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Louveira - SP
2020
UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Louveira - SP
2020
VICENTE, Cláudia Aparecida; CAMPOS, Davi Roges de; BRAGA, Everson Ferreira;
AZZOLIN, Fabiana Bengnú; VITALE, Mauro; FERREIRA, Paula Cristina; SANCHEZ,
Rafaela Biasi. Contando histórias sobre identidades negras sob o olhar de Arjan Martins.
00f. Relatório Técnico-Científico. Pedagogia – Universidade Virtual do Estado de São
Paulo. Tutor: Prof. Dr. Sylla John Lerro Taves. Polo Louveira , 2020.
RESUMO
Atualmente, a população negra no Brasil sofre com estigmas sociais forjados desde a época do
Brasil Império, cuja economia dependia da mão de obra escrava. Os impactos socioculturais
desse período são sentidos até hoje e, hodiernamente, existem mecanismos que tentam sanar as
dividas históricas e proporcionar maior inclusão racial no cenário público. Um dos objetivos
deste trabalho proporcionar em crianças entre 6 e 10 anos, uma reflexão sobre as identidades
negras no Brasil através de ferramentas lúdicas como a contação de histórias. Pesquisas
bibliográficas e de campo embasam a parte teórica do projeto.
1. INTRODUÇÃO 1
2. DESENVOLVIMENTO 2
2.1 PROBLEMA E OBJETIVOS 2
2.2. JUSTIFICATIVA 2
2. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3
2.3.1. BREVE HISTÓRICO DA NEGRITUDE NO BRASIL 3
2.3.1.1. DIÁSPORA NEGRA 3
2.3.1.2. CRONOLOGIA DO RACISMO 4
2.3.1.3. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS LUTAS DE RESISTÊNCIA NEGRA 6
2.3.1.4. OS NÚMEROS DO RACISMO 7
2.3.2.1 O CENÁRIO DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA 8
2.3.2.2 ARJAN MARTINS 8
2.3.2.3. NEGROS EM ITATIBA 10
2.3.2.4. ESCOLHA DO ESPAÇO NÃO FORMAL 14
2.3.2.5. CONTAÇÃO DE HISTÓRIA 17
2.3.2.6. ESCOLHA DO PÚBLICO-ALVO 17
2.4. APLICAÇÃO DAS DISCIPLINAS ESTUDADAS NO PROJETO INTEGRADOR 18
2.5. METODOLOGIA 18
2.5.1. PROTÓTIPO INICIAL 19
2.5.2. PROBLEMA 19
2.5.3. SOLUÇÃO 19
2.5.4. ADEQUAÇÃO DA PROPOSTA 19
2.5.5. PONTOS FORTES 20
3. RESULTADOS 21
3.1. SOLUÇÃO INICIAL 21
3.2. SOLUÇÃO FINAL 21
REFERÊNCIAS 22
1. INTRODUÇÃO
2.2. Justificativa
O presente Projeto Integrador tem como problema central mostrar o papel da população
negra, seu apagamento histórico, o desdobramento no cenário atual, para crianças e
adolescentes, no processo de formação das cidades, cuja historiografia oficial supervaloriza o
papel do imigrante e delega ao povo negro um papel secundário dentro da sua história de
formação?
Passado mais de um século da abolição da escravatura, podemos observar que o
impacto das relações sociais escravistas ainda se reflete dentro da sociedade brasileira. Quando
nos deparamos com a estatísticas de acesso ao trabalho, de renda, consumo, educação e de
acesso aos serviços básicos da população, observamos que a grande maioria dos
marginalizados possuem cor e gênero – em sua grande maioria são negros e mulheres. Muito
longe da igualdade racial que é propagada dentro do país, as relações escravistas construíram
uma estratificação social que perdura até a atualidade dentro do território nacional
(FERNANDES, 2007, p. 44).
Para além do acesso aos bens e serviços, também podemos observar que racismo está
intrinsecamente ligado à nossa cultura. Nas nossas práticas sociais reproduzimos, por vezes até
inconscientemente, as mais variadas práticas de racismo. Isso ocorre porque dentro do nosso
referencial cultural valorizamos os elementos simbólicos de origem europeia, enquanto
desvalorizamos as influências culturais dos outros povos. No caso do negro, Florestan
Fernandes afirma que a dominação escravista construiu um sistema simbólico de
desvalorização da cultura negra e procurou afirma a cultura branca como o ideal a ser seguido
(2007, p. 45). Deste modo, a identificação do negro com a própria cultura passou era visto
como um sinal de degradação do caráter. O bom negro era aquele que “possuía a alma branca”
(idem).
Podemos afirmar que essa ideologia racista dentro da nossa cultura permanece até os
dias atuais, a desvalorização da cultura negra é uma realidade e pode ser observada de
diferentes formas dentro da sociedade brasileira. No âmbito religioso, as religiões de matrizes
africanas são tratadas como “coisas do demônio” e seus praticantes sofrem uma série de
preconceitos sociais. Quando nos deparamos com notícias sobre as perseguições religiosas no
Brasil, podemos ver que os praticantes do Candomblé e da Umbanda são os grupos que mais
sofrem da intolerância religiosa no país. Com objetivo de evidenciar essa perseguição religiosa
as religiões de matrizes africanas no Brasil podemos lembrar do caso que ocorreu em agosto de
2020 onde uma mãe perde guarda de sua filha após jovem participar de ritual do candomblé [1],
ou do caso não tão recente da garota de 11 anos que foi apedrejada ao sair de um culto da
mesma religião[2].
A intolerância religiosa é um dos elementos simbólicos da ideologia racista dentro da
nossa cultura, porém não é a única fonte de discriminação a cultura negra que opera dentro
dela. O branqueamento cultural do negro possui fontes diversas. A europeização dos nossos
valores culturais opera em diferentes níveis, impondo padrões e formas de comportamento que
procuram subjugar a origem identitária do indivíduo. Para exemplificarmos essa afirmação,
podemos trazer alguns ditos comuns na nossa sociedade que até hoje são bastante
reproduzidos: chamar os cabelos crespos de “cabelo ruim”, a sexualização dos corpos negros
estereotipados como a “cor do pecado”, retratar um trabalho mal feito como “serviço de preto”,
entre outras coisas. A expressão dessa ideologia resulta na violência sobre população negra em
diferentes escalas.
No Brasil, os índices de mortalidade do negro na sociedade, seja muito acima da média
populacional desse grupo e a caracterização do negro como bandido é uma “verdade”
socialmente aceita. Não à toa, os jovens negros são os que mais sofrem com a violência
policial. Nos meios de comunicação quase que diariamente conseguimos encontrar reportagens
denunciando atos de violência contra os jovens negros. Casos como o do jovem negro que foi
agredido no Rio após comprar relógio de R$ 300 para o pai [3], ou dos angolanos espancados em
um supermercado no Paraná[4], são comuns e os responsáveis, na grande maioria das vezes,
acabam impunes.
[1]
https://epoca.globo.com/mae-perde-guarda-da-filha-de-12-anos-apos-ritual-de-candomble-24571523
[2]
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/06/16/menina-e-apedrejada-na-saida-de-culto-
de-candomble-no-rio.htm
[3]
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/08/07/jovem-negro-e-agredido-no-rio-apos-
comprar-relogio-de-r-300-para-o-pai.htm?cmpid=copiaecola
[4]
https://revistaforum.com.br/brasil/angolanos-sao-espancados-ate-perderem-a-consciencia-em-comercio-de-
maringa/
2. 3. Fundamentação teórica
De acordo com Schwarcz e Starling (2015), a Lei de Terras, articulada desde 1843,
tinha por objetivo organizar o país para que, com um eventual fim do trabalho escravo, a posse
de terra se tornasse inviável e a aquisição fosse possível somente pela compra, a fim de evitar
que escravos libertos se fixassem em terras de interesse dos senhores de fazendas cafeeiras. As
leis abolicionistas que se seguiram, colocariam fim a esse processo de escravidão, dentro do
cenário histórico do 2° Reinado, mas não colocaria fim a um novo processo segregação dos
negros libertos que se começaria a partir de então.
1871 – Lei do Ventre Livre ou Lei n° 2040 de 28 de setembro de 1871, declarava livre
os filhos de mulheres escravas, nascidos a partir da data da sua promulgação. A grande questão
era que a mãe teria o subsídio do proprietário das terras e teria que pagar uma indenização, aos
8 anos, para que a criança fosse, de fato, liberta, ou ainda trabalhar até sua maioridade para,
sem ônus, seguir liberto (BRASIL, 1871).
1885 – Lei do Sexagenário ou Lei n° 3270 de 28 de setembro de 1885, fazia liberto os
escravos com mais de 60 anos de idade, era uma lei que beneficiava os proprietários, pois se
chegassem a essa idade, normalmente, estariam doentes e improdutivos, mas foi um ato
importante no processo de libertação dos escravos (BRASIL, 1885).
1888 – Lei Áurea ou Lei n° 3353 de 13 de maio de 1888, em seu Art.1°, em seu texto
original, “é declarada exctinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil” (BRASIL, 1888).
Apesar de um ato de relevância histórica e política, a Lei Áurea do 13 de Maio, é
considerada pelos ativistas do movimento negro como data de resistência e não como ato de
nobreza. Para tanto em seu centenário a data foi mudada para o 20 de Novembro. (ALONSO,
2014).
1951 – Lei Afonso Arinos ou Lei n° 1390 de 3 de julho de 1951, no governo Getúlio
Vargas, discorria em seus sete artigos sobre contravenções penais a serem aplicadas em
indivíduos que impedirem o acesso de pessoas a produtos e serviços, empregos e locais
públicos motivados por preconceito de raça ou cor, conforme o exemplo do artigo primeiro
Art. 1º Constitui contravenção penal, punida nos termos desta Lei, a recusa, por
parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar,
servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou
de cor. Parágrafo único. Será considerado agente da contravenção o diretor, gerente
ou responsável pelo estabelecimento (BRASIL, 1951).
Foram necessários sessenta e três anos após o fim da escravidão, para que se
articulassem ações governamentais antirracismo e de inclusão, que convergiam com os ideais
de movimentos, jornais e associações de negros que já se faziam, e até hoje se fazem, cada vez
mais presentes no Brasil.
Na Constituição de 1988 a prática do racismo tornou-se crime sob a pena de prisão,
inafiançável e imprescritível, em seu Inciso XLII do Artigo 5º da Constituição Federal.
Somente em 2010, o governo sanciona a Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o
Estatuto da Igualdade Racial (BRASIL, 1988). Ou seja, cento e vinte e dois anos depois da Lei
Áurea, é que os processos de inclusão socioeconômica e cultural dos negros se concretiza em
uma lei que visa a defesa dos direitos étnicos individuais e coletivos da população negra
brasileira. Este processo culmina em 2012, com a sanção da Lei n° 12.711 de 29 de agosto de
2012, que em seu Art. 3°, dispõe sobre vagas em Universidades públicas e seus sistemas de
cotas, favorecendo, as minorias entre pretos, pardos e índios, a chamada Lei de Cotas
(BRASIL, 2012).
Desde a abolição da escravatura, o Brasil se vem criando leis para garantir a igualdade e
combater o racismo contra negros e pardos. Essa população supera a de brancos, pelos dados
do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística chegando a 56,10%. Os negros sofrem
discriminação por dois aspectos, sendo eles a cor da pele e a classe socioeconômico. São 60%
da população carcerária, 54, 9% da mão de obra, e 64,2% entre os desempregados. No trabalho
informal são 47,3%, porém em cargos de chefia, executivos e CEOs, são apenas 5%.
Em relato de Valverde e Stocco (2011) sobre os dados da educação no Brasil, os autores
enfatizam as situações entre crianças brancas e negras, no aspecto de permanência, progressão
e desempenho escolar, sendo pior para os negros, por motivos de descriminação e desigualdade
social. Então se caminharmos na história sob o olhar da educação, já remonta da Lei n. 1, de
1837 e o Decreto nº 15, de 1839, sobre Instrução Primária no Rio de Janeiro em seu Art.3°
parágrafo 2° que eram proibidos de frequentar a escola negros e escravos, libertos ou não (RHE
ASPHE, 2005).
O artista negro Arjan Martins e a sua trajetória artística, bem como a participação da
população negra na história da cidade de Itatiba são os focos da próxima seção. O artista
servirá de base para a proposta de contação de história apresentada mais a frente e melhor
planejada no capítulo 3.
Arjan Martins, negro, carioca, tem em seu processo de criação a experiência em seu
ateliê e a rua como cenário para suas obras. A partir do desenho ou forma impressa o artista
consegue expressar a sua arte. O próprio artista faz esse relato em depoimento pela ocasião em
que recebeu o Prêmio Pipa 2011. Conforme a revista eletrônica Gentil Carioca (2020), a
abordagem de Arjan passa pelas diásporas e movimentos coloniais no além mar entre a África
e o Brasil em um compasso evidente em suas obras, que alia passado e futuro em uma só fala.
O professor Douglas Pereira da Silva, licenciado em artes visuais, comenta em
entrevista feita pelo grupo do projeto integrador, como pesquisa de campo e coleta de dados,
sua visão sobre a obra de Arjan. Silva (2020) relata que o artista é contemporâneo, utiliza tinta
acrílica na confecção das obras e tem como referências o expressionismo, da vanguarda
europeia do século XX, presa pela expressão emocional do ser humano, o retrato do negro, seu
trajeto e seu percurso, através de cores e formas, predominantemente, de cores.
Uma das temáticas de Arjan como mostrado na Figura 1, retrata um dos cenários do
tráfico de escravos, tendo a África como ponto de partida e o Oceano Atlântico como
cemitérios de corpos negros que não chegaram ao seu destino, o Brasil.
Fonte: https://www.agentilcarioca.com.br/arjan-martins/
Em outra vertente, mais contemporânea e atual, trabalha uma visão crítica da vida do
negro na atualidade. São relatadas em suas obras, o descaso e a luta dos direitos básicos do
homem e da mulher negra, enfatizando esse abandono social, além da identidade étnica como
na Figura 2.
Fonte: https://www.agentilcarioca.com.br/arjan-martins/
4 Geralmente, era um intelectual disfarçado (brancos ou negros) que empregava-se nas fazendas. Na condição
de trabalhador, ajudavam os escravos a fugirem e a planejarem suas revoltas. (ITESP, p. 28)
de Oliveira é filho de outra liderança negra também importante para a cidade, Dita Maranhão,
que produzia uma série de festividades na cidade no início do século XX (ITESP, 2004).
A partir das informações que trouxemos nesse capítulo, pudemos ver que um pouco das
vivências negras na cidade de Itatiba ao longo da sua história. Procuramos com isso resgatar as
vivências e memórias da população negra na cidade. Com isso, pudemos também explicitar um
pouco do racismo velado que existe nas relações entre negros e brancos em Itatiba.
Pretendemos, com a reflexão aqui proposta, apresentar – por meio das sociabilidades histórico-
cultural vivenciadas pela população negra ao longo do processo de desenvolvimento do
município – apresentar um pouco da identidade da população negra do Município de Itatiba.
Considerando que essa identidade se expressa a partir da sociabilidade que possuem com o
meio.
Antes de falarmos sobre educação não formal é preciso definir primeiro sobre o que
estamos falando. Para Maria Gohn, a educação não formal não é igual a educação escolar, mas
também não é um processo espontâneo de aprendizagem. Para a autora, quando falamos dessa
categoria de ensino, estamos falando de um processo de intencionalidade educativa, mas que
não se orienta pelas regras formais da educação escolar. De acordo com a autora, a educação
não formal “não tem um curriculum definido a priori, quanto a conteúdos, temas ou habilidades
a serem trabalhadas” (GOHN, 2016, p.60). A educação não formal constitui um processo de
intencionalidade educativa que se voltada para a construção da cidadania dos indivíduos. Desse
modo pode abranger uma série de eventos e fenômenos – educação política, capacitação para o
trabalho, vivências coletivas, construção das identidades dos sujeitos, etc. “São processos de
autoaprendizagem e aprendizagem coletiva adquiridas a partir da experiência em ações
coletivas” (idem).
Outra característica da educação não formal apresentada pela autora é o fato das
vivências propostas por esse modelo educativo, possuir um caráter de construção coletiva.
Deste modo procurando aproximar o plano de ação das necessidades e interesses da sociedade
onde se ocorrerá a ação educativa. Para Maria Gonh esse processo gera “atitudes de
cooperação, integração e comprometimento com as decisões” (GOHN, 2014, P.36). Ou seja,
essa participação direta dos indivíduos nos processos de decisão tem a capacidade de gerar um
maior envolvimento deles na ação educativa.
Para finalizar essa breve definição da educação não formal e os seu objetivos, cabe
destacar também que esse modelo educativo não vai ocorrer necessariamente nos espaços
educacionais por excelência, cujo o exemplo máximo é a instituição escolar. Essas práticas irão
se desenvolver principalmente extramuros escolares, em museus, teatros, centro culturais,
espaços das comunidades de bairro, etc.
Considerando os museus como espaços educacionais para as práticas da educação não
formal, nos deteremos um pouco sobre eles, pois trata-se do espaço onde se contemplará a
aplicação do presente projeto. Segundo Marandino, os museus permitem experiências e
vivências que ultrapassam os limites do deleite e da diversão. Neles, “programas e projetos
educativos são gerados, com base em modelos sociais e culturais” (MARANDINO, 2005a,
p.165). Segundo a autora os museus selecionam para da cultura historicamente construída e a
torna acessível. Segundo Pereira et al. (2007, p. 11), estes espaços “pretendem educar por meio
da sensibilização e cultivam a comunicação e produção de significados a partir de seus objetos,
exposições, propostas educativas”. Deste modo, podemos dizer que os museus permitem a
comunicação do conhecimento a partir da interação direta do visitante com os objetos de
conhecimento. Essa interação permite ao visitante e incorporar novos saberes a sua bagagem
cultural.
Outra característica do museu apresentada por Marandino que o torna promissor para as
práticas educativas, é a especificidade do lugar de se configurar com um espaço educativo
aberto, onde os indivíduos aprendem circulando pelos objetos. O que o diferencia muito do
espaço escolar, que se configura como um espaço educativo que não permite essa forma de
interação. Além dessa diferença em relação ao espaço, a autora também ressalta que o tempo é
outro elemento que se diferencia nas práticas educativas entre o museu e a escola.
2.5. Metodologia
3. RESULTADOS
3.1. Solução Inicial
A seguir, detalharemos o plano de ação para a contação de história em espaço não formal,
conforme os elementos elucidados acima
3.1.1. Problema
O Projeto Integrador tem como problema mostrar o papel da população negra, seu
apagamento histórico, o desdobramento no cenário atual, para crianças e adolescentes, no
processo de formação das cidades, e no cenário da cidade de Itatiba, cuja historiografia oficial
supervaloriza o papel do imigrante e delega ao povo negro um papel secundário dentro da sua
história de formação?
3.1.2. Solução
Como pesquisa de campo realizamos uma reunião virtual com a escritora Cristina
Rappa, que nos relatou sobre o processo de elaboração e escolha dos temas de seus livros
infantis. Através dessa conversa, pudemos perceber como se dá a trajetória de escolha de um
conto, nos atentando ao encantamento que deve estar presente em todo o percurso para que se
atinja o objetivo final, que é produzir um questionamento sobre a negritude no Brasil.
Por exemplo, em seu livro O Topetinho Magnífico, o foco é mobilizar e sensibilizar as
crianças para as questões dos animais silvestres e a preservação de seus biomas de origem,
estando o Cerrado ameaçado de extinção. O Topetinho Magnífico conta a história de um
passarinho da região de Cerrado do Brasil, que, depois de capturado em uma armadilha e
agrupado com outros animais em extinção, enfrenta o tráfico de animais silvestres, sendo o
terceiro tráfico maior do Brasil em termos de valores, perdendo apenas para o narcotráfico e
tráfico de armas.
A escolha da contação da história deve aliar a percepção e a reflexão sobre as identidades
negras dentro da proposta de forma a elucidar e resolver o problema, partindo das
prerrogativas do Capítulo 2, que englobam: o artista escolhido, Arjan Martins; as vivências do
negro na cidade de Itatiba, sua história, sua memória de lutas e seu papel social; a presença do
Quilombo urbano de Brotas; a escolha do espaço não formal (um Museu da cidade, que auxilia
na construção da narrativa artística história, trazendo à tona a vivência de negros e negras do
presente, passado e futuro); e o público alvo que são crianças de 6 a 10 anos.
A princípio, o projeto foi planejado para ser executado no âmbito presencial no Museu
Histórico Municipal Padre Francisco de Paula Lima, da cidade de Itatiba, contudo a pandemia
do novo coronavírus nos impossibilitou essa prática pelo fato do espaço ainda se encontrar
fechado para visitações, bem como o Quilombo de Brotas. Foi introduzido o Museu Afro
Brasileiro e metodologias ativas com o uso de recursos digitais. A oficina para a confecção da
boneca Abayomi foi substituída por um vídeo com a mesma finalidade. O público alvo foi
ampliado e crianças de até 13 anos participaram da prática. O artista escolhido permaneceu o
mesmo, Arjan Martins.
O grupo se dividiu e apresentou o mural digital para crianças de seu entorno e colheu
os depoimentos de cada uma delas, também foi considerado o processo de interação do
narrador com o ouvinte de forma a gerar uma atitude responsiva na criança, ressignificando a
trajetória das identidades negras.
Dandara falou de si, de sua ancestralidade, falou de todos, falou de liberdade e da falta
dela, trouxe passado e presente de forma conjugada, com isso as crianças pensaram e elaboram
seus depoimentos. As crianças e adolescentes foram instigados a entrar no cenário da contação,
e ouviram, atentamente ao conto da menina Dandara. Ao final do processo, de passar por todo
o padlet, de ouvir a narrativa construíram seus argumentos e justificativas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do projeto, desde a sua concepção e desenvolvimento do protótipo, era
mobilizar as crianças, descobrir e entender à sua maneira de pensar um tema tão complexo e
denso quanto identidades negras. A contação da história da menina de nome Dandara, trouxe
todos os elementos práticos e lúdicos necessários para criar um ambiente propício a este
pensamento reflexivo.
O que se observou foi que as crianças menores de 8 anos, se encantaram com a história.
Queriam Dandara como amiga, e a acharam uma menina feliz, mas que trazia consigo
memórias tristes, que também os entristeceram. Já as crianças entre 10 e 13 anos, silenciaram
ao ouvir o conto. Trouxeram elementos de seu dia a dia, das próprias histórias de seus
ancestrais negros ou de negros de sua comunidade. Perceberam que os quadros do artista Arjan
Martins traziam muito sangue, muito tristeza, de fatos tão recentes como o da menina Ágatha.
Lembraram-se dos noticiários da televisão sobre o negro George Floyd e que ´´vidas negras
importam``.
Notou-se que as crianças já sabem que o racismo existe, mas não conseguem
vislumbrar uma solução, a tristeza dos maiores se juntou a dos menores, mesmo que expressas
de formas distintas. Contudo, constatou-se que apesar do racismo ser um tema bastante tocante,
não é um conceito que as crianças abstraem para além do nível emocional. Elas se
compadecem da tristeza, das histórias e memórias, mas não conseguem notar com facilidade as
sutilezas do processo histórico de apagamento racial promovido pelos brancos.
Para as crianças fica a percepção que o legado do negro se relega a um amontoado de
tristezas, sentem dificuldade em fazer a transição da liberdade almejada em 13 de maio de 1888
e a pseudoliberdade dos dias atuais, onde o racismo estrutural ainda produz grilhões que
prendem os afrodescendentes a estigmas raciais, culturais e socioeconômicos.
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