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“O desenvolvimento da criança e do adolescente” Michael Cole & Sheila Cole – Ed

Artmed, 2004

CAPÍTULO 3 – DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO

PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL


Período germinal
Período embrionário
Período fetal
O ORGANISMO EM DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE PRÉ-NATAL
Habilidades sensoriais do feto
Aprendizagem fetal
Condições maternas e desenvolvimento pré-natal
Teratogênicos: fontes ambientais de deficiências no nascimento
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL RECONSIDERADO
NASCIMENTO: A PRIMEIRA ALTERAÇÃO BIOSSOCIOCOMPORTAMENTAL
Os estágios do trabalho de parto
Variações culturais no parto
O parto nos Estados Unidos
AS CONDIÇÕES DO RECÉM-NASCIDO
Avaliando a viabilidade do bebê
Problemas e complicações
INÍCIO DO RELACIONAMENTO PAIS-FILHO
A aparência do bebê
Expectativas sociais

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“Todo homem é alguns anos mais velho do que ele se lembra, porque vivemos,
movemos-nos, tomamos forma e somos sujeitos às ações dos elementos e à malignidade
da doença em outro mundo, o verdadeiro Microcosmo, o útero da nossa mãe.”
- Sir Thomas Browne, Religio Mediei, 1642 -

De toda a nossa existência, os nove meses que vivemos dentro do útero da nossa mãe
são os mais importantes para o nosso crescimento e desenvolvimento. Começamos
como um zigoto, uma única célula do tamanho de um ponto desta página, pesando
aproximadamente 15 milionésimos de um grama. No nascimento, consistimos de cerca
de 2 bilhões de células e pesamos, em média, 3 quilos. As mudanças que ocorrem em
nossa forma não são menos notáveis do que o aumento no nosso tamanho (ver Figura
3.1). As primeiras células a se desenvolver a partir do zigoto são todas idênticas mas,
em algumas semanas, serão muitos tipos de células diferentes dispostas em órgãos
interdependentes, intrincadamente estruturados.
Uma tarefa básica no estudo do desenvolvimento pré-natal é explicar como ocorrem
essas mudanças na forma e no tamanho. Entender o desenvolvimento pré-natal é
importante tanto por razões teóricas quanto por razões práticas. Muitos teóricos
consideram o desenvolvimento durante o período pré-natal como um modelo para o
desenvolvimento durante todos os períodos subseqüentes, do nascimento à

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morte. Na verdade, vários princípios do desenvolvimento são vistos em ação pela
primeira vez durante o período pré-natal. Por exemplo, ocorrem mudanças que se
processam por meio de estágio através dos quais o organismo adquire novas físicas
qualitativamente distintas que seguem uma a outra em uma seqüência regular. Cada
novo estágio está associado a tipos diferentes de interação entre o organismo em
desenvolvimento e o seu ambiente.
No lado prático, entender o período pré-natal é importante porque o organismo em
desenvolvimento pode ser positiva ou adversamente afetado pela condição nutricional,
pela saúde e pelos hábitos da futura mãe, incluindo se ela usa ou não drogas ou álcool.
Muitas pesquisas têm-se dedicado a promover um desenvolvimento pré-natal saudável e
a evitar danos ao organismo em crescimento durante esse período fundamental.
Para entender a relação do desenvolvimento pré-natal no útero com o desenvolvimento
posterior no mundo, precisamos primeiro acompanhar as mudanças que ocorrem à
medida que o organismo progride, desde o zigoto até o recém-nascido, e examinar os
fatores ambientais que apóiam ou ameaçam o desenvolvimento. Depois, podemos
considerar as circunstâncias que envolvem o ingresso do recém-nascido no mundo.

FIGURA 3.1
Mudanças no tamanho e na forma do corpo humano de 14 dias até 15 semanas após a
concepção (Adaptada de Arey, 1974). [A figura mostra o feto em 9 estágios do seu
desenvolvimento: 14 dias = 1mm; 18 dias = 2mm; 24 dias = 4mm; 4 semanas = 5mm;
6½ semanas = 14mm; 8 semanas = 22mm; 9 semanas = 31mm; 11 semanas = 66mm;
15 semanas = 115mm (medidas da imagem)]

PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL

As transformações que ocorrem durante o desenvolvimento pré-natal são simplesmente


assombrosas. Através de um microscópio, o óvulo fertilizado parece ser composto de
pequenas partículas no interior de partículas maiores. Os cromossomos portadores dos
genes ficam no interior do núcleo, no centro da célula. Em volta do núcleo está a
matéria da célula, que serve como matéria-prima para as primeiras divisões da célula.
Todo o zigoto está contido na zona pelúcida, um delicado invólucro com a espessura de
apenas algumas moléculas. Nas primeiras semanas após a concepção, essa célula única
subdivide-se muitas vezes para formar muitos tipos de células com destinos muito
diferentes. Em aproximadamente 266 dias, essas células terão sido transformadas em
um bebê que chora e se mexe.
Como um primeiro passo rumo ao entendimento dessas transformações, os cientistas
freqüentemente dividem o desenvolvimento pré-natal em três períodos amplos, cada um
caracterizado por padrões de crescimento distintos e pela interação entre o organismo e
o seu ambiente:
1. O período germinal inicia-se quando as células germinativas da mãe e do pai se
unem na concepção e dura até o organismo em desenvolvimento se ligar à parede do
útero, cerca de 8 a 10 dias depois.
2. O período embrionário estende-se desde o momento em que o organismo se liga ao
útero até o final da oitava semana, quando todos os principais órgãos assumem sua
forma primitiva.
3. O período fetal inicia-se na nona semana após a concepção, com os primeiros sinais
de endurecimento dos ossos, e continua até o nascimento. Durante esse período, os
sistemas orgânicos primitivos se desenvolvem até o ponto em que o bebê pode existir
fora da mãe sem apoio médico.
Em qualquer etapa desses períodos pré-natais o processo do desenvolvimento pode
interromper-se. Um estudo estima que aproximadamente 25% de todas as gestações
terminam antes de a mulher sequer saber que está grávida (Wilcox et ai., 1999). No
entanto, se tudo correr bem, a criação de um novo ser humano está em andamento.

Conceitos:
Zona pelúcida: O fino invólucro que envolve o zigoto e, mais tarde, a mórula;
Período germinal: O período que se estende da fertilização até a implantação do
organismo em desenvolvimento na parede do útero;
Período embrionário: O período que se inicia quando o organismo se liga ao útero e se
estende até o final da oitava semana, quando os principais órgãos adquirem forma.
Período fetal: O período que se estende da nona semana após a concepção até o
nascimento.

PERÍODO GERMINAL
Durante os 8 a 10 primeiros dias depois da concepção, o óvulo fertilizado se move
lentamente através das trompas de Falópio em direção ao útero (ver Figura 3.2).

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O tempo dessa jornada é fundamental. Se o novo organismo entra no útero muito cedo
ou muito tarde, o ambiente uterino não estará hormonalmente preparado e o organismo
será destruído.

As primeiras células da vida


Como foi explicado no Capítulo 2, todas as células do corpo se reproduzem através do
processo de duplicação e divisão conhecido como mitose. A primeira segmentação do
ovo, divisão mitótica do zigoto em várias células, inicia-se cerca de 24 horas após a
concepção, quando o óvulo fertilizado desce pelas trompas de Falópio. O zigoto, de
célula única, divide-se para produzir duas células-filhas, cada qual se dividindo para
produzir mais duas células-filhas, e assim por diante (Figura 3.3). Graças a esse período
de duplicação, o organismo em desenvolvimento já consistirá de centenas de células no
momento em que atingir o útero.
Uma importante característica da segmentação é que as células que existem em qualquer
dado momento não se dividem todas ao mesmo tempo. Em vez de procederem de
maneira ordenada, de um estágio de duas células para um estágio de quatro células, e
assim por diante, as células se dividem em velocidades diferentes (Gilbert e Raunio,
1997). Essa é a primeira instância da heterocronia desenvolvimental, por meio da qual
diferentes partes do organismo se desenvolvem em velocidades diferentes. Heterocronia
significa literalmente "variabilidade no tempo". Como diferentes partes do organismo se
desenvolvem em velocidades diferentes, o comportamento do organismo estará mais ou
menos maduro, dependendo das partes do organismo envolvidas no comportamento em
questão. A desigualdade das velocidades de desenvolvimento dá origem a outra
característica importante do desenvolvimento - a variabilidade nos níveis de
desenvolvimento de diferentes partes do organismo em um determinado tempo. Esse
tipo de variabilidade é chamado de heterogeneidade. Os dois tipos de variabilidade
desempenham um papel importante no processo de desenvolvimento durante toda a vida
da criança.
A emergência de novas formas
Quando ocorrem as primeiras segmentações, um amontoado de células, chamado
mórula, toma forma no interior da zona pelúcida. Durante os 4 ou 5 primeiros dias após
a concepção, as células da mórula tornam-se cada vez menores a cada segmentação, até
que ficam todas aproxima-

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damente do tamanho da célula corporal média. À parte serem menores, elas parecem
idênticas às suas células-mães e se parecem com um grande número de bolas de pingue-
pongue amontoadas dentro de um balão de gás.
Quando as células da mórula atingem o tamanho das células corporais médias, a mórula
passa para o útero. No útero, o líquido passa para dentro da mórula e se acomoda entre
as células. As primeiras mudanças perceptíveis que ocorrem na forma interna do
organismo ocorrem ao mesmo tempo que essa interação. Quando o líquido aumenta na
mórula, as células da mórula se separam em duas partes - uma massa de células externas
e um grupo de células localizadas no centro (Figura 3.4). A mórula agora se
transformou no blastocisto. Essa transformação da mórula é o primeiro momento de um
padrão repetido em que o desenvolvimento se manifesta como um processo de
diferenciação e reintegração. Nesse caso, as células idênticas da mórula são
diferenciadas em dois tipos de células que são então reintegradas na forma mais madura
do organismo, que é o blastocisto.
Os dois tipos de células presentes no blastocisto desempenham papéis diferentes no
desenvolvimento. O grupo de células pequenas amontoadas ao longo de um lado da
cavidade central do blastocisto (blastocele) é chamado de massa celular interna. Essas
células dão origem ao próprio organismo. Em torno da massa celular interna e da
cavidade, uma camada dupla de células grandes e planas chamadas trofoblasto forma
uma barreira de proteção entre a massa celular interna e o ambiente. Posteriormente, o
trofoblasto vai-se desenvolver nas membranas que vão proteger o organismo em
desenvolvimento e lhe transmitir os nutrientes. (Apropriadamente, "trofoblasto" deriva
do grego trophe, que significa "nutrição".) Quando as células do blastocisto se
diferenciam, a zona pelúcida circundante se desintegra. A camada de trofoblasto serve
agora como uma espécie de bomba, enchendo a cavidade interna com o fluido produtor
da vida proveniente do útero, que permite que as células continuem a se dividir e que o
organismo cresça.
Embora seja bastante fácil descrever as transformações das células indiferenciadas do
zigoto, primeiro nos dois tipos de células do blastocisto e finalmente na multiplicidade
de tipos de células presentes no nascimento, os mecanismos pelos quais essas mudanças
ocorrem permanecem como um quebra-cabeça básico do desenvolvimento. O que faz
com que os diferentes grupos de células assumam formas diferentes?
As explicações atuais enfatizam a idéia de que cada nova forma emerge como um
resultado das interações que ocorrem entre a forma precedente e seu ambiente, um
processo chamado epigênese (de uma expressão grega que significa "no momento da
geração") (Gottlieb, 1997). No caso da mórula, o "ambiente" varia de acordo com a
localização das células em questão. As células do centro da mórula são cercadas por
outras células da mórula. Aquelas células de fora têm algum contato

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com outras células da mórula, mas, em um lado, elas também estão em contato com a
zona pelúcida, que, por sua vez, está em contato com o trato reprodutor da mãe e seus
fluidos. Quando a mórula começa a receber os nutrientes, esses nutrientes devem passar
através das células de fora para alcançar as células de dentro. Como resultado, as células
de fora ficam sujeitas a influências ambientais diferentes daquelas de dentro. Segundo a
explanação epigenética do desenvolvimento embrionário, a divisão celular sob tais
condições ambientais diferentes é que conduz à criação de diferentes tipos de células e
novas formas de interação entre o organismo e o ambiente (Gilbert e Raunio, 1997).
Esse padrão é repetido, muitas vezes, durante o desenvolvimento do organismo.

A implantação
Quando o blastocisto se move mais para o interior do útero, as células do trofoblasto
expelem minúsculos ramos que se refugiam na parede esponjosa do útero até entrarem
em contato com os vasos sangüíneos da mãe. Assim se inicia a implantação, o processo
pelo qual o blastocisto se liga ao útero. A implantação marca a transição entre os
períodos germinal e embrionário. Como muitas transições da vida (das quais o
nascimento é um exemplo especialmente dramático), a implantação é perigosa para o
organismo e a interrupção da gravidez é comum durante esse processo. É intrigante,
porém, que um perigo que poderia ser esperado, raramente ocorre: se qualquer outro
pedaço de tecido estranho fosse introduzido no útero de uma mulher, ele seria atacado
pelo sistema imunológico da mãe e expelido. No entanto, por razões que ainda não são
bem entendidas, em geral, não ocorre a rejeição do blastocisto (Jones, 1997).

FIGURA 3.2
O desenvolvimento do embrião humano no trato reprodutivo da mãe desde a fertilização
até a implantação (Adaptada de Tuchmann-Duplessis, David e Haegel, 1971). [ A figura
mostra um ovário, uma trompa de falópio e um trecho do útero. Nesse “trajeto”, mostra
o óvulo fecundado – no início da trompa de Falópio –, seu primeiro e segundo estágio
de segmentação, o estágio final de mórula – no fim da trompa de Falópio -, a entrada no
útero, já como blastócito e o primeiro estágio de implantação.]
FIGURA 3.3
O zigoto após duas segmentações, resultando em quatro células de igual tamanho e
aparência. [ A figura mostra quatro células redondas unidas de dois centímetros cada.]
FIGURA 3.4
Dois estágios no desenvolvimento do blastocisto: (a) a formação da massa de células
internas no estágio inicial do blastocisto e (b) a diferenciação das células
trofoblásticas no estágio tardio do blastocisto. No estágio tardio do blastocisto, a zona
pelúcida desapareceu (Adaptada de Moore e Persaud, 1993). [ (a) mostra o blastócito
inicial (redondo, de 4 centímetros) com células de mesma forma ocupando o círculo
mais externo dentro do blastócito e a metade superior desse blastócito (chamada de
“massa celular interna”), a metade inferior do blastócito recebe o nome de “cavidade do
blastócito (blastocele)” e mostra uma faixa envolvendo o blastócito, simbolizando a
zona pelúcida em degeneração. (b) mostra blastócito tardio, que apresenta,
basicamente, a mesma conformação do blastócito inicial, porém com células do
trofoblasto diferentes das células da massa celular interna, sem camada envoltória
externa e medindo 5 centímetros.]
CONCEITOS
segmentação A divisão mitótica das células no zigoto.
heterocronia Variabilidade nas velocidades de desenvolvimento das diferentes partes do
organismo.
heterogeneidade Variabilidade nos níveis de desenvolvimento de diferentes partes do
organismo em um determinado tempo.
mórula O amontoado de células no interior da zona pelúcida.
CONCEITOS
blastocisto A esfera oca das células que resulta da diferenciação da mórula no
trofoblasto e massa celular interna.
massa celular interna A coleção de células que fica no interior do blastocisto que,
finalmente, se transforma no embrião.
trofoblasto A camada externa das células do blastocisto que se desenvolvem nas
membranas que protegem e que dão sustentação ao embrião.
epigênese O processo pelo qual novas formas emergem através das interações da forma
precedente e seu ambiente atual.
CONCEITOS
implantação O processo pelo qual o blastocisto se liga ao útero.
âmnio Uma membrana fina, flexível e transparente que detém o líquido amniótico.
córion Uma das membranas que se desenvolve fora do trofoblasto. Ela forma o
componente fetal da placenta.
placenta Um órgão composto de tecido da mãe e do feto que serve como barreira e filtro
entre suas correntes sangüíneas.
cordão umbilical Um tubo macio contendo vasos sangüíneos que conecta o organismo
em desenvolvimento coma placenta.

PERÍODO EMBRIONÁRIO

Se o blastocisto for implantado com sucesso, o organismo em desenvolvimento entra no


período embrionário, que dura cerca de seis semanas. Durante o período embrionário,
todos os órgãos básicos do corpo tomam forma e o organismo começa a reagir à
estimulação direta. O rápido crescimento do organismo durante esse período é facilitado
pela maneira eficiente pela qual a mãe agora o supre com a nutrição e o protege de
influências ambientais prejudiciais.

Fontes de nutrição e proteção


Logo no início do período embrionário, membranas emergem do trofoblasto para
proporcionar ao organismo em desenvolvimento os nutrientes e a proteção que ele vai
precisar para sobreviver (ver Figura 3.5). O âmnio, uma membrana fina, flexível e
transparente que detém o líquido amniótico ("bolsa d'água"), envolve o embrião.
Enquanto a mãe se move, o líquido amniótico protege o organismo em
desenvolvimento, dá sustentação líquida para seus músculos fracos e ossos delicados e
lhe proporciona um meio em que ele pode mover-se e mudar de posição.
Envolvendo o âmnio, há outra membrana, o córion, que se torna o componente fetal da
placenta, um órgão complexo e composto de tecido da mãe e do embrião. A placenta e o
embrião são ligados pelo cordão umbilical. Até o nascimento, a placenta atua
simultaneamente como uma barreira, que evita que as correntes sangüíneas da mãe e do
bebê entrem em contato direto, e como um filtro que permite que os nutrientes e o
oxigênio sejam trocados. Ela converte os nutrientes carregados pelo sangue da mãe em
alimento para o embrião. Também permite que os produtos não aproveitados pelo
embrião sejam absorvidos pela corrente sangüínea da mãe e, finalmente, extraídos por
seus rins. Desse modo, a mãe, literalmente, come, respira e urina por dois.

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O crescimento do embrião
Enquanto o trofoblasto está formando a placenta e as outras membranas que vão suprir e
proteger o embrião, o número crescente de células da massa celular interna começa a
diferenciar-se nos vários tipos de células que, finalmente, vão originar todos os órgãos
do corpo. O primeiro passo nesse processo é a separação da massa celular interna em
duas camadas. O ectoderme, a camada externa, dá origem à superfície externa da pele,
as unhas, parte dos dentes, as lentes dos olhos, o ouvido interno e o sistema nervoso (o
cérebro, a medula espinal e os nervos). O endoderme, a camada interna, desenvolve-se
para formar o sistema digestivo e os pulmões. Logo depois que essas duas camadas se
formam, aparece uma camada intermediária, o mesoderme, que vai, finalmente, formar
os músculos, os ossos, o sistema circulatório e as camadas internas da pele (Gilbert e
Raunio, 1997).
Como deixa claro a Tabela 3.1, o embrião se desenvolve em uma incrível velocidade. A
tabela também reflete dois padrões do desenvolvimento corporal que são mantidos até
que o organismo atinja a adolescência. No primeiro, o padrão cefalocaudal, o
desenvolvimento se processa da cabeça para baixo. As células germinativas

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do braço, por exemplo, aparecem antes das células germinativas das pernas. No
segundo, o padrão proximodistal, o desenvolvimento se processa do meio do organismo
para a periferia. Assim, a medula espinal se desenvolve antes das células germinais do
braço; os braços, antes dos antebraços e assim por diante. Em geral, o processo de
formação do órgão é o mesmo para todos os embriões humanos mas, em um aspecto
importante - a diferenciação sexual -, ele varia. Esse aspecto do desenvolvimento está
discutido no Destaque 3.1.

A emergência do movimento embrionário


Quando os sistemas orgânicos essenciais e as células nervosas da espinha se formam, o
embrião torna-se capaz de realizar suas primeiras respostas organizadas ao ambiente. Os
estudos de embriões abortados espontaneamente indicam que o embrião de oito
semanas de idade vai virar sua cabeça e pescoço em resposta a um toque de luz na
direção da área em torno da boca. Seus braços vão estremecer, a parte superior do corpo
vai flexionar e, em muitos casos, sua boca vai abrir (de Vries, 1992; Hooker, 1952). No
interior do útero, esses movimentos não são detectados pela mãe porque o embrião
ainda é excessivamente pequeno.

FIGURA SEM NÚMERO


O embrião humano na terceira e quinta semanas após a concepção. [Uma foto
mostrando os dois tempos do desenvolvimento do embrião].
FIGURA 3.5
O feto em seu ambiente protetor (Adaptada de Curtis, 1979) [A figura mostra um útero
de uma grávida. A placenta mostra a circulação sanguínea materna, o córion e o âmnio
envolvendo o feto, este ligado à mãe pelo cordão umbilical e o líquido amniótico fica
dentro da placenta.]
TABELA 3.1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO EMBRIÃO
Dias 10 a 13 As células separam-se nas camadas ectoderme, endoderme e mesoderme.
A placa neural, que vai originar o cérebro e a medula espinal, forma-se a partir do
ectoderme.
Terceira semana No final da terceira semana, as três principais divisões do cérebro - o
cérebro posterior, o mesocérebro e o cérebro anterior- começam a se diferenciar. Estão
presentes as primeiras células sangüíneas e vasos sangüíneos. O coração começa a se
formar e, no final da semana, está batendo.
Quarta semana As células germinais do pulmão são visíveis. Os olhos, os ouvidos e um
sistema digestivo começam a tomar forma. As quatro principais veias e artérias são
formadas. As vértebras estão presentes e os nervos começam a assumir sua forma
primitiva.
Quinta semana Toma forma o cordão umbilical. Tomam forma as células germinais dos
brônquios, que, finalmente, vão originar os pulmões. Massas pré-musculares estão
presentes na cabeça, no tronco e nos membros. São formadas as placas das mãos.
Sexta semana A cabeça torna-se dominante no tamanho. As metades do osso inferior da
mandíbula encontram-se e se fundem, e já estão presentes os componentes da
mandíbula superior. O ouvido externo começa a despontar. As três principais partes do
cérebro estão distintas.
Sétima semana A face e o pescoço estão começando a tomar forma. As pálpebras
formam-se. O estômago está assumindo sua forma e posição final. Os músculos vão
rapidamente se diferenciando através do corpo todo e assumindo suas formas e
relacionamentos finais. O cérebro está desenvolvendo milhares de células nervosas por
minuto.
Oitava semana O crescimento dos intestinos torna o corpo equilibradamente
arredondado. A cabeça é elevada e o pescoço torna-se distinto. Os ouvidos externo,
médio e interno assumem suas formas finais. No final dessa semana, o feto é capaz de
algum movimento e responde à estimulação em volta da boca.

PERÍODO FETAL

O período fetal começa quando todos os tecidos e órgãos básicos já existem em forma
rudimentar, e o tecido que vai se tornar esqueleto começa a enrijecer, ou ossificar
(Gilbert, 1991). Durante o período fetal, que dura da oitava ou nona semana de gravidez
até o nascimento, o feto aumenta em tamanho de aproximadamente 3 centímetros para
50 centímetros, e em peso de 8 gramas para 3.250 gramas (ver Figura 3.6).
No decorrer do período fetal, cada um dos sistemas orgânicos aumenta em
complexidade. Na décima semana após a concepção, os intestinos assumem sua posição

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característica no corpo. Duas semanas mais tarde, as características sexuais do feto são
visíveis, e seu pescoço está bem definido. No final das 16 semanas, a cabeça está ereta,
os membros inferiores bem desenvolvidos, e as orelhas, que começam a tomar forma na
quarta semana, migram do pescoço para os lados da cabeça. No final do quinto mês, o
feto já tem quase tantas células nervosas quanto terá como uma pessoa formada. No fim
do sétimo mês, os pulmões são capazes de respirar, e os olhos, que estavam fechados,
abrem-se e conseguem reagir à luz. No final do oitavo mês, muitas pregas do cérebro
estão presentes, e, durante o nono mês, o cérebro apresenta mais convoluções. Nas
últimas semanas antes do nascimento o feto dobra de tamanho.

Atividade fetal
A crescente complexidade do organismo durante o período fetal é acompanhada pelo
aparecimento de novos comportamentos e mudanças no nível da sua atividade. Em oito
semanas, o feto começa a fazer movimentos generalizados. Nas semanas seguintes, os
movimentos corporais tornam-se cada vez mais variados e coordenados
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(ver Tabela 3.2). Com 15 semanas de idade, o feto é capaz de todos os movimentos
observáveis em bebês recém-nascidos (James et ai, 1995). Próximo ao final do quarto
mês, o feto está grande o suficiente para a mãe sentir seus movimentos.
Das 24 às 32 semanas após a concepção, o índice relativamente alto de atividade fetal
começa a ser interrompido por períodos quietos, e há uma redução gradual nos
movimentos do feto (Kisilevsky e Low, 1998). Ao mesmo tempo, alguns tipos de
atividade, como os movimentos de "respiração" dos pulmões e do peito, aumentam
(Natali et ai., 1988). Acredita-se que os períodos, durante os quais os níveis de atividade
geral são reduzidos, refletem o desenvolvimento dos caminhos neurais

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que inibem o movimento. O surgimento desses caminhos inibitórios está relacionado à
maturação nas regiões mais altas do cérebro (ver Figura 3.7).

Funções da atividade fetal


As evidências indicam que a atividade espontânea fetal é importante para o
desenvolvimento (Smotherman e Robinson, 1996). As experiências com embriões de
pinto, por exemplo, sugerem que a atividade pré-natal seja fundamental para o
desenvolvimento normal dos membros. Em circunstâncias normais, a medula espinal
expede neurônios, ou células nervosas, para conectar os membros ao cérebro - muito
mais neurônios do que o animal vai necessitar quando estiver totalmente coordenado.
Muitos desses neurônios morrem, enquanto os remanescentes estão conectados com os
músculos de uma maneira eficiente. Se os embriões de pinto forem tratados

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com drogas que os impeçam de se movimentar, a eliminação dos neurônios em excesso
que, em geral, acompanha o desenvolvimento neuromuscular deixa de acontecer. Os
resultados disso são desastrosos. No pequeno espaço de um ou dois dias, a não-
supressão de todos os neurônios, exceto aqueles compatíveis com o movimento
coordenado, faz com que as articulações dos embriões do pinto se fixem às estruturas
rígidas, um resultado que mostra que o movimento é necessário para o desenvolvimento
de membros normais (Pittman e Oppenheim, 1979). Acredita-se que os movimentos
fetais desempenhem um papel similar no estabelecimento de conexões neuronais
básicas em humanos.
Os movimentos da respiração são outro bom exemplo da importância da atividade pré-
natal para o feto humano. O feto não respira no útero. Ele obtém oxigênio através da
placenta. Mas, se o feto não fizer movimentos de "respiração" com seu peito e pulmões,
os músculos necessários para a respiração após o nascimento ficarão insuficientemente
desenvolvidos.

DESTAQUE 3.1 O DESENVOLVIMENTO DA DIFERENCIAÇÃO SEXUAL


A diferenciação sexual proporciona um exemplo notável do padrão de diferenciação e
reintegração que caracteriza o desenvolvimento de um organismo. Em cada estágio do
desenvolvimento sexual pré-natal, encontramos uma nova configuração das partes que
estavam presentes durante o estágio precedente e aparecem novos mecanismos que vão
regular o desenvolvimento sexual no próximo estágio (Jones, 1997).
Os genes que influenciam a determinação sexual são localizados nos cromossomos X e
Y, herdados na concepção. Os zigotos com um cromossomo X e um cromossomo Y são
geneticamente masculinos, enquanto os zigotos com dois cromossomos X são
geneticamente femininos. Entretanto, durante as primeiras 6 semanas após a concepção,
não há diferença estrutural entre os embriões geneticamente masculinos e os embriões
geneticamente femininos. Tanto os masculinos quanto os femininos têm duas rugas de
tecido, chamadas rugas gonadais, na região urogenital, a partir da qual os órgãos sexuais
vão-se desenvolver. Essas rugas não dão indícios do sexo do embrião.
Se o embrião é geneticamente masculino (XY), o processo da diferenciação sexual
começa durante a sétima semana de vida, quando as rugas gonadais começam a formar
os testículos. Se o embrião é geneticamente feminino (XX), só vão aparecer mudanças
aparentes nas rugas gonadais algumas semanas mais tarde, quando os ovários começam
a se formar. Assim, os genes herdados no momento da concepção determinam se as
glândulas sexuais que se desenvolvem a partir das rugas gonadais serão testículos
masculinos ou ovários femininos.
No final da sétima semana após a concepção, os embriões geneticamente masculinos e
geneticamente femininos têm a mesma membrana urogenital e o falo primitivo, os
futuros pênis e clitóris. A partir daí, no entanto, não é a presença do cromossomo Y em
si, mas a presença ou ausência das gônadas masculinas que determinam se o embrião
vai desenvolver dutos genitais masculinos ou femininos. Os hormônios masculinos
produzidos pelas gônadas masculinas, chamadas andrógenos, determinam a
masculinidade. O principal andrógeno é a testosterona. Se a testosterona está presente,
as membranas são transformadas no pênis e no escroto masculino. Se a testosterona não
está presente, são formadas as genitálias externas femininas. Esse padrão de mudanças
mostra que a feminilidade depende da ausência da testosterona e não da secreção de
hormônios pelos ovários. A influência dos andrógenos não se limita às gônadas e ao
trato genital. Durante os últimos seis meses do desenvolvimento pré-natal, a presença da
testosterona suprime a atividade rítmica natural da glândula hipófise, localizada no
cérebro. Se a testosterona está ausente, a glândula hipófise estabelece o padrão cíclico
da secreção de hormônios que é característico das mulheres e que, finalmente, passa a
controlar seu ciclo menstrual (Wilson et ai., 1981).
Os embriologistas ainda não têm certeza sobre a maneira como a presença dos
andrógenos cria diferenças na atividade cerebral, mas dados de pesquisa animal
sugerem que os andrógenos podem moldar o desenvolvimento de alguns caminhos
neurais no cérebro (Toran-Allerand, 1984). Esses estudos mostram que uma dose de
testosterona dada a um rato em um período crítico do desenvolvimento pré-natal do seu
cérebro vai fazer com que ele, daí em diante, torne-reagente aos hormônios masculinos
e insensível aos hormônios femininos, não importa qual seja o seu sexo genético. Se o
cérebro não receber testosterona nesse período crítico, ele será reagente aos hormônios
femininos.
Como o embrião tem o potencial para se desenvolver como um homem ou uma mulher,
os erros no desenvolvimento sexual às vezes resulta em um bebê ter órgãos sexuais que
mostrem características de ambos os sexos. Um bebê com essa condição é chamado
hermafrodita. O hermafroditismo é causado por uma excessiva ação dos andrógenos em
um embrião cromossomicamente feminino (XX) ou por uma ação inadequada dos
andrógenos em um embrião cromossomicamente masculino (XY).
Há três tipos de hermafroditas. Os hermafroditas verdadeiros, que são o tipo mais raro,
são, em geral, cromossomicamente femininos e sempre têm um útero, mas têm tanto
ovários quanto tecido testicular, e suas genitálias podem ser totalmente femininas,
totalmente masculinas, ou exibir características dos dois sexos. As mulheres pseudo-
hermafroditas são cromossomicamente femininas e têm órgãos internos normais, mas
suas genitálias são masculinizadas (em geral incluindo um clitóris aumentado), ou
exibem características dos dois sexos. Os homens pseudo-hermafroditas são
cromossomicamente masculinos, mas seus testículos permanecem encolhidos,
freqüentemente têm um útero e trompas de Falópio, e suas genitálias são femininas ou
ambíguas.
FIGURA 3.6
O feto no início do período fetal (aproximadamente nove semanas). A maneira como o
cordão umbilical esta ligado à placenta está claramente visível.
FIGURA 3.7
Desenvolvimento pré-natal do cérebro. As partes primitivas do cérebro estão presentes
desde muito cedo. Os hemisférios cerebrais, com suas convoluções características,
só aparecem na metade da gravidez (Adaptada de Cowan, 1979). [A figura mostra o
desenvolvimento cerebral do feto desde os 30 dias aos 9 meses. Mostra os tamanhos
reais do cérebro (ou o que virá a ser o cérebro): 30 dias = 3milímetros; 40 dias =
5milímetros; 100 dias = 1 centímetro. “Aos 5 meses as regiões superiores do cérebro
começam a se desenvolver. Aos sete meses as circunvoluções já se esboçam]
FIGURA SEM NÚMERO
“A idéia de que um bebê está crescendo dentro da mãe torna-se muito menos abstrata
quando se escuta o seu batimento cardíaco” [Na foto, uma garota encosta o ouvido na
barriga de uma grávida.]

O ORGNISMO EM DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE PRÉ-NATAL

As maravilhosas condições que o corpo da mãe proporciona, como um ambiente de


proteção e apoio para o crescimento pré-natal, podem gerar a nossa percepção de que,
dentro do útero, o feto é independente do mundo maior. As pesquisas mais recentes
deixam claro que o organismo é afetado não somente por seu ambiente imediato mas
também pelo mundo externo ao útero.
O feto é influenciado de várias maneiras por seu ambiente uterino. O sistema digestivo e
o coração da mãe são fontes de ruído, e seus movimentos proporcionam estímulos para
o feto. Este entra em contato com o mundo externo à mãe através da parede do seu
abdômen e, menos diretamente, através da placenta e do cordão umbilical. Os
nutrientes, o oxigênio, algumas viroses e alguns produtos químicos potencialmente
prejudiciais atravessam a placenta e atingem o feto. Através dessas rotas biologicamente
mediadas, as experiências, doenças, dieta e circunstâncias sociais da mãe podem afetar a
criança antes do seu nascimento (Nijhuis, 1992).
O entendimento do efeito do ambiente mais amplo no desenvolvimento do feto é
importante por várias razões:
1 As substâncias e a estimulação provenientes do ambiente podem ter um impacto
significativo no desenvolvimento fetal.
2 As reações do feto ao ambiente proporcionam indícios sobre a capacidade
comportamental que a criança apresentará no nascimento.
3 Algumas drogas, poluentes e várias doenças podem prejudicar o feto e é importante
para os pais entenderem os perigos para que possam realizar uma ação preventiva.

HABILIDADES SENSORIAIS DO FETO


Através do uso de técnicas modernas de mensuração e registro, os pesquisadores
começaram a produzir um quadro detalhado do desenvolvimento da capacidade
sensorial antes do nascimento (Lecanuet e Schaal, 1996). Essa informação é essencial
para determinar como o feto é influenciado pelo seu ambiente.

Percebendo o movimento
O sistema vestibular do ouvido médio, que controla a sensação de equilíbrio, começa a
funcionar no feto humano cerca de cinco meses após a concepção e está

111
totalmente maduro no nascimento (Lecanuet e Schaal, 1996). Essa maturidade precoce
significa que o feto é capaz de perceber mudanças na postura da mãe e se orientar
enquantoflutua dentro da bolsa de líquido amniótico.

Visão
Pouco se sabe ao certo sobre a extensão da experiência visual do feto. Às 26 semanas
após a concepção, os fetos reagem à luz; isso faz com que a sua freqüência cardíaca
mude e faz com que eles se movimentem (Abrams et ai., 1995). Aidan Macfarlane
(1977) sugere que, próximo ao fim da gravidez, o feto consiga ser capaz de enxergar a
luz que penetrou na parede esticada do estômago da mãe. Ele compara a experiência
visual do feto com a incandescência percebida quando a palma da mão cobre a lente
de uma lanterna.

Sons
O feto é capaz de reagir ao som aos cinco ou seis meses após a concepção (ShahiduUah
e Hepper, 1993). Estudos em que microfones minúsculos foram inseridos no útero,
adjacente à cabeça do feto, revelam que o nível médio de sons dentro do útero é de
aproximadamente 75 decibéis, mais ou menos o nível em que ouvimos o mundo
exterior quando dirigimos um carro com as janelas fechadas. Esse ruído de fundo é
pontuado pelo som do ar passando pelo estômago da mãe e, mais ou menos a cada
segundo, pelo som mais intenso do batimento cardíaco da mãe (Krasnegor e Lecanuet,
1995). Durante muitos anos, acreditou-se que esses sons eram tão altos que podiam
mascarar a maioria dos ruídos provenientes de fora do corpo da mãe. Mais
recentemente, no entanto, foi descoberto que os fetos escutam os sons provenientes do
interior do corpo da mãe, podendo discriminá-los. Sua audição melhora regularmente
durante a vida fetal (Hepper e ShahiduUah, 1994).
De todos esses sons, a voz da mãe é o melhor ouvido, porque é também transmitido
como vibrações através do seu corpo. Quando a mãe fala frases curtas em voz alta, é
possível detectar mudanças na freqüência cardíaca do feto (Lecanuet e Schaal, 1996).
Como os sons externos devem passar através do abdômen da mãe e do líquido
amniótico, antes de o feto poder ouvi-los, soam diferentes no útero do que fora dele. Em
experiências usando registros da voz natural da mãe e a sua voz filtrada para se
assemelhar a como ela soava para o feto, enquanto estava dentro do útero, os recém-
nascidos preferem a última (Fifer e Moon, 1995).

APRENDIZAGEM FETAL

O folclore de muitas sociedades inclui a crença de que o feto pode aprender enquanto
está no útero (Verny e Kelly, 1981). Embora essas crenças tenham encontrado um
considerável ceticismo, há evidências de que o feto aprende a partir de, pelo menos,
alguns eventos, tanto dentro quanto fora da mãe (Hepper e ShahiduUah, 1994; Lecanuet
et ai., 1995).
Uma linha de evidência para a aprendizagem fetal vem de uma experiência incomum
realizada por Lee Salk (1973). Trabalhando em um hospital, onde as mães e seus bebês
recém-nascidos ficavam costumeiramente separados boa parte do tempo, Salk dispôs
três grupos de bebês para se submeterem a condições experimentais diferentes. Um
grupo foi exposto ao som de um batimento cardíaco normal de 80 pulsações por minuto,
ou seja, a freqüência que teriam ouvido quando estavam dentro do útero; outro grupo
ouviu um coração batendo 120 vezes por minuto; e um terceiro grupo não ouviu
nenhum som em especial. Os bebês que ouviram o batimento cardíaco acelerado
ficaram tão perturbados que Salk encerrou sua participação na experiência. Os bebês
que ouviram os batimentos normais, no entanto, ganharam mais peso e choraram menos
durante os quatro dias que a experiência durou do que o grupo que não ouviu nem um
som em especial. A influência específica

112
do som do batimento cardíaco normal sugere que o feto aprende a partir das
experiências que têm sua origem dentro da mãe. A evidência de aprendizagem
semelhante, a partir de estímulos originados fora da mãe, vem de várias fontes (De
Casper e Spence, 1986; Hepper e Shahidullah, 1994; Sandman et ai., 1997). Anthony
DeCasper e Melanie Spence (1986), por exemplo, pediram a 16 mulheres grávidas para
ler em voz alta uma determinada passagem de The Cat in the Hat ("O Gato no
Chapéu"), conhecida história rimada para crianças de autoria do Dr. Seuss, duas vezes
por dia durante o último mês e meio, antes de seus bebês nascerem. Na ocasião do
nascimento, a passagem da história havia sido lida para eles durante um total de cerca
de 3 horas e meia.
Dois ou três dias depois de os bebês terem nascido, DeCasper e Spence os testaram com
uma chupeta especial que havia sido preparada para registrar as freqüências de sucção
(ver Figura 3.8). Primeiro, foi permitido que os bebês sugassem durante 2 minutos para
estabelecer uma freqüência de sucção básica. Depois disso, as mudanças na freqüência
de sucção ligavam ou desligavam uma gravação em fita de suas mães lendo uma
história. Na metade dos bebês, o aumento nas suas freqüências de sucção foi observado
durante a passagem de The Cat in the Hat que suas mães haviam anteriormente lido em
voz alta, enquanto a diminuição na sua freqüência de sucção ocorreu em uma história
que suas mães não haviam lido. A outra metade exibiu uma sucção aumentada na nova
história, e uma sucção diminuída produzida por The Cat in the Hat. O achado
fundamental foi que os bebês modificaram suas freqüências de sucção na medida em
que ouviam The Cat in the Hat. Os investigadores concluíram que os bebês já haviam,
na verdade, ouvido as histórias que foram lidas para eles por suas mães, e que sua
aprendizagem no útero influenciou os sons que eles acharam gratificantes após o
nascimento.
DeCasper e sua equipe (1994) confirmaram essa conclusão testando 17 mulheres
grávidas que moravam em Paris. Primeiro, pediram às mulheres para ler em voz alta
uma história rimada para crianças chamada La Poulette ("A Galinha") três vezes ao dia
durante um mês, começando seis semanas antes dos seus bebês nascerem. Quatro
semanas depois, os pesquisadores levaram as mulheres até seu laboratório e tocaram
fitas gravadas de La Poulette e de uma história não-familiar com um alto-falante
colocado bem em cima dos estômagos das mulheres. Os pesquisadores descobriram que
as freqüências cardíacas dos fetos diminuíam quando La Poulette era apresentada (um
sinal da atenção dos bebês), mas a nova história não produziu alterações nos batimentos
cardíacos.

CONDIÇÕES MATERNAS E DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL

Além de ser afetado por estímulos que atingem diretamente os seus sentidos, o feto é
influenciado pelas condições físicas, sociais e psicológicas da mãe. Essas influências
atingem o feto através de mudanças na mãe que são transmitidas através da placenta. A
química corporal da mãe pode ser alterada por fatores tão diversos quanto sua atitude
em relação a ter um filho, sua condição emocional, o alimento que ela come e sua saúde
geral.

Os efeitos das atitudes e do estresse psicológico da mãe


Muitos médicos que cuidam de mulheres grávidas e de bebês recém-nascidos suspeitam
de que as sensações de bem-estar da mulher e suas atitudes com relação à sua gravidez
afetam o bem-estar do feto e da criança após seu nascimento. Essa suspeita é apoiada
pela evidência de que a presença de um companheiro e de outros familiares solidários,
de habitação adequada, de um emprego seguro - fatores que proporcionam a uma
mulher uma sensação básica de segurança - parecem aumentar as perspectivas de um
bebê saudável (Pritchard e MacDonald, 1980; Thompson, 1990).
A evidência mais clara de que as atitudes negativas de uma futura mãe podem afetar o
desenvolvimento do seu bebê vem de uma investigação extensiva, conduzida na antiga
Checoslováquia nas décadas de 1960 e 1970. Henry David (1981) estudou

113
a vida de 220 crianças, cujas mães indicavam fortes atitudes negativas em relação ao ato
de tê-las tido, havendo solicitado duas vezes um aborto. A recusa do aborto era uma
indicação de que as autoridades médicas acreditavam que essas mulheres fossem
capazes de conduzir sua gravidez e criar seu filho.
As crianças não-desejadas foram cuidadosamente comparadas com um grupo-controle e
crianças cujas mães haviam planejado seu nascimento ou haviam aceitado sua gravidez.
As mães dos dois grupos foram equiparadas em relação à condição socioeconômica e à
idade; as crianças foram equiparadas em relação ao sexo, à ordem de nascimento, ao
número de irmãos e à data de nascimento. No nascimento, as crianças não-desejadas
pesaram menos e precisaram de mais ajuda médica do que as crianças do grupo-
controle, mesmo que suas mães tivessem tido pronto acesso a cuidados médicos e elas
próprias fossem consideradas gozando de boa saúde.
Mesmo quando uma criança é desejada e uma mulher grávida tem uma família solidária,
uma quantidade moderada de estresse pode ser esperada durante a gravidez. A futura
mãe tem de adaptar a sua vida para acomodar novas responsabilidades. Uma mãe que
decide deixar o seu emprego pode ter de enfrentar uma renda reduzida. Outra pode estar
trabalhando tanto que acha que não tem tempo suficiente para cuidar de si própria e não
terá tempo para cuidar do filho que está esperando. E se a gravidez não foi planejada,
como acontece com tantas, o estresse que normalmente acompanha a gravidez pode ser
majorado.
Os estudos têm mostrado que uma mãe que está sob estresse ou se torna
emocionalmente perturbada secreta hormônios, como adrenalina e cortisona, que
atravessam a placenta e têm um efeito mensurável sobre a atividade motora do feto
(Van Den Bergh, 1992). Embora as evidências ainda sejam insuficientes, vários estudos
têm encontrado uma associação entre estresse psicológico e complicações da gravidez.
Os achados mais freqüentes revelam que o estresse durante a gravidez está associado a
parto prematuro e a baixo peso ao nascer (Hedegaard et ai., 1993; Lou et ai., 1994). Em
circunstâncias relativamente favoráveis da vida da classe média nos países
industrializados, muitas mulheres podem experimentar pouco estresse durante a
gravidez; mas a maior parte das mulheres no mundo é pobre, vive em circunstâncias
difíceis e precisa se preocupar com a maneira cuidar de seus filhos, antes e depois do
nascimento. Mesmo com um companheiro solidário ou parentes para facilitar a carga, o
estresse parece inevitável sob tais condições e é parte de um padrão de circunstâncias
ambientais que coloca em perigo muitas mulheres e seus filhos por nascer.

Influências da nutrição no desenvolvimento pré-natal


Os fetos são totalmente dependentes de suas mães devido aos nutrientes que os mantêm
vivos e que permitem que eles se desenvolvam. Pesquisas indicam que uma mulher
grávida precisa consumir entre 2.000 e 2.800 calorias por dia, em uma dieta balanceada,
que inclua todas as vitaminas e sais minerais essenciais (National Academy of Sciences,
1989). Além disso, aconselha-se às mulheres grávidas aumentar sua ingestão de ácido
fólico (um membro do grupo complexo de vitamina B comumente encontrado nas
verduras e nas frutas), cálcio e ferro (Rosso, 1990).
Os bons alimentos para mulheres grávidas são determinados por crenças e práticas
culturais (Rosso, 1990). Nos Estados Unidos, por exemplo, acredita-se que um maior
consumo de alimentos ricos em cálcio evita a perda de "um dente por gravidez" (Adair,
1987). O leite é uma boa fonte de cálcio, e, nos Estados Unidos, os médicos
recomendam que as mulheres grávidas bebam vários copos de leite por dia.

Má-nutrição extrema
A má-nutrição materna pode ter efeitos prejudiciais sobre o desenvolvimento pré-natal.
Em casos de má-nutrição extrema, os efeitos podem ser profundos. A evidência mais
clara desses efeitos vem de estudos de períodos de fome. No outono e no

114
inverno de 1944-1945, por exemplo, a fome assolou as grandes cidades do oeste da
Holanda, quando as forças de ocupação nazista embargaram todas as remessas de
alimentos porque os trabalhadores das ferrovias holandesas haviam entrado em greve
para ajudar o avanço dos exércitos aliados. Durante e depois do período de fome,
aumentaram marcantemente os abortos espontâneos, partos de natimortos, má-formação
e mortes ao nascer. Muitos desses bebês que nasceram vivos pesavam
significativamente menos que o normal, como indica a Figura 3.9 (Stein et ai., 1975).
Um período de fome mais grave ainda, em tempos de guerra, ocorreu na antiga União
Soviética. Em setembro de 1941, Leningrado (hoje São Petersburgo) foi cercado pelo
exército alemão e nenhum suprimento chegou à cidade até fevereiro de 1942. O padrão
de ração alimentar diária no final de novembro de 1941 era 250 g de pão (quatro fatias)
para os trabalhadores das fábricas e 125 g (duas fatias) para o restante das pessoas. O
pão era composto de 25% de serragem. O número de bebês nascidos na primeira metade
de 1942 foi muito inferior ao normal e o número de natimortos dobrou. Poucos bebês
nasceram na segunda metade de 1942, todos eles de casais que tiveram melhor acesso a
alimentos que o resto da população. Esses bebês pesavam em média 250 g menos que os
bebês nascidos antes do cerco e tinham uma probabilidade muito maior de ser
prematuros. Também nasceram em condições deficientes; tinham menos vitalidade e
eram incapazes de manter adequadamente a temperatura corporal (Antonov, 1947).
O período de fome ocorrido em Leningrado produziu variações nutricionais tão
extremas que as influências ambientais normais sobre o desenvolvimento pré-natal
foram irrisórias na comparação. Conseqüentemente, os efeitos específicos da má-
nutrição materna sobre o feto em desenvolvimento, durante segmentos particulares do
período pré-natal, poderiam ser isolados com um grau elevado de certeza. Havia uma
grande probabilidade de uma severa privação nutricional durante os três primeiros
meses de gravidez resultar em anormalidades do sistema nervoso central, nascimento
prematuro e morte. E havia maior probabilidade de que a privação durante os últimos
três meses de gravidez retardaria o crescimento fetal e resultaria em baixo peso ao
nascer.

Subnutrição e fatores associados


Estudos da relação entre nutrição materna, desenvolvimento pré-natal e saúde neo-natal
sugerem que graus menores de má-nutrição também aumentam os riscos para o feto. A
subnutrição pode conduzir a baixo peso ao nascer e até a abortos (Jones, 1997). Há,
também, alguma evidência de que os fetos subnutridos correm um risco maior de
doença cardíaca, derrames e outras enfermidades na vida posterior (Barker, 1995;
Godfrey, 1998). Acredita-se que essa associação resulte da adaptação do feto a um
suprimento inadequado de nutrientes durante um período sensível no início da vida pré-
natal que conduz a mudanças permanentes na fisiologia e no metabolismo.
No entanto, é freqüentemente difícil isolar os efeitos da má-nutrição porque as mães
malnutridas quase sempre moram em ambientes pobres, em que a habitação,
saneamento, educação e cuidados médicos, incluindo cuidados pré-natais, são também
inadequados (A Tabela 3.3 mostra como o cuidado pré-natal pode ser importante para as
mães de baixa renda e seus filhos). As mães grávidas de baixa renda são mais propensas
a sofrer de doenças ou simplesmente a ficar em um estado enfraquecido do que as
mulheres que vivem em circunstâncias materiais melhores. Seus bebês têm maior
probabilidade de sofrer de uma grande variedade de deficiências neonatais e de doenças,
e de nascer prematuramente (Luke et ai., 1993). Segundo vários estudos realizados em
muitas partes do mundo, incluindo os Estados Unidos,

115
as mães de baixa renda também têm maior propensão a ter bebês que morrem ao nascer
ou logo após o nascimento (Fundo para a Infância das Nações Unidas, 1999).
Vários estudos têm demonstrado a possibilidade de se evitar ou de se reduzir os efeitos
prejudiciais da má-nutrição e de um ambiente empobrecido. No projeto básico desse
tipo de pesquisa, algumas mães grávidas e seus filhos recebem suplementação alimentar
e atenção médica e são comparadas com aquelas que não os recebem. O governo dos
Estados Unidos iniciou, em 1972, um dos maiores programas de intervenção destinado
a avaliar os efeitos de um programa de suplementação alimentar maciça para mulheres,
bebês e crianças - apelidado de WIC (women, infants and children). As mulheres de
baixa renda que participavam do programa recebiam vales para a retirada de alimentos
como leite, ovos, sucos de frutas e grãos. Foi comprovado que as mulheres que
participaram do programa WIC experimentaram menos perdas de bebês durante os
primeiros anos de vida do que mulheres de baixa renda que não participaram do
programa (Moss e Carver, 1998).
Também foi demonstrado que a suplementação alimentar durante a gestação é
importante para o desenvolvimento intelectual pós-natal do bebê. Em um estudo
realizado em Louisiana, as crianças cujas mães participaram do programa WIC foram
avaliadas por vários testes intelectuais quando tinham seis ou sete anos de idade e já
estavam matriculadas na escola. Aquelas crianças cujas mães receberam suplementos
alimentares durante os últimos três meses das suas gestações - o período em que o
cérebro fetal sofre um desenvolvimento especialmente rápido - tiveram um desempenho
melhor que os filhos das mulheres que não os receberam (Hicks et ai., 1982).
Resultados similares foram obtidos em um estudo de um programa de suplementação
alimentar na zona rural da Guatemala (Pollitt, 1994).
Essas conclusões relacionadas à má-nutrição materna e fetal devem ser consideradas
com alguma cautela porque nem sempre são baseadas em estudos cuidadosamente
controlados. Entretanto, as evidências gerais sugerem fortemente que milhões de
crianças no mundo todo são prejudicadas pela subnutrição antes e depois do
nascimento. A maior parte dessas crianças não recebe suplementos alimentares e poucas
recebem ajuda educacional de alta qualidade. Muito ao contrário: elas experienciam
uma multiplicidade de fatores de risco, entre os quais a má-nutrição é apenas um deles
(ver Figura 3.10). Juntas, essas condições conduzem a índices elevados de mortalidade
de bebês e expectativas de vida mais curtas (Pollitt et ai., 1993).

FIGURA 3.8
Este bebê está ouvindo uma gravação de sua mãe contando uma história. O aparato
registra mudanças na sucção para determinar como os recém-nascidos reagem a
histórias lidas para eles quando estavam no útero. [ A foto mostra um recém nascido
com fones de ouvidos e, na boca, uma chupeta conectada a um tubo transparente.]
FIGURA 3.9
Os pesos médios ao nascer das crianças nascidas e das crianças concebidas em
Rotterdam, na Holanda (grupo do período de fome) durante um período de severa fome,
após a Segunda Guerra Mundial, e os pesos médios de crianças de outras partes da
Holanda (grupo-controle), onde as condições foram menos severas. Observe que as
crianças de Rotterdam nascidas durante o período de fome são significativamente mais
leves que as crianças do grupo-controle (Adaptada de Stein et ai., 1975). [Um gráfico
com o eixo horizontal representando a época do nascimento e o vertical, o peso médio
ao nascer (quilos). Uma primeira coluna no gráfico representa os nascidos durante o
período da fome (outubro de 1944 a maio de 1946) e uma segunda coluna representa os
concebidos durante o período da fome (julho de 1945 e fevereiro de 1946). Duas linhas
atravessam o gráfico, uma representando o grupo-controle e outra o grupo da fome. A
linha do grupo-controle inicia em aproximadamente 3.46, ao atravessar a primeira
coluna, cai para 3.40, 3.30, 3.27, ao passar pela segunda coluna chega a 3.45 e 3.48. A
linha que representa o grupo da fome, inicia em 3.40, ao atravessar a primeira coluna
vai a 3.25, 2.70 e 2.77; ao passar pela segunda coluna, chega a 3.50 e 3.40 e 3.37]
TABELA 3.3
RELACIONAMENTO ENTRE AS COMPLICAÇÕES NO NASCIMENTO E O
CUIDADO MÉDICO PRÉ-NATAL
Complicação Número de complicações por 100 nascimentos
Sem cuidado pré-natal Com cuidado pré-natal

Ruptura prematura das membranas 13 2


Freqüência cardíaca fetal preocupante 10 5
Prematuridade 13 2
Peso baixo ao nascer (- de 2.500 g) 21 6
Pontuação Apgar baixa 8 2
(uma medida de risco imediato)
Permanência hospitalar de mais de 3 dias 24 12
Morte pré-natal 4 1
Nota: Os dados são referentes a mulheres de baixa renda em San Díego, Califórnia.
Fonte: Moore et al., 1986.
CONCEITOS
teratogênicos Agentes ambientais que causam desvios do desenvolvimento normal e
conduzem a anormalidades ou mortes.

TERATOGÊNICOS: FONTES AMBIENTAIS DE DEFICIÊNCIAS NO


NASCIMENTO
Outras ameaças ao organismo pré-natal vêm dos teratogênicos - agentes ambientais que
podem causar desvios no desenvolvimento normal e que podem conduzir
116
a sérias anormalidades ou morte (ver Figura 3.11). (O termo vem do grego teras,
"monstro".) Os teratogênicos comumente encontrados incluem alguns medicamentos e
infecções, radiação e poluição.

Drogas
A maior parte das mulheres grávidas dos Estados Unidos toma alguma medicação
durante a gravidez, especialmente analgésicos vendidos sem receita médica, drogas
contra
enjôo ou medicações para o sono. Felizmente, a maioria dessas drogas não parece
prejudicar o feto, mas algumas o prejudicam. Também é estimado que uma minoria
considerável
de mulheres use drogas não-médicas durante a gravidez, que variam desde cafeína,
álcool e substâncias químicas presentes na fumaça do cigarro, até drogas pesadas
como cocaína e heroína. A maioria dessas drogas é prejudicial ao desenvolvimento pré-
natal (Cunningham et ai., 1997).
Drogas prescritas e não-prescritas por médicos. Os efeitos teratogênicos potenciais
das drogas prescritas por médicos vieram à luz pela primeira vez no caso da talidomida.
De 1956 até 1961, a talidomida foi usada na Europa como sedativo e para controlar a
náusea nos estágios iniciais da gravidez. As mulheres que tomaram a droga não foram
prejudicadas por ela e muitas das crianças que elas tiveram não sofreram efeitos
danosos. Algumas crianças, no entanto, nasceram sem braços e sem pernas; suas mãos e
pés estavam ligadas diretamente aos seus torsos, como barbatanas. Algumas também
apresentaram deficiência de visão e audição. Cerca de 8.000 crianças deformadas
nasceram antes de seus problemas terem sido relacionados à droga e ela ter sido retirada
do mercado (Persaud, 1977).
Desde que os efeitos desastrosos da talidomida foram encontrados, foi descoberto que
outras drogas prescritas por médicos causavam anormalidades no organismo em
desenvolvimento, incluindo os antibióticos estreptomicina e tetraciclina, anti-
coagulantes, anticonvulsivantes, a maioria dos hormônios artificiais, Thorazine® (usada
no tratamento da esquizofrenia), Valium® (um tranqüilizante) e Accutane® (usado para
tratar casos difíceis de acne). Em doses altas, a aspirina também pode causar
anormalidades. Na verdade, todas as drogas podem penetrar na corrente

117
sangüínea do organismo em desenvolvimento, e somente algumas foram estudadas
suficientemente bem para determinar se são "seguras" para as mães grávidas. Por isso,
as mulheres grávidas são aconselhadas a consultar seus médicos antes de tomar
qualquer droga sem prescrição, e os médicos são aconselhados a só prescrever as drogas
terapêuticas mais necessárias para suas pacientes grávidas.
Cafeína. A cafeína, encontrada no café, no chá e na cola, é a droga mais comum usada
pelas mulheres grávidas. Não há evidência de que a cafeína cause má-formação no feto.
Entretanto, alguns estudos revelaram que a cafeína em altas doses está associada a um
índice aumentado de aborto espontâneo e de baixo peso no nascimento (Dlugosz e
Bracken, 1992; Heller, 1987). Por isso, as mulheres são aconselhadas a limitar sua
ingestão de cafeína durante a gravidez.
Fumo. Não há evidências de que o hábito de fumar cigarros possa produzir deficiências
de nascimento, mas está comprovado que prejudica o feto de várias maneiras. O fumo
está relacionado a um aumento no índice de aborto espontâneo, de natimortos e de
morte neonatal (Roquer et ai., 1995). A nicotina, substância adicionada ao fumo, causa
o crescimento anormal da placenta, resultando em uma redução na transferência de
nutrientes para o feto. Também reduz o oxigênio e aumenta a quantidade de monóxido
de carbono nas correntes sangüíneas tanto da mãe, quanto do feto. Devido a isso, as
mães que fumam em geral têm bebês cujo peso ao nascer é mais baixo que aqueles
bebês filhos de mães que não fumam (ver Figura 3.12). Os efeitos do fumo parecem
estar relacionados à quantidade: mães que fumam mais têm bebês que pesam menos
(Roquer et ai, 1995). Achados recentes sugerem que mesmo que uma mãe não fume, o
peso do seu bebê ao nascer pode ser significativamente afetado pela fumaça do cigarro
de outras pessoas (Roquer et ai., 1995). Há também alguma evidência de que o hábito
de fumar da mãe durante a

118
gravidez e após a gravidez possa aumentar o risco de morte súbita do bebê, uma
síndrome em que um bebê pára de respirar e morre silenciosamente sem causa aparente
(Niebyl, 1994).
Álcool. Depois do fumo, o álcool é a droga mais comumente abusada. Cerca de 4% de
todas as mulheres norte-americanas na idade de procriar sofrem de alcoolismo (Stratton
et ai., 1996). As mulheres que bebem quantidades substanciais de álcool enquanto estão
grávidas correm o risco de ter um bebê com sérias deficiências de nascença. Um estudo
descobriu que 71% dos bebês nascidos de mães que beberam muito durante a gravidez -
ou seja, que bebiam 90 g ou mais por dia de bebida com alto teor alcoólico - tinham
algum tipo de anormalidade (Niebyl, 1994). Muitos desses bebês sofriam de síndrome
alcoólica fetal, um conjunto de sintomas que inclui uma cabeça anormalmente pequena
e um cérebro subdesenvolvido, anormalidades nos olhos, doença cardíaca congênita,
anomalias nas articulações e má-formação da face (ver Figura 3.13). O crescimento
físico e o desenvolvimento das crianças portadoras dessa síndrome podem ser
retardados (Jacobson et ai., 1993; Niebyl, 1994). As mulheres que beberam muito
durante o primeiro trimestre da gravidez e depois reduziram seu consumo de álcool
durante o segundo e o terceiro trimestres não reduzem o risco de ter filhos atingidos por
essa calamidade (Vorhees e Mollnow, 1987). Foi descoberto que o consumo periódico
de cinco ou mais doses em uma ocasião isolada, no início da gravidez está associado a
um sutil prejuízo da aprendizagem na adolescência (Olson et ai., 1997).
Os efeitos de níveis baixos de consumo de álcool sobre o desenvolvimento estão
atualmente sendo discutidos. A pesquisa descobriu que, em alguns casos, o equivalente
a um ou dois copos de vinho, quer ocasional ou diariamente, não provoca dano
perceptível no feto. Em outros casos, tal quantidade de ingestão alcoólica resulta em
"efeitos do álcool no feto", que incluem um déficit sutil, porém mensurável, no
funcionamento cognitivo e motor. Esses efeitos vão variar dependendo da quantidade de
exposição pré-natal ao álcool e à freqüência do consumo.
Dada a incerteza dos riscos da ingestão moderada de álcool durante a gravidez, em geral
é recomendado que as mulheres grávidas se abstenham inteiramente do consumo de
álcool. Além disso, alguns dos danos mais sérios causados pelo álcool podem ser
causados nas primeiras semanas de gravidez, de forma que as mulheres que estão
tentando engravidar também são aconselhadas a se abster do álcool (Cunningham et al.,
1997).
Maconha. Uma pesquisa nacional abrangendo 4 milhões de mulheres nos Estados
Unidos que deram à luz em 1992 descobriu que 2,9% usaram maconha em algum
momento durante sua gravidez (Lee e Woods, 1998). Não foi definitivamente
comprovado que a maconha tenha causado deficiências neonatais, mas seu uso está
associado a baixo peso no nascimento. Alguns pesquisadores também encontraram um
aumento na quantidade de partos prematuros entre as mulheres que usaram maconha
mais de uma vez por semana. No entanto, é incerto que esses efeitos só possam ser
atribuídos ao uso da maconha. Nos Estados Unidos, as mulheres que usam maconha
durante a gravidez tendem a ser mais pobres, menos educadas, mais jovens, solteiras e
com maior probabilidade de usar outras drogas ilegais, do que as mulheres que não
usam maconha. Elas também recebem menos cuidado pré-natal e ganham menos peso.
Nos Estados Unidos e no Canadá, foi descoberto que os bebês, cujas mães usaram
maconha quando estavam grávidas, assustam-se com mais facilidade, têm tremores e
experimentam problemas com seus ciclos de sono. No entanto, em um estudo realizado
na Jamaica, onde o uso da droga é comumente aceito e ela não é associada

119
ao uso de outras drogas ou ao consumo de álcool, foi descoberto que, nos testes de
reações fisiológicas e sociais, os bebês de um mês de idade que foram expostos à
maconha no útero tiveram um desempenho tão bom ou levemente melhor do que os
bebês cujas mães não usaram a droga quando estavam grávidas (Dreher et ai., 1994).
Esses achados ilustram a importância do contexto cultural e social em que a droga é
usada mas não depreciam o fato de a droga ter o potencial para ser um fator de risco no
desenvolvimento intra-uterino do bebê.
Cocaína. A cocaína é um estimulante que rapidamente leva o usuário ao
comportamento aditivo. Isso pode resultar em várias complicações médicas para a
futura mãe, incluindo ataques cardíacos, derrames, ruptura da aorta e convulsões
(Cunningham et ai., 1997). Os bebês nascidos de mães usuárias de cocaína têm uma
variedade de problemas, a maioria deles podendo ser relacionada a uma redução do
fluxo sangüíneo fetal, uterino e placentário causado pela droga. Esses bebês têm maior
probabilidade de serem natimortos ou prematuros, ou de terem baixo peso ao nascer, de
apresentarem convulsões e de terem deficiências neonatais (Niebyl, 1994). Os bebês
nascidos de mães usuárias de cocaína são descritos como sendo irritáveis, propensos a
reagir excessivamente à estimulação, descoordenados e lentos na aprendizagem
(Alessandri et al., 1993; Benderky e Lewis, 1998).
A exposição a efeitos residuais da cocaína durante o período pré-natal pode durar vários
anos. Por exemplo, as crianças em idade pré-escolar que foram expostas à cocaína no
período pré-natal têm maior probabilidade de apresentar dificuldade em concentrar sua
atenção e demonstram reações emocionais exacerbadas quando apresentadas a novas
tarefas (Mayes et al., 1998).
Apesar da preocupação justificada com os efeitos da exposição pré-natal à cocaína,
alguns pesquisadores têm criticado as declarações de que a própria cocaína seja a causa
desses problemas (Coles, 1993). Esses críticos observam que muitas mães que usam
cocaína também tomam álcool e usam outras drogas. Além disso, muitas delas são
pobres e vivem em circunstâncias estressantes. É sabido que todos esses fatores
contribuem para sintomas como aqueles atribuídos à exposição pré-natal à cocaína
(Lester e Tronick, 1994).
Metadona e heroína. Os bebês de mães dependentes de heroína ou metadona nascem
eles próprios dependentes e devem receber heroína ou metadona logo após o nascimento
para não sofrerem a freqüentemente fatal síndrome da abstinência. Esses bebês têm
maior probabilidade de nascer prematuros, com baixo peso e vulneráveis a doenças
respiratórias (Kaltenbach et ai., 1998).
Enquanto esses bebês estão sendo afastados das drogas às quais eles nasceram
dependentes, são irritáveis e têm tremores, seus gritos são anormais, seu sono
perturbado e seu controle motor diminuído. Os efeitos do uso dessas drogas pela mãe
ainda estão aparentes em seu controle motor quatro meses mais tarde. Mesmo após um
ano, sua capacidade para concentrar a atenção ainda está prejudicada (Jones e Lopez,
1990).
Vários estudos têm relatado problemas desenvolvimentais de longo prazo em crianças
expostas no útero a heroína, metadona ou derivados do ópio, mas, da mesma maneira
que acontece com a cocaína, se esses problemas podem ser inteiramente atribuídos ao
uso da droga por parte da mãe é uma questão que permanece em aberto (Wagner et al.,
1998).

Infecções e outras condições


Vários microrganismos que causam infecção podem pôr em risco o embrião, o feto e o
recém-nascido. A maior parte das infecções passa da mãe para o bebê que está em seu
útero pela barreira placentária. Em alguns casos, no entanto, o bebê pode tornar-se
infectado durante a passagem pelo canal do nascimento. Algumas infecções e outras
condições maternas mais comuns que podem afetar o organismo humano em
desenvolvimento estão resumidas adiante; a Tabela 3.4 resume outras.

120
(tabela 3.4)

121
Rubéola. Em 1941, o Dr. N. M. Gregg, australiano, percebeu um repentino aumento no
número de bebês que nascia com cegueira. Entrevistou suas mães e descobriu que
muitas delas se lembraram de ter tido uma erupção branda, glândulas linfáticas
edemaciadas e febre não muito alta - todos sintomas de rubéola, ou sarampo alemão - no
início de sua gravidez. Gregg (1941) escreveu um artigo sugerindo que poderia haver
alguma conexão entre uma epidemia de rubéola no verão de 1940 e o subseqüente
aumento no número de bebês que nasceram cegos; isso alertou, pela primeira vez, a
comunidade médica para esse perigo. Desde então, os pesquisadores descobriram que a
rubéola causa uma síndrome de doença cardíaca congênita, catarata, surdez e retardo
mental em 54% de todos os bebês nascidos de mães que sofreram essa doença durante
as 12 primeiras semanas de gravidez (Boué, 1995). (Daí em diante, as infecções de
rubéola têm menor probabilidade de causar má-formação congênita.) Um surto de
rubéola epidêmica nos Estados Unidos durante o inverno de 1964-1965 resultou em
30.000 natimortos e 20.000 bebês portadores de deficiências congênitas (Lavigne,
1982).
O desenvolvimento de uma vacina para a rubéola em 1969 reduziu bastante a incidência
da doença, mas ela ainda não foi erradicada. As mulheres são aconselhadas a não
ficarem grávidas por pelo menos seis meses depois que receberam a vacina. Um teste
para a imunidade à rubéola como parte do teste sangüíneo feito antes de ser emitida uma
certidão de casamento é recomendado.
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Nos Estados Unidos, mais de
7.000 gestações por ano são complicadas pelo Hiy o vírus que causa a AIDS (Franscino,
1995). Aproximadamente 30% dos bebês nascidos de mães que são soropositivas para o
vírus da AIDS adquirem essa doença (Cunningham et ai, 1997). O vírus pode ser
transmitido da mãe para seu bebê pelo vírus que atravessa a barreira pla-centária ou pela
exposição do bebê ao sangue da mãe infectada durante o parto (Wiesenfeld e Sweet,
1994). O risco da transmissão aumenta com a extensão de tempo que a mãe foi
infectada (Boué, 1995). Não há cura conhecida para a AIDS, e esta é, atualmente, a
sétima principal causa de morte em crianças com menos de quatro anos. Entretanto, se
as mulheres com HIV positivo recebem a droga zidovu-dina (AZT) durante a gravidez e
no momento do parto, as chances de transmitirem o vírus para seus filhos são reduzidas
em 50% (Morris, 1998).
Incompatibilidade de Rh. O Rh é uma substância complexa que fica na superfície das
hemácias. Um dos seus componentes é determinado por um gene dominante, e as
pessoas que têm esse componente são chamadas de Rh-positivo. Menos de uma em cada
10 pessoas herda os dois genes recessivos que a torna Rh-negativo (de Vrijer et ai.,
1999).
Quando uma mulher Rh-negativo concebe uma criança com um homem Rh-positivo, é
provável que a criança seja Rh-positivo. Durante o nascimento do bebê, algumas de
suas células sangüíneas em geral passam para a corrente sangüínea da mãe enquanto a
placenta está separando-se da parede uterina. O sistema imunoló-gico da mãe cria
anticorpos para combater essa substância estranha, e os anticorpos permanecem na sua
corrente sangüínea após o nascimento. Se a mãe se torna novamente grávida de uma
criança Rh-positivo, os anticorpos produzidos durante o nascimento do seu primeiro
filho passam para a corrente sangüínea do novo bebê, onde atacarão e destruirão suas
hemácias. A doença de Rh resultante pode produzir deficiências sérias de nascença e até
a morte. Entretanto, como demora para o sistema da mãe produzir anticorpos de Rh, as
primeiras crianças nascidas raramente são afetadas, mas o risco aumenta a cada criança
que nasce. Felizmente, os médicos podem prevenir a doença do Rh dando à mãe Rh-
negativo uma injeção de soro anti-Rh dentro das 72 horas após o parto de uma criança
Rh-positiva. O soro mata qualquer hemácia Rh-positiva presente na corrente sangüínea
da mãe, de forma que ela não desenvolverá anticorpos para atacá-las. As crianças
nascidas com doença de Rh podem ser tratadas com transfusões de sangue periódicas
(Fanaroff e Martin, 1997).

122
Radiação. Doses maciças de radiação freqüentemente conduzem a más-formações
sérias do organismo em desenvolvimento e, em muitos casos, causam morte pré-natal
ou aborto espontâneo (Moore e Persaud, 1993). Doses um pouco mais baixas podem
poupar a vida do organismo, mas podem ter um efeito profundo no seu
desenvolvimento. Esses riscos tornaram-se tragicamente evidentes depois das explosões
das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Muitas mulheres grávidas
que estavam dentro de um perímetro de 1.500 m da explosão sobreviveram mas,
posteriormente, perderam seus bebês. Dos bebês que pareciam normais ao nascer, 64%
foram, mais tarde, diagnosticados como mentalmente deficientes. Foi descoberto que os
efeitos da radiação sobre o sistema nervoso central em desenvolvimento do feto são
maiores da oitava até a décima quinta semana do período pré-natal, um tempo de rápida
proliferação das células nervosas corticais (Vorhees e Mollnow, 1987).
Os efeitos de doses baixas de radiação sobre os seres humanos não foram firmemente
estabelecidos. Como os raios X podem causar más-formações no embrião, as mulheres
que estão grávidas, ou que estão tentando engravidar, devem informar seus médicos
sobre isso quando tiverem necessidade de tirar um raio X.
Poluição. A maior parte dos milhares de produtos químicos usados na produção
industrial e na preparação de alimentos e cosméticos nunca foram testados para ver se
são prejudiciais ao desenvolvimento pré-natal, embora algumas dessas substâncias
atinjam o embrião do feto através da placenta (Jones, 1977). Foi demonstrado que
alguns herbicidas e pesticidas são prejudiciais ou até mesmo fatais para ratos,
camundongos, coelhos e pintos antes do nascimento. Vários poluentes, às vezes
encontrados na atmosfera e na água de beber também, parecem ser teratogênicos. Além
disso, alguns dos efeitos são cumulativos, como as concentrações dos produtos
químicos formadas no corpo.
Em 1953, foi descoberto que o consumo de grandes quantidades de peixe da baía de
Minimata no Japão estava associado a uma série de sintomas que veio a ser conhecida
como doença de Minimata. Os sintomas incluem paralisia cerebral (uma doença do
sistema nervoso central), deformação do crânio e às vezes uma cabeça anormalmente
pequena. A baía foi poluída por mercúrio proveniente da descarga de dejetos no rio
Minimata pelas indústrias próximas. O mercúrio passou em quantidades cada vez mais
concentradas através da cadeia alimentar dos organismos comidos pelo peixe até os
humanos que comeram o peixe. As mulheres grávidas que comeram peixe contaminado
passaram, então, o mercúrio para seus bebês intra-uterinos. A doença de Minimata,
desde então, tornou-se sinônimo de envenenamento por mercúrio (Tuchmann-Duplessis,
1975).
A incidência de deficiências do nascimento é também conhecida como anormalmente
elevada nas áreas de pesada poluição atmosférica. Na cidade industrial brasileira de
Cubatão, por exemplo, a poluição do ar pelas indústrias de aço e petroquímicas excede
aquela gerada por todas as indústrias juntas da bacia de Los Angeles, na Califórnia.
Durante a década de 1970, 65 de cada 1.000 bebês nascidos em Cubatão morreram logo
após o nascimento porque seus cérebros não se desenvolveram - o dobro do índice dessa
deficiência nas comunidades vizinhas, não tão pesadamente poluídas (Freed, 1983).
Felizmente, grandes esforços de segurança ambiental reduziram bastante a poluição de
Cubatão, e o índice de morte de bebês nessa cidade declinou significativamente
(Brooke, 1991).
A poluição atmosférica das cidades dos Estados Unidos não é tão alta quanto costumava
ser a de Cubatão, mas é alta o suficiente em muitas delas para causar preocupações
sobre seus efeitos no desenvolvimento pré-natal. Há também muita preocupação sobre o
risco para as mulheres grávidas e para seus filhos por nascer que moram perto de
depósitos de lixo químico. Infelizmente, muitas mais pesquisas são necessárias antes
que se saiba que riscos reais esses perigos ambientais constituem para o
desenvolvimento pré-natal.

123
Princípios dos efeitos teratogênicos
Embora os efeitos dos teratogênicos sobre o organismo em desenvolvimento varie
segundo o agente, vários princípios gerais se aplicam a todos eles (Hogge, 1990; Moore
e Persaud, 1993):
- A susceptibilidade de um organismo em desenvolvimento a um agente teratogênico
varia segundo o estágio de desenvolvimento do organismo na ocasião da exposição. Em
toda parte, o risco mais grave à vida ocorre durante as duas primeiras semanas, antes de
as células do organismo terem experimentado uma diferenciação extensiva e antes de a
maioria das mulheres tomar sequer consciência da gravidez (ver Figura 3.14). Durante
esse período crítico, um agente teratogênico pode destruir completamente o organismo.
Uma vez que os vários sistemas corporais começaram a tomar forma, cada um deles é
mais vulnerável na ocasião do início do seu crescimento. Como indica a Figura 3.14, o
período mais vulnerável para o sistema nervoso central é de 15 a 36 dias após a
concepção, enquanto os membros superiores e inferiores são mais vulneráveis do
vigésimo quarto ao quadragésimo nono dia após a concepção.
- Cada agente teratogênico atua de uma maneira específica sobre o tecido em
desenvolvimento e, por isso, causa um padrão particular de desenvolvimento anormal.
A talidomida, por exemplo, causa deformação das pernas e dos braços, e os compostos
de mercúrio causam paralisia cerebral.
- Nem todos os organismos são afetados da mesma maneira pela exposição a uma dada
quantidade de um determinado teratogênico. A maneira como um organismo em
desenvolvimento reage aos agentes teratogênicos depende, em algum grau, da sua
vulnerabilidade genética a esses agentes. Menos de um quarto das mulheres grávidas
que usaram talidomida

124
durante o período em que os membros do embrião estavam-se formando deram à luz a
bebês malformados.
- A susceptibilidade aos agentes teratogênicos depende do estado fisiológico da mãe. A
idade da mãe, nutrição, condição uterina e equilíbrio hormonal afetam a ação dos
teratogênicos sobre o organismo em desenvolvimento. O risco de má-formação é mais
elevado quando a mulher tem menos de 20 anos ou mais de 40. A razão precisa disso
não é conhecida. A deficiência nutricional da mãe intensifica os efeitos adversos de
alguns teratogênicos. O impacto dos teratogênicos também parece aumentar se a mãe
sofre de diabetes, toxemia, um desequilíbrio metabólico ou disfunção do fígado, entre
outras doenças.
- Em geral, quanto maior a concentração de agentes teratogênicos a que os organismos
foram expostos, maior o risco de desenvolvimento anormal.
- Algumas doenças (como a rubéola) que têm pouco efeito ou apenas um efeito
temporário na mãe podem ser responsáveis por graves anormalidades no organismo em
desenvolvimento.

FIGURA 3.10
Em muitos países do mundo, as más condições econômicas criam um conjunto de
fatores de risco. Por exemplo, más condições de saúde e ausência de educação dos pais
influenciam negativamente a saúde e bem-estar da criança (Adaptada do Fundo para a
Infância das Nações Unidas [UNICEF], 1999). [A figura representa diversos gráficos.
Para todos os gráficos, são apresentadas três colunas: 1- Países menos desenvolvidos; 2-
Países em desenvolvimento; 3- Países industrializados. Gráfico da mortalidade: Índice
de mortalidade infantil (por 1000 nascimentos) = 1- 107; 2- 64; 3- 6. Índice de
mortalidade antes dos cinco anos (por 1000 nascimentos) = 1- 167; 2- 95; 3- 6.
Expectativa de vida (anos) = 1- 50; 2- 62; 3- 78. Gráfico de riqueza: PNB per capita =
1- $256; 2- $1299; 3- $27146. Gráfico de Educação: Índice de alfabetismo nos adultos
= 1- 49% ; 2- 70% ; 3- 98% . Matrícula no ensino médio = 1- 18% ; 2- 50% ; 3- 100% .
Gráfico de saúde: % da população com acesso à água potável = 1- 57 ; 2- 72 ; 3- 100 .
% da população com acesso a saneamento adequado = 1- 37 ; 2- 79 ; 3- 100 . % de
imunizados contra sarampo = 1- 54 ; 2- 89 ; 3- 92 . % de nascimentos atendidos por
pessoal treinado = 1-26 ; 2- 54 ; 3- 99 . % de bebês com baixo peso ao nascer = 1- 22 ;
2- 18 ; 3- 6 .
FIGURA 3.11
Esta jovem demonstra um dos efeitos devastadores do agente laranja, um poluente
ambiental usado durante a Guerra do Vietnã. [Foto de uma garota com o braço direito
atrofiado.]
FIGURA 3.12
Média do peso ao nascer de bebês nascidos em várias épocas da gestação (semanas de
maturidade) de mães fumantes (tanto fumando muito quanto fumando pouco) e não-
fumantes. Observe que os bebês nascidos de mães que fumavam muito podem pesar
mais de meio quilo a menos que aqueles nascidos de mães não-fumantes. [ Gráfico
“Média do peso ao nascer de bebês nascidos em várias épocas da gestação filhos de
mães fumantes e não-fumantes.” O eixo horizontal representa a maturidade (semanas) e
o eixo vertical representa o peso médio ao nascer (quilos). Três linhas atravessam o
gráfico: 1- Não-fumantes; 2- Fumantes de 1 a 20 cigarros/dia; 3- Fumante de mais de 20
cigarros por dia. Em 31 semanas = 1- 3,3kg ; 2- 2,4kg ; 3- 1,9kg . Em 34 semanas = 1-
3,8kg ; 2- 3kg ; 3- 2,6kg . Em 37semanas = 1- 4,2kg ; 2- 3,8kg ; 3- 3,85kg . Em 40
semanas = 1- 5,4kg ; 2- 5,22kg ; 3- 5,22kg . Em 43 semanas = 1- 5,6kg ; 2- 5,3kg ; 3-
5,4kg.]
FIGURA 3.13
Crianças que sofrem de alcoólica fetal não parecem apenas anormais (foto ao alto); seus
cérebros são subdesenvolvidos e muitas são portadoras de deficiência mental grave. O
cérebro de uma criança que sofreu de síndrome alcoólica fetal (à direita) não possui as
convoluções características do cérebro de uma criança normal (à esquerda). [Foto de
uma criança com síndrome alcoólica fetal e foto de um cérebro normal (4,2cmX3,5cm)
ao lado de um cérebro de uma criança com síndrome alcoólica fetal (3cmX2,2cm)]
FIGURA 3.14
Os períodos críticos no desenvolvimento pré-natal humano ocorrem quando os órgãos e
outras partes do corpo estão se formando e, por isso, são mais vulneráveis aos
teratogênicos. Antes da implantação, os teratogênicos danificam todas ou a maioria das
células do organismo, causando a sua morte ou danificam apenas algumas células,
permitindo que o organismo se recupere sem que se desenvolvam deficiências. Na
figura, as porções cor de laranja das barras representam períodos de risco mais elevado
e anormalidades estruturais significativas; as porções amarelas representam períodos de
reduzida sensibilidade aos teratogênicos. (Adaptada de Moore e Persaud, 1993).
CONCEITOS
síndrome alcoólica fetal Uma síndrome encontrada em bebês cujas mães consumiram
altas quantidades de álcool durante a gravidez. Os sintomas incluem cabeça
anormalmente pequena e cérebro subdesenvolvido, anormalidade nos olhos, doença
cardíaca congênita, anomalias nas articulações e má-formação da face.
TABELA 3.4
ALGUMAS DOENÇAS E CONDIÇÕES MATERNAS QUE PODEM AFETAR O
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
Doenças sexualmente transmissíveis
Gonorréia - O organismo gonococcus pode atacar os olhos enquanto o bebê está
atravessando o canal do nascimento infectado. São administradas gotas de nitrato de
prata ou eritromicina nos olhos do bebê imediatamente após o nascimento para prevenir
cegueira.
Herpes genital - A infecção usualmente ocorre no nascimento, quando o bebê entra em
contato com as lesões do herpes na genitália da mãe, embora o vírus possa também
atravessar a barreira placentária para infectar o feto. A infecção pode conduzir à
cegueira e à lesão cerebral grave. Não há cura para a doença. As mães com herpes
genital ativo, freqüentemente, são submetidas a um parto cesariana para evitar a
infecção de seus bebês.
Sífilis - Os efeitos da sífilis no feto podem ser devastadores. Uma estimativa de 25%
dos fetos infectados nasce morto. Aqueles que sobrevivem podem ser surdos,
mentalmente deficientes ou deformados. A sífilis pode ser diagnosticada por um teste
sangüíneo e pode ser curada antes de o feto ser contaminado, pois a espiroqueta da
sífilis não consegue penetrar a membrana placentária antes da vigésima primeira
semana de gestação.
Outras doenças e condições maternas
Varíola - A varíola pode conduzir ao aborto espontâneo ou ao parto prematuro, mas não
parece causar má-formação.
Citomegalovírus - A fonte mais comum de infecção pré-natal, o citomegalovírus, não
produz sintomas em adultos, mas pode ser fatal ao embrião. A infecção na vida intra-
uterina tem sido relacionada a dano cerebral, surdez, cegueira e paralisia cerebral (uma
deficiência da coordenação motora causada por dano cerebral), diagnosticados
posteriormente.
Diabetes - As mães diabéticas enfrentam um risco maior de ter um filho natimorto ou
que morra logo após o nascimento. Os filhos de mães diabéticas são freqüentemente
muito grandes devido à acumulação de gordura durante o terceiro trimestre. As mães
diabéticas requerem cuidado especial para evitar esses problemas.
Hepatite - As mães que têm hepatite apresentam probabilidade de transmiti-la para seus
bebês durante o nascimento.
Hipertensão - A hipertensão (pressão sangüínea elevada crônica) aumenta a
probabilidade de aborto e de morte do bebê.
Gripe - As formas mais violentas de gripe podem conduzir a aborto espontâneo ou
podem causar anormalidades durante os primeiros estágios da gestação.
Caxumba - Suspeita-se que a caxumba cause aborto espontâneo no primeiro trimestre da
gravidez.
Toxemia - Cerca de 5% das mulheres grávidas, nos Estados Unidos, são afetadas,
durante o terceiro trimestre, por essa doença de origem desconhecida. Mais comum
durante as primeiras gestações, a condição afeta principalmente a mãe. Os sintomas são
retenção de água, pressão sangüínea elevada, rápido ganho de peso e proteinúria. Se não
tratada, a toxemia pode causar convulsões, coma e até a morte da mãe. A morte do feto
não é rara.
Toxoplasmose - Uma doença branda em adultos com sintomas similares àqueles do
resfriado comum, a toxoplasmose é causada por um parasita que está presente em carne
crua e fezes de gato. Pode provocar aborto espontâneo ou morte. Os bebês que
sobrevivem podem ter prejuízo sério da visão ou do cérebro.
Fontes: Moore e Persand, 1993; Stevenson, 1977.
FIGURA SEM NÚMERO
As conseqüências trágicas do envenenamento pré-natal por mercúrio, ou doença de
Minimata. Essa doença começou a chamar atenção do mundo na década de 1950, por
causa da poluição na baía de Minimata, no Japão.
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL RECONSIDERADO

Como já observamos anteriormente, muitos psicólogos do desenvolvimento encaram o


período pré-natal como um modelo para todo desenvolvimento subseqüente porque
muitos dos princípios que se aplicam ao desenvolvimento pré-natal também explicam o
desenvolvimento após o nascimento. Antes de passarmos para o nascimento e a vida
fora do útero, vale a pena rever esses princípios explanatórios, uma vez que se aplicam
ao período pré-natal. Eles são idéias às quais retornaremos durante todo o nosso estudo
do desenvolvimento da criança.

125
- A seqüência é fundamental. Uma célula precisa existir antes de haver duas. Os
músculos e os ossos devem estar presentes antes de os nervos poderem coordenar os
movimentos. As gônadas devem secretar testosterona antes de poder ocorrer a
diferenciação sexual mais adiante.
- O momento certo é importante. Se o óvulo se move rápido demais ou lento demais
pela trompa de Falópio, a gravidez é encerrada. Se, durante um estágio particular do
desenvolvimento, ocorrer a exposição a um teratogênico particular, o impacto disso no
organismo pode ser destrutivo. Se a exposição ocorrer antes ou depois desse estágio
particular, pode haver pequeno ou nenhum impacto. A importância do momento certo
implica a existência de períodos sensíveis para a formação dos sistemas orgânicos
básicos.
- O desenvolvimento consiste de diferenciação e integração. A célula isolada do zigoto
vai originar as muitas, e aparentemente idênticas, células da mórula. Essas células,
então, diferenciam-se em dois tipos diferentes de células que, mais tarde, são integradas
em uma nova configuração de células chamadas blastocisto. Da mesma maneira, os
germes dos braços posteriormente se diferenciarão para formar os dedos, que vão diferir
um do outro de modo que possibilitem os movimentos perfeitamente articulados da mão
humana.
- O desenvolvimento é caracterizado por mudanças que se processam por meio de
estágios. As mudanças na forma do organismo e nas maneiras em que ele interage com
seu ambiente sugerem uma série de transformações que se processam em etapas. O
embrião não somente parece totalmente diferente do blastocisto, mas também interage
de uma maneira diferente com seu ambiente.
- O desenvolvimento ocorre de maneira desigual. Desde os primeiros passos da divisão,
os vários subsistemas que constituem o organismo desenvolvem-se em seu próprio
ritmo. Um importante caso especial dessa desigualdade é o desenvolvimento físico, que
segue uma seqüência cefalocaudal (da cabeça para baixo) e proximodistal (do centro
para a periferia).
- O curso do desenvolvimento parece ser pontuado por períodos de aparente regressão.
Embora o desenvolvimento em geral pareça progredir com o tempo, há também
períodos de aparente regressão. As regressões parecem refletir um processo de
reorganização, como quando a atividade fetal diminui quando as regiões mais altas do
cérebro estão começando a se tornar ativas.
- O desenvolvimento é ainda um mistério. O processo pelo qual o organismo humano se
desenvolve de uma célula isolada até um bebê recém-nascido continua a confundir os
investigadores. Em certo sentido, os resultados do desenvolvimento estão presentes no
início, codificados nos materiais genéticos do zigoto, que confina os tipos de formas que
podem emergir das interações entre o organismo e o ambiente. Mas novas formas estão
constantemente emergindo das interações entre o organismo e o ambiente que sustentam
e acionam o desenvolvimento. Nesse sentido, o desenvolvimento é epigenético.

NASCIMENTO: A PRIMEIRA ALTERAÇÃO


BIOSSOCIOCOMPORTAMENTAL

Entre todas as transições da vida, o nascimento é a mais radical. Antes do nascimento, o


líquido amniótico proporciona um ambiente úmido e quente, e o feto recebe
continuamente oxigênio e nutrição através do cordão umbilical. No nascimento, os
pulmões se inflam para, pela primeira vez, receber oxigênio e exalar gás carbônico. A
primeira respiração de oxigênio atua para fechar o canal secundário que desvia o sangue
dos pulmões para a placenta. Também faz com que as artérias umbilicais se fechem,
cortando a circulação fetal para a placenta. Agora, o bebê precisa obter oxigênio através
dos pulmões, deve trabalhar pela nutrição através da sucção e não tem mais a placenta
para lhe proporcionar proteção contra organismos causadores de doenças.

126
As alterações sociais e comportamentais que ocorrem no nascimento não são menos
pronunciadas do que as biológicas, marcando o nascimento como a primeira mudança
biossociocomportamental importante do desenvolvimento humano. O recém-nascido
encontra diretamente outros seres humanos pela primeira vez, e os pais têm a primeira
visão do seu filho. Desde o momento do nascimento, os bebês e os pais começam a
construir um relacionamento social.

OS ESTÁGIOS DO TRABALHO DE PARTO


O processo biológico do nascimento começa com uma série de mudanças no corpo da
mãe que forçam a passagem do feto através do canal do nascimento e termina quando a
mãe expele a placenta, depois que o bebê emergiu. O trabalho de parto, em geral,
começa aproximadamente 280 dias depois da concepção. É, normalmente, dividido em
três etapas justapostas (ver Figura 3.15).
A primeira etapa do trabalho de parto tem início quando as contrações uterinas de
suficiente freqüência, intensidade e duração começam a fazer com que a cérvice dilate.
Isso continua até que a abertura do útero na vagina esteja totalmente dilatada e as
conexões entre os ossos da pélvis da mãe tornem-se mais flexíveis (Cunningham et al,
1997). A duração desse estágio varia de mulher para mulher e de gravidez para
gravidez: pode durar desde uma hora até vários dias. A norma para os primeiros
nascimentos é cerca de 14 horas (Niswander e Evans, 1996). No início do trabalho de
parto, as contrações ocorrem a cada 15 ou 20 minutos e duram de 15 a 60 segundos. À
medida que o trabalho de parto prossegue, as contrações tornam-se mais freqüentes e
mais intensas e têm uma maior duração.
A segunda etapa do trabalho de parto inicia-se quando o bebê é empurrado, primeiro a
cabeça, através da cérvice totalmente dilatada para a vagina (Essa passagem é facilitada
pelo fato de que a cabeça do bebê está flexível porque os ossos do crânio ainda não se
fundiram.) As contrações agora, em geral, vêm com não mais de um minuto de intervalo
e duram cerca de um minuto. A pressão do bebê no canal do nascimento e as poderosas
contrações do útero, caracteristicamente, fazem com que a mãe faça força para baixo e
empurre o bebê para fora. Ocasionalmente, os bebês emergem em outras posições, a
mais comum sendo a posição de nádegas, com os pés ou as nádegas emergindo
primeiro. Nos casos em que os bebês nascem na posição de nádegas, o que ocorre em 3
a 4% dos nascimentos, tanto a mãe quanto o feto correm um risco consideravelmente
maior (Kunzel, 1994).
A terceira etapa do trabalho de parto, a etapa final, ocorre quando o bebê emerge da
vagina e o útero contrai em torno do seu conteúdo diminuído. A placenta dobra-se e se
separa da parede uterina, puxando com ela as outras membranas fetais. As contrações
rapidamente as expelem e elas são paridas como as secundinas.

127
VARIAÇÕES CULTURAIS NO PARTO

Como um processo biológico, o trabalho de parto ocorre mais ou menos da mesma


maneira em toda parte. A experiência de dar a luz, no entanto, varia segundo as
tradições da cultura. Essas tradições proporcionam à mãe e à comunidade um conjunto
prescrito de procedimentos a serem seguidos durante o parto, assim como um conjunto
de expectativas sobre como elas vão se sentir (Jordan, 1983; Kaye, 1982).
Em algumas sociedades, dar à luz é tratado como um processo comum, uma parte
rotineira da vida de uma mulher. Considere a seguinte descrição do nascimento entre os
Ikungs, uma sociedade de caça e coleta do deserto Kalahari da África:
O estômago da mãe ficou muito grande. As primeiras dores do trabalho de parto
vieram à noite e duraram até a madrugada. Naquela manhã, todos saíram para a
coleta. A mãe e eu ficamos para trás. Ficamos sentadas juntas por um momento e,
então, eu saí e brinquei com as outras crianças. Mais tarde, voltei e comi as nozes
que ela havia quebrado para mim. Ela se levantou e começou a se preparar. Eu
disse: "Mamãe, vamos até o poço de água. Estou com sede.". Ela disse: "Hum,
hum, vou pegar algumas nozes mongongo.". Eu disse às crianças que estava indo e
saímos; não havia nenhum outro adulto por perto. Andamos um pouco e, então,
ela se sentou diante da base de uma grande árvore nehn, curvou as costas contra
ela e a pequena Kunsa nasceu. (Shostak, 1981, p. 53-54)
Esse nascimento sem auxílio e sem ser anunciado é relativamente raro. É muito mais
comum encontrar várias pessoas atendendo a mãe durante o trabalho de parto e o parto
propriamente dito. Em algumas sociedades tradicionais, há uma casa especial construída
fora da aldeia, reservada para os partos. Em muitas sociedades, práticas especiais, como
fazer a mãe se sentar ou deitar em uma determinada posição durante o parto, ou lhe dar
anestesia ou infusões de ervas para beber, são utilizadas para ajudá-la e ao seu bebê
através da perigosa transição.
Quem, na verdade, vai desempenhar um papel significativo no processo do parto
também varia entre as culturas. Entre os ngonis da África Oriental, por exemplo, os
homens são totalmente excluídos do processo. As mulheres até escondem o fato de
estarem grávidas dos seus maridos enquanto isso é possível. "Os homens são
criancinhas. Não conseguem ouvir essas coisas que pertencem à gravidez", declaram as
mulheres (Read, 1960/1968, p. 20). Quando a sogra fica sabendo que o trabalho de parto
da sua nora começou, ela e outras mulheres da família vão para a cabana da mulher,
expulsam o marido de lá e assumem o encargo dos preparativos. Tiram de lá todos os
pertences do marido - roupas, ferramentas e armas - e todos os artigos domésticos,
exceto velhas esteiras e potes que serão usadas durante o trabalho de parto. Os homens
não têm permissão de voltar à cabana até depois de o bebê nascer.

O PARTO NOS ESTADOS UNIDOS


Durante a primeira metade do século XX, ocorreu uma mudança marcante nas práticas
de parto nos Estados Unidos. Em 1900, a maioria dos partos acontecia em casa,
assistidos apenas por uma parteira, uma mulher reconhecida por sua experiência em
ajudar o parto. No final do século, 99% dos bebês nasceram em hospitais e 92% dos
partos foram realizados por um médico (Centers for Disease Control and Prevention,
2000). Dois eventos constituíram a base dessa mudança da casa para o hospital. Em
primeiro lugar, foram desenvolvidas muitas drogas para aliviar a dor do parto e, pela lei,
elas só podiam ser administradas por médicos. Em segundo lugar, os hospitais se
tornaram melhor equipados para proporcionar tanto um ambiente antisséptico quanto
uma ajuda especializada para lidar com quaisquer complicações que pudessem surgir
durante o trabalho de parto e o parto propriamente dito.
A cada ano, as vidas de milhares de bebês e de mães são salvas pela intervenção de
médicos usando drogas modernas e procedimentos médicos especiais (Figura 3.16).
Em 1915, aproximadamente 100 de cada 1000 bebês morriam no primeiro ano de vida,
e quase 7 de 1000 mulheres morriam ao dar a luz. Em 1997 (o último

128
ano para o qual os dados estão disponíveis), as mortes de bebês foram reduzidas para
7,2 de cada 1000 bebês nascidos (Centers for Disease Control and Prevention, 1999a).
No mesmo ano, apenas 7,7 mulheres de cada 100.000 que deram à luz nos Estados
Unidos morreram de causas relacionadas à gravidez, ao parto ou às complicações pós-
parto (Centers for Disease Control and Prevention, 1999b).
Infelizmente, a redução nos índices de morte não foi disseminado regularmente por
todos os segmentos da população. Embora o índice de mortalidade tenha declinado
significativamente, tanto para os bebês afro-americanos quanto para os bebês brancos,
os bebês afro-americanos ainda têm o dobro de probabilidade de morrer durante o
primeiro ano de vida do que os outros bebês. Além disso, as mães afro-americanas têm
uma probabilidade três vezes maior de morrer no parto do que as outras mães (Centers
for Disease Control and Prevention, 1999b).
Apesar das reduções na mortalidade materna e infantil, tanto os profissionais de saúde
quanto os pais têm apontado para problemas decorrentes de intervenção médica durante
nascimentos normais e sem complicações (Martin, 1998; U.S. Dept. of Health and
Human Services, Public Health Service, 1991). Essas preocupações concentram-se em
duas questões: (1) Qual é o método mais seguro para lidar com a dor durante o parto?
(2) Que precauções são necessárias para garantir a saúde da mãe e do bebê?

A dor do parto e sua medicação


Nas nações desenvolvidas, várias drogas são usadas para reduzir a dor do trabalho de
parto e do parto. Elas incluem anestésicos (que amortecem a sensibilidade geral),
analgésicos (que reduzem a percepção da dor) e sedativos (que reduzem a ansiedade).
As evidências atuais indicam que as drogas administradas à mãe para controlar a dor de
parto podem afetar o bebê diretamente, atravessando a barreira placentária e entrando na
corrente sangüínea do feto (Troyer e Parisi, 1994). Elas também afetam o bebê
indiretamente, reduzindo o suprimento de oxigênio da mãe. Isso faz com que a sua
pressão sangüínea caia, uma condição que reduz a disponibilidade de oxigênio para o
feto e pode fazer com que o bebê tenha dificuldade para respirar após o parto. As
medicações obstétricas raramente ameaçam as vidas de bebês saudáveis de termo, mas
foi comprovado que afetam a condição do recém-nascido. Os

129
recém-nascidos de mães que recebem uma ou outra variedade de drogas durante o
trabalho de parto e depois dele são menos atentos e mais irritáveis, têm menos tônus
muscular e respostas de sucção menos vigorosas, além de serem mais fracos que aqueles
cujas mães não recebem medicação (Jones, 1997).
Devido à sua preocupação sobre os possíveis efeitos adversos da droga sobre o recém-
nascido, muitas mulheres estão recorrendo a métodos alternativos de controle da dor do
parto. Esses métodos incluem aulas que dão à futura mãe uma idéia do que esperar
durante o trabalho de parto e o parto em si, e ensinam relaxamento e exercícios
respiratórios para ajudar a combater a dor. Freqüentemente, também envolvem ter
alguém - o marido, um amigo solidário ou uma parteira constantemente ao lado da
mulher durante o trabalho de parto, para lhe proporcionar conforto e apoio emocional*.

* N. de R. Atualmente, tem-se observado que algumas mulheres solicitam a presença de


doulas durante o seu trabalho de parto ou até mesmo antes dele, como fonte de auxílio.
A doula é uma acompanhante de parto treinada para oferecer informações, conforto e
apoio físico e emocional para a parturiente. A sua presença, no entanto, não substitui a
presença do médico e de sua equipe, tampouco a do marido. A busca por esse tipo de
profissional está aumentando de acordo com o crescimento dos partos humanizados,
assim denominados.

Intervenções médicas durante o parto

Além de administrar drogas para aliviar a dor do trabalho de parto, os médicos podem
usar procedimentos médicos para salvaguardar as vidas da mãe e da criança. Quando o
bebê já passou da hora de nascer ou quando a mãe está enfrentando alguma situação de
alto risco os médicos comumente induzem o trabalho de parto, seja rompendo as
membranas da bolsa amniótica, seja dando à mãe alguma forma do hormônio oxitocina,
que inicia as contrações.
Outro procedimento comumente usado é o parto cesariana, ou remoção cirúrgica do
bebê do útero da mãe. Esse procedimento tem sido caracteristicamente usado em casos
de trabalho de parto difícil, quando o bebê está em sofrimento durante o parto, ou
quando o bebê não está na posição cefálica.
Embora as técnicas médicas modernas tenham tornado o parto bem mais seguro do que
ele era no passado, alguns profissionais de saúde dizem que muitas dessas tecnologias
são usadas com maior freqüência do que deveriam (Martin, 1998; U.S. Dept. of Health
and Human Services, Public Health Services, 1991). O uso de partos cesarianas é um
exemplo característico. O número de cesarianas realizadas nos Estados Unidos começou
a aumentar significativamente durante a década de 1970. Em 1997, 21 de cada 100
nascimentos nos Estados Unidos eram decorrentes de cesariana (Centers for Disease
Control and Prevention, 1999). Os críticos declaram que muitas cesarianas realizadas
nos Estados Unidos não somente eram desnecessárias, mas elevavam o custo do parto,
expunham a mãe ao risco de infecção pós-operatória e faziam com que as mães
ficassem separadas de seus filhos enquanto se recuperavam da cirurgia. Podiam também
ser prejudiciais ao bem-estar dos bebês (ver Destaque 3.2). As preocupações sobre a
intervenção médica desnecessária também se estende a outros procedimentos, como o
trabalho de parto induzido, que dobrou durante a última década, e a monitoração
eletrônica dos sinais vitais do feto durante o trabalho de parto, que tem estado associada
ao aumento no número de cesarianas (Jones, 1997; Martin, 1998).
Em parte e devido a essas preocupações, tem havido um interesse crescente no uso de
enfermeiras-obstetras e médicos osteopatas em casos de parto de alto risco. Um estudo
realizado em Washington descobriu que, nas gestações de baixo risco, as enfermeiras-
obstetras formadas usavam menos monitoração fetal do que os médicos, assim como
foram observados, durante a sua atuação, índices menores de trabalho de parto induzido.
Suas pacientes também receberam menos anestesia raquidiana ou peridural e realizaram
menos cesarianas do que as pacientes de médicos de família e obstetras (Rosenblatt et
al., 1997).

FIGURA 3.15
Durante a primeira etapa do trabalho de parto, que em geral dura várias horas, a cérvice
dilata, normalmente para 9 ou 10 centímetros de diâmetro. Durante a segunda etapa, o
canal do nascimento se amplia, permitindo que o bebê emerja. A etapa final (não-
mostrada) ocorre quando a placenta é expelida (Adaptada de Clarke-Stewart e Koch,
1983). [ A fugira mostra a etapas do nascimento: o bebê atravessando o canal vaginal.]
FIGURA 3.16
Durante o século XX, o índice de mortalidade entre as crianças de menos de um ano de
idade nos Estados Unidos caiu dramaticamente. [ Gráfico: eixo horizontal representa o
ano e o eixo vertical representa as mortes pós-natais durante o primeiro ano de vida por
1000 nascidos vivos: 1915 = 100; 1920 = 87; 1925 = 70; 1930 = 60; 1935 = 55; 1940 =
45; 1945 = 36; 1950 = 30; 1955= 28; 1960= 25; 1965 = 24; 1970 = 21; 1975= 20; 1980
= 18; 1985 = 17; 1991 = 10.]
FIGURA SEM NÚMERO
A educação para o parto tornou-se uma parte tradicional da preparação para a gravidez
de muitos casais norte-americanos que estão esperando um novo bebê. [ Foto de casais]
DESTAQUE 3.2
A EXPERIÊNCIA DO NASCIMENTO PARA O BEBÊ
O que é o nascimento para o bebê? Durante várias horas, o feto é espremido através do
canal do nascimento, onde está sujeito a considerável pressão e, ocasionalmente,
privado de oxigênio. Finalmente, o bebê recém-nascido é expelido do abrigo quente e
escuro do útero para um quarto de hospital frio e claro. Uma teoria psicológica popular
sustentava que essa experiência devia representar um trauma para o bebê (Rank, 1929).
No entanto, uma pesquisa moderna sobre a experiência do nascimento, que se
concentrou nos mecanismos biológicos que preparam o bebê para enfrentar o estresse
envolvido, apresenta um quadro diferente. Hugo Lagercrantz e Theodore Slotkin (1986)
sugeriram que quando o processo do nascimento começa uma oscilação na produção de
adrenalina do feto e outros hormônios de estresse protegem-no das condições adversas
— a pressão na cabeça e a privação de oxigênio — que ele experimenta. Eles
prosseguem, sugerindo que os eventos que causam a produção dos hormônios de
estresse são de vital importância porque preparam o bebê para sobreviver fora do útero.
Em apoio à sua hipótese, Lagercrantz e Slotkin observam que os bebês nascidos de
cesariana, freqüentemente, têm dificuldade para respirar. Eles acreditam que o
procedimento priva os bebês das experiências que produzem altos níveis de adrenalina e
outros hormônios nas horas que antecedem o nascimento, hormônios estes que facilitam
a absorção de líquido dos pulmões e a produção de surfactina que permite que os
pulmões funcionem bem. Além disso os hormônios parecem produzir um aumento no
índice metabólico do recém-nascido, o que mobiliza prontamente o combustível que
será usado para nutrir as células.
Lagercrantz e Slotkin também acreditam que os hormônios de estresse são úteis para
aumentar o fluxo sangüíneo para órgãos vitais como o coração, os pulmões e o cérebro
e, assim, para aumentar as chances de sobrevivência de um bebê que está
experimentando dificuldades para respirar. Além disso, esses pesquisadores especulam
que a oscilação hormonal, que ocorre durante o processo do parto coloca o recém-
nascido em um estado de alerta. Imediatamente após o parto, a maior parte dos recém-
nascidos normais tem um período prolongado de vigilância quieta, que chega a durar até
40 minutos, em que seus olhos ficam abertos com um olhar fixo e arregalado (Klaus et
al., 1995).

130
AS CONDIÇÕES DO RECÉM-NASCIDO
A grande maioria dos bebês nascidos em nações desenvolvidas são de termo e robustos.
No entanto, para os pais primíparos, especialmente aqueles que imaginam que os recém-
nascidos são parecidos com os bebês retratados nos potes de alimentos para bebês, a
aparência real do neonatal pode causar alarme e desapontamento. A cabeça do bebê é
claramente grande em proporção ao resto do corpo, e os membros são relativamente
pequenos e firmemente flexionados. A menos que o bebê tenha nascido de cesariana, a
cabeça pode parecer malformada após sua passagem apertada pelo canal do nascimento
(A cabeça, em geral, readquire sua simetria no final da primeira semana após o
nascimento). A pele do bebê pode estar coberta de vernix caseosa, uma substância
branca e gordurosa que o protege contra infecções bacterianas, e pode estar pontilhada
de sangue.
Nos Estados Unidos, os recém-nascidos pesam em média 3.100 a 3.400 g, embora bebês
pesando entre 2.500 e 4.500 g estejam dentro da variação normal. Durante seus
primeiros dias de vida, a maior parte dos bebês perde cerca de 7% do seu peso inicial,
principalmente devido à perda de líquido. Eles, em geral, recuperam o peso aos 10 dias
de idade.
A altura média do recém-nascido é de 51cm. Em grande parte, a altura do recém-
nascido é determinada pelo tamanho do útero da mãe. Isso não reflete a herança
genética do bebê, porque os genes que controlam a altura só começam a se expressar
logo após o nascimento (Tanner, 1990).

AVALIANDO A VIABILIDADE DO BEBÊ

Em partos com assistência médica, a equipe médica examina o recém-nascido para


avaliar indicações de risco de modo a agir imediatamente se ocorrer algo errado. Eles
anotam o peso do bebê, checam os sinais vitais e procuram evidência das habilidades
normais. Várias escalas e testes são usados para estabelecer o estado físico e as
condições comportamentais do recém-nascido.

Condição física
Na década de 1950, Virgínia Apgar (1953), uma anestesiologista que trabalhava na sala
de parto de um grande hospital metropolitano, desenvolveu um método rápido

131
e simples para avaliar se um bebê requer cuidado de emergência. A Escala de Apgar,
que é atualmente bastante empregada em todos os Estados Unidos, é usada para avaliar
os bebês um minuto após o nascimento e novamente cinco minutos depois, usando
cinco sinais vitais: freqüência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, reação
reflexa e cor. A Tabela 3.5 mostra os critérios para pontuar cada um dos sinais. As
pontuações individuais são somadas para dar uma medida da condição física geral do
bebê. Um bebê com uma pontuação de menos de 4 é considerado em más condições e
requer atenção médica imediata.

Condição comportamental
Durante a última metade do século passado, muitas escalas foram construídas para
avaliar os aspectos comportamentais mais sutis da condição do recém-nascido
(Brazelton, 1984; McCollam et ai., 1997). Uma das mais amplamente usadas é a Escala
de Avaliação Neonatal de Brazelton, desenvolvida pelo pediatra T. Berry Brazelton e
sua equipe. Um propósito importante dessa escala é avaliar a condição neurológica dos
recém-nascidos suspeitos de estar em situação de risco para dificuldades
desenvolvimentais. É, também, usada para avaliar o progresso desenvolvimental de
bebês, comparar o funcionamento de recém-nascidos de diferentes culturas e avaliar a
eficácia de intervenções destinadas a aliviar as dificuldades do desenvolvimento
(Beeghly et ai., 1995; Brazelton et ai., 1987).
A escala de Brazelton inclui testes de reflexos dos bebês, capacidades motoras, tônus
muscular, capacidade para reagir a objetos e pessoas e capacidade para controlar seu
próprio comportamento (como se desviar, quando superestimulado) e atenção. Ao
avaliar um recém-nascido, o examinador deve tomar nota do grau de vigilância do bebê
e, se necessário, repetir os testes quando o bebê estiver totalmente desperto e calmo. Eis
alguns itens característicos da escala de Brazelton:
Orientação para objetos animados - visual e auditiva. O examinador chama o nome do
bebê repetidamente em uma voz aguda, enquanto mexe a sua cabeça para cima e para
baixo e de um lado para o outro, na frente do bebê. O bebê focaliza a sua atenção no
examinador? Acompanha o examinador com os olhos, calmamente?
Puxar-para-sentar. O examinador coloca um dedo indicador em cada uma das palmas do
bebê e o puxa para uma posição sentada. O bebê tenta endireitar sua cabeça quando está
na posição sentada? Até que ponto ele consegue fazer isso?
Receptividade para o afago. O examinador segura o bebê contra o seu peito ou o levanta
contra o seu ombro. Como o bebê reage? Ele resiste a ser segurado? É passivo ou se
aninha ao examinador?
Movimentos defensivos. O examinador coloca um pano sobre o rosto do bebê e o
mantém ali. O bebê tenta remover o tecido do seu rosto balançando a cabeça ou
golpeando o tecido?
Atividade de autotranqüilização. O examinador observa o que o bebê faz para se
tranqüilizar quando está inquieto. Ele chupa o polegar, olha em volta?

132
Além do seu principal objetivo de avaliar os bebês em risco, as escalas de avaliação
neonatal são também usadas para prever aspectos do desenvolvimento futuro dos
recém-nascidos, como seu temperamento ou índices característicos de aprendizagem.
As pesquisas realizadas na última década mostram que essas escalas são, na verdade,
guias satisfatórios para determinar quando a intervenção médica é necessária, além de
ser também muito boas para caracterizar se o bebê está se desenvolvendo normalmente
no período subseqüente ao parto (Hart et al., 1999; Schuler et al., 1999). Entretanto, elas
não são úteis quando se trata de prever a inteligência ou a personalidade posteriores.

PROBLEMAS E COMPLICAÇÕES
Embora a maioria dos bebês nasça sem nenhum problema sério, alguns estão em
condições físicas tão ruins que logo morrem. Outros correm o risco de experimentar
problemas desenvolvimentais posteriores. Os recém-nascidos são considerados em risco
se sofrem de qualquer variedade de problemas, incluindo asfixia ou ferimentos na
cabeça durante o parto (qualquer dos dois pode resultar em lesão cerebral), dificuldade
aguda para respirar após o parto ou dificuldade para digerir o alimento devido a um
sistema digestivo imaturo (Korner, 1987). Esses são os tipos de problemas que,
provavelmente, resultam em baixas pontuações na Escala de Apgar. A maioria dos
recém-nascidos que estão em situação de risco são prematuros, anormalmente abaixo do
peso ou ambos (Witter e Keith, 1993).

Prematuridade
A prematuridade é medida em termos de idade gestacional, isto é, o tempo que passou
entre a concepção e o parto. A idade gestacional normal é de 37 a 43 semanas. Os bebês
nascidos antes da trigésima sétima semana são considerados ou prematuros ou pré-
termos. Nos Estados Unidos, cerca de 10% de todos os partos são prematuros
(Cunningham et al., 1997). As doenças relacionadas ao parto prematuro são a quarta
causa principal de mortalidade de bebês. Com o cuidado especializado e a tecnologia
atualmente disponível nos hospitais modernos (ver Figura 3.17), os índices de
mortalidade de bebês prematuros estão declinando nos Estados Unidos.
A principal causa de morte entre os bebês prematuros é a imaturidade dos pulmões
(Arias-Camison et al., 1999). O outro principal obstáculo para a sobrevivência

133
de bebês prematuros é a imaturidade de seus sistemas digestivo e imunológico. Mesmo
os bebês de idade gestacional normal às vezes têm dificuldade para coordenar a sucção,
a deglutição e a respiração nos primeiros dias após o parto. Essas dificuldades podem
ser mais sérias em bebês prematuros (ver Figura 3.18). Sua coordenação pode ser tão
deficiente que eles não podem ser alimentados diretamente do peito ou da mamadeira,
de forma que é preciso usar um equipamento especial para alimentá-los. Além disso,
seus sistemas digestivos imaturos freqüentemente não conseguem processar as fórmulas
(alimentação preparada, como por exemplo, leite em pó) para bebês normais, de modo
que eles precisam ser alimentados com fórmulas especiais.
Há muitos fatores potenciais para a prematuridade, alguns deles conhecidos. Os gêmeos
têm uma probabilidade de nascer cerca de três semanas antes, e os triplos e quádruplos
até mais cedo. As mulheres muito jovens, cujos sistemas reprodutores estão imaturos, e
as mulheres que tiveram muitas gestações próximas têm maior probabilidade de terem
bebês prematuros. O mesmo acontece com as mulheres que fumam, que têm saúde
deficiente ou que têm infecções intra-uterinas. As chances de dar à luz a um bebê
prematuro também variam segundo a situação socioeconômica (Witter e Keith, 1993).
As mulheres pobres têm duas vezes mais probabilidade de dar à luz a bebês pequenos
ou prematuros do que as mulheres ricas. Essa disparidade pode ser explicada pelo fato
de que as mulheres pobres têm maior probabilidade de serem subnutridas ou portadoras
de doenças crônicas, de terem um cuidado com a saúde inadequado antes e durante a
gravidez, de sofrerem de infecções e com complicações durante a gravidez. Fatores
culturais como o uso de drogas para a fertilidade e jejum também desempenham um
papel importante (Ver Figura 3.19, que mostra o risco aumentado de dar à luz
prematuramente devido a jejum).
Muitas outras causas de prematuridade ainda não são bem entendidas. Pelo menos
metade de todos os partos prematuros não estão associados a nenhum dos fatores de
risco identificados e ocorrem após gestações de mulheres saudáveis, que estão em seus
primeiros anos de gravidez e têm boa assistência médica.
Baixo peso ao nascer
Considera-se que os bebês têm baixo peso ao nascer se apresentam 2.500 g ou menos,
sejam ou não prematuros (Os bebês prematuros tendem a ser pequenos,

134
mas nem todos os bebês pequenos são prematuros). Diz-se que os recém-nascidos cujo
peso ao nascer é especialmente baixo para sua idade gestacional sofrem de retardamento
do crescimento fetal; em outras palavras, eles não cresceram na proporção normal.
Partos múltiplos, infecções intra-uterinas, anormalidades cromossômicas, mãe que fuma
ou usa narcóticos, má-nutrição materna e anormalidades da placenta ou do cordão
umbilical têm sido todas identificadas como causas prováveis de retardamento do
crescimento fetal (Spellacy, 1994).

Conseqüências desenvolvimentais
Uma pesquisa intensiva tem sido conduzida sobre as conseqüências desenvolvimentais
da prematuridade e do baixo peso ao nascer. Os bebês que recaem em uma das duas
categorias correm o risco de experimentar problemas desenvolvimentais futuros, mas
diferem no curso provável do seu desenvolvimento (Cunningham et al., 1997).
Os bebês com baixo peso ao nascer têm um índice aumentado de dificuldade
desenvolvimental, quer sejam prematuros ou de termo. Dois terços das mortes que
ocorrem no período imediatamente posterior ao parto estão entre os bebês com baixo
peso ao nascer. Além disso, os bebês com baixo peso ao nascer têm três vezes mais
probabilidade de ter deficiências de desenvolvimento de fundo neurológico do que
outros bebês, e quanto menor o bebê, maior o risco (Tsang et ai., 1993).
Um resultado comum dos bebês com baixo peso ao nascer é uma redução na capacidade
intelectual (Taylor et al., 1998). Um estudo que comparou crianças de 11 e 12 anos de
idade que nasceram prematuramente, com um peso inferior a 1.500 g, com crianças de
termo, nascidas com um peso normal, encontrou como resultado que as crianças
prematuras tiveram um desempenho pior nos testes de inteligência, habilidade verbal e
memória (Rose e Feldman, 1996).
Vários fatores parecem ser importantes na determinação do resultado a longo prazo da
prematuridade. Por exemplo, bebês prematuros que têm tamanho normal para sua idade
gestacional têm uma boa chance de alcançar os bebês de termo (Brooks-Gunn et al.,
1993). No entanto, há alguma evidência de que, mesmo na ausência de qualquer
incapacidade clinicamente detectável, quando comparadas com as crianças de termo, as
crianças nascidas prematuramente tenham problemas com a manutenção da atenção e
com a coordenação visuomotora, quando estão em idade escolar (Foreman et al., 1997).
Aqueles bebês que são prematuros têm baixo peso ao nascer e sofrem complicações
médicas têm maior probabilidade de experimentar dificuldades desenvolvimentais
futuras. Entre os bebês prematuros que têm um peso particularmente baixo para a sua
idade gestacional, aqueles que têm cabeças

135
muito pequenas ao nascer e aqueles cujas cabeças crescem lentamente durante as seis
primeiras semanas da vida pós-natal têm grande probabilidade de experimentar, a longo
prazo, problemas desenvolvimentais (Eckerman et ai., 1985).
A importância de um ambiente protegido na superação dos riscos potenciais de
prematuridade é enfatizado pela pesquisa sobre a ecologia social das famílias de bebês
prematuros e com baixo peso ao nascer. Os bebês que são criados em circunstâncias
socioeconômicas confortáveis, com uma família intacta e uma mãe que teve uma boa
educação têm menos probabilidade de sofrer os efeitos negativos de sua condição ao
nascer do que as crianças que são criadas sem esses benefícios (Liaw e Brooks-Gunn,
1993).

FIGURA 3.17
Melhoras tecnológicas nos últimos anos aumentaram muito as chances de sobrevivência
de 10% dos bebês norte-americanos que nascem prematuros. [ Foto de um bebê na
incubadora e toda a aparelhagem conecta a ela.]
FIGURA 3.18
Evidências de que os bebês prematuros experimentam dificuldade para respirar levaram
Evelyn Thoman e sua equipe a criar um “ursinho que respira” ligado a uma bomba de ar
localizada do lado de fora do berço. A estimulação rítmica proporcionada pelo ursinho
ajuda a estabelecer um padrão respiratório regular no bebê, assim como melhora a
qualidade do seu sono e reduz o choro o outras expressões de emoções negativas.
( Thoman e Ingersall, 1993; Thoman et al., 1995). [Foto de um bebê na incubadora e um
ursinho azul de tamanho pouco menor que o do bebê.]
FIGURA 3.19
Uma queda repentina na ingestão alimentar materna conduz a alterações hormonais que
fazem com que algumas mulheres entrem prematuramente em trabalho de parto. Este
gráfico mostra uma duplicação do índice de nascimentos entre mulheres judias no dia
seguinte à abstenção total por 24 horas de alimento e água do Yom Kippur. (Adaptada
de Kaplan et ai., 1983.) [Gráfico: eixo horizontal representa dias e o eixo vertical
representa o número de partos. Dia 1 = 13 partos; dia 2 = 14 partos; dia 3 = 15 partos;
dia 4 = 11 partos; dia 5 = 8 partos. dia 6 = 12 partos; dia 7 = 12 partos (dia 7: Yom
Kippur); dia 8 = 26 partos; dia 9 = 14 partos; dia 10 = 17 partos; dia 11 = 7 partos; dia
12 = 8 partos; dia 13 = 10 partos; dia 14 = 13 partos; dia 15 = 15 partos.
CONCEITO
Escala de Apgar Um teste rápido e simples usado para diagnosticar a condição física de
bebês recém-nascidos.
Escala de Avaliação Neonatal de Brazelton Uma escala usada para avaliar a condição
neurológica de recém-nascidos.
Idade gestacional O período decorrido entre a concepção e o nascimento. A idade
gestacional varia de 37 a 43 semanas.
Prematuro ou pré-termo Termo usado para bebês nascidos antes da trigésima semana de
gestação.
Baixo peso ao nascer Termo usado para bebês que pesam 2.500g ou menos ao nascer,
sejam ou não prematuras.
Retardamento de crescimento fetal O termo usado para os recém-nascidos que são
especialmente pequenos para a sua idade gestacional.
TABELA 3.5 SISTEMA DE PONTUAÇÃO DE APGAR
SINAL VITAL AVALIAÇÃO
0 1 2
Freqüência cardíaca Ausente / Lenta (abaixo de 100) / Mais de 100
Esforço respiratório Ausente / Lenta, irregular / Bom, chorando
Tônus muscular Flácido /Alguma flexão das extremidades/ Movimento ativo
Reação reflexa Sem reação / Careta / Choro vigoroso
Cor Azul, pálido /Corpo rosa, extremidades azuis/ Completamente rosado
INÍCIO DO DESENVOLVIMENTO PAIS-FILHO
Como os bebês humanos são dependentes do apoio e da proteção ativos de seus
cuidadores para sua própria sobrevivência, o desenvolvimento de um relacionamento
próximo entre os bebês e seus pais é crucial para o bem-estar dos bebês. Entretanto,
amor e cuidado entre pais e filho não são inevitáveis nem automáticos. O grande
número de crianças negligenciadas, abusadas, abandonadas ou assassinadas no mundo a
cada ano deve convencer até mesmo o observador mais sentimental e otimista desses
fatos terríveis. Então, como é formado o vínculo entre pais e filho? E quando não se
desenvolve uma forte ligação, o que aconteceu de errado? Essas são questões amplas
que vamos encontrar repetidamente nos capítulos subseqüentes, porque um
relacionamento próximo entre pais e filho não é formado em um instante, ele se
desenvolve durante muitos anos (ver Destaque 3.3). Vamos examinar aqui os fatores
que entram imediatamente em jogo após o parto e que muitas pessoas acreditam
determinar a base para o futuro: as reações iniciais dos pais à aparência do seu bebê e às
expectativas que os pais têm para com eles.

A APARÊNCIA DO BEBÊ
Em sua busca pelas fontes de ligação entre mãe e bebê, alguns estudiosos do
desenvolvimento recorreram à etologia - estudo do comportamento animal e de suas
bases evolucionárias. Esses estudiosos acreditam que o exame do que faz com que as
mães não-humanas protejam ou rejeitem seus filhotes podem lançar uma luz sobre os
fatores que influenciam as mães humanas. Um fator importante que parece influenciar
as reações dos animais aos seus filhotes é a aparência da sua prole. Konrad Lorenz
(1943), etologista alemão, observou que os recém-nascidos de muitas espécies animais
têm características físicas que os distinguem do animal maduro: uma cabeça grande em
relação ao corpo, uma fronte proeminente, olhos maiores e que estão posicionados
abaixo da linha média horizontal da face, e bochechas redondas e cheias (ver Figura
3.20). Essa combinação de características, que Lorenz chamou de babyness, parece
atrair os adultos, evocar neles comportamentos protetores.
As evidências em apoio à idéia de que a babyness evoca respostas positivas por parte
dos adultos vêm de um estudo realizado por William Fullard e Ann Reiling (1976).
Esses pesquisadores perguntaram a pessoas de idades entre sete anos até adultos jovens
que pares correspondentes de figuras - uma retratando um adulto e outra retratando um
bebê - eles preferiam. Algumas figuras eram de seres humanos; outras de animais. Eles
descobriram que os adultos, especialmente as mulheres, tinham maior probabilidade de
escolher as figuras de bebês. As crianças entre as idades de 7 e 12 anos preferiram as
figuras de adultos. Entre
136
as idades de 12 e 14, a preferência das garotas mudou marcantemente dos adultos para
as crianças. Uma mudança similar foi encontrada entre os meninos entre as idades de 14
e 16 anos. Essas mudanças na preferência coincidem com as médias de idade em que as
garotas e os rapazes sofrem as mudanças fisiológicas que os tornam capazes de
reproduzir.
As reações dos adultos à aparência dos bebês podem explicar por que as mães acham
difícil cuidar de filhos malformados (Weiss, 1997). As mães de cães, gatos,

137
porquinhos-da-índia e algumas outras espécies matam os filhos malformados. Embora
os pais humanos em geral não matem seus bebês malformados, eles interagem com
menor freqüência e de maneira menos amorosa com os bebês que consideram não-
atrativos do que com aqueles que consideram atrativos (Langlois, 1986). Eles também
atribuem menos competência aos bebês não-atrativos (Stephan e Langlois, 1984). Esse
padrão é particularmente perceptível para as meninas. Enquanto ainda estão no hospital
com suas meninas recém-nascidas, as mães de bebês menos atrativos dirigem com mais
freqüência sua atenção para outras pessoas em vez de para suas filhas do que as mães de
bebês atrativos (Langlois et ai., 1995).

EXPECTATIVAS SOCIAIS
Durante a gravidez, a maioria dos futuros pais desenvolve expectativas específicas sobre
como serão seus bebês e, assim que um bebê sai do útero, os pais começam a examinar
a aparência e os comportamentos do recém-nascido para imaginar o seu futuro. Será que
ela vai ter a testa alta e redonda da sua avó? Seu choro vigoroso significa que ele terá o
temperamento impaciente do seu pai?
Naturalmente, o bebê vai diferir em alguns aspectos daquilo que os pais estiveram
imaginando. Em geral, no entanto, os pais começam a se acomodar à realidade do seu
filho no momento do seu nascimento. Um dos ajustamentos que os pais freqüentemente
têm de fazer é quanto ao sexo real da criança, quando o outro sexo era o desejado. As
etapas iniciais desse ajustamento podem ser vistos no Destaque 3.4. Seja o bebê um
menino ou uma menina, as crenças e expectativas dos pais começam a moldar suas
reações ao bebê, mesmo antes de a criança exibir quaisquer características distintas. Um
estudo descobriu que os pais que viram uma imagem de ultra-som do seu futuro bebê
enquanto ele ainda estava no útero consideravam os fetos do sexo feminino como mais
macios, menores, mais mimosos, mais calmos, mais frágeis, mais delicados e mais
bonitos que os fetos do sexo masculino (Sweeney e Bradbard, 1988). Em outro estudo,
as mães e os pais primíparos foram solicitados a escolher palavras que descrevessem
seus bebês recém-nascidos, 24 horas depois do seu nascimento (Rubin et ai, 1974). Os
bebês do sexo masculino ou do sexo feminino não diferiam em altura ou peso ou em
suas pontuações na Escala de Apgar. Não obstante, os pais descreviam suas filhas como
"pequenas", "lindas", "bonitinhas" ou "graciosas" e como parecidas com suas mães,
enquanto descreviam seus filhos como "grandes" e como parecidos com seus pais. Os
pais, verificaram os pesquisadores, tinham maior probabilidade que as mães de tipificar
seus bebês pelo sexo.
Há todas as razões para o sexo do bebê ser importante para os pais. O sexo das crianças
determina o nome que recebem, como são vestidas, como são tratadas e o que será
esperado delas mais tarde na vida. No entanto, há um lado desconcertante nesse
processo. Nós gostamos de pensar em nós mesmos como indivíduos e queremos ser
tratados com uma consciência de quem somos, não do que os outros esperam que
sejamos. Por isso, é uma espécie de choque percebermos que tantos aspectos
importantes do nosso futuro podem ser moldados desde o início pelas expectativas dos
nossos pais.
A menos que as expectativas dos pais sejam mantidas tão rígidas que se tornem
destrutivas, elas não representam uma falha por parte dos pais. Ao contrário, as reações
dos pais a seus filhos recém-nascidos refletem o fato de que os bebês humanos não são
apenas organismos biológicos, mas também entidades culturais. Para seus pais e para
outros membros da comunidade, os bebês têm significados especiais que são moldados
pelas idéias da cultura sobre as pessoas e sobre os eventos que os bebês podem
encontrar enquanto se desenvolvem, até a idade adulta. Esses significados, por sua vez,
moldam as maneiras pelas quais os adultos constroem os contextos ambientais nos quais
as crianças se desenvolvem. Quando são encontradas diferenças nas maneiras pelas
quais os meninos e as meninas são tratados, elas
139
ocorrem não porque os pais achem que os bebês meninos e meninas são diferentes logo
de início, mas, talvez mais significativamente, porque acreditam que os homens e as
mulheres tenham papéis diferentes a desempenhar (Fagot, 1995).
Essa orientação para o futuro está expressa de forma simbólica, clara, pelos zincantecos
do centro-sul do México (Greenfield et ai., 1989). Quando um filho nasce, ele recebe
uma ferramenta para cavar, um machado e uma tira de palmeira usada para tecer
esteiras, na expectativa do seu papel adulto. Tal orientação futura não está presente
apenas no ritual; ela está codificada em um ditado zincantecano: "No bebê recém-
nascido está o futuro do nosso mundo.".
A organização do presente em termos do futuro é uma fonte cultural importante de
mudança evolutiva e uma poderosa fonte ambiental de continuidade. Como escreveu a
antropóloga Leslie White (1949, p. 372), só entre os humanos o mundo das idéias passa
"a ter uma continuidade e uma permanência que o mundo externo dos sentidos nunca
pode ter. Ele não é feito apenas do presente, mas também de um passado e de um
futuro".
Assim como os bebês chegam ao parto com um conjunto de capacidades geneticamente
construídas para aprender e agir no mundo, os pais chegam a esse momento com suas
próprias tendências para reagir de algumas maneiras que eles desenvolveram através de
sua experiência, como membros da sua cultura. O relacionamento entre a criança e os
pais, que começa no nascimento, é uma parte essencial da base em que se edifica o
desenvolvimento futuro.

FIGURA 3.20
Esboços lado a lado das cabeças de bebês e adultos de quatro espécies deixam claro as
características distintivas do babyness. (Extraído de Lorenz, 1943). [Figuras da cabeça
de bebês de adultos de várias espécies: humano, coelho, cão e pássaro.]
DESTAQUE 3.3 O MITO VÍNCULO
Popularmente se acredita que os contatos iniciais entre os recém-nascidos humanos e
seus pais, particularmente suas mães, produzem um vínculo especial que tem um
profundo efeito sobre seu futuro relacionamento com seus pais. [As histórias
estimulando os pais a "descobrir a mágica e o mistério do vínculo com seu bebê" são
um material comum nas estantes de revistas das livrarias (Baker, 1993)]. Apesar da sua
popularidade, essa crença não é sustentada pela evidência científica contemporânea.
As origens do mito do vínculo podem ser encontradas em pesquisas realizadas com
animais não-humanos há várias décadas. Por exemplo, se um bebê ganso é afastado da
sua mãe imediatamente após o nascimento e trazido de volta a ela, digamos, duas horas
mais tarde, a mãe irá atacá-lo. Mas se for permitido ao bebê ganso permanecer com sua
mãe por pelo menos cinco minutos após seu nascimento, antes de ele ser afastado dela
por algumas horas, a mãe vai recebê-lo bem em seu retorno (Klopfer et al., 1964). Peter
Klopfer e sua equipe interpretaram esse fenômeno como evidência de um período
sensível, durante o qual a mãe e o bebê imprimiram uma marca um no outro.
Não muito depois que Klopfer e sua equipe relataram esses resultados, Marshall Klaus,
John Kennell e seus colaboradores começaram a pesquisar mães cujos bebês prematuros
foram mantidos em incubadoras. Até os bebês estarem maduros o bastante para serem
segurados, as mães tinham pouco contato com eles. Algumas dessas mães pareciam
perder o interesse por seus bebês, e os pesquisadores acharam que esses bebês poderiam
correr um grande risco de sofrer abuso quando saíssem do hospital. Eles especularam
(Klaus et al., 1970) que o período sensível inicial para o vínculo mãe-bebê entre os
gansos tinha seu paralelo em um período sensível similar para o vínculo das mães
humanas com seus bebês.
Em seguida, em um estudo amplamente divulgado, os mesmos pesquisadores dividiram
as 28 mães primíparas em um grupo experimental e um grupo-controle. As mães do
grupo-controle tinham a quantidade de contato com seus bebês recém-nascidos
tradicional nos hospitais do final da década de 1960: uma rápida visão do bebê logo
após seu nascimento, um breve contato com o bebê entre 6 e 12 horas mais tarde, e
depois visitas de 20 a 30 minutos para amamentação a cada 4 horas. Entre esses
períodos, o bebê permanecia no berçário. As mães do grupo experimental, no entanto,
receberam seus bebês para segurar durante uma hora dentro das três primeiras horas
após o parto. Os bebês estavam despidos, de forma que as mães puderam ter um contato
pele-com-pele com eles. Além disso, a mãe e o filho passavam cinco horas juntos toda
tarde durante os três dias após o parto. Muitas das mães relataram que, embora já
estivessem motivadas por poder acariciar seus bebês imediatamente após o parto, sua
motivação aumentou muito quando elas conseguiram estabelecer um contato direto
olho-no-olho com eles.
Quando as mães e os bebês de ambos os grupos voltaram ao hospital, um mês depois, as
mães do grupo experimental ficaram mais relutantes em deixar seus bebês com outros
cuidadores. Também pareceram mais interessadas no exame dos seus bebês, eram mais
adequadas na maneira de acalmá-los e pareciam olhar mais vezes para seus bebês e
acariciá-los mais do que as mães do grupo-controle. Onze meses depois, as mães com
contato ampliado pareciam ainda mais atentas aos seus bebês e mais receptivas a seus
choros do que as mães do grupo-controle (Kennell et ai., 1974).
Traçando uma analogia com o comportamento animal, Klaus e Kennell (1976)
sugeriram que se fosse permitido à mãe e ao filho ficar em contato físico próximo logo
após o parto, "interações complexas estabelecidas entre mãe e bebê ajudariam a uni-los"
(p. 51). Os pesquisadores especularam que os hormônios gerados pelo corpo da mãe
durante o processo do nascimento podem torná-la mais pronta para estabelecer um
vínculo emocional com seu bebê. Se esses hormônios se dissipam antes de a mãe ter
qualquer contado mais chegado com seu recém-nascido, provavelmente ela será menos
receptiva a ele (Kennell et ai., 1979).
A publicação desses achados coincidiu com um amplo movimento popular para
reformar as práticas de parto dos hospitais, para permitir a mães e pais um contato
prolongado com seus bebês recém-nascidos. Pediatras, enfermeiras e pais que apóiam
essas reformas encontraram no trabalho de Klaus e Kennell uma forte base para as
mudanças que queriam realizar. No entanto, a pesquisa também provocou muitas
críticas negativas (Eyer, 1992). Em primeiro lugar, foi observado que os grupos
experimental e controle do estudo de Klaus e Kennell eram muito pequenos e não-
representativos da população em geral (havia apenas 14 mulheres em cada grupo, todas
elas afro-americanas, de condição socioeconômica baixa). Além disso, as mães do
grupo experimental, provavelmente, estavam conscientes do tratamento especial que
receberam, criando a desconfiança de que essa consciência, mais do que o contato
ampliado com seus bebês, era a fonte do seu comportamento. Nos anos posteriores à
condução desse estudo, outros pesquisadores falharam em descobrir quaisquer
diferenças duradouras e significativas entre os relacionamentos mãe e filho dos grupos
experimental e controle (Eyer, 1992).
A maior parte dos pesquisadores concorda hoje que, embora o contato imediato entre a
mãe e o recém-nascido seja útil para conseguir que o processo de desenvolvimento
tenha um bom começo, ele não é essencial para o estabelecimento de um
relacionamento emocional prolongado e positivo. A maior parte das mães que é
anestesiada durante o parto ou sofre complicações, e por isso não vêem seus bebês
durante várias horas ou até durante dias após seu nascimento, não os rejeitam; nem
aquelas mães cujos bebês devem ser mantidos em incubadoras ou os pais que não estão
presentes na ocasião do parto de seus filhos. Em suma, a grande maioria das mães e pais
formam ligações com seus bebês com o correr do tempo e em todos os tipos de
circunstâncias.
DESTAQUE 3.4
A REAÇÃO DOS PAIS À CHEGADA DO BEBÊ
Aidan Macfarlane, pediatra inglês, registrou a seguinte conversa em uma sala de parto,
quando a Sra. B, de 27 anos, deu à luz a seu primeiro filho. A preocupação que ela
revela sobre a saúde física do bebê é mais ou menos universal, como também o é o
poder do sistema de crenças da cultura para moldar as reações iniciais dos pais diante do
seu filho recém-nascido.
Médico: Vamos, rapaz. Só uma dama poderia causar tanto transtorno. Vamos, pequeno.
(Nasce o bebê)
Mãe: Uma menina.
Médico: Bem, ela tem "a torneirinha certa".
Pai: (ri)
Médico: Qual é o problema?
Mãe: Ele queria um menino.
Médico: Bom, vocês vão ter que tentar de novo a semana que vem.
Mãe: (ri)
Médico: Ela parece ótima. Você quer vê-la? Tem sangue e sujeira, mas não são dela.
Mãe: Oh, ela é maravilhosa.
Pai: Parece com você.
(A mãe beija o pai)
Mãe: Ela está bem?
Médico: Por que não pergunta a ela? Ela é absolutamente capaz de lhe transmitir como
ela se sente sobre a situação.
Mãe: Ela é barulhenta, não é?
Médico: É, como a geração moderna.
Pai: É.
Mãe: Bem, Dr. Murphy, eu estava certa. Tinha uma sensação secreta de que seria uma
menina, só porque eu queria um menino.
Pai: Bem, ela vai agradar sua mãe, não vai?
Mãe: (ri)
Médico: Em geral, taticamente é melhor ter uma menina primeiro - ela pode ajudar a
lavar a louça.
( O bebê é entregue à mãe)
Mãe: Alô, querida. Conheça seu pai. Você é igualzinha ao seu pai.
(O bebê berra)
Pai: Eu vou embora.
Mãe: Oh, você cale a boca. (ri) Oh, querido, ela é igualzinha a você - ela tem o seu
narizinho minúsculo.
Pai: Vai ficar grande como o seu.
Mãe: Ela é grande, não é? O que o senhor acha?
Médico: Ela é muito bonitinha, apesar de o fórceps ter marcado a sua cabeça... mas não
se preocupe com isso. Ela vai ter pequenos machucados em volta das orelhas... bem,
eles em geral têm. Não sei se ela vai ter.
Mãe: Ali tem uma - ali ... Oh, veja, ela tem cabelo. É uma menina... você devia ser toda
pequena.
Médico: Quanto você acha que ela pesa, Richard? Eu acho que cerca de 3.400 g.
Mãe: Oh, ela é maravilhosa, ela é linda. Ela tem olhos azuis. Segure ela. Vamos.
Pai: Não.
Mãe: Por que não? (ri) Você está todo tremendo, não é?
Médico: Eu deixei cair o primeiro que eu segurei.
Pai: Que maravilha!
Mãe: Oh, olhe só. Oh, meu Deus. Oi, querida. Que bons pulmões, hein? Ela tem uma
covinha. De onde será que ela tirou essa covinha?
Médico: Provavelmente do fórceps. Você tem covinhas?
Mãe: Oh, não. Nenhum de nós dois. Oh, você é adorável. Olha... ela é uma gracinha.
Pensei que ela fosse ser toda roxinha e enrugada.
Médico: Oh, ela está ótima.
Mãe: E, eu estava esperando que ela fosse nascer toda roxinha e murchinha, mas ela não
é, não é mesmo?
Médico: Não, de jeito nenhum. Diante das câmeras, ela é uma verdadeira dama.
Mãe: Oh, querido. Você tirou uma foto, meu bem?
Médico: Mamãe, posso lhe pedir para deixar seus tornozelos separados?
Mãe: Ela não gosta muito disso.
(A enfermeira prende uma pulseira de identificação no bebê)
Pai: Parece a Ferrovia Britânica, rotulando ela como um pacote.
Mãe: Oh, querido, veja o tamanho dos pezinhos dela. Ela não tem unhas.
Pai: O que você quer dizer? Ela não tem nenhuma unha?!
Mãe: Ela ainda não tem unhas. Elas são macias.
Pai: Eu não acredito que você gostaria que ela estivesse arranhando tudo por aí.
Mãe: Olhe - fabuloso. Você não está contente com ela?
Pai: É claro que estou.
Médico: Eu não vou colocá-la de volta.
Mãe: Você disse que se fosse uma menina, podia voltar para onde veio.
Médico: De volta aos fabricantes, então.
Mãe: Bem, ela veio dele em primeiro lugar.
Médico: Foi o espermatozóide dele que determinou o sexo.
Mãe: Jóia. (Beija o bebê e ri)
Pai: Eu vou morrer de preocupação quando ela tiver 18 anos.
Mãe: Você está imaginando ela saindo com todo tipo de caras como você era. (ri) De
alguma maneira estranha, eu estava mesmo atrás do dinheiro dele.
Médico: É mesmo?
Mãe: Os dois são bobos. Vá, vá com o papai.
(Macfarlane, 1977, p. 61-67)
O Sr. e a Sra. B não são os únicos pais que descobrem rapidamente que precisam mudar
seus planos e tirar proveito do fato de terem tido uma filha em vez de um filho. Nos
Estados Unidos, essa é uma ocorrência bastante comum, apesar de estarem mudando as
atitudes em relação aos papéis dos sexos. As pesquisas realizadas nos Estados Unidos
indicam que a maior parte das pessoas quer que seu primeiro filho seja um menino, e se
tiverem de ter só um filho, preferem que seja um menino (Frenkiel, 1993). Apesar das
suas esperanças e expectativas iniciais, a maior parte dos pais finalmente aceita o sexo
de seu bebê recém-nascido.
RESUMO
PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
- Muitos teóricos do desenvolvimento encaram o período pré-natal como um modelo
para todos os períodos de desenvolvimento, desde a concepção até a morte.
- O desenvolvimento pré-natal é freqüentemente dividido em três períodos amplos:
1. O período germinal, em que o zigoto entra no útero e fica implantado ali.
2. O período embrionário, que começa com a implantação e termina com os primeiros
sinais de ossificação, no final da oitava semana. Durante esse período, são formados os
órgãos básicos.
3. O período fetal, durante o qual o cérebro cresce bastante e os sistemas orgânicos
separados tornam-se integrados.
À medida que o organismo cresce de uma célula única até um recém-nascido de termo,
novas formas constantemente emergem. Segundo a hipótese epigenética, as interações
entre as células e seu ambiente geram as novas formas.
- Na implantação, o organismo torna-se diretamente dependente do corpo da mãe para a
sua sobrevivência.
- O embrião torna-se ativo com as primeiras pulsações de um coração primitivo, que se
iniciam cerca de um mês após a concepção.
O ORGANISMO EM DESENVOLVIMENTO NO AMBIENTE PRÉ-NATAL
- O feto está sujeito a influências ambientais originadas tanto externa quanto
internamente à mãe. O feto, às vezes, experimenta influências externas diretamente
através dos seus mecanismos sensoriais mas, em geral, essas influências atuam
indiretamente, através dos seus efeitos na mãe.
- As reações dos bebês aos eventos que experimentam pela primeira vez no útero da
mãe parecem indicar que os fetos são capazes de aprender.

140
- As reações da mãe ao seu ambiente - suas sensações e atitudes - estão associadas ao
bem-estar do feto. As crianças nascidas de mães que não as querem ou que estão sob
estresse estão sujeitas a um risco desenvolvimental.
- A condição nutricional da mãe é um fator importante no desenvolvimento fetal. A má-
nutrição extrema da mãe tem um efeito devastador sobre sua capacidade para produzir
um filho normal. Graus menores de má-nutrição associados a outras formas de privação
ambiental também aumentam os riscos de desenvolvimento fetal e pós-natal.
- Os teratogênicos (agentes ambientais que podem causar desvios do desenvolvimento
fetal normal) assumem muitas formas. Drogas, infecções, radiação e poluição
constituem ameaças ao organismo em desenvolvimento. Vários princípios básicos
aplicam-se aos efeitos dos teratogênicos:
1. A susceptibilidade do organismo depende do estágio do seu desenvolvimento.
2. Há a probabilidade dos efeitos de um teratogênico serem específicos a um
determinado órgão.
3. Os organismos individuais variam na sua suscetibilidade aos teratogênicos.
4. O estado fisiológico da mãe influencia o impacto de um teratogênico.
5. Quanto maior a concentração de um agente teratogênico, maior o risco.
6. Os teratogênicos que afetam adversamente o organismo em desenvolvimento podem
afetar pouco ou nada a mãe.
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL RECONSIDERADO
- Vários princípios básicos de desenvolvimento são observados no período pré-natal:
1. A seqüência é fundamental.
2. O momento certo é importante.
3. O desenvolvimento consiste de diferenciação e integração.
4. O desenvolvimento é caracterizado por mudanças que ocorrem através de estágios.
5. O desenvolvimento ocorre irregularmente.
6. O curso do desenvolvimento parece ser pontuado por períodos de regressão.
NASCIMENTO: A PRIMEIRA ALTERAÇÃO BIOSSOCIOCOMPORTAMENTAL
- O nascimento é a primeira alteração biossociocomportamental no desenvolvimento
humano.
- O processo do nascimento tem início aproximadamente 266 dias após a concepção,
quando mudanças no corpo da mãe forçam o feto através do canal do nascimento.
- O trabalho de parto se processa através de três etapas. Começa com as primeiras
contrações regulares e intensas do útero e termina quando o bebê nasce, quando o
cordão umbilical é cortado e as secundinas são expelidas. Embora o processo biológico
do trabalho de parto seja mais ou menos o mesmo em toda parte, há variações culturais
marcantes na organização do parto.
- As drogas dadas à mãe para reduzir a dor podem ter efeitos negativos sobre o bebê.
AS CONDIÇÕES DO RECÉM-NASCIDO
- O estado físico do bebê no nascimento é em geral avaliado pela Escala de Apgar, que
mede a freqüência respiratória, o esforço respiratório, a reação reflexa, o tônus muscular
e a cor do bebê. Os bebês com pontuações de Apgar baixas requerem atenção médica
imediata para sobreviver.
- As escalas têm sido desenvolvidas para avaliar a capacidade comportamental do
recém-nascido. Essas escalas são satisfatórias para identificar os bebês

141
que requerem intervenção médica, mas parecem, no máximo, relativamente úteis para
prever padrões futuros de desenvolvimento.
- Muitos bebês prematuros que são de tamanho normal para sua idade gestacional
podem alcançar os bebês de termo se forem bem cuidados. Aqueles que têm baixo peso
e cabeças pequenas correm um risco especial de experimentar problemas
desenvolvimentais a longo prazo.
INÍCIO DO RELACIONAMENTO PAIS-FILHO
- A aparência de um recém-nascido desempenha um papel importante nas reações dos
pais a ele.
- As expectativas dos pais, padronizadas pelo sistema de crenças da cultura,
influenciam o ambiente da criança de maneira a moldar o desenvolvimento da criança e
a promover a continuação de traços culturais de uma geração para outra.

PALAVRAS-CHAVE
âmnio, p. 104
baixo peso ao nascer, p. 133
blastocisto, p. 103
cordão umbilical, p. 104
córion, p. 104
ectoderme, p. 105
endoderme, p. 105
epigênese, p. 103
Escala de Apgar, p. 131
Escala de Avaliação Neonatal de Brazelton, p. 131
heterocronia, p. 102
heterogeneidade, p. 102
idade gestacional, p. 132
implantação, p. 104
massa celular interna, p. 103
mesoderme, p. 105
mórula, p. 102
padrão cefalocaudal, p. 105
padrão proximodistal, p. 106
período fetal, p. 101
período embrionário, p. 101
período germinal, p. 101
placenta, p. 104
prematuro ou pré-termo, p. 132
retardamento do crescimento fetal, p. 134
segmentação, p. 102
síndrome alcoólica fetal, p. 118
teratogênicos, p. 115
trofoblasto, p. 103
zona pelúcida, p. 101

QUESTÕES PARA PENSAR


1. Dê exemplos de mudanças quantitativas e qualitativas que ocorrem durante o
desenvolvimento pré-natal. Quais são as importantes diferenças entre os dois tipos de
mudanças?
2. O que torna as transições de um estágio do desenvolvimento pré-natal para o
seguinte arriscadas para o organismo?
3. Qual é o papel da atividade no desenvolvimento fetal?
4. Dê uma olhada no capítulo e relacione quantos exemplos conseguir dos momentos
em que o ambiente desempenha um papel importante no desenvolvimento pré-natal.
Você acha que o papel do ambiente muda depois do nascimento? Como?
5. Os pais têm expectativas bem formadas sobre os comportamentos futuros dos seus
bebês recém-nascidos. Como essas expectativas moldam o desenvolvimento da criança?

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