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DO ENSINO DA
LINGUAGEM
Roberta Spessato
História da língua
portuguesa: alguns
apontamentos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Um dos maiores desafios das aulas de português diz respeito, sem dú-
vida, ao tratamento que o professor deve dar à variação linguística e aos
saberes gramaticais. Para que os desafios não sejam tão perturbadores,
é preciso conhecer não somente a origem da língua portuguesa, mas
também contrastá-la com a sua história no Brasil.
Neste capítulo, você vai estudar a origem da língua portuguesa. Você
também vai ver quais são as principais diferenças entre a língua portu-
guesa europeia e a brasileira. Além disso, vai conhecer alguns contrastes
entre ambas.
Essa situação perdurou boa parte do século XVIII, mas a coroa não ima-
ginava que o Brasil, no século XIX, seria oficialmente a sua nova casa. Em
1808, após a invasão francesa, enquanto a Inglaterra combatia os franceses
em Portugal, a corte portuguesa se instalou no Brasil.
A história da língua portuguesa, a partir dessa data, é demarcada por uma
nova fase, da qual fez parte a expansão oficial do português culto de Portugal,
mas também a identidade nacional do português brasileiro como outra língua.
Conhecer a história da língua portuguesa europeia e a imposição linguística no
Brasil é fundamental para a compreensão do português brasileiro falado hoje.
História da língua portuguesa: alguns apontamentos 5
“apenas” com línguas africanas, mas também com outras nações europeias,
por exemplo, com os espanhóis, franceses, holandeses e ingleses. E isso se
refere apenas aos primeiros 300 anos desde o descobrimento. Inclusive, Mello,
Altenhofen e Raso (2011, p. 13) afirmam que, “[...] ao longo dos mais de
cinco séculos depois do descobrimento, no território brasileiro, conviveram,
comunicaram e se misturaram populações ameríndias, europeias, africanas e
asiáticas. Se a língua-teto foi o português, essa língua conviveu e ainda convive
em lugares e domínios do repertório com muitas outras [...]”.
Battisti (2014) afirma que foi no Brasil colonial que se consagrou a iden-
tidade nacional, sustentada pela tríade branco, índio e negro. Além disso,
para a autora, foi também no plano linguístico que surgiram características
definidoras do português brasileiro, como a colocação de pronomes antes do
verbo em início de sentença (“Me viu” em lugar de “Viu-me”).
Na visão de Mello (2011), a língua portuguesa se consolidou no Brasil após
a vinda da família Real, em 1808, e a ampliação da escolarização no século
XIX. Além disso, para Andreazza e Nadalin (2011), a descoberta do ouro no
século XVIII atraiu a vinda espontânea de outros colonos portugueses sedu-
zidos pela possibilidade de enriquecer com a mineração, o que favoreceu a
ocupação em lugares até então não colonizados, como Goiás e Mato Grosso.
E, obviamente, se fez necessária uma nova leva de importação de africanos.
A situação inicial de plurilinguismo foi gradualmente desaparecendo, e
o português, paulatinamente, passou de língua oficial a língua efetivamente
falada por uma população mestiça, na qual o branco sempre ocupou o topo
da hierarquia social. Calvet (2002) afirma que existe um conjunto de atitudes
e sentimentos dos falantes para com as suas línguas, para com as variedades
de línguas e para com aqueles que as utilizam. Ou seja, se o homem branco,
português, ocupa o topo da hierarquia social, a tendência é que a sua língua
seja instaurada paulatinamente na sociedade.
africanos e por povos indígenas. Tal língua foi alterada pela influência de outras
nações europeias desde o início da colonização e continuou em permanente
evolução por meio de outros contatos linguísticos que ocorreram após 1822.
A partir da independência, segundo Andreazza e Nadalin (2011), construía-
-se uma nova sociedade, em que o objetivo era povoar e branquear a nação,
ou seja, o imigrante passou a ser extremamente necessário para “trazer o pro-
gresso” e “domar o interior selvagem”. O desenrolar desse propósito permitiu
que, desde o final do século XIX e em grande parte do século XX, entrassem
mais de cinco milhões de estrangeiros no Brasil. Ou seja, entre meados de
1820 e 1970, houve a entrada de imigrantes italianos, alemães, espanhóis,
ucranianos, poloneses e japoneses para ocupar pequenas propriedades em
colônias, principalmente no Sul do País.
No entanto, a entrada dos imigrantes, embora tivesse o objetivo de bran-
quear a nação, nem sempre foi vista com bons olhos. Segundo Croci (2011), a
abolição da escravidão, em 1888, ocorreu devido a um significativo movimento
de desobediência dos escravizados, resultando na fuga em massa dos afro-
descendentes. Os negros estavam montando suas comunidades quilombolas
e a mão de obra ficava cada vez mais escassa. Por questões de necessidade e
por pressão social de parte da sociedade intelectual abolicionista, a Lei Áurea
foi assinada.
Em função disso, o País viveu numa contradição entre os que detinham
o poder: enquanto os latifundiários apenas buscavam substituir o trabalho
escravo, a burocracia imperial e a intelectualidade estavam preocupadas com
o mapa social e cultural do País. Estas tinham como meta transformar a imi-
gração em um processo civilizatório, com o objetivo de construir a identidade
nacional. Elas se inspiravam em teorias sobre o branqueamento populacional
e almejavam a “melhora” da raça brasileira.
Croci (2011) afirma que a entrada de imigrantes europeus foi estratégica
para a operação de branqueamento da sociedade que estava em formação.
Mesmo que os imigrantes tivessem “ganhado terras”, as suas condições eram
subalternas; além disso, quando a sua cultura passou a ser inserida de maneira
efetiva na sociedade, mesmo brancos, antes desejados, passaram a ser indese-
jáveis. Em função das promessas não cumpridas e das péssimas condições de
trabalho, o fluxo de saída dos imigrantes europeus foi superior ao de entrada.
Dessa forma, em 1902, foi expedido, pelo governo italiano, o decreto Prinetti,
no qual o governo italiano afirmou que o governo brasileiro tratava seus
imigrantes como “escravos brancos”, proibindo a emigração subvencionada.
Por necessidade de mão de obra, o Brasil conseguiu firmar com o Japão
uma solução imediata. Portanto, em 1907, Brasil e Japão firmaram um acordo
8 História da língua portuguesa: alguns apontamentos
O português do Brasil é uma língua que tem uma unidade dentro da sua
variedade territorial, mas não tem tal unidade em relação ao seu antigo colo-
nizador. O contato do português no Brasil com diferentes línguas e culturas
resultou na identidade cultural e linguística desse idioma. Portanto, mesmo que
existam diferentes sotaques e variações no português brasileiro, a comunicação
é fluida entre um baiano, um carioca e um mineiro; entretanto, é possível e
provável que todos tenham dificuldade de se comunicar com os portugueses.
Ou seja, estão em jogo duas línguas diferentes que carregam a sua história, a
sua unidade e a sua identidade.
A morfologia verbal
Em Portugal, segundo Holm (2011), o pronome de tratamento “tu” é informal,
enquanto “você” é formal. No Brasil, os lugares que usam “tu” o conjugam
na terceira pessoa do singular, e os lugares que usam “você” o utilizam em
situações formais e informais. Além disso, os falantes brasileiros não utilizam
o pronome de sujeito “vós”. De acordo com Perini (2011), o pronome “vos”
está completamente extinto no Brasil. De maneira geral, há uma redução na
conjugação verbal no português brasileiro. Por exemplo:
Eu parto
Tu/você/ele parte
Nós partimos
Eu faço
Tu/você/ele/a gente faz
Vocês/eles fazem
No lugar de:
No lugar de:
Tempos verbais
O futuro do presente (“chegarei”), o mais-que-perfeito (“chegara”) e o futuro
do pretérito (“chegaria”), para Perini (2011), são praticamente inexistentes.
O autor afirma que a noção de futuro se expressa pelo presente do indicativo.
Por exemplo:
No lugar de:
No lugar de:
PERINI, M.A. Quadro geral do português do Brasil hoje. In: MELLO, H. R.; ALTENHOFEN, C.
V.; RASO, T. (org.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2011. p. 139–155.
SILVA, R. V. M. Tradição gramatical e gramática tradicional. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1996.
SOUZA, T. C. Língua nacional e materialidade discursiva. In: MELLO, H. R.; ALTENHOFEN, C.
V.; RASO, T. (org.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2011. p. 241–253.
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