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1
Telma Menicucci
2
Alisson Maciel de Faria Marques
1
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail:
telmenicucci@fafich.ufmg.br
2
Secretaria da Saúde do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail:
alisson.faria@saude.mg.gov.br
INTRODUÇÃO
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016, pp. 823 a 865.
http://dx.doi.org/10.1590/00115258201693 823
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve como obje-
tivo analisar o grau de regionalização da assistência à saúde no país3.
Essa se traduz na obtenção da cooperação entre os entes federados
para garantir o acesso integral e universal aos serviços num determi-
nado espaço territorial – as regiões de saúde. O ponto de partida foi
uma análise das regras institucionais voltadas para a regulação das re-
lações federativas, particularmente o arranjo institucional da regiona-
lização, tendo como pano de fundo a discussão da cooperação no âm-
bito de sistemas federativos. A análise institucional aponta que esse
arranjo tem potencial para favorecer a cooperação; entretanto, essas re-
gras, que são nacionais e aplicáveis a todo o país, não são capazes de
explicar as variações entre as unidades da federação e/ou entre as re-
giões de saúde.
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828 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 829
830 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 831
832 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
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Quadro 1
Indicadores Utilizados para Construção do Índice de Regionalização,
por Nível de Atenção
834 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 835
836
Índice Médio de Regionalização e seus Componentes das Regiões de Saúde de Amostra de Estados e Coeficiente de Variação Regional
(Brasil, 2010)
Índice PA MA RN BA MG SP RS
Média das regiões 0,378 0,493 0,870 0,519 0,653 0,599 0,614
IAB Menor – Maior 0,232 – 0,471 0,392 – 0,571 – 0,359 – 0,593 0,564 – 0,733 0,468 – 0,696 0,497 – 0,769
C.V. (%) 18,78 10,95 – 14,84 7,96 10,35 16,94
Média das regiões 0,641 0,648 0,000 0,603 0,384 0,511 0,655
IMC Menor – Maior 0,112 – 1 0,449 – 0,843 – 0,329 – 0,897 0,116 – 0,793 0,3 – 0,866 0,345 – 0,869
C.V. (%) 58,97 21,14 – 24,21 48,18 28,18 28,55
Média das regiões 0,382 0,219 0,714 0,221 0,306 0,746 0,458
IAC Menor – Maior 0,002 – 0,991 0 – 0,987 – 0–1 0 – 0,994 0,428 – 0,99 0 – 0,99
C.V. (%) 97,38 179 – 171,04 126,8 20,38 96,72
Média das regiões 0,467 0,453 0,602 0,448 0,448 0,619 0,576
Telma Menicucci e Alisson Maciel de Faria Marques
IR Menor – Maior 0,166 – 0,767 0,342 – 0,727 – 0,312 – 0,727 0,265 – 0,794 0,458 – 0,737 0,429 – 0,789
C.V. (%) 50,54 32,67 – 36,38 37,5 11,31 23,61
Regiões 8 8 1 9 13 17 7
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do Datasus.
PA MA RN BA MG SP RS Total
Índice Classificação
Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. %
Baixo 8 100 4 50,0 0 0,0 2 22,2 0 0,0 1 5,9 1 14,3 16 25,4
IAB Médio 0 0,0 4 50,0 0 0,0 7 77,8 13 100 16 94,1 6 85,7 46 73,0
Alto 0 0,0 0 0,0 1 100 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,6
Baixo 3 37,5 1 12,5 1 100 1 11,1 10 76,9 8 47,1 1 14,3 25 39,7
IMC Médio 0 0,0 6 75,0 0 0,0 7 77,8 3 23,1 8 47,1 4 57,1 28 44,4
Alto 5 62,5 1 12,5 0 0,0 1 11,1 0 0,0 1 5,9 2 28,6 10 15,9
Baixo 6 75,0 6 75,0 0 0,0 7 77,8 9 69,2 1 5,9 3 42,9 32 50,8
IAC Médio 1 12,5 1 12,5 0 0,0 1 11,1 1 7,7 9 52,9 2 28,6 15 23,8
Alto 1 12,5 1 12,5 1 100 1 11,1 3 23,1 7 41,2 2 28,6 16 25,4
Baixo 3 37,5 6 75,0 0 0,0 7 77,8 9 69,2 1 5,9 3 42,9 29 46,0
IR Médio 5 62,5 2 25,0 1 100 2 22,2 4 30,8 16 94,1 4 57,1 34 54,0
o
Alto 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Total de regiões 8 100 8 100 1 100 9 100 13 100 17 100 7 100 63 100
837
Cooperação e Coordenação na Implementação de Políticas Públicas...
838 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 839
Quadro 2
Indicadores dos Fatores Estruturais que Podem Afetar a Regionalização,
por Grupo
A maioria das regiões de saúde tem baixos índices em oito dos dez in-
dicadores estruturais, embora haja diferenças significativas entre elas,
tanto entre as regiões de um mesmo estado quanto entre estados. As
exceções com resultados mais positivos são no indicador que mede o
esforço dos municípios da região em alocar recursos na saúde, em
atendimento às exigências da Emenda Constitucional 29, e no indica-
dor que identifica a dependência da região em relação a recursos trans-
feridos. No que diz respeito ao esforço para custeio da atenção à saúde,
as variações intraestados são baixas e os percentuais da receita que são
gastos em saúde variam de 14,63% a 26,32% entre todas as regiões da
amostra, o que significa que os municípios estão cumprindo a determi-
nação constitucional, mas há variações entre eles.
840 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
PA MA RN BA MG SP RS Total
Indicador Classificação
Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. %
Baixo 7 87,5 8 100 1 100 9 100 10 76,92 4 23,53 2 28,57 41 65,08
PIB per capita (em milhares de reais) Médio 1 12,5 0 0 0 0 0 0 3 23,08 11 64,71 5 71,43 20 31,75
Alto 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 11,76 0 0 2 3,17
o
Alto 0 0 0 0 0 0 0 0 1 7,69 3 17,65 0 0 4 6,35
Baixo 8 100 8 100 1 100 9 100 8 61,54 0 0 2 28,57 36 57,14
Despesa com recursos próprios para
841
Cooperação e Coordenação na Implementação de Políticas Públicas...
(continua)
842
Indicadores Estruturais por Classificação (Alto, Médio e Baixo) das Regiões de Saúde de Amostra de Estados
(Brasil, 2010) (continuação)
PA MA RN BA MG SP RS Total
Indicador Classificação
Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. % Qt. %
Baixo 8 100 7 87,5 0 0 7 77,78 8 61,54 3 17,65 3 42,86 36 57,14
Média mensal de enfermeiros por
Médio 0 0 1 12,5 1 100 2 22,22 5 38,46 9 52,94 4 57,14 22 34,92
mil habitantes
Alto 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 29,41 0 0 5 7,94
Média mensal de demais Baixo 8 100 8 100 0 0 8 88,89 4 30,77 6 35,29 1 14,29 35 55,56
profissionais de nível superior por Médio 0 0 0 0 1 100 1 11,11 6 46,15 5 29,41 5 71,43 18 28,57
mil habitantes Alto 0 0 0 0 0 0 0 0 3 23,08 6 35,29 1 14,29 10 15,87
Baixo 8 100 7 87,5 1 100 9 100 9 69,23 14 82,35 7 100 55 87,3
Média mensal de profissionais
Médio 0 0 0 0 0 0 0 0 3 23,08 3 17,65 0 0 6 9,52
administrativos por mil habitantes
Alto 0 0 1 12,5 0 0 0 0 1 7,69 0 0 0 0 2 3,17
Telma Menicucci e Alisson Maciel de Faria Marques
Grupo Indicador PA MA RN BA MG SP RS
1. PIB per capita (em Menor – Maior 3.269,8 – 3.470,48 – 10.207,90 4.934,59 – 6.334,29 – 12.542,48 – 16.621,47 –
milhares de reais) 25.976,44 11.154,38 18.450,31 26.144,27 35.808,23 29.088,06
Média das regiões 9.290,18 6.288,85 – 8.963,43 15.012,68 23.282,98 22.360,89
C.V. (%) 76,22 45,94 – 44,25 46,14 26,35 19,08
2. Percentual de Menor – Maior 7,54 – 11,49 – 11,76 9,12 – 8,65 – 4,49 – 9,91 5,86 –
recursos de 16,88 21,37 14,76 17,78 10,21
transferências Média das regiões 11,85 16,2 – 12,4 12,11 6,79 7,66
governamentais em
C.V. (%) 23,21 18,02 – 15 22,3 22,97 22,45
relação à receita
total
3. Percentual de Menor – Maior 18,1 – 18,4 – 21,86 14,63 – 18,85 – 20 – 26,32 16,56 –
Capacidade financeira
recursos próprios 21,15 24,58 21,21 23,95 20,18
e gastos em saúde
aplicados em saúde Média das regiões 18,92 22,18 – 18,76 21,75 22,69 18,54
(EC29)
C.V. (%) 5,29 8,66 – 9,43 7,4 7,84 6,58
Menor – Maior 163,7 – 262,26 – 350,04 252,45 – 319,75 – 339,66 – 255,05 –
4. Despesa total em 300,45 357,88 332,63 513,44 546,21 399,93
saúde, por
o
Média das regiões 239,43 309,04 – 293,11 394,22 431,37 342,84
habitante
C.V. (%) 21,07 11,67 – 9,02 12,75 12,75 16,51
Menor – Maior 68,16 – 93,67 – 178,25 114,48 – 131,2 – 256,76 – 139,65 –
843
Cooperação e Coordenação na Implementação de Políticas Públicas...
1. Média mensal de Menor – Maior 0,01 – 0,92 0,1 – 0,51 1,00 0,23 – 1,6 0,4 – 1,95 0,47 – 2,1 1,03 – 1,48
Recursos humanos médicos por mil Média das regiões 0,27 0,21 – 0,57 1,08 1,44 1,28
habitantes
C.V. (%) 100 66,67 – 73,68 44,44 27,78 14,84
(continua)
844
Indicadores Estruturais das Unidades da Federação, em Valores Absolutos e Média de suas Respectivas Regiões, e Coeficiente de Variação
Intraestado, por Unidade da Federação
(Brasil, 2010) (continuação)
Grupo Indicador PA MA RN BA MG SP RS
2. Média mensal de Menor – Maior 1,64 – 3,26 1,83 – 4,44 3,89 2,26 – 4,08 2,54 – 5,03 3,11 – 5,88 2,89 – 4,25
enfermeiros por mil Média das regiões 2,36 2,58 – 2,82 3,71 4,55 3,61
habitantes
C.V. (%) 25,42 33,72 – 23,76 23,45 17,58 16,07
3. Média mensal de Menor – Maior 0,22 – 1,06 0,55 – 1,09 1,59 0,66 – 1,53 1,14 – 2,21 0,9 – 2,15 1,02 – 1,87
demais Média das regiões 0,56 0,78 – 0,93 1,54 1,51 1,46
profissionais de
C.V. (%) 46,43 26,92 – 26,88 24,03 29,14 19,86
nível superior por
mil habitantes
4. Média mensal de Menor – Maior 0,23 – 0,67 0,19 – 1,47 0,73 0,28 – 0,68 0,07 – 1,74 0,23 – 1,32 0,02 – 0,54
profissionais Média das regiões 0,39 0,59 – 0,41 0,67 0,6 0,24
Telma Menicucci e Alisson Maciel de Faria Marques
administrativos por
C.V. (%) 35,9 69,49 – 29,27 73,13 53,33 79,17
mil habitantes
1. Média mensal de Menor – Maior 0,83 – 2,04 1,68 – 2,63 2,17 1,34 – 2,38 1,15 – 3,11 1,11 – 3,56 1,51 – 2,95
leitos disponíveis Média das regiões 1,56 2,02 – 1,85 1,81 1,94 2,21
Capacidade instalada
no SUS por mil
C.V. (%) 25 16,34 – 16,76 29,28 38,14 22,17
habitantes
Total de regiões 8 8 1 9 13 17 7
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do Datasus.
Entretanto, a despesa total com saúde per capita, que mede um valor ab-
soluto e não o quanto o município gastou em relação à sua receita, é sig-
nificativamente mais alta em São Paulo (15 das suas 17 regiões com ín-
dices médio ou alto), seguida por Minas Gerais e pelo Rio Grande do
Sul. A composição desse gasto é mais impactada pelas transferências
de outros entes federados, uma vez que as regiões do estado registra-
ram baixos índices em relação à despesa própria com saúde. Todas as
regiões do Pará, Rio Grande do Norte e Bahia têm baixos índices de
gasto em saúde, refletindo, no caso de Pará e Bahia, a baixa aplicação
percentual dos recursos arrecadados em saúde.
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 845
846 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
Indicador PA MA RN BA MG SP RS
1. Condução do Recente (0) Recente (0) Pós-Noas (1) Recente, de Pioneira/ em Peculiar/ Precoce/
processo de forma descenso (1) voltada para paralisado/
regionalização sistemática (0,5) redes (0,5) retomado (1)
Atualizado (1) Em atualização Sofreu revisão Revisado (1) Precoce e Não atualizado Em processo de
2. PDR (0,5) (1) revisado (1) (0,5) reformulação
(0,5)
Recente (0) Para definição de Atualizada/ Recente (0) Precoce, Antiga/ não Recente (0)
tetos/ em flexível/ atualizada e atualizada (0,5)
3. PPI
reelaboração discutida (1) dinâmica (1)
(0,5)
4. PDI Sim (1) Não (0) Não (0) Não (0) Não (0) Não (0) Não (0)
5. Incentivos à Não (0) Não (0) Não (0) Não (0) No início do Não (0) Sim/ recentes
regionalização processo (0,5) (0,5)
Frágeis (0,5) Em organização; Apenas para Frágeis (0,5) Fortes (1) Em implantação Início de
o
central de leitos procedimentos (0) estruturação (0)
6. Centrais de
independente da ambulatoriais
regulação
central da capital (0,5)
847
Cooperação e Coordenação na Implementação de Políticas Públicas...
848 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
( )
& +r
Yij = b 0 j + b1 j X ij - X ij
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 849
b 0 j = g 00 + u0 j
850 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
Tabela 5
Modelos de Regressão Multinível para o Índice de Regionalização
Modelo 1 Modelo 2
Beta
Beta Beta
Padronizado
Nível 1: Regiões de Saúde
Intercepto 0,5471681 0,5414600 0,5414600
PIB per capita (em milhares de reais) 0,0000118 0,0000101 0,0871028
Percentual de recursos de transferências
governamentais em relação à receita total -0,0069072 – –
Percentual de recursos próprios aplicados em
saúde (EC29) 0,0100109 0,0051562 0,0120290
Despesa total em saúde, por habitante. 0,0014648 0,0009843 0,0799111
Despesa com recursos próprios para a saúde,
por habitante -0,0020771 -0,0009958 -0,0822433
Média mensal de médicos por mil habitantes -0,0167042 0,0442921 0,0263876
Média mensal de enfermeiros por mil
habitantes 0,0423075 – –
Média mensal de demais profissionais de nível
superior por mil habitantes 0,0558851 – –
Média mensal de profissionais administrativos
por mil habitantes 0,0044682 0,0435267 0,0151262
Média mensal de leitos disponíveis no SUS
por mil habitantes -0,0421832 -0,005685 -0,0030784
Nível 2: Estado
Intercepto 4,05 E-09 6,01 E-12 8,08 E-12
Índice de Atuação do Estado 0,5471681 0,0326385 0,0477107
Snijders/Bosker R² nível 1: 0,3945 0,3954 0,3954
Snijders/Bosker R² nível 2: 0,2915 0,3856 0,3856
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa.
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016 851
Para o IAB, os resultados mostram que a variável com maior poder ex-
plicativo foi a despesa com recursos próprios para a saúde, por habi-
tante. A segunda variável mais importante foi a média mensal de mé-
dicos por mil habitantes. O efeito da atuação do estado é quase
inexistente. Esse resultado é plausível, considerando tratar-se do nível
de atenção que é fundamentalmente da responsabilidade dos municí-
pios – embora o estado indiretamente também seja corresponsável
pela atenção à saúde no estado. Além disso, a atenção básica é alicerça-
da na estratégia de saúde da família e tem o médico como elemento
central nas equipes básicas de saúde18.
852 DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 59, no 3, 2016
Variáveis Dependentes
IAB IMC IAC
Variáveis Independentes
Beta Beta Beta
Beta Beta Beta
Padronizado Padronizado Padronizado
Nível 1: Regiões de Saúde
Intercepto 0,5821665 0,5821665 0,569583 0,569583 0,5138026 0,5138026
PIB per capita (em milhares de reais) -0,00000193 -0,0165937 0,0000133 0,1143808 0,0000198 0,1698688
Percentual de recursos próprios aplicados em saúde (EC29) 0,0033686 0,0078586 -0,0147641 -0,0344434 0,0294141 0,0686204
Despesa total em saúde, por habitante -0,000121 -0,0098259 0,0009771 0,0793241 0,0020857 0,1693249
Despesa com recursos próprios para a saúde, por habitante 0,0007007 0,0578712 -0,0014385 -0,1188122 -0,0024049 -0,1986257
Média mensal de médicos por mil habitantes 0,0336904 0,0200714 -0,1234249 -0,0735318 0,2077447 0,1237663
Média mensal de profissionais administrativos por mil habitantes -0,0385368 -0,0133921 0,0648821 0,0225474 0,1126888 0,039161
Média mensal de leitos disponíveis no SUS por mil habitantes -0,0198795 -0,0107647 0,0828615 0,0448693 -0,0899785 -0,0487231
Nível 2: Estado
o
Intercepto 2,02E-12 0,0886902 1,00E-12 1,63E-13 0,0551779 0,055178
Índice de Atuação do Estado 0,0886902 3,77E-12 0,0547875 0,080088 0,0948114 0,1385947
Snijders/Bosker R² nível 1: 0,2885 0,2885 0,1901 0,1901 0,3758 0,3758
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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NOTAS
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10. Para o IMC e o IAC, os valores foram calculados em forma de taxa, considerando o
preconizado por Brasil (2002b): procedimentos tomados por mil e por 100 mil habi-
tantes, respectivamente.
11. Os partos foram excluídos em função do grande volume (16,5% dos procedimentos), o
que poderia sugerir alta resolutividade de regiões com menor capacidade instalada.
12. Com a ressalva de que o estado é a única região de saúde, o que pode esconder dife-
renças entre suas microrregiões.
13. O indicador expressa o percentual da receita alocada na saúde, observando a Emen-
da Constitucional 29/2000 que define a obrigatoriedade de aplicação de 15% das re-
ceitas dos municípios em ações e serviços de saúde.
14. Foram realizadas entrevistas com 16 pessoas integrantes dos governos estaduais e
cerca de 20 dos governos municipais. Foi feita observação direta de algumas reu-
niões dos colegiados regionais.
15. No Rio Grande do Sul, a priorização à regionalização está claramente associada ao
partido que ocupa o governo estadual: foi iniciada com forte ativismo do governo em
2001, abandonada nos governos seguintes e só retomada em 2011, períodos em que o
Partido do Trabalhadores (PT) assumiu o governo.
16. Para definição e construção do modelo, agradecemos a colaboração inestimável de
Jorge Neves, Bruno Guimarães de Melo e Guilherme Rodrigues.
17. A centralização é uma simples transformação dos escores originais, alterando so-
mente a interpretação do valor do intercepto. Essa estratégia tem sido comumente
utilizada em modelos hierárquicos devido à sua simplicidade e por oferecer vanta-
gens estatísticas importantes, particularmente úteis para a compreensão do cálculo
(Paccagnella, 2006). Isso nos permite compreender o intercepto como sendo o resul-
tado esperado quando uma região de saúde se encontra na média em todas as variá-
veis explicativas. Os efeitos marginais das variáveis independentes permanecem os
mesmos.
18. Esse resultado mostra a adequação do “Programa Mais Médicos”, instituído em 2013
para suprir as equipes básicas de saúde de médicos, particularmente nas regiões
mais pobres e distantes, onde a contratação e retenção de médicos é o segundo maior
problema do SUS, depois do financiamento, conforme entrevistas com os gestores.
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RESUMO
Cooperação e Coordenação na Implementação de Políticas Públicas: O Caso
da Saúde
ABSTRACT
Cooperation and Coordination in the Implementation of Social Public
Policies: The Case of Health Policy
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RÉSUMÉ
Coopération et Coordination dans la Mise en œuvre des Politiques
Publiques: Le Cas de la Santé
Cet article compare le degré de mise en œuvre de la régionalisation de
l’assistance médicale au Brésil à partir d’une étude en profondeur d’un
échantillon d’États. On estime que la gestion des politiques sociales dans un
contexte fédératif rend nécessaire de combiner autonomie et coopération des
différentes entités fédérées, posant ainsi le problème classique de l’action
collective. Bien que les règles institutionnelles définies nationalement
favorisent la coopération, elles ne sont pas pour autant en mesure d’expliquer
les variations existantes entre les différentes unités fédérales. Pour interpréter
ces différences, nous avons mis en œuvre un modèle de régression permettant
l’identification de facteurs explicatifs de deux niveaux: au niveau municipal
ont été pris en compte les facteurs structurels (ressources affectant la capacité
de prestation des services de santé), et au niveau de l’État fédéral, on a pris en
considération les actions de l’État en sa qualité de coordinateur et de
promoteur de la coopération. Aussi bien les facteurs structurels que l’action
des États fédérés ont d’importants effets sur la régionalisation, et le soutien
fédéral n’a pas été en mesure de garantir l’adhésion complète des États fédérés,
ni d’éliminer toutes les entraves structurelles.
Mots-clés: régionalisation; santé; fédéralisme; coopération; coordination
RESUMEN
Cooperación y Coordinación en la Implementación de Políticas Públicas:
El Caso de la Salud
El artículo compara el grado de implementación de la regionalización de la
asistencia sanitaria en Brasil a partir del estudio profundo de una muestra de
estados. Se considera que la gestión de políticas sociales en un contexto federa-
tivo implica la necesidad de combinar autonomía y cooperación de los entes fe-
derados, llevando al problema clásico de la acción colectiva. Aunque las reglas
institucionales definidas nacionalmente favorecen la cooperación, no son ca-
paces de explicar las variaciones entres las unidades de la federación. Para in-
terpretar estas diferencias se construyó un modelo regresivo con identifica-
ción de factores explicativos a dos niveles: a nivel municipal se tomaron en
cuenta factores estructurales (recursos que afectan la capacidad de prestación
de servicios sanitarios) y, a segundo nivel, se consideró la actuación del estado
como coordinador e inductor de la cooperación. Tanto los factores estructura-
les como la actuación a nivel estatal tienen efectos importantes sobre la regio-
nalización, y los incentivos federales no fueron capaces de garantizar la adhe-
sión completa de los entes federados y tampoco de eliminar los obstáculos es-
tructurales.
Palabras clave: regionalización; salud; federalismo; cooperación;
coordinación
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