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PORTUGAL
António Castro Ribeiro*
José Paulo Mourão de Melo-Abreu**
Dionísio Afonso Gonçalves*
*Escola Superior Agrária de Braganga, Campus de Sta Apolónia, Apt172, 5300-855 Braganga
**Instituto Superior de Agronomia, Tapada da Ajuda, Apt 3381, 1301Lisboa Codex
ABSTRACT
Frost damage in orchards and vineyards is a constant problem in Portugal, especially in the Trás-os-
-Montes region, which sometimes has affected crop production in a catastrophic way.
During three years experiments with two systems were conducted in an apple orchard: a wind machine
and a machine which consists of a gas burner and a turbine that creates two jets of warm air laterally.
During spring season radiation frosts are very common. Results showed that temperature inversions are
strong enough for wind machines to have a beneficial effect. A wind machine is effective in protecting
the crop from cold damage as long as a temperature inversion exists and warm air above the critical
temperature for the crop, can be mixed downwards into the crop. The results showed an increase of 0,9
to 1,8 ºC in air temperature near the wind machine (30 m), 0,7 to 1,5ºC at 70 meters and 0,2 to 1,2ºC at
110 meters. This increase can be insufficient if the air temperature near the plants reaches –4ºC.
The results obtained with the “gas-heater”, and a theoretical analysis, showed that this system is
inefficient to protect the crops, at least under similar conditions.
RESUMO
A geada em Portugal, e particularmente em Trás-os-Montes, representa uma das principais causas da
quebra de rendimento de culturas importantes como a macieira, cerejeira, amendoeira e vinha.
Durante três anos foram efectuados estudos climáticos e realizadas experiências com dois métodos de
luta contra as geadas: ventilação forçada e aquecimento do ar com uma máquina montada no tractor,
que consiste num queimador de gás e uma turbina que projecta o ar aquecido lateralmente.
As geadas que ocorrem na Primavera são predominantemente geadas de radiação com formação de
inversões térmicas. Este tipo de geadas favorece a implementação de métodos como a ventilação
forçada que tem como princípio de funcionamento a deslocação do ar mais quente, situado nas
camadas superiores, para a superfície provocando um aumento da temperatura junto às plantas.
Os resultados obtidos comprovam a eficiência da ventilação forçada nas condições de ocorrência de
geadas de radiação. Observaram-se aumentos de temperatura que variaram entre 0,9 e 1,8ºC a 30
metros de distância do ventilador, 0,7 e 1,5ºC a 70 metros e 0,2 e 1,2ºC a 110 metros. Estes aumentos,
no entanto, podem ser insuficientes para proteger as culturas em noites em que a temperatura mínima
seja inferior a –4ºC.
O aquecimento directo do ar recorrendo a um sistema recente e inovador provou não ser um método
eficaz nas condições em que foi testado.
I. INTRODUÇÃO
Na região de Trás-os-Montes a frequência e severidade das geadas são muito elevadas provocando, na
maioria dos anos agrícolas, danos graves em algumas culturas da região. As culturas da macieira,
cerejeira, entre outras, embora estejam bem adaptadas à região, onde encontram condições edafo-
climáticas adequadas, e assumem grande importância económica e social, são muito afectadas pela
geada. Os danos provocam uma diminuição da produtividade das culturas o que afecta gravemente o
rendimento dos agricultores e a competitividade do sector.
A protecção das culturas contra a geada pode ser efectuada recorrendo a vários métodos que se podem
dividir em indirectos ou passivos e directos ou activos (Bagdonas et al., 1978; Abreu, 1985).
Os métodos indirectos são de carácter preventivo. Podem-se destacar entre outros a selecção e
melhoramento da cultura, selecção do local de cultura, utilização da espécie/variedade adequada ao
local, modificação da paisagem com o fim de actuar sobre o microclima, modificação dos sistemas de
condução, e actuação sobre o solo e sua cobertura (p. ex., supressão de infestantes).
Os métodos directos são de carácter protector, de implementação temporária, e assentam na previsão
da ocorrência de geada. Podem-se destacar os seguintes métodos: utilização de coberturas sobre as
culturas; utilização de nevoeiros artificiais; aquecimento directo do ar; mistura do ar aumentando a
temperatura das camadas superficiais à custa de ar suprajacente mais quente (ventiladores); métodos
que se baseiam na libertação do calor latente de fusão de água (rega de lima e rega por aspersão).
A implementação de alguns métodos indirectos é muito importante e fundamental para evitar ou
minimizar os prejuízos causados pelas geadas. No entanto, os métodos directos são indispensáveis, em
muitas condições existentes na região, para proteger eficazmente as culturas das geadas mais severas.
No caso concreto das culturas mais importantes da região, os métodos directos de protecção que
economicamente poderão ter mais interesse são a rega por aspersão e a ventilação forçada. A rega por
aspersão apresenta alguns inconvenientes, como sejam a escassez de água e o encharcamento a que
estariam submetidas as plantas durante um período assinalável de tempo. Desta forma, a ventilação
forçada apresenta-se, frequentemente, como o método mais adequado às circunstâncias específicas da
cultura, do solo e do clima.
A utilização de ventiladores na protecção das culturas contra as geadas está indicada para situações em
que se verifica a ocorrência de geadas de radiação, ou seja, quando durante a noite o céu está limpo, ou
pouco nublado, e o vento é fraco. Nestas condições o ar que está mais afastado da superfície tem
temperatura mais elevada (o que é precisamente o oposto do que acontece durante o dia), dizendo-se
que existe uma inversão térmica. A generalidade das geadas que ocorrem em Portugal, e em Trás-os-
Montes em particular, são geadas de radiação.
Investigações realizadas por diversos autores (Doesken et al., 1989) sobre a utilização de ventiladores
na protecção contra as geadas apontam para a necessidade de estudos microclimáticos feitos
localmente. Em Portugal a investigação nesta área era praticamente inexistente até ao momento em que
se iniciaram estas investigações, embora noutros países (Inglaterra, França, Itália, Estados Unidos e
Nova Zelândia, entre outros), no seguimento de estudos aí realizados, a ventilação forçada seja
bastante utilizada pelos agricultores como método de luta contra as geadas
Recentemente têm surgido novos dispositivos de luta contra as geadas na sua maioria originários da
América do Sul. Em 1999 realizamos experiências com um sistema de protecção que se baseia no
aquecimento directo do ar, com gás propano, através de uma máquina montada, acoplada à tomada de
força do tractor. Actualmente existem centenas de agricultores, especialmente Chilenos, que utilizam
este método no combate à geada. Nos Estados Unidos e na Europa, embora existam ainda poucos
agricultores a utilizar este sistema, pensamos que a sua maior ou menor aceitação dependerá dos
resultados das experiências a realizar e que, até ao momento, são praticamente inexistentes.
Os trabalhos de investigação realizados tinham como objectivos: a) estudo do microclima, em noites
de geada, com o objectivo de caracterizar e tipificar as geadas mais frequentes que ocorrem na
Primavera; b) medição de variáveis climáticas que caracterizam o ambiente físico com o objectivo de
avaliar o desempenho de dois métodos de protecção contra as geadas (ventilador e aquecimento directo
do ar); c) avaliação dos danos causados pelas geadas, com e sem protecção do ventilador, em três
variedades de macieira com grande expressão na região.
Os resultados obtidos indicam que a ventilação forçada é um método eficaz em condições de geada de
radiação com uma forte inversão térmica. O aquecimento directo do ar, recorrendo ao dispositivo
testado e nas condições em que decorreu a ensaio, é ineficaz na protecção das culturas.
Medições microclimáticas
Foram instaladas duas torres com 24 metros de altura, uma com 10 metros e 10 mastros com 3 metros
de altura para suportar os sensores que permitiram efectuar medições da temperatura, humidade, vento
e radiação em vários pontos do pomar (Fig. 1). A localização dos instrumentos de medição em relação
à posição do ventilador e altura ou profundidade de medição estão indicados na Tabela I.
Fig. 1 Localização relativa dos locais de medição das diferentes variáveis climáticas.
Tabela I Localização dos instrumentos de medição em relação à posição do ventilador e altura ou
profundidade de medição.
Orientação NE SE NW SW
Distância (m) do
30 70 110 30 70 110 30 70 110 30 70 110 160
ventilador
Temperatura 0,05 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 0,05 1,5 0,05
do ar 0,1 0,1 0,1
0,3 0,3 0,3
0,6 0,6 0,6
1,0 1,0 1,0
1,5 1,5 1,5
3 3 3
5 5 5
10 10 10
15 15
24 24
Temperatura 0,6 0,6 0,6
da flor 1,5 1,5 1,5
3 3 3
Velocidade 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
do vento 5 5
15
Direcção do vento 3 5
Humidade 1,5 1,5
5* 5
15 15
Radiação 6 3 3 6
Temperatura 0,05 0,05 0,05
do solo na 0,1 0,1 0,1
entrelinha 0,2 0,2 0,2
0,5 0,5 0,5
0,75
1
Temperatura 0,05
do solo na 0,1
linha 0,2
0,5
0,75
1
Fluxo de calor
0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02
no solo
5
5 3 0 m d o ventilad o r
3 0 m d o ventilad o r
7 0 m d o ventilad o r 4 7 0 m d o ventilad o r
4 1 1 0 m d o vent ilad o r
1 1 0 m d o vent ilad o r
3
3 2
Temperauta (ºC)
Temperatura (ºC)
Ventilador
2 1
Ventilador
0
1
-1
0
-2
-1 -3
-2 -4
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7
Hora Hora
Fig. 2 Evolução da temperatura do ar a 1,5 metros de altura e à Fig. 3 Evolução da temperatura do ar a 1,5 metros de altura e
distância de 30, 70 e 110 metros do ventilador em 26 de à distância de 30, 70 e 110 metros do ventilador em
Março de 2000 28 de Março de 2000
Fig. 4 Temperatura do ar antes do início de funcionamento do Fig. 5 Temperatura do ar depois do início de funcionamento
ventilador (3h10) em 26 de Março de 2000. do ventilador (média de 30min) em 26 de Março de
2000.
Fig. 6 Temperatura do ar observada antes do nascer do sol Fig. 7 Aumento da temperatura do ar (média de 30min) antes
(média de 30min) com o ventilador em funcionamento do nascer do sol causado pela acção do ventilador em
em 26 Março de 2000. 26 Março de 2000
Fig. 8 Temperatura do ar antes do início de funcionamento do Fig. 9 Temperatura do ar depois do início de funcionamento do
ventilador (5h00) em 28 de Março de 2000 ventilador (média de 30min) no dia 28 de Março de
2000
Fig. 10 Temperatura do ar observada antes do nascer do sol Fig. 11 Aumento da temperatura do ar (média de 30min) antes
(média de 30min) com o ventilador em funciona- do nascer do sol causado pela acção do ventilador em
mento em 28 Março de 2000. 28 Março de 2000.
24 24
Antes d o vent ilad o r Ant es d o ventilad o r
22 1 min d ep o is 22 Dep o is d o vent ilad o r
2 min d ep o is Ant es d o nas cer d o s o l
3 min d ep o is
20 4 min d ep o is
20
5 min d ep o is
18 18
16 16
14 14
Altura (m)
Altura (m)
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
-1 0 1 2 3 -1 0 1 2 3
T emperatura (ºC) T emperatura (ºC)
Fig. 12 Perfis da temperatura do ar observados antes (3h20) e nos Fig. 13 Perfis da temperatura do ar observados antes (3h20), após o início
minutos seguintes após o início de funcionamento do de funcionamento do ventilador (média de 30 min) e antes do
ventilador (26 de Março de 2000). nascer do sol (26 de Março de 2000).
Como se pode observar, verifica-se um aumento significativo da temperatura do ar até aos 10 metros
de altura e uma ligeira diminuição acima dessa altura. Estas variações da temperatura resultam do
deslocamento do ar mais quente que se situava nas camadas superiores para as camadas inferiores
provocando uma “mistura” das camadas de ar e, consequentemente, um aumento da temperatura junto
às plantas.
Nos primeiros minutos após o início de funcionamento do ventilador a temperatura junto às plantas
aumenta para valores próximos dos que se verificavam a 10 m de altura. Isto foi verificado na
generalidade dos casos de geada observados. Como a recuperação da temperatura para valores
próximos dos que se verificam a 10 m acontece rapidamente, o accionamento do ventilador deve, por
isso, ser feito quando a temperatura do ar junto às plantas estiver suficientemente próxima do valor
crítico para o estado de desenvolvimento em que se encontram, fazendo o desconto ao tempo
necessário para que o ventilador comece a funcionar em pleno.
As Figs. 13 e 15 ilustram os perfis da temperatura antes do ventilador e os perfis médios após o início
de funcionamento e antes do nascer do sol (média de 30 minutos). A inversão térmica parece não ser
totalmente “destruída” verificando-se, durante o funcionamento do ventilador, um arrefecimento
idêntico em todo o perfil até 24 metros.
A ocorrência predominante de geadas de radiação com formação de inversões térmicas tornam o
método da ventilação forçada, dado o seu princípio de funcionamento, como o método de eleição no
combate às geadas.
24 24
Antes d o vent ilad o r Ant es d o ventilad o r
22 1 min d ep o is 22 Dep o is d o vent ilad o r
2 min d ep o is Ant es d o nas cer d o s o l
3 min d ep o is
20 20
4 min d ep o is
5 min d ep o is
18 18
16 16
14 14
Height (m)
Altura (m)
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
-1 0 1 2 -3 -2 -1 0 1 2
T emperatura (ºC) T emperatura (ºC)
Fig. 14 Perfis da temperatura do ar observados antes (5h00) e nos Fig. 15 Perfis da temperatura do ar observados antes (5h00), após o início
minutos seguintes após o início de funcionamento do de funcionamento do ventilador (média de 30 min) e antes do
ventilador (28 de Março de 2000). nascer do sol (28 de Março de 2000).
Fig. 16 Temperatura do ar antes do início de funcionamento da Fig. 17 Temperatura do ar depois do início de funcionamento da
máquina (1h50) em 28 de Abril de 2000 máquina (média de 30min) no dia 28 de Abril de 2000
Fig. 18 Temperatura do ar observada antes do nascer do sol Fig.19 Aumento da temperatura do ar (média de 30min) antes
(média de 30min), com a máquina em funciona- do nascer do sol causado pela acção da máquina em 28
mento, em 28 Abril de 2000. Abril de 2000.
16 16
14 14
Altura (m)
Altura (m)
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
-1 0 1 2 3 -2 -1 0 1 2 3
T emperatura (ºC) T emperatura (ºC)
Fig. 20 Perfis da temperatura do ar observados antes (1h50) e nos Fig. 21 Perfis da temperatura do ar observados antes (1h50), após a
minutos seguintes após a passagem da máquina pelo local passagem da máquina pelo local de medição (média de 30
de medição (28 de Abril de 2000). min) e antes do nascer do sol (28 de Abril de 2000).
70
60
50
40
30
20
10
0
1999 2000
Fig. 23 Percentagem de flores afectadas dentro e fora da influência do ventilador em 1999 e 2000.
IV. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos permitem retirar algumas conclusões que vão ao encontro dos objectivos
inicialmente propostos:
As geadas de radiação, com consequente formação de uma inversão térmica, são o tipo de geadas mais
frequentes na Primavera, na região de Trás-os-Montes, o que torna o método da ventilação forçada,
dado o seu princípio de funcionamento, como o método de eleição no combate às geadas.
Nos casos de geada observados em que o ventilador esteve em funcionamento, verificou-se um
aumento médio da temperatura do ar que variou entre 0,9 e 1,8ºC a 30 metros do ventilador, 0,7 e
1,5ºC a 70 metros e 0,2 e 1,2ºC a 110 metros.
Para fracas intensidades de inversão verificou-se uma diminuição do alcance do ventilador que se
traduziu num aumento da temperatura do ar pouco significativo nas zonas mais afastadas (110 m) do
ventilador.
Em situações como a que ocorreu no dia 29 de Março de 2000, em que a temperatura mínima em
alguns pontos do pomar se aproximou dos –4ºC, este sistema por si só não garante uma protecção
adequada sendo necessário suplementá-lo com outros métodos, nomeadamente o aquecimento, à
semelhança do que acontece noutros países.
A eficiência da ventilação forçada ficou também demonstrada na minimização dos prejuízos
verificados (54% em 1999 e 45% em 2000).
Muitos dos resultados obtidos são inéditos. Um dos pontos dado como assente era o de que os
ventiladores deveriam ser ligados o mais cedo possível uma vez que supostamente à medida que
aumentava a estratificação da atmosfera se tornava muito mais difícil a posterior mistura do ar. Os
nossos resultados mostram claramente que isso não é verdade.
Devem ser feitos esforços para encontrar métodos que complementem este método de luta contra as
geadas, quando as temperaturas do ar são muito baixas e as inversões fracas. Alguns estudos
preliminares estão a ser feitos por outros investigadores nesta área, utilizando o aquecimento como
complemento sendo veículo de transferência desse calor o ar ou a água.
Em relação ao sistema que se baseia no aquecimento directo do ar os resultados obtidos levam-nos a
concluir que, para as condições em que foi testado, não pode constituir uma solução de protecção
contra as geadas.
REFERÊNCIAS
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Superior de Agronomia. Lisboa.
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Georg, J. H., 1958. Wind machines for frost protection in Florida. Citrus Industry, 39 (11); 7, 9.
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