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Técnicas de Transmissão

4 Técnicas de transmissão

Figura A.4.1 Modelo de referência

4.1 Conceitos................................................................................................... 150


4.2 Meios de transmissão ............................................................................... 160
4.3 Parâmetros de transmissão ........................................................................ 172
4.4 Uso eficiente do meio de transmissão ...................................................... 194

Ericsson Telecomunicações 149


Entendendo Telecomunicações 1

4.1 Conceitos
Para a transferência da informação, em qualquer dos modos de transferência descritos
no Capítulo 2, necessitamos de facilidades de transporte, dimensionadas para o fluxo
máximo de informação, entre um usuário e um nó de rede ou entre os nós de rede.
Essas facilidades de transporte empregam uma variedade do que tradicionalmente
chamamos de técnicas de transmissão.
A técnica original foi otimizada para transportar a voz na sua forma analógica básica.
Hoje, entretanto, o desenvolvimento está se movendo na direção de sistemas de
transporte inteiramente digitais, capaz de satisfazer os diferentes requisitos impostos
por voz, dados e vídeo.
A Figura A.4.2 ilustra a mudança da carga de transporte, de analógica para digital.

Figura A.4.2 Transporte da informação

A gradual digitalização da via de transporte está exemplificada na Figura A.4.3.


O termo rede de transporte é usado para denotar redes modernas e controláveis, para
transmissão/transporte. Essas redes são tratadas no Capítulo 5. A seguir, discutiremos
a própria técnica de transmissão, com foco em:

· conceitos;
· diferentes meios para a transferência de informação;
· parâmetros que definem qualidade;
· métodos para tornar confiável e segura a transferência de informação; e
· métodos para tornar eficiente a transferência de informação.

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Figura A.4.3 Rede existente digitalizada em etapas, chegando a digitalização mais


próxima do assinante

4.1.1 Vínculos com outros capítulos


Uma vez que tele significa “a distância”, a transmissão é indispensável em uma rede
de telecomunicações. Portanto, é lógico que este assunto seja abordado em vários
outros capítulos do Volume 1:
Capítulo 1. Seção 1.5. Os requisitos de rede e de equipamentos tratam de três
parâmetros: largura de faixa, taxa de erros de bits e atraso. A transmissão tem um
papel muito importante em cada um desses parâmetros.
Capítulo 2. Seção 2.6. O padrão básico trata da transmissão analógica e digital, com
referência às recomendações da ITU-T para a codificação de voz e de vídeo.
Capítulo 2. Seção 2.8. A codificação de vídeo e a transmissão de vídeo tratam da
largura de faixa, atraso e variações de atraso.
Capítulo 3. Subseção 3.1.2. Os requisitos para a comutação tratam de requisitos de
largura de faixa para diferentes telesserviços.
Capítulo 3. Subseção 3.3.4. As conexões de assinante apresentam uma imagem
preliminar da rede de acesso entre o terminal e a central local, e são uma boa base
para estudar redes de acesso e diferentes meios de transmissão.

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Capítulo 8. Seção 8.5. Manejo da rede – As redes de transporte estão estreitamente


associadas com o Capítulo 5 e com a Seção 4.3 deste capítulo.
Capítulo 10. O plano de transmissão será tratado na Subseção 10.8.5. Ainda que
cubra cada elemento de rede que trata de tráfego, incluindo terminais e centrais, sua
conexão com os “parâmetros de transmissão”, deste capítulo, é particularmente forte.
Capítulo 10. Os desenvolvimentos na área de fibra óptica e a visão de transmissão
dos planejadores de redes, especialmente com relação à disponibilidade e à arquitetura,
são tratados sob diferentes títulos no Capítulo 10.
Os requisitos que a transmissão deve satisfazer são impostos pelos serviços de
diferentes redes portadoras. Acima de tudo, esses requisitos se referem à qualidade,
preço e disponibilidade. Por isso, os parâmetros de transmissão – e os métodos
eficientes de usar diferentes meios de transmissão – encontram posição proeminente
no presente capítulo. O requisito de aumento da disponibilidade como resultado da
diversidade de tráfego será tratado no Capítulo 5.

4.1.2 Conceitos básicos


Muitos conceitos de transmissão devem ser entendidos, antes que possamos penetrar
mais profundamente em outras áreas:

· largura de faixa (analógica e digital);


· meios de transmissão;
· portadoras;
· modulação;
· transmissão de faixa básica;
· dois fios, quatro fios e híbridas;
· simplex – duplex; transmissão assimétrica;
· amplificação – regeneração;
· codificação de linha; e
· multiplexação.

Largura de faixa
A faixa de freqüências utilizável em uma conexão é chamada de largura de faixa.
Para a telefonia, a ITU-T recomenda conexões que possam tratar as freqüências entre
300 e 3.400 Hz, isto é, uma largura de faixa de 3,1 kHz. Normalmente, o ouvido
detecta sons com as freqüências no intervalo de 15 até (aproximadamente) 15.000

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Hz, mas medições mostram que a faixa de freqüências de 300 – 3.400 Hz é


perfeitamente adequada para que a fala seja ouvida claramente e para que possamos
reconhecer a voz da pessoa que está falando.

Figura A.4.4 A largura de faixa 300 – 3.400 Hz proporciona audibilidade adequada

Por essa razão, o microfone do nosso telefone deve reagir a freqüências na faixa de
300 – 3.400 Hz e transformá-las em tensões elétricas com uma amplitude aceitável
(potência) em toda a faixa de freqüências. Os mesmos requisitos de largura de faixa
se aplicam ao alto-falante do nosso telefone. Veja a Figura A.4.4.
Essa largura de faixa analógica, pode-se dizer (um tanto incongruentemente), tem
uma “largura de faixa” digital correspondente:

analógica digital

PSTN 300 – 3.400 Hz 64 kbit/s (após a codificação PCM)


GSM 300 – 3.400 Hz 13 kbit/s (após codificação especial dentro e entre
centrais, a velocidade de bits será convertida em
64 kbit/s)

Meios de transmissão
Para a transmissão, são usados diferentes meios. Os três mais importantes são:

· cobre, usado em dois tipos principais de cabos: cabo de pares e cabo coaxial;
· fibra de vidro, usado em cabo de fibra óptica; e
· ondas de rádio, usadas em sistemas ponto a ponto terrestre, ou em sistemas de
cobertura de área (tais como telefonia móvel) e para a comunicação ponto a ponto
ou de cobertura de área via satélite.

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Em princípio, todos os meios de transmissão podem ser usados para a comunicação


ponto a ponto, mas somente a tecnologia de rádio pode tratar a comunicação com
terminais móveis.
Os sistemas ópticos realçam as vantagens de capacidade, qualidade e economia. Com
relação à economia, os sistemas baseados no cobre só se mantêm no último trecho –
o que liga os assinantes residenciais – em que a necessidade de capacidade é pequena.
O cobre ainda é usado em larga escala entre os assinantes e a central, principalmente
devido às práticas do passado. Pela mesma razão, os cabos coaxiais ainda são usados
entre centrais – embora nos anos recentes seu principal uso tem sido para a TV a
cabo.

Portadoras
As portadoras são exclusivamente analógicas por natureza, isto é, transportam ondas
de mesmo tipo: ondas de luz ou ondas eletromagnéticas. Num sentido puramente
físico, a luz também é feita de ondas eletromagnéticas, mas – devido às características
especiais da luz – vemos fibras ópticas como portadoras de seu próprio tipo de sinal.
Por outro lado, a informação a ser transportada, em muitos casos, é digital, pelo menos
o sinal de saída de codificadores de voz, de codificadores de vídeo e de computadores.
O sistema GSM22 é representativo da combinação da informação digital sobre uma
portadora analógica (rádio), na medida em que a codificação de voz está situada no
telefone móvel. (Na telefonia fixa usual, o codificador de voz é normalmente localizado
na central local, ou no nó de acesso.)

Modulação e transmissão em faixa básica


Ao permitir que a informação transferida condicione a portadora de alguma forma –
por exemplo, ligando e desligando as ondas de luz – a informação pode ser detectada
por uma central receptora ou um terminal. Este condicionamento da portadora é
chamado de modulação.
A técnica original de transmissão na telefonia, sobre pares de cobre (transmissão em
faixa básica), ainda é a técnica mais usada entre um telefone fixo e o nó de comutação.
Essa técnica aplica o princípio da informação analógica sem portadora, entre um
telefone e o codificador de voz.

22
NR - GSM (Global System for Mobile Communications), um dos padrões para telefonia móvel
celular digital.

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Dois fios, quatro fios e híbridas


A transmissão analógica da telefonia na rede de acesso é especial também em outro
aspecto: as duas direções da transmissão da voz “encontram-se” no mesmo par de
cabo. Essa técnica, chamada de transmissão a dois fios, tem a vantagem de tornar a
rede mais barata, mas, ao mesmo tempo, requer que sejam usadas híbridas na interface
entre as redes de acesso e interurbana, bem como no aparelho telefônico. Nos trechos
a quatro fios, a voz é transportada separadamente em cada direção. As híbridas (o
ponto de transformação entre os trechos a dois fios e a quatro fios) podem causar
certos problemas relacionados com a qualidade – veja “Eco” na Subseção 4.3.1. (Veja
também “Tratamento de problemas relacionados com o eco” na Subseção 4.3.3, que
descreve o fenômeno na transmissão digital.)

Figura A.4.5 Seções a dois fios e a quatro fios, e híbridas

Simplex – duplex; transmissão assimétrica


Na difusão de TV, basta enviar a informação em uma direção – uma técnica chamada
simplex. Duplex significa que a informação é enviada simultaneamente em ambas as
direções entre dois pontos. A técnica de enviar a informação de vídeo com uma faixa
larga em uma direção, e muito menos informações (tais como sinais de controle) na
direção oposta, é chamada de transmissão assimétrica. Essa técnica foi considerada
em primeiro plano para o vídeo a pedido e para os serviços de informação de alta
qualidade, tais como a Internet de faixa larga.

Amplificação – regeneração
Outros termos no emaranhado de conceitos se aplicam à qualidade de transmissão.
Devido ao fenômeno da atenuação, devem ser usados equipamentos especiais entre
os nós, quando a distância exceder certos valores (que são diferentes para a transmissão
baseada no cobre, no sistema de fibra óptica e no sistema de enlace de rádio). Os
pontos em que encontramos tais equipamentos são chamados de repetidores

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intermediários. Os repetidores podem ser usados simplesmente para amplificação


(quando a portadora analógica se tornar muito fraca), ou para uma combinação de
amplificação e regeneração, quando os sinais digitais da faixa básica precisarem ser
“regenerados”.

Figura A.4.6 Amplificação

Regeneração significa que os sinais distorcidos da informação são lidos e interpretados,


recriados e amplificados à sua aparência original antes de serem enviados. Ruídos e
outras perturbações desaparecem inteiramente. Esse não é o caso da transmissão
analógica, na qual as perturbações também são amplificadas.

Figura A.4.7 Regeneração

Codificação de linha
A fim de regenerar os sinais digitais, o regenerador deve receber a informação de uma
referência de tempo, para que os sinais de entrada possam ser lidos nos intervalos
corretos. Por essa razão, são usados codificadores especiais de linha que evitam as
longas seqüências de “zeros” (com nenhuma informação de tempo).

Multiplexação
A implementação e manutenção de enlaces de transmissão, em redes de
telecomunicações, é um empreendimento dispendioso para as operadoras de rede.
Muito pode ser ganho, transmitindo várias chamadas na mesma conexão física (tal
como num par de fios). A técnica usada para os sistemas de canais múltiplos, tanto
em redes analógicas quanto em redes digitais, é chamada de multiplexação. Pode ser
dividida em três grupos:

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· multiplexação por divisão de freqüência (FDM);


· multiplexação por divisão de tempo (TDM); e
· multiplexação por divisão de comprimento de onda (WDM).

Uma vez que a multiplexação de comprimento de onda é usada para transmissão por
fibra óptica, ela será tratada na Subseção 4.2.3.

Multiplexação por divisão de freqüência


A multiplexação por divisão de freqüência (FDM) é usada para transmitir informações
analógicas. A multiplexação é comparável à técnica que torna possível sintonizar
uma estação de rádio desejada, em um rádio. A cada transmissor é atribuída uma
freqüência específica, à qual a informação é superposta e enviada ao ouvinte. Ao
girar o seletor de freqüências, podemos facilmente mudar para outro transmissor.
A Figura A.4.8 mostra o princípio da multiplexação por divisão de freqüência, em
um enlace analógico de transmissão. Três diferentes freqüências portadoras, uma para
cada canal de voz, usam o mesmo par de fios. A freqüência portadora é modulada
pela fala, e a demodulação correspondente acontece então no receptor. Os sistemas
FDM estão disponíveis para 2 até 10.800 canais de voz. Hoje, nenhum novo sistema
FDM é instalado.

Figura A.4.8 Multiplexação por divisão de freqüências, três canais

Multiplexação por divisão de tempo


Na redes digitais aplica-se uma técnica inteiramente diferente. O princípio da
multiplexação por divisão de tempo (TDM) está ilustrado na Figura A.4.9. São
mostrados três canais digitais.

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Figura A.4.9 Multiplexação por divisão de tempo, três canais

Os três canais são multiplexados por tempo, permitindo o transporte pelo mesmo
enlace de transmissão. Os retângulos na figura representam ou bits ou octetos. Um
octeto, também referido como um byte, é um grupo de oito bits. Cada retângulo sobre
o enlace comum só pode usar um terço do tempo do retângulo T original.
Conseqüentemente, o número de bits por segundo (a capacidade) do enlace
compartilhado é três vezes o de cada canal original.
A multiplexação é também chamada de intercalação. Essa expressão é usada para
denotar a multiplexação por bit e por octeto – intercalação de bits e intercalação de
octetos respectivamente.
Prosseguindo com esse princípio, podemos criar uma velocidade de bits seis vezes
maior do que a original, multiplexando dois enlaces TDM do nosso exemplo. Isto é
chamado de multiplexação para uma ordem superior.
A hierarquia digital plesiócrona (PDH) e a hierarquia digital síncrona (SDH) são duas
hierarquias de multiplexação padronizadas, baseadas no princípio da TDM. A PDH é
intercalada por bits e a SDH é intercalada por octetos. PDH e SDH são tratadas com
maiores detalhes na Subseção 4.4.2.

Resumo
Anteriormente, descrevemos alguns conceitos e métodos principais usados na
transmissão. A Figura A.4.10 ilustra os conceitos e os métodos mais importantes na
seqüência em que normalmente são usados.

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Figura A.4.10 Métodos de transmissão – um resumo

Todos os métodos, necessariamente, não são para todos os tipos de comunicação. Por
exemplo, em termos de transmissão, uma chamada telefônica local pode ser ilustrada
como mostrada na Figura A.4.11.

Figura A.4.11 Transmissão de uma chamada telefônica local

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4.2 Meios de transmissão


Na infância da telefonia, os fios de metal eram o único meio disponível para interligar
os assinantes na rede. Hoje, a situação é mais favorável. O cabo de fibra óptica e os
diferentes tipos de enlaces de rádio possuem capacidade de transmissão muito alta e
são extensivamente usados.
Muitas redes de telecomunicações consistem em uma mistura de diferentes meios de
transmissão. Em princípio todos podem ser usados para transmitir tanto informações
analógicas, quanto informações digitais. Entretanto, as operadoras não selecionam o
meio de transmissão somente com base em considerações técnicas – os aspectos
econômicos também têm bastante peso. Os investimentos anteriores na rede e a vida
útil econômica do equipamento também devem ser levados em consideração.
Nesta seção discutiremos os seguintes meios de transmissão:

· cobre;
· ondas de rádio; e
· fibra óptica.

4.2.1 Cobre
Os cabos metálicos (na maioria dos casos cobre) constituem ainda uma grande parte
da rede de telecomunicações, especificamente, nas partes da rede que conectam os
assinantes. Existem dois tipos principais de cabos metálicos: cabo de pares e cabo
coaxial. Além do mais, fio nu (fio de metal sem isolamento) também é usado em
áreas rurais. O cabo de pares e o cabo coaxial são usados tanto para transmissão
analógica, quanto para transmissão digital; o fio nu, como regra geral, é usado somente
para conexões analógicas de 3,1 kHz.

Cabo de pares
A forma mais simples de cabo de pares é encontrada em nossas residências. Esse
cabo possui somente dois condutores que conectam o telefone à tomada na parede.
As operadoras, entretanto, têm outros cabos a escolher em seus armazéns: cabos de 2,
10, 50, 100 e 500 pares, só para mencionar alguns exemplos. O cabo de pares é usado
principalmente na rede de acesso entre os assinantes e a central, e – até certo ponto –
na rede de troncos entre as centrais.
O cabo de pares foi desenvolvido originalmente para conexões analógicas. Uma grande
parte da rede de cabos existente ainda consiste em cabos com isolamento de papel. O
plástico é melhor material isolante porque é insensível à umidade e possui menor

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atenuação nas freqüências mais altas, razão pela qual os cabos de pares fabricados
mais recentemente são isolados com plástico. A maior parte da rede de cabo de pares
é enterrada no solo.

Figura A.4.12 Seção transversal de um cabo de pares

Normalmente o material condutor é o cobre e os fios condutores de cobre são fabricados


numa quantidade de diâmetros padronizados – os diâmetros mais comuns são de 0,4;
0,5; 0,6 e 0,7 mm. Os fios do cabo são torcidos juntos para formar pares (dois
condutores) ou quadras (quatro condutores). A atenuação por quilômetro depende do
diâmetro do fio e da freqüência.

Figura A.4.13 Cabo de pares e dois tipos de quadra

O núcleo do cabo é muitas vezes coberto com uma ou mais camadas de fita de papel
ou de plástico, a fim de manter juntos os pares do cabo e protegê-lo. A capa externa
do cabo pode ser feita de plástico ou de metal (chumbo ou alumínio) ou de uma
combinação de plástico e lâmina metálica. Com uma escolha adequada de material, o
revestimento também pode servir como uma blindagem contra as interferências

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elétricas e magnéticas. Para proteger o cabo, ainda mais contra danos mecânicos, o
revestimento é armado com fios de aço ou com uma fita ao redor do revestimento.

Cabo coaxial
O cabo coaxial é usado em sistemas de canais múltiplos analógicos (FDM) e digitais
(TDM) – nas redes locais de dados, nas redes de TV a cabo e como um alimentador
para antenas de rádio. O cabo consiste em um ou mais tubos coaxiais, cada qual
possuindo um condutor interno central, envolvido por um condutor externo em forma
de tubo. O tubo coaxial possui uma capacidade de transmissão muito alta (10.800
canais de voz, em sistemas de canais múltiplos analógicos). Na rede de troncos, os
tubos são usados em pares, um em cada direção de transmissão. Hoje, o cabo coaxial
não é mais instalado na parte de troncos da rede de telecomunicações. Ele está sendo
substituído por cabo de fibra óptica. Não obstante – à parte de estar sendo usado para
a TV a cabo – o cabo coaxial poderá vir a ser usado na parte de acesso em futuras
redes de faixa larga. Veja o Capítulo 5, Seção 5.14.

Figura A.4.14 Cabo coaxial

O condutor externo em forma de tubo proporciona um efeito de blindagem; não há


interferência mútua entre os sinais em tubos adjacentes.
Normalmente, o condutor interno consiste em um condutor de cobre, redondo e sólido.
O condutor externo é feito de lâmina de cobre que, em certos tipos de cabo, é soldada
formando um tubo totalmente vedado. O melhor isolamento entre os condutores é o
ar, mas o plástico também é usado. O condutor interno sempre deve estar no centro do
tubo; ele é mantido nessa posição por arruelas de plástico, ou comprimindo levemente
um tubo separador de plástico em intervalos de comprimento uniforme. A fim de
melhorar o rendimento da blindagem nas freqüências baixas, uma fita de aço pode ser
enrolada em torno do tubo.

Figura A.4.15 Tubo coaxial com arruelas de plástico

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Algumas aplicações requerem um cabo coaxial flexível. Esse cabo possui um condutor
interno de fios múltiplos e um condutor externo de fios múltiplos trançados.
Normalmente o isolamento é de plástico.

4.2.2 Ondas de rádio


O rádio é um meio de transmissão com um grande campo de aplicações e é um meio
que proporciona grande flexibilidade ao usuário (por exemplo, telefones sem fio). O
rádio pode ser usado localmente, entre continentes, na comunicação fixa, como na
móvel, entre nós de rede ou entre usuários e nós de rede. Nesta subseção, tratamos
das conexões de enlaces de rádio e via satélite. No Capítulo 5 (Seção 5.13) descrevemos
as aplicações do rádio na rede de acesso e na Parte D do Volume 2 descrevemos a
telefonia móvel. As aplicações sem fio são tratadas na Parte B.

O espectro do rádio
O espectro do rádio, de 3 kHz até 300 GHz, é uma faixa do espectro eletromagnético
(infravermelho, luz visível e ultravioleta e as freqüências do raio X são de outras
faixas). O espectro do rádio está dividido em oito faixas de freqüência, como mostrado
pela Figura A.4.16, das VLF (freqüências muito baixas) até as EHF (freqüências
extremamente altas).

Figura A.4.16 As oito faixas de freqüência do espectro do rádio

A propagação de uma onda de rádio depende de sua freqüência. As ondas de rádio


com freqüências abaixo de 30 MHz são refletidas pelas diferentes camadas da atmosfera
e pela terra, possibilitando que sejam usadas para o tráfego rádio-marítimo, telégrafo
e telex. A capacidade é limitada a algumas dezenas ou centenas de bit/s.
Acima de 30 MHz, as freqüências são altas demais para serem refletidas pelas camadas
ionizadas da atmosfera. As faixas de freqüência VHF e UHF usadas para TV,
radiodifusão e telefonia móvel pertencem a esse grupo. As freqüências acima de 3
GHz estão sujeitas a severas atenuações, causadas por obstáculos (tais como edifícios)
e, por isso requerem uma “linha de visibilidade” livre entre o transmissor e o receptor.
Os sistemas de enlace de rádio usam as freqüências entre 2 e 40 GHz, e os sistemas de
satélite usam normalmente as freqüências entre 2 e 14 GHz. A capacidade está na
magnitude de 10 – 150 Mbit/s.

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Enlace de rádio
Nas conexões de enlace de rádio, a transmissão é efetuada via uma cadeia de
transmissores e de receptores de rádio. O enlace de rádio é usado para a transmissão
analógica, assim como a digital.

Figura A.4.17 Conexão via enlace de rádio

A intervalos regulares, o sinal é recebido numa estação23 e enviado para a próxima


estação de enlace. Veja a Figura A.4.17. A estação de enlace pode ser ativa ou passiva.
Uma estação de enlace ativa, amplifica ou regenera o sinal. Uma estação de enlace
passiva consiste, geralmente, em duas antenas parabólicas interligadas diretamente
sem qualquer eletrônica de amplificação entre elas.
Cada enlace de rádio necessita de dois canais de rádio: um para cada direção. Um
espaçamento de uns poucos MHz é necessário entre a freqüência do transmissor e a
freqüência do receptor. A mesma antena parabólica e guia de ondas são usados para
ambas as direções.
A distância entre as estações de rádio – também chamada de comprimento de salto –
depende da potência de saída, do tipo de antena e do clima, assim como da freqüência.
Quanto mais alta a freqüência portadora, mais curto é o alcance. Por exemplo, um
sistema de 2 GHz possui um alcance de, aproximadamente, 50 quilômetros e um
sistema de 18 GHz possui um alcance de 5 – 10 km.

23
NR - estação repetidora.

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Satélite
Os sistemas de satélite são bem similares aos sistemas de enlace de rádio; a única
diferença real é que a estação de enlace intermediária está em órbita ao redor da Terra,
em vez de instalada no solo. Veja a Figura A.4.18. Os satélites descrevem uma órbita
polar ou uma órbita geoestacionária. Os satélites com uma órbita polar passam sobre
os pólos a uma altitude de cerca de 1.000 km e são usados com propósitos
meteorológicos ou militares24 .

Figura A.4.18 Sistema de satélite

Os satélites usados para telecomunicações são colocados em órbitas geoestacionárias


no plano equatorial, 35.800 km acima da superfície da Terra. Esses satélites têm um
tempo orbital de 24 horas que, por causa da rotação da Terra, dá a eles a aparência de
estacionários. Aproximadamente um terço da superfície da Terra está coberta por
uma antena com irradiação global. Os enlaces de satélite são usados nas redes de
telecomunicações nacionais, assim como internacionais. O uso intercontinental tem
decrescido em favor dos cabos ópticos submarinos.

24
NR - incluem-se nas órbitas polares as constelações de satélites de comunicações (ex-Iridium,
Globalstar, etc.)

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As propriedades de transmissão dos enlaces de satélite são excelentes, e os problemas


são poucos. Entretanto, as longas distâncias entre as estações terrestres, via satélite,
causam um atraso de 240 ms, o que em si é incômodo para a comunicação de voz,
podendo ocasionar ecos com um tempo de propagação de cerca de 0,5 segundo.
A Intelsat (Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite) foi fundada
com o propósito de financiar, desenvolver e dirigir os sistemas comerciais de satélite
para telecomunicações, pelo mundo inteiro. Hoje, a Intelsat, responsável pelo
lançamento e pela operação dos satélites, tem mais de 100 operadoras como associadas.
As operadoras individuais (ou uma associação de operadoras) administram as estações
terrestres. A Intelsat, entretanto, é responsável por algumas poucas estações, necessárias
para controlar e supervisionar os satélites.
Um dos satélites da Intelsat é o Intelsat VI que possui 80.000 canais de voz.

4.2.3 Fibra óptica


Por volta de 1870, um inglês chamado Tyndall mostrou que a luz podia ser conduzida
ao longo de um jato curvo de água. No final do século 19, Graham Bell projetou um
telefone óptico. Entretanto, a dificuldade para encontrar fontes apropriadas de luz
tornou necessária a espera de 100 anos antes que essa tecnologia pudesse ser usada na
prática. Os primeiros testes de campo com cabo de fibra óptica foram realizados em
1975 e, em 1980, foram inaugurados os primeiros sistemas comerciais para tráfego
telefônico.
As muitas e excelentes propriedades da fibra óptica tornaram o cabo óptico cada vez
mais importante como meio de transmissão nas redes de telecomunicações. A fibra é
usada primeiramente nas redes urbanas e para conexões de longa distância,
principalmente para a transmissão digital. A fibra possui uma capacidade enorme de
transmissão. Hoje existem sistemas para vários Gbit/s – 2.5 Gbit/s corresponde,
aproximadamente, a 32.000 chamadas telefônicas simultâneas em 64 kbit/s. As
limitações estão no equipamento terminal.
A interface entre a transmissão elétrica e óptica requer conversores E/O.

Figura A.4.19 Conversores E/O

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As vantagens dos sistemas de fibra óptica podem ser resumidas nos pontos seguintes:

· capacidade muito alta;


· espaçamento longo entre repetidores;
· pequenas dimensões de cabo;
· baixo peso;
· pequenos raios de curvatura;
· nenhuma diafonia;
· imunidade a interferências eletromagnéticas.

Cabo óptico
Um cabo óptico consiste em uma quantidade de finas fibras de vidro. Veja a Figura
A.4.20. O vidro é tão puro que se você pudesse olhar para dentro da fibra, seria capaz
de enxergar centenas de quilômetros por meio dela. Na prática, a luz infravermelha
invisível é enviada pela fibra. A fibra de plástico é uma alternativa à fibra de vidro,
para curtas distâncias de transmissão, aproximadamente 100 m. A fibra de plástico é
mais barata, mas tem uma atenuação mais elevada.

Figura A.4.20 Uma fibra óptica

A fibra de vidro possui um núcleo de vidro com um revestimento de vidro circundante.


O núcleo consiste em um vidro dopado, feito de vidro puro de quartzo com um índice
de refração um pouco mais alto do que o do revestimento. Normalmente, o diâmetro
externo do revestimento é de 125 µm. O diâmetro do núcleo é diferente para os vários
tipos de fibra – 8, 10 ou 50 µm.
A Figura A.4.21 mostra a secção transversal de um cabo óptico. A fibra possui uma
proteção primária (via de regra, feita por um acrilato endurecido) para prover uma
proteção contra umidade e produtos químicos, e uma proteção secundária externa –
fixa ou solta.

Ericsson Telecomunicações 167


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.21 Exemplo de cabo óptico – um cabo de núcleo ranhurado com 24


fibras

O cabo óptico possui um elemento de reforço, de aço ou de plástico, que dá a ele a


resistência necessária para suportar as forças de tração e curvatura. Além do mais, o
cabo contém um enchimento que fixa as fibras e protege-as da curvatura e da umidade
excessivas. O revestimento do cabo é feito de plástico, via de regra, de polietileno. O
número de fibras de um cabo varia, dependendo do campo de aplicação – existem, de
fato, cabos com milhares de fibras.

As propriedades da luz
A luz é um movimento de ondas, cujos comprimentos são parte do espectro
eletromagnético. A luz que usamos nas aplicações de fibra óptica está na faixa de
comprimento de onda de 800 – 1600 nm. Veja a Figura A.4.22.

Figura A.4.22 A faixa de comprimento de onda de fibras ópticas

As ondas de luz se propagam em diferentes velocidades nos diferentes meios. No ar,


a velocidade da luz é quase igual à velocidade no vácuo, isto é, 3x108 m/s. No vidro,
a luz viaja a cerca de 2/3 da velocidade da luz no ar. A relação entre a velocidade da
luz no ar (c) e sua velocidade em outro material (v) é chamada de índice de refração
(n):

Índice de refração n = c/v

168 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

O termo índice de refração pode ser explicado como segue. Um raio de luz propagado
através de dois materiais com diferentes índices de refração, refrata (muda seu ângulo)
na interface entre esses materiais. A relação entre o ângulo de incidência a e o ângulo
de refração b é dada pela lei de refração de Snell:

n1·sena = n2·senb,

em que n1 e n2 são os índices de refração dos materiais. Se o ângulo de incidência a


aumenta, b aumenta até atingir 90°. Se a aumentar ainda mais, ocorrerá uma reflexão
total, significando que a luz reflete-se na interface com o mesmo ângulo que o ângulo
de incidência (a = b). Veja a Figura A.4.23.

Figura A.4.23 Refração da luz

Essa reflexão total é utilizada na comunicação por fibra óptica. Se o ângulo de


incidência for suficientemente grande, a luz na fibra refletirá repetidamente na interface
entre os materiais. A fibra não precisa ser reta, pode conduzir a luz mesmo quando
curvada. Veja a Figura A.4.24.

Ericsson Telecomunicações 169


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.24 Transporte de luz numa fibra óptica

Propriedades de transmissão
Apesar de todas as boas propriedades, a fibra óptica não é perfeita. Pequenos defeitos
de fabricação, tais como: impurezas (íons de metal e de hidróxido) e as variações
muito pequenas no índice de refração, ocasionam que parte da luz é absorvida ou
refletida para fora. A atenuação, que depende do comprimento de onda, possui três
mínimas, também chamadas de primeira, segunda e terceira janelas do comprimento
de onda.
Os sistemas da primeira geração usaram a luz com um comprimento de onda de cerca
de 850 nm, principalmente porque o equipamento para a conversão dos sinais elétricos
e ópticos somente era disponível para esse comprimento de onda. Hoje, existem
sistemas de segunda e terceira gerações com comprimentos de onda de 1.310 e 1.550
nm respectivamente. Veja a Figura A.4.25

Figura A.4.25 Atenuação em uma fibra de vidro

170 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Tipos de fibra
A fibra de índice de degrau possui uma largura de faixa de 10 – 50 MHz x km. O
núcleo, com uma espessura de cerca de 70 µm, tem um índice de refração e a cobertura
em volta dele tem outro índice. Um melhor resultado é obtido com a fibra de índice
gradual cuja largura de faixa é entre 300 e 500 MHz x km. O índice de refração desse
tipo de fibra decresce gradualmente do centro do núcleo até a camada externa da capa.
A fibra de índice de degrau e a fibra de índice gradual são multimodo, isto é, possuem
muitas vias de propagação da luz.
O núcleo da fibra monomodo é tão fino (3 – 10 µm) que todas as ondas de luz percorrem
a mesma distância. A largura de faixa é quase ilimitada. Veja a Figura A.4.26.

Figura A.4.26 Tipos de fibra

Multiplexação por divisão de comprimento de onda


Como os requisitos por alta capacidade de transmissão aumentam, vemos que o uso
da multiplexação por divisão de tempo tem suas limitações. Uma alternativa
interessante – para velocidades binárias acima de 10 Gbit/s – é combinar a
multiplexação por divisão de tempo com a multiplexação por divisão de comprimento
de onda (WDM). Veja a Figura A.4.27.
A multiplexação por divisão de comprimento de onda permite que uma quantidade de
canais seja enviada em diferentes comprimentos de onda, na mesma fibra, na mesma
direção ou em ambas direções. Apesar de ter recebido um nome próprio, WDM é
uma variante de fibra óptica de multiplexação por divisão de freqüência.

Ericsson Telecomunicações 171


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.27 Multiplexação por divisão de comprimento de onda, com três com-
primentos de onda

Dois sistemas WDM atualmente em desenvolvimento são o WDM aproximado e o


WDM denso. No WDM aproximado, usam-se 2 a 10 canais de comprimento de onda
com uma grande separação de comprimento de onda entre os canais (5 – 50 nm). No
WDM denso, usam-se 5 a 100 canais de comprimento de onda com menor separação
de comprimento de onda entre os canais ( (0,1 – 5 nm).
Uma variante simples do WDM já em uso emprega 1.310 e 1.500 nm ao mesmo
tempo e na mesma fibra. Isso torna possível dobrar a capacidade, ou obter transmissão
bidirecional com um comprimento de onda em cada direção.

4.3 Parâmetros de transmissão


Para assegurar que as conexões na rede sejam de boa qualidade, elas devem satisfazer
certos requisitos. O órgão de cooperação internacional, ITU-T, apresentou
recomendações que especificam esses requisitos. Nas recomendações são especificados
valores limites para uma quantidade de parâmetros importantes de transmissão que,
juntos, dão as orientações sobre quais requisitos de qualidade devem ser aplicados
em uma conexão entre dois assinantes.
Basicamente, o que importa é o grau de distorção permitido na via de informação do
emissor para o receptor. Por isso, foi desenvolvido um número de diferentes técnicas
para medir como a informação é influenciada. Os parâmetros de transmissão são
características e fenômenos mensuráveis.

172 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Figura A.4.28 Atenuação

Um exemplo de um parâmetro é a atenuação. A amplitude de um sinal elétrico


analógico decresce devido à resistência no condutor que transfere o sinal. Veja a
Figura A.4.28. A atenuação é uma medida de quanto a amplitude decresce.
Os requisitos de qualidade para a transmissão estão resumidos em um plano de
transmissão, que sempre é um compromisso entre uma transmissão desejada de alta
qualidade e uma transmissão economicamente factível, sobre longas conexões
nacionais e internacionais.
A qualidade de transmissão é avaliada e os parâmetros são calculados para toda a
cadeia de sistemas em uma conexão, incluindo os terminais, a rede de acesso, a rede
de transporte e o equipamento de comutação. Temos que levar em consideração uma
quantidade de redes portadoras (PSTN, ISDN, PSPDN) e tentar satisfazer seus
diferentes requisitos. Neste caso, os requisitos da rede telefônica têm um grande peso
devido à sua dominância.
Com a introdução da ISDN, a capacidade para definir as características de transmissão,
de forma uniforme, se tornou um requisito muito real. Deve ser possível descrever
cada terminal conectado com base nos seus requisitos de qualidade de transmissão.
A mistura de seções analógicas e digitais na rede impõe mais exigências na nossa
maneira de definir as características dos sistemas de transmissão. Precisamos de um
conjunto de parâmetros de transmissão “analógica”, um conjunto de parâmetros de
transmissão “digital” e um conjunto de parâmetros para a conversão A/D.

4.3.1 Transmissão analógica

Largura de faixa
Os requisitos de largura de faixa para equipamentos de transmissão analógica nas
redes de acesso e entre centrais variam, dependendo da utilização do enlace de
transmissão. No caso das conexões de canais analógicos únicos, exige-se uma largura
de faixa de 3,1 kHz (faixa de freqüências de 300 – 3.400 kHz). Outros requisitos se
aplicam às conexões de canais analógicos múltiplos. Uma conexão FDM multiplexada

Ericsson Telecomunicações 173


Entendendo Telecomunicações 1

por freqüência, com 2.700 canais, requer uma largura de faixa de 12 MHz e uma
conexão com 10.800 canais requer 60 MHz. Portanto, o número possível de canais é
proporcional à largura de faixa da conexão.
As conexões de canais analógicos múltiplos estão sendo gradualmente substituídas
por conexões digitais.

Atenuação
A atenuação manifesta-se como uma redução da amplitude do sinal no receptor. De
preferência, a redução da amplitude entre dois assinantes deve ser igual,
independentemente da distância entre eles. A atenuação entre dois assinantes é quase
inteiramente atribuível à rede de acesso (a rede que conecta os assinantes aos seus nós
locais) e onde são usados cabos com dois fios metálicos. Na rede de troncos (a rede
entre os nós), a atenuação é compensada por amplificadores e regeneradores.
A atenuação, assim como sua oposta, a amplificação, é medida em decibéis (dB).
Medindo a potência transmitida P1 e a potência recebida P2, pode ser calculada a
atenuação A. A fórmula é:

Atenuação: A = 10log (P1/P2)

Exemplo: A = 10log (400mW/10mW) = 16 dB. Usando-o logaritmo de base 10, a


atenuação total de uma conexão pode ser calculada como a soma da atenuação/
amplificação das partes.
Nota: as medições em decibéis indicam unicamente a relação entre duas quantidades.
Como regra prática, a duplicação ou a divisão da potência em duas partes corresponde
a um acréscimo ou decréscimo de cerca de 3 dB. O valor que representa a atenuação
não indica, de forma alguma, a potência real do sinal recebido.
A atenuação depende da freqüência. Em relação ao cabo de pares, o cabo coaxial e os
enlaces de rádio aumentam sua atenuação com a freqüência.
Um outro tipo de atenuação que influencia a transmissão de rádio é chamado de
desvanecimento25.

Desvanecimento
O desvanecimento, um fenômeno que surge quando os sinais de rádio são refletidos
contra as diferentes camadas da atmosfera e a Terra, é um dos problemas mais difíceis
de dominar na comunicação de rádio. O efeito do desvanecimento, que é dependente do
tempo e da freqüência, manifesta-se como variações na amplitude e na fase do sinal.

25
NR - o mesmo que “fading”.

174 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

As causas mais comuns do desvanecimento são:

· deflexão anormal da onda de rádio devido à refração;


· propagação por vias múltiplas, devido às ondas de rádio refletidas da Terra ou das
camadas de ar com diferentes densidades; e
· atenuação causada por precipitação atmosférica.

O índice de refração do ar para ondas de rádio é, normalmente, inversamente


proporcional à altura. O índice influencia as ondas de rádio, que se curvam
gradualmente para a Terra e atingem pouco além do horizonte. Por isso, a visibilidade
do rádio ótico é um pouco mais longa do que a visão ótica. O índice de refração é
influenciado pela temperatura, pressão e umidade do ar. Veja a Figura A.4.29. Os
altos níveis de radiação de calor à noite, provenientes das camadas aquecidas durante
o dia, podem formar uma “camada condutora” que influencia a refração. Quando o
nível de refração reduzir a visibilidade do rádio ótico, o sinal recebido estará
severamente atenuado, resultando numa degradação inaceitável da qualidade.

Figura A.4.29 Deflexão causada pela refração

Nas freqüências abaixo de 10 GHz, o desvanecimento é principalmente causado pela


interferência que surge entre os sinais diretos e os sinais refletidos da Terra, ou entre
diferentes vias de sinal, através da atmosfera. Esse tipo de propagação por vias
múltiplas é mais comum durante as noites de verão e no início do outono. Veja a
Figura A.4.30.

Ericsson Telecomunicações 175


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.30 Interferência devido à propagação por vias múltiplas

O efeito da atenuação pela chuva se torna perceptível nas freqüências acima de 10


GHz, quando o comprimento de onda diminui até o tamanho do pingo de chuva. Os
sinais são severamente atenuados devido à dispersão e absorção da energia. Quanto
mais alta a freqüência, maior importância assume a atenuação devido à chuva,
comparada com outras causas de desvanecimento.

Distorção de amplitude
Como mencionado anteriormente, a atenuação é dependente da freqüência. Essa
característica – à parte da redução do nível do sinal – também causa o que se denomina
distorção de amplitude: a altura de tom da voz que você está ouvindo parece que está
mudando. A Figura A.4.31 mostra o que a ITU-T especifica ser a distorção de
amplitude máxima permissível para os circuitos de voz, em função da freqüência.

Figura A.4.31 Distorção de amplitude máxima permissível num canal de voz

176 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Ruído
Ruído é gerado em todos os tipos de circuitos eletrônicos. Nenhum sistema pode ser
produzido inteiramente livre de ruídos – o melhor que podemos fazer é fixar os limites
de quanto ruído estamos dispostos a permitir. Valores limites foram recomendados
pela ITU-T.
O nível absoluto do ruído não é o fenômeno mais interessante; o que determina a
audibilidade é a relação entre o nível do sinal transmitido e o ruído. Esta é a razão por
que usamos o termo relação sinal ruído. Quando a atenuação na linha torna necessário
usar amplificadores, a relação sinal para ruído decrescerá, porque o ruído de entrada
será amplificado tanto quanto o sinal. No final, o nível do ruído pode estar tão alto
que teremos que selecionar um nível de sinal mais baixo (menos amplificadores) para
manter aceitável uma relação sinal ruído.

Interferência externa
Nos sistemas metálicos, a interferência externa causada por linhas de força e
transmissores de rádio pode conduzir a uma degradação perceptível da qualidade de
transmissão. A interferência pode também ser devido aos relâmpagos na vizinhança
de um cabo metálico. Caso isso ocorra, um impulso “rico em energia” irá se propagar
ao longo da linha. No pior cenário – caso não sejam providenciados pára-raios
adequados – esse impulso poderá destruir os cabos e o equipamento eletrônico.

Diafonia
O fenômeno de uma conexão ser perturbada por uma conversação em uma outra
linha é chamado de diafonia. O problema é particularmente perceptível em conexões
com transmissão por cabos de pares. No caso do cabo coaxial, a diafonia deve ser
considerada em freqüências abaixo de 60 kHz. Acima de 60 kHz, a diafonia decresce
com a freqüência (ao contrário da diafonia em cabos de pares) e é dificilmente
mensurável em 500 kHz.
No que se refere à telefonia, distinguimos dois tipos de diafonia:

· diafonia inteligível, na qual podemos entender o conteúdo de uma outra chamada


entre dois assinantes; e
· diafonia ininteligível, significando que a conversação em um canal adjacente nos
incomoda, apesar de não entendermos o que está sendo dito. A interferência pode
ter o caráter de ruído, mas é mais importuna por causa de seu ritmo e entonação.

Desses dois, a diafonia inteligível é mais severa, uma vez que ela põe em risco a
integridade. A ITU-T recomenda uma diferença de nível de pelo menos 52 dB entre o
nível do tom de teste recebido e o nível de diafonia.

Ericsson Telecomunicações 177


Entendendo Telecomunicações 1

Efeito local
Quando falamos ao telefone, somos inclinados a ouvir nossa própria voz no receptor.
Isto é chamado de efeito local. O nível do efeito local não deve ser muito alto nem
muito baixo.
Os aparelhos telefônicos modernos contêm funções que contrabalançam a influência
do efeito local demasiado, levando em conta a impediência da linha. Por esta razão,
os aparelhos telefônicos mais antigos devem ser trocados por novos, sempre que a
rede estiver sendo modernizada. Entretanto, é importante também haver um casamento
correto entre o equipamento da central e a linha do assinante. As recomendações da
ITU-T especificam os dados e as instruções para esse casamento em centrais digitais.
O efeito local também ocorre na transição de uma conexão a dois fios para uma
conexão a quatro fios.

Eco
Já que é mais fácil amplificar uma conexão unidirecional (simplex) do que uma conexão
bidirecional (duplex), são usadas conexões duplo-simplex na rede de tronco. Não
obstante, por razões econômicas, a rede de acesso PSTN usa duplex nas conexões a
dois fios. Uma híbrida converte os sinais bidirecionais de voz das linhas a dois fios
em sinais unidirecionais nas linhas a quatro fios.
As imperfeições na híbrida podem deixar a energia da fala “vazar” de volta para o
orador, que percebe o fenômeno como um eco. O eco é importuno se o tempo de
propagação for mais longo do que 15 ms. Permita-nos distinguir entre dois tipos de
eco: o eco de ouvinte e o eco de locutor. A Figura A.4.32 ilustra esses dois fenômenos.

Figura A.4.32 Dois tipos de eco

178 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Tempo de propagação e distorção de atraso de grupo


O tempo que um sinal de uma certa freqüência leva para transpor a distância entre o
transmissor e o receptor é chamado de tempo de propagação. Uma vez que o tempo
de propagação depende da freqüência, a distorção de atraso de grupo ocorre quando
algumas freqüências do sinal alcançam o receptor antes que outras. Os valores limite
para a distorção de atraso de grupo são especificados como a diferença em ms, entre
o tempo de propagação da freqüência mais rápida e o tempo de propagação da
freqüência nos limites superior e inferior respectivamente. Veja a Figura A.4.33.
Para compensar as diferenças no tempo de propagação, o equipamento foi projetado
para adicionar atraso às freqüências mais rápidas. Entretanto, o tempo total de
propagação não deve ser longo demais. A ITU-T recomenda um máximo de 150 ms
entre dois assinantes. Um atraso de 400 ms é permitido nas linhas internacionais, a
fim de possibilitar o tráfego via satélite.

'LVWRUomRGHDWUDVRGHJUXSRSHUPLWLGR
&RQH[mR
Limite de freqüência baixa Limite de freqüência alta

Parte internacional 20 ms 10 ms
Cada parte nacional 20 ms 10 ms
Total 60 ms 30ms

Figura A.4.33 Distorção admissível de atraso de grupo

4.3.2 Transmissão digital

Largura de faixa
Quando a informação é transmitida sob forma digital, a largura de faixa – ou capacidade
de transmissão – é especificada em bits por segundo, bit/s. Nota: aqui não nos referimos
à velocidade de propagação da informação (bits) (que resulte em um atraso de ms),
mas ao montante de informação por unidade de tempo.
Na transmissão digital (na forma de pulsos elétricos) em linhas de cobre, existe uma
relação direta com a “largura de faixa analógica”. A freqüência associada com os
flancos do pulso, perfeitamente perpendiculares, é infinitamente alta, e a freqüência
dos platôs do pulso é zero, significando que necessitaríamos de um sistema de
transmissão com uma largura de faixa infinita, a fim de reproduzir, na saída, a

Ericsson Telecomunicações 179


Entendendo Telecomunicações 1

informação digital na forma de pulsos. Naturalmente, isto nem é possível nem


necessário, uma vez que os pulsos não precisam ser perfeitamente retangulares quando
atingirem o receptor. O que importa é que os pulsos possam ser identificados como
“uns” e “zeros”.
Considere uma sucessão de pulsos representando uma informação digital, sendo que
os intervalos entre os pulsos são de comprimentos iguais. A ilustração gráfica na
Figura A.4.34, do espectro de freqüências de uma série periódica de pulsos, nos mostra
os componentes da freqüência dessa sucessão de pulsos e nos dá uma idéia de qual é
a largura de faixa (em Hz) necessária para a transmissão.

Figura A.4.34 Uma sucessão de pulsos e seu espectro de freqüências

O espaçamento entre os componentes da freqüência é sempre igual à freqüência básica


da sucessão de pulsos f0 = 1/T. Além do mais, a amplitude é sempre zero na freqüência
1/tp em que tp é a duração do pulso.

180 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Taxa de erros de bits


O parâmetro de qualidade mais comum nas redes digitais é a taxa de erros de bits
(BER). Ao enviar um padrão conhecido de bits e contar a quantidade de bits recebidos
incorretamente no receptor, podemos medir a qualidade da conexão, expressa como a
média de bits recebidos incorretamente, dentre a quantidade total de bits transmitidos.
Se a taxa de erros na transmissão de voz em uma conexão digital de 64 kbit/s for de
10-6 ou menos, durante um período arbitrário de tempo, o ouvinte não notará qualquer
degradação na qualidade. Se a taxa de erros for de 10 -5, a degradação da qualidade é
desprezível; a uma taxa de erros de 10-4 o distúrbio é considerado um pouco irritante;
e a uma taxa de erros de 10-3 a degradação da qualidade é severa. Para outros serviços,
a taxa de erros aceitável para uma transmissão sem distúrbio é a mostrada em seguida:

· dados 10-7 – 10-8


· telex 10-4
· fax 10-5 – 10-6
· videofone 10-6 – 10-7
· e-mail 10-5 – 10-6

Na prática, os erros de bit normalmente ocorrem em “rajadas”, e o aspecto do tempo


deve ser levado em conta quando for estabelecido o nível de qualidade. Na
recomendação G.821, a ITU-T define os seguintes parâmetros para uma conexão
entre dois assinantes, comutada a 64 kbit/s:
· minuto degradado (DM): menos de 10% de uma quantidade de intervalos de um
minuto têm uma taxa de erros de bits de 1·10-6 ou pior;
· segundo errado (ES): menos de 8% de uma quantidade de intervalos de um segun-
do são prejudicados por erros de bit;
· segundo severamente errado (SES): menos de 0,2% de uma quantidade de inter-
valos de um segundo têm uma taxa de erros de bit de 1·10-3 ou pior.

Distorção de quantização
Antes que as redes estejam inteiramente digitalizadas, elas irão consistir em uma
mistura de equipamentos analógicos e digitais. Cada transição de um equipamento
analógico para um digital envolve conversor A/D, que também implica em
quantização. A quantização produz uma certa distorção da curva de voz, uma vez que
somente se usa uma quantidade limitada de intervalos de quantização para descrever
a informação.
Uma vez que a distorção de quantização é cumulativa, existe o perigo da qualidade da
transmissão se degradar bastante, caso sejam feitas várias conversões A/D.

Ericsson Telecomunicações 181


Entendendo Telecomunicações 1

A unidade qd é usada para medir a distorção de quantização em uma conexão; um qd


é igual à distorção causada por uma conversão A/D. A ITU-T recomenda um máximo
de 14 qd no tráfego internacional. O objetivo é que valores que excedam a 5 qd nunca
deverão ocorrer na rede nacional. Entretanto, até que a rede seja inteiramente
digitalizada, 7 qd serão permitidos na interface internacional.

Ruído
O ruído nas conexões digitais é o fenômeno causado por erros de bits. A Figura
A.4.35 mostra exemplos de como o distúrbio sob a forma de ruído pode causar erros
ocasionais de bits. O sinal transmitido de dados adiciona-se ao ruído, e o sinal resultante
será então mal interpretado pelo receptor.

Figura A.4.35 O ruído pode causar erros de bits

O ruído tem muitas causas e age de diversas maneiras. Por meio do espectro da
freqüência do ruído, podemos distinguir entre dois tipos principais de ruído: ruído
branco e ruído 1/f. O ruído branco é caracterizado pela potência média, sendo do
mesmo tamanho para todas as freqüências. Ao contrário, para o ruído 1/f a potência é
maior nas freqüências baixas e decresce com o aumento da freqüência. Veja a Figura

182 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

A.4.36. Os exemplos do ruído branco incluem ruído térmico, ruído de disparo e ruído
de partição. O ruído de oscilação é um exemplo de ruído 1/f.

Figura A.4.36 Espectro de freqüência do ruído branco e do ruído 1/f

O ruído térmico ocorre porque os portadores de carga (elétrons e buracos) em um


material estão em constante movimento. Esse movimento torna-se mais intenso à
medida que a temperatura aumenta e vice-versa – no zero absoluto os portadores de
carga estão inteiramente parados. Uma tensão elétrica induz os portadores de carga a
se movimentar em uma certa direção: a corrente elétrica flui através do material.
Entretanto, a causa térmica do movimento permanece e produz variações aleatórias
de tensão através das extremidades de uma peça do material – uma resistência, por
exemplo. O ruído torna-se mais incômodo à medida que a resistência e a largura de
faixa aumentam.
O ruído de disparo surge em semicondutores e é causado pelos portadores individuais
de carga ( que compõem a corrente elétrica. Nos cálculos de semicondutores – diodos
ou transistores, por exemplo – assumimos que a corrente é constante. Entretanto, na
realidade somente a sua média no tempo é constante. Desconsideramos o fato de que
os portadores individuais de carga causam variações de corrente, o que chamamos de
ruído de disparo.
Em um transistor bipolar, a corrente é distribuída para a base de uma forma aleatória.
O mesmo tipo de distribuição de corrente também surge até certo ponto no eletrodo
de porta em um transistor de efeito de campo. A corrente indesejável de partículas é
chamada de ruído de partição.
Ruído de oscilação. A causa do ruído de oscilação nos semicondutores não foi
determinada, apesar de acreditarmos que é devido às variações aleatórias da quantidade
de portadores de carga na superfície dos semicondutores. As pequenas variações de
temperatura (1/1000 de grau mais ou menos) podem causar tensões de ruído
relativamente significativas.

Ericsson Telecomunicações 183


Entendendo Telecomunicações 1

Diafonia

Figura A.4.37 Paradiafonia e telediafonia

Nos sistemas digitais há dois tipos de diafonia: paradiafonia (NEXT) e telediafonia


(FEXT). A paradiafonia ocorre entre pares de fio que operam em direções opostas,
enquanto a telediafonia ocorre entre pares de fio que transmitem na mesma direção.
Veja a Figura A.4.37.
A paradiafonia, que é o fenômeno mais incômodo, é causada por um sinal de saída
intenso em relação ao sinal de entrada, no outro par de fios. Conseqüentemente, a
relação entre o sinal perturbado e o sinal perturbador é desfavorável. Ao contrário, a
telediafonia nunca produz o mesmo nível de perturbação: o sinal perturbador decresce
em intensidade ao longo da linha e apresenta um nível de perturbação
proporcionalmente mais baixo do que o canal perturbado.

Eco
O eco ocorre na transmissão digital, assim como na transmissão analógica. De fato, o
eco causado por longos atrasos nos sistemas digitais modernos pode ser muito
perturbador.

Jitter
Os sistemas de transmissão podem causar constantes mudanças de fase chamadas de
Jitter.
O Jitter é especificado como a parte do desvio de fase do tempo do ciclo (graus ou
intervalos de uma unidade, UI) e como freqüência (Hz) ou o número de períodos de

184 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

mudança de fase por segundo. O Jitter é medido por meio de um sinal de teste enviado
através da conexão, a fim de investigar as mudanças de fase na extremidade recebedora.
As conexões de dados que usam a modulação por deslocamento de fase são
particularmente sensíveis ao Jitter. Veja a Figura A.4.38.

Figura A.4.38 Jitter

O Jitter ocorre tanto em sistemas analógicos quanto digitais. Pode surgir quando os
bits de justificação são removidos na transição de uma velocidade binária, multiplexada
alta, para uma velocidade binária mais baixa. Os bits removidos criam aleatoriamente
espaços vazios, que devem ser “nivelados” para evitar essa causa do Jitter.

Dispersão em cabo óptico


Dois fenômenos podem provocar alargamento do pulso no sinal em um cabo óptico:
dispersão de material e distorção modal.
A dispersão de material é causada pela fonte de luz. A dispersão surge porque a
velocidade da luz varia um pouco com o comprimento de onda. Portanto, a largura
espectral da fonte de luz pode causar um aumento na duração do pulso. Veja a Figura
A.4.39. A dispersão de material decresce com o aumento do comprimento de onda e
é próxima de zero em 1.300 nm.

Ericsson Telecomunicações 185


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.39 Dispersão de material

A distorção modal é causada pelo projeto da fibra. Se a luz possui diferentes vias de
propagação (como nos sistemas multimodo), essas vias irão variar de comprimento e
resultarão em diferentes momentos de chegada ao receptor.

4.3.3 Métodos para a transferência segura e confiável


de informação
Com métodos apropriados e um projeto hábil, os problemas discutidos na subseção
precedente podem ser eliminados ou reduzidos. O campo exposto é extenso e só
abordaremos os aspectos mais importantes.

Plano de transmissão
Como mencionado anteriormente, o plano de transmissão constitui a base para o
planejamento da rede de transmissão em termos de qualidade. (Veja também o Capítulo
10, Subseção 10.8.5, em que o plano de transmissão é tratado mais detalhadamente.)

Tratamento da atenuação, desvanecimento, diafonia e ruído


Discutimos o tratamento da atenuação na rede analógica de acesso, na Parte B do
Volume 2, em que está descrita a PSTN. A extensa digitalização da rede de troncos
significa que podemos desconsiderar como a rede analógica de troncos foi projetada.
Além disso, a rede de acesso também está se tornando cada vez mais digital devido ao
crescimento das redes GSM e ISDN.
Nos sistemas digitais, a taxa de erros de bits deve ser mantida baixa. Geralmente isso
é feito assegurando-se de que a configuração de bits sempre possa ser regenerada.
Isto requer que o sinal digital não seja “afogado” nos sinais de interferência. Recorre-
-se sempre à regeneração na qual termina uma planta de transmissão, até mesmo em
repetidores intermediários, quando necessário. Os sinais de interferência se originam
do desvanecimento, da diafonia, do ruído e da interferência externa. Os sinais de
carga útil são enfraquecidos pela atenuação, pelo desvanecimento e pela dispersão.

186 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

A regeneração, como mencionado anteriormente, significa que toda a interferência


no sinal de entrada desaparece. O sinal de saída é inteiramente novo e idêntico ao
original. Os erros ocorrem somente se um sinal chegar tão distorcido que não permita
estabelecer um nível capaz de discriminar “uns” e “zeros”.

Figura A.4.40 Detecção de código

A Figura A.4.40 ilustra o problema de detecção quando um cabo de pares é usado


como meio de transmissão. Originalmente, o cabo de pares era planejado para ser
usado em freqüências de voz com uma largura de faixa de somente uns poucos kHz.
Quando é usado para sinais com um máximo espectral na faixa dos MHz, ocorre um
alargamento de pulsos por causa da limitação na largura de faixa do cabo. Os pulsos
alargados possuem também energia no pulso subseqüente (A na figura). O sinal também
é perturbado pelos pares adjacentes e pelas fontes externas de interferência. Na figura,
o B representa a aparência do pulso alargado e perturbado.
A interferência sobreposta pode ser eliminada por filtro no regenerador, porém o
alargamento do pulso permanece. Na figura, o C representa a interferência do pulso
que possa surgir devido ao alargamento do pulso nas possíveis combinações de códigos
de linha. Isso é usualmente chamado de um diagrama de olhos devido à forma de
olho em torno do centro do impulso. É nesse “olho” que o regenerador deve decidir
pelo 0, 1, ou –1.
A área mais próxima do centro do pulso (o “olho”) deve estar aberta para possibilitar
a detecção do pulso. Um sinal perto do centro do “olho” entre os níveis de decisão +1
e 0 “positivo” não pode ser identificado (veja D na figura).
Quando for usado cabo de pares, os regeneradores podem ser alimentados a partir do
terminal de linha pelo par de fios que transporta o sinal PCM.
As conexões a longa distância por enlace de rádio podem ser muito problemáticas
para o projetista. Quando se planejam novos enlaces de rádio digital, muitas vezes se
quer transmitir grandes volumes de tráfego com os recursos instalados, tais como
torres e mastros. Impõem-se requisitos rigorosos ao projeto e ao equipamento de
rádio, e há um arsenal inteiro de “contramedidas para o erro de bit”.

Ericsson Telecomunicações 187


Entendendo Telecomunicações 1

Para contrapor-se aos efeitos do desvanecimento, aplica-se a diversidade de freqüência


ou a diversidade de espaço. A diversidade de freqüência é baseada no fato de que o
desvanecimento depende da freqüência. Duas diferentes freqüências portadoras enviam
a mesma informação: o receptor recebe ambas, compara-as e escolhe o sinal da
freqüência portadora mais forte, ou o sinal da freqüência portadora cuja informação
estiver menos degradada.
A diversidade de espaço é baseada no fato de que o desvanecimento não age da mesma
forma ao longo de diferentes percursos. Assim, colocando duas antenas receptoras
uns poucos comprimentos de onda separadas uma da outra, e comparando os sinais
recebidos, pode-se selecionar o melhor sinal.

Codificação de linha

Introdução
A codificação é um método para tornar a regeneração mais confiável. Usando esse
método de forma eficiente, o planejador de rede pode estender as distâncias entre os
pontos de regeneração. Ao explicar a técnica de codificação de linha, permita-nos
iniciar com um sinal digital de faixa básica não codificado. Veja a Figura A.4.41.
Como podemos ver, o sinal contém mais zeros do que uns. Assumindo que o nível
alto represente um e o nível baixo represente zero, estabelecemos que o nível médio
não esteja centrado, mas deslocado para o nível zero. Esse deslocamento é chamado
de componente direto do sinal. Em muitos casos, os receptores de sinais de linha
usam o nível médio do sinal como uma referência, quando precisam distinguir entre
uns e zeros. Consequentemente, o componente direto, como o do exemplo acima,
reduz a capacidade do receptor de interpretar o sinal corretamente. Colocando de
outra forma, os sinais sem um componente direto têm melhor chance de ser
interpretados corretamente.

Figura A.4.41 Sinal de linha não codificado

Normalmente, o ritmo do sinal de entrada controla a velocidade de leitura, que mantém


o receptor sincronizado com o transmissor. O ritmo é extraído do padrão de pulso do
sinal. Quanto mais longas as seqüências sem flancos de pulso (muitos uns ou zeros
subseqüentes), mais difícil se torna para o receptor manter o ritmo (permanecer
sincronizado) e, com isso, assegurar que o mesmo bit não seja lido duas vezes, ou que
alguns bits passem sem ser lidos.

188 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

A codificação de linha é usada para remover componentes diretos e longas seqüências


sem flancos de pulso. Em princípio, a codificação de linha significa que o sinal original
é gravado de acordo com um algoritmo conhecido tanto pelo transmissor quanto pelo
receptor. Podemos agora nos familiarizar com os três grupos de código de linha:
codificação alternada, codificação de blocos e embaralhamento.

Codificação alternada
Se invertermos um bit sim e um bit não no fluxo do sinal, converteremos as seqüências
longas de uns e zeros (por exemplo, o silêncio durante uma conversação telefônica) em
sucessões de pulsos com uns e zeros alternados. Esse método, chamado de inversão
alternada de dígitos (ADI), é o primeiro passo para uma codificação completa de linha.
Entretanto, o que acontecerá se o sinal original já for uma sucessão de pulsos desse
tipo? Geraremos então o que esperávamos evitar: seqüências de uns ou zeros.
Suplementando ADI com retorno a zero (RZ), isto é, dividindo a duração do pulso
por dois, evitaremos o problema do nível alto consecutivo. Figura A.4.42.
Se estendermos o ADI RZ com a inversão de polaridade de cada segundo pulso (um),
obteremos um sinal de linha bipolar com nível zero e duas polaridades, +1 e –1 (veja
a Figura A.4.42). Essa codificação, chamada de inversão de marca alternada (AMI),
tem a vantagem de produzir um valor médio zero durante um período de tempo mais
longo; em outras palavras, o sinal de linha não tem componente direto. Uma outra
vantagem da AMI é que o requisito de largura de faixa decresce, comparada com a
ADI RZ. O método de codificação AMI é usado nas conexões PCM de 1,5 Mbit/s
norte-americanas.

Figura A.4.42 ADI, ADI RZ e AMI

Ericsson Telecomunicações 189


Entendendo Telecomunicações 1

O código AMI não provê qualquer garantia contra cadeias mais longas sem pulsos.
Mas o código de linha HDB3 (código bipolar de alta densidade com um máximo de
três zeros consecutivos) garante um sinal de entrada que não contenha mais do que
três zeros consecutivos. O HDB3 funciona como a AMI com algumas adições:

Figura A.4.43 HDB3 – Princípio básico

Se três zeros forem seguidos por um quarto zero, este será substituído por um pulso
de violação com a mesma polaridade que o pulso transmitido mais recentemente.
Veja a Figura A.4.43. Se o receptor receber dois pulsos com a mesma polaridade,
então o segundo pulso será substituído por um zero.
Para que o valor médio do sinal de linha permaneça zero, cada segundo pulso de
violação deve ser positivo, e o outro pulso de violação deve ser negativo. Porém, essa
regra pode entrar em conflito com a regra que diz que o pulso de violação deve ter a
mesma polaridade do pulso precedente (independentemente do tipo de pulso). Caso
ocorra tal conflito, o primeiro zero será substituído por um “um” com a mesma
polaridade que o pulso de violação. Uma vez que esse “um” extra possui a mesma
polaridade que o antepenúltimo pulso, ele pode ser detectado e removido pelo receptor
no processo de decodificação. A codificação HDB3 é usada nas conexões PCM de 2
Mbit/s. Veja a Figura A.4.44.

Figura A.4.44 HDB3

190 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Codificação de blocos
A codificação de blocos significa que os blocos inteiros de n bits são substituídos por
outros blocos de m bits e, como regra, m é maior do que n. Os códigos são usualmente
chamados de mBnB.

3$/$95$'( 3$/$95$'(6$Ë'$
(175$'$ 02'2326,7,92

00000 101011
00001 101010
00010 101001
00011 111000

11100 010011
11101 010111
11110 011011
11111 011100

Figura A.4.45 Parte de uma tabela 5B6B

Tomemos 5B6B como um exemplo. A informação de que seis bits devem substituir
uma combinação específica de cinco bits é encontrada em tabelas que especificam o
procedimento de codificação. Veja a Figura A.4.45. Uma vez que existem duas vezes
mais combinações de 6 bits (26 = 64) do que combinações de 5 bits (25 = 32), foram
selecionadas somente as combinações que dão um fluxo variado de uns e zeros.
5B6B é usado nas conexões PDH de fibra óptica de 34 Mbit/s. Outros exemplos de
código de blocos são 4B5B e 8B10B. A desvantagem da codificação de blocos (se m
for maior do que n) é que o sinal de linha codificado requer uma largura de faixa
maior do que o sinal original. A redundância adicionada pela codificação – na forma
de combinações extras – pode, até certo ponto, ser usada para informações de
supervisão, tais como sincronização ou informações de gerência.

Embaralhamento
O embaralhamento significa mudar o sinal bit por bit de acordo com uma seqüência
repetitiva e separada. Veja a Figura A.4.46. Os passos na seqüência fornecem a
informação de como tratar os bits do sinal que estão sendo codificados. Cada passo é
um zero que significa “mantenha o valor”, ou um “um” que significa “inverta” o
valor.

Ericsson Telecomunicações 191


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.46 O princípio de embaralhamento

A codificação ADI é uma forma de embaralhamento muitíssimo simples. A seqüência


repetitiva e separada é: {0,1}, que significa “inverta cada segundo bit”. As seqüências
dos diferentes algoritmos de embaralhamento são diferentes em comprimento – o
comprimento normal é de várias centenas de passos. Em termos de projeto, um
embaralhador consiste em um registro de deslocamento realimentado e é descrito por
meio de um polinômio. O polinômio especifica onde no registro de deslocamento se
busca a realimentação. Por exemplo, para embaralhar um sinal SDH de 155 Mbit/s,
usa-se o polinômio x7+x6+1.
O receptor usa a mesma seqüência de embaralhamento para decodificar o sinal, que
foi usada pelo transmissor para codificá-la. O embaralhador do receptor deve estar
sincronizado com o embaralhador do transmissor, para que os bits do sinal de linha
sejam decodificados exatamente como foram codificados.
Apesar de o embaralhamento aumentar bastante a probabilidade de evitar as longas
séries de uns e zeros, ele não provê o mesmo tipo de garantia que dá o HDB3 ou o
5B6B. O embaralhamento não influencia na necessidade de largura de faixa – isto é,
a velocidade de bits é a mesma antes e depois do embaralhamento.

Figura A.4.47 Embaralhamento de acordo com o polinômio x7+x6+1

192 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Tratando os problemas relacionados ao eco


Falando de modo geral, a rede telefônica é um “gerador de eco” no sentido que ela
contém um ponto de transmissão entre os dois fios e quatro fios, onde pode ocorrer o
eco. Felizmente, uma chamada telefônica usual possui um tempo de propagação tão
curto (<15 ms) que o eco não constitui um problema. Entretanto, quando a conexão
envolve uma codificação de voz consumidora de tempo ou um enlace de satélite, a
situação é bem diferente. A codificação de voz consome tempo na maioria dos sistemas
celulares, o que significa que podemos experimentar ecos importunos durante uma
chamada entre uma rede móvel celular e a PSTN.
A fim de evitar o problema, instalam-se canceladores de eco (compensadores de eco)
em certos nós da rede. Um cancelador de eco analisa o eco e conecta um sinal em
contrafase, que elimina o eco (no melhor dos casos).
As portas na rede são a melhor localização para conectar os canceladores de eco; por
exemplo, um centro para comutação móvel que esteja conectado à rede telefônica, ou
uma central internacional com acesso a conexões via satélite.
Um cancelador de eco contém um calculador de eco com lógica de controle. O
calculador serve como um filtro linear que filtra os sinais de eco dentro do sinal
composto. Os canceladores de eco também contêm um circuito de subtração e um
circuito de corte26 . Veja a Figura A.4.48.

Figura A.4.48 Cancelador de eco

Tratando a dispersão
Uma fibra especial pode ser usada para enfrentar a dispersão. A fibra com dispersão
deslocada (fibra DS) é monomodo modificada e melhorada. A dispersão possui um
mínimo que foi deslocado do comprimento de onda de 1.300 nm para 1.550 nm.

26
NR - “clipping circuit”.

Ericsson Telecomunicações 193


Entendendo Telecomunicações 1

Tanto a dispersão mínima quanto a atenuação mais baixa ocorrem no mesmo


comprimento de onda. A fibra DS é mais ou menos um requisito para a futura
transmissão com velocidades binárias de 10 Gbit/s e mais altas.

Figura A.4.49 Fibra óptica com dispersão deslocada

4.4 Uso eficiente do meio de transmissão


Nesta seção, será descrito em maior detalhe o seguinte:
· Multiplexação. A multiplexação avançada por divisão de tempo torna possível
produzir comercialmente sinais multiplexados de até 10 Gbit/s. A capacidade será
aumentada ainda mais por meio da multiplexação por divisão de comprimento de
onda no cabo de fibra óptica.
· Modulação. Nos sistemas digitais, a eficiência da modulação é, às vezes, expressa
em bits por segundo em relação a uma determinada largura de faixa analógica em
Hz (veja “Combinações de modulação” na Subseção 4.4.2).
· Técnica da transmissão com capacidade eficiente para o cobre. Um objetivo é
transmitir programas de TV ou vídeo em pares de cobre.

4.4.1 Multiplexação
A multiplexação é usada para reduzir os custos de transmissão – vários canais ao
longo da mesma rota compartilham o mesmo meio de transmissão, tal como a fibra
óptica. Agora nos familiarizaremos com três hierarquias padronizadas de
multiplexação, cada uma baseada na multiplexação por divisão de tempo:
· PDH, hierarquia digital plesiócrona;
· SDH, hierarquia digital síncrona; e
· SONET, rede óptica síncrona.

194 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

O conceito hierarquia se refere à multiplexação de níveis de capacidade em que, em


vários passos, uma quantidade de níveis mais baixos forma um nível mais alto. O
PDH, desenvolvido nos anos 50 e 60, foi colocado em serviço a partir dos anos 70, no
mundo inteiro. À medida que os desenvolvimentos no campo de semicondutores
permitiam velocidades binárias cada vez mais altas, foram padronizados níveis mais
altos de multiplexação.
Em meados dos anos 80, foi iniciada a padronização do SONET nos EUA. Uma das
razões para essa padronização foi promover a competição entre os fabricantes de
equipamentos ópticos. Em 1988, a CCITT (atualmente conhecida como a ITU-T)
estabeleceu um novo padrão mundial, baseado no SONET, para multiplexação de
sinais digitais. O novo padrão foi chamado de SDH. O PDH, o SDH e o SONET são
todos baseados nos canais digitais de voz de 64 kbit/s, da técnica PCM.

Hierarquia digital plesiócrona


O PDH é a técnica de transmissão muito difundida em quantidade e geograficamente,
porém em desuso em face do advento da SDH. O PDH se desenvolveu num período
em que o fornecimento de telesserviços consistia quase inteiramente em telefonia.

O nível de primeira ordem


Na Europa27 , 31 canais e uma palavra de alinhamento de quadro são multiplexados
em um fluxo de 2.048 kbit/s, que foi designado como sistema de 2 megabits ou E1. O
padrão europeu é usado na maior parte do mundo. Na América do Norte e no Japão,
24 canais de voz e um bit de alinhamento de quadro são multiplexados em 1.544 kbit/s,
chamado de sistema de 1,5 megabits ou T1. A divisão de tempo empregada é intercalada
por bytes, significando que blocos de oito bits do mesmo canal são encontrados no
fluxo multiplexado. Uma conexão de 1,5 ou 2 Mbit/s é também chamada de enlace
PCM, enquanto a formação estrutural é chamada de quadro PCM. Veja a Figura
A.4.50.

27
NR - também no resto do mundo, excetuados EUA, Canadá e Japão.

Ericsson Telecomunicações 195


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.50 O quadro PCM

Os 125 microssegundos são o resultado da amostragem de cada canal de voz 8.000


vezes por segundo (8.000 Hz), isto é, o tempo do ciclo é 1/8.000 = 125·10-6 segundos.
Após a multiplexação de primeira ordem, os canais de voz compartilham esse tempo.
Na variante européia, o primeiro canal – primeiro intervalo de tempo – é usado para a
sincronização de quadro. O intervalo de tempo 16 pode ser usado para sinalização ou
para tráfego, e todos os outros intervalos de tempo são usados para o tráfego,
usualmente de comunicação de voz. O sistema de sinalização Nº 7 (SS7) pode usar
qualquer intervalo de tempo, exceto TS0. No quadro PCM americano, com 24
intervalos de tempo, não foi atribuído qualquer intervalo de tempo especial para a
sinalização. Em vez disso, em cada sexto quadro, um bit de cada intervalo de tempo
é substituído por informação de sinalização. O bit substituído corresponde ao bit
menos significativo da amostra. Como conseqüência, somente sete dos oito bits podem
ser usados de forma transparente, por meio da rede. Por isso, a capacidade básica para
a comunicação de dados é de 56 kbit/s nas regiões que usam o padrão T1 e não 64
kbit/s como ocorre no padrão E1.

Níveis de ordem mais elevada


O nível de multiplexação de primeira ordem foi desenvolvido para usar, de forma
eficiente, os cabos de cobre existentes nas redes de tronco, especialmente nas áreas
metropolitanas. Os novos níveis de multiplexação com velocidades binárias mais
altas foram criados para tornar as redes de tronco ainda mais eficientes. As hierarquias
de multiplexação desenvolveram-se independentemente umas das outras na América
do Norte (padrão ANSI), na Europa (padrão CEPT) e no Japão. Veja a Figura A.4.51,
que ilustra o resultado do isolamento comercial entre essas áreas. Os níveis europeus
são chamados de E-1 e E-2, os níveis americanos de T-1, T-2 e assim por diante.

196 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Figura A.4.51 As três hierarquias digitais plesiócronas

Existe uma hierarquia adicional para a transmissão transatlântica – uma híbrida entre
as hierarquias americana e européia. A hierarquia européia é usada quase em toda
parte do mundo, exceto na América do Norte e no Japão.

Figura A.4.52 Multiplexação e demultiplexação de e para o PDH de nível dois

Ao contrário da multiplexação de primeira ordem, todas as multiplexações de ordem


mais elevada são intercaladas por bits. O quarto nível possui a mesma velocidade
binária ( (139.264 kbit/s) na Europa e na América do Norte, entretanto, como os
fluxos são multiplexados de maneiras diferentes, as multiplexações não são
compatíveis. Além do mais, a voz também é codificada de modo diferente. O silêncio
é representado por uns na América do Norte e por zeros na Europa, o que significa
que cada canal de 64 kbit/s tem de ser novamente codificado nas conexões
transatlânticas.

Ericsson Telecomunicações 197


Entendendo Telecomunicações 1

Um multiplexador digital é usado para multiplexar e demultiplexar os fluxos da PDH.


Veja a Figura A.4.52. Um multiplexador digital de segunda ordem multiplexa o fluxo
da PDH para o segundo nível da PDH isto é, para 8 ou 6 Mbit/s.
A estrutura da PDH é “rígida”. Para reagrupar e derivar tributários (por exemplo, 2, 8
ou 34 Mbit/s) de um fluxo principal (tal como de 140 Mbit/s), o fluxo principal tem
de ser demultiplexado passo a passo até o nível do tributário desejado e, em seguida,
multiplexado de volta para o nível do fluxo principal desejado. O reagrupamento é
feito manualmente em um quadro de distribuição digital (DDF). Veja a Figura A.4.53.
Os multiplexadores e os quadros de distribuição digital podem ocupar um espaço
considerável em uma central telefônica.

Figura A.4.53 Quadro de distribuição digital

Tributários plesiócronos
Cada multiplexador (transmissor) e o correspondente demultiplexador (receptor)
devem ser sincronizados – funcionar no mesmo passo – para que o receptor não
ignore qualquer bit, ou leia qualquer bit duas vezes. Quando essas unidades de
transmissão digital foram inicialmente introduzidas, formaram – junto com os sistemas
digitais – “ilhas digitais” numa rede que era analógica, sob outros aspectos. O requisito
por exatidão de freqüência era certamente moderado. Em vez disso, foram criados
métodos para tratar as várias freqüências dos tributários, durante a multiplexação.
Todos os tributários do mesmo nível têm a mesma velocidade binária nominal, mas
com um desvio permitido e especificado. Por exemplo, a um tributário de 2.048 kbit/
s é permitido desviar ±100 bit/s. Os tributários são plesiócronos, isto é, possuem
quase a mesma velocidade binária. A fim de permitir a multiplexação de tributários
plesiócronos, usam-se bits extras – chamados bits de justificação e bits de controle –
no fluxo multiplexado. Veja a Figura A.4.54.

198 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Um tributário com uma velocidade binária um pouco maior (tal como 2.048 kbit/s)
usa os bits de justificação mais freqüentemente do que um tributário mais lento (tal
como 2.047,95 kbit/s). O bit de controle é usado para informar ao receptor se o bit de
justificação correspondente é usado ou não (é parte do tributário). Via de regra, cada
bit de justificação possui vários bits de controle, a partir dos quais é alcançada uma
decisão majoritária. Isso melhora as oportunidades para manter a freqüência do
tributário, caso ocorra um erro de bit, uma vez que mais do que um bit de controle
deva estar errado, antes que a freqüência seja perturbada.

Figura A.4.54 Bits de justificação na multiplexação de tributários plesiócronos

A intercalação de bits e os bits de justificação são usados durante cada passo de


multiplexação para um nível mais alto. De fato, a partir da primeira justificação, os
tributários individuais de 2 Mbit/s não são mais distinguidos facilmente. Todos os
níveis intermediários devem ser tratados quando um nível mais alto for demultiplexado
para um nível mais baixo; por exemplo, de 140 Mbit/s para 2 Mbit/s.

Aspectos de rede
Uma rede PDH consiste em várias conexões ponto a ponto que, usualmente, terminam
num equipamento de multiplexação. A qualidade é medida enlace a enlace, tornando
mais difícil a medição de uma conexão de 2 Mbit/s de uma cidade para outra, uma vez
que normalmente a conexão consiste em vários enlaces.
O cabo coaxial, o cabo de fibra óptica e os enlaces de rádio são usados como meio de
transmissão para sistemas PDH acima de 2 Mbit/s. Desde o início dos anos 80, a fibra
assumiu gradualmente o papel do cabo coaxial, como o meio físico na rede de troncos.

Ericsson Telecomunicações 199


Entendendo Telecomunicações 1

A PDH não está totalmente padronizada. Por exemplo, a forma física do sinal de
linha e a utilização dos campos dos bits de operação e manutenção podem variar entre
diferentes fornecedores de equipamento.

Hierarquia digital síncrona, SDH


O nascimento da hierarquia de multiplexação SDH é o resultado de requisitos de
transmissão mais rigorosos. Nos anos 70, a PDH representava um movimento
revolucionário em direção à tecnologia digital. A característica mais importante da
SDH é a introdução do gerenciamento, o que facilita:

· o controle centralizado remoto de elementos de rede;


· incremento do uso da rede física; e
· o menor prazo de entrega para linhas alugadas.

A introdução da SDH viu surgir o estabelecimento de um novo termo – rede de


transporte – que designa o novo tipo de rede de transmissão controlável.
A centralização do gerenciamento da rede, intensificação do uso da rede e diminuição
dos prazos de entrega possibilitam à operadora reduzir os custos de operação e
manutenção. A SDH é uma hierarquia de multiplexação, padronizada para tributários
tanto plesiócronos como síncronos, que possibilita o transporte de, por exemplo, fluxos
PDH de 2 ou 34 Mbit/s.
A multiplexação é intercalada por octetos e não usa bits de justificação, o que torna os
tributários individuais “visíveis” e disponíveis no fluxo SDH multiplexado. Os níveis
de hierarquia na SDH podem ser divididos em dois grupos: níveis de multiplexação e
níveis de sinal de linha. Os níveis de multiplexação possuem seus equivalentes
chamados de containers virtuais (VC) e os níveis do sinal de linha são construídos
por módulos de transporte síncronos (STM).

Níveis de multiplexação com containers virtuais


Os tributários de 1.544 até 139.264 kbit/s serão sincronizados, caso necessário, com
bits de justificação e, em seguida, empacotados em containers de tamanhos
padronizados. A informação de controle e de supervisão, conhecida como “path
overhead” (POH), será adicionada aos containers. A soma será um container virtual
(VC). Para descrever o tamanho de um VC – isto é, qual o nível PDH que o container
pode transportar – usa-se o número que designa o nível da PDH: VC-4 para 140 Mbit/
s e VC-3 para 34 ou 45 Mbit/s. Existem dois containers virtuais diferentes para a
PDH de nível 1: um para 2 Mbit/s, chamado VC-12, e um para o 1,5 Mbit/s americano,
chamado VC-11. Veja a Figura A.4.55.

200 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Figura A.4.55 De 2 Mbit/s para STM-1 (simplificado)

Uma quantidade de VCs pode ser empacotada em um VC maior, ao qual também é


adicionado o “path overhead”. Junto com a informação adicional de controle e
supervisão – chamada “section overhead” (SOH) – esse tipo de VC de ordem superior
forma um módulo de transporte.

Níveis de sinal de linha com módulos de transporte


O módulo de transporte corresponde ao sinal de linha, isto é, corresponde ao fluxo de
bits transferido pelo o meio entre dois nós de rede. A velocidade binária é de 155,52
Mbit/s, ou múltiplo dessa velocidade binária. Os módulos de transporte – chamados
STM-N, em que N é 1, 4, 16 ou 64 – descrevem o tamanho do módulo e sua capacidade.
A velocidade binária é N vezes 155,52 Mbit/s.
A Figura A.4.56 mostra como o módulo é composto por octetos, ilustrados como um
retângulo com 9·N linhas e 270·N colunas de octetos, ou 2.430·N octetos.
Podemos considerar o STM-1 como um grande quadro PCM com 2.430 intervalos de
tempo. Os octetos são enviados da esquerda para a direita, iniciando na primeira
linha; depois, da esquerda para a direita na próxima linha, e assim sucessivamente. O
último octeto do primeiro módulo será seguido pelo primeiro octeto do próximo
módulo. Nota: a transmissão é serial, e um módulo é igual a vários canais intercalados
por octetos de 64 kbit/s. A duração do módulo é de 125 µs – tal como o quadro PCM.
Conseqüentemente, encontraremos uma amostra de cada conversação telefônica em
cada quadro.

Ericsson Telecomunicações 201


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.56 Módulo de transporte geral, STM-N

O STM-1 possui três campos principais:

· “section overhead” (SOH);


· carga útil (um VC-4 ou três VC-3s);
· um ponteiro AU (unidade administrativa), que especifica onde a carga útil (o VC-
4 ou os VC-3s) se inicia.

Os módulos de ordem superior (tais como o STM-4 e o STM-16) têm campos SOH
maiores, e suas cargas úteis consistem em AU-4s intercaladas por octetos.

Ponteiro
O ponteiro AU possibilita flexibilizar a posição de um VC de ordem superior em
relação ao “quadro” do módulo de transporte. A posição do ponteiro, ao contrário, é
sempre fixa. A posição de cada octeto no STM possui um número, e o ponteiro AU
contém o número do octeto, em que o VC se inicia.
Similarmente, um VC de ordem inferior incluído como parte de um VC de ordem
superior, tal como um VC-12 em um VC-4, tem uma posição fixa ou flexível. Os
ponteiros tornam possível a posição flexível.
Quando os ponteiros são usados em dois níveis, podemos compensar as diferenças de
fase, ou de freqüência, entre diferentes VCs no mesmo STM, e entre VC e STM. Os
ponteiros no STM cumprem a mesma função que os bits de justificação na PDH.
Apesar de uma rede SDH, inteiramente síncrona, não requerer uma justificação de
ponteiro, as variações da temperatura e dos diferentes comprimentos de cabo sempre
causam diferenças que devem ser compensadas.

202 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Um VC de ordem inferior mais o correspondente ponteiro são chamados de unidade


tributária (TU); um VC de ordem superior mais seu ponteiro correspondente são
chamados de unidade administrativa (AU).

Figura A.4.57 O VC-4 tem uma posição flexível no STM-1

Rede de transporte física e lógica


A fibra óptica é principalmente usada para a transmissão SDH. Os sistemas de rádio
enlace digital também são usados. A rede SDH possui uma parte física e fixa que
consiste em elementos de rede, fibra e sistemas de rádio enlace – em princípio,
elementos tangíveis – e uma parte lógica que consiste em vias que, no que se refere a
suas extensões, podem ser controladas a partir de um sistema de apoio de operações.
Dentro da estrutura das conexões físicas disponíveis para a rede SDH (por exemplo,
entradas de 2 Mbit/s) e da capacidade de enlace instalada (tal como o STM-4), é
possível mudar os pontos físicos extremos de uma determinada via.
Supondo que uma via de 2 Mbit/s seja estabelecida entre uma porta física na cidade A
e uma porta física na cidade B. Pressionando apenas algumas teclas, uma operadora
de rede pode mudar a via de maneira que ela seja estabelecida entre a porta na cidade
A e uma outra porta (conectada fisicamente) na cidade C. Veja a Figura A.4.58.

Ericsson Telecomunicações 203


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.58 Exemplo de uma rede física

Gerenciamento
A rede SDH física está dividida em seções repetidoras (RS) e seções multiplexadoras
(MS), enquanto a rede SDH lógica está dividida em vias de ordem inferior e superior.
Uma via representa a distância entre os pontos onde um VC é formado e onde termina.
Uma seção é a distância entre dois elementos de rede. Veja a Figura A.4.59.
Uma via de ordem superior corresponde a um VC, formado por uma quantidade de
VCs de ordem inferior. Por exemplo, um VC-4 composto por sessenta e três VC-12s
pertence a uma via de ordem superior. Porém, um VC-4 que transporta diretamente
um fluxo PDH de 140 Mbit/s pertence a uma via de ordem inferior e, nesse caso,
nenhuma via de ordem superior será usada. A informação específica de gerenciamento
está associada a cada subseção. Essa informação é chamada “overhead”. Veja a Figura
A.4.56:

· “overhead” de via (POH);


· “overhead” de seção de multiplexador (MSOH); e
· “overhead” de seção de repetidor (RSOH).

A POH é encontrada em VCs de ordem inferior e superior. A MSOH é acessível a


todos os elementos de rede, exceto aos regeneradores. A RSOH é usada por todos os
elementos de rede em uma rede SDH, incluindo os regeneradores.

204 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Seguem alguns exemplos da informação encontrada nos campos de “overhead”.


A RSOH contém:

· palavras de alinhamento de quadro, que indicam quando se inicia um novo módulo


de transporte;
· bits de paridade, para medir erros de bit (qualidade de transmissão); e
· canais de comunicação, para transferir informações de controle aos elementos de
rede.

A MSOH contém:

· bits de paridade;
· canais de comunicação; e
· informações para a comutação de proteção automática.

A POH contém:

· informações sobre a composição do VC;


· bits de paridade; e
· informações de alarme.

Figura A.4.59 Seções e vias

Ericsson Telecomunicações 205


Entendendo Telecomunicações 1

Elementos de rede
Os elementos de rede na SDH podem ser divididos em:

· distribuidores automáticos digitais;


· multiplexadores; e
· regeneradores.

Iniciemos com o elemento menos complicado, o regenerador, que é chamado de um


repetidor intermediário (IR). O repetidor intermediário regenera o sinal de linha e
pode receber e enviar informações, via canais de comunicação no campo RSOH do
sinal de linha.
Existem dois tipos de multiplexador SDH: multiplexador de terminal (TM) e
multiplexador “add/drop” (ADM). Veja a Figura A.4.60. Um TM multiplexa e
demultiplexa tributários PDH e SDH de e para um STM-N comum. Por exemplo,
sessenta e três tributários de 2 Mbit/s conectados podem ser multiplexados para um
STM-1; similarmente, três STM-1 mais sessenta e três tributários de 2 Mbit/s podem
ser multiplexados para um STM-4.

Figura A.4.60 Multiplexadores e um distribuidor automático digital

Um ADM adiciona tributários e extrai tributários de um STM-N. Um VC opcional


pode ser conectado – em qualquer direção – a cada porta conectada fisicamente
(digamos de 2 Mbit/s). Para esclarecer qual a velocidade binária da linha em referência,
o TM e o ADM são muitas vezes suplementados com essa informação adicional. Por
exemplo, ADM 155 significa que o equipamento adiciona os tributários a – e deriva
os tributários de – um STM-1 que possui uma velocidade binária de 155,52 Mbit/s.
O distribuidor automático digital (DXC = digital cross-connect) é o elemento de rede
SDH mais avançado. Veja a Figura A.4.60. O DXC é usado para rearranjo de conexões,
a fim de satisfazer as variações da demanda de capacidade na operação normal, e para

206 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

realizar a comutação de proteção no caso de uma ruptura de cabo. Um distribuidor


automático digital pode ter uma capacidade de conexão equivalente a várias centenas
de STM-1s.
A distribuição automática digital significa que a conexão é estabelecida e liberada
pela operadora da rede (possivelmente por meio de controle a programa armazenado),
mas não por meio da sinalização de assinante (discagem de algarismos), como no
caso da comutação. O DXC é um termo geral que pode ser designado por dois dígitos.
DXC m/n significa um distribuidor automático digital com m, como o nível mais alto
de conexão na hierarquia PDH, e n como o nível mais baixo de interconexão. Na
designação DXC 4/1, por exemplo, ‘4’ significa que o nível mais alto de conexão é o
quarto nível na hierarquia PDH (140 Mbit/s), mas que o nível SDH, correspondente,
também pode ser conectado (STM-1). ‘1’ significa que o DXC pode interligar todo o
caminho até o nível VC-1, isto é, ao nível de enlace PCM ( (1,5 ou 2 Mbit/s). Veja a
Figura A.4.61.

Figura A.4.61 DXC 4/1

Uma interpretação mais recente de m é que ele indica o nível mais alto de interconexão,
permitindo-nos manter o conceito familiar 4/1, mesmo quando o equipamento estiver
provido com entradas de STM-4, ou superior.
O desenvolvimento está se movendo na direção de elementos de rede que contêm
funções tanto de ADM quanto de interconexão.

SONET
A SONET é um padrão americano para multiplexação síncrona. Veja a Figura A.4.62.
O padrão foi produzido principalmente para criar uma interface óptica independente
de fornecedor e, com isso, promover a competição. Os esforços para padronizar a
SONET foram bem aproveitados, posteriormente, quando a ITU-T padronizou a SDH.
Em princípio, a SDH é uma extensão internacional da SONET.

Ericsson Telecomunicações 207


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.62 Velocidades binárias na SONET comparadas com a SDH

Entretanto, existem diferenças entre as duas. A velocidade binária de linha básica na


SONET é de 51,84 Mbit/s, ou um terço dos 155,52 Mbit/s da SDH. Isto significa que
o maior tributário PDH na SONET é o nível hierárquico americano de 45 Mbit/s,
comparado com os 140 Mbit/s da PDH usual.
A terminologia na SDH e na SONET é similar e em alguns casos, idêntica. A SONET
possui o equivalente ao STM da SDH, que nela se denomina sinal de transporte
síncrono (STS = Synchronous Transport Signal).

4.4.2 Modulação
A modulação é a técnica que permite à informação ser transferida como alterações
em um sinal de transporte de informação. A modulação é usada tanto para a informação
analógica como para a digital; no caso da informação analógica, ela é efetuada
continuamente (transição suave). No caso da informação digital, ela é efetuada passo
a passo (alterações de estado). A unidade que realiza a modulação e a correspondente
demodulação é chamada modem. Na transmissão analógica da informação, são usadas
modulações de amplitude e modulações de freqüência. Veja a Figura A.4.63.
A modulação de amplitude é usada para transmitir voz analógica (300 – 3.400 Hz)
modulada nas freqüências de rádio, em torno de 450 MHz no sistema nórdico de
rádio móvel NMT 450, e para transmitir imagens de TV nas redes de TV a cabo. A
modulação de freqüência é usada para a radiodifusão na banda de FM (por isso o
termo FM), para o canal de som de TV e para certos sistemas de comunicação móvel.

208 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Figura A.4.63 Modulação de amplitude e de freqüência

Transmissão digital de informação


A modulação torna possível transmitir informações binária e digital (uns e zeros)
para portadoras analógicas (tais como ondas de luz e de rádio). A transmissão digital
é de fato uma transmissão analógica de informação digital. No processo de modulação,
um bit (ou um grupo de bits) é traduzido em rápidas alterações de estado, tais como
mudanças de amplitude ou de fase. Os métodos básicos de modulação são:

· modulação por mudança de amplitude;


· modulação por mudança de freqüência; e
· modulação por mudança de fase.

Em muitos casos, o propósito da modulação é introduzir tantos bits por hertz quanto
possível; por exemplo, em uma linha telefônica com filtro passa faixa (300 – 3.400
Hz) ou em uma faixa limitada de freqüência de rádio.
A Figura A.4.64 mostra como a mudança de amplitude, de freqüência ou de fase
transporta informação digital.

Ericsson Telecomunicações 209


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.64 Modulação por mudança para a informação transmitida na forma


digital

A modulação por mudança de freqüência é também chamada “frequency-shift keying”


(FSK). Similarmente, um outro nome para a modulação por mudança de fase é “phase-
shift keying” (PSK). Na modulação por mudança de fase, a fase é mudada de forma
diferencial em relação à fase anterior (por exemplo, +900 para 0, e +2700 para 1), ou de
forma absoluta, caso em que cada estado de modulação é representado por uma fase
específica (00 para 0, e +1800 para 1) em relação a uma fase nominal (uma que seja
conhecida tanto pelo transmissor como pelo receptor). A variante diferencial admite
equipamentos de demodulação menos complicados, razão pela qual é mais comum.
Uma variante não complicada da modulação de amplitude é usada para a transmissão
por fibra óptica: luz ligada (amplitude total) ou luz desligada (nenhuma amplitude).
Veja a Figura A.4.65.

Figura A.4.65 Modulação ligada/desligada de luz em uma fibra óptica

210 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

Velocidade binária e taxa de modulação


Distinguimos a velocidade binária da taxa de modulação. Como devemos saber,
velocidade de bit (a largura de faixa digital) é especificada pela unidade bit/s – isto é,
pelo número de uns e zeros transferidos por segundo. A taxa de modulação especifica
o número de possíveis mudanças de estado por unidade de tempo. A unidade baud,
que é uma forma menos complicada de expressar “estados de modulação por segundo”,
é usada para indicar a taxa de modulação.
Se usarmos um método de modulação que compreende quatro estados diferentes,
cada estado representa então uma combinação de dois bits, e todas as combinações
estarão cobertas: 00, 01, 10 e 11. Veja a Figura A.4.66.

Figura A.4.66 Um sinal modulado por mudança de fase com quatro estados

Uma vez que cada estado representa dois bits, o valor do baud é a metade do valor de
bit/s; portanto, 1.200 baud é igual à velocidade binária de 2.400 bit/s. Nos modems
para 2.400 bit/s, são usados quatro estados diferentes de mudança de fase. A freqüência
portadora é de 1.800 Hz.
Conseqüentemente, 16 estados diferentes de modulação, ou quatro bits por estado, à
mesma velocidade binária de 2.400 bit/s, dará a taxa de modulação de 600 baud.

Combinações de modulação
Em muitos casos são combinados os métodos básicos de modulação por mudança de
amplitude, de fase e de freqüência. O sistema de telefonia móvel GSM, para dar um
exemplo, usa uma mistura de mudança de fase e mudança de freqüência.
A combinação da modulação por mudança de amplitude com a modulação por mudança
de fase é chamada de modulação de amplitude de quadratura (QAM). Essa combinação
permite mais bits por hertz do que os métodos são capazes de transmitir separadamente.
A Figura A.4.67 mostra a QAM com 16 estados de modulação, que são combinações
de oito alterações de fase e oito alterações de amplitude.

Ericsson Telecomunicações 211


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.67 QAM com 16 estados de modulação

Os modems QAM são usados tanto para conexões de rádio enlace como para linhas
telefônicas analógicas. Nos modems de 19,2 kbit/s usa-se a QAM com 256 estados de
modulação, o que dá 19.200/8 = 2.400 baud e a “densidade de informação” de 19.200/
(3.400-300) = 6,2 bit/Hz.

Transmissão de faixa básica


Não é sempre necessário usar modulação ao transmitir informação sob forma digital.
Em uma conexão metálica (cobre) com uma faixa de freqüência larga o suficiente
para a velocidade binária a ser transmitida, podemos enviar uma informação de linha
codificada (pulsos) sem modulação. Esse método – chamado transmissão de faixa
básica – é usado sempre que possível; por exemplo, nas redes privadas locais (LANs)
e nos enlaces públicos com PCM de 2 Mbit/s para cabo de pares.
Apesar de nem a modulação e nem a demodulação estarem envolvidas, o equipamento
de faixa básica é, às vezes, chamado de “modem” de faixa básica.

4.4.3 Técnica de transmissão com capacidade


eficiente para o cobre
Até hoje, ainda não utilizamos plenamente a capacidade potencial do cabo de cobre.
As duas técnicas de transmissão que fazem o melhor uso da capacidade do cobre são
a HDSL e a ADSL.

HDSL
A HDSL (linha de assinante digital com alta velocidade binária) é uma técnica nova e
eficiente para a implementação de sistemas PCM de 2 Mbit/s na rede de acesso. A principal
vantagem da HDSL é o maior alcance – de cerca de 1,5 km, usando o PCM tradicional de

212 Ericsson Telecomunicações


Técnicas de Transmissão

2 Mbit/s, para cerca de 4 km, usando a HDSL (em linhas de cobre com um diâmetro de fio
de 0,5 mm). A capacidade de 2.048 kbit/s é a mesma em ambos os sistemas. O maior
alcance de transmissão reduz de maneira considerável a necessidade de regeneradores na
rede de acesso, reduzindo investimentos e custos de operação e manutenção.
O alcance é determinado principalmente por dois parâmetros de transmissão –
atenuação e diafonia – e ambos aumentam com a freqüência. A HDSL é baseada em
dois métodos diferentes de redução da largura de faixa do sinal de transmissão:
dividindo a transmissão entre diferentes pares de fios, com dúplex pleno (transmissão
bidirecional) em cada par, e usando um código de linha (2B1Q) que desloca a
distribuição espectral do sinal de informação em direção às freqüências mais baixas.
Dois sistemas HDSL foram propostos pelo ETSI: a capacidade é compartilhada por
dois ou três pares de fios. Veja a Figura A.4.68. Os três pares de fios oferecem maior
alcance, mas requerem um par de fios a mais do que o sistema PCM tradicional.

Figura A.4.68 HDSL de 2 Mbit/s com dois e três pares de fios

Na América do Norte, onde os sistemas PCM de primeira ordem possuem uma


capacidade de transmissão de 1,5 Mbit/s, usa-se a HDSL com dois pares com 784
kbit/s por par. A HDSL foi projetada para o segmento de acesso da rede, mas também
pode substituir fluxos de 1,5 e de 2 Mbit/s em outras partes da rede.

ADSL
Uma conexão simétrica possui a mesma capacidade de transmissão em ambas as
direções; por exemplo, 2 Mbit/s de A para B e 2 Mbit/s de B para A. As conexões
PCM e as conexões HDSL são simétricas.
A ADSL (linha de assinante digital assimétrica) é uma técnica de transmissão que
permite a transmissão de vídeo em linhas telefônicas tradicionais de assinante com
apenas dois fios. A transmissão da informação é assimétrica, o que significa que a
capacidade de transmissão em uma direção é maior do que na outra direção. Graças à
transmissão assimétrica, as conexões com uma largura de faixa limitada podem ser
usadas de modo eficiente para os serviços interativos que não requerem a mesma
capacidade em ambas as direções. Veja a Figura A.4.69.

Ericsson Telecomunicações 213


Entendendo Telecomunicações 1

Figura A.4.69 Vídeo a pedido com ADSL

Com a ADSL, o vídeo pode ser transmitido de uma central local para um usuário,
enquanto as informações de controle de 16 ou de 64 kbit/s podem ser transmitidos na
outra direção, sem que influenciem a disponibilidade de um canal bidirecional para a
telefonia ou de um acesso básico de ISDN (2B+D).
A Figura A.4.70 mostra um exemplo de técnica ADSL que emprega a faixa de
freqüências não usada acima da faixa de freqüências de voz.
O sistema ADSL está disponível em diferentes velocidades binárias, em que o alcance
é determinado pela capacidade desejada. Em uma boa rede de cobre, o alcance
aproximado da ADSL é de 4,5 – 5 km para 2 Mbit/s, 2,5 – 3 km para 6 Mbit/s e 5,5
km para 1,5 Mbit/s. Essa técnica está sendo desenvolvida para proporcionar velocidades
binárias ainda maiores.

Figura A.4.70 Espectro de freqüências para a ADSL de 1.5 Mbit/s sobre dois fios

214 Ericsson Telecomunicações

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