mudança de estado para o
sistema e vice-versa. Como exemplo dessas regras temos: a curva pressão x vazão
dos aparelhos, existência e modo de atuação de automatismos e outras.

Além das propriedades de interface inerentes ao aparelho, há de se


observar a necessidade de estabelecimento das propriedades que regem a relação
usuário-aparelho, como por exemplo: presença de usuários, restrições de acesso,
forma de utilização, tempos de utilização, posicionamento relativo no ambiente de
24

“domínio” do usuário e outras, que serão tratadas nos capítulos subseqüentes,


especialmente Capítulos 7 e 11.

4.1. Curvas de Descarga dos Aparelhos.

Todo aparelho hidráulico tem a vazão em sua saída associada à


aplicação de carga hidráulica em sua entrada, de tal forma que se pode escrever:

Qs = f ( H e , C d ) (4.1)

onde Qs - vazão fornecida pelo aparelho;


He - altura de carga hidráulica na entrada;
Cd - coeficiente de descarga;

Para muitos desses aparelhos, a função proposta na equação 4.1


assume a forma apresentada em 4.2.

Qs = C d ⋅ H e α (4.2)

onde: Qs - vazão de saída do aparelho;


Cd - coeficiente de descarga;
He - altura de carga hidráulica na entrada do aparelho;
α - expoente (geralmente entre 0 e 1);

Em que pese a trivialidade, da equação 4.2, há que se considerar


que, com o intuito de permitir que o usuário varie a vazão segundo seu desejo ou
necessidade, a maior parte dos aparelhos sanitários disponíveis permite ao mesmo
25

a efetivação de ajustes de vazão.

De fato, esse ajuste se dá pela alteração dos parâmetros da


equação 4.2 que sejam característicos do aparelho (Cd e α), em especial o
coeficiente de descarga. A forma comum de se proceder tal ajuste é a atuação do
usuário sobre o volante da torneira, registro, misturador ou outro.

Quanto à capacidade de permitir ajustes de vazão pelo usuário, os


aparelhos podem ser classificados em dois grupos:

a) aparelhos de ajustes pré-determinados;


b) aparelhos de ajuste contínuo.

4.1.1. Aparelhos de ajustes pré-determinados.

Nesse tipo de aparelho, o usuário deve escolher um estado dentre


um número finito de estados possíveis. Esses aparelhos podem, então, ser ajustados
pela escolha de um determinado “Cd” a partir de um conjunto determinado de
possíveis valores.

Essa prática corresponde então à escolha de uma das curvas de


descarga, dentre o conjunto de curvas oferecidas.

Exemplos típico desse modo de atuar são as torneira e


misturadores com pastilha cerâmica e operação em 1/4 de volta, as torneiras
eletrônicas acionadas por solenóide e outros similares que apresentam somente 2
estados: parado (Cd=0) e operação (Cd>0).
26

Na Figura 4.1 pode ser vista uma curva de descarga hipotética


para um aparelho de ajuste pré-determinado, ou seja, caso o mesmo esteja
operando, o faz através da curva do gráfico, caso não, apresenta vazão nula (Q=0)
para qualquer valor de altura de carga na entrada.

1,4
1,2
1,0
Q [L/s]

0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 45 90 135 180 225 270 315 360
H [KPa]

Fig. 4.1 Curva de descarga para aparelho hipotético, de ajuste pré-determinado,


com 2 estados (operação e parada).

4.1.2. Aparelhos de ajuste contínuo.

Nesse tipo de aparelho, o usuário pode variar continuamente o


valor do coeficiente de descarga (Cd), atuando no aparelho, desde a parada de
operação (Cd=0), até a máxima vazão disponível (Cd=Cdmáx).

A Figura 4.2 apresenta uma “família” de curvas de descarga


correspondentes a um aparelho, também hipotético, que permite ajuste contínuo.

De fato, essa “família” de curvas é constituída por infinitas curvas


que formam um “continum”; na Figura 4.2 estão apenas ressaltadas algumas delas
a fim de facilitar o entendimento, mas o usuário pode posicionar o aparelho em
qualquer uma das infinitas curvas contidas entre a parada e a curva de máxima
vazão.
27

1,4
1,2
1,0

Q [L/s]
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 45 90 135 180 225 270 315 360
H [KPa]

Fig. 4.2 Campo de curvas de descarga para aparelho hipotético, de ajuste contínuo
pelo usuário.

4.2. Formas de Acionamento de Aparelhos.

Quanto à forma pela qual os usuários acionam os aparelhos 4.1, em


termos temporais, e supondo-se uma utilização racional dos mesmos, pode-se
propor a classificação dos aparelhos nos seguintes grupos:

a) aparelhos de operação em presença do usuário;


b) aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática;
c) aparelhos de acionamento pelo usuário e parada após ciclo
automático;
d) aparelhos de acionamento por ação indireta do usuário ou
ambiente;
e) aparelhos de acionamento e parada automáticos;
f) aparelhos de operação contínua.

4.1
Para efeito desse estudo, o aparelho é considerado acionado, e em operação
quando, mesmo não apresentando vazão, cumpre algum ciclo característico resultante de ação do
usuário ou ambiente.
28

4.2.1. Aparelhos de operação em presença do usuário:

São os aparelhos que operam somente com, e durante, a presença


do usuário, ou seja, iniciam sua operação por ação direta do usuário, este fica
presente e “vinculado” ao aparelho até o final da utilização, que ocorre por nova
ação direta do usuário.

Exemplos comuns dessa classe de aparelhos são: lavatórios, pias


de cozinha, chuveiros, duchas, bebedouros, ducha higiênica, bidês, mictórios com
detetores de presença, torneiras de jardim e de lavagem operando mangueiras ou
bombas de pressão.

4.2.2. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática.

São aqueles que dependem da presença do usuário para que


entrem em operação, mas encerram essa operação por meio de algum tipo de
controle físico automático, desencadeando sua ação de parada somente quando
algum parâmetro interno ao aparelho, como volume, tempo ou outro é atingido.

Exemplos dessa classe de aparelho são: bacia sanitária com


válvula de descarga (tem parada vinculada ao preenchimento interno de uma de
suas câmaras), bacia sanitária com caixa acoplada (tem parada vinculada à
reposição do volume da caixa), banheira e torneira de jardim ou lavagem geral
operando pelo preenchimento de baldes (têm parada vinculada ao preenchimento
29

do volume desejado4.2).

4.2.3. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada após ciclo automático.

São os aparelhos que operam seguindo ciclos automáticos, tendo,


no entanto, seu início determinado pela ação do usuário.

Diferenciam-se daqueles de “acionamento pelo usuário e parada


automática” pelo fato de que não realizam uma simples parada, mas seqüências de
paradas e acionamentos, ditadas por parâmetros como: programação prévia,
volumes, tempos ou temperaturas.

São exemplos típicos dessa categoria: lavadoras automáticas de


roupas (algumas com várias opções de ciclo, com diferentes relações entre tempos
e volumes, a serem programadas), lavadoras de pratos (com ciclos comandados por
temperatura e volume).

4.2.4. Aparelhos de acionamento por ação indireta do usuário ou ambiente.

São os aparelhos que têm sua operação comandada pela alteração


de alguma grandeza física que é monitorada pelo mesmo. De fato, essa grandeza
física depende também, mas não somente, do usuário.

4.2
Como se pode observar, para esse caso, assim como para as torneiras de
lavagem operando com baldes, em que pese tenha sido o usuário a acionar a parada do aparelho, esse
age somente como mecanismo de controle e acionamento, uma vez que o momento de sua ação é
determinado não por sua vontade ou presença, mas pelo preenchimento de um volume pré-estabelecido.
De fato, o usuário pode se afastar do aparelho durante sua operação.
30

Um exemplo característico dessa classe de aparelhos é o mictório


acionado por sensor de pH, onde a condição de acionamento depende,
basicamente, de sua efetiva utilização, pelo usuário, mas a parada depende do
volume de água adicionado, e seu poder de neutralização, ocorrendo pela elevação
do pH medido pelo aparelho. Também podem ser assim classificados os sistemas
de irrigação de jardins que operam pela avaliação das condições de umidade do
solo.

4.2.5. Aparelhos de acionamento e parada automáticos.

Nessa categoria se encontram os aparelhos sanitários que não


dependem do usuário para sua operação e não operam com base em grandezas
afetáveis pelo mesmo ou pelo ambiente, às vezes até utilizam a intervenção de
operadores humanos, mas estes somente desempenhando papel que poderia ser
delegado a controladores automáticos.

Nessa classe enquadramos aparelhos acionados e parados segundo


horários predeterminados (por ação humana ou de temporizadores), como por
exemplo regadores de jardim temporizados.

4.2.6. Aparelhos de operação contínua.

São aparelhos que operam continuamente, sob vazão fixa,


durante toda a vida do sistema. Essa classe é, de fato, uma idealização a que se
podem aproximar os aparelhos de acionamento e parada automáticos, quando têm
operação contínua por um espaço de tempo igual ou maior que o período de tempo
sob análise.
31

4.3. Tempos Característicos de Operação dos Aparelhos

O conhecimento dos tempos característicos de operação de cada


aparelho se fazem necessários a fim de permitir, durante o processo de simulação
de uso, uma previsão adequada da operação de cada inserção aparelho-sistema,
com vistas a se avaliar possíveis reações de satisfação, insatisfação ou tolerância
dos usuários durante a interação deste com os aparelhos.

Além da curva de descarga, que nos permite inserir o aparelho no


sistema, sob o ponto de vista hidráulico, é necessário o conhecimento do momento
em que determinado aparelho entra em operação, assim como as características
(tempos e curvas de descarga) que o aparelho deverá assumir após tal evento,
conforme sua natureza, caracterizando o desenrolar de seu ciclo de funcionamento,
em termos de tempos de operação ou seqüência de eventos associados à entrada em
operação.

O conhecimento desses tempos, segundo uma série de métodos,


apresentados em GRAÇA e GONÇALVES (1987b), permite a determinação da
probabilidade de um dado aparelho se encontrar, ou não, em funcionamento em um
dado instante.

Essas probabilidades de ocorrência são avaliadas pelas


tradicionais expressões (eq. 4.3 e 4.4):

t
p= (4.3)
T
q = 1− p (4.4)
32

onde: p - probabilidade de dado aparelho estar em operação;


t - tempo de duração da operação;
T - tempo entre inícios de operação durante o período de
pico;
q - probabilidade de determinado aparelho não estar e
operação.

A seguir, serão tratados os diversos tipos de aparelhos, segundo a


classificação proposta em 4.2.

4.3.1. Aparelhos de operação em presença do usuário.

A operação desse tipo de aparelho, do ponto de vista temporal,


ocorre como apresentado na Figura 4.3.

0,25

0,2
vazão [L/s]

0,15

0,1

0,05

0
0

0
0
40

80
12

16

20

24

28

32

36

40

tempo [s]

Fig. 4.3 Curva tempo x vazão típica para aparelho que exige a presença contínua
do usuário durante a operação.

Como se observa, seria bastante fácil, a partir de dados como o da


Figura 4.3, que pudessem ser tomados por meios estatísticos como típicos para um
determinado grupo de usuários, proceder-se a determinação do tempo de operação
33

(t), do aparelho.

ILHA (1991) procede tal empreendimento, obtendo, entre outros


resultados, o gráfico apresentado na Figura 4.4.

70 65
60
Freqüência [%] 50
40
30
19
20 11
10 1 1 2 1
0
5-32 32-59 59-86 86-113 113-140 140-167 167-194

Duração do uso [s]

Fig. 4.4 Duração de uso do lavatório – água quente (ILHA,1991).

Como se pode observar, os resultados apresentados na Figura 4.4


são muito dispersos para permitirem uma caracterização precisa de tempo de
duração de operação do lavatório. De fato, no trabalho original (ILHA, 1991), foi
encontrado, para o tempo de duração da utilização desse aparelho, “o valor médio
correspondente a 32 s, com desvio padrão de 36 s”.

Se por um lado é difícil, a partir de conjunto de dados como o da


Figura 4.4, a determinação de um tempo de duração de operação (t), que possa ser
tomado como típico, ou ao menos característico, não é difícil a criação de um
ambiente de simulação que possa gerar “durações de utilização” em padrão similar
ao apresentado.

Pode-se inferir de tal tipo de resultados, especialmente quando


originados de um estudo longo aplicado a um grupo representativo de usuários, que
as freqüências com que ocorrem cada duração de uso indicam a probabilidade de
34

que um determinado acionamento ocorra com uma dada duração.

De forma semelhante é possível a determinação do momento de


início da operação (t0).

Ao se procederem estudos estatísticos em busca da determinação


do momento de acionamento de um dado aparelho da classe aqui estudada, por
exemplo um lavatório ou chuveiro, obtém-se uma distribuição de freqüência
semelhante à mostrada na Figura 4.5.

20 18
16
15
Frequência [%]

15
11
10
6 6 6
5 4 4
3
2 22 2 2
1
0
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8

Hora do dia

Fig. 4.5 Número de usos de água quente por hora – lavatório (ILHA, 1991).

De forma semelhante ao proposto para a duração do uso, é


possível, especialmente como fruto de um estudo de monitoramento mais longo,
assimilar a freqüência de utilização de determinado aparelho a sua probabilidade
de acionamento em um dado horário.

Como observado para o tempo de duração, diante de dados dessa


natureza, também não há facilidade em caracterizar-se com precisão, os momentos
de acionamento dos aparelhos, e, consequentemente, os valores dos intervalos de
35

tempo entre utilizações (T).

Ainda aqui não há, no entanto, dificuldade na geração, por


simulação, de um perfil de início de utilização semelhante ao apresentado na
Figura 4.5.

As técnicas para tais simulações deverão ser apresentadas em


capítulos subsequentes.

4.3.2. Aparelhos de acionamento pelo usuário e parada automática.

Esse tipo de aparelho, que, na maioria dos casos, após acionado


pelo usuário tem sua parada condicionada ao preenchimento de determinado
volume, apresenta um tempo de operação (t) dependente do preenchimento desse
volume característico (V). Como o tempo de preenchimento desse volume depende
da vazão de entrada, podemos afirmar que o tempo de operação depende da curva
característica de descarga do aparelho e da altura de carga em sua entrada.

Seguindo-se tal raciocínio, o tempo de operação, por exemplo,


para o enchimento de uma banheira, caixa de descarga ou balde em torneira, pode
ser dado pela equação 4.5.

V
t= 1
(4.5)
Cd ⋅ H 2

onde: t - tempo de operação do aparelho;


V - volume do reservatório inerente ao aparelho;
36

Cd - coeficiente de descarga da entrada d’água;


H - altura manométrica disponível na entrada do aparelho.

Deve-se ressaltar que há, ainda, alguns aparelhos que, como


a bacia sanitária com caixa de descarga, apresentam variação em sua curva de
vazão, no sentido de diminuir seu coeficiente de descarga (e consequentemente a
vazão), à medida em que o volume em seu interior vai sendo preenchido. Para tais
casos o tempo de enchimento é dado pela equação 4.6.

1 V dv
t = 1/ 2 ∫ (4.6)
H 0 Cd (v)

onde: t - tempo de operação do aparelho;


V - volume total do reservatório do aparelho;
v - volume de água na caixa;
Cd(v)- coeficiente de descarga da entrada d’água, tomado
como função do volume já completado na caixa;
H - altura manométrica disponível na entrada do aparelho.

Deve-se, portanto, conhecer a variação de “Cd” em função do


volume já preenchido no aparelho.

O momento de entrada em operação, que deve ser determinado de


maneira semelhante àquele utilizado para os aparelhos de operação em presença do
usuário, apresenta os mesmos inconvenientes e facilidades daquela classe de
aparelhos.
Nos capítulos seqüentes será apresentada técnica de simulação
também para essa classe de aparelhos.
37

4.4. Aparelhos de Acionamento pelo Usuário e Parada após Ciclo Automático.

Para essa categoria de aparelhos, nos quais há um acionamento


inicial por parte do usuário mas, em operação não abortada, este não tem controle
sobre o restante do processo, como é o caso, por exemplo, das máquinas
automáticas de lavar roupas e das lavadoras de louça, é necessário, para o processo
de simulação, o conhecimento de dois padrões de ocorrência: o momento de
entrada em operação e a lógica de controle do ciclo de operação.

O primeiro parâmetro, o momento de entrada em operação, pode


ser avaliado da mesma forma apresentada nas classes de aparelhos anteriores.

Já a segunda informação necessária pode ser obtida pelo


levantamento, em condições laboratoriais, do ciclo de operação do aparelho.

Para tal levantamento deve-se seguir alguns passos básicos:

a) entender e resumir as fases do ciclo, na forma de passos


escritos;

b) quantificar as grandezas referenciadas nesses passos;

c) visualizar os ciclos e fases de operação em resumos ou


gráficos, conforme interesse;
38

Tal seqüência aplicada a uma máquina de lavar roupas4.3 se mostra


da seguinte forma:

a) resumo das fases do ciclo:

• abertura da válvula de admissão de água enchendo o tanque


até completar determinado volume;
• acionamento do agitador por um determinado tempo para
mistura do sabão;
• parada total, por um tempo mais longo, deixando a roupa de
molho;
• acionamento do agitador, por determinado tempo, para
lavagem;
• parada do agitador e descarga do conteúdo de água;
• acionamento da centrífuga com ocorrência de curtas aberturas
da válvula de admissão de água;
• parada do motor e acionamento da válvula de admissão de
água até completar determinado volume;
• acionamento do batedor por tempo determinado;
• parada e descarregamento da água;
• acionamento da centrífuga com ocorrência de curtas aberturas
da válvula de admissão de água;
• parada total: ocorrência do fim do ciclo.

Como se pode observar, o ciclo está dividido em várias fases, e o


sistema de suprimento de água é solicitado em apenas algumas delas. Portanto,

4.3
Marca Brastemp, modelo Luxo, Línea Veneza, adquirida em 1988, operando
nível 3, ciclo completo com cerca de 4Kg de roupas.
39

deve-se determinar quais fases acionam esse sistema, quando ocorrem e como são
controladas.

Para tal passa-se, a seguir, para:

b) quantificação das grandezas de controle;

• a vazão de entrada de água no conjunto, conforme foi


levantada, é dada por:

Qe = 1,688 ×10 −2 ⋅ H
1
2
(4.7)

onde: Qe - vazão de entrada na máquina [L/s];


H - altura de carga na entrada da torneira [KPa].

• o volume no qual ocorre a parada do enchimento foi


caracterizado como sendo de 53 L;

Diante dessas duas constatações, é possível inferir que o tempo de


acionamento da válvula de admissão de água, assim como a vazão, são função da
altura manométrica disponível, e podem ser obtidos pelas equação 4.7 e 4.8:

3199
t= 1
(4.8)
H 2

onde: t - tempo de acionamento da válvula de admissão [s];


H - altura de carga disponível na entrada da torneira [KPa].

• o acionamento do batedor por cerca de 4 minutos;


40

• a parada para “molho” por cerca de 36 min;


• lavagem por agitação, com cerca de 12 min;
• descarga da água por cerca de 2 min4.4;
• acionamento da centrífuga. Durante o processo foram
registrados 8 aberturas da válvula de admissão de água, em
intervalos de cerca de 25 segundos, com tempo de duração
fixo em torno de 6 segundos.
• Novo enchimento da máquina, seguindo as mesmas regras
apontadas no primeiro enchimento;
• novo período de agitação por cerca de 2 min;
• descarga da água por cerca de 2 min;
• acionamento da centrífuga. Durante o processo foram
registrados 4 aberturas da válvula de admissão de água, em
intervalos de cerca de 25 segundos, com tempo de duração
fixo em torno de 6 segundos, seguidos do processo de
centrifugação sem mais aberturas de água, por cerca de 6 min.
no total;
• parada e término do ciclo.

c) análise de dados:

Como se pode observar, para efeito de conhecimento da ação do


aparelho sobre o sistema de suprimento de água, temos, por síntese:

• acionamento de água com vazão dado pela equação 4.7 e


tempo dado pela equação 4.8;
• fase sem acionamento de água com duração de cerca de

4.4
Não se trata de 2 minutos de vazão, mas alguns segundos iniciais de descarga
para o volume de água, seguido do acionamento da bomba por algum tempo para o esgotamento de
sobras; portanto não se pode utilizar tais dados para a avaliação da vazão de esgotamento.
41

57’58”;
• conjunto de 8 “pulsos” com duração de 6 segundos, espaçados
de 25 segundos, com vazão dada pela equação 4.7 e volume de
consumo de cada “pulso” dado pela equação 4.9.

Vcp = 1,013 × 10 −1 ⋅ H
1
2
(4.9)

• novo acionamento de água com vazão dado pela equação 4.7 e


tempo dado pela equação 4.8;
• intervalo sem acionamento da água com cerca de 2 min;
• conjunto de 4 “pulsos” com duração de 6 segundos, espaçados
de 25 segundos, com vazão dada pela equação 4.7 e volume de
consumo de cada “pulso” dado pela equação 4.9.
• final do ciclo.

A Figura 4.6 apresenta vários possíveis ciclos de operação da


máquina de lavar roupas avaliada, no que se refere a tempos e vazões, para vários
valores de altura de carga disponíveis na entrada da torneira que alimenta o
equipamento.

Como se pode observar do exposto, aparelhos com tal modo de


operação têm seus tempos e vazões característicos bastante influenciados pela
altura de carga disponível em sua entrada de água, dessa forma, dentro de um
contexto de maior precisão, torna-se difícil tomar como iguais, por exemplo,
máquinas de lavar roupas instaladas em pavimentos de níveis muito diferentes
entre si.
42

H=21,5 KPa H=40 KPa

0,1 0,12
0,08 0,1
Vazão [L/s]

Vazão [L/s]
0,06 0,08
0,06
0,04
0,04
0,02 0,02
0 0
0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00

0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00
Tempo Tempo

H=80 Kpa H=160Kpa

0,2 0,25
0,2

Vazão [L/s]
Vazão [L/s]

0,15
0,15
0,1 0,1
0,05 0,05
0 0 0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00
0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00

Tempo Tempo

H=320Kpa H=400Kpa

0,35 0,4
0,3
Vazão [L/s]

0,3
Vazão [L/s]

0,25
0,2 0,2
0,15
0,1 0,1
0,05
0 0
0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00
0:00:00

0:10:00

0:20:00

0:30:00

0:40:00

0:50:00

1:00:00

1:10:00

1:20:00

1:30:00

Tempo Tempo

Fig. 4.6 Prováveis perfis de consumo e operação para máquina de lavar roupas
submetidas a diversas alturas de carga na entrada da torneira.

Outras classes de máquinas, como as de lavar louças, têm ainda


ciclos de determinação mais complexa, uma vez que, por exemplo, algumas delas
têm suas fases de lavagem e enxágüe em ação até que a água atinja determinada
temperatura, fazendo com que o tempo entre sucessivos processos de enchimento
dependam, então, do tempo gasto para que se atinja tal temperatura, e, portanto,
43

indiretamente, em maior ou menor grau, da potência do elemento calefator interno,


da temperatura da água na entrada, da temperatura, massa e calor específico do
conteúdo a ser lavado, das características de condutibilidade térmica de suas
paredes, do local de instalação, da temperatura ambiente, entre outras.

No entanto, por simulação, é possível inserir tais aparelhos, com


suas características específicas, na operação do sistema.

4.4.1. Aparelhos de acionamento e parada automáticos.

Os momentos de acionamento e parada desse tipo de aparelhos


são facilmente conhecidos, uma vez que são, de fato, determinados pelo usuário,
não como inferência de probabilidade estatística mas como imposição ou
programação, registrada em um temporizador automático ou mesmo no proceder
diário de um operador.

Tem seus tempos de entrada em operação (t0) e seu tempo de


duração de operação (t) tão bem determinados que não há sentido em estudar-se
sua probabilidade de operação, uma vez que sabe-se, em um dado momento, se o
mesmo está ou não operando.

Têm uma característica tempo x vazão semelhante àquela


mostrada na Figura 4.6.
44

0,7
0,6
0,5

Vazão [L/s]
0,4
0,3
0,2
0,1
0

15:50
16:00
16:10
16:20
16:30
16:40
16:50
17:00
17:10
17:20
17:30
17:40
17:50
18:00
18:10
Tempo

Fig. 4.7 Curva tempo x vazão para aparelho acionado por temporizador.

Como se pode ver, fica claro que o aparelho em questão é


acionado às 16:00 horas, opera por 2 horas, parando às 18:00.

No entanto, em que pese tais aparelhos terem a determinação de


tempos muito simples, já a curva de descarga, que acompanha a equação 4.2, pode
ser selecionada tanto pelo critério da curva fixa, ou seja, uma vez acionado o
aparelho segue uma determinada curva de descarga preestabelecida, ou pelo ajuste
inicial em um campo de curvas, onde se escolhe qual curva o aparelho deve seguir
durante sua operação.

4.4.2. Aparelhos de operação contínua.

São aparelhos em que não há razão para estudo de tempos e


momentos de operação, ou seja, sempre estão vertendo água.

A vazão de descarga desses aparelhos pode seguir 3 (três) linhas


de operação:
45

i) a existência de uma regulagem, ou calibre, não acessível ao


usuário ou a automatismos, mantendo a vazão sob curva similar à equação 4.2,
com coeficiente de descarga fixo. Esse tipo de operação terá, portanto, sua vazão
ditada pelas condições de altura de carga presentes;

ii) sistemas onde a vazão pode ser ajustada pelo usuário, durante o
período de operação. Esse tipo de operação proporciona uma vazão ditada pelas
condições de altura de carga presentes, mas, sofrendo correções, mais ou menos
precisas de vazão, conforme a sensibilidade e as preferências do usuário que
amiúde acompanha a operação do aparelho;

iii) sistemas de vazão constante controlada automaticamente.


Nesses sistemas a vazão permanece constante, frente às variações de altura de
carga na entrada, pela atuação de algum tipo de mecanismo regulador ou válvula
que leve o expoente (α) da equação 4.2 a valores muito próximos de zero.

Esse tipo de aparelho, raro em ambiente residencial, mas comuns


em sanitários públicos, é de fácil caracterização tanto estatística como por
simulação, uma vez que sabe-se que o mesmo sempre está atuando.
46

5 COMPONENTES DOS SISTEMAS HIDRÁULICOS PREDIAIS

KAUFFMAN (1980) apresenta que todo sistema é composto de


sistemas menores, ou sub-sistemas, organizados de maneira adequada a tal
composição. Essa seqüência poderia se estender em pequenos saltos, com o nível
de síntese desejado, desde as partículas subatômicas elementares até o Universo
como um todo.

Diante dessa colocação, a proposição de que um determinado


sistema possa ser construído de elementos primordiais que não constituam sistemas
em si mesmo (componentes), se mostra inaplicável; a não ser talvez no mais
primordial dos níveis subatômicos.

Da mesma forma, pode-se agregar sistemas de mesmo nível, a fim


de se estudar a interação entre os mesmos, compreendendo então sistemas maiores,
e assim sucessivamente até a descrição do Universo5.1, tornando-se então
desnecessária a definição de um meio ambiente no qual se insere o sistema em
estudo.

No entanto, é necessário, para fins práticos, que sejam


posicionadas essas duas balizas: componente e meio ambiente.

No presente capítulo, procura-se posicionar a primeira delas, o


que seja “componente”, uma vez que tal será aqui o objeto de estudo.

5.1
Aqui citado em um sentido completamente amplo, e não especificamente o
espaço sideral com seu conteúdo.
47

5.1. Conceituação.

Para o presente trabalho, receberá o tratamento de componente


todo aquele subsistema tomado com características, leis físicas e regras de
interação com outros de mesmo nível, conhecidas; ao menos no que concerne aos
propósitos aqui expostos.

Esse conceito, na grande maioria das vezes, deverá coincidir com


as unidades padronizadas ou comerciais disponíveis, uma vez que o presente
trabalho não pretende alcançar o estudo dessas unidades, enquanto sistemas que
são, autorizando então seu tratamento como componente.

Fará referência ainda, como componente, a certos subsistemas


compostos por partes comerciais, que possuam suas características definidas como
se fossem unidades pré construídas.

5.2. Caracterização dos Componentes.

Para caracterizar um determinado componente é necessária a


descrição, sistematizada, de regras ou leis que permitam determinar o
comportamento do mesmo a partir de solicitações ou “estímulos” desencadeados
por alterações físicas em si mesmos, por outros componentes, por partes do sistema
em que se inserem, ou por ações do meio ambiente.

Essas reações também devem estar organizadas sob esses quatro


48

níveis: ações sobre si mesmos, sobre outros componentes, sobre outras partes do
sistema em que se insere, sobre o meio ambiente.

Faz-se necessário ainda tornar explícito que, para efeito desse


trabalho, o enfoque de componente não se aplica somente sobre as peças
industrializadas como tubos, conexões, “kits” hidráulicos previamente montados
ou similares, mas também, ocasionalmente, sobre a água ou mesmo sobre formas
de energia presentes no sistema, uma vez que, no presente trabalho, o termo
“componente” se refere a “componente do sistema predial de distribuição de água”,
e não a componentes comerciais como tubos ou conexões, sendo que o conjunto
destes está contido naqueles.

5.3. Caracterização Individual de Componente

A caracterização de cada componente pode ser feita através de


uma ficha (ou registro em banco de dados) que contenha, para o mesmo, todas as
características que lhe sejam pertinentes para a análise em curso ou necessárias e
oportunas para a característica de estado do sistema que se deseje determinar.

Essa abordagem poderá fazer com que diversas dessas


características determinadas não apresentem aplicação imediata, no entanto, pode-
se afirmar que o conhecimento que se venha a ter sobre um sistema está limitado,
entre outras coisas, pelo conhecimento que se disponha sobre seus subsistemas
componentes.

Muitas dessas características não são fornecidas pelo produtor do


49

componente, outras o são de maneira indireta, o que dificulta a caracterização total


dos mesmos, e portanto, a caracterização precisa dos sistemas.

Para permitir um maior conhecimento do objeto sob análise, dessa


maneira, seria de se esperar que as normas técnicas que regem a área
apresentassem a exigência de disponibilização, por parte dos produtores de
sistemas e componentes, em todos os níveis, de um elenco de características
consideradas como primordiais.

Mesmo na falta dessas características, deve-se evitar ao máximo a


prática da “adoção” de valores; é mais conveniente buscar a caracterização das
mesmas através de pesquisas, ensaios de laboratório ou outras técnicas adequadas.

Como exemplo de caracterização de componente tomamos o tubo


de PVC soldável, com algumas propriedades apresentadas na Tabela 5.1.

TABELA 5.1 - CARACTERIZAÇÃO PARA TUBOS DE PVC DN 25.


Característica “Valor”
Discriminação Tubo de PVC soldável DN25
Comprimento L [m]
Nível das extremidades Za; Zb [m]
Peso 1,94 x 10-1 x L [Kg](1)
Custo de Material 8 x 10-1 x L [R$]
Vida útil 50 anos(1)
DN - entrada #1 25 [mm](2)
DN - saída #1 25 [mm] (2)
Di - entrada #1 21,6 [mm] (2)
Di - saída #1 21,6 [mm] (2)
Temperatura de serviço máxima 60ºC
Superfície externa 7,854 x 10-2 x L [m2]
Coef. de condutibilidade térmica 0,15 W/m.K(1)
Coef. de dilatação térmica 7 x 10-5 ºC-1(1)
Módulo de elasticidade 3000 MPa(1)
Perda de carga (ver Anexo A)
(1) CPC, 1996; (2) NBR5648/77
50

Pode-se observar, pela ficha da Tabela 5.1, que a caracterização


do componente não é necessariamente exaustiva, e, de fato, nunca o será, mas deve
trazer as propriedades relevantes à determinação das características desejadas para
o sistema em que esse componente se insere, como pode ser visto no Apêndice III,
quando se refere às características hidráulicas.

5.4. Subsistema Tomado como Componente.

O grande número de componentes que forma o sistema de rede de


distribuição de água em um edifício, mesmo de pequeno porte, introduz uma
grande complexidade5.2 para a análise de seus aspectos, como poderá ser inferido a
partir do Capítulo 6.

No entanto, na tipologia de edifício aqui estudada, existe um alto


grau de repetitividade de subsistemas, como por exemplo os ramais ou, geralmente
por simetria, as colunas de distribuição.

Para tirar proveito desse fato e reduzir a complexidade da análise


do sistema como um todo, após devidamente estudados, esses subsistemas podem
ser rotulados e caracterizados, através de suas leis e valores, de modo que, a partir
de então, tais elementos passem a ser tratados como fossem simples componentes.

Com vistas a reduzir ainda mais a complexidade de análise,


também podem ser tratados como componentes as associações de peças, como

5.2
Nem tanto complexidade conceitual mas no sentido de ser necessário o estudo
simultâneo de milhares de componentes.
51

tubos e joelhos, “kits” misturadores para chuveiros e outros como será visto no
Capítulo 6.
52

6 SISTEMAS

Segundo KAUFFMAN (1980), “um sistema é um conjunto de


partes que interagem entre si para funcionarem como um todo”, portanto, para
descrever um sistema, é necessário algum tipo de abstração que permita representar
como ocorrem as interações entre essas partes, e como esses componentes ou
subsistemas de interconectam, segundo a necessária organização que caracteriza o
sistema como tal.

Para tal representação, que pode ser considerada como “a


representação de relações arbitrárias entre objetos” (AHO et alli, 1987), recorre-se
a um tipo de abstração de dados conhecido como “grafo”.

6.1. Grafos.

Os grafos são estruturas de dados que permitem modelar o mundo


real (KINGSTON, 1995).

Os grafos são representados, de maneira pictográfica, por uma


série de “vértices”, que representam os componentes participantes dessas relações
e uma rede de “arestas”, que representam as relações entre os componentes. Na
Figura 6.1 podemos ver um exemplo pictográfico de grafo.
h
b e
a
d g
c f

Fig. 6.1 Representação pictográfica de um grafo


53

A notação de conjunto, apresentada nas equações 6.1.a e 6.1.b,


também é uma forma de representação do grafo apresentado na Figura 6.1.

V = {a, b, c, d , e, f , g , h} (6.1.a)

E = { a , b , a , c , b, e , c , d , d , e , d , f , f , g , g , g , g , e } (6.1.b)

onde: V – conjunto de vértices do grafo (componentes);


E – conjunto de arestas do grafo (relações).

Quando o sentido da relação é de importância para a descrição


desejada do grafo, o mesmo é dito “orientado”.

Para a representação do sistema de distribuição de água em um


edifício é necessário observar que, ao contrário do que poderia sugerir uma
primeira visão, as “arestas” do grafo não representam tubos, tampouco as setas dos
grafos orientados representam, necessariamente, o sentido de fluxo de alguma
grandeza física, mas sim representam relações e sentido de influência6.1.

6.1.1. Casos especiais de grafos.

Alguns grafos são tratados de forma especial uma vez que


apresentam características especiais como o fato de terem somente uma direção
possível a seguir, de cada vértice estar ligado de modo a receber influência direta

6.1
Esse sentido de influência pode ser de orientação única, ou bi-orientado. Não se
pode ainda descartar que, em alguns casos, realmente esse sentido de relação coincide com sentidos de
fluxos físicos.
54

de somente um outro vértice ou outra característica qualquer que os faça pertencer


a um subconjunto dentre os grafos.

Freqüentemente, esses grafos especiais podem modelar os


sistemas de maneira simplificada, proporcionando ganhos em termos de agilidade e
compreensão, em situações em que não se requer níveis de detalhes por demais
sofisticados, ou mesmo em sistemas mais simples, sem complexos ciclos de
“feedback” ou diversas opções de configuração em operação.

Também é possível, a partir de uma modelagem complexa em um


grafo, para fins de estudos específicos e com perda de precisão controlada, extrair-
se esses modelos simplificados de um grafo complexo que modela todo o sistema.

A seguir passamos a descrever sucintamente, em ordem


decrescente de complexidade, os casos mais freqüentes dessas simplificações.

a) Árvores.

As árvores são grafos orientados nos quais, a partir de um nó


inicial, denominado “raiz”, tem-se um e somente um caminho direto possível para
se chegar a qualquer outro nó. Uma representação pictográfica dessa estrutura de
abstração de dados se encontra na Figura 6.2.

a b

c d g e f

Fig. 6.2 Representação de uma árvore de raiz em “r”.


55

Assimilar a organização de um sistema de distribuição de água em


rede aberta a uma árvore, mostra-se adequado para o entendimento de uma série de
relacionamentos, como por exemplo, vazão e perda de carga, onde as “folhas”6.2
seriam os aparelhos, os “vértices” internos componentes como tubos, conexões ou
válvulas e a “raiz” um elemento de suprimento, como por exemplo um
reservatório.

b) Listas.

As listas são grafos que têm um único caminho possível a ser


percorrido, sendo que, para atingir o último dos vértices (“cauda”), a partir do
primeiro deles (“cabeça”), é necessário que se percorra todos os vértices presentes.
Na Figura 6.3 vemos a representação de uma lista.

h b c d e f

Fig. 6.3. Representação de um grafo em forma de lista, onde “h” corresponde à


cabeça e “f” à cauda.

Listas são adequadas para análises mais simples, ou de algumas


características isoladas de subsistemas, como por exemplo linhas de adução,
alimentadores ou tubulação de recalque, onde os componentes, para várias
características, guardam essa disposição em série assimilável a listas.

Deve-se observar que tanto as árvores como as listas não admitem


a existência de vértices avulsos, ou seja, que não guardem nenhum tipo de relação
com qualquer outro, como o caso do vértice “h”, na Figura 6.1. No entanto, tanto a

6.2
São denominados folhas os “vértices” , ou “nós”, da árvore que não se ligam a
nenhum nó subseqüente, constituindo assim o final de um possível caminho.
56

lista como a árvore de um único elemento são definidas, assim como a lista vazia.

Maiores definições, algoritmos e propriedades dessa classe de


estruturas de abstração de dados podem ser encontrados, dentre muitas fontes, em
AHO et alli (1987) e KINGSTON (1995).

6.2. Representação de Sistemas Prediais de Distribuição de Água Através de


Grafos.

Para a representação de um sistema através de um grafo é


necessário o conhecimento de dois grupos de elementos:

a) os componentes que formarão o sistema, que constituirão os


vértices do grafo;

b) as relações entre esses componentes, que constituirão as arestas


do mesmo.

Para uma determinada configuração inicial, portanto, deve ser


possível responder a duas perguntas:

a) quais os componentes que se acham presentes? Essa resposta


permite a construção do conjunto “V” apresentado na equação 6.1.a;

b) para cada elemento “vi” de “V”, existe algum tipo de influência


que o mesmo exerça sobre cada elemento “vi” de “V”? Essa resposta permite
57

determinar o conjunto “E”. De fato, para evitar um aumento de complexidade


provocado por um conjunto “E” repleto de elementos de pouca importância, deve-
se reformular a pergunta: para cada elemento “vi” de “V”, existe algum tipo de
influência, de interesse, que o mesmo exerça sobre cada elemento “vi” de “V”?

Segue-se um exemplo simples para auxílio à explanação dessa


abordagem.

A Figura 6.4 apresenta um reservatório, ligado a um tubo,


terminando em uma torneira, o conjunto conduz água.

Água Reservatório
1 2

Registro de gaveta
Entrada de borda
4
3

Tubo
5 Torneira
Tubo Luva 9
Joelho 7 8
6

Fig. 6.4 Exemplo de um sistema predial de distribuição de água.

Na Figura 6.5, tem-se uma possível representação, em grafo,


desse sistema.

Fig. 6.5 Representação em grafo do sistema apresentado na Figura 6.4.


58

As relações constantes da Figura 6.5 são as seguintes:

• 1-2 a 1-9 - as propriedades da água exercem influência sobre todos os


componentes. Por exemplo, se a temperatura da água aumenta, a pressão
máxima de trabalho para os tubos e conexões pode diminuir; se a água se
encontra contaminada, pode contaminar o reservatório, etc.;
• 2-1 - a qualidade da água depende do estado sanitário do reservatório, ou seja,
um reservatório contaminado pode fornecer contaminante à água;
• 2-3, 3-4, 4-5, 5-6, 6-7, 7-8, 8-9 - em cada uma dessas relações, da pressão e
vazão de saída do primeiro elemento depende a pressão e vazão de entrada do
segundo;

De fato, as arestas do grafo representado na Figura 6.5 não


correspondem a uma única relação, mas, por vezes, a “feixes” de relações, como
está explicito, por exemplo, na análise da relação 1-2 e 2-1, onde o termo
“contaminante” representa genericamente qualquer um, ou diversos, componentes
presentes na água.

Outro aspecto relevante é o fato de determinarmos no grafo a


existência de uma relação de influência somente quando esta nos pareça
importante. Observa-se que existem várias outras relações que poderiam ser
assinaladas, como por exemplo, o fato dos tubos e conexões poderem liberar
partículas ou compostos químicos, inerentes a sua composição, na água, alterando
propriedades químicas desta. Essa relação poderia se tornar importante, por
exemplo, no que se refere a liberação de íons, se o tubo “5” fosse de cobre e o tubo
“7” de aço galvanizado.
59

Não estão representadas as influências que um componente tem


sobre si mesmo, ou seja, a alteração de determinada característica do componente
em função de outra também sua, uma vez que esta relação é implícita para todos os
componentes.

A representação de um sistema predial de distribuição de água em


um grafo visa, sobretudo, facilitar a resposta para as seguintes perguntas:

a) ao calcular-se o valor de uma determinada propriedade, de um


determinado componente, quais os outros componentes do sistema que exercem
influência sobre o mesmo?

b) Através de qual propriedade está sendo exercida essa


influência, pelo componente que o faz?

É evidente que tal indagação deve gerar uma no sentido inverso,


ou seja: a alteração de determinada propriedade de determinado componente pode
provocar alteração em quais outras propriedades de quais outros componentes?

Essas duas características, aqui explicitadas em forma de


perguntas, evidenciam a dinamicidade dos sistemas hidráulicos prediais, que,
diferentemente de alguns outros sistemas (os sistemas estruturais6.2, por exemplo),
não encontram equilíbrio estático, ou seja, um estado final permanente. Mesmo que
se avalie a hipótese dos mesmos aparelhos permanecerem acionados de maneira
contínua e com regulagem fixa, de se estabelecerem todos os regimes permanentes
e ciclos automáticos que porventura existam, ainda assim existem propriedades,

6.2
Sistemas estruturais ideais, pois sempre existem características dinâmicas nas
estruturas como fluência, deformações lentas, etc.
60

como a deposição ou carreamento de resíduos, as incrustações ou corrosões, ou


outras, que estão indissociavelmente ligadas ao fato de existir fluxo de água no
sistema.

6.3. Representações de Grafos.

Se é possível a representação de um sistema predial de


distribuição de água através de um grafo, deve-se agora buscar a representação
mais adequada desse grafo, de acordo com a finalidade desejada ou com o meio de
armazenamento e processamento de dados disponível.6.3

Como se pode observar, na Figura 6.5, mesmo tomando-se um


sistema extremamente simples, como o apresentado na Figura 6.4, o grafo
correspondente pode apresentar um grande número de vértices e arestas, assim
como, ainda há a necessidade de se entender cada relação em cada “feixe” de
relações.

Com o intuito de melhorar a compreensão e o registro dessas


relações, apresenta-se, a seguir duas formas alternativas de representação de um
grafo.

6.3
Estruturas adequadas para armazenamento convencional (gráfico)
freqüentemente não são as mais adequadas para armazenamento eletrônico, ou em sistemas de fichários;
o mesmo ocorre com relação a processamento dos cálculos por meio manual ou eletrônico.
61

6.3.1. Matriz de adjacências.

Uma matriz de adjacências, como definida em (AHO et alli,


1987), que para efeito do presente trabalho pode ser denominada matriz de relação,
é uma matriz quadrada (n x n), tendo como lado o número de vértices do grafo, e
contendo valores lógicos (do tipo FALSO | VERDADEIRO ou 0 | 1), indicando
haver ou não relação entre cada vértice “i” do grafo.

Para caracterizar a orientação do grafo deve-se convencionar uma


das dimensões da matriz como origem da relação (aquele vértice que exerce a
influência), por exemplo, as linhas. Uma matriz elaborada dessa forma, para o
grafo da Figura 6.5, pode ser vista na Figura 6.6.

1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 1 1 1 0 0 0 0 0 0
3 0 0 1 1 0 0 0 0 0
4 0 0 0 1 1 0 0 0 0
5 0 0 0 0 1 1 0 0 0
6 0 0 0 0 0 1 1 0 0
7 0 0 0 0 0 0 1 1 0
8 0 0 0 0 0 0 0 1 1
9 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Fig. 6.6 Matriz de relação para o sistema apresentado na Figura 6.4.

Como se pode observar, essa matriz de relação apresenta uma


grande esparsidade, ou seja, contém um grande número de elementos nulos, o que
não a recomenda para armazenamento direto em computadores, especialmente para
a representação de sistemas com grande número de componentes.

Além disso, é possível apenas verificar se existe ou não alguma


relação entre dois componentes mas não sua natureza, se de energia, fluxo, massa
62

ou outra; tampouco qual propriedade do componente “mestre” (aquele que exerce a


influência) atua sobre qual propriedade do componente “escravo” (aquele que
recebe a influência).
Essa representação poderia, a princípio, ser melhorada com a
introdução de uma terceira dimensão “r” na matriz, tornando-a uma estrutura
tridimensional, onde cada plano “ri” corresponderia a uma possível relação:
transferência de massa, de energia, de força ou outra qualquer. No entanto tal
expediente, apesar de explicitar e permitir recuperar o tipo de relação, aumentaria
consideravelmente a esparsidade da matriz.

Já a representação da relação em si, ou seja, qual propriedade do


componente mestre atua sobre qual propriedade no componente escravo pode ser
expressa por um par coordenado (x;y), contendo referência e essas propriedades.

Essa notação, no entanto, ainda é frágil pois permitiria apenas a


notação de um par de propriedades “mestre-escravo” tomada para cada relação.

Como não se pode criar mais de uma aresta com o mesmo sentido
entre dois vértices, pois haveria indução de séria ambigüidade na matriz de
adjacência, uma solução possível seria a associação, como elemento dessa matriz,
não mais de um rótulo do tipo lógico ou um par (x;y) denotando uma relação única,
mas um vetor de pares (x;y), denotando todas as propriedades do componente
“mestre” e sua correspondente, sob uma relação de igualdade no componente
escravo.

6.3.2. Lista de adjacências.

Outra possível representação para um grafo orientado é conhecida


63

como lista de adjacências, ou para o presente estudo, lista de relações.

As listas de relações são constituídas por elementos encadeáveis6.4


cada qual representando um vértice do grafo. Uma representação dessa estrutura,
que toma como modelo o grafo da Figura 6.5, pode ser vista na Figura 6.7.

1 2 3 4 5 6 7 8 9
2 1 3
3 4
4 5
5 6
6 7
7 8
8 9
9

Fig. 6.7 Representação do grafo da Figura 6.4 em forma de lista encadeada.

A representação em forma de lista encadeada, como apresentado


na Figura 6.7, apresenta algumas características que devem ser mencionadas:

a) não apresenta esparsidade, ou seja, aloca espaço para a relação


somente quando esta existe;

b) apresenta duplicidade de vértices. Alguns vértices, por


sofrerem influência de vários outros, são apresentados várias vezes. Esse fato torna
desaconselhável que as informações de características e de estado dos componentes
representados nesses vértices sejam armazenadas nestas estruturas de dados, mas
sim em estruturas à parte, apontadas pelos nós da lista de relações, a fim, de
minimizar o risco de inconsistência, que aumenta na proporção direta do aumento
de redundâncias;

6.4
Elemento encadeáveis podem ser fichas que trazem apontadores para outras
fichas, ou elementos de dados em computador que trazem apontadores para outros da mesma espécie.
64

c) a lista de relações apresenta a existência de alguma relação e


não sua natureza. Esse inconveniente pode ser resolvido criando-se uma lista de
propriedades interrelacionadas para cada tipo de relação existente, o que não
implicaria em aumento de esparsidade uma vez que a estrutura básica não a
apresenta;

d) por fim, pode-se observar a grande limitação apresentada por


essa representação para nosso objetivo. Não é possível responder de forma direta à
questão: para calcular o estado desse componente deve-se saber previamente o
estado de quais componentes?

6.3.3. Lista de adjacências reorientada.

A lista de adjacências reorientada, aqui definida como sendo a


lista de adjacências de um grafo orientado, tendo como origem não o vértice que
exerce influência, mas sim aquele que recebe a influência de outro.

Esse expediente permite que se tenha de forma imediata a série de


componentes que influenciam aquele que se deseja determinar o estado, mantendo
as características e observações anteriormente feitas para as listas de adjacências.
Essa representação, para o grafo da Figura 6.5, pode ser visto na Figura 6.8.
65

Fig. 6.8 Lista de adjacências reorientada para o grafo da Figura 6.5.

Como se pode observar, nessa estrutura reorientada é bastante


fácil observar quais vértices (componentes) e quais arestas (relações) devemos
conhecer para que o estado de um dado componente, e portanto do sistema, seja
conhecido.

6.4. Representação das Relações.

As estruturas acima podem representar que existem relações entre


componentes e qual componente influencia a outro, mas não torna clara a natureza
dessa relação.

Mesmo em um sistema extremamente simples, como aquele


apresentado na Figura 6.4, ainda não há clareza sobre quais propriedades presentes
no componente “mestre”6.5 se relacionam com quais propriedades do componente
“escravo”6.5, e como ocorre este relacionamento.

6.5
Para efeito da presente discussão toma-se como componente “mestre” aquele
quer exerce determinada influência, e “escravo” aquele que a sofre.
66

Para a representação dessa relação, propõe-se aqui a seguinte


sistemática:

a) para que haja uma relação, cada componente “mestre” deve ter
ao menos uma propriedade que se relacione, em igualdade ou simetria, com ao
menos uma de seu “escravo”, podendo ser denominada propriedade de entrada
neste, e de saída naquele;

b) cada componente deve trazer em si toda a descrição de como


suas propriedades se relacionam, ou seja, não há nenhuma lei física designada no
nível de relação, mas somente de componente;

Com base nessas duas premissas, pode-se inferir que a relação se


torna uma simples declaração de igualdade ou simetria entre propriedades de
componentes “mestre” e “escravo”.

Como declarações de igualdade, essas relações podem ser


sistematizadas como segue.

6.4.1. Sistematização das relações.

À medida em que cada componente mestre e escravo se


correspondam, através de ao menos uma propriedade em igualdade, podemos, para
cada relação, escrever um vetor correspondente ao conjunto de igualdades
denotado como equação 6.2.
67
rij ≡ U{p ki = p mj } (6.2)

Nesta proposição, “rij”, corresponde à relação entre os


componentes “i” e “j”, e é composta pelo conjunto formado por todas as igualdades
entre uma determinada propriedade “k” do componente “i” e uma determinada
propriedade “m” do componente “j”.

Ao criarmos o conjunto de relações “R” para todo o sistema,


como sendo a união de todos os conjuntos “rij”, como apresentado na equação 6.3,
encontraremos várias situações onde o tradicional silogismo, apresentado na
equação 6.4, concorre para a simplificação drástica do número de propriedades
envolvidas.

n
n
R ≡ U {rij } (6.3)
i =1
j =1

( A = B ) ∧ (B = C ) ∴ ( A = C ) (6.4)

Essa simplificação tende a fazer com que todo o estado de um


sistema, segundo as propriedades físicas buscadas, possa ser obtido através da
determinação de algumas poucas propriedades, que devem ter valores capazes de
atender, simultaneamente, às leis “internas” que regem os diversos componentes.

A fim de esclarecer melhor esse ponto, seja tomado como


exemplo o sistema apresentado na Figura 6.4, cujo grafo para relações hidráulicas,
de altura manométrica e vazão, pode ser visto na Figura 6.9.
68

Fig. 6.9 Grafo para relações hidráulicas do sistema apresentado na Figura 6.4.

As leis internas de cada componente para o sistema proposto


podem ser descritas como apresentado nas Tabelas 6.1. e 6.2.

TABELA 6.1 - LEIS “INTERNAS” APLICÁVEIS AOS COMPONENTES DO


EXEMPLO DA FIGURA 6.4
Componente
Leis aplicáveis
Número Tipo
2 reservatório H s2 = y
3
entrada
borda
de
Qe3 = Qs 3 ; H s 3 = H e3 − ∆H (Qs 3 )
Qe 4 = Q s 4 ; H s 4 = H e 4 − ∆H (Q s 4 )
válvula de
4
gaveta
5 tubo Qe5 = Qs 5 ; H s 5 = H e5 − ∆H (Qs 5 ) + Z e5 − Z s 5
6 joelho Qe6 = Qs 6 ; H s 6 = H e6 − ∆H (Qs 6 )
7 tubo Qe7 = Qs 7 ; H s 7 = H e7 − ∆H (Q s 7 ) + Z e7 − Z s 7
8 luva Qe8 = Qs8 ; H s8 = H e8 − ∆H (Qs8 )
1
α Q  α
9 torneira Qe9 = Qs 9 ; Qs 9 = Cd ⋅ H e9 ou H e9 =  s9 
 Cd 
69

TABELA 6.2 - SIMBOLOGIA ADOTADA PARA O EXEMPLO.


Símbolo Significado
Q e
vazão que entra no componente
Qs vazão que sai do componente
He altura manométrica na entrada do componente
Hs altura manométrica na saída do componente
y altura da lâmina d’água no reservatório
Cd coeficiente de descarga
Ze nível de entrada do componente
Zs nível de saída do componente
α expoente característico

Prossegue-se com a descrição das relações “rij”, como se vê na


Tabela 6.3.

TABELA 6.3 - DESCRIÇÃO DAS RELAÇÕES.


Relação Descrição
r2,3 Qs 2 = Qe3 ; H s 2 = H e3
r3, 4 Qs 3 = Qe 4 ; H s 3 = H e 4
r4,5 Qs 4 = Qe5 ; H s 4 = H e5
r5,6 Qs 5 = Qe 6 ; H s 5 = H e 6
r6,7 Qs 6 = Qe7 ; H s 6 = H e7
r7,8 Qs 7 = Qe8 ; H s 7 = H e8
r8,9 Qs8 = Qe9 ; H s8 = H e9

A solução para a rede apresentada consiste, portanto, na solução


simultânea das equações apresentadas nas Tabelas 6.1 e 6.3.

Dado que, para esse caso, assim como para muitos outros casos
práticos, existe um grande número de igualdades, especialmente de vazões, nas leis
internas que regem os componentes, e tanto de vazões como de alturas
manométricas, na descrição das relações, é vantajoso aplicar-se o silogismo
70

expresso na equação 6.4, como se pode observar na Tabela 6.4.

TABELA 6.4 - REDUÇÃO E UNIFORMIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS ATRAVÉS


DA APLICAÇÃO DO SILOGISMO EXPRESSO NA EQUAÇÃO
6.4

Variável Variáveis dos


genérica componentes
x1 Qs 2 = Qe3 = Qs 3 = Qe 4 = Qs 4 = Qe5 = Qs 5 = Qe6 = Qs 6 =
Qe7 = Qs 7 = Qe8 = Qs8 = Qe9
x2 H s 2 = H e3
x3 H s3 = H e4
x4 H s4 = H e5
x5 H s5 = H e6
x6 H s6 = H e7
x7 H s7 = H e8
x8 H s8 = H e9

A construção da Tabela 6.4 mostra que houve uma redução


drástica do número de variáveis envolvidas, pela utilização de todas as relações de
igualdade disponíveis, ou seja, todo o conjunto de relações “rij”, e todas as leis
internas dos componentes, que expressam igualdades diretas entre as propriedades
de entrada e saída.

Por esse processo, pode-se, portanto, dar essas equações como


satisfeitas, restando encontrar solução que satisfaça àquelas que não correspondem
a relações ou a leis internas de igualdade direta6.6. Dessa forma resta-nos a solução
do sistema de equações apresentados como equação 6.5., já utilizando a notação
genérica proposta na Tabela 6.4.

6.6
Esse expediente satisfaz a todas as proposições do conjunto de relações, uma
vez que são, por definição, igualdades diretas.
71
 x2 = y2
x = x 2 − ∆H 3 ( x1 )
 3
 x4 = x3 − ∆H 4 ( x1 )

 x5 = x4 − ∆H 5 ( x1 ) + Dg 5
x = x5 − ∆H 6 ( x1 ) (6.5)
 6
 x7 = x6 − ∆H 7 ( x1 ) + Dg 7

 x8 = x7 − ∆H 8 ( x1 )
 1
  x  α
 x8 = 1 
  Cd 

onde: Dg 5 = Z e5 − Z s 5
Dg 7 = Z e7 − Z s 7

Como o sistema proposto é bastante trivial, a solução pode ser


obtida pela aplicação da primeira linha na segunda, dessa na seguinte e assim
sucessivamente, obtendo-se a equação 6.6, cuja solução, para “x1”, pode ser
bastante fácil caso se adote uma fórmula empírica mais simples para a expressão
das funções “ ∆H (Q) ”.

1
 x1  α
  = y2 − ∆H 3 ( x1 ) − ∆H 4 (x1 ) − ∆H 5 ( x1 ) − ∆H 6 ( x1 ) − ∆H 7 ( x1 ) − ∆H 8 ( x1 ) + Dg5 + Dg8 (6.6)
 Cd 

No entanto, quando existem derivações, ou seja, quando existem


várias vazões diferentes, em vários trechos, circulando no sistema, a solução leva a
um sistema de equações não lineares, mantendo-se, porém, a mesma estrutura.

Um exemplo mais complexo, para rede ramificada, com solução


numérica, pode ser visto no Anexo B.
72

6.5. Sistemas Equivalentes.

Como já citado anteriormente, os edifícios que abrigam múltiplas


economias, geralmente com vários apartamentos ou várias salas comerciais,
apresentam um índice de repetição bastante elevado em seus subsistemas. Tirando-
se proveito desse fato, é possível a redução do esforço de cálculo ou, mais
importante, a simplificação do processo de montagem das relações e descrição dos
componentes, através da escrita das leis que regem esses subsistemas que se
repetem, dando aos mesmos o enfoque de componentes.

Para transformar esses sistemas (ou subsistemas) em componentes


equivalentes, existem, a princípio, duas técnicas.

6.5.1. Técnica da avaliação de características

Essa técnica consiste na definição das propriedades e leis que


fazem a relação desse componente complexo (que a seguir será tratado apenas
como “componente”) com os outros pertencentes ao sistema, e a reavaliação das
características de tal componente, através de sua rotina de cálculo própria, para
cada valor de interesse assumido por essas variáveis de descrição de sua relação
com o sistema do qual faz parte.

Tem-se um exemplo de aplicação dessa técnica, se, para o


exemplo do Anexo B, tomar-se a definição da vazão de entrada no sistema “Qs1”
como vazão de entrada no componente (“Q”), e a definição da carga de saída do
reservatório ”Hs1”, como carga de entrada no componente (“H”), sendo então,
73

possível, que para cada valor de “H” seja calculado um valor de “Q”.

A principal vantagem dessa técnica é sua simplicidade, uma vez


que há o reaproveitamento de todas as equações, funções, relações e outros
elementos que tenham sido utilizados anteriormente.

Também é preciso citar que não é uma técnica aproximada, pois


efetivamente resolve o subsistema-componente.

Em contrapartida, o esforço computacional, quando avaliando o


valor de vazão provocada por determinada carga hidráulica, é considerável, uma
vez que para cada determinação de “Q” é necessário a solução de todo sistema, que
pode ser trabalhosa, se esse contiver muitos componentes, ou muitos subsistemas
tratados como componente, de forma que essa solução de sistemas, uns dentro dos
outros, torna-se onerosa.

Mais onerosa e complexa ainda se torna, se desejarmos, por


alguma particularidade, inverter a solução; seria como, se, para o exemplo do
Anexo B, fossem buscados os valores de carga “H” que provocam determinado
valor de vazão “Q”.

6.5.2. Técnica da lei equivalente.

Diferentemente da técnica apresentada no item 6.5.1, essa técnica


consiste na determinação de uma curva, ou propriedade equivalente, que possa
representar esse subsistema, a ser tratado como componente; de forma que possa, a
partir daí, de maneira desvinculada das funções de seus próprios componentes, ser
74

representado no conjunto de relações do sistema maior que integra.

As vantagens dessa abordagem residem no fato de ser possível


uma representação bastante simples do sistema, através de uma curva ou uma
variável equivalente.

A determinação de um exemplo de curva característica


equivalente, aqui apresentada na equação 6.7 com sua inversa em 6.8, assim como
a determinação da massa do sistema-componente, podem ser vistas no Anexo A.

H = −24,39871 + 19,41222 ⋅ Q1,902871 (6.7)

Q=
( H + 24,39871)
0 , 5255217
(6.8)
4,752383

O grande inconveniente dessa técnica é seu uso restrito para


subsistemas com aparelhos de regulagem fixa, uma vez que seria necessário um lei
equivalente diferente para cada configuração de acionamento possível.

6.5.3. Componentes equivalentes intermediários.

O presente trabalho trata como componente equivalente


intermediários aqueles que podem, ainda no âmbito da avaliação do
comportamento dos subsistemas mais elementares, serem reunidos em um único
componente, para fins da análise pretendida, com vistas a simplificar a análise do
sistema.
75

Esses componentes, que de fato são pequenos sistemas, têm suas


propriedades e leis determinadas por somas diretas ou outras operações igualmente
simples.

De fato, um exemplo dessa abordagem se observa na equação 6.6,


que representa a lei equivalente para o sistema da Figura 6.4.

Apesar dessa abordagem proporcionar uma grande simplificação


no processo, ela só se torna possível através da exploração de peculiaridades, como
no caso do exemplo da Figura 6.4 (e eq. 6.6), onde a vazão que percorre todo o
sistema é a mesma.

Para tais situações é possível, dada a definição dos componentes


como no Anexo B, determinar o componente equivalente a uma associação em
série de componentes de duas conexões, onde o terminal denotado como “b” do
componente mais à montante é conectado aquele denotado “a” de seu par próximo
a jusante.

Observando-se que o terminal “a” do primeiro componente


corresponde ao terminal “a” do componente equivalente, e o terminal “b” do
último componente àquele “b” do componente equivalente, permitindo que, de
modo análogo ao sistema de equações 6.5, possamos escrever, para uma associação
genérica de componente em série, seguindo as premissas assim explicadas:

 H B 1 = H A1 − ∆ H 1 + 10 ( Z A1 − Z B 1 )
H = H
 B1 A2
(6.9)
 M
 H B (i −1 ) = H Ai
 H = H − ∆ H + 10 ( Z − Z )
 Bi Ai i Ai Bi
 H Bi = H A (i +1 )
M

 H Bn = H An − ∆ H n + 10 ( Z An − Z Bn )
76

O sistemas de equações denotado em 6.9 é bastante direto, e pode


ser resolvido pela soma das equações, resultando na equação 6.10.

n
H Beq = H Aeq − ∑ [∆H i + 10 ⋅ ( Z Ai − Z Bi )] (6.10)
i =1

O Anexo C traz um exemplo de cálculo de rede em anel,


utilizando vários conceitos apresentados nos itens 6.5.2 e 6.5.3 acima.
77

7 CARACTERIZAÇÃO DO USUÁRIO

Os sistemas objeto desse estudo têm sua criação, e por vezes sua
existência, condicionadas à existência de, no mínimo, um usuário.

Mais que uma condição de existência, esses sistemas são


concebidos de forma a satisfazer seus usuários, segundo conceitos de qualidade e
desempenho, aceitos por esses, conforme o meio em que se inserem, em especial
sua cultura, época e local.

Uma definição amplamente aceita de qualidade diz que: “tem


qualidade aquele produto ou serviço que satisfaz às necessidades do usuário”.
Expandindo essa definição pode-se afirmar que: ”terá mais qualidade aquele
sistema que melhor atender às necessidades e desejos do usuário”.

De fato, GRAÇA e GONÇALVES (1986) traz:

“... objetiva-se na concepção de um sistema sanitário predial, a


sua adequação ao usuário e não o caso contrário, ou seja, do
usuário ao sistema.”

Uma visada ao passado nos mostra que, mesmo antes da difusão


de idéias como a Teoria dos Sistemas ou dos estudos sobre qualidade total, a
Engenharia de Sistemas Prediais, assim como toda a Engenharia, se fundamenta
em ser a arte e ciência que proporcione soluções para necessidades de usuários,
freqüentemente buscando otimizar variáveis de projeto, que muitas vezes
produzem efeitos antagônicos, de forma que a satisfação de um determinado grupo
78

de necessidades do usuário pode, com freqüência, afastar a satisfação de outro


conjunto de necessidades. O exemplo comum desse efeito é a onipresente
necessidade de equilíbrio entre desempenho e custo dos sistemas de Engenharia.

Dessa forma, uma das tarefas de toda a Engenharia, assim como


desse trabalho, é a busca e aplicação de conhecimento, neste caso através de
ferramentas de previsão e simulação, que permitam verificar e ajustar o grau de
satisfação, de cada uma das necessidades do usuário, da melhor forma possível.

A caracterização dos diversos tipos de usuários, suas interações


com o sistema e com o ambiente, de fato, não são objetos desse trabalho,
constituindo tema bastante explorado na literatura técnica da área, mas muito longe
da exaustão. Mesmo assim, serão propostos alguns grupos básicos de necessidades
a serem verificadas e determinadas, como essas necessidades podem ser
representadas ou transformadas em critérios de desempenho, detendo-se com mais
atenção no conhecimento que permita simular as atitudes dos usuários na busca de
satisfação para essas necessidades, assim como na avaliação de sucesso desse
intento.

7.1. Necessidades Básicas dos Usuários.

Para os sistemas hidráulicos prediais, o usuário básico é o ser


humano7.1, com todos seus aspectos culturais, pessoais e sua mobilidade de
desejos, com sua crescente geração de novas necessidades, calcadas em outras já

7.1
Em outros sistemas hidráulicos, como por exemplo aqueles destinados a fins
industriais, pode-se definir como usuário máquinas ou mesmo processos.
79

satisfeitas, sendo que, aquelas que anteriormente constituíram somente desejos


inatingíveis ou simpáticos complementos, passam, dentro de pouco tempo, a se
posicionarem como necessidades básicas. Exemplos interessantes desse processo
podem ser encontrados em LANDI (1993).

Portanto, o termo “necessidade básica” é válido, tão somente, para


uma determinada cultura, época e local de interpretação, fazendo com que, a
caracterização refinada das necessidades dos usuários tenha restrições geográficas
e temporais sérias, não autorizando, portanto, a transposição simples de dados e
resultados estatísticos obtidos em épocas muito distantes ou mesmo em países, ou
regiões brasileiras, de clima, cultura, formação étnica ou desenvolvimento social e
econômico diferentes .

Dessa discussão depreende-se que, mais estudos sobre as


necessidades e hábitos dos usuários, são tão necessários quanto indispensáveis,
assim como a sistematização desses resultados em bases homogêneas e acessíveis,
de forma similar ao apresentado por AMORIM (1997).

Dessa maneira, acompanhando a metodologia do supra citado


trabalho, passamos a caracterizar uma proposta de banco de dados sobre as
necessidades dos usuários, que devem ter seus valores preenchidos segundo cada
grupo identificável desses.

7.2. Dados sobre o Usuário.

Seguindo a proposição de AMORIM (1997), para a caracterização


80

do usuário, que também deve ser elemento do sistema de informações para projeto
dos sistemas hidráulicos prediais, em especial para as redes de distribuição de
água, é necessário que se faça a sistematização de uma série de dados sobre o
comportamento e preferências do mesmos.

Os dados referentes ao usuário são, aqui, classificados segundo


duas categorias principais: a) preferências/necessidades; b) atitudes.

As preferências ou necessidades referem-se a valores de


utilização, como vazões, temperaturas e outros. Essas grandezas, devido a sua
variação e aspecto subjetivo podem, na medida do possível, ser tratadas como
números nebulosos (fuzzy), uma vez que o tratamento determinístico pode
conduzir a uma falsa idéia de precisão, que não se aplica, ou é, de fato, mais
indeterminado do que possa parecer. Esse assunto será tratado com mais detalhes
no item 7.2.1.

As atitudes referem-se às ações ou intervenções que o usuário


aplica sobre o sistema, como o acionamento de aparelhos, reformas, depredação e
outras. Como se tratam de eventos completos, que podem acontecer ou não, mas
quando ocorrem o fazem em plenitude7.2, podem ser tratados como tendências de
base probabilística, como pode ser visto no item 7.2.2.

7.2.1. Preferências dos usuários.

Como visto acima, uma das manifestações do usuário, em relação

7.2
Aqui, o conceito de plenitude não trata de alcance da ocorrência, mas sim do
fato de que eventos ocorrem ou não ocorrem, independentemente do grau de suas conseqüências, que
depende de estudo específico.
81

ao sistema sob sua utilização, é conhecida através de suas preferências


quantitativas em relação a diversas grandezas, que têm seus valores associados a
esse sistema. A Tabela 7.1 apresenta algumas dessas características.

TABELA 7.1 - ESTRUTURA DE BANCO DE DADOS SOBRE


PREFERÊNCIAS DO USUÁRIO
Grupo I Grupo II .... Grupo “N”
vazão mínima no lavatório
vazão mínima no chuveiro
temperatura máxima no lavatório
altura do assento sanitário
altura do chuveiro
.
.
.
custo máximo de água admissível
custo final máximo do sistema
custo financeiro máximo suportado

Dessa forma, a Tabela 7.1 apresenta uma proposta de classificação


dos usuários segundo “n” grupos, e o conhecimento, da melhor forma possível, das
preferências desses usuários.

Para a classificação desses grupos, deve-se tomar como parâmetro


básico, quem são os usuários finais do empreendimento que contém o sistema
hidráulico predial (SHP). Pode-se ainda projetar quem seriam esses usuários,
dentro de horizontes de tempo predeterminado, constituindo novo grupo, e
verificando o SHP contra essas novas exigências.

A determinação de quais sejam esses grupos, e como se


caracterizam suas exigências, pode ser feito por métodos estatísticos apropriados,
cujo estudo foge ao objetivo deste trabalho.

A aplicação de métodos estatísticos a esses grupos caracterizados,


82

uma vez que tenta quantificar aspectos por vezes subjetivos, não tem a capacidade
de gerar valores determinísticos e que possam ser tomados com “status”
semelhante ao de constantes físicas, pois apresentam dispersão, muitas vezes
acentuada.

O estudo apresentado em SAKAUE et alli. (1987) traz vários


resultados de pesquisa quanto a preferências de vazão e temperatura, em utilização
de água quente.

Esses resultados apresentam médias, com seus respectivos desvios


padrão, sendo que, entre resultados similares, destacam-se 2 pontos: o enxágüe em
pia de cozinha com torneira comum, no verão, apresentando temperatura média
preferida de 35,6°C, com desvio padrão de 4,3°C; na mesma situação, foi
registrada vazão preferida de 7,2 L/min com desvio padrão de 3,0 L/min, ambos
com amostragem de 53 pessoas.

Segundo ESPÍRITO SANTO (1987), o desvio padrão é um ótimo


indicador de quanto a média é representativa dos dados de qualquer estudo, Tendo
como base a distribuição normal, verificamos, segundo FERGUNSON (1976) que
cerca de 68% da área da curva normal se encontra no intervalo de ± 1 desvio
padrão ( x − σ ≤ x ≤ x + σ ).

Diante disso, podemos afirmar que, o sistema deve ser capaz de


fornecer água, com temperatura entre 31,3°C e 39,9°C, com vazão entre 4,2 L/s e
10,2 L/s7.3, para satisfazer a 68% dos usuários. Sendo que os padrões de satisfação
normalmente aceitos devem cobrir cerca de 90 a 99% do grupo analisado, como

7.3
Esses valores máximos aparecem exagerados provavelmente por não se tratar de
distribuição normal. Mas, infelizmente, a distribuição de freqüências não está presente no trabalho
consultado.
83

será visto para as vazões mínimas, seria então necessário uma faixa de distribuição
ainda maior.

Observa-se que para a satisfação de 95% dos usuários, as faixas se


estenderiam para 27,2°C a 44,0°C para as temperaturas e 1,32 L/s a 13,1 L/s para
a vazão.

Na grande maioria dos sistemas, os valores inferiores dessa faixa


podem ser obtidos através do ajuste dos dispositivos de acionamento, quando se
referem a grandezas de utilização, mas, para os extremos superiores, os sistemas
devem ser capazes de proporcioná-los, o que pode trazer como resultado o super-
dimensionamento e o conseqüente afastamento da satisfação das necessidades
econômicas do usuário.

Diante disso, deve-se definir, não somente os valores das


grandezas ótimas, que satisfaçam plenamente, mas também o grau de satisfação
(ou de insatisfação) que se tenha diante de um determinado valor limite.

No mesmo estudo, SAKAUE et alli. (1987), há um enfoque


ligeiramente diferente e bastante útil: parte-se de temperaturas fixas, colhendo-se
informações subjetivas. A Tabela 7.2. apresenta o resultado de um desses
experimentos:

TABELA 7.2. - RESPOSTAS SUBJETIVAS À EXPOSIÇÃO À ÁGUA, A 37 °C,


NO VERÃO.
Resposta apresentada Número de respondentes
Quente 1
Um tanto quente 7
Ótima 40
Um tanto tépido 5

Fonte: SAKAUE et alli. (1987)


84

Como se pode observar pelas respostas, os extremos apresentam


um certo grau de desconforto, mas, talvez, não uma rejeição ou incômodo sério
pelo uso do sistema nessas condições.

Para o trabalho com grandezas como essas que, além de serem de


difícil determinação em si, também carregam uma característica de difícil
quantificação das conseqüências de seu desrespeito7.4., sugere-se, também aqui, a
aplicação de números nebuloso (fuzzy), cujos fundamentos podem ser encontrados
em PEDRYCZ (1993), entre outros, em especial nos trabalhos de L. A. Zadeh, tido
como introdutor dessa técnica.

7.2.2. Ações dos usuários.

Para se ter um banco de informações sobre usuários, é necessário


o conhecimento, além de suas preferências, de seus hábitos.

Esses hábitos podem ser traduzidos por ações, que o usuário


desencadeia, periodicamente, com diversos intuitos, que podem se desenvolver sob
quatro sentidos:

a) usufruir do sistema, tornando presente ao menos uma das


características desejadas para atender a suas necessidades;

b) melhorar, ou ajustar, a performance do sistema, através de

7.4.
Grandezas associadas ao sistema podem ter suas conseqüências de desrespeito a
limites mais facilmente determináveis, p.e. ao menos teoricamente, ao se exceder a pressão máxima
suportada por um tubo esse apresentará ruptura, não existindo, via de regra, nenhum estado de
tolerância que se deva considerar.
85

reformas ou alterações, visando atingir uma forma em que este possa atender a uma
nova necessidade, um novo nível de necessidade ou uma mudança de hierarquia
dessas necessidades que, até então, não era capaz;

c) manter o desempenho do sistema, promovendo intervenções


que compensem perdas de características, por desgaste ou tempo de existência,
restaurando quedas de desempenho a níveis semelhantes aos originais;

d) degradar ou interromper o desempenho do sistema, através de


atos de vandalismo ou da desativação total ou parcial do mesmo.

Salvo em raras exceções, não é possível precisar o momento,


tampouco a forma como tais atos serão levados a cabo, ou seja, não é possível
determinar com certeza e antecedência, quando e como serão acionados os
aparelhos, quando e qual alteração ocorrerá no conjunto de necessidades, quando e
qual componente apresentará defeito ou quando e qual parte do sistema será
atingida por vandalismo ou desativação.

No entanto, é perfeitamente possível simular, com base em dados


coletados, (cf. apresentado no Capítulo 4), padrões semelhantes de ocorrência de
tais eventos.

Dentre os 4 grupos acima relacionados, a Engenharia de Sistemas


Prediais tem voltado sua atenção especialmente para o primeiro, ou seja, os
padrões comportamentais do usuário relacionados ao acionamento de aparelhos.

Esses serão, também para o presente trabalho, o principal


elemento de caracterização do usuário, juntamente com suas preferências de vazão.
86

7.3. Diretrizes para a Simulação dos Usuários.

A simulação de atuação do usuário consiste em, a cada momento


do período de análise considerado (pe. a cada segundo de um ano), determinar qual
o número de aparelhos acionados, sob quais curvas de consumo.

Esse dado então, alimenta a simulação do sistema, que, através do


cálculo da rede sob vazões reais, permite determinar a vazão que efetivamente flui
do aparelho além de vários outros parâmetros.

Mas, para o presente tópico, a questão se coloca em “como


determinar, num dado momento, se há ou não acionamento de determinado
aparelho”.

Primeiramente são necessárias, então, algumas premissas básicas,


tomadas como restrições à ação do usuário, que se passa a comentar.

7.3.1. Restrição de presença.

Dado que não é possível a onipresença do usuário, pode-se


afirmar que: um usuário pode acionar7.5 somente um aparelho por vez.

Dessa forma, se, no momento sob análise, o mecanismo que


simula, segundo as probabilidades consideradas, o acionamento de aparelhos, já

7.5
Ato de acionar, e não fato de estar acionado.
87

tiver determinado que um dado usuário aciona, naquele instante, determinado


aparelho, esse mesmo usuário não mais deverá ser considerado como capaz de
acionar outro aparelho, até que se cumpra determinado intervalo de tempo.

Ainda mais, caso o aparelho acionado seja do tipo que exija a


presença do usuário, quem o aciona deverá ficar “bloqueado” até que se cumpra o
tempo de utilização determinado.

7.3.2. Restrição de disponibilidade.

Como, devido às divisões inerentes à posse de cada unidade


habitacional, o usuário não pode utilizar-se dos aparelhos sanitários de outrem,
então pode-se afirmar que: a um usuário está disponível, durante todo a simulação,
somente um subconjunto do conjunto total de aparelhos do sistema.

Esse subconjunto é composto, então, pelos aparelhos contidos


dentro de sua área de posse, unido ao subconjunto composto pelos aparelhos de uso
comum contidos no sistema.

7.3.3. Restrição de acesso.

Tomando-se como princípio que, em ambientes sanitários


residenciais, ou mesmo em certos setores de sanitários públicos, se faz uso de
privacidade absoluta, ao entrar em um desses ambientes sanitários, fato que
poderia ser caracterizado, na simulação, pelo acionar de um aparelho que pertença
a esse ambiente, o acesso aos demais aparelhos pertencentes a tal ambiente, por
outros usuários, fica bloqueado, diminuindo ainda mais, para os outros usuários, o
88

conjunto de aparelhos disponíveis.

Sob tal raciocínio, podemos então tomar como premissa que: os


ambientes sanitários privativos constituem áreas de restrição, onde a presença de
um usuário inibe o acesso de outros aos aparelhos ali contidos;

Dessa forma, sob essas restrições, considerando-se uma certa


distribuição populacional na edificação e utilizando-se um sistema gerador de
eventos, que ocorram de forma aleatória mas com distribuição de freqüência
similar aos parâmetros levantados para os usuários, é possível a simulação de
comportamento desses.
89

8 SIMULAÇÃO DO SISTEMA

Segundo PERIN FILHO (1995), a simulação de sistemas é um


método numérico de solução de problemas que consiste na observação, ao longo
do tempo, do desempenho de um modelo que representa um sistema, definido a
partir de um problema a ser resolvido.

PERIN FILHO (1995) traz ainda que: ”o modelo é usado como


uma ferramenta de experimentação que, em ambiente de tentativa e erro, permite
comparar diversos cenários, cada um representando uma política de operação do
sistema, configuração do sistema, ou uma possível solução do problema original.
Dentre aquelas que produzem melhores resultados, uma é escolhida para ser
implementada no sistema real.”

8.1. Tempo de Simulação.

Uma da grandes vantagens presentes na técnica de simulação de


sistemas é o fato do usuário, da técnica, dispor da possibilidade de manipular,
segundo sua necessidade, o tempo do sistema, ou seja, o tempo da simulação,
fazendo com que meses ou anos se processem em alguns segundos, minutos ou
horas.

Para tal, deve ser definido um mecanismo de controle de tempo, a


que passaremos a nos referir como “Relógio da Simulação” ou simplesmente
“Relógio”, contando com seu tempo próprio, não coincidindo com o tempo da
90

máquina (CPU), tampouco com o tempo real, indicado pelo relógio do sistema.

Para o presente trabalho, esse “Relógio” foi implementado através


do componente “TRelCalend”, acrescido à VCL 8.1 do ambiente Delphi 4.0, cujo
código pode ser visto no Apêndice V.

8.2. Geração das variáveis aleatórias.

Todo sistema simulado necessita de um mecanismo que permita


gerar variáveis aleatórias (independentes), ou seja, aquelas obtidas a partir de
dados históricos tabelados, histogramas ou distribuições, construídos com base em
tais dados.

Segundo PERIN FILHO (1995), a utilização direta de dados


históricos deve ser evitada, por ser um processo de alto consumo de recursos
computacionais.

Para as outras duas técnicas, segundo histograma ou distribuição,


deve ser gerado um número aleatório, contido em intervalo conhecido, sendo
posteriormente convertido, segundo função adequada, na variável aleatória
desejada.

Todas as simulações que envolvem distribuições de freqüência


segundo classes podem ser obtidas através da geração de valores, que sejam
aleatórios, mas que se distribuam segundo as características impostas, que nem

8.1
Visual Component Library.
91

sempre correspondem, ou encontram bom ajuste, com as distribuições de


freqüência tradicionalmente estudadas (normal, Poison, Student, etc.)

Tal intuito pode ser conseguido com a utilização de dois


procedimentos básicos: um gerador real de números aleatórios8.2 e uma função de
retorno de características.

8.2.1. O gerador de números aleatórios

O gerador de número aleatórios utilizado simula um dado, ou uma


roleta, de “NF” faces, numeradas de 1 a NF, onde cada face tem a mesma
probabilidade de ser exposta em cada jogada.

Para tal, um algoritmo adequado é tomado de um jogo para


calculadora (TEXAS, 1977), e, originalmente simulando o tradicional dado cúbico
(6 faces), é expandido para um número qualquer de faces. O código específico para
tal se encontra na listagem III.7, no Apêndice III.

O código ali apresentado foi exaustivamente testado para


distribuição uniforme, através da técnica do χ2 (PERIN FILHO, 1995), e
apresentou ausência de qualquer tendência específica na geração de valores, sendo
portanto, seguro admitir-se que existe uma probabilidade igual a 1/NF para que
surja cada uma das “faces” do dado como resultado.

8.2
Existem geradores que não retornam números realmente aleatórios, mas
seqüências caóticas, a partir de determinada semente, de forma que, repetindo-se tal semente, a
seqüência se repete. Para o presente caso é recomendável a utilização de geradores randômicos que
tomem, como semente, eventos ligados ao “hardware” computacional, como tempo entre toque de
teclas, acesso a discos, ou outros eventos similares.
92

8.2.2. Retorno de características para dados tabelados.

Dispondo-se então de um gerador de números inteiros, sem


tendência e com faixa programável, como aquele apresentado acima, é possível
ajustar-se, através de uma tabela de tradução específica, sua operação para que
passe a gerar, ou contribuir para a geração, de resultados que se assemelhem a uma
dada distribuição de freqüências.

Para uma distribuição de freqüências conhecida, assimilada a


probabilidades de ocorrência, composta de “n” classes, sendo que cada “i-ésima”
classe pode ser representada por um par ordenado (vi,pi), onde “vi” é o valor de
retorno característico da classe “i” e “pi” sua probabilidade de ocorrência, podemos
montar uma tabela semelhante à tabela 8.1.

TABELA 8.1 – PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE VALORES EM


FAIXAS ALVO.
i vi pi nfi8.3 Intervalos da faixa alvo
1 v1 p1 nf 1 = p1 ⋅ NF [1, nf1 ]
 2 
2 v2 p2 nf 2 = p 2 ⋅ NF nf 1 + 1, ∑ nf j 
 j =1 
 2 3 
3 v3 p3 nf 3 = p 3 ⋅ NF ∑ j nf + 1, ∑ nf j 
 j =1 j =1 
M M M M M
n −3 n− 2 
n-2 vn-2 pn-2 nf n − 2 = p n − 2 ⋅ NF ∑ j nf + 1, ∑ nf j 
 j =1 j =1 
 n − 2 n −1 
n-1 vn-1 pn-1 nf n −1 = p n −1 ⋅ NF ∑ nf j + 1, ∑ nf j 
 j =1 j =1 
 n − 1 n 
n vn pn nf n = p n ⋅ NF ∑ nf j + 1, ∑ nf j 
 j =1 j =1 

8.3
Freqüência esperada para a faixa “i” em “NF” eventos.
93

Uma vez disponibilizada a Tabela 8.1, um número inteiro, obtido


a partir do gerador de números aleatórios, com um valor de “NF” suficientemente
grande a fim de não provocar erros excessivos8.4, deve ser verificado contra os
intervalos de faixa alvo de cada possível classe, retornando, como resposta, o valor
representativo (“vi”) da classe correspondente àquela, em cujo intervalo de faixa
alvo o número inteiro gerado estiver compreendido.

A comparação entre uma determinada distribuição dada, através


de um histograma, e uma distribuição gerada sob o mesmo padrão probabilístico,
para um exemplo hipotético, pode ser vista na Figura 8.1.

Comparativo de distribuição de probabilidades.


Probabilidade de ocorrência.

0,25

0,20

0,15 Distribuição de
base.
0,10 Distribuição
gerada.
0,05

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Classes.

Fig. 8.1 Comparativo de distribuições de freqüências (10 000 000 de pontos).

Como se pode observar, não há erro apreciável entre as duas


distribuições.

A Tabela 8.2 traz os valores que serviram de base para a

8.4
Como as probabilidades acumuladas não podem ser superior a 1, sugere-se
utilizar para “NF” o maior valor de tipo cardinal que a implementação específica da programação
permitir.
94

construção da Figura 8.1.

TABELA 8.2 – VALORES DE BASE PARA A GERAÇÃO DA FIGURA 8.1.


f vi pi I
-2
146 1 9,352 x 10 [1 , 93515]
-2
73 2 5,119 x 10 [93516 , 144710]
-1
147 3 1,003 x 10 [144711 , 245051]
102 4 6,962 x 10-2 [245052 , 314676]
145 5 9,898 x 10-2 [314677 , 413652]
-1
220 6 1,502 x 10 [413653 , 563823]
-2
58 7 4,027 x 10 [563824 , 604096]
88 8 6,689 x 10-2 [604097 , 670990]
-1
190 9 1,297 x 10 [670991 , 800683]
-1
292 10 1,993 x 10 [800684 , 1000000]

Na Tabela 8.2, a coluna intitulada “f”, contém os dados de


freqüência obtidos por observação, por exemplo, em pesquisas de campo,
referentes ao número de indivíduos, ou eventos (pontos amostrais), que se
enquadram sob cada classe, identificadas pelos valores apontados em “vi”. A
coluna “pi” por sua vez, contém a taxa com que cada classe aparece no total
amostrado. Esse valor é então tomado, como a probabilidade de ocorrência de um
elemento de cada classe dada, no universo amostral.

Ainda na Tabela 8.2, a coluna “I” contém intervalos fechados de


inteiros positivos, gerados com base nas equações apresentadas na Tabela 8.1,
fazendo-se “NF=1 000 000”.

Por fim, foram gerados 10 000 000 de inteiros aleatórios (entre 1 e


1. 000.000) e verificados contra cada intervalo, retornando o valor apontado em
“vi”, como valor do ponto, e consequentemente indicando a classe em que se
encontrava cada um dos 10.000.000 de eventos gerados.
95

A freqüência de resultados em cada classe foi então levantada,


convertida em taxa de ocorrência, e lançada no gráfico da Figura 8.1.

A Figura 8.2 apresenta o mesmo gráfico comparativo entre uma


dada distribuição observada e sua geração, tendo sido tomados para tal somente
1.000 pontos (valor menor que a própria amostra). Pode-se observar então que há
uma margem maior de erro, mas mesmo assim a distribuição gerada segue muito
de perto aquela pretendida.

Comparativo de distribuição de probabilidades.


(1.000 pontos gerados)
0,25
Probabilidade de ocorrência.

0,20

0,15
Distribuição de
base.
0,10 Distribuição
gerada.
0,05

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Classes.

Fig. 8.2 Comparativo de distribuições de freqüências (1.000 pontos).

O conceito apresentado acima para uma variável independente,


denotada genericamente por sua freqüência “f”, pode ainda ser expandido para a
caracterização de indivíduos ou eventos através de “n” variáveis, posto que o valor
retornado para cada classe pode, além de determinar uma característica do ponto
amostral (indivíduo ou evento), conduzir a uma nova distribuição de freqüência,
diferente para cada classe precedente, que por sua vez determine uma nova
característica desse ponto amostral, e assim sucessivamente.
96

8.2.3. A função de retorno de características para distribuições.

A distribuição de probabilidades alvo para uma determinada


variável aleatória, que se deseja reproduzir, muitas vezes se mostra disponível sob
a forma de distribuição de probabilidades, caracterizada por seus parâmetros
específicos (p.e. distribuição normal; x = 67; σ = 35; n = 1000 ) .

Conhecendo-se o tipo de função de distribuição de probabilidades


e suas características, é possível a geração de seqüências aleatórias que
correspondam ou reproduzam, tal distribuição.

Para tanto, deve-se verificar a existência de dois casos:

a) distribuições contínuas: onde o parâmetro gerado, (p.e. altura


de uma pessoa, peso de um animal, etc.) se distribui continuamente em uma faixa
de valores, ou seja, sempre é possível a existência de um ponto amostral
posicionado no intervalo definido por dois outros pontos;

b) distribuições discretas: nas distribuições discretas, um dado


ponto amostral deve necessariamente se ajustar a uma dada classe. Aplica-se para
parâmetros que não variam de forma contínua (p.e. número de habitantes em um
local, aparelhos sanitários por residência, número de acionamentos diários de
aparelhos sanitários, etc.).

A distribuição discreta pode ainda, com erro controlável, servir de


aproximação para uma distribuição contínua, desde que se divida esta em um
número adequado de classes, de modo a proporcionar respostas aceitáveis em
termos de precisão. Por exemplo: o tempo decorrido entre dois acionamentos
97

sucessivos de determinado aparelho sanitário é um parâmetro contínuo, podendo


assumir qualquer valor pertencente a ℜ + , no entanto, se, sob a precisão desejada,
não se verificar erro apreciável na determinação das variáveis dependentes devido
a diferenças de ±1s, pode-se discretizar a distribuição dessa grandeza em classes de
intervalos correspondentes a 1s, uma vez que não haveria diferença sensível, se o
parâmetro correto, por exemplo, mesmo correspondendo a 245,5 s fosse tomado
como 246 s.

De fato, as amostras tomadas no mundo real, seja através de


avaliações manuais (questionários, medidas, etc.) seja através de registradores8.5
(registradores digitais de vazão, registradores de pressão, etc.) são sempre tomadas
de forma discretizada, sendo posteriormente assimiladas a distribuições contínuas.

Diante do exposto, o presente trabalho dará tratamento


discretizado a todas as distribuições de probabilidades, utilizando, algumas vezes,
funções contínuas para a definição da probabilidade de cada classe, na construção
da tabela de intervalos que irá determinar a freqüência gerada.

A implementação desse mecanismo se encontra na biblioteca


“InterClasses.pas”, apresentada na listagem V.2, do Apêndice V.

Conforme explanado no citado Apêndice, esta biblioteca


apresenta as funções necessárias para ler uma dada distribuição de probabilidades
(ou freqüência), e gerar pontos aleatórios segundo tal distribuição.

Na Figura 8.3 vemos a comparação entre uma distribuição

8.5
Mesmo na leitura de registradores analógicos, como os de agulha tintada sobre
discos de papel, faz-se uma discretização manual ao se determinar os parâmetros da distribuição.
98

censitária real8.6 e uma distribuição gerada pelo método apresentado, distribuída em


classes etárias.

Comparativo entre distribuições de probabilidades.


0,025

0,02
Probabilidade de ocorrência

Sequência obtida
0,015
Sequência esperada

0,01

0,005

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Idade [anos]

Fig. 8.3 Comparativo entre população censitária e população gerada.

Como se pode observar, visualmente há excelente


correspondência entre as mesmas, o que pôde ser confirmado através do teste χ2,
onde se obteve uma probabilidade de 1,00000 para aceitação da hipótese de que as
duas distribuições sejam idênticas.

8.3. Registro de Parâmetros.

Por fim, para que se possa analisar as ocorrências do período de


simulação, suas inter-relações e outros aspectos quantitativos, é necessário que

8.6
População brasileira segundo faixas etárias (0 a 100 anos), fonte: IBGE base
SIDRA ref. Censo-1991. Foram ignorados os classes correspondentes a idade desconhecida e idade
maior que 100 anos.
99

estas sejam registradas.

Com o objetivo de registrar e avaliar grandezas variáveis com o


tempo, desenvolveu-se um componente de software, intitulado “TRegVal”, cujo
código pode ser visto no Apêndice V, que permite o registro de pontos de data,
hora e valor, para tantas variáveis quantas se deseje8.7.

Além de proceder o registro dessas seqüências, os componentes


“TRegVal” executam funções estatísticas básicas e exportam suas seqüências para
planilhas MS-Excel8.8 ou arquivos de texto.

8.4. Operação da Simulação.

Com a disponibilidade das técnicas e ferramentas até aqui


descritas, o Sistema Hidráulico Predial de Distribuição de Água pode ser simulado
através da seguinte seqüência de passos:

a) estabelecimento de um estado inicial, através da geração de


variáveis independentes, posicionamento do “Relógio” em seu momento de
partida, definições iniciais de parâmetros vinculados à rede de distribuição, aos
aparelhos e aos usuários, posicionamento inicial (geralmente em zero) dos
registradores;

8.7
Há limite físico vinculado ao tamanho da memória disponível, além da restrição
de uma única seqüência por registrador. No entanto o número de registradores a serem utilizados limita-
se somente pela memória disponível.
8.8
O software MS-Excel deve estar instalado na máquina com suas classes OLE
devidamente registradas.
100

b) acréscimo de tempo do “Relógio”, em intervalos


determinados, como dias, horas, minutos ou segundos, provocando a geração de
eventos de periodicidade conhecida (dias, horas, minutos ou segundos);

c) resposta aos eventos de tempo gerados, onde se processam os


seguintes mecanismos:

i) geração de variáveis independentes, como: início de utilização


de aparelho, final de utilização de aparelho, vazão a ser utilizada, entrada de
usuário no sistema, saída de usuário do sistema e outras;

ii) estabelecimento de uma nova configuração de solicitação do


sistema de distribuição, através da caracterização de quais aparelhos se encontram
acionados e com qual intensidade;

iii) determinação das vazões reais, pressões disponíveis e outras


variáveis dependentes ligadas ao sistema, estabelecidas para tal padrão de
acionamento;

iv) registro dos parâmetros hidráulicos, populacionais ou


comportamentais de interesse;

d) verificação de término do período de simulação, que, se


positiva, grava ou analisa os registros obtidos, em caso contrário, segue com os
incrementos de tempo tratados pelo item c) acima.

e) análise dos registros, sob os pontos de vista conceitual e


quantitativo, assim como a geração de outros dados de interesse, que não tenham
101

sido coletados diretamente (p.e. a soma do produto obtido entre a vazão de


determinado aparelho e seu tempo de acionamento sob tal vazão, determina o
consumo do aparelho durante o tempo avaliado).

É importante que se observe que, pelo fato do tempo de “Relógio”


da simulação não guardar qualquer tipo de relação com o tempo físico real, os
passos indicados no item c) acima são efetuados como se o tempo houvesse
parado, o que de fato ocorre quanto ao tempo de simulação, onde os passos i) a iv)
como que ocorrem “em um lapso de tempo de duração nula, no interstício entre um
segundo e outro”8.8.

Os capítulos que seguem apresentam a implementação dessa


técnica nos Sistemas Prediais segundo o objeto do presente trabalho.

8.8
Isso é possível uma vez que se está tratando com tempo discretizado, e não
contínuo.
102

9 SIMULAÇÃO DA POPULAÇÃO

Uma vez que o sistema é ativado por usuários, e serve a esses, é


necessário, para qualquer avaliação quantitativa sobre o mesmo, que se conheça o
número de usuário, assim como sua distribuição na edificação.

Essa simulação populacional pode variar, conforme a


disponibilidade de dados ou a complexidade possível e desejada, desde um
posicionamento estático, como a simples alocação de uma população média ou
máxima, com distribuição uniforme entre as unidades habitacionais, até a geração
automática de variáveis independentes orientada por parâmetros os mais diversos
possíveis, caso em que se tem uma simulação populacional dinâmica.

Quando se utiliza uma simulação populacional dinâmica, deve-se


dispor de ferramentas que, conforme seu grau de complexidade, considerem um
maior ou menor número de fatores que influenciam no número e distribuição de
usuários. Mas, em qualquer caso, tal ferramenta deve ser capaz de gerar, com certa
aleatoriedade, distribuições de características populacionais que possam
corresponder a distribuições esperadas e tidas como parâmetros de entrada para o
cálculo.

Dessa forma, apresenta-se aqui uma possível simulação


populacional aplicável ao caso.

Deve-se ainda advertir que, os dados estatísticos ou estimados


apresentados neste capítulo, com a finalidade de ilustrar as técnicas utilizadas,
provavelmente não são adequados para nenhuma edificação específica, uma vez
103

que vários deles são tomados segundo características regionais ou nacionais, em


épocas divergentes, portanto prejudicando a coerência entre os mesmos e
inviabilizando sua extrapolação, uma vez que dificilmente seriam representativos
de uma classe específica de edificações.

Mesmo diante de tal problema, cuja solução demandaria vários


estudos estatísticos sobre o assunto, tais dados foram utilizados para que o
essencial, ou seja, a demonstração de uma possível dinâmica populacional
simulada em uma edificação, não fosse inviabilizado pela falta dos mesmos, em
especial no que se refere a determinadas características dessa dinâmica, o que
impediria a apreciação do modelo, que pode se mostrar útil se calcado em dados
confiáveis.

9.1. Geração de Distribuições de Características.

As características aleatórias são geradas utilizando-se as técnicas


e componentes de “software” apresentados no Capítulo 8, com base nas tabelas de
dados, considerações e objetos de dados que se seguem.

9.1.1. Objetos de Dados

Para a implementação do modelo proposto no presente trabalho,


se faz necessário a definição, quanto a sua estrutura lógica, de uma série de objetos
de dados, que vão desde o usuário até o edifício como um todo9.1.

9.1
Esse alcance define as fronteiras de sistema para o presente trabalho.
104

Inicialmente, define-se o objeto “pessoa”, como sendo a


representação abstrata de um ser humano, nas características pertinentes a nosso
objetivo.

A título de ilustração, algumas dessas características são: nome


(ou um identificador que permita unicidade de tratamento), data de nascimento,
sexo, estado de gravidez, data prevista para morte, dados, ou objetos de dados, que
descrevam hábitos sanitários e outros que se mostrem importantes no decorrer do
desenvolvimento.

Em um nível lógico (hierárquico) imediatamente superior,


encontra-se o agrupamento desses usuários, aqui denominado “objeto família”.
Esse objeto, além de trazer em si o conjunto de “pessoas”, traz ainda características
comuns a todas essas pessoas, e que não possam variar individualmente, como por
exemplo o número de pessoas, ou algum forte hábito familiar coletivo.

Por sua vez, o objeto “família” se encontra contido no objeto


“economia”, ou “apartamento”, que pode ser definido como sendo o conjunto de
famílias9.2, associado aos dados necessários à descrição das relações dessas
famílias com o imóvel (contratos de aluguel, horas de utilização em imóveis
comerciais, por exemplo). Esse objeto também traz em si um conjunto de objetos
do tipo “domínio” ou “grupo de aparelhos”, que será definido no Capítulo 11, e
traz a descrição física do imóvel, no que se refere aos interesses da presente
análise.

9.2
Para todos os efeitos um conjunto unitário, a menos que alguma característica
específica não o permita, como o caso dos chamados “cortiços”. Pode ainda ser utilizado para designar
grupos que se alternam na ocupação de um sistema comercial ou industrial.
105

Por fim, o objeto “edifício” é definido como sendo um conjunto


de objetos do tipo “apartamento”, contendo ainda elementos comuns a todos os
apartamentos, como os objetos que mantêm o registro de tempo (data e hora),
número de apartamentos e outros.

A Figura 9.1 apresenta um diagrama relacional resumindo o


exposto.

Edifício
1

n
Economia
1

n
Família
1

n
Pessoa

Fig. 9.1 Diagrama relacional para população.

9.2. Ocupação Inicial da Edificação.

Para que se inicie o processo de simulação deve-se partir de uma


dada situação populacional inicial para o edifício.

Para tanto existem duas hipóteses: pode-se partir do edifício todo


vazio, ou seja, ainda inabitado, ou partir-se de uma distribuição populacional
106

inicial estimada.

No presente trabalho optamos pela segunda hipótese, tomando


como referência os parâmetros populacionais, disponíveis na base de dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

A Tabela 9.1 apresenta um fragmento dessa distribuição, tomada


como diretriz para ilustrar o presente trabalho.

TABELA 9.1 – PESSOAS RESIDENTES EM DOMICÍLIOS PARTICULARES.


ÁREA URBANA, BRASIL, 1991.
Número de componentes das famílias Número de habitantes nessa família
1 pessoa 1.888.941
2 pessoas 11.818.313
3 pessoas 19.621.472
4 pessoas 25.993.598
5 pessoas 21.967.003
6 pessoas 12.844.567
7 pessoas 7.234.429
8 pessoas 4.184.518
9 pessoas 2.420.296
10 pessoas 1.222.265
11 pessoas 643.447
12 pessoas 318.561
13 pessoas 150.897
14 pessoas 63.623
15 pessoas 27.791
16 pessoas 12.831
17 pessoas 5.754
18 pessoas 2.398
19 pessoas 1.950

Fonte: IBGE – Censo demográfico.

Nessa fase, é necessário a imposição de um limite técnico,


referente ao maior número de pessoas que poderia constituir a família a habitar o
apartamento que compõe o edifício sob estudo.
107

Para o exemplo apresentado no Anexo D admitiu-se uma família


máxima de 7 pessoas em um dado apartamento.

Uma vez implantada essa distribuição, resta determinar, para cada


pessoa, seus parâmetros inerentes, em especial idade, sexo e data de morte.

As características, idade e sexo, são determinadas com base na


distribuição levantada pelo IBGE, para o Brasil, no ano de 1996, aqui reproduzida
na Tabela 9.2.

TABELA 9.2 – POPULAÇÃO RESIDENTE. ÁREA URBANA, BRASIL, 1996.


Sexo
Idade Total
Feminino Masculino
Menos de 1 ano 1.142.138 1.182.533 2.324.671
1 ano 1.129.172 1.168.813 2.297.985
2 anos 1.142.039 1.176.336 2.318.375
3 anos 1.153.620 1.188.527 2.342.147
4 anos 1.138.119 1.176.518 2.314.637
5 anos 1.144.050 1.181.179 2.325.229
6 anos 1.190.140 1.223.524 2.413.664
7 anos 1.227.093 1.264.068 2.491.161
8 anos 1.215.473 1.246.789 2.462.262
9 anos 1.234.275 1.256.013 2.490.288
10 anos 1.290.252 1.318.049 2.608.301
11 anos 1.256.972 1.277.425 2.534.397
12 anos 1.278.468 1.283.586 2.562.054
13 anos 1.353.199 1.346.876 2.700.075
14 anos 1.414.088 1.389.868 2.803.956
15 anos 1.378.702 1.341.097 2.719.799
16 anos 1.379.375 1.332.744 2.712.119
17 anos 1.310.827 1.271.858 2.582.685
18 anos 1.292.290 1.250.453 2.542.743
19 anos 1.241.855 1.174.867 2.416.722
20 anos 1.232.458 1.164.137 2.396.595
21 anos 1.190.015 1.130.954 2.320.969
22 anos 1.173.563 1.119.627 2.293.190
23 anos 1.167.038 1.104.596 2.271.634
24 anos 1.132.110 1.072.957 2.205.067
25 anos 1.116.948 1.055.452 2.172.400
26 anos 1.118.979 1.053.937 2.172.916
108

TABELA 9.2 – POPULAÇÃO RESIDENTE. ÁREA URBANA, BRASIL, 1996.


(cont.)
Sexo
Idade Total
Feminino Masculino
27 anos 1.077.902 1.006.542 2.084.444
28 anos 1.048.326 976.809 2.025.135
29 anos 1.048.651 954.633 2.003.284
30 anos 1.112.151 1.029.654 2.141.805
31 anos 1.055.335 958.480 2.013.815
32 anos 1.092.393 998.873 2.091.266
33 anos 1.043.731 956.589 2.000.320
34 anos 977.669 892.940 1.870.609
35 anos 980.019 901.861 1.881.880
36 anos 988.308 906.192 1.894.500
37 anos 911.298 825.153 1.736.451
38 anos 903.907 829.231 1.733.138
39 anos 872.933 797.570 1.670.503
40 anos 885.012 813.932 1.698.944
41 anos 802.030 732.313 1.534.343
42 anos 806.540 761.311 1.567.851
43 anos 732.089 673.292 1.405.381
44 anos 709.291 653.829 1.363.120
45 anos 689.862 645.548 1.335.410
46 anos 672.878 621.392 1.294.270
47 anos 599.074 547.924 1.146.998
48 anos 594.222 543.618 1.137.840
49 anos 568.750 520.234 1.088.984
50 anos 554.659 511.560 1.066.219
51 anos 496.744 454.380 951.124
52 anos 482.864 443.281 926.145
53 anos 459.410 416.765 876.175
54 anos 447.106 398.755 845.861
55 anos 434.402 385.224 819.626
56 anos 454.566 399.945 854.511
57 anos 385.735 335.987 721.722
58 anos 374.340 321.378 695.718
59 anos 376.702 316.750 693.452
60 anos 406.534 339.225 745.759
61 anos 335.237 279.500 614.737
62 anos 327.164 273.706 600.870
63 anos 328.042 269.440 597.482
64 anos 325.203 269.466 594.669
65 anos 333.332 270.509 603.841
66 anos 322.088 255.811 577.899
67 anos 270.097 216.771 486.868
68 anos 255.344 202.601 457.945
69 anos 243.314 193.119 436.433
109

TABELA 9.2 – POPULAÇÃO RESIDENTE. ÁREA URBANA, BRASIL, 1996.


(cont.)
Sexo
Idade Total
Masculino Feminino
70 anos 245.066 190.948 436.014
71 anos 207.449 165.059 372.508
72 anos 200.052 158.269 358.321
73 anos 186.950 144.834 331.784
74 anos 169.643 133.255 302.898
75 anos 159.760 120.133 279.893
76 anos 154.382 112.812 267.194
77 anos 125.526 92.814 218.340
78 anos 119.312 87.048 206.360
79 anos 103.440 72.283 175.723
80 anos 107.852 72.030 179.882
81 anos 90.301 60.470 150.771
82 anos 82.324 54.471 136.795
83 anos 73.515 47.692 121.207
84 anos 66.271 42.511 108.782
85 anos 59.000 37.010 96.010
86 anos 49.558 29.811 79.369
87 anos 32.673 19.834 52.507
88 anos 27.568 16.163 43.731
89 anos 25.712 14.438 40.150
90 anos 23.903 12.170 36.073
91 anos 16.019 8.342 24.361
92 anos 13.096 6.498 19.594
93 anos 10.032 4.927 14.959
94 anos 8.364 4.044 12.408
95 anos 7.762 4.168 11.930
96 anos 6.260 3.652 9.912
97 anos 2.004 843 2.847
98 anos 1.728 718 2.446
99 anos 1.127 459 1.586
100 anos ou mais 3.946 1.948 5.894
Idade ignorada 151.335 141.859 293.194

Fonte: IBGE – Contagem da População.

Como se pode observar, existem duas características


interrelacionadas, uma vez que a distribuição de sexo não é igual para todas as
idades.
110

Assim, deve-se determinar primeiramente aquela com maior


número de classes, no caso a idade, e, a seguir, determinar-se o sexo escolhendo-se
a proporção adequada para a idade. Aqui também aplicou-se limite prático de 100
anos, e desprezou-se as pessoas com idade ignorada.

Uma vez determinada a idade, neste tratamento, esta é registrada


como data de nascimento, posto que tal forma de registro permite novo cálculo da
idade de cada pessoa assim que se deseje, em qualquer data que a simulação
requeira.

Para se proceder essa conversão, uma vez que não se dispõe da


distribuição de nascimentos segundo as épocas dos anos, subtrai-se a idade do ano
correspondente à data inicial da simulação, determinando-se então, a data inicial da
simulação para o ano de nascimento daquela pessoa, a seguir gera-se um número
inteiro aleatório, na faixa de 1 a 365, subtrai-se o mesmo da data então obtida,
obtendo-se, por fim a data de nascimento da pessoa.

Ainda com o valor da idade determinado, determina-se o sexo


correspondente segundo a distribuição aplicável àquela idade.

Uma vez determinados tais dados e posto que todas as projeções


para nascimento de filhos deverão ser iniciadas com valores nulos, resta-nos
determinar, qual a data de falecimento de cada pessoa.

O IBGE nos mostra, na Tabela 9.3, uma distribuição, segundo


sexo e idade, do número de óbitos registrados no Brasil, no ano de 1994.
111

TABELA 9.3 – ÓBITOS OCORRIDO E REGISTRADOS. BRASIL. 1994.


Sexo
Idade Total
Feminino Masculino
0 35.433 47.744 83.177
1 3.583 4.303 7.886
2 1.598 1.820 3.418
3 986 1.280 2.266
4 793 1.050 1.843
5 673 889 1.562
6 581 817 1.398
7 545 812 1.357
8 490 813 1.303
9 457 809 1.266
10 562 830 1.392
11 529 828 1.357
12 593 901 1.494
13 658 1.049 1.707
14 703 1.309 2.012
15 943 2680,2 3.623
16 943 2680,2 3.623
17 943 2680,2 3.623
18 943 2680,2 3.623
19 943 2680,2 3.623
20 1.098 3.892 4.990
21 1.098 3.892 4.990
22 1.098 3.892 4.990
23 1.098 3.892 4.990
24 1.098 3.892 4.990
25 1.335 4.304 5.640
26 1.335 4.304 5.640
27 1.335 4.304 5.640
28 1.335 4.304 5.640
29 1.335 4.304 5.640
30 1.628 4.586 6.214
31 1.628 4.586 6.214
32 1.628 4.586 6.214
33 1.628 4.586 6.214
34 1.628 4.586 6.214
35 2.000 4.844 6.843
36 2.000 4.844 6.843
37 2.000 4.844 6.843
38 2.000 4.844 6.843
39 2.000 4.844 6.843
40 2.440 5.160 7.601
41 2.440 5.160 7.601
42 2.440 5.160 7.601
43 2.440 5.160 7.601
112

TABELA 9.3 – ÓBITOS OCORRIDO E REGISTRADOS. BRASIL. 1994 (cont.)


Sexo
Idade Total
Feminino Masculino
44 2.440 5.160 7.601
45 2.826 5.371 8.197
46 2.826 5.371 8.197
47 2.826 5.371 8.197
48 2.826 5.371 8.197
49 2.826 5.371 8.197
50 3.367 6.070 9.437
51 3.367 6.070 9.437
52 3.367 6.070 9.437
53 3.367 6.070 9.437
54 3.367 6.070 9.437
55 4.259 7.036 11.295
56 4.259 7.036 11.295
57 4.259 7.036 11.295
58 4.259 7.036 11.295
59 4.259 7.036 11.295
60 5.337 8.261 13.598
61 5.337 8.261 13.598
62 5.337 8.261 13.598
63 5.337 8.261 13.598
64 5.337 8.261 13.598
65 6.393 9.291 15.684
66 6.393 9.291 15.684
67 6.393 9.291 15.684
68 6.393 9.291 15.684
69 6.393 9.291 15.684
70 7.039 9.573 16.612
71 7.039 9.573 16.612
72 7.039 9.573 16.612
73 7.039 9.573 16.612
74 7.039 9.573 16.612
75 7.877 9.031 16.909
76 7.877 9.031 16.909
77 7.877 9.031 16.909
78 7.877 9.031 16.909
79 7.877 9.031 16.909
80 7.817 7.505 15.323
81 7.817 7.505 15.323
82 7.817 7.505 15.323
83 7.817 7.505 15.323
84 7.817 7.505 15.323
85 6.104 5.320 11.424
86 6.285 5.121 11.406
87 6.072 4.929 11.001
88 5.759 4.296 10.055
113

TABELA 9.3 – ÓBITOS OCORRIDO E REGISTRADOS. BRASIL. 1994 (cont.)


Sexo
Idade Total
Feminino Masculino
89 5.101 3.425 8.526
90 3.993 2.696 6.689
91 3.306 2.115 5.421
92 2.834 1.800 4.634
93 2.666 1.639 4.305
94 2.009 1.138 3.147
95 1.107 642 1.749
96 958 543 1.501
97 722 350 1.072
98 560 253 813
99 558 616 1.174
100 ou mais 1.061 1.469 2.530

Fonte: IBGE – Registro Civil9.3

De posse dos dados da Tabela 8.5, há de se fazer a determinação,


para cada usuário, de sua “data de falecimento”, ou seja, determinar uma data na
qual este deveria deixar de existir no sistema, simulando seu óbito.

Usando-se técnica semelhante à descrita para a prescrição da data


de nascimento, determina-se a idade na qual esse usuário deve sair do sistema.

De posse desse dado, calcula-se, a data do óbito, avançando um


número aleatório de dias, compreendido entre 1 e 365, a partir de sua data de
aniversário para essa idade.

A utilização desse mecanismo deve então, contemplar duas


hipóteses:

9.3
Nos dados originais, obtidos junto ao IBGE, não havia discriminação por
idades, entre 15 e 85 anos, mas por grupos de idades, como o trabalho com classes de amplitudes
diferentes introduziria um grau de complexidade desnecessário para a presente demonstração,
distribuiu-se a freqüência de cada grupo de idade uniformemente segundo as classes que o formam.
114

a) a determinação dessa data deverá ser feita para um usuário que


adentra o sistema já com alguma idade (pe. ocupação inicial, mudança, etc.). Nesse
caso deve-se tomar somente o segmento da Tabela 9.3, com idades correspondentes
àquelas maiores ou iguais à do usuário no momento da análise; o que espelha bem
o fato de que se tem uma probabilidade nula de óbito em uma idade que já se
superou. Essa abordagem faz com que a idade de nenhum usuário possa
ultrapassar o limite superior da Tabela 9.3 (no caso 100 anos), o que é bastante
razoável, pois se necessita de um limite superior para tal avaliação;

b) a determinação da data deverá ser feita para um usuário nascido


dentro do sistema. Sob essa hipótese, que de fato é caso particular da anterior,
estabelece-se a idade do óbito utilizando-se toda a Tabela 9.3.

9.3. Dinâmica Populacional.

Uma vez determinada a situação inicial, a dinâmica populacional


ocorre, pela verificação e ajuste, a cada dia simulado, de determinadas variáveis de
estado do sistema, que se referem às pessoas.

9.3.1. Óbitos.

A cada dia verifica-se se é chegada a data de óbito de cada


usuário. Ao chegar tal data esse é eliminado do sistema, e as variáveis necessárias
são ajustadas para espelhar o novo estado.
115

9.3.2. Nascimentos.

Os nascimentos são processados tendo como base a Tabela 9.4.

TABELA 9.4 - NASCIDOS VIVOS OCORRIDOS E REGISTRADOS - 1994


Sexo Probabil. de
Idade da mãe no parto Número de
Total ser mãe
[anos] Feminino Masculino mulheres9.4
[%]
15 13.085 13.622 26.707 1.378.702 1,94
16 28.558 29.977 58.535 1.379.375 4,24
17 44.887 46.322 91.209 1.310.827 6,96
18 58.425 61.528 119.953 1.292.290 9,28
19 67.267 70.664 137.931 1.241.855 11,11
20 74.642 77.993 152.635 1.232.458 12,38
21 73.940 78.028 151.968 1.190.015 12,77
22 76.087 79.626 155.713 1.173.563 13,27
23 77.861 80.907 158.768 1.167.038 13,60
24 74.405 77.613 152.018 1.132.110 13,43
25 69.960 72.887 142.847 1.116.948 12,79
26 67.193 70.377 137.570 1.118.979 12,29
27 63.510 65.297 128.807 1.077.902 11,95
28 60.092 63.321 123.413 1.048.326 11,77
29 53.212 55.342 108.554 1.048.651 10,35
30 50.441 52.143 102.584 1.112.151 9,22
31 40.360 41.702 82.062 1.055.335 7,78
32 36.105 37.579 73.684 1.092.393 6,75
33 30.618 31.896 62.514 1.043.731 5,99
34 26.921 27.846 54.767 977.669 5,60
35 21.719 22.201 43.920 980.019 4,48
36 18.593 19.108 37.701 988.308 3,81
37 15.139 15.658 30.797 911.298 3,38
38 12.777 13.277 26.054 903.907 2,88
39 9.945 10.259 20.204 872.933 2,31
40 7.931 8.195 16.126 885.012 1,82
41 5.274 5.210 10.484 802.030 1,31
42 4.304 4.334 8.638 806.540 1,07
43 2.804 2.891 5.695 732.089 0,78

9.4 Dados tomados da Tabela 9.2. Dessa forma, deve-se alertar que há uma inconsistência na tabela 9.4
.
que, embora não inviabilize sua utilização para a demonstração da técnica de simulação, objeto desse trabalho, inviabiliza sua
utilização para casos reais, ou seja, os dados do registro civil são referentes a 1994 e os dados populacionais a 1996.
116

TABELA 9.4 - NASCIDOS VIVOS OCORRIDOS E REGISTRADOS – 1994


(cont)
Sexo Probabil. de
Idade da mãe no parto Número de
Total ser mãe
[anos] Feminino Masculino mulheres
[%]
44 1.832 1.885 3.717 709.291 0,52
45 1.071 1.152 2.223 689.862 0,32
46 615 668 1.283 672.878 0,19
47 400 385 785 599.074 0,13
48 288 272 560 594.222 0,09
49 177 183 360 568.750 0,06

FONTE: IBGE - Registro Civil.

De posse dos dados da Tabela 9.4, em especial da coluna


denominada “probabilidade de ser mãe” (psm), procede-se a simulação dos
nascimentos, de maneira um pouco diversa das anteriores, uma vez que não se trata
mais de posicionar um indivíduo em determinada classe, mas verificar se
determinado evento (no caso “ser mãe”) ocorrerá com o mesmo em sua idade atual.

Para tanto, determina-se, somente para os indivíduos do sexo


feminino, a cada data de aniversário, se haverá geração de filho por aquela pessoa
na dada idade.

Tal determinação é feita não pelo componente “TListaIntervalos”,


como explanado no Capítulo 8, mas diretamente, através da geração um número
aleatório na faixa de 1 a 10.000, e, para a respectiva faixa de idade em que se dá a
verificação, assinalando como positiva a ocorrência de maternidade caso o número
gerado esteja no intervalo entre 1 e 10 000.psm, caso contrário não haverá
maternidade daquele indivíduo com a dada idade.

A seguir, para os casos positivos, determina-se a data do


nascimento do novo indivíduo, fazendo-se uma projeção aleatória de dias, na faixa
117

entre 1 e 365, a partir da data de aniversário da mãe.

Conjuntamente com esse procedimento, acionado diariamente


(segundo o “Relógio” da simulação), verifica-se se há alguma data de “parto” que
se cumpre no dia indicado. Em caso positivo, procede-se a inclusão de um novo
usuário no sistema, determinando-se sua data de nascimento como aquela já
prevista, sua data de óbito, como explanado acima, e seu sexo, sendo que essa
última característica pode ser tomada pela simples geração aleatória com
distribuição de 50% para cada classe (gerando números inteiros na faixa de 1 a 2),
dado que não existe diferença significativa entre as taxas de nascimentos segundo o
sexo do recém nascido.

Também é necessário observar que, segundo a Tabela 9.4, as


mulheres só podem se tornar mães na faixa etária de 15 a 49 anos, o que não
corresponde essencialmente à verdade, mas, para tal simulação, este intervalo deve
estar confinado, ainda porque não há estatísticas detalhadas disponíveis para outras
faixas etárias, e as probabilidades de maternidade apresentam valores muito baixos
quando fora da faixa apresentada.

9.3.3. Entrada e saída de famílias no edifício.

Nesse tópico, são abordados os fatores de dinâmica populacional


relacionados à entrada e saída, por mudança, de famílias no edifício.

Primeiramente é necessário esclarecer que o presente trabalho


considera que uma família tenha um dentre dois tipos possíveis de vínculo com o
apartamento: pode haver um vínculo de propriedade ou um vínculo contratual de
118

posse e uso (aluguel, cessão, comodato, etc.) aqui genericamente denominado


aluguel.

Para qualquer um dos casos, deve-se determinar o momento da


entrada de uma família, e o momento de sua saída.

Esses momentos podem ser determinados com base em alguns


parâmetros básicos, como:

• a curva de distribuição do tempo de permanência no imóvel;


• a curva de distribuição do tempo de rehabitação do mesmo;
• a relação entre imóveis próprios e alugados para a
determinação da natureza do vínculo família-imóvel, e,
portanto, sob qual das curvas prever a desocupação e a
reocupação de cada unidade.

9.3.3.1. Tipo de vínculo com o imóvel.

Para a determinação do tipo de vínculo com o imóvel, pode-se


utilizar os dados da Tabela 9.5, almejando-se uma distribuição similar àquelas
adotadas anteriormente:
119

TABELA 9.5 - DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES - 1991


Condição de ocupação
Moradores Próprio Não próprio9.5
Número [%] Número [%]
1 1.039.717 59,06 720.794 40,94
2 2.643.604 64,42 1.459.895 35,58
3 3.411.401 65,94 1.761.978 34,06
4 4.150.306 71,70 1.638.383 28,30
5 3.145.961 75,13 1.041.206 24,87
6 1.716.234 77,17 507.834 22,83
7 931.536 79,07 246.521 20,93
8 521.085 80,51 126.113 19,49
9 294.938 81,32 67.729 18,68
10 153.197 82,45 32.614 17,55

FONTE: IBGE - Censo Demográfico

De posse dos dados da Tabela 9.5, a geração do vínculo jurídico é


feita de forma análoga àquela apresentada para a determinação do sexo, após
conhecida a idade; de tal forma que aqui se determina o vínculo jurídico, após
conhecido o número de ocupantes da economia.

9.3.3.2. Tempo de permanência no imóvel.

Uma vez que não há, de forma organizada e amplamente


divulgada, estatísticas sobre o tempo de permanência de uma família em um
imóvel, neste tópico, limita-se a indicar a oportunidade de que se tome tal
parâmetro em consideração, e, portanto, se busque os dados necessários para sua
correta caracterização.

Com o objetivo principal de não ter a linha de trabalho


interrompida por falta de dados estatísticos, e também buscando uma certa

9.5
Na categoria aqui apresentada como “não próprio”, estão somados os valores
correspondentes às categorias Alugado, e Cedido apresentadas pelo IBGE.
120

distância do formalismo matemático genérico, pois traria uma repetição inoportuna


de boa parte da teoria estatística, passa-se a tecer algumas suposições sobre tais
dados.

Acompanhando o pensar de MEYER, (1995), segundo a qual: “o


importante é, naturalmente, que se devemos supor alguma coisa a fim de
elaborarmos nosso modelo matemático, devemos admitir aquilo que seja plausível,
em lugar daquilo que seja menos plausível”, passamos a determinar os premissas
que dão base, ainda que de maneira deficiente, a tais suposições.

Em consulta informal a pessoas ligadas ao setor imobiliário,


determinou-se como razoável, a suposição de que o tempo de ocupação de imóveis
se situa em torno das seguintes médias:

• imóveis próprios: 10 anos;


• imóveis alugados: 2 anos.

No entanto, sabe-se que existem infinitas distribuições de


freqüência que apresentam tais média, de modo que, para o objetivo aqui proposto,
há pouco proveito em tais dados, a não ser, talvez, a orientação de valores
arbitrados que permitam prosseguir com a presente explanação, ao menos em
termos qualitativos.

Prosseguindo nesta linha, e tentando supor algo plausível, pode-se


levantar as seguintes hipóteses sobre tal distribuição de freqüências:

a) a distribuição de freqüências poderá ser assimétrica, positiva ou


negativa, conforme as leis de mercado vigentes, uma vez que há uma tendência
121

maior de saídas tardias (à direita da moda) sob contexto inflacionário, quando os


aluguéis perdem muito seu valor real, ou em épocas que apresentam menor oferta
de imóveis para locação, quando a troca de imóvel acarreta uma alta de preços no
aluguel. Por outro lado, em contexto estabilizado e com forte oferta de imóveis, o
valor modal sofre maior aproximação do prazo contratual, uma vez que, às vezes, é
possível uma troca para um imóvel melhor, com o mesmo custo. Por sua vez, o
número de saídas anteriores ao prazo contratual tende a ser pequeno devido a
multas contratuais ou taxas e transtornos ligados a uma nova locação; para o caso
dos imóveis próprios, onde não há a referência do prazo contratual, um modelo
plausível seria a curva assimétrica negativa (moda à direita da média), provocada
pelos transtornos de mudança, investimentos iniciais e tempo de pagamento de
financiamentos;

b) a probabilidade para que o imóvel seja desocupado de imediato


é pequena mas, tecnicamente, não nula, uma vez que há registro de diversos casos
de nesse sentido;

c) os prazos médios de permanência são diferentes para os casos


de imóvel alugado e próprio, sendo menores para aqueles e maiores para estes.

Desse modo, passamos a admitir, na seqüência, que tais


distribuições estariam bem caracterizadas através de uma função de densidade de
probabilidades do tipo Gama, cujas características principais estão descritas no
Apêndice VI, uma vez que, pela correta seleção de parâmetros é possível ajustar a
curva a uma série de situações possíveis.

A Figura 9.2 apresenta uma possível distribuição de


probabilidades para tempo de permanência em imóveis alugados, com prazo
122

contratual de 365 dias (1 ano).

1,80E-03
1,60E-03

probabilidade de saída
1,40E-03
1,20E-03
1,00E-03
8,00E-04
6,00E-04
4,00E-04
2,00E-04
0,00E+00
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001
tempo decorrido [dias]

Fig. 9.2 Exemplo de curva de probabilidade para tempo de permanência em imóvel


alugado.

Uma vez que a distribuição Gama tem sua cauda direita


assintótica ao eixo das classes, também nesse caso há a necessidade de estabelecer
um limite técnico, ou seja, acima do qual nenhuma família permaneceria no
imóvel. Tal limite é estabelecido como sendo um número muito grande em
comparação com a média (p.e. 100 vezes a média).

9.3.3.3. Tempo de reocupação do imóvel.

Assim como o tópico anterior, também não há a disponibilidade


dos dados estatísticos mínimos necessários à simulação desse parâmetro. Contudo,
o SECOVI-SP informa que o IVL (índice de velocidade de locação) para a cidade
de São Paulo, se encontra no momento com valor médio de 3 meses.

Também aqui cabem algumas considerações genéricas:

a) pode-se esperar uma distribuição de freqüências assimétrica


negativa (com a moda localizada à direita da média), uma vez que há um tempo
inicial onde se faz alguma melhoria ou conservação no imóvel, negociações entre a
123

administradora e o proprietário e ainda um tempo necessário para que se inicie, e


surta efeito, o trabalho de “marketing” (anúncios, ação de corretores, etc..) ;

b) a probabilidade para que o imóvel seja reocupado de imediato é


pequena mas não tecnicamente nula, pois existem muitos relatos de casos onde a
unidade já se encontra realocada mesmo antes que seus ocupantes a deixem,
restando apenas alguns dias de desocupação para ajustes físicos na mesma;

c) essa distribuição pode ser semelhante àquela referente a uma


unidade própria, no caso de venda e não de locação, diferindo, obviamente, quanto
aos valores médios do tempo de reocupação;

Para tanto, utilizamo-nos, com valores e parâmetros diversos, da


mesma distribuição Gama apresentada no Apêndice VI.

Um exemplo de simulação populacional utilizando as premissas


aqui apresentadas pode ser visto no Anexo D.
124

10 SIMULAÇÃO DE ACIONAMENTO DOS APARELHOS

Uma vez introduzidas as técnicas de simulação do comportamento


hidráulico da rede de distribuição de água, e da população, com o número e
localização de cada usuário, resta ainda, para que se complete o modelo, descrever
as técnicas de simulação da atuação dos aparelhos, e a forma com que os usuários
interagem com estes. O presente capítulo trata, portanto, da simulação da atuação
dos aparelhos, sendo as características de dependência estatística da interação
usuário-aparelho, tratada no Capítulo 10.

Seguindo a linha até aqui exposta, ou seja, determinar-se o estado


de todo o sistema a cada instante de tempo simulado, a simulação da atuação dos
aparelhos deve informar, a cada instante, para cada aparelho, qual o coeficiente de
descarga que o mesmo apresenta, segundo seu intervalo de “0” (fechado), até
“Cdmáx” (completamente aberto).

Para que se possa gerar tal informação, bastante simples, é


necessário que a abstração computacional encarregada de simular aparelhos possa
manipular corretamente informações relativas ao tipo de aparelho (como
apresentado no Capítulo 4), além de algumas informações relativas à forma com
que o usuário age sobre tal aparelho.

É necessário ainda, em alguns tipos de aparelho, que, em nível


mais interno, a abstração aparelho (na seqüência tratada somente como aparelho)
possa manipular as informações necessárias para a correta simulação de seus
ciclos.
125

10.1. Atuação do Usuário sobre o Aparelho.

Para a caracterização do atuar do usuário sobre o aparelho é


necessário conhecer:

a) o instante de acionamento;
b) o tempo de duração desse acionamento;
c) a vazão determinada pelo usuário

Conforme visto no Capítulo 4, nem todos os tipos de aparelhos


utilizarão todos, ou algum, dos parâmetros relacionados, mas alguns tipos
utilizarão ao menos um destes, razão pela qual é necessária sua determinação.

10.1.1. Caracterização do instante de acionamento do aparelho.

Para o caso de aparelhos acionados sob comando do usuário,


define-se instante de acionamento do aparelho, o momento em que o mesmo entra
em operação, tomado em um determinado período cíclico de interesse, por
exemplo, 24 horas.

Não são comuns na literatura, levantamentos específicos de


instantes de acionamentos de aparelhos, mas sim de freqüência horária de
acionamentos, ou ainda, de percentagem horária de números de acionamentos,
como o caso da Figura 10.1 (ILHA, 1991).
126

25

20

Percentagem
15

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

Horas do dia

Fig. 10.1 Número de usos por hora – chuveiro – dias de semana (ILHA, 1991).

Os dados apresentados na Figura 10.1, não são diretamente


utilizáveis como curva de densidade de probabilidades que permita determinar o
padrão de geração aleatória do instante de acionamento do aparelho, uma vez que,
se assim se procedesse, jamais haveria chance alguma de, por exemplo, termos um
acionamento do chuveiro às 12 horas, fato que, de senso comum, mesmo que
ocorra com pequena probabilidade se tomado um padrão como o apresentado na
Figura 10.1, tem probabilidade de ocorrência não nula.

Dessa forma, passamos a considerar os dados da Figura 10.1 sob a


ótica dos números nebulosos, o que leva a afirmativas como: “cerca de 23% dos
usos de chuveiro ocorrem por volta das 6:00 horas”.

Como se observa, as expressões: “cerca de” e “por volta das”


introduzem um grau de incerteza nos dados da Figura 10.1, que podem melhor
associa-los ao comportamento de pessoas.

Dentre as várias formas possíveis de representar um número


nebuloso, optou-se, para o presente caso, na utilização de uma curva de
127

distribuição normal, com média sobre cada hora determinada na Figura 10.1, e
desvio padrão de 30 minutos10.1. A área dessa curva é ajustada para a percentagem
indicada do número de usos em cada classe horária.

Aplicando-se tal enfoque sobre a Figura 10.1, gera-se a Figura


10.2.

5
4,5
4
3,5
Percentagem

3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

Horas do dia

Fig. 10.2 Número de usos por hora – chuveiro – como números nebulosos.

Dois aspectos devem ser destacados na Figura 10.2:

a) a probabilidade de acionamento, em cada momento, é a soma


das 24 distribuições de probabilidades consideradas, uma vez que o evento, em
qualquer momento, pode ser gerado pelo usuário de qualquer horário, atrasado,
adiantado ou no horário correto; a soma dessas probabilidades pode ser vista na
Figura 10.3, que corresponde à densidade de probabilidades utilizada para o dia da

10.1
Valor adotado por considerar-se que o usuário “atrasado” em mais de 1/2 hora,
na realidade é um usuário “adiantado” da hora seguinte. Essa consideração se deve à modularização
adotada no trabalho original (ILHA, 1991), em uma hora.
128

semana;

b) a Figura apresenta uma extensão para as horas de 24 a 26 (de


fato 0 a 2 horas do dia seguinte), para que se observe que existe um
“espalhamento” das características, especialmente das últimas horas do dia, para as
primeiras horas do dia seguinte.

A soma das probabilidades pode ser vista na Figura 10.3.

5
Percentagem