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2o Semestre, parte 2

Professor Cláudio Luís Bueno de Godoy



DIREITO CIVIL

INVALIDADE
 2

NULIDADE
X
ANULABILIDADE
 3

NEGÓCIOS
JURÍDICOS
NULOS
 4

NEGÓCIOS
JURÍDICOS
ANULÁVEIS
 5

EFEITOS
DOS
NEGÓCIOS
JURÍDICOS
ANULADOS
 5

Artigo
181
 7

Artigo
180
 8

Artigo
183
 8

Artigo
184
 8


ATO
ILÍCITO
 10

INFRAÇÃO
À
LEI
 11

Ilícito
civil
x
Ilícito
penal
 11

REQUISITOS
DO
ATO
ILÍCITO
 11

EXCLUSÃO
DA
ILICITUDE
 14

ABUSO
DE
DIREITO
 15

A
BOA‐FÉ
 15

Teoria
dos
atos
próprios
 16

Suppressio
e
Surrectio
 16

Exercício
desequilibrado
de
direitos
 17


PRESCRIÇÃO
E
DECADÊNCIA
 19

PRESCRIÇÃO
 19

Prescrição
extintiva
 19

DISTINÇÃO
ENTRE
PRESCRIÇÃO
E
DECADÊNCIA
 21

REGRAS
DA
PRESCRIÇÃO
E
SUAS
RELAÇÕES
COM
A
DECADÊNCIA
 23

Renúncia
 23

Alteração
do
Prazo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







23

Tempo
para
alegação
 24

Reconhecimento
de
Ofício
 25

CAUSAS
SUSPENSIVAS
E
INTERRUPTIVAS
DE
PRESCRIÇÃO
 26

Diferenças
 26

Causas
Suspensivas
da
Prescrição
 27

Causas
Interruptivas
de
Prescrição
 32

PRAZOS
DE
PRESCRIÇÃO
 38

Prazos
 41


PROVA
DOS
NEGÓCIOS
JURÍDICOS
 48

NEGÓCIOS
JURÍDICOS
FORMAIS
 48

Documento
Público
 49

Documento
Particular
 51

NEGÓCIOS
JURÍDICOS
INFORMAIS
 53

Confissão
 53

Documentos
 54

Testemunhas
 55

Presunção
 56

Perícia
 57



 

CIVIL
–
Giselle
Viana


 


INVALIDADE

Para se verificar a validade, é preciso antes verificar-se a existência do negócio jurídico, lembrando que a
análise dos mesmos se dá pelos três planos lógicos sucessivos da existência, da validade e da efetividade. Para
que o negócio exista, ele depende de uma declaração de vontade externada em tais circunstâncias objetivas
que todos, socialmente, reconheçam que ali há uma vontade negocial (por exemplo, se Caio assinou um contrato
pois Tício o obrigou, segurando sua mão, ninguém cogitaria que ali houve uma declaração de vontade, portanto
o negócio não existiria). Essa vontade é vinculativa, gerando um negócio jurídico entre as partes.

DOUTRINA

•  Alguns autores recusam a diferença entre inexistência e invalidade, justificando-se


por dois principais motivos:
•  1o motivo (positivista): a inexistência não encontra-se disciplinada no Código. Isso,
porém, não é motivo suficiente para o não reconhecimento de uma realidade
ontológica!
•  2o motivo (pragmático): os casos de inexistência são teratológicos, e por isso, tão
excepcionais que podem ser tratados no campo da invalidade. Sob essa perspectiva,
não haveria uma diferença significativa entre invalidade e inexistência.

OBS: As vezes um Negócio Jurídico nulo, não obstante sua invalidez, pode produzir alguns efeitos. Exemplos:
casamento putativo, conversão negocial (pag. 5).

Há uma gradação de invalidade, de acordo com a gravidade do caso. Os casos mais graves são de
nulidade, enquanto os menos, de anulabilidade. O Critério adotado pelo legislador na determinação dessa
gravidade tem relação com os interesses afrontados. Nos casos de nulidade a afronta se dá primariamente
contra a ordem social como um todo, e não contra os particulares envolvidos. Já nas hipóteses de
anulabilidade, o primeiro interesse afrontado é o particular. Essa distinção é importante pois o tratamento
dado aos casos de nulidade difere do dado aos casos de anulabilidade:

“Nulidade é o estado do negócio que ingressou no mundo jurídico descumprindo requisitos de


validade considerados essenciais, de interesse social e ordem pública. (...) Dada a relevância e
gravidade da infringência, a ordem jurídica reage com todo o vigor, sendo a nulidade o grau
máximo da invalidade.”1






































































1 VELOSO, Zeno. Invalidade do Negócio Jurídico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 35.


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NULIDADE X ANULABILIDADE


Pode
ser
alegada

por
qualquer
 1

interessado;


O
juiz
pode

reconhece‐la
de
 2

ofício;

Nulidade


Não
se
confirma;
 3


É
imprescritível
e

não
se
convalida
 4

com
o
tempo.


1) Qualquer um pode alegar a nulidade, inclusive o Ministério Público (afinal, este é o representante por
excelência da sociedade); [art. 168] Por outro lado, a anulabilidade deve necessariamente ser alegada pelo
interessado (ou seja, não pode ser alegada por terceiros) através de uma ação própria (não pode ser decretada
de ofício, em um processo no qual não é objeto) [art. 177].

2) Via de regra, mesmo que ninguém alegue a nulidade, o juiz pode decretá-la de oficio (independentemente
de provocação). Isso desde que ele encontre a nulidade já provada (por exemplo, um negócio realizado por um
sujeito sem qualquer discernimento é nulo, mas o juiz só por reconhecer tal nulidade de ofício se a incapacidade
já estiver provada – se o sujeito, por exemplo, estiver interditado), mesmo que não seja o objeto do processo.

OBS: Há uma diferenciação entre nulidade absoluta e relativa. A nulidade absoluta é a nulidade
“padrão”, que segue às duas primeiras regra gerais mencionada acima. A nulidade relativa, por outro lado, é a
“exceção”, aquela que nem todo interessado pode alegar, e que o juiz não pode reconhecer de ofício. Alguns
autores enquadram a nulidade relativa no âmbito da anulabilidade. Exemplo: o tutor sem autorização não pode
vender bem do tutelado, mas não é qualquer interessado que pode alegar tal vício. Outro exemplo é o do
casamento.

3) Por ser mais grave, a nulidade não pode ser ratificada, confirmada, convalidada [art. 169]. Praticado um
Negócio Jurídico nulo não há "conserto", além é claro de praticá-lo novamente (uma compra e venda nula, por
exemplo, só produzirá efeitos normais a partir de quando refeita). Difere assim da anulabilidade (cessada a
coação, por exemplo, é possível que o declarante confirme a vontade emitida, validando o negócio). Um negócio
jurídico anulável pode ser confirmado de maneira expressa ou tácita:


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CONFIRMAÇÃO DO NEGÓCIO ANULÁVEL


[arts. 172 a 176]

Expressa: Tácita:
Decorre da explícita manifestação de vontade Quando é possível deduzir, a partir de um
das partes de convalidar aquele negócio antes comportamento concludente, a vontade de
defeituoso. OBS: É preciso respeitar as ratificar, mesmo que textulmente as partes
mesmas exigências legais requeridas para a nao tenham dito nada. Exemplo: quando as
criação do negócio jurídico celebrado partes, mesmo cessado o vicio, cumprem
[art. 173]. voluntariamente as obrigações assumidas.

CONSEQUÊNCIA: um negócio jurídico anulável que é confirmado passa a produzir seus normais efeitos,
considerados desde quando o negócio foi praticado.

4) A nulidade é imprescritível, podendo ser reconhecida a qualquer tempo. O Negócio Jurídico nulo,
portanto, não se convalida pelo decurso do tempo [art. 169]. A nulidade pode então, teoricamente, ser
reconhecida a qualquer tempo.

DOUTRINA

•  Há, entretanto, uma tendência histórica do sistema em determinar um prazo


máximo para a estabilização da relação jurídica, não obstante seus defeitos.
•  Esse marco não se estabelece para relações de natureza familiar e que envolvem
situações existenciais (pode-se, por exemplo, deferir ação de investigação de
paternidade, ou discutir a nulidade de um casamento, a qualquer tempo).
•  Já em outras com exclusivo cunho econômico patrimonial, a nulidade pode
prescrever, segundo essa tradição doutrinária.

NEGÓCIOS JURÍDICOS NULOS


[art. 166/167]

As hipóteses de nulidade estão concentradas no artigo 166, e no artigo 167 acrescenta-se o caso da
simulação. São elas:

 Se o negócio jurídico for simulado;


 Se celebrado por pessoa absolutamente incapaz, pessoalmente.
 objeto ilícito, impossível ou indeterminado.
 Se o motivo determinante comum às partes for ilícito.
Ex: Mélvio empresta dinheiro pra Tício comprar cocaína, sendo que ambos sabem que é esse o motivo
do empréstimo. O negócio – empréstimo de dinheiro – é lícito, mas o motivo é ilícito, o que torna o
negócio nulo.
 Se não revestir a forma prescrita em lei (negócios formais), ou faltar-lhe alguma solenidade essencial;


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 Se tiver como objetivo fraudar lei imperativa.

OBS: A fraude se distingue da simulação, pois enquanto na última a afronta à lei se dá por uma mentira, na
primeira a afronta se dá pela forma em que as partes celebram o negócio. Exemplo: Públio quer fazer um
loteamento, mas não quer cumprir todo o rol de requisitos legais impostos pela lei. Para burlá-los, começa a
vender ínfimas partes ideais da área bruta, para pessoas sem relação entre si. Em síntese, Públio queria de fato
vender partes do terreno, não há uma mentira, mas fez isso por uma forma não prescrita pela lei.

 Se taxativamente declarado nulo pela lei.


 Se a lei estabelecer requisitos para um negócio jurídico, mas não disser qual a sanção para seu descumprimento.
Exemplo: caso de venda de ascendente pra descendente - não tinha efeitos descritos no código, acabou
sendo considerado nulo em súmulas.

NEGÓCIOS JURÍDICOS ANULÁVEIS


[art. 171]

Diferentemente dos negócios nulos, cujas hipóteses encontram-se concentradas em dois artigos, os
casos de anulabilidade estão espalhados pelo Código Civil.
São anuláveis os negócios jurídicos realizados por agentes relativamente incapazes, sem assistência.
São também motivos de anulabilidade todos os defeitos já examinados, exceto a simulação.

OBS: A anulabilidade, como já foi dito, prescreve. O prazo para alega-la varia: nesses casos citados é de 4
anos, mas em outros quaisquer, é de 2 anos [art. 179].

EFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ANULADOS

PROBLEMA como lidar com as consequências dos atos jurídicos inválidos? Em outras palavras, o que se faz
com os efeitos, uma vez reconhecida a nulidade (A) ou a anulabilidade (B)?

A) O negocio jurídico nulo, do ponto de vista jurídico, não possui efeitos diretos. Quando muito, pode
produzir efeitos indiretos.

Exemplo: a compra e venda nula não produz qualquer efeito típico da compra e venda (transferência de
domínio). Todavia, como consequência desta o comprador pode ter assumido a posse da coisa. Essa posse se
ampara em um título justo! E consequentemente o tempo para a usucapião é reduzido. Não há, portanto, efeitos
diretos, mas sim indiretos.

 Conversão substancial do negócio jurídico [art. 170]: consiste em aproveitar-se um negócio jurídico
nulo como outro negócio diferente que pode ser válido. Para isso, deve-se preencher dois requisitos:

1. É preciso que, no negócio nulo, estejam presentes os requisitos desse outro negocio no qual irá se
converter.
2. É preciso que o juiz identifique que as partes, se tivessem se tido ciência da invalidade, teriam
praticado esse outro negocio.


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NEGÓCIO X NEGÓCIO Y
• Requisitos: A, B, C, D • Requisitos: A, C, D.
• Defeito em B.

Exemplo: Caio e Tício estabelecem uma compra e venda por escritura publica defeituosa, pois o tabelião que
lavrou o registro não era de fato tabelião (defeito de forma). Decidem, porém, aproveitar essa compra e venda
nula, convertendo-a em uma promessa de compra e venda valida (é um contrato preliminar, no qual o sujeito
se obriga a fazer o contrato definitivo - não é igual à compra e venda). De acordo com o primeiro requisito, é
necessário verificar se nessa compra e venda seria possível identificar todos os requisitos da promessa de
compra e venda. No caso, sim, pois há manifestação de vontade, há consenso, estabelecimento prévio de preço,
etc. Ademais, para a promessa de compra e venda, é suficiente um documento particular, sendo a escritura
pública portanto dispensável. É preciso também, de acordo com o segundo requisito, que o juiz consiga concluir
que, se Caio e Tício tivessem tido consciência do problema do tabelião, eles não o teriam praticado, teriam feito
a promessa de compra e venda. É importante observar que esse efeito é reflexo, e não direto.

A conversão substancial expressa no referido artigo não se confunde com a conversão aparente/formal.
Na última, o aproveitamento ocorre dentro do mesmo tipo negocial.

Exemplo: Caio e Tício fizeram um compromisso de compra e venda público porém com o mesmo defeito na
forma do exemplo anterior. Podem, entretanto, aproveitar o compromisso convertendo-o em um compromisso
de escritura particular. A natureza do negócio não se altera, apenas sua forma muda.

OBS: Apesar da regra enunciada acima, não é estranho ao sistema a possibilidade de o negócio jurídico nulo
produzir efeitos diretos. Ex: O casamento putativo, apesar de nulo, é contraído de boa-fé por um ou pelos dois
cônjugues, e por isso produz todos os seus efeitos até ser anulado. No caso de uma emancipação por casamento
putativo, portanto, esta permanece.

B) O negocio jurídico anulável, por sua vez, produz todos os seus efeitos diretos até ser anulado.


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DOUTRINA

•  Em ambos os casos pode ser que o juiz, provocado ou de ofício, venha a reconhecer
a invalidade. Nesse caso, é costume que a doutrina faça a seguinte distinção:
•  Quando o juiz reconhece uma nulidade, apenas declara um vício anterior, e os
efeitos desse reconhecimento, portanto, são retroativos, retrooperantes (efeitos ex
tunc, entende-se que "o negócio jurídico já nasceu morto").
•  A atitude do juiz que reconhece a anulabilidade, por outro lado, tem efeitos
prospectivos (ex nunc).
•  Porém, de acordo com o artigo 182, uma vez invalidado o negócio jurídico, as
partes tem que ser repostas no estado em que se encontravam antes da celebração do
negócio jurídico. Ou seja, não importa se o caso é de nulidade ou se anulabilidade, é
preciso desfazer o que foi feito, restaurando-se na medida do possível o status quo
anterior ao negócio. Para isso, podem haver devoluções (restituição in natura) e
indenizações (para evitar prejuízos injustos ou enriquecimento ilícito). Esse artigo
contraria a distinção doutrinaria pois, a partir dele, os efeitos são sempre ex tunc.

Nesse plano consequencial, porém, podem haver certas diferenças. Por exemplo, como apontado por
Zeno Veloso, se o negócio jurídico é nulo, as partes podem não cumprir quaisquer das obrigações assumidas.
Por outro lado, se for anulável, deve-se cumprir, afinal, o negócio pode vir a nunca ser anulado.

PROBLEMA Entre a celebração do negócio jurídico e a sua invalidação, pode haver o envolvimento de um
terceiro de boa fé. (Públio, por exemplo, compra um carro de Caio por um contrato inválido e o revende a
Mélvio, que está de boa fé).
Quando se trata de uma venda imobiliária, há um artigo que determina que o terceiro não poderá alegar a
boa-fé. Quando se trata de uma aquisição derivada, o registro não se desprende da sua causa. Cancelada a causa,
portanto, a invalidação alcança todos os negócios adjacentes.

DOUTRINA
•  O Código Civil na parte geral, porém, não trata diretamente da situação desse
terceiro. A doutrina tem defendido que a situação do terceiro de boa Fe tem que ser
preservada, por uma interpretação sistemática (dolo de terceiro, coação de terceiro,
erro, em varias passagens do código o legislador protegeu a confiança do terceiro de
boa Fe). Se o terceiro adquirente Melvio adquiriu o carro de boa Fe, uma vez
invalidada a compra, fica com o carro.
•  A situação do terceiro deve ser preservada desde que o vício seja de anulabilidade,
segundo Humberto. Já para Veloso, mesmo nos casos de nulidade essa situação deve
ser preservada.

 Artigo 181

Se por efeito de uma invalidação um incapaz tiver que devolver o que recebeu, para que ele tenha que
devolver é preciso que a outra parte prove que foi, de fato, o incapaz que se beneficiou, que o pagamento
efetivamente reverteu para o proveito do último. Isso porque tal pagamento pode ter ido, na prática, para o


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procurador, o representante, etc. Nesses casos, protege-se o incapaz, evitando-se o enriquecimento sem causas,
e a restituição deve ser cobrada do representante.

 Artigo 180

Um menor, entre 16 e 18 anos, não pode alegar sua própria incapacidade para livrar-se de uma obrigação
quando, para realizar o negócio, declarou-se maior.

Exemplo: Mélvio, rapaz de 17 anos (capacidade relativa > anulabilidade), para entrar em uma balada
(contratação de uma prestação de serviço) mente sobre sua idade. Deseja depois invalidar o negócio, alegando
sua incapacidade. Isso não é possível, pela premissa de que, se já mostrou maturidade suficiente para
dolosamente esconder sua verdadeira idade, não precisa ser protegido (objetivo primordial do instituto da
incapacidade), e deve portanto assumir as consequências jurídicas da vontade que externou.

 Artigo 183

A invalidade do instrumento não induz à invalidade do negocio jurídico, desde que este possa ser
realizado por outro instrumento. Se refere a negócios jurídicos que não sejam solenes.

 Artigo 184

Consagra a conservação, a redução do negocio jurídico ("o inútil não prejudica o útil”). A invalidade do
negócio jurídico acessório não prejudica a validade do negócio principal.

Negócio Jurídico
Aces- Principal:
sório:
Locação
Fiança
(Subsiste
independentemente
do negócios
acessórios)

Exemplo: um contrato de locação e fiança - anulada a fiança, nada acontece com a locação. Na situação inversa
essa regra não vale.

Também é possível que esse raciocínio se desenvolva dentro de um único negócio jurídico, no qual
houvesse disposições jurídicas separáveis, divisíveis uma em relação a outra. Nesse caso, a invalidade de uma
não invalidaria todas.

Exemplo: Caio e Tício desejam fazer uma compra e venda, e para isso estabeleceram um preço indeterminado e
sem critérios de determinação. A clausula do preço é inválida! E por isso prejudica toda a compra e venda, pois
é um pressuposto desse tipo negocial. Por outro lado, se nessa compra e venda houvesse uma cláusula penal


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(multa), que por algum motivo fosse nula, conservar-se-ia o negócio jurídico.

OBS: As vezes, as disposições são aparentemente separáveis, mas a lei diz que não. Ex: na transação,
tecnicamente, a concessão de uma parte é separável da concessão da outra - o Código Civil, porém, diz que é
indivisível, pois entende que a concessão feita está sempre interligada às demais (só faço uma concessão porque
a outra parte fez outra). Isso, porém, é excepcional.


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CIVIL
–
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ATO ILÍCITO

Na escolha do direito positivo brasileiro, o ato ilícito é jurídico, e provoca seus efeitos pela patologia. É
um fato jurídico voluntário que provoca efeitos que o sujeito não quer.

“A violação de um dever jurídico configura o ilícito, que, quase sempre, acarreta dano para outrem,
gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano”2.

Em outras palavras, a violação de um dever jurídico originário (fato jurídico voluntário),


como o de respeitar a integridade física humana, cria um dever jurídico sucessivo, que seria a
indenização à vítima (efeito que o sujeito não desejava).

O Ato Ilícito vem definido no art. 186, que reproduz, com algumas alterações, o art. 159 do código
anterior:

Código Civil de 1916 Código Civil de 2002

•  Art. 159 - Aquele que, •  Aquele que, por ação ou


por ação ou omissão omissão voluntária,
voluntária, negligência, ou negligência ou
imprudência, violar imprudência, violar direito
direito, ou causar e causar dano a outrem,
prejuízo a outrem, fica ainda que
obrigado a reparar o exclusivamente moral,
dano. comete ato ilícito.
•  Trata de prejuízo; •  Trata de dano;
•  Já traz a consequência •  Inclui o dano moral;

indenizatória;

O ato ilícito deriva de um comportamento humano que pode ser comissivo ou omissivo, e que
fundamentalmente infringe a lei. A Ilicitude, portanto, tem sua nota característica na infração, a contrariedade
a um dever legal.

OBS: Muitos tratam a ilicitude como sinônimo de antijuridicidade, o que pode ser chocar com a forma de
organização do código, que trata o ilícito como jurídico. Na interpretação atual, juridicidade entende-se como
tudo o que se insere no sistema jurídico, o que inclui o ilícito.































































2 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: 2005, pp. 23-26.

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CIVIL
–
Giselle
Viana


 



ANTIJURÍDICO

SISTEMA

JURÍDICO


 







LÍCITO






 

ILÍCITO

 


INFRAÇÃO À LEI

A Ilicitude constitui a infração a um dever legal, que pode se dar de maneira direta ou indireta.
Exemplo: Se descumpro um contrato, infrinjo uma norma individual de conduta (ilícito contratual). Da
mesma forma, se dirijo displicentemente e atropelo alguém, infringi um dever legal (responsabilidade
extracontratual).

Ilícito civil x Ilícito penal

Não há uma vinculação necessária entre a configuração do ilícito no campo civil e no penal. Podem haver
intersecções entre tais esferas, mas via de regra elas são independentes.

Entretanto, como nos crimes a exigência de prova é mais rígida, tudo que for afirmado categoricamente
no crime, ou seja, no âmbito penal, vincula no cível.

Exemplo: no julgamento penal de um crime se diz que houve materialidade e autoria... essa afirmação vincula o
cível. Porém, em uma hipótese em que Caio envolve-se em um acidente e no julgamento penal não se sabe se ele
foi ou não o autor, o cível não é vinculado e Caio ainda pode ser processado para uma eventual indenização.

REQUISITOS DO ATO ILÍCITO


3) DANO

2) NEXO DE
1) CULPA CAUSA-
LIDADE

ATO
ILÍCITO
CIVIL


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CIVIL
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1) CULPA

No cometimento de ato ilícito pressupõe-se uma vontade juridicamente apreciável. Quando


não há essa vontade, o ato pode até ser reprovável, mas não pode ser considerado ilícito para efeitos de
produção de responsabilidades civil (o que não exclui eventuais consequências em outros campos fora
do civil).

Esse ato deve ser voluntário, mas não precisa ser doloso, proposital. Mas, para a configuração
do ilícito civil é necessário via de regra uma qualificação da conduta: culposa (em sentido amplo) ou
pelo menos culposa em sentindo estrito. Deve ser no mínimo negligente, imprudente, impericiosa. A
culpa, genericamente tomada, está representada sempre por um erro de conduta, um erro de proceder.

•  É uma conduta omissiva de falta de cuidado;


Negligência •  Ex: estacionar o carro em uma subida e não puxar
direito o freio de mão... o motorista foi negligente.

CULPA •  É uma conduta comissiva: pode haver previsão do que


Imprudência vai acontecer, mas há crença de que nao vai, o que leva
o sujeito a agir de forma imprudente.

•  É a "culpa tecnica", a falta de habilidade específica


Imperícia técnica. Geralmente acontece no campo profissional,
mas nem sempre.

ADVERTEÊNCIA: no direito civil, não são apenas as condutas culposas que geram obrigações
civis ressarcitórias... até o lícito pode gerá-las! O resultado indenizatório não se prende sempre,
portanto, a uma conduta ilícita.

CLASSIFICAÇÕES DA CULPA

Quanto à base Quanto à Quanto ao grau


Quanto ao tipo
de avaliação origem de "descuido"

CONTRATUAL IN NELIGENDO LEVÍSSIMA


ABSTRATA
LEVE
IN CONTRAENDO IN VIGILANDO
MÉDIA
CONCRETA EXTRA-
CONTRATUAL IN OMITENDO GRAVE


 12


 

CIVIL
–
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Viana


 


 Abstrata: compara-se a conduta com a de um homem médio. Qual é o nível de cuidado exigido?
 Concreta: considera-se a circunstância pessoal do agente.

 Culpa Contratual: pressupõe um vínculo negocial pré-existente entre as partes.


 Culpa Extra-Contratual: não há vínculo anterior;

“Trata-se de ato ilícito absoluto porque, ao lesar o ofendido, o agente não viola nenhum dever
oriundo de vínculo jurídico negocial preexistente entre ele e o ofendido, nem contraria obrigação
alguma nascida de negócio jurídico, nem mesmo de específica regra legal anterior.”3

 Culpa in contraendo: dá conteúdo à responsabilidade pré-contratual. As vezes o ilícito acontece na


fase de negociação do contato, na fase de tratatias.
 In eligendo: Responsabildiade por alguém que “escolhi mal”;
 In vigilando: Responsabildiade por alguém que eu “deveria vigiar”;
 In omitendo: Responsabildiade por algo em que me omiti.

 Levíssima, Leve, Média, Grave: o critério é: qual foi o grau de descuido em relação ao que se
esperava daquele caso? As vezes é mínimo, e as vezes beira ao dolo. Historicamente no direito civil,
desde a lex Aquilia, a consequência indenizatória não dependia do grau de culpa, mas do tamanho do
prejuízo, o que continua sendo a regra.

“Em todos os casos, seja de dolo, seja de culpa grave, leve, ou levíssima, o efeito é um só: a obrigação
para o agente de reparar o prejuízo acarretado à vítima.”4

Entretanto, no atual código civil, em virtude do principio da eticidade e da equidade, o legislador


inseriu um parágrafo [art. 944]: se houver grande desproporção entre o grau de culpa do agente e o
tamanho do prejuízo, o juiz pode reduzir a indenização. Ou seja, quando a culpa é leve e
desproporcional ao montante do dano, o agente não deixa de responder pelo ato culposo, mas o juiz
pode mitigar a indenização em prol da equidade.

Essa conduta culposa, diz a lei, viola direito alheio E (não mais ou) causa dano (não mais prejuízo),
ainda que exclusivamente moral.

2) NEXO DE CAUSALIDADE

É preciso verificar se a conduta culposa foi o que causou o dano. É importante observar que a existência
de um dano é imprescindível para a configuração do ilícito civil. Se a conduta viola um direito alheio, mas não
causa prejuízo, não há consequências civis (Se Mélvio aproveita para, por exemplo, dirigir a altas
velocidades de madrugada, quando as ruas de sua cidade estão desertas, ele não está expondo ninguém a
risco, e por isso não há consequências civis – o que não exclui consequências em outras áreas do
direito).

Ao lado do comportamento culposo, portanto, é preciso que haja um dano causado por aquela conduta.































































3 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao Novo Código Civil, v.III, t. II. Rio de Janeiro: 2005, p.26.
4 Ibidem, p. 104

 13


 

CIVIL
–
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Viana


 

“Esses elementos – conduta culposa e dano injusto – não podem se apresentar isoladamente, devem
estar interligados por um vínculo de causa e efeito, pois só assim o dano será imputável ao autor do
ato culposo. Se o prejuízo da vítima não foi efeito (consequência) da conduta do agente, ainda que
tenha sido injurídica, não lhe terá acarretado a obrigação de indenizar”5

3) DANO

O dano, lato sensu, começa pelo evento. Mas o que importa para o direito civil é o resultado
econômico patrimonial. O evento danoso, no ilícito, é o antecedente lógico: é preciso, antes de tudo, verificar
se houve prejuízo.

Exemplo: Tício contrata uma demolidora para demolir um muro em seu quintal. De madrugada, porém,
por uma coincidência do destino, um motorista embriagado invade seu quintal com o carro e acidentalmente
derruba o muro, sem danificar o resto do quintal. Nesse caso pode até haver culpa e nexo de causalidade, mas
não há consequência jurídica pois não há um prejuízo econômico patrimonial.
Para que haja DANO, PREJUÍZO, o patrimônio da vítima deve, por causa da conduta culposa, diminuir
(dano emergente) ou deixar de aumentar (lucro cessante: aqui que razoavelmente deixou-se de lucrar).

Porém, o dano pode não ter apreciação pecuniária direta, pode ser extrapatrimonial. É o caso do dano
moral: atualmente, entende-se que o dano moral acontece quando há uma afronta aos direitos de
personalidade (honra, nome, imagem, etc). Não há um resultado econômico patrimonial auferível. (Se Caio
afronta a honra de Tício, por exemplo, não há necessariamente um prejuízo econômico, mas afeta-se a
consideração que os outros tem do último e até a consideração que o próprio Tício tem de si mesmo).

EMERGENTE

PATRIMONIAL
LUCRO

DANO CESSANTE
MORAL

Por fim, o dano deve ser INJUSTO.


Exemplo: Se Públio abre uma padaria ao lado da de Caio, que com a concorrência acaba falindo, há um dano,
mas este não é, a priori, injusto.

EXCLUSÃO DA ILICITUDE

Há hipóteses em que o Código Civil estabelece causas de exclusão da Ilicitude.


1. Estado de necessidade;
2. Legítima defesa;
3. Exercício regular de direitos reconhecidos, ou estrito cumprimento de um dever legal.






























































5

THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. Cit., p. 94.

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OBS: quem age nesses casos, não comete ato ilícito. Mas isso não que dizer que, causando prejuízo a
outro, ele não será obrigado a indenizar. Lembrando que não é só o ilícito que gera indenização. Ex:
agindo em legitima defesa, Tício causa dano a um terceiro. Por uma opção discutível do Código, ele
fica obrigado a indenizar o terceiro, embora tenha o direito de regresso contra o causador da ação.
Outro exemplo: Caio “arrebenta” a casa do vizinho para a apagar o fogo da casa de Mélvio (estado de
necessidade). Novamente, deve indenizar o vizinho, com direito a regresso.

ABUSO DE DIREITO

Analisando o terceiro item, “exercício regular de direitos”, surge a questão: sendo assim, é possível
imaginar que alguém exerça seu direito de forma irregular? A resposta é: sim! Isso está expresso no artigo 187
do Código, que completa a noção de ato ilícito presente no artigo 186: é possível que se configure o ato
ilícito quando alguém abusa de seu direito, o exerce de forma irregular.

O artigo 187 portanto é uma consagração positiva expressa da teoria do ABUSO DE DIREITO -
quando se exerce um direito de maneira manifestamente desproporcional à função econômico-social desse
direito, aos bons costumes e a boa-fé.

Função econômico-social: parte da premissa: quem concede o direito? a sociedade! O exercício desse
direito deve portanto observar exigências sociais. Essas exigências valorativas estão estabelecidas na
Constituição Federal, e todo exercício de direitos deve ser a elas conforme. Os direitos não são absolutos, deve-
se haver um equilíbrio entre os valores coletivos e os interesses particulares.

Exemplo: Caio tem o direito de propriedade sobre uma fazenda, mas usá-la de forma manifestamente
prejudicial ao meio ambiente é ilícito, pois afronta a função econômico-social desse direito.

Nos primórdios da teoria do abuso de direito, discutiu-se muito, principalmente na França, a questão: se
o sujeito é titular do direito, como pode cometer ilícito ao exercita-lo? Não seria isso uma logomaquia?

Atualmente entende-se que é possível sim que o direito seja exercitado de maneira prejudicial a outro, e
portanto, ilícita. O desenvolvimento dessa teoria levou a configuração do abuso OBJETIVO, que consiste em
se confrontar a situação concreta de exercício do direito.

Exemplo: Tício utiliza seu imóvel não residencial como confecção (exercício do direito da livre iniciativa... ok!),
na qual usa trabalho escravo (afronta a um direito fundamental: a dignidade da pessoa humana... abuso de
direito!).

A BOA-FÉ

A boa-fé objetiva consiste no modelo de comportamento leal, solidário, ideal. Não deve ser
confundida com a ideia de boa-fé subjetiva, que se opõe à má-fé, e que se refere ao elemento omnico do
agente, pois a a boa-fé objetiva não induz a qualquer espécie de avaliação do que se passa na cabeça do
sujeito. Para verificar a boa-fé objetiva é preciso apenas confrontar o comportamento do agente a esse
comportamento ético ideal.


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A boa-fé objetiva cumpre certos papeis no nosso sistema jurídico:
1. interpretativo;
2. corretivo: correção de desequilíbrios no negocio jurídico.
3. função limitativa do exercício de direitos subjetivos.

Formas pelas quais se manifestam as funções da boa-fé objetiva, segundo a doutrina (A pergunta é:
tem graça?):

1. Teoria dos atos próprios:

Busca evitar comportamentos contraditórios do titular do direito, o exercício inadmissível de posições


jurídicas. São tipos desse comportamento:

a) Tu quoque: consiste em exigir, em um contrato bilateral, que a outra parte cumpra sua obrigação sem
que eu tenha já cumprido a minha.

b) Venire contra factum proprium: agir de maneira contraditória a um agir anterior.

“Venire contra factum proprium postula dois comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si
e diferidos no tempo. O primeiro – o factum proprium – é, porém, contrariado pelo
segundo.”6

Exemplo: Cláudio é locador de Tício, que vai pagar o aluguel depois do prazo. Cláudio recebe o aluguel sem
fazer qualquer ressalva e dá o recibo a Ticio (factum proprium). No dia seguinte, porém, inicia uma ação para
exigir multa.

2. Suppressio e Surrectio

Suppressio e surrectio são “faces opostas da mesma moeda". Há determinadas situações casuísticas em que a
conduta de um titular de um direito leva o outro à justa confiança, à justa expectativa de que aquele direito não
mais se exercitaria (suppressio), e conforme o caso essa conduta pode levar à alteração da situação jurídica entre
as partes (surrectio).

“Diz-se suppressio a situação do direito que, não tendo sido, em certas circunstâncias,
exercido durante um determinado lapso de tempo, não possa mais sê-lo por, de outra forma,
se contrariar a boa fé.”7

Exemplo: Caio, Tício e Mélvio elaboram uma empresa. Combinam, em seu ato constitutivo, que a distribuição
dos lucros da empresa se dará a cada 6 meses pelo percentual máximo dos lucros auferidos. Durante 20 anos,
porém, sem formalizar nenhuma espécie de alteração, os três distribuem os lucros a cada 3 meses, e por outro
percentual. Um belo dia, Caio se desentende com seus sócios e propõe uma ação para fazer valer aquela previsão
originária que há tantos anos as partes têm cumprido de maneira diferente. Isso seria o exercício de um direito
de maneira manifestamente desproporcional à boa-fé objetiva, que entra nesse caso com objetivo de reprimir a































































6 CORDEIRO, António Menezes. Da boa fé no direito civil, Coimbra: Almedina, 2011, p. 745.
7 CORDEIRO, António Menezes, op. Cit., p. 797.

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deslealdade. Caio, portanto, perdeu a possibilidade de reclamar o cumprimento daquela cláusula (suppressio) e as
partes, dessa forma, acabaram por alterar a própria previsão do estatuto (surrectio).

Exemplo: Mélvio deve pagar o aluguel, teoricamente, todo dia 25. Durante anos, porém, paga no dia 30, no
qual o locador recebe sempre sem fazer qualquer espécie de ressalva. O último, porém, certo dia resolve
despejar Mélvio no dia 27, por falta de pagamento do aluguel. Porém, ele na verdade perdeu esse direito
(supressio), e só poderá cobrar no dia 30, pois a data do pagamento foi alterada (surrectio).

Exemplo: há determinadas áreas que são comuns no condomínio edilício. Há algumas, porém, que são usadas
exclusivamente por um condômino, com o consentimento geral e até com a autorização da assembleia. Donde
surge a questão: o condômino pode usucapir essa área comum? Não, pois o usucapião pressupõe tornar
particular o que é uma área comum, e o prédio é caracterizado pela existência de áreas comuns. Por outro lado,
a jurisprudência determina a perda da possibilidade de reclamar, por parte dos outros condôminos, a área em
questão, de acordo com as situações do caso concreto.

“Para Bydlinski, a suppressio não seria um vcfp porque, quando se intentasse um exercício
tardio, já não haveria direito e, quando o direito tivesse desaparecido, ainda não teria
havido contradição de comportamentos; a única atitude assumida pelo titular seria, afinal, a
inação.”8

3. Exercício desequilibrado de direitos:

É uma deslealdade objetivamente considerada - o sujeito exercita o seu direito de forma desproporcional ao
ônus que isso provoca pra outra parte.

Caso 1: pequenas faltas - a doutrina, com base na boa-fé objetiva, tem enfrentado casos em que alguém
exerce seu direito de exigir uma sanção contra a outra parte, que descumpriu sua obrigação de maneira
irrelevante, insignificante para o contrato.

Exemplo: o condomínio deve ser pago todo dia 1. Públio esquece de pagar, descumprindo assim uma
obrigação. Liga, porém, no dia seguinte para a imobiliária e pede para pagar em dinheiro, em vez de cheque,
cuja compensação demoraria cerca de três dias. Ou seja, no final, o pagamento chegaria às mãos da imobiliária
antes do que se eu tivesse pago com cheque no dia 1. Dessa forma, se a imobiliária responder que não, e cobrar
multa, estará agindo ilicitamente.

Caso 2: teoria do adimplemento substancial: forma de se evitar o exercício desequilibrado de direitos.

Exemplo: Faço um financiamento para comprar um carro, em 48 parcelas. Paguei 47, sempre no prazo, mas
não consegui pagar a 48o. Tecnicamente, estou em mora, e consequentemente a outra parte (banco) tem a
faculdade potestativa de, das duas uma, cobrar coativamente a parcela ou resolver o contrato (dissolvê-lo, dar
como extinto, exigindo o carro de volta). Será razoável, nesse caso, considerando que cumpri parte substancial
do contrato, o banco dissolver o contrato? Não! Seria razoável que o banco, antes de dissolver o contrato,
tentasse cobrar antes. A boa-fé objetiva impede, nesse caso, e excepcionalmente, uma opção que é normalmente
discricionária do credor (executar ou resolver a divida), limitando assim o exercício desequilibrado de um






























































8

CORDEIRO, António Menezes. Op. Cit., p. 814.


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direito.

Caso 3: impossibilidade psicológica;

Exemplo: contrato Panthicus para realizar um show e pago previamente. Mas no dia do show, a mãe de
Panthicus morre. Nesse caso, perco o direito de exigir o cumprimento da obrigação!






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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
PRESCRIÇÃO

A ação do tempo pode trazer consequências jurídicas a determinadas relações. Na prescrição, o decorrer
do tempo pode resultar na aquisição ou na extinção de uma pretensão resultante de um direito. A prescrição
pode ser de dois tipos:

PRESCRIÇÃO PRESCRIÇÃO
AQUISITIVA EXTINTIVA

Aquisição de um Debilidade de um
direito pela passagem direito pela passagem
do tempo; do tempo;

É representada pelo É o fenomeno


instituto da prescritivo básico,
usucapião, tratada no tratado na Parte
Direito das Coisas. Geral.

OBS: Embora ambos os tipos sejam de prescrição, eles não são tratados no Código no mesmo lugar e nem
levam à aplicação exatamente das mesmas regras (as regras da extintiva não se aplicam à aquisitiva).

Prescrição extintiva:

Definição: a prescrição é a perda de uma pretensão, a qual nasce com a violação de um direito, em
virtude da inércia de seu titular. Essa pretensão é a de procurar no Estado a satisfação coativa do direito
violado. [art. 179]

Nasce a Inércia
preten- do
são titular

Violação
Perda da
de um
pretensão
direito PRESCRIÇÃO


Logo, a prescrição atinge a pretensão. Mas, além disso, ela atinge também a capacidade defensiva, ou


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seja, a possibilidade de alegar a violação do direito em defesa, pois a exceção prescreve no mesmo prazo que a
pretensão [art. 180].

Exemplo: Caio tem um direito subjetivo de crédito de 10 mil reais que emprestou para Tício. Se Tício não o
pagar no dia ajustado, estará violando seu direito de crédito. Donde, nasce uma pretensão, para Caio, de
procurar no Estado a satisfação coativa da dívida de Tício. Se durante o prazo que tem para isso, todavia, Caio
permanecer inerte, perde a possibilidade de exercitar tal pretensão. Se Caio então, depois dessa prescrição, cria
uma dívida com Tício de 20 mil reais e paga só 10 mil, alegando depois em juízo que não pagou os outros 10
mil por causa do inadimplemento de outrora por parte de Tício, sua alegação não será possível. Afinal, a dívida
de Tício já estava prescrita.

 Elementos constitutivos da Prescrição Extintiva:


1. Há uma
inação, uma
inércia, uma
omissão do
titular do
direito violado. 3. Por conta disso
há perda da pretensão
que surgiu com a
violação do direito e da
capacidade defensiva do
mesmo; ou seja,
neutraliza-se a forca
coativa que a lei
concedeu àquele
direito.
2. A inércia
durou o tempo
que a lei fixou
para ele agir

 Significado da Prescrição Extintiva:

O Código Civil anterior estabelecia que a todo direito deve corresponder uma ação que o assegure.
Entendia-se que, o que se perdia com a prescrição era a possibilidade de exercitar o direito de ação. O Código
atual reconheceu, por outro lado, que o direito de ação nunca se perde, pois é o direito de abstratamente
procurar uma resposta do juiz, é uma liberdade constitucionalmente garantida que não pode ser
extinta.
Com efeito, a prescrição NEUTRALIZA a iniciativa, mas não extingue o direito de iniciativa! Este não
deixa de existir, apenas perde sua exigibilidade própria e coativa.
A prescrição portanto não atinge a própria subsistência do direito material, apenas retira deste a
pretensão, retirando do titular uma faculdade consequencial fundamental, de cobrar judicialmente. A relação
prescrita por exemplo não deixa de existir (o que fica claro no âmbito das obrigações naturais: se Caio, sem


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saber que sua dívida com Tício já havia prescrito, paga-a, não pode depois exigir o pagamento de volta, pois a
dívida nunca deixou de existir!)

 Fundamentos da prescrição extintiva:

É moral imaginar que o devedor não precise pagar o que deve só por que passou certo período de tempo?
O direito tem zonas normais de intersecção com a moral, mas pode haver um aparte em alguns
momentos. Essa escolha é feita em nome de outros valores: sobretudo da estalibização, pacificação das relações
jurídicas. Depois de certo tempo, por esse princípio, a relação não é mais passível de conflito jurídico. Em
ultima análise, é uma forma de garantir a segurança jurídica.
Lembrando também que a prescrição não depende só da passagem do tempo, mas também da inércia do
titular do direito violado.

Por fim, nem todas as relações jurídicas são prescritíveis. A nulidade, os direitos de personalidade, os
direitos de investigação de paternidade, são exemplos de direitos imprescritíveis.
OBS: o direito de pleitear uma indenização pela violação de um direito fundamental de personalidade,
porém, prescreve, segundo o atual entendimento. Esses casos porém são excepcionais.

DISTINÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Consiste em uma aporia no sistema:


1. Não há uma tese perfeita;
2. É uma discussão de ordem meramente conceitual, pois do ponto de vista pragmático isso já
está resolvido. A lei é feita para resolver problemas concretos e não da doutrina. O Código velho
tratava só da prescrição, mas, como um exemplo do princípio da operabilidade, o Código atual
resolveu essa questão: todos os prazos de prescrição do Código Civil estão concentrados em 2 únicos
artigos [art. 205 e 206]. Todos os prazos FORA desses artigos, tanto na parte geral quanto especial,
são de decadência. Ademais, o Código distinguiu e tratou em artigos diferentes as regras da
prescrição [art. 189 a 206] e da decadência [art. 207 a 211].

Não obstante a solução operacional do novo Código, permanece a questão: qual a diferença que o
legislador fez entre prescrição e decadência? Diversos autores buscaram responder a essa pergunta, criando
fundamentos distintos para a dicotomia entre prescrição e decadência:

Distinção de Câmara leal (Da Prescrição e Da Decadência)

O autor baseia sua distinção no momento de origem do direito de ação:

a) Prescrição: nela, a origem da ação é distinta da origem do direito, ou seja, nasce o direito material, e
só posteriormente nasce o direito de ação. Exemplo: tenho um direito de crédito (direito material), mas meu
direito de ação só nasce com o inadimplemento da dívida.

b) Decadência: são casos em que o direito material e o de exigibilidade coativa nascem simultaneamente.


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Ou seja, no mesmo momento em que nasceu o direito material, nasceu o direito de ação. Exemplo: celebro um
contrato anulável. Automaticamente nasce meu direito de abrir uma ação para invalidá-lo.

Distinção de Agnelo Amorim (Critério Cientifico para distinguir a Prescrição da Decadência)

O autor baseia sua distinção na espécie de ação judicial:

a) Prescrição: quando a exigibilidade do direito se revela no campo processual com uma ação
condenatória ao réu (ex: ação de cobrança de honorários profissionais).
b) Decadência: quando a ação é constitutiva positiva (ex: ação renovatória de locação) ou negativa (ex:
ação anulatória de negócio jurídico inválido).

Godoy vê, nessa distinção, um erro de lógica, pois ela toma a explicação pela consequência e não pela causa.

DOUTRINA
•  Segundo a opção da doutrina, o Código Civil atual tomou por critério a
diferenciação fundamental entre direito subjetivo e direito potestativo.
•  PRESCRIÇÃO: casos de direito subjetivo (1) - o interesso do titular se satisfaz
pelo comportamento do sujeito passivo: através do cumprimento de prestação. Se o
sujeito passivo cumpre a prestação, o direito do sujeito ativo se extingue. A conduta
do devedor (entregar), dessa forma, se interpõe entre o credor e o objeto.
•  DECADÊNCIA: casos de direito potestativo (2) - É uma faculdade discricionária
do titular que pode ser exercida por ato de sua livre vontade, e que ele vê satisfeita
por sua própria conduta. Assim, o interesse do titular se satisfaz de maneira normal,
diretamente, sem a dependência da conduta de quem quer se seja. Não há, portanto, a
interposição, entre o sujeito e o objeto, do comportamento de alguém.O sujeito
passivo permanece em um estado de plena sujeição.

(2) Exemplo de direito potestativo: Caio e Cláudio pactuam um contrato qualquer com prazo
indeterminado. Cláudio decide dar por findo o contrato, para isso faz uso de um direito potestativo (ninguém é
obrigado a se submeter a um contrato por tempo indeterminado). Outro exemplo, segundo o Venosa “o
condômino, no condomínio tradicional, pode, em princípio, a qualquer momento, pedir a extinçãoo do estado de
comunhão. (...) O direito de ação, garantido constitucionalmente, é também um direito potestativo.”

Quando um direito potestativo se liga a um tempo pra ser exercido, o caso é de decadência;

Exemplos de Decadência:
- Retrovenda: Cláudio vende pra Tício e eles combinam que até determinado prazo estabelecido na lei,
Cláudio poderá reaver a coisa que vendeu. Quando exerce o direito de resgate, está exercitando um direito
potestativo, pois não há o que Tício possa fazer como contrapartida da prerrogativa da Cláudio.
- Negócio jurídico defeituoso: Cláudio e Tício fazem uma compra e venda, mas Cláudio quer anular o
negócio pois incidiu em erro. Ele tem a faculdade discricionária de anular, e não há qualquer comportamento
esperado de Tício que interfira ou condicione esse direito potestativo. O prazo para isso, portanto, é de
decadência.


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REGRAS DA PRESCRIÇÃO E SUAS RELAÇÕES COM A DECADÊNCIA

1) Renúncia:

Renunciar pressupõe ter um direito favorável a si, portanto renunciar ao direito de alegar a prescrição a
seu favor é uma prerrogativa própria do devedor, pois é este que se favorece com a prescrição.

A renúncia só é possível se o prazo da prescrição já se tiver consumado.

Por que não é possível renunciar antecipadamente o direito de alegar no futuro uma prescrição que venha
a acontecer? A resposta pode ser dada por dois argumentos:

- Argumento conceitual: enquanto a prescrição ainda não aconteceu, sobrepuja um interesse público de
preservar a regra... não se trata portanto apenas de um interesse particular. Porém, cumprido o prazo da
prescrição, o interesse torna-se predominantemente privado, donde torna-se possível a renúncia.

- Ademais, se isso fosse possível ao devedor, alguém concederia empréstimo a outrem senão com uma
cláusula dessa? Claro que não! É também, portanto, uma regra protetora de uma situação que é
intrinsecamente desequilibrada: entre credor e devedor.

 Manifestação da Renúncia:

Pode se dar de maneira:


a) Expressa;
b) Tácita: através do pagamento da dívida prescrita. Nem adianta o devedor dizer que não sabia do
prazo da prescrição (erro de direito), afinal ele está pagando uma dívida que existe.

OBS: Se esse devedor que renuncia é também credor de alguém, está deixando de praticar um ato de
defesa e manutenção de seu patrimônio, o que pode configurar eventualmente uma fraude contra credores.
Esses outros credores podem se opor a essa renúncia (Cláudio, por exemplo, paga sua dívida prescrita para
Tício. Porém, esse ato abdicativo diminui seu patrimônio causando prejuízo a seus credores)

 Decadência:

Essa regra vale para a decadência, porém, apenas para os prazos legais.
Com efeito, os prazos decadenciais podem ser legais ou convencionais (criados pelas partes, por
manifestações de vontade). A retrovenda, por exemplo, é a possibilidade do vendedor em um prazo máximo de
3 anos (prazo legal) resgatar o que vendeu. As partes podem, todavia, combinar um prazo menor
(convencional).

2) Alteração do Prazo [ART 192]

Os prazos legais de prescrição podem ou não ser alterados pelas partes? É uma discussão que se punha
no código anterior e que não existe mais, por causa do advento do artigo 192, que é taxativo na resposta. No


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código velho, entendia-se que esse aumento ultrapassaria os limites legais delineados pelo legislador. Muitos
defendiam, porém, a possibilidade de REDUÇÃO do prazo, dado que seria uma antecipação benéfica da
estabilização do negócio jurídico, desejável pelo legislador. No Novo Código, estabelece-se que o prazo legal
não pode ser alterado em nenhuma hipótese, nem para menos nem para mais.

 Decadência:

Prazos decadenciais legais também não podem ser alterados pela vontade das partes. Mas, se o prazo de
decadência for convencional, as partes podem, evidentemente, alterá-lo.

3) Tempo para Alegação [art. 193]

Acontecida a prescrição é prerrogativa do devedor alegá-la em seu favor. A questão é, até quando ele
pode alegar essa prescrição? Segundo o artigo 193, de natureza processual, em qualquer grau de jurisdição.

A ação é a provocação do Estado-juiz para que ele torne efetivo o direito subjetivo violado, essa
pretensão se dá pelo direito de ação, e o Estado atua por meio de um processo, onde há convergência do direito
material e processual.

PROCESSO

Estado-juiz
•  Provoca o Estado- •  O Estado torna
juiz por meio de efetivo,
uma AÇÃO. •  Atua por meio de um coativamente, o
PROCESSO, onde há
convergência entre direito subjetivo
direito material e violado.
processual.
Titular do Violador do
direito direito
AÇÃO

Regra geral de processo: toda matéria de defesa precisa ser alegada logo no primeiro momento em que
o réu se manifesta no processo - princípio da eventualidade: obriga o réu a alegar toda a matéria de defesa
logo no primeiro momento sob pena de não poder alegar depois. Entretanto, há exceções, principalmente em
matérias em que vigora o interesse público: a prescrição EXTINTIVA pode ser alegada, segundo o art. 193, a
qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (em qualquer instância - juiz de primeiro grau < tribunal
regional < ...). Portanto, mesmo que não tenha sido alegada de início do processo pelo réu, pode ser alegada
depois.

Também é possível que o réu possa alegar em sua defesa a prescrição aquisitiva. É possível que eu
proponha uma ação reivindicatória contra Caio e ele de defenda alegando a usucapião. Ou seja, isso pode
acontecer mesmo antes que Caio faça uma ação de usucapião, é a usucapião em defesa. Se ele não alegar no


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primeiro momento do processo, porém, não poderá alegar depois. A regra do artigo 193 portanto não se aplica
à prescrição aquisitiva. Isso porque a aquisitiva se sujeita ao principio da eventualidade ao qual não se sujeita a
extintiva.

Quando o legislador diz 'em qualquer grau', cabe uma ressalva relativa à abrangência desses “graus”. É
possível alegar a prescrição na apelação, mas depois não é possível alegá-la no recurso especial e ou no
extraordinário (STJ e STF). MOTIVO: esses tribunais só discutem matéria jurídica, e não matéria fática.
Ora, a prescrição, por envolver matéria de fato, não pode ser alegada nesse grau de jurisdição.

4) Reconhecimento de Ofício

Até o Código Civil de 2002 o reconhecimento da prescrição pressupunha a alegação do devedor, o juiz
portanto não podia reconhece-la de ofício. Mesmo que o juiz recebesse uma ação de cobrança e percebe-se a
prescrição, precisava esperar o devedor alegá-la, ad eternum, podendo até mesmo proferir a sentença abstraindo-
se desse fato.

Todavia, no Código novo, o artigo 194 faz uma ressalva: se a prescrição favorecer um devedor
absolutamente incapaz, o juiz pode reconhece-la de ofício. Porém, cabe aqui o questionamento: como um
absolutamente incapaz, a priori, poderia ser devedor? Essa regra parte do pressuposto de que a incapacidade
absoluta não é intrinsecamente inata à pessoa: um devedor plenamente capaz pode vir a tornar-se incapaz
(Caio, por exemplo, após fazer uma dívida, pode sofrer um acidente que diminuísse seu discernimento tornando-
o absolutamente incapaz).

Em 2006, o artigo 219 do Código de Processo Civil foi alterado: acrescentou-se um parágrafo dizendo
que o juiz pode reconhecer a prescrição de ofício, revogando o artigo 194 do Código Civil. Isso significa que a
regra expressa no último é uma regra REVOGADA, o juiz não precisa mais esperar a alegação da parte. Isso
diminui consideravelmente a importância da regra de que o devedor pode alegar a prescrição a qualquer tempo.
Argumento contra: a prescrição se refere fundamentalmente a questões patrimoniais.
Argumento a favor: preserva acima de tudo a pacificação da relação jurídica.

 Decadência:

Arts. 210 e 211 - Na decadência, sempre se reconheceu que o juiz poderia reconhecer de ofício.
Principalmente porque os casos de decadência eram muito mais associados a situações existenciais.

RESSALVA: se explicita nos referidos artigos que esse reconhecimento de ofício se restringe aos casos
de decadência LEGAL. No caso da convencional, a parte que ela aproveita pode alegar até qualquer grau de
jurisdição.

O Juiz pode
Os prazos podem ser Pode ser alegada a
reconhece-la de
alterados? qualquer tempo?
ofício?
Só os convencionais, Sim, a não ser que seja
PRESCRIÇÃO Sim!
nunca os legais. aquisitiva.
Só os convencionais, Sim, mas só quando
DECADÊNCIA Sim!
nunca os legais. for legal.


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CAUSAS SUSPENSIVAS E INTERRUPTIVAS DE PRESCRIÇÃO

São causas que afetam o curso do prazo prescricional, impedindo que ele corra ou que ele
continue a correr.

Diferenças

Há diferenças consequenciais, operacionais, entre uma causa suspensiva e uma interruptiva:

 Causa suspensiva: ou ela nem começa a correr, se ainda não tiver começado, ou, caso o prazo
já tenha começado a correr antes da causa suspensiva, se e quando a última cessa, o curso do
prazo se libera e este volta a correr pelo que faltava.

Fundamento: Normalmente se referem a uma situação pessoal, familiar, ou profissional, a


alguém que viu o seu direito subjetivo violado e encontra uma maior dificuldade para exercitar
sua pretensão. Tem, portanto, fundamento no propósito protetivo dessas pessoas.

 Causa interruptiva: o prazo estava correndo e foi interrompido - como regra, o prazo
recomeça a correr no dia seguinte, de imediato. Ademais, volta a correr por completo,
desprezando-se o que já havia corrido antes da causa interruptiva. Não importa, dessa forma,
quanto do prazo decorreu antes da causa.

Fundamento: Se aplicam a determinadas situações em que o legislador considera que aquele


credor já demonstrou que não é inerte e que quer exercer sua pretensão.

Essas causas, como regra não se aplicam à decadência. Isso vem ao encontro da tendência
historicamente demonstrada pelo legislador de tratar a decadência de maneira mais rigorosa. Hoje
porém entende-se que podem se aplicar, contanto que haja uma previsão legal.


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Causas Suspensivas da Prescrição


[arts. 197 a 200]

Art.
Entre cônjugues;
Entre pais e filhos;
197 Entre tutelados/curatelados e seus representantes;
A PRESCRIÇÃO NÃO

Contra absolutamente incapazes;


Art. Contra pessoas prestando serviço público fora do país;
CORRE...

198 Contra militares durante guerras;

Pendendo condição suspensiva;


Art. Antes do vencimento do prazo;
199 Pendendo ação de evicção.

Art.
Quando o fato deve ser apurado no juízo criminal.
200

 Artigo 197

“Não corre prescrição:
I – entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II – entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III – entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela;”

Caput: Não corre a prescrição... ou seja, se não começou, nem começa, se já começou, para.

I) Entre marido e mulher não há prazo de prescrição correndo. Se a dívida aconteceu antes deles serem
casados (por exemplo: Ticiana deve 5 mil a Caio, que não paga até o prazo estabelecido. O prazo prescricional,
portanto, começa a correr. Porém, Caio acaba se casando com Ticiana, e por conta disso o prazo para de correr.
Alguns anos depois, o casal se separa, e consequentemente o prazo volta a correr, de onde parou. Não importa
se a relação de crédito-debito surgiu durante ou antes do casamento, com a dissolução do último, o prazo
prescricional volta a correr.

O objetivo primordial dessa regra é evitar dissenso na relação matrimonial.


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DOUTRINA
•  Emenda 66: só o divorcio, a morte ou a anulação do casamento o dissolvem. Esso aboliu
a separação judicial.
•  Separação de fato: é um esgotamento do casamento, o único aspecto que falta é a
formalização a rigor da separação. A questão é, então, o que acontece com o prazo
prescricional nesse caso? Por ser informal não tem uma data marcada. Parte da doutrina
entende que essa dificuldade de data é acidental, contingencial, de prova, que não pode
interferir no objetivo original da regra, que é a preservação da unidade matrimonial,
objetivo que nao é mais passível de tutela a partir da separação.
•  União estável e casamento: não há diferenças do ponto de vista intrínseco, são ambas
relações de afeto, com pretensão de constituir família. Porém, não sao iguais: a diferença
é extrínseca, relacionada ao grau de formalidade. Essa previsao de que não ocorre
prescricao entre conjugues se estende a união estável? A questao gera dúvida pois as
vezes terceiros também tem interesse de saber o prazo.
•  Godoy: é difícil saber se no caso concreto há uma União estável, quando começou, e se
ainda existe. São contingências probatórias difíceis e há dano potencial da segurança
jurídica de terceiros.

II) Ex: Ticiana e Caio têm um filho menor de idade: Publito, que herda de sua tia um imóvel, vizinho ao
de sua mãe. Certo dia, o imóvel de Ticiana de alguma forma danifica o de Publito, donde nasce uma relação de
crédito-débito. Para se preservar a harmonia da relação filial, a prescrição não corre nesse caso. Parte-se do
pressuposto de que o filho tem os seus interesses administrados pelo pai. Se o filho porém não estiver sob o
poder do pai, a prescrição corre normalmente.

III) A situação anterior se estende pra situações assemelhadas: tutor é um substituto do pai, portanto o
motivo é o mesmo.

 Artigo 198

“Também não corre a prescrição:
I – contra os incapazes de que trata o artigo 3o;
II – contra os ausentes do Brasil em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III – contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas em tempo de guerra”.

I) Não corre a prescrição contra absolutamente incapazes. Isso porque são pessoas que tem uma
dificuldade maior para exercitar sua pretensão. A incapacidade absoluta é uma condição pessoal que, quer por
idade quer por uma causa psíquica, lhe tira todo o discernimento.
Se o caso for de menoridade, o prazo nem começa a correr, pois o sujeito é desde o começo incapaz.
Todavia, há possibilidade de o prazo começar a correr e ser suspenso, afinal um sujeito plenamente capaz pode
vir a tornar-se, eventualmente, absolutamente incapaz (por uma doença ou um acidente, por exemplo).

PROBLEMA Se a causa de incapacidade é um mal psíquico qualquer, precisa ser apurado por uma ação de
interdição. Se, porém, eventualmente o sujeito é portador de um mal psíquico mas ainda não foi interditado,
contra ele corre o prazo de prescrição? Não há uma resposta fácil para essa questão, e a doutrina contraposição
de 2 valores: a segurança jurídica trazida pela sentença de interdição e a ideia protetiva da suspensão.


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DOUTRINA
•  Há a rigor uma incapacidade natural (comprometimento psíquico) que não necessariamente
vem acompanhada de um estado de incapacidade jurídica (interdição). Há uma Recurso
especial 652837 do STJ: considerou que a suspensão do prazo prescricional aconteceu desde
que se manifestou a doença, mesmo que a interdição tenha sido posterior. Conclusão: mesmo
sem a interdição o prazo não corre em virtude da incapacidade natuaral.
•  O problema é o mesmo da união estável: o curso do prazo prescricional pode interessar a
terceiros e ao próprio devedor, e se o sujeito não está interditado não dá pra saber se ele é
mesmo incapaz e desde quando vale a interdição.
•  Por outro lado, o fundamento tanto da suspensão quanto da incapacidade é a proteção, donde
parece coerente que a suspensão valha mesmo sem a interdição, primando pela proteção do
incapaz em detrimento de questões essencialmente jurídicas.
•  Resta, porém, a vicissitude natural da prova: caso não seja provada a incapacidade natural, o
prazo corre normalmente.

PROBLEMA Contra os relativamente incapazes a prescrição corre normalmente. Mas se acontecer a prescrição
ele tem ação indenizatória, direito de regresso, contra o seu assistente.

OBS: Também não corre decadência contra o absolutamente incapaz.

PROBLEMA E contra o sujeito declarado ausente, corre a prescrição? Até o Código Civil anterior, o artigo
aplicava-se aos ausentes declarados como tal por sentença. O Código Novo, porém, tirou a ausência do rol da
incapacidade, colocando-a na parte das sucessões. Tendo em vista essa mudança, a resposta para o problema é
aparentemente não. Mas há controvérsias! O que se tem entendido é que o legislador, ao tirar a ausência do rol
da incapacidade, não percebeu que dessa forma ela automaticamente deixaria de ser causa de suspensão da
prescrição. Por esse ponto de vista, tem-se considerado que para a ausência o prazo também não corre.

II) Faria pouco sentido que, enquanto fulano está prestando um serviço público fora do país, continue
correndo um prazo contra ele dentro do país.

III) Esse inciso pressupõe um militar dentro do país – afinal, se o sujeito está prestando serviços nas
forças armadas fora do paíss, aplicar-se-ia o inciso anterior, que não depende do fator guerra. Contra esses
militares normalmente correria o prazo prescricional normalmente, mas, em situações excepcionais de
convulsão nacional, o prazo não corre afinal ele tem nesses casos maior dificuldade de exercer seu direito.

 Artigo 199

“Não corre igualmente a prescrição:
I – pendendo condição suspensiva;
II – não estando vencido o prazo;
III – pendendo ação de evicção.”

I) Enquanto pender condição suspensiva, não pode ocorrer prescrição, afinal o direito ainda não foi
adquirido e portanto não está gerando efeitos.

II) Enquanto não vencer o prazo ainda não há exigibilidade.


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III) Evicção, nas palavras de Venosa, é “a perda total ou parcial do direito sobre alguma coisa, decorrente de
decisão judicial, que o atribui a outrem, que o adquirira anteriormente. Se o terceiro propõe ação de evicção, fica suspensa
a prescrição até seu desfecho final.”

Exemplo: eu compro um imóvel mas o perco depois para um terceiro, a quem sentença judicial reconhece
melhor direito, por uma ação reivindicatória. Isso resulta em uma pretensão indenizatória contra quem alienou
o imóvel a titulo oneroso pra mim. Enquanto eu não perder essa ação, o prazo prescricional não corre.

 Artigo 200

“Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado em juízo criminal, não correrá prescrição antes da
respectiva sentença definitiva.”

O artigo se refere a ações ajuizadas para exercício da pretensão.

Premissa: há determinados fatos que por sua natureza provocam potencial e simultaneamente efeitos
civis e efeitos penais. Exemplo: uma batida de automóvel pode gerar reflexos civis (obrigação de ressarcir os
prejuízos causados) e penais (se causou morte, por exemplo, podem haver penas). Outro exemplo, se Caio dá um
soco em Tício e quebra seu nariz, podem haver reflexos civis (danos morais, danos emergentes – despesas com
médico – lucro cessante – caso Tício por conta da lesão não possa trabalhar por alguns dias de modo a não
auferir os lucros que normalmente auferiria – etc) e reflexos penais (verificado o dolo de Caio, a ele caberá uma
pena)

Pode haver resultados diferentes nos juízos penal e cível. Essa independência das instâncias, porém, é
relativa: as vezes pode haver uma vinculação. Isso porque para a condenação criminal exige-se uma prova mais
segura, mais rígida. Consequentemente, se no juízo penal algo de categórico houver sido decidido (ex: “não
houve o fato!” Ou “houve o fato e Cláudio foi o seu autor”) o cível fica vinculado. Isso fica claro no fato de que se
a decisão penal for condenatória, a sentença penal serve como título executivo que a vítima tem contra o réu
condenado. Ou seja, ela pode diretamente executar o réu, dispensando discussões sobre materialidade e autoria,
e passando assim à discussão apenas da quantificação da indenização.

Voltando ao artigo 200, há nele um fundamento de economia: se a sentença for condenatória, já não é
mais necessário o prazo civil pois só falta a execução por parte da vítima. Se, por outro lado, a sentença penal
for absolutória, há duas hipóteses: se ela for baseada na afirmação categórica de que não houve materialidade ou
autoria, extingue-se a ação civil e consequentemente o prazo também deixa de existir; se foi por insuficiência de
prova, não há vinculação do cível, que pode decidir por condenar o réu independentemente da decisão penal.
Nesse caso volta a correr o prazo prescricional.


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O PRAZO CIVIL TORNA-


Condenatória SE DESNECESSÁRIO

SENTENÇA
PENAL Baseada em afirmação EXTINGUE-SE A
categórica AÇÃO CIVIL

Absolutória
Por insuficiencia de O PRAZO VOLTA A
prova CORRER

A vítima não precisa esperar a ação penal, ela pode ajuizar desde logo a ação civil. As vezes, porém, há
dependência em relação à ação criminal para se saber o autor, mas em todo caso pra isso não tem prazo
correndo no cível.

O artigo em questão suscitou uma série de divergências doutrinarias:

DOUTRINA
•  PROBLEMA:
 Como se dá esse efeito suspensivo do artigo 200? Há controvérsias! A
doutrina se divide sobretudo em 2 alternativas de interpretação, e o Godoy tem sua própria:
•  Tese de Humberto Theodoro: não há propriamente uma causa suspensiva do CURSO do
prazo, mas do TÉRMINO do prazo. O prazo da prescrição civil começa a correr a partir do
fato, quando nasce a pretensão. Mas quando ele chega no seu fim, o intérprete precisa verificar
se há apuração no juizo penal, porque pode não haver. O ponto básico da tese é o fato de que
pode nunca haver a ação penal, e as jurisdições são independentes via de regra. Se há, o prazo
não termina, prorroga-se o seu final para o término da ação penal. Se ela acabar com uma
sentença condenatória não é mais necessária a ação civil, basta a execução. O prazo
prescricional civil não deixa de correr. Essa tese é uma crítica ao fato de que ficar
esperando a ação penal pode levar a vida toda.
•  Tese 2: Havido um fato que faz nascer uma pretensão civil e uma penal, o prazo da prescrição
civil nem começa a correr. Essa é uma interpretação do artigo 200 animada pelo propósito de
dar-lhe maior amplitude, o que leva a, segundo Godoy, uma interpretação insustentável. Para
essa tese, haveria no fundo 2 prazos prescricionais. Se Tício leva um soco hoje, não terá prazo
correndo até que se verifique no juízo penal se cabe ou não ação civil. Se passar o prazo da
ação penal e ela não se der, começa então a correr o prazo para a prescrição civil.
•  Tese do Godoy: opta por aplicar literalmente o dispositivo: se Tício toma um soco hoje,
começa a correr a prescrição civil normalmente e quando ele instaurar a ação penal o prazo
para. Espera, então, o desfecho da ação penal, e se houver espaço ainda pra pretensão civil (no
caso do réu absolvido por falta de prova) o prazo civil volta a correr do que faltava.

PROBLEMA A ação penal pode ser antecedida de um procedimento administrativo, normalmente – mas
não sempre – realizado mediante autoridade policial (procedimento investigatório, inquérito policial, que pode
ou não se transformar em ação penal). A questão é: o artigo 200 incide na fase em que há ainda apenas o
inquérito? Para o Godoy a lei foi bastante clara ao referir-se a ação que se originar de fato que deve ser apurado no
JUÍZO criminal, ou seja, ela pressupõe a ação. Por essa perspectiva conclui-se que não basta inquérito policial
para que se incida a regra do 200.


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Todavia, O STF já decidiu de maneira diversa, entendendo, através de uma interpretação extensiva, que
o inquérito já é suficiente para causar a cessação do curso prescricional:

“Quando a ação cível se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a
prescrição antes da respectiva sentença definitiva, sendo irrelevante que a respectiva ação penal não
tenha sido proposta, se houve a abertura de inquérito policial posteriormente arquivado. Inteligência
do art. 200 do atual Código Civil.”
Recurso especial 920582, RJ (18/09/2008)

PROBLEMA O artigo diz “Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado em juízo criminal”. Como
interpretar esse “deva”? A questão fundamental é que há uma tendência restritiva de interpretação do artigo
200 que pressupõe a necessidade de uma ação penal para que o sujeito possa exercitar sua pretensão civil.
Quando não houver ainda dados indicativos da autoria do fato, a pretensão do autor fica prejudicada. Quando
para a vitima já for possível propor a ação civil (se Tício já sabe, por exemplo, que foi Caio quem lhe deu um
soco) o prazo já começa a correr. Se ela não sabe, de início, quem é o autor do fato danoso, a rigor a própria
apuração penal serve a indicar o autor, ou seja, a indicar um fato fundamental que condiciona o exercício da
pretensão civil. Essa tese sustenta que se desde a ocorrência do evento for possível a vítima exercitar sua
pretensão civil ela DEVE faze-lo e por isso já tem prazo correndo. O prazo não corre, por outro lado, se for
necessária a apuração penal para que haja pretensão civil. (vide acórdão 1.131.125).
Godoy discorda dessa interpretação, mas admite que tende a prevalecer. Baseia-se na premissa de que o
fundamento desse dispositivo é otimizar o sistema. Sendo assim, pra que duas demandas se a civil pode ser
inútil conforme o andamento da penal? Se há uma ação penal em curso pra que fazer a vítima ajuizar uma ação
civil também? Enfim, é uma matéria ainda em aberto.

Causas Interruptivas de Prescrição


[arts. 202 a 204]

Lembrando que o fundamento das causas interruptivas não tem nada a ver com a condição pessoal do
titular, como acontece nas suspensivas. A questão é que, em virtude de certas causas, há demonstração de que o
titular do direito violado não está sendo inerte. Considerando-se que a prescrição tem como fundamento a
inércia do titular da pretensão, não faria sentido punir com ela o sujeito que já se mostrou ativo.

Ademais, diferentemente do que ocorre nas causas suspensivas, nos casos de interrupção da prescrição,
acontecida a causa o prazo recomeça a correr de imediato.

OBS 1: Essa recontagem por completo começa a correr de imediato SALVO se a causa interruptiva tiver
acontecido por um ato praticado em um processo. O prazo de prescrição, nesse caso, só vai ser contado de
novo quando o processo terminar, ou seja, só volta a correr depois da prática do último ato do processo em cujo
curso aconteceu a interrupção.

OBS 2: No novo código há uma novidade: no caput do artigo 202 lê-se que o prazo prescricional, uma vez
interrompido, não se interrompe de novo. Dessa forma, havida uma vez a interrupção do prazo, teoricamente
ele nunca mais se interrompe de novo. Isso é muito discutido pela doutrina, e não acontece com a suspensão.


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 Decadência:

As causas suspensivas e interruptivas, via de regra, não se aplicam à decadência, apenas quando a lei
assim o estabelecer. Ademais, sempre foi costume dizer que a decadência nunca se interrompe... Porém, a partir
da edição do artigo 220 do CPC, ficou determinado que os prazos decadenciais são sempre interrompidos

OBS: as vezes, seja casa de decadência, seja de prescrição, o prazo cai por exemplo em um fim de semana.
Nessa hipótese, prorroga-se para o primeiro dia útil subsequente.

I. Citação

II. Protesto judicial

art. 202 III. Protesto cambial

CAUSAS INTERRUPTIVAS
IV. Apresentação de título
de crédito

V. Ato judicial que constitua


devedor em mora

VI. Reconhecimento da
dívida pelo devedor

 Artigo 202:

“A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo
e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo
devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper.”


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I) O prazo de prescrição que estava correndo se interrompe pelo despacho do juiz que ordena a citação...
Antes de tudo, o que é citação? Citação é o ato inicial de chamamento do réu pra se defender no processo.
O motivo da interrupção é simples: para que haja a citação pressupõe-se que o titular já propôs uma ação
pra exigir do réu o cumprimento coativo do seu direito violado. Ora, essa é a maior demonstração de que ele
não está inerte, afinal ele já exercitou sua pretensão.

Violação do Propositura da
Direito ação Citação do réu
(pelo juíz)
(pelo réu) (pelo titular)

Prazo Prescricional
Nasce a pretensão I N TE RRUPÇÃO DA
P RE SCRIÇÃO

A interrupção retroage à
data da propositura da
ação, impedindo uma
eventual prescrição entre a
propositura e a citação

Efeitos da solução do processo: o prazo não corre mais enquanto correr o processo. Mas a solução do
processo o influencia? Se o juiz julgar a ação procedente, já não existe mais prazo porque o interesse já foi
reconhecido. Caso contrátio, se a ação não for julgada procedente, ou se nem for julgada em seu mérito, o prazo
de prescrição começa a correr novamente por completo e não pode, por força do caput do artigo 202, se
interromper novamente.
As regras da referida citação se encontram no artigo 219 do Código de Processo Civil:

“Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda
quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.

§ 1o A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação.


§ 2o Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subsequentes ao despacho que a
ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário.
§ 3o Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo de 90 (noventa) dias.
§ 4 o Não se efetuando a citação nos prazos mencionados nos parágrafos antecedentes, haver-se-á por não
interrompida a prescrição.
§ 5 o O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.
§ 6 o Passada em julgado a sentença, a que se refere o parágrafo anterior, o escrivão comunicará ao réu o
resultado do julgamento.”


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PROBLEMA Se o processo não chegou, por um motivo qualquer, ao seu fim normal, mesmo assim vale a
interrupção. No entanto, a citação deve ser válida... a prescrição não se interrompe se o processo tiver sido
anulado por vício da própria citação.

Questão do juiz incompetente: pelas regras de distribuição e organização judiciaria, distinguem-se dois tipos
de incompetência: a absoluta e a relativa. De acordo com tais regras, algumas regras de incompetência absoluta
são insuperáveis. Entretanto, segundo os artigos em questão, ainda que seja absoluta o despacho do juiz
interrompe a prescrição.

PROBLEMA Se a citação não se consumou, mesmo o autor tendo feito tudo que dele era esperado, a prescrição
se interrompe mesmo assim. A eficácia da interrupção, segundo o parágrafo primeiro, retroage para momento
do ajuizamento da ação. Se eu já ajuizei a ação, porém, preciso esperar a citação. Sucede que o cartório pode
demorar um tempo excessivo para preparar o despacho para mandar pro juiz, e esse tempo pode exceder o
prazo prescricional em curso. Dessa forma, o prazo acabaria entre a propositura da ação e a citação. Isso não é
razoável pois pune o autor que já se mostrou ativo, e que portanto não tem culpa. Nesse sentido, versou o STJ:
“Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.”
STJ, Súmula nº 106 - 26/05/1994

II) A prescrição se interrompe pelo protesto judicial.

As ações cautelares se destinam a assegurar o resultado útil de outras ações, relacionadas a situações de
urgência. São, dessa forma, ações acessórias em relação a uma ação principal.
O CPC arrola uma série dessas ações, mas a doutrina faz uma distinção entre as que provocam restrições
ao direito do réu, e outras que não provocam nenhuma especial restrição a tais direitos (ações cautelares
administrativas, não jurisdicionais). Um exemplo desse último tipo é o protesto, que consiste em uma
cientificação que uma parte faz à outra, e que pode ser feito tanto judicialmente quanto extrajudicialmente. O
objetivo do autor é, portanto, cientificar o réu do que quer que seja.

O protesto judicial está estampado no artigo 867 do CPC: “Todo aquele que desejar prevenir
responsabilidade, prover a conservação e ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo formal, poderá
fazer por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer que do mesmo se intime a quem de direito.”

É comum a utilização do protesto pra dar ciência ao réu de que o autor esta atento à prescrição da sua
pretensão e que pretende exercitá-la, mas está impedido por algum motivo. Essa é uma das hipóteses em que o
autor requer ao juiz que mande intimar o réu para que ele tenha ciência de que o autor não está inerte não
obstante ainda não possa exercitar sua pretensão.
Esse protesto, por força de lei, acarreta a interrupção do prazo prescricional. De acordo com a regra
já mencionada, o prazo prescricional volta a correr só depois da pratica do último ato do processo.

PROBLEMA É justamente por causa desse inciso que dizem que a interrupção da prescrição só pode ocorrer
uma vez.

III) A prescrição se interrompe pelo protesto cambial.


Sucede que o protesto do inciso terceiro é extrajudicial, que é um protesto de títulos cambiários ou
documentos de dívidas no geral.


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A finalidade de cientificação é a mesma, a novidade, inaugurada pelo Código de 2002, é que a interrupção
pode se dar através de um protesto realizado por uma serventia extrajudicial. O mecanismo do protesto foi
regulamentado pela Lei 9492/97, que ampliou sua possibilidade para outros títulos não cambiários mas
representativos de dívidas.

O objetivo do protesto cambial é dar ciência da pretensão do credor de receber, e consiste em nada
mais que o ato de apresentação de um titulo de crédito.

OBS: como é extrajudicial, a prescrição começa a correr de novo logo no dia seguinte.

IV) Trata-se da habilitação, declaração de crédito que o credor faça, ou no procedimento de inventário
(arrolamento). Este último consiste em arrecadar os bens e direitos do morto, cuja universalidade é o espólio,
identifica-los e proceder na partilhar entre os herdeiros. Se o dito cujos tiver um credor, e esse já tiver um título
representativo do seu crédito, ele pode ir ao juízo do inventário e habilitá-lo. Consequentemente a prescrição
interrompe-se.
Isso pode se dar também no concurso de credores, que normalmente acontece com a falência de uma
empresa:

Arrecadação
Decretação de dos bens para o
falência da Formação da Concurso de
massa falida pagamento das Credores
empresa
dívidas

V) Interrompe-se a prescrição por qualquer ato judicial que constitua o devedor em mora.

Mora é um retardamento, um atraso qualificado, sem justificativa, no cumprimento de uma prestação


pelo devedor. Há atos que a demonstram: o primeiro é a citação (seu primeiro grande efeito é a constituição do
devedor em mora). No entanto, há também outros atos judiciais não citatórios que podem fazer isso: atos de
intimação ou notificação. Tanto o protesto, quanto a notificação, a interpelação e a intimação são atos
judiciais que dão ciência e chamam o réu ao processo para cumprir uma certa deliberação. Todos os quatro, na
essência, tendem a levar ao devedor a ciência de alguma coisa. Todavia, têm consequências diferentes.

Em suma, qualquer ato cientificatório judicial relativo àquela pretensão interrompe a prescrição.

Notificação judicial: pode ser feita tanto no curso do processo, quanto de maneira cautelar. Essa última
pode ser feita judicialmente, sendo idêntica ao protesto. Ela também interrompe a prescrição.
Interpelação Judicial: consiste em uma cientificação adicionada a uma espécie de pedido de
explicações, possibilidade de justificativa.

PROBLEMA A notificação, a interpelação e o protesto podem também ser feitos extrajudicialmente. Se por
exemplo eu devo uma quantia x pra alguém, e que deveria ter sido paga dia 10, o credor pode me mandar uma
notificação, que é uma cientificação do atraso. se ele fizer isso judicialmente interrompe-se a prescrição. Porém,
se ele fizer extrajudicialmente, não. Mas, por interpretação extensiva dos dois incisos anteriores, deveria.


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VI) É o único caso em que a interrupção ocorre por um ato do devedor, e não do credor. Esse ato consiste
no reconhecimento do direito do credor, por qualquer meio, direto ou indireto, expresso ou tácito. Ademais,
pouco importa se o ato é praticado dentro ou fora do processo. Enfim, qualquer ato que o devedor pratique
reconhecendo a pretensão do credor acarreta a interrupção da prescrição.
Exemplo: Caio confessa sua dívida para assim poder ajustar, com seu credor, uma forma de pagar. Essa
confissão pode ser judicial ou extrajudicial e reconhece o direito do credor de maneira expressa.
Exemplo: Caio, devedor, pede ao credor uma moratória, ou seja, que ele dilate o prazo do pagamento. Ou então,
faz um pedido de parcelamento. O pressuposto em ambas as situações é que Caio de fato deve. Infere-se de sua
conduta o reconhecimento da dívida, portando é uma confissão tácita.

PROBLEMA A interrupção pode ser praticada também por um terceiro interessado [art 203].
Exemplo: Cláudio é meu credor e tem interesse em interromper a prescrição. Porém, Claúdio tem também, por
sua vez, um credor. Caso a minha dívida para com Cláudio prescreva, ele estará perdendo a possibilidade de
recompor ou até acrescer seu patrimônio. Dessa forma, é plausível considerar que o credor de Cláudio tem todo
o interesse de que ele exerça sua pretensão, e por isso pode interromper o processo prescricional. Obs: o credor
de Cláudio pode fazer um protesto judicial, mas não pode simplesmente ajuizar uma ação em nome de Cláudio.

PROBLEMA Interrompida a prescrição ela recomeça a correr logo no dia seguinte, a não ser quando ela
acontece em um processo. Mas, durante o tempo em que o processo tramita, e se nele nenhum ato se praticou,
pode haver prescrição intercorrente (durante o curso do processo)?
Em princípio a prescrição intercorrente não existe porque é uma contradictio in terminis: se interrompeu-se a
prescrição e o processo ainda não acabou o prazo está parado, então como ele pode correr? Todavia, admite-se
tal exceção por uma interpretação sistemática: quando o processo fica parado por inércia do titular do direito,
em casos nos quais o processo dependia de ato do último para prosseguir (situação excepcioanal, pelo princípio
do impulso judicial), em outras palavras, se o processo ficar paralisado por incúria do titular do direito, a maior
parte dos autores admitem ser possível a prescrição intercorrente. Nesse caso, conta-se o prazo prescritivo
para o direito.

PROBLEMA Lê-se no caput do artigo 202 que a prescrição, uma vez interrompida, não pode ser de novo
(diferente da suspensão), o que é uma novidade acrescentada no Código Novo. A intenção do legislador foi
evitar sucessivas interrupções (que se dão geralmente através de sucessivos protestos) que levassem o prazo, na
prática, a um período muito extenso ou até mesmo a uma imprescrição.

Situação positiva: Sob a égide do antigo Código eu poderia, por exemplo, renovar o protesto inúmeras
vezes fazendo com que um prazo, que inicialmente era de 5 anos, se transformasse em um prazo de 35 anos. O
princípio da pacificação das relações jurídicas seria, dessa forma, prejudicado enormemente. Nesse caso, a regra
da interrupção única aparece como uma solução salutar.

Porém, há situações que põe em questão a pertinência dessa regra:

Situação negativa 1: quando a prescrição se interrompe por um protesto legalmente exigido, gerando
um processo. O juiz cita o réu, mas como já houve interrupção, não pode haver de novo por ocasião da citação.
O problema é que, se por um lado a interrupção por citação faz com que o prazo só volte a correr quando findo
o processo, por outro, na interrupção por protesto o prazo já volta a correr no dia seguinte. Portanto, nessa
situação o prazo continua correndo e pode até acabar antes do fim do processo!


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Situação negativa 2: se o devedor manda uma carta ao credor admitindo a dívida mas dizendo que não
vai pagá-la, a prescrição interrompe-se (por força do inciso VI do artigo em questão) e começa a correr
novamente no dia seguinte. Não pode, depois, ser interrompida de novo, nem com a citação. E se acabar o prazo
e a sentença ainda não tiver sido proferida, o processo se extingue!

DOUTRINA
•  Como forma de solucionar tal impasse, surgiram alternativas de interpretação teleológica
que entendem que, se por um lado o legislador quis evitar que o credor abusasse das formas
de interrupção, por outro não se pode prejudicar por isso alguém que não está sendo inerte.
Com efeito, há duas principais soluções propostas pela doutrina:
•  Solução 1: quando a prescrição tiver sido interrompida por um ato extrajudicial ou
obrigatório, ou em virtude de um ato praticado pelo devedor, então permite-se uma segunda
interrupção desde que ela seja pelo ato normal de interrupção da prescrição (despacho pelo
juiz que ordena a citação do devedor, na demanda em que o credor exercitou sua pretensão).
Essa solução é casuística pois busca resolver os problemas mais sintomáticos, mas não
resolve todos os possíveis problemas gerados pela regra da interrupção única.
•  Solução 2: apesar da Lei, entende-se que sempre é possível uma segunda interrupção, pouco
importando a causa da primeira, desde que a segunda se dê em virtude da causa primeira
(citação). Isso dá uma solução única a um dos problemas cruciais trazidos pelo código novo.

PRAZOS DE PRESCRIÇÃO
[arts. 205 e 206]

PROBLEMA (direito intertemporal) Quando o legislador tratou dos prazos se prescrição, manteve alguns e
alterou outros, de acordo com uma tendência reducionista. Tal tendência é pautada pelo princípio da pacificação
das relações jurídicas: quanto mais cedo a situação jurídica se estabilizar, no contexto de uma sociedade
hipercomplexa marcada pela instantaneidade das comunicações, melhor. Porém, surge um problema com essa
mudança: sucede que um prazo pode ter-se iniciado na vigência do Código Civil antigo, sendo apanhado e
reduzido pelo Código Novo.

Exemplo: eu tinha um prazo de 20 anos para exercer minha pretensão. Decorridos 15, surge o Código novo
que reduz aquele prazo para 10 anos. Como proceder?

O Código novo pretendeu uma regra de equilíbrio, de direito intertemporal, no artigo 2028:

“Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já
houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.”

Dessa forma, se o prazo já em curso tiver decorrido em mais da sua metade, continua a ser contado pela
lei antiga, pois o legislador entendeu que nesses casos haveria uma expectativa maior das partes.

Exemplo 1: tenho um prazo de 20 anos que começou a correr na lei velha e que na data da vigência da
nova já havia decorrido em 11 anos. Como já correu em mais da metade, continua regido pela lei antiga, e o
prazo que me sobra é de 9 anos:


 38


 

CIVIL
–
Giselle
Viana


 

20 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
10 anos
Prazo da Lei nova

Tempo restante – 9 anos


Tempo decorrido – 11 anos

Exemplo 2: No mesmo caso, mas, se em vez de decorridos 11 anos tivessem decorridos 9, aplicar-se-ia o
prazo da lei nova, pois entende-se que a expectativa das partes seria menos, restando assim apenas 1 anos para
o exercício da pretensão:
20 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
10 anos
Prazo da Lei nova

Tempo restante – 1 ano


Tempo decorrido – 9 anos

Mas afinal, aplica-se o prazo da lei nova desde quando? Desde o fato, ou ainda, desde o momento em
que posso propor a ação. Nos exemplos anteriores, quer aplicando-se a partir do fato, quer a partir da lei nova,
não se atinge o prazo antigo de 20 anos.

Mas se for assim sucedem algumas situações difíceis. Não havia antes, por exemplo, um prazo especial
para situações de responsabilidade civil (era portanto de 20 anos, que era o prazo comum). Entretanto, o novo
Código estabeleceu um prazo de 3 anos.

Exemplo: Se eu tinha um prazo de 20 anos, e deste correram 9 anos na vigência da lei velha,
teoricamente, sendo menos da metade do prazo antigo, seu final seria determinado pela lei nova. Mas, se eu
contar 3 anos a partir da data do fato, o prazo, que nem vigorava na época, já estaria prescrito há 6 anos. Seria
admissível uma prescrição retroativa? Como resolver?
20 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
3 anos
Prazo da Lei nova

?
Tempo decorrido – 9 anos

Solução? Aparentemente a mais simples: aplicar o prazo novo a partir de sua vigência. Dessa forma, no
exemplo anterior, restariam 3 anos para o exercício da pretensão:


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

20 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
3 anos
Prazo da Lei nova

Tempo restante – 3 anos


Tempo decorrido – 9 anos

Contudo, também essa solução causaria problemas. O Código Velho previa um outro prazo de 5 anos, que
na Lei nova foi reduzido para 3.

Nesse caso, se decorreram, por exemplo, 2 anos e 8 meses do nascimento da pretensão, não há grandes
problemas, pois, sendo mais da metade do prazo velho, é este que continuaria valendo:
5 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
3 anos
Prazo da Lei nova

Tempo restante – 2
Tempo decorrido – 2 anos e 4 meses
anos e 8 meses

Por outro lado, consideremos que decorreram 2 anos e 4 meses. Nesse caso, aplicar-se-ia o prazo da lei
nova. Considerando-se a solução apresentada, de se aplicar o prazo a partir da vigência da Lei nova, teríamos
mais 3 anos de prazo, totalizando um prazo de 5 anos e 4 meses:
5 anos

CÓDIGO/02
Prazo da Lei velha
3 anos
Prazo da Lei nova

Tempo restante – 3 anos


Tempo decorrido – 2
anos e 4 meses

Todavia, ao aplicar-se dessa forma o prazo da lei nova, cujo objetivo era justamente reduzir o período da
prescrição, acabar-se-ia o aumentando! Donde temos um problema:

PROBLEMA As vezes, dependendo do tamanho dos prazos reduzidos, pode-se levar a um resultado de
um prazo ainda maior que o da lei velha ao aplicar-se o prazo a partir da vigência da Lei nova. Há uma regra
hermenêutica no sistema, que determina que a interpretação jurídica deve ser inteligente, ou seja, de modo a
que se chegue a resultados coerentes com o sistema. Portanto, não seria por esse princípio admissível aplicar


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

um prazo que foi reduzido na lei nova de forma que ele acabe sendo maior que o da lei velha. Seria uma
incongruência. Como resolver esse contrassenso? Há duas fórmulas:

 Solução que se tem defendido de maneira majoritária: quando aplicar o prazo da Lei nova a partir de si
aumentar o prazo, aplica-se dessa forma mesmo MAS para-se de conta-lo quando atingir o prazo da
lei velha.

Sob essa perspectiva, chegando-se no termo final do prazo de 5 anos da lei velha, no último exemplo,
para-se de contar.

Crítica: Essa tese é sofista pois, no fundo, estaria se aplicando o prazo da lei velha em um caso que a lei
mandou aplicar o da lei nova. Mas, em todo caso, fica-se com o sofisma.

 A outra alternativa é, aplica-se prazo da lei nova a partir do fato mesmo. Como decorreram 2 anos e 4
meses desde o fato, no último exemplo, e o prazo novo é de 3 anos, teria em tese mais 8 meses.

Critica: Dependendo do tamanho dos prazos e de quanto tempo já decorreu, as vezes o titular do direito
violado que terá de aplicar a lei nova terá um tempo muito curto para ajuizar a ação. Gera-se assim um grande
insegurança jurídica, em virtude da vigência de uma lei nova. Essa solução é portanto muito casuística. Essa
matéria não é abertamente tratada na lei.

Porém, muitos também argumentam que o Código novo teve um ano de vacaccio... ou seja, todos
tiveram um ano para saber quanto tempo lhes sobrava pra propor suas respectivas ações.

A lei nova quando tiver de ser aplicada, o prazo se aplica sempre de sua vigência. O que muda é o
termo final.

Prazos

O código faz uma distinção fundamental entre prazos comuns (1) e especiais (2). Isso significa dizer, pela
regra básica da especialidade, que quando não houver prazo especial aplica-se o prazo comum.

Relembrando...
Excepcionalmente existem casos no sistema de imprescritibilidade. Por
exemplo, não prescreve a pretensão de fazer valer direitos existenciais, da
personalidade, portanto tenho a qualquer tempo o direito de fazer cessar uma
afronta aos meus direitos de personalidade (porém, a indenização que eu queira
requerer, prescreve). Não prescrevem também as ações de estado constitutivas
positivas, ou seja, a pretensão que se exerce por meio de uma ação de investigação de
paternidade. Ademais, ações meramente declarativas não prescrevem idem. Todos
esses casos são exceções, pois a regra geral é que tudo prescreve, seja pelo prazo
comum, seja pelos prazos especiais.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

O maior prazo de prescrição extintiva é de 10 anos, que é o prazo comum. Dessa forma, qualquer
pretensão a ser exercitada e que não tenha para isso um prazo especial, prescreve em 10 anos.

Código velho:
No Código de 1916 esse prazo comum era maior e pressupunha uma distinção que o Código atual não
faz: era dividido conforme a pretensão fosse realizada por meio de uma ação pessoal ou real (no primeiro caso,
o prazo comum era de 20 anos, no outro de 10). Atualmente, só há o prazo comum de 10 anos,
independentemente da ação ser pessoal ou real.

A partir do artigo 206 há inúmeros prazos especiais (que se encontram também dispersos em leis
especiais) e que são prazos variáveis que normalmente vão de um até 5 anos. Vamos analisar apenas os mais
comuns:

Prazo Casos
1
ano
 Seguro


2
anos
 Alimentos


Aluguel,
Enriquecimento
sem
causa,

3
anos
 Reparação
civil,
títulos
de
crédito


5
anos
 Dívidas
líquidas,
onorários


10
anos
 Casos
não
especiais


 Prazos de 1 ano:

“Art. 206. Prescreve:


§ 1o Em um ano:
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele (...)”

II) SEGURO (1 ano): Seguro é um contrato que se faz com a seguradora pra cobrir riscos de
acontecimentos danosos. O segurado paga o prêmio (preço pela cobertura, pela garantia) e, acontecido o
sinistro (evento coberto: incêndio, acidente, morte, furto, roubo, etc), a seguradora tem que pagar o valor
segurado. Seja quem vai cobrar quem, pelo prêmio ou pelo valor segurado, o prazo para o exercício dessa
pretensão é de um ano.

Ressalva 1: Há uma dúvida que diz respeito ao conflito de leis no caso de seguro saúde (este difere do
plano de saúde, pois escolhe-se o prestador do serviço) que está regrado em lei própria, onde não há prazo de
prescrição.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

Ressalva 2: existem seguros obrigatórios no Brasil, o mais comum é o seguro obrigatório de automóvel.
Nesse caso o STJ entendeu que não se aplica o prazo de um ano, mas o de 3.

“A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos”.


Súmula 405

 Prazos de 2 anos:

“Art. 206. Prescreve:


§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.”

§2o) ALIMENTOS (2 anos): A obrigação de prestar alimentos pode ter 3 origens: indenizatória (o dano
pode ser causado a uma vítima indireta por reflexo, se mato por exemplo um pai de família, fico obrigada a
indenizar os filhos, para que não fiquem desamparados, prestando-lhes alimentos), voluntária (voluntariamente
me comprometo a prestar alimentos ao filho de Tício pois sou amiga da família), ou no direito de família
(marido e mulher e parentes devem alimentos uns aos outros quando o credor não tem condições de se manter).
No último caso, estes alimentos são imprescritíveis. Isso gera uma confusão, cabendo salientar que, o que é
imprescritível é o direito de pedir alimentos.

Exemplo: Estou sem emprego e impossibilitada de conseguir emprego. Posso pedir a qualquer tempo,
desde que eu precise e que ele possa pagar, alimentos para o meu pai.

Os alimentos constituem uma verba periódica e o prazo de 2 anos conta-se de cada qual desses
vencimentos. Cada verba deve ter o seu prazo prescricional, portanto, a partir do seu vencimento.

Exemplo: Se meu pai me deve alimentos mas não pagou, tenho um prazo de 2 anos pra cobrar.

PROBLEMA Se devo alimentos pro meu filho menor de idade, ele tem prazo prescricional pra cobrar a verba
passada? Não! Primeiro porque não corre prazo prescricional contra quem é absolutamente incapaz, e segundo
porque não corre prazo entre pais e filho durante o exercício do poder familiar.

 Prazos de 3 anos:

“Art. 206. Prescreve:


§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições
de lei especial;”

I) ALUGUEL (3 anos): se um inquilino não paga o aluguel, a pretensão de cobrá-lo prescreve em 3 anos.
É um prazo reduzido, pois no Código velho era de 5 anos.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

Termo a quo: via de regra, o prazo de prescrição começa a ser contado a partir do momento em que a
ação pode ser proposta: princípio da actio nata. Como os alugueis são rendas periódicas, a partir do vencimento
de cada um conta-se os 3 anos de prazo.

IV) ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA (3 anos): É um princípio herdado do direito romano aquele
que busca evitar o enriquecimento sem causa, por isso quem recebe o que não é seu deve devolver, como
acontece por exemplo na restituição de indébito. No código velho não havia prazo especial para requerer a
restituição de tais proveitos, mas agora há prazo especial de 3 anos.

Tecnicamente não há um problema de direito intertemporal pois não foi uma redução do prazo, há na
verdade um prazo novo! Todavia, a doutrina e a jurisprudência, equivocadamente, consideram isso como uma
redução de prazo, voltando-se àquele problema intertemporal já analisado.

V) REPARAÇÃO CIVIL (3 anos): É outro prazo que não estava estabelecido de maneira especial no
Código velho, portanto não pode ser considerado propriamente um prazo reduzido. Porém, é de se observar que
antes o sujeito tinha um prazo de 20 anos, e agora tem de 3, o que representa uma grande redução.

Reparação civil é a reparação pelo prejuízo causado mediante um pleito indenizatório. No caso de dano,
conta-se 3 anos a partir do fato danoso.

PROBLEMA O ilícito, de alguma maneira, é sempre uma infração de um dever legal. Sucede que as vezes a lei
autoriza as pessoas a ajustarem deveres recíprocos, que as partes contratem obrigações específicas, ou seja a
fazer contratos. Quem descumpre um dever contratual também comete um ato ilícito. Destarte, surge a
questão: em casos de ilícito contratual em que não há previsão de qualquer outro prazo, aplica-se qual prazo,
este ou o comum? Em outras palavras, essa reparação civil referida no inciso 5o se aplica apenas a reparação dos
ilícitos aquilianos, ou pode aplicar-se aos ilícitos contratuais? Ou ainda, esse prazo especial trienal se aplica a
todo e qualquer ilícito praticado? Se não, aos contratos que gerem uma pretensão indenizatória, qual prazo deve
ser aplicado?

Acontece que no caso do ilícito contratual, alguns autores defendem que a própria configuração do dano
não é tão clara e nem tão simples quanto a do ilícito aquiliano. Outross, além de sustentarem que o ilícito
contratual gera danos não tão fáceis de perceber, defendem que não faria sentido dispor de um prazo maior para
exigir que se cumpra o contrato por execução especifica (10 anos), e apenas 3 anos para pleitear uma
indenização pelo que já foi descumprido. Esses autores portanto defendem que esse prazo de 3 anos se aplica
apenas aos casos extracontratuais, enquanto os contratuais ficam com o prazo comum de 10 anos.

Godoy, por outro lado, e pela regra do “onde a lei não distingue, não cabe ao interprete distinguir”,
entende que o inciso abrange ambas as situações. Ademais, salienta que se fosse para haver alguma distinção ela
deveria ser inversa, afinal, o ilícito extracontratual é geralmente mais grave. Porém, como o prazo ficaria
muito curto, sob o ponto de vista pragmático a distinção seria melhor. Esse é o principal problema de
prazo especial.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

VIII) TÍTULOS DE CRÉDITO (3 anos):

Ressalva: Seguindo o princípio da especialidade, esses prazos especiais do Código Civil só se aplicam
quando não houver previsão em lei especial, pois essas seriam mais especiais. Aqui essa ressalva é muito
importante, porque há inúmeras leis especiais tratando de títulos de créditos (da letra de câmbio, da nota
promissória, da duplicata, do cheque). O Código Civil aqui estabelece um prazo especial para cobrar dívidas que
estejam representadas por um título de crédito desde que lei especial relativa a esse mesmo título não preveja
prazo diferente. As leis especiais, porém, normalmente estabelecem o mesmo prazo do Código Civil para a
cobrança de títulos de crédito, o prazo trienal, havendo assim uma certa conformidade.

• 
Título de saque (o credor


saca o título contra o
Letra
de
 devedor);
câmbio
 •  O devedor reconhece ou
não que tem uma dívida;

• 
Título de emissão;
•  O devedor emite o título;
Nota

Promissória
 •  O devedor emite em seu
favor dizendo "eu devo uma
quantia X pra você’

• 
Título de saque;
Títulos de •  O credor saca o cheque;
•  Emito uma ordem para o
Prazo diferente!
crédito Cheque
 6 meses
banco para que ele pague o
(exemplos) valor do cheque para seu
portador.

• 
Título de saque (o credor


saca o título contra o
devedor, que pode aceitar
Duplicata
 ou não);
•  Sobre: compra e venda
mercantil, prestação de
serviço.

Letra de câmbio:
É aquela em que o credor saca o título contra o devedor, que aceita ou não o reconhecimento de que ele
tem portanto uma dívida. Exemplo: Caio saca uma letra de câmbio contra Tício, que lhe deve 3 mil reais, e o
último aceita.

Nota Promissória:
Já a nota promissória é um título não sacável, mas emitido pelo próprio devedor (quando o título é
sacável quem saca é sempre o credor, e quando é emitido é pelo devedor). O devedor emite em seu favor
dizendo ‘Eu devo pra você uma quantia x’.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

Cheque
O cheque é sacado ou é emitido? O cheque é sacado! Mas então quem saca o cheque é o credor? Sim, pois
o cheque é uma ordem que o correntista dá pro banco onde estão depositados os seus fundos, para que este
pague o valor do cheque para o seu portador ou beneficiário que tenha sido nominalmente indicado.

A letra de câmbio e a nota promissória são tratadas na lei uniforme de Genebra, que é uma convenção
internacional a que o Brasil aderiu. O prazo de ambas é de 3 anos.

Já o cheque é tratado na lei especial nacional ‘Lei do Cheque’, e o prazo prescricional é diferente, é de 6
meses, a contar do prazo de apresentação do cheque ao banco (o chamado deposito do cheque, para que o banco
pague)

Duplicata
Outro título de crédito muito comum é a duplicata, tratada na Lei das Duplicatas, que também estabelece
um prazo de 3 anos. É um título de saque e não de emissão, sendo sacado pelo credor contra o devedor, que
pode aceitar ou não. Diferentemente da letra de câmbio, a duplicata tem necessariamente que se referir a uma
compra e venda mercantil ou a uma prestação de serviço. A duplicata é um título causal porque
representativo necessariamente de uma dessas duas espécies de negócio jurídico.

E se eu perder o prazo de 3 anos a dívida não pode ser cobrada, mesmo que ela perca a natureza
cambiária? Pode, e no prazo comum. Todavia, é diferente cobrar um título de crédito e uma dívida que não
seja cambiária. Isso pois o título de crédito vale pelo que nele se contém (não se precisa explicar nada, basta
apresenta-lo). Se, porém, perde-se a força executiva do título cambiário, até posso cobrar, mas vou me sujeitar à
prova da origem daquela dívida.

 Prazos de 5 anos:

“Art. 206. Prescreve:


§ 5o Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus
honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;”

I) DÍVIDAS LÍQUIDAS (5 anos): Esse é um prazo novo. Significa que se eu for credora de uma dívida
líquida que esteja representada num documento qualquer, seja público ou particular, eu tenho o prazo de 5 anos
para cobrar. Claro que se esse documento for um título de crédito, caio no inciso anterior. Mas pode ser
qualquer outra espécie de documento (ex: um contrato de empréstimo, uma confissão de dívida por escrito).

Crédito líquido: é aquele que eu já sei “o que é” e “quanto é”. Em outras palavras, uma dívida líquida é
aquela certa quanto a sua existência e determinada quanto a sua extensão.

OBS: Algumas dívidas podem já existir mas não ser ainda líquidas. Por exemplo, se dou um soco em alguém,
cria-se o dever de indenizar, mas a quantia ainda precisa ser determinada.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

II) ONORÁRIOS (5 anos):
Ressalva: perito em juízo - o juiz para julgar questões técnicas pode ser valer do auxílio de um perito.
Este pode ser um particular que recebe por isso honorários periciais. Nesse caso, o prazo para cobrar é de um
ano.

OBS: os créditos que envolvam a fazenda pública (pessoas jurídicas de direito público) quer para ela
cobrar quer para ela ser cobrada (ex: tributos, créditos tributários) tem prazo de 5 anos.

 Decadência:

Na decadência, os prazos normalmente já são especiais. Não há assim um prazo decadencial comum, há
um subsidiário. Com efeito, o código estabelece que se a lei fixar um direito potestativo, dizendo que este
direito deve ser exercido com um prazo, que porém a própria lei não quantificou, esse prazo é de 2 anos. Em
outras palavras, todos os prazos decadenciais são quantificados a prioristicamente de forma expressa pela lei,
mas as vezes não, e nesses casos a parte geral estabelece que o prazo subsidiário é de dois anos.

Exemplo: o prazo para propor ação de anulação por defeito (erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo e fraude
contra credores), é decadencial, pois constitui um direito potestativo. Esse prazo é de 4 anos, segundo o artigo
178.

OBS: diferença ente direito subjetivo e potestativo: o direito subjetivo está representado por uma
prerrogativa para cujo atendimento é preciso um comportamento esperado do devedor, uma prestação. Tenho
um direito subjetivo, ele é violado pelo descumprimento da prestação do devedor, donde nasce uma pretensão,
que tem prazo para ser exercitada. Já o direito potestativo: é uma prerrogativa discricionária que o titular
exerce ou não sem que haja qualquer comportamento esperado do devedor, que permanece em pleno estado de
sujeição.

As vezes a lei fixa um direito potestativo que é naturalmente sujeito a um prazo mas não estabelece qual
é esse prazo. Por exemplo, o Código determina que é anulável a venda de ascendente para descendente sem o
consentimento dos demais [art. 486]. Se é anulável, há um prazo para anular, e este é um prazo decadencial.
Porém, o prazo não está determinado no artigo. Enfim, quando a lei não estabelece o prazo decadencial para o
reconhecimento de uma invalidade, o prazo é de 2 anos:

“Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação,
será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.”


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 


PROVA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Definição: trata-se da maneira de se demonstrar que o negocio jurídico de fato ocorreu.


Nesse assunto, para que não haja confusão entre o Direito Civil e o Processo Civil, cabe uma distinção:
quais são as provas dos negócio jurídico, ou seja, os modos pelos quais se demonstra a sua ocorrência, é uma
matéria concernente ao Direito Civil. Por outro lado, os meios de produção dessas provas no processo é
questão relativa ao Processo Civil. Na prática, porém, essa diferença essencial as vezes se revela de forma muito
tênue...

NEGÓCIOS JURÍDICOS FORMAIS

A importância dessa distinção, entre negócios solenes e não solenes, é que, via de regra, os negócios
jurídicos formais só podem ser provados de uma forma determinada. Ao passo que, os negócios jurídicos

Relembrando...
NEGÓCIOS JURÍDICOS FORMAIS: [art. 107] São aqueles que não
podem ser realizados por qualquer forma. São exceções ao princípio do informalismo
do negócio jurídico, pois o legislador exige uma forma específica (ou algumas) para
que o negócio possa ser consumado. Mas por que o legislador exige essa forma especial?
1. Para chamar atenção das partes ou do declarante para a importância da
vontade declarada, do negocio.
2. Para minimizar os riscos de vícios na declaração de vontade, a
potencialidade de ocorrência de defeitos;
3. Para aumentar a segurança quanto à autenticidade da declaração de
vontade;
4. Para facilitar a prova daquele negócio. pq Se o negócio jurídico é solene,
então normalmente ele só pode ser provado pela mesma forma que a lei exige para a
sua consumação.

informais tem a prova livre, ou seja, podem ser provados por qualquer meio permitido e lícito. Dessa forma,
para provar o negócio jurídico preciso antes então saber se ele é formal ou informal.

No âmbito dos negócios jurídicos formais há ainda uma segunda distinção:

Essa forma especial que o legislador exige ora é pública, ora é particular, podendo também ser possível ambas
as formas para o mesmo negócio. Se a forma exigida pelo legislador é pública, a prova do negócio
somente se faz pela exibição dessa forma, ou seja, pela exibição do documento público que consumou o
negócio. Por outro lado, se a forma exigida pelo legislador foi a particular, o negócio pode
excepcionalmente, e apesar de ser formal, ser proado por qualquer forma. Nesse caso não há, portanto,
necessidade de exibição do próprio documento [art. 221, § único]. Consequentemente, percebe-se que na
verdade são apenas os ‘negócios jurídicos formais que exigem forma pública’ que dependem para a sua prova da
exibição do documento público.


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 


Negócios Jurídicos • Via de regra, têm prova livre

•  Provados por forma específica;


•  Quando a forma exigida é
Negócios Jurídicos Formais particular, exepcionalmente
podem ter prova livre.

Negócios Jurídicos Formais • exibição


A prova somente se faz pela
do documento
de forma Pública público.

Documento Público

O documento público é aquele que encontra o seu suporte material na escritura pública. Esta, portando,
é o instrumento próprio para atendimento da exigência legal de forma pública como requisito substancial do
negócio jurídico.
Devem ser feitos por escrituração qualquer negócio que envolva direitos reais imobiliários cujo valor
ultrapasse em 30 vezes o valor do salario mínimo vigente, como versa o artigo 108:


“Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.”

Ademais, só pode ser efetuada por escritura pública o pacto antinupcial (quando se quer estabelecer um
regime de divisão de bens diferente da comunhão parcial) a emancipação concedida pelos pais

 O que é a escritura pública?


A escritura pública é um documento lavrado por um delegado do serviço público: o tabelião (ou
notário), cuja delegação é consumada por um concurso público. O tabelião “recolhe” a manifestação de vontade
das partes e a “anota” (por isso o nome ‘notário’) num registro público. A “nota” reduz a escrito aquilo que a
parte lhe transmitiu. Assim, ao transcrever para um suporte material ele torna público aquilo que foi perante
ele declarado. E aquilo fica registrado naqueles livros públicos que são de possível consulta a qualquer
interessado.

 O que a escritura pública deve conter?

“Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena.
§ 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter:
I - data e local de sua realização;
II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como
representantes, intervenientes ou testemunhas;


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CIVIL
–
Giselle
Viana


 

III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais
comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e
filiação;
IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;
V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato;
VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram;
VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal,
encerrando o ato.”

 Perguntas habituais sobre a escritura pública:

1) E se a parte não souber assinar? R: O tabelião convoca alguém para assinar a rogo, ou seja, a pedido da
parte [art. 215, § 2o].

2) A parte que declara a sua vontade para o tabelião precisa ser convenientemente identificada para
evitar falsidade. Como o tabelião identifica a pessoa? R: Pelos documentos oficiais comuns de identificação (o RG,
por exemplo). Todavia, é possível que o tabelião tenha dúvida sobre a real identidade da pessoa. Nesse caso, como
proceder? R: Ele pode convocar duas testemunhas que confirmem atestem a identidade da parte [art. 215, § 5o]..
Alias, a própria parte pode indicar essas duas testemunhas, cabendo ao tabelião aceita-las ou recusá-las.

3) A escritura pública no brasil deve ser lavrada na língua nacional [art. 215, § 3o].. Então um estrangeiro
não pode lavrar um documento público? R: Pode. Mas nesse caso há 3 hipóteses e suas respectivas soluções: se o
tabelião conhece a língua falada pelo declarante, ele mesmo traduz a declaração no momento de a registrar; Se,
porém, o tabelião não fala a língua da parte, ele pode convocar um tradutor público juramentário, que é um
particular credenciado pelo poder público para fins de tradução em geral; Se, ainda, o tradutor não fala a língua
e também não há naquela localidade nenhum tradutor oficial público para aquele idioma, ele pode convocar a
seu juízo qualquer pessoa que ele conheça e que ele acredite de maneira justificada que fale aquela
língua (se eu sou tabeliã e não falo japonês, e também não tem na cidade nenhum tradutor de japonês, mas eu
conheço por acaso um imigrante japonês que conhece plenamente tanto o japonês quanto o português, posso
convocá-lo como tradutor) [art. 215, § 4o].

 Traslados e certidões:

Lavrada a escritura, dela se podem expedir traslados ou certidões. Traslados são reproduções daquela
escritura pública. Já são certificações do conteúdo. Uma ou outra fazem a mesma prova. Até por que a escritura
em si não sai do tabelionato, o que saii é o traslado ou a certidãoo.

OBS: nem todo documento publico é uma escritura, que é apenas uma forma dele.

Lavrada a escritura, aquilo que nela se contém goza de fé pública (afinal, é um documento público lavrado
perante um agente do poder público que passou por um concurso para exercer essa função). Sendo assim, a
escritura goza de presunção relativa de veracidade: tudo o que nela se contém na em principio é verdade,
admitindo-se prova em contrário.

OBS: Godoy prefere dizer que a escritura goza de presunção de autenticidade. O que significa dizer que sabe-
se que a priori aquelas pessoas estiveram no tabelionado e que elas realmente disseram o que consta que elas


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disseram, mas não se sabe necessariamente se o conteúdo do que se disse é verdade, e o tabelião não faz essa
auferição, sendo seu controle meramente formal.

Dessa forma, é um documento que se reveste de maior segurança, e é por isso que o legislador exige esse
documento para a consumação de determinados negócios jurídicos. Quando a lei exige o documento público
como essencial ao negócio jurídico então fala-se que a escritura pública é o instrumento daquele negócio.

É importante salientar que instrumento não é equivalente a documento.

Documento
Instrumento
"gênero"
"espécie"

Qualquer Suporte de um
suporte determinado tipo de
demonstrativo negócio jurídico
de um fato

Observações:

1) Posso também me valer da escritura pública para praticar um negócio jurídico informal. Ela continua
sendo um documento público, mas se eu quiser provar esse negócio, por ele ser informal, posso me valer de
qualquer outra forma probatória (afinal eu podia tê-lo praticado por qualquer outra forma).

2) Lembrar que as vezes o negócio jurídico é informal mas só pode ser provado por algumas formas
específicas. Afinal, a formalidade pode ser substancial ou probatoria.

Documento Particular:

É aquele que não é público, que não foi lavrado perante o tabelião. É aquele que as próprias partes
elaboram, ou alguém elabora pra elas (sem ser um agente público).

“Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos
signatários.”

De acordo com esse artigo, uma vez assinado pelas partes também faz prova a priorística das
declarações principais das partes que assinaram, que se contém naquele documento a respeito daquele
negócio. O que equivale a dizer que um documento particular assinado não faz prova a priorística das
declarações enunciativas, acessórias, que não sejam as principais. Como estas não gozam, portanto, de
qualquer espécie de presunção de veracidade, precisam se provadas de maneira geral.


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Exemplo: em um contrato de locação, a contratação principal é o preço da locação, a identificação de qual


é o imóvel e as declarações de vontade do locatário e do locador. A descrição do imóvel, por exemplo, não é
principal, e portanto não goza de presunção relativa de veracidade.

O negócio jurídico formal, quando a formalidade exigida for particular, pode ser provado por outras
formas.

O documento particular, para ser oponível a terceiros, deve estar registrado publicamente. Logo, a
publicidade do documento particular depende de registro. Já a escritura publica não: mesmo sem qualquer
espécie de registro já é pública, e portanto erga hominis.


No código anterior, o artigo 135 era examinado em conjunto com o artigo 131. O primeiro determinava
que o instrumento particular deveria ser assinado por 2 testemunhas, o que o código atual não exige.

Há duas exceções à regra de que a assinatura das partes faz prova a priorística do que elas escreveram:

1) Negócios Jurídicos em que uma das partes se manifesta por mera adesão: nesse caso, muito comum em
contratos de consumo, as condições do negócio já estão previamente estabelecidas e impostas por uma das
partes, cabendo à outra parte meramente “pegar ou largar”. Há, dessa forma, uma desigualdade intrínseca entre
as partes, e por isso a prova é menos rígida, sendo possível se provar contra o que se assinou.

2) Meio testemunhal de produção de provas: segundo os artigos 227 do Código Civil e 401 do Código de
Processo Civil, a prova exclusivamente testemunhal não é cabível nos negócios jurídicos cujo valor ultrapassa o
valor do salario mínimo em 10 vezes:

“Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo
valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.”

Em outras palavras, se eu tenho que provar um negócio jurídico formal, mas que pode ser feito por
instrumento particular, e eu não o tenho, eu teoricamente posso provar por outro meio. Porém, de acordo com
esse artigo, não posso me valer da prova meramente testemunhal SE o valor desse negócio é maior que 10
vezes o salario mínimo.

DOUTRINA

•  A doutrina e a jurisprudência historicamente acabaram estabelecendo uma série de


mitigações a essa regra, determinando que ela não incide nas seguintes situações:
•  Quando não quero provar o negócio jurídico como um todo, mas apenas um parte,
cujo valor não ultrapassa o limite do artigo (10x salário mínimo);
•  Quando quero provar efeitos pretéritos, que já aconteceram naquele negócio.
• Quando o tipo de negócio jurídico habitualmente for feito de maneira verbal,
independentemente do seu valor. Exemplos: a compra e venda de gado, dependendo
da região do país, o contrato de corretagem, etc.


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NEGÓCIOS JURÍDICOS INFORMAIS

Quando o negócio jurídico se pode ser feito de qualquer forma, pode ser também provado de qualquer
forma (considerando-se a restrição supramencionada).

Distinção fundamental: o negócio jurídico solene só excepcionalmente pode ser provado por um desses
meios (se a exigência de instrumento for um documento particular). O rol desses meios esta definido no artigo
212:
“Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.”

I. Confissão

Trata-se, em sentido lado, da admissão da veracidade de um fato. Nesse caso, é entendida como a
admissão da ocorrência de um negócio jurídico, ou seja, da admissão do declarante de que ele declarou sua
vontade dando azos àquele negócio jurídico.

 Algumas ressalvas:

1) A confissão também está tratada no CPC, nos artigos 348 e seguintes. Porém, nele o conceito de
confissão é mais restrito que o do Código Civil, pois trata de uma declaração unilateral.

2) A declaração pode ser judicial ou extrajudicial. Em outras palavras, pode ser dentro ou fora de um
processo. Ademais, pode-se confessar a celebração de um negócio fora do processo mesmo que esteja correndo
um. Não sou obrigada a confessar NO processo.

3) A confissão pode ser feita pessoalmente (a própria parte confessa o fato) ou por meio de um
procurador.

4) A confissão pode ser expressa ou presumida. Confissão presumida, como toda presunção, é uma forma
de demonstrar a ocorrência de um fato (incerto) a partir da conclusão que se extrai da ocorrência de outro fato
(certo).

Exemplo: a parte que é citada em um processo e não se defende tem contra si uma presunção: presumem-
se como verdadeiros os fatos alegados contra ela. Exemplo 2: se a parte for intimada para prestar depoimento
pessoal e se ausentar injustificadamente.


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 Quero provar o...


 FATO A FATO B
(omissão)
Que por si mesmo
demonstra o...

Mas ocorre o...

Lembrando que confissão nunca se refere a matéria jurídica. ‘Prova’ em principio é algo que diz respeito à
demonstração de um FATO. Com efeito, prova do direito via de regra não se faz.

II. Documentos

Lembrando que documento é qualquer suporte material de um fato. Esse documento também será um
instrumento quando for representativo de um tipo de negócio jurídico. Se, por exemplo, eu viajo e mando um
cartão postal, isso é um documento, mas não é um instrumento pois não há um negócio jurídico. Quais são
possíveis documentos? Os instrumentos públicos e particulares.

 Artigos 216 e 217: Certidões e traslados são documentos públicos, pois é um agente público que
os expede. Todavia, não são necessariamente sempre de um instrumento publico. São em si
documentos públicos que reproduzem outros instrumentos públicos.

Prova emprestada: chamadas também de "atos processados em juízo" - é aquilo que se extrai de um
processo pra levar a outro processo. Caio propõe, por exemplo, uma ação de indenização contra Tício, mas é
possível que ele também tenha um processo contra Públio e que haja interesse em ir buscar no primeiro
processo provas para o outro processo.

 Artigo 223: cópia autenticada expedida pelo tabelião é uma prova relativa (posso provar que
não é autêntica). O tabelião tem por incumbência primaria lavrar escrituras públicas, mas tem
outras atribuições, como a de reconhecimento de firma (afirmar que aquela assinatura ou foi
feita em sua presença e ele identificou a parte, ou se assemelha à que ele possui armazenada no
cartório atribuída àquela parte). Ademais, o tabelião também faz a autenticação: atesta que uma
cópia confere junto à original.

 Artigos 378 a 380: livros comerciais - o empresário, por força de lei, deve manter a escrituração
de sua atividade comercial. Para isso, deve manter inúmeros livros contábeis, que são
documentos. Tais documentos servem de prova desde que seja de um fato ou negócio jurídico
de algum modo pertinente àquela escrituração (não prova por exemplo uma anotação
aleatória que alguém tenha feito em um canto da página).

 Artigo 225: reproduções mecânicas ou eletrônicas: reproduções fotográficas, cinematográficas,


registros fonográficos, etc, fazem prova plena desses fatos ou coisas, SE a parte não impugnar a
exatidão. Com o avanço da ciência, sucede que considera-se documentos reproduções muito mais


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amplas que antigamente. Uma fotografia, por exemplo, pode provar um negócio jurídico. Mas
geralmente essas provas são cotejadas entre si, podendo provar fatos indiretos.

III. Testemunhas

A testemunha é uma pessoa que depõe declarando a sua ciência sobre a ocorrência de um fato.

Espécies de testemunhos:
 Testemunha instrumentária: é aquela que participa e subscreve um instrumento. Ela atesta que
aquele documento foi realizado por aquelas pessoas. As vezes faz parte da solenidade exigida (ex:
testamento, casamento)
 Testemunha judiciária: é a que presta depoimento no processo.

Lembrando que tanto a lei civil quando a lei processual estabelecem uma restrição importante à
admissão de prova testemunhal: a do artigo 227, já tratada. Ademais, há restrições em relação à pessoa da
testemunha. No Código Civil esse rol está no artigo 228 e no CPC, no 215, sendo ambos praticamente iguais.
Determinam que não podem ser admitidos como testemunhas (não apenas como judiciárias, mas também
como instrumentarias):

“Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:


I - os menores de dezesseis anos;
II - aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem discernimento para a prática dos
atos da vida civil;
III - os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer provar dependa dos sentidos que lhes faltam;
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes,
por consanguinidade, ou afinidade.
Parágrafo único. Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das
pessoas a que se refere este artigo.”

Observações:

II) Refere-se aos absolutamente incapazes. O legislador não esta exigindo que o sujeito esteja interditado,
tratando assim dos incapazes naturais. A diferença em relação ao Código de Processo é que ele desdobra esse
inciso em dois, sendo que um dele determina justamente que, não tendo discernimento, não importa se o
indivíduo está ou não interditado. Na prática dá na mesma.
III) Cegos e surdos são pessoas, como regra, completamente capazes, podendo porém haver restriçõs na
realização de alguns atos jurídicos. Tratemos aqui de uma restrição fundamental: não podem produzir prova
testemunhal quando o fato que se quer provar dependa do sentido que lhes falta. De resto, isso não os
impede de depor (afinal, um surdo pode não ter ouvido, mas pode ser lido, e um cego pode não ter visto, mas
sentido de outra f0rma).

III) No CPC, além do interessado no litigio, do amigo e do inimigo, também não podem ser admitidos
como testemunha aqueles que de certa forma intervieram no processo, como advogado, juiz, tutor, etc.


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Também não admite-se como testemunha aqueles que já tiverem sido condenados por crime de falso
testemunho.

IV) O motivo dessa restrição é parcialidade natural dessas pessoas.

O Código de Processo Civil trata dessas mesmas situações, a diferença é que ele agrupa essas
testemunhas em um rol que chama de “incapazes de depor” (casos de incapacidade), outro chamado “impedidas
de depor” (casos de relações familiares) e por fim um “suspeitas de depor” (amigos, inimigos, etc). O CPC, no
parágrafo do inciso 5o, diz que o juiz pode ouvir testemunhas impedidas ou suspeitas caso seja absolutamente
necessário, e que ele pode ouvi-las sem compromisso, ou seja, não como testemunhas mas como informantes.
Mas e os incapazes, não podem então depor? E os familiares, em demandas de família? Os últimos são tratados como
informantes. Já no caso dos incapazes, o Código Civil estabelece que para provas de fatos que só elas conheçam
essas pessoas elencadas podem ter o seu depoimento admitido pelo juiz, que por sua vez tem que justificar tal
admissão.

O Código esclarece que depor como testemunha não é “favor”, é um dever! Donde, se a testemunha
não comparecer injustificadamente, o juiz pode mandar buscá-la à força: é a chamada condução coercitiva, o
depoimento sob vara. Se alguém intimado a depor não depuser pode cometer crime de desobediência. Porém,
em alguns casos excepcionais, a testemunha pode se escusar de depor:

“Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato:


I - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo;
II - a que não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo íntimo;
III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano
patrimonial imediato.”

I) São escusas profissionais, pelo sigilo profissional, que é resguardado. Esses profissionais não podem
depor sobre fatos que exponham sigilos constitucionalmente assegurados. São médicos, advogados, padres, etc.
Todavia, hoje se admite uma certa proporcionalização dessa escusa: tem se admitido depoimento em quebra
dessas escusas quando seja para evitar um mal maior (por exemplo, o médico que quebra o sigilo para impedir a
disseminação de uma epidemia)

II) Baseiam-se na garantia constitucional da intimidade e da privacidade, abrangendo fatos acerca dos
quais não se pode dizer nada sem desonrar a si ou a familiares e amigos, o que lhes exponha a perigo de vida ou
se dano irreparável.

IV. Presunção

Podem decorrer de lei (aquelas que a própria lei estabelece) ou não. pode estabelecer presuncoes
absolutas (juris et de jure) ou relativas (jures tantum). A diferença é que a presunção absoluta é uma verdade
absoluta que a lei quis que assim se estabelecesse, e que portanto não admite prova em contrário. É um
imperativo técnico-juridico, pois pode ser de fato uma mentira, mas para o direito torna-se verdade. Por
outro lado, quando é relativa, permite-se prova em contrário.

Exemplo: se Caio estiver interditado e já estiver curado da sua afecção mental, seus negócios jurídicos
são inválidos, pois enquanto ele estiver interditado há uma presunção absoluta de falta de discernimento.


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Ademais, é presumidamente do pai, pelo dever de fidelidade, o filho da mulher enquanto estiverem casados
(presunção pater is est - pai é quem demonstra justas núpcias)... mas pode-se provar o contrário (presunção
relativa).

As presunções podem também ser comuns (simples, hominis) que não estão na lei mas são inferidas a
partir do que é corriqueiro acontecer (não se pode presumir, por exemplo, que alguém experimente dano pela
sua própria vontade).

Absoluta
Legal
PRESUNÇÃO Relativa
Comum

V. Perícia

É uma prova técnica especializada que pode ter uma variada natureza (pode ser médica, dentária, de
informática, de engenharia, etc). É importante notar que é sempre realizada por um técnico naquela
especialidade. Essa avaliação probatória que ele faz, é reduzida a um laudo, que é a peça escrita que retrata o
que ele avaliou e o que concluiu. A perícia está regulamentada no código de processo.

É importante observar que o Código Civil estabeleceu nos dois últimos artigos da parte geral, que dizem
respeito exatamente ao problema de uma determinada prova pericial: a médico-legal para fins processuais.
Esses dois artigos em geral não causam problemas, mas em um caso especifico causam! Os artigos 231 e 232
prescrevem:

“Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.”

Dessa forma, quem se recusa a uma perécia médica não pode alegar falta de provas, pois sua recusa gera
uma presunção de verdade daquilo que se queria provar pela perícia recusada.

PROBLEMA É verdade que as pessoas podem mesmo se recusar a uma pericia médica por um motivo
muito simples: é um exame pessoal e invasivo, e por isso uma pessoa não pode se submeter a um exame médico
contra a sua vontade, pelo argumento de que o direito à personalidade e à integridade física autorizam a recusa,
que é assim constitucionalmente permitida. Destarte, existe o direito à resusa, MAS mesmo assim há
consequências, há um ônus.

PROBLEMA Perícia médica realizada em investigações de paternidade: (não só por causa desses artigos,
mas também por forca de uma alteração em 2009 de lei 8560/92 e também da sumula 301) dizem que na ação
de investigação de paternidade, se o réu, que é o suposto pai, se recusa a se submeter à prova medico pericial
(que hoje é o exame de DNA) tem contra si uma presunção do vínculo genético. Se eu propuser uma ação de


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investigação de paternidade eu posso estar querendo saber quem é meu pai pelos mais diversos fins: posso
querer pedir alimentos, garantir minha parte na herança, etc, e essa presunção resolve o problema. O problema
é que se eu quero saber só porque quero saber, não é a mesma coisa ganhar o processo com base em uma
presunção! Posso nesse caso pedir ao juiz obrigar o réu a se submeter? Há nesse caso um conflito entre dois direitos
da personalidade: o de integridade e de identidade. Donde, deve haver um juízo de proporcionalidade, o que vale
mais? Godoy acha que nesse caso o réu deveria sim ser submetido forçosamente ao exame.

Fim!


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