Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sumário
1 - INTRODUÇÃO.............................................................................................4
6 - CODIGO DE ÉTICA.................................................................................35
BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................47
2
FACUMINAS
3
1 – INTRODUÇÃO
Intérprete - Pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua
alvo) o que foi dito.
Intérprete de língua de sinais - Pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais
para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais.
Intérprete - Pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua
alvo) o que foi dito. Intérprete de língua de sinais - Pessoa que interpreta de uma
dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada
língua de sinais.
Linguagem - É utilizada num sentido mais abstrato do que língua, ou seja, refere-se
ao conhecimento interno dos falantes-ouvintes de uma língua. Também pode ser
entendida num sentido mais amplo, ou seja, incluindo qualquer tipo de manifestação
de intenção comunicativa, como por exemplo, a linguagem animal e todas as formas
que o próprio ser humano utiliza para comunicar e expressar ideias e sentimentos
além da expressão linguística (expressões corporais, mímica, gestos, etc).
Línguas de sinais - São línguas que são utilizadas pelas comunidades surdas. As
línguas de sinais apresentam as propriedades específicas das línguas naturais,
4
sendo, portanto, reconhecidas enquanto línguas pela Linguística. As línguas de
sinais são visuais-espaciais captando as experiências visuais das pessoas surdas.
Língua brasileira de sinais - A língua brasileira de sinais é a língua utilizada pelas
comunidades surdas brasileiras. Linguística -É a ciência da linguagem humana.
LIBRAS - É uma das siglas para referir a língua brasileira de sinais: Língua
BRAsileira de Sinais. Esta sigla é difundida pela Federação Nacional de Educação e
Integração de Surdos - FENEIS.
LSB - É outra sigla para referir-se à língua brasileira de sinais: Língua de Sinais
Brasileira. Esta sigla segue os padrões internacionais de denominação das línguas
de sinais.
Língua fonte -É a língua que o intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a
tradução e interpretação para a outra língua (a língua alvo).
5
poder-se-á ter a interpretação da língua de sinais para a língua falada e vice-versa,
da língua falada para a língua de sinais. Vale destacar que o termo tradutor é usado
de forma mais generalizada e inclui o termo interpretação.
Surdos - São as pessoas que se identificam enquanto surdas. Surdo é o sujeito que
apreende o mundo por meio de experiências visuais e tem o direito e a possibilidade
de apropriar-se da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa, de modo a
propiciar seu pleno desenvolvimento e garantir o trânsito em diferentes contextos
sociais e culturais. A identificação dos surdos situa-se culturalmente dentro das
experiências visuais. Entende-se cultura surda como a identidade cultural de um
grupo de surdos que se define enquanto grupo diferente de outros grupos. Essa
cultura é multifacetada, mas apresenta características que são específicas, ela é
visual, ela traduz-se de forma visual. As formas de organizar o pensamento e a
linguagem transcendem as formas ouvintes.
Surdo-cego - Uma definição funcional refere ao surdo-cego como aquele que tem
uma perda substancial da visão e da audição, de tal modo que a combinação das
suas deficiências cause extrema dificuldade na conquista de habilidades
educacionais, vocacionais, de lazer e sociais. A palavra chave nesta definição é
COMUNICAÇÃO. (...) A surdez-cegueira, na sua forma extrema, significa
simplesmente que uma pessoa não pode ver, não pode ouvir, e deve depender total
e completamente do tato para se comunicar com os outros (Dr. Richard Kinney,
Presidente da Escola Hadley para Cegos - USA). Num sentido não-clínico, são
aqueles que utilizam a língua de sinais e/ou o tadoma sendo que suas experiências
se manifestam através das experiências táteis. Pessoas que usam o tadoma
colocam as mãos nos lábios dos falantes ou nas mãos e/ou corpo do sinalizador
para "sentir" e significar a língua.
6
Tradutor - Pessoa que traduz de uma língua para outra. Tecnicamente, tradução
refere-se ao processo envolvendo pelo menos uma língua escrita. Assim, tradutor é
aquele que traduz um texto escrito de uma língua para a outra.
7
2 - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL
8
Deste modo, segundo Jannuzzi (2004), as Santas Casas de Misericórdia também
tiveram uma grande importância na história das pessoas deficientes no Brasil, haja
vista que essas instituições atendiam e acolhiam as pessoas carentes e doentes.
Segundo Silva (2012), a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a partir de 1717,
acolheu crianças abandonadas até a idade de 7 anos. Depois dessa idade as
crianças eram enviadas para seminários, que as preparavam para o futuro. Para
Silva (2012, p. 22), “é possível que algumas crianças com deficiência leve tenham
recebido esse mesmo tratamento, atitude que não era comum na época”.
No dia 12 de setembro de 1854, foi criado por Dom Pedro II o Instituto dos Meninos
Cegos. Segundo Jannuzzi (2004), o instituto tem sua origem ligada ao cego
brasileiro José Álvares de Azevedo, que estudava no Instituto dos Jovens Cegos,
em Paris, fundado no século XVIII por Valentin Haüy. Januzzi (2004, p. 11) relata
que “Azevedo regressara ao Brasil em 1851 e, impressionado com o abandono do
cego entre nós, traduziu e publicou o livro de J. Dondet História do Instituto dos
Meninos Cegos de Paris”.
Para Lourenço e Barani (2011), no ano de 1855 chega ao Brasil o professor surdo
francês Eduard Huet (1822-1882), por intermédio de Dom Pedro II, com o objetivo
de criar uma escola de surdos no país. Logo em seguida, no dia 26 de setembro de
1857, criou-se por vontade de Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, o Instituto Pioneiro
na Educação dos Surdos, hoje denominado de Instituto Nacional de Educação de
Surdos – INES. Segundo Lourenço e Barani (2011), esse espaço funcionava como
um colégio interno, onde as crianças e os adolescentes ficavam durante todo o ano
em constante aprendizado com as oficinas profissionalizantes e a disciplina dos
conteúdos.
9
Silva (2012) destaca que embora implicitamente, o direito das pessoas com
deficiência já estava na primeira constituição do Brasil, de 1854. A partir de 1857, o
Brasil teve um grande crescimento econômico, de estabilização do poder imperial, e
uma forte influência de ideias liberais advindas da Europa, principalmente da França
e EUA. A criação do Imperial Instituto de Surdos-mudos foi um importante marco na
história da educação dos surdos, haja vista que se constituiu de uma escola
preocupada com o ensino literário e profissionalizante de meninos surdos na faixa
etária entre 7 e 14 anos (SILVA, 2012).
10
(2012), o Imperial Instituto de Surdos-mudos era mantido pelo poder central, cujas
influências de sua criação se deram tanto do âmbito geral do próprio contexto, como
também do meio político.
Além disso, essa escola foi a primeira instituição séria do Brasil que amparava as
pessoas com deficiência, mesmo que o atendimento ainda era precário, havia por
parte do instituto a abertura para discussões sobre assuntos relacionados à
educação de pessoas com deficiência no Primeiro Congresso de Instrução Pública,
em 1883 (JANNUZZI, 2004). Além disso, o instituto era uma referência para a
comunidade surda e para os professores surdos da época. Segundo Mori e Sander
(2015), os professores e estudantes do instituto utilizavam a língua de sinais
francesa, trazida pelo pedagogo Huet, misturando com a língua existente no país.
Dessa mistura surgiu, mais tarde, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), usada até
hoje. Vale lembrar que assim como as línguas orais, as línguas de sinais também se
constituem a partir de outras já existentes.
Neste sentido, foi no contexto da década de 1980 até os anos 1990 que floresceu,
no Brasil, o uso da língua de sinais, mais precisamente a filosofia educacional,
denominada Comunicação Total (MORI; SANDER, 2015). Como já abordado
anteriormente, essa filosofia educacional originou-se nos EUA, com o objetivo de
aperfeiçoar a educação dos surdos por meio de todas as formas de comunicação
possíveis: a fala, os sinais, a dança, a mímica, o teatro etc. As escolas especiais
iniciaram lentamente o uso de sinais, já que elas estavam enraizadas no oralismo.
Aos surdos se deu voz e os professores ouvintes aprenderam os sinais com seus
próprios alunos. Um clamor se levantou na educação especial para a abertura de
novos caminhos, caminhos estes mais democráticos, mais naturais com o uso dos
sinais. A língua de sinais no Brasil ainda não era oficial e não era ainda entendida
como uma língua (MORI; SANDER, 2015, p. 10).
11
estudos sobre o bilinguismo no Brasil são recentes, poucos países aderiram a esse
sistema.
12
3 - HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E
INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS
13
reconhecimento da língua de sinais em cada país. À medida em que a língua de
sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos
passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim,
consequentemente, as instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade
através do profissional intérprete de língua de sinais. A seguir serão apresentados
os fatos históricos relevantes sobre a constituição do profissional intérprete de
língua de sinais na Suécia, nos Estados Unidos e no Brasil.
SUÉCIA
e) Em 1981, foi instituído que cada conselho municipal deveria ter uma unidade com
intérpretes.
Estados Unidos
a) Em 1815, Thomas Gallaudet era intérprete de Laurent Clerc (surdo francês que
estava nos EUA para promover a educação de surdos).
14
b) Ao longo dos anos, pessoas intermediavam a comunicação para surdos
(normalmente vizinhos, amigos, filhos, religiosos) como voluntários utilizando uma
comunicação muito restrita.
c) Em 1964, foi fundada uma organização nacional de intérpretes para surdos (atual
RID), estabelecendo alguns requisitos para a atuação do intérprete.
Brasil
e) A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos
escritórios regionais da FENEIS. Em 2002, a FENEIS sedia escritórios em São
Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz
no Rio de Janeiro.
15
intérpretes através de uma lista de discussão via email. Esta lista é aberta para
todos os intérpretes interessados e pode ser acessada através da página dos
intérpretes.
g) No dia 24 de abril de 2002, foi homologada a lei federal que reconhece a língua
brasileira de sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras. Tal lei
representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do
profissional intérprete da língua de sinais no Brasil, bem como, a abertura de várias
oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. A
seguir consta a transcrição desta lei:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e
difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva
e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
16
Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais,
municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação
de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e
superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante
dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de
2002; 181° da Independência e 114º 'da República.
Esta lei representa uma conquista inigualável em todo o processo dos movimentos
sociais surdos e tem consequências extremamente favoráveis para o
reconhecimento do profissional intérprete de língua de sinais no Brasil. Além desta
lei, vale destacar as seguintes leis que respaldam a atuação do intérprete de língua
de sinais direta ou indiretamente:
17
4 - A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS
18
(RODRIGUERO; BORGHI, 2000). Não é por acaso que os títulos dos filmes que
trazem a biografia de Hellen Keller foram traduzidos para o português colocando os
holofotes sobre o nome da professora dela. É evidente que Hellen precisou se
esforçar muito para aprender, mas se ela tivesse tido professores que achassem
que ela não tinha capacidade para tanto, dificilmente ela teria forças sozinhas para
aprender a falar e fazer tantas conquistas na esfera acadêmica.
Art. 2º - Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e
difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva
e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
O Brasil ainda era uma colônia portuguesa governada pelo imperador Pedro II
quando a Língua de Sinais para surdos aportou no país, mais precisamente no Rio
de Janeiro. Em 1856, o conde francês Ernest Huet desembarcou na capital
fluminense com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material trazido pelo
conde, que era surdo, deu origem à Língua Brasileira de Sinais (Libras). O primeiro
órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos e mudos surgiu em 1857. Foi
do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto Nacional de
Educação de Surdos (INES), que saíram os principais divulgadores da Libras. A
iconografia dos sinais, ou seja, a criação dos símbolos, só foi apresentada em 1873,
pelo aluno surdo Flausino José da Gama. Ela é o resultado da mistura da Língua de
Sinais Francesa com a Língua de Sinais Brasileira antiga, já usada pelos surdos das
várias regiões do Brasil.
A Declaração dos Direitos Humanos, aprovada em 1948 pela Assembleia Geral das
Nações Unidas, relata o princípio da não discriminação, dando a liberdade de
proclamar o direito de toda pessoa à Educação. Nesse contexto, a educação no
19
Brasil abre um leque de encaminhamentos para assegurar a todos esse direito. As
constituições brasileiras de 1967 e 1969 levaram também em consideração os
princípios da declaração Reily (2004, p. 114):
20
5 - O INTÉRPRETE DE LIBRAS
21
Comunicação entre alunos surdos, intérprete e professores na escola
Fonte: Autores (2017).
22
informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo
da interpretação é passar o que realmente foi dito).
Esses são alguns requisitos ligados ao intérprete; por essa razão, o professor, ao
questionar, precisa estar ciente de tais interpostos interpretativos, ou seja, se o que
ele está explicitando está sendo realmente transmitido ao aluno surdo (Barbosa-
Junior, 2011). O intérprete deve ser competente para exercer sua função sem que
haja desconfiança quanto ao profissionalismo. Segundo Lacerda (2002, p. 123),
23
A atuação do intérprete é de suma importância, pois sem a sua presença se torna
impossível para o(a) aluno(a) surdo(a) adquirir conhecimentos e absorver conteúdos
ministrados na aula pelo professor ouvinte. Assim, afirmam Lacerda et al. (2011, p.
5), “o objetivo principal não é apenas traduzir, mas buscar, juntamente com o
professor, meios diferenciados de ensino para que o aluno surdo possa ser
favorecido por uma aprendizagem especificamente elaborada e pensada, e,
consequentemente, eficiente”.
Sendo assim, cada profissional deve reconhecer seu papel nesse processo de
inclusão escolar, pois tem uma função diferenciada do(a) professor(a) e não deve
de maneira alguma ocupar o lugar do(a) professor(a), ou seja, jamais substituí-lo(a)
na sua ausência (Lacerda, 2002; Quadros, 2004). A função do professor(a) não é
tão somente ensinar, mas a do intérprete é apenas interpretar. Lacerda et al. (2011,
p.18) afirmam que
É necessário que haja uma mudança de postura por parte do professor, que
também tem o dever, como educador, de auxiliar o intérprete da Língua de Sinais
em suas práticas. Se o professor não assumir práticas que favoreçam a atuação do
intérprete da Língua de Sinais, consequentemente, a compreensão do aluno surdo
ficará comprometida.
Ainda que, por vezes, passe como invisível e isolado, o intérprete precisa ser
vigilante, manter-se firme, como facilitador e coadjuvante. Interpretar é tomar
decisão, incutir informações não por sua quantidade volumétrica, mas de compactar
e extrair o máximo de significado, mediante a limitação de tempo e processamento
das falas no discurso (Lacerda, 2002; Gurgel, 2010; Marcon, 2012; Festa, 2014).
24
Apesar dos constantes desafios encarados pela comunidade surda e pelos falantes
da Libras, o Congresso Nacional decretou e sancionou a Lei nº 12.319, de 1º de
setembro de 2010, regulamentando a profissão de tradutor e intérprete da Libras.
25
O que envolve o ato de Interpretar?
26
línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa
ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos
processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. 0
profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação
(por exemplo, a área da educação).
27
d) os surdos não têm acesso às discussões e informações veiculadas na língua
falada sendo, portanto, excluído da interação social, cultural e política sem direito ao
exercício de sua cidadania;
e) os surdos não se fazem "ouvir";
f) os ouvintes que não dominam a língua de sinais não conseguem se comunicar
com os surdos.
28
sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. 0 professor tem o
papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no
processo interativo social, cultural e linguístico. 0 intérpretes, por outro lado, é o
mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida
do possível, de interferir no processo comunicativo.
Não é verdade que dominar a língua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer
a profissão de intérprete de língua de sinais. 0 intérpretes de língua de sinais é um
profissional que deve ter qualificação específica para atuar como intérprete. Muitas
pessoas que dominam a língua de sinais não querem e nem almejam atuar como
intérpretes de língua de sinais. Também, há muitas pessoas que são fluentes na
língua de sinais, mas não têm habilidade para serem intérpretes.
Não é verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir
que o mesmo seja considerado intérprete de língua de sinais. Normalmente os filhos
de pais surdos intermediam as relações entre os seus pais e as outras pessoas,
mas desconhecem técnicas, estratégias e processos de tradução e interpretação,
pois não possuem qualificação específica para isso. Os filhos fazem isso por serem
filhos e não por serem intérpretes de língua de sinais. Alguns filhos de pais surdos
se dedicam a profissão de intérprete e possuem a vantagem de ser nativos em
ambas as línguas. Isso, no entanto, não garante que sejam bons profissionais
intérpretes. 0 que garante a alguém ser um bom profissional intérprete é, além do
domínio das duas línguas envolvidas nas interações, o profissionalismo, ou seja,
busca de qualificação permanente e observância do código de ética. Os filhos de
pais surdos que atuam como intérprete têm a possibilidade de discutir sobre a sua
atuação enquanto profissional intérprete na associação internacional de filhos de
pais surdos (www.coda-international.org).
29
Todavia, teoricamente a língua de sinais apresenta aspectos comuns em todo o
mundo. O que muda é a forma local com que ela é gesticulada. Para você entender
melhor, lembre-se de que aqui no Brasil há regionalismos mesmo na língua
portuguesa falada. Há gírias e expressões no Rio Grande do Sul que são totalmente
diferentes das que circulam nas conversas do sertão nordestino. Essa é uma forma
para entender melhor, porque as línguas de sinais são entendidas de formas
diferentes pelo mundo afora.
Além do mais, é necessário lembrar que os idiomas falados e a Libras são línguas
vivas! Portanto, o significado das palavras vai mudando de acordo com o tempo. Os
significados e sentidos das palavras não são estáticos! Passam a ser formações
dinâmicas que se transformam à medida que as pessoas se desenvolvem e se
modificam, inclusive com as diversificadas formas de como o pensamento funciona
(VYGOTSKY, 1989).
6 - CÓDIGO DE ÉTICA
30
O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua
atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete
estabelece com as partes envolvidas na interação. 0 intérpretes está para
intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções
conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a
responsabilidade pela veracidade e fidelidade das informações. Assim, ética deve
estar na essência desse profissional. A seguir é descrito o código de ética que é
parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes
(FENEIS).
1°. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente,
confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não
poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele;
4°. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente
em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais,
quando necessário, especialmente em palestras técnicas;
5°. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços,
mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si
mesmo, durante o exercício da função.
31
6°. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a
providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são
possíveis;
7°. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela
de cada estado, aprovada pela FENEIS.
8°. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais
ou outras em seu favor;
Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo
sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm
32
surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a
comunicação com o surdo.
33
O profissional intérprete é aquele que interpreta a mensagem de forma "precisa e
apropriada" de uma língua para permitir que a comunicação aconteça entre pessoas
que não usam a mesma língua, isto é, o profissional intérprete intermedia a
interação comunicação.
Uma visão que enfatiza o discurso, que entende que as pessoas usam a linguagem
para fazer coisas e que sempre acontece com objetivos específicos através de
convenções sociais, linguísticas, interativas e estilos conversacionais, deve ser
considerada.
34
A perspectiva da interpretação é de uma atividade interativa dinâmica. As questões
neste sentido são: Como todos os participantes estão elaborando o sentido sobre o
que estão falando? 0 que eles estão fazendo ao falar? Esta interação é uma
atividade em que os participantes determinam a cada minuto o significado de
alguma coisa que é dita. Esta atividade envolve um ato interpretativo baseado na
experiência dos participantes em situações similares bem como o conhecimento
gramatical e lexical.
35
8 - CONTRASTES ENTRE A LÍNGUA BRASILEIRA DE
SINAIS E A LÍNGUA PORTUGUESA
36
b) que se duas línguas compartilham muitas similaridades tipológicas, estas
poderão servir de base para as primeiras inferências quanto ao significado das
formas em língua estrangeira;
(2) A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das comunidades surdas
mediante as interações culturais surdas, enquanto a língua portuguesa constitui-se
baseada nos sons.
(7) A língua de sinais não tem marcação de gênero, enquanto que na língua
portuguesa o gênero é marcado a ponto de ser redundante.
37
(8) A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais. Esse fator
não é considerado como relevante na língua portuguesa, apesar de poder ser
substituído pela prosódia.
(9) Coisas que são ditas na língua de sinais não são ditas usando o mesmo tipo de
construção gramatical na língua portuguesa. Assim, tem vezes que uma grande
frase é necessária para dizer poucas palavras em uma ou outra língua.
Tem sido constatado ao longo do tempo que muitos intérpretes não são
compreendidos no Brasil. Nos últimos congressos, em que surdos brasileiros
estavam presentes, a reclamação pela falta de entendimento da interpretação da
língua portuguesa para a língua brasileira de sinais foi declarada diante de todos os
participantes. E o que acontece na interpretação da língua brasileira de sinais para a
língua portuguesa? Por que os intérpretes, normalmente não gostam de fazer essa
versão?
Muitos surdos que apresentam trabalhos têm o seu intérprete particular e não
aceitam outros profissionais por não confiarem em seu trabalho. Um profissional
sem credibilidade certamente não será bem-sucedido.
38
alertar as pessoas que estão exercendo a função de intérpretes. É necessário
verificar as falhas no processo e buscar qualificação permanente.
39
0 profissional intérprete de língua de sinais será um profissional altamente
qualificado e prestará serviços observando os preceitos éticos e suas competências
nas áreas em que atuará como intérprete.
40
BIBLIOGRAFIA
BRASEL, B. The effects of fatigue on the Competence of interpreters for the deaf. In
Selected reading in the Integration of Deaf Students at CSUN. Ed. H. Murphy.
Northridge. CA: California State University. 1976. CHOMSKY, N. Bare Phrase
Structure. In WEBELHUTH, G. Government and Binding and the Minimalist
Program. Blackwell. Oxford & Cambridge USA. 1995. 383-440. COKELY, D.
Interpretation: A Socioiinguistic Model. Linstok Press. 1992a. COKELY, D. The
effects of lag time on interpreter errors. In Sign Language Interpreters and
Interpreting. Linstok Press. 1992b. ELLIS, Rod. Second Language Acquisition and
Language Pedagogy. Multilingual Matters Ltd. Clevedon. Philadelphia. Adelaide.
1993. EMMOREY, k. Repetition Priming with Aspect and Agreement Morphology in
American Sign Language. Journal of Psycholinguistic Sign Language, v.20. n.5. p.
365-388. 1991. FELIPE, T. Por uma Tipologia dos Verbos na LSCB. Anais do VII
Encontro Nacional da ANPOLL. Goiânia, [s.n.] 1993. p. 726-743. FERNANDES, E.
Problemas Lingüísticos e Cognitivos do Surdo. AGIR. Rio de Janeiro. 1990.
FERREIRA BRITO, L. Por uma gramática das línguas de sinais. Tempo Brasileiro.
UFRJ. Rio de Janeiro. 1995. ________ Integração Social & Educação de Surdos.
Babel Editora. RJ. 1993. ________ Comparação de Aspectos Lingüísticos da LSCB
41
e do português. Conferência apresentada no II Encontro Nacional de Pais e Amigos
de Surdos. Porto Alegre. 27 a 29 de novembro de 1986.
42