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A Regulação do
Agente de Seguros no
Direito Brasileiro e
sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de
Seguros no País e no
Direito Comparado
Resumo
Introdução
Contextualização do Tema
No Brasil, seguros podem ser comercializados sob duas formas: (a) diretamente
pelas seguradoras junto a segurados; ou (b) por intermédio de corretores de seguros
habilitados. Os corretores de seguros respondem pela avassaladora maioria dos
seguros contratados no mercado nacional, justificando a assertiva de Menezes Cordeiro
em relação aos seguros em geral:
“Eu garanto que, no que depender de mim e dos sindicatos, a regulação dos
agentes de seguros não vai acontecer.” 1
Foi com essas palavras incisivas que o Sr. Armando Vergílio, Deputado Federal,
corretor de seguros, ex-superintendente da SUSEP e atual presidente da Federação
Nacional dos Corretores de Seguros e de Capitalização – Fenacor, criticou a iniciativa
da autarquia de disciplinar o papel do agente de seguros.
Instadas a se pronunciar sobre o tema, algumas seguradoras manifestaram
publicamente apoio aos corretores de seguros, de quem dependem para a colocação de
seus produtos junto a segurados2.
Apesar da resistência de corretores de seguros, em 28 de outubro de 2013 foi
publicada a Resolução CNSP nº 297/2013. A resolução disciplinou as operações dos
1
Pronunciamento proferido durante a 2ª Ecoseg (Encontro Catarinense de Corretores de Seguros) e reproduzido em
matéria de 31/07/2013, intitulada “Vergílio garante que agente de seguros não será regulamentado”, podendo ser consultada
em vários veículos especializados, entre eles o sítio eletrônico do Centro de Qualificação do Corretor de Seguros – CQCS.
Disponível em: <http://www.cqcs.com.br/noticia/vergilio-garante-que-agente-de-seguros-nao-sera-regulamentado/>.
Acesso em: 25 dez.2013.
2
Em matéria intitulada “O que as seguradoras pensam sobre os Agentes de Seguros”, Irani Nogueira reproduz declaração
do Diretor regional da Marítima Seguros: “Nós, da Marítima e da Yasuda, temos os corretores como nosso canal único
de distribuição. Respeitamos as demais seguradoras que acreditam na regulação do agente, mas nós entendemos que o
corretor de seguros é a melhor opção”. Disponível em: <http://www.cqcs.com.br/noticia/seguradoras-o-que-pensam-
sobre-os-agentes-de-seguros/>. Acesso em: 21 jan.2014.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 35
Objetivos
O propósito deste trabalho monográfico não é passar em revista a Resolução
CNSP nº 297/2013, mas examinar, trazer novas luzes e desmistificar certos precon-
ceitos verificados na indústria brasileira do seguro a respeito da atividade do agente de
seguros, além de investigar o agenciamento de seguros por corretores e discorrer sobre
suas implicações.
Problema
O agente de seguros é hoje visto por várias lideranças da classe dos corretores
de seguros como uma ameaça à categoria, um rival estranho ao mercado pátrio e, acima
de tudo, desnecessário e prejudicial ao consumidor-segurado.
Mas será mesmo que o agente de seguros merece todos esses rótulos? Será que
a formalização da atividade do agente de seguros tenderá a representar um retrocesso?
36 • Em Debate
Hipóteses
O corretor de seguros é um ator sui generis da economia. Externamente, ele
costuma ser reconhecido como alguém que atua ao lado do segurado, possuindo deveres
que antecedem, perpassam e sucedem a contratação do seguro. É essa a percepção
generalizada dos segurados e que os próprios corretores costumam convenientemente
cultivar, sendo ainda, sem dúvida, a função mais saliente da atividade do corretor de
seguros que se extrai da legislação.
Contudo, o corretor de seguros é um sujeito mais complexo e multifacetado.
Por exemplo, é da seguradora, e não do cliente mais aparente, que parte a remuneração
destinada ao corretor, a comissão de corretagem.
Além disso, o corretor é geralmente utilizado como canal de distribuição dos
produtos das seguradoras – normalmente o principal canal de distribuição de determinadas
linhas de seguros mais complexos. Instaura-se assim, entre ele e seguradoras, uma relação
híbrida, que passa de forma invisível aos olhos da imensa maioria dos segurados.
Quer nos parecer que essas funções não podem ser acumuladas pelo corretor
de seguros sem que surjam, ao menos em tese, riscos de conflitos éticos e, ao menos a
partir do advento do Código Civil, também jurídicos e de difícil superação. A hipótese
que aventamos neste trabalho é, pois, que, quando o corretor se apresenta externamente
como representante do segurado, sua atuação torna-se incompatível com a de fomentador
de seguros de seguradoras. Isso porque, ao fomentar produtos das seguradoras, ele estará
atuando, a rigor, como genuíno agente desta, e não mais como corretor.
Nossas impressões preliminares, sujeitas ao crivo da pesquisa a ser desenvolvida,
sugerem que (i) a ausência de regulamentação específica sobre o agente de seguros por
tanto tempo é uma das razões para que a distorção criada no obscuro agenciamento de
seguros por corretores se perpetuasse e, com efeito, se tornasse de difícil enfrentamento;
e (ii) a regulamentação do agente de seguros contribuirá para um maior desenvolvimento
do mercado de seguros, com a expansão das possibilidades de sua distribuição, e, ainda,
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 37
Delimitação da Pesquisa
O presente estudo se propõe a examinar o papel do agente de seguros na história
da indústria de seguros brasileira e os possíveis efeitos de sua regulamentação por parte
da SUSEP. Para tanto, investigaremos as funções que esse profissional exerce em alguns
dos mercados securitários mais maduros do mundo, como o inglês e o norte-americano,
onde agentes e corretores coexistem, sendo comumente identificados como “produtores”
(em inglês: producers) de seguros. Para uma investigação mais abrangente, ainda exami-
naremos o tratamento conferido aos intermediários (ou mediadores) de seguros na União
Europeia e em Portugal.
Analisaremos também as atividades de agenciamento de seguros desenvolvidas
e muito disseminadas no Brasil, embora sem alarde e de forma quase disfarçada, por
corretores de seguros e por outras entidades anômalas, como as chamadas “plataformas”,
vale dizer, corretores que organizam a atuação, fazendo a ponte – isto é, a intermediação
– de outros corretores, e os corretores de seguros usualmente denominados de “cativos”,
que são aqueles declarados pelas seguradoras como corretores das operações, mas que
muitas vezes sequer tiveram qualquer contato com os segurados ou participaram da inter-
mediação. A racionalidade econômica da utilização dos corretores cativos está ligada ao
fato de que eles possuem um acerto de comissão de corretagem com seguradoras menos
dispendioso para estas do que os custos associados à contratação direta pelo segurado,
quando surge para a seguradora o dever de recolher a parcela de comissão de corretagem,
a valores de mercado, aos cofres da FUNENSEG.
Relevância do Estudo
Espera-se que o presente estudo ofereça subsídios e contribuições para o aceso
debate que se instalou entre corretores e também seguradoras, a propósito da utilização
no Brasil dos agentes de seguros como um canal de distribuição de produtos de seguros,
sua valia e seus potenciais efeitos. Em especial, o surgimento dos agentes pode despontar
como uma alternativa muito útil e mais barata do que a abertura de filiais para que
seguradoras possam cobrir o território nacional de forma mais abrangente, colaborando
para a expansão e maior penetração do seguro na sociedade brasileira em geral, fora
dos grandes centros urbanos.
38 • Em Debate
3
“1ª Esta Companhia será denominada Boa Fé. Principiará logo que tiver a approvação de Sua Alteza Real.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 39
Comercial era compreendido sob uma acepção ampla, mais ligada à atividade de venda
de bens do que propriamente à comercialização de seguros marítimos4 5.
A regulação do seguro marítimo foi seguida pelo aporte no Brasil de diversas
seguradoras estrangeiras. O aumento na competição provocou uma mudança na forma
tradicional e algo tímida de comercialização de seguros ditada pelos administradores ou
caixas das seguradoras. Com o propósito de incrementar as vendas de seguros, diversas
seguradoras passaram a contar com colaboradores – os angariadores de seguros.6
Conforme destaca Silva,
4
Vide, e.g., o art. 53, que dispunha que “[o]s corretores são obrigados a assistir à entrega das coisas vendidas por sua
intervenção, se alguma das partes o exigir; sob pena de uma multa correspondente a 5% (cinco por cento) da fiança, e de
responderem por perdas e danos.”
5
Essa acepção de corretor do Código Comercial se assemelha muito mais à do corretor geral sujeito do contrato de
corretagem regulado entre os arts. 722 e 729 do Código Civil de 2002, diverso do – e, por isso, atualmente de aplicação
apenas subsidiária ao – corretor de seguros.
6
Nesse sentido, SILVA, Rita de Cássia da Costa, ob. cit., p. 16.
7
Idem, ibidem.
40 • Em Debate
8
Uma categoria rumando para autonomização, embora não fosse nem um pouco homogênea. Silva (2007, p. 17) registra
artigo publicado na Revista de Seguro clamando pela atenção de seguradoras e providências para “[...[regulamentando a
profissão de – agente – ou melhor – corretor de seguros –, moralizar uma classe que infelizmente, em virtude do pouco
ou quase nenhum interesse que tem despertado aos nossos Seguradores, é constituída, hoje, por elementos assaz hectero-
genios!” (“É imprescindível uma medida por parte das companhias de seguros”, Revista de Seguros, ano I, nº IV, p. 70,
outubro de 1920).
9
“Em resumo, o que os Corretores buscavam era um ‘Regulamento do Corretor’, ao passo que as Companhias enten-
diam ser de ‘Angariadores de Seguros’, mediante Convenção de Trabalho. O Fiscal Sindical esclarece que Convenção
só é aplicável a ajuste relativo a condições de trabalho entre um ou vários empregadores e seus empregados, ou entre um
Sindicato e outro Sindicato.”
42 • Em Debate
Como se vê, o agente foi cedendo lugar aos corretores, e não tardou muito até
que o Governo Federal reconhecesse, na década de 30, a legitimidade do Sindicato dos
Corretores. Isso permitiu a expedição de carteiras profissionais específicas e arrefeceu
por algum tempo o ímpeto da categoria por um projeto de regulamentação da profissão
dos corretores.
Sobreveio, em 1940, o Decreto-Lei nº 2.063 reformando o arcabouço legal
de seguros no Brasil. Conquanto o decreto-lei não tenha regulamentado a profissão do
corretor de seguros, ele representou um avanço para a classe, ao consagrar a possibilidade
de intermediação do contrato de seguro por um de corretor, com comissão pagável pela
respectiva seguradora. Vejamos:
Art. 84. A aquisição de qualquer seguro não poderá ser feita senão mediante
proposta assinada pelo interessado ou seu representante legal, ou por corretor
devidamente habilitado.
10
Publicada em 05 de janeiro de 1965.
11
Gustavo Haical, em dissertação de mestrado dedicada ao tema do contrato de agência, após analisar a Lei nº 4.594/64,
chega a sustentar que “[a]inda que a Lei 4.594/1964 tenha o nome de ‘Lei do Corretor de Seguros’, em verdade está
a regular o contrato de agência de seguros.” (O Contrato de Agência: seus elementos tipificadores e efeitos jurídicos.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 86, nota 49).
44 • Em Debate
Não conta mais com o parágrafo único. Com a edição do Decreto-lei nº 73/66,
já havia sido revogado, pois o art. 124 estabelece que a comissão somente pode
ser paga a corretores habilitados.
(TZIRULNIK; PIZA, 1996)
12
Disponível em: <http://www.ibds.com.br/artigos/ComercializacaodeSegurosContratacaoDiretaeIntermediacao.pdf>.
Acesso em 12 jan. 2014.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 45
Agentes genuínos, como se verifica, eram raridades. Essa constatação não chega
a surpreender, pois é nítido que a política da época, a qual somente admitia um agente
emissor por unidade da federação e, mesmo assim, condicionado à ausência da segura-
dora naquela área, remava contra a difusão e expansão desses sujeitos. Sua atuação era,
portanto, meramente residual.
O virtual desaparecimento do agente de seguros foi corroborado, então,
com o advento do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, notadamente o
principal estatuto brasileiro ainda vigente no que tange à estruturação do Sistema
Nacional de Seguros Privados e seus componentes. O art. 8º do aludido decreto-lei
contempla os corretores de seguros habilitados, mas ignora a existência de agentes
de seguros autônomos:
Art. 8º. Fica instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados, regulado pelo
presente Decreto-lei e constituído:
a) do Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP;
b) da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP;
c) dos resseguradores; (Redação dada pela Lei Complementar nº 126, de 2007)13
d) das Sociedades autorizadas a operar em seguros privados;
e) dos corretores habilitados
(BRASIL, 1966)
13
A alínea “c” referia-se, originalmente, ao Instituto de Resseguros do Brasil – IRB, vindo a ser revogada com a pro-
mulgação, em 2007, da Lei Complementar nº 126, que promoveu a abertura do mercado brasileiro de resseguro, abrindo
caminho para a recente privatização do IRB.
46 • Em Debate
Nos anos 60, corretores em sua imensa maioria trabalhavam como agentes
gerais de seguradoras, limitando seu relacionamento a uma única companhia
da qual dependiam. Independente da forma pela qual eram chamados ou do
tipo de vínculo que tinham com seguradoras, tinham como característica o
fato de venderem diretamente os produtos e de se relacionarem apenas com
aquela empresa. No início, o modelo funcionou bastante bem para ambos.
O corretor tinha o monopólio de uma certa área ou pública e a seguradora tinha
sua preferência.
[...]
Começa a se delinear o modelo atual. Corretores vinculados ou inspetores de
produção ou agentes gerais começam a dividir sua produção inicialmente entre
duas empresas, depois colocam mais um pouco em uma terceira e ao diluir sua
produção entre muitas terminam perdendo o atendimento especial que antes
tinham. Passam, no entanto, a ter a alternativa de comparar preços, qualidade
e atendimento.
(BIERRENBACH, 2001, p. 146)
14
Uma rara exceção ao corretor de seguros é admitida pelo art. 30 da Lei n° 4.594/64. Nos municípios onde não houver
corretor de seguros habilitado, é aceita a contratação de seguros pela intermediação de qualquer cidadão.
15
A dicção do art. 122 é reproduzida quase ipsis literis no art. 100 do Decreto nº 60.459, de 1967, que regulamenta o
Decreto-Lei n° 73/66.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 47
O agente emissor ainda sobreviveu, ao menos no plano teórico, por mais algum
tempo. Mesmo com a extinção do DNSPC a partir de 196716, a Portaria nº 28/66 perma-
neceu em vigor, vindo a sofrer sucessivas modificações pontuais ditadas pela SUSEP,
por meio das circulares nº 31/73, 47/73, 46/76.
Em julho de 1978, foi editada a Resolução CNPS nº 19, que, entre outras
questões, aprovou normas regulamentadoras da criação, instalação, funcionamento e
encerramento de Agentes Gerais Emissores17 18. Porém, a SUSEP praticamente repetiu
a fórmula restritiva anterior e que travava a disseminação dos agentes, condenando-os
ao ostracismo:
Em suma, o agente de seguros passou a existir como uma figura reconhecida apenas
em normas inferiores do ordenamento e sem qualquer expressão no mundo exterior.
O corretor passou a deter o monopólio de fato da intermediação de seguros
contemplado pelo ordenamento, sem prejuízo da contratação direta de seguro pelo
segurado junto à companhia seguradora. Com o crescimento orgânico e expansão
das seguradoras no território brasileiro, principalmente por meio de estabelecimentos
próprios (filiais e sucursais), o agente de seguros, seja como profissional autônomo ou
16
O Decreto-Lei nº 168, de 14 de fevereiro de 1967, retificou algumas disposições do Decreto-Lei nº 63/66, no que tange
a aspectos administrativos da SUSEP. Dentre os dispositivos alterados está o art. 136, que extinguiu o DNSPC.
17
2.2 Agente Geral Emissor: pessoa física ou jurídica a quem foram outorgados os poderes previstos nas alíneas “a” a
“f” do item 10 desta Resolução, observadas as restrições constantes dos subitem 3.1 e 3.2.
18
10. Nas Sucursais e Agentes Gerais Emissores haverá, pelo menos, um responsável ao qual serão especificamente
conferidos os seguintes poderes, entre outros que lhe forem inerentes:
a) aceitar ou recusar propostas de seguros dos ramos ou modalidades em que a Sociedade Seguradora estiver autorizada
a operar;
b) emitir apólices, bilhetes, aditivos, averbações, endossos, faturas, contas mensais e outros documentos relativos a
contratos de seguros;
c) receber e resolver reclamações e acordar a respeito;
d) efetuar o pagamento de indenizações e de capitais garantidos;
e) receber primeiras citações e representar a Sociedade, ativa e passivamente, em Juízo, no tocante às operações efetuadas
na respectiva jurisdição;
f) representar a Sociedade Seguradora perante as entidades fiscalizadoras de suas atividades e junto ao IRB.
48 • Em Debate
19
Conforme anota Cordeiro, em relação ao mediador de seguros, “[o] BGH alemão foi sensível a este estado de coisas
tendo, em 1985, declarado o mediador dos seguros como um gestor fiduciário do tomador do seguro” (ob.cit., p. 394).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 49
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual
e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra,
mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada,
caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa
a ser negociada.
(BRASIL, 2002)
Em termos simples, o agente (ou agenciador) é aquele que assume, em caráter não
eventual, e sem ser empregado, a obrigação de promover, à conta do agenciado, mediante
comissão, a realização de negócios empresariais em um território determinado.
Essa defi nição se assemelha à defi nição de representante comercial, já há
tempos conhecida e em vigor em nosso Direito, a ponto de diversos doutrinadores
simplesmente concluírem que representação comercial e agência são um só e idên-
tico contrato. O art. 1º da Lei nº 4.886/65, conhecida como a “Lei do Representante
Comercial”, estipula que:
20
“A Lei nº 4.886 não oferece nenhuma distinção entre as figuras do representante comercial e do agente comercial.
Ao invés, confunde-as, fazendo uma sinônima da outra. É significativo que, na definição legal do representante comercial o
artigo 1º use o verbo agenciar (‘agenciando propostas ou pedidos’). Ora, quem agencia é, na linguagem comum, um agente
ou agenciador.” (REQUIÃO, Rubens. Do Representante Comercial: Comentários à Lei nº 4.886, de 9 de dezembro de
1965, à Lei nº 8.420, de 8 de maio de 1992, e ao Código Civil de 2002. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 47-48).
50 • Em Debate
21
Arnaldo Rizzardo, em prefácio à obra de autoria de Gustavo Haical, “O Contrato de Agência: seus elementos tipifica-
dores e efeitos jurídicos”, São Paulo, editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 11.
22
A doutrina não é uniforme quanto ao tema. Pontes de Miranda, por exemplo, encabeça a lista dos que diferenciam os
tipos contratuais. Vide MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado, vol. XLIV, p. 24, 32 e 66, apud REQUIÃO
(2012, p. 48-49).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 51
de seguros no Brasil, a proposta foi levantar alguns pontos mal resolvidos até
mesmo pela lei, que tornam sua atuação nebulosa, podendo denegrir ou dimi-
nuir a importância de profissionais competentes, em função das incoerências e
da falta de transparência que hoje cercam a profissão.
Será que não é hora de repensar a figura do corretor de seguros para definir
claramente quem é o corretor, quem é o agente e quem é o vendedor de seguros
funcionário de uma seguradora?
(MENDONÇA, 2008, p. 112-113)
Abordaremos esses problemas nos capítulos que se seguem, mas não sem
antes realizar um breve voo sobre o regime dos corretores e dos agentes de seguros
no Direito Comparado.
Ou seja, um agente é uma pessoa investida de poderes jurídicos para modificar a relação
jurídica do principal23 com terceiros.
Agência, em sentido jurídico, tem recebido várias conceituações, umas mais
abrangentes e outras mais restritas. Um conceito geralmente prestigiado em doutrina é
o que define a relação de agência como:
A relação existente entre duas pessoas, onde uma, chamada de agente, é consi-
derada por lei para representar a outra, denominada principal, de tal forma que
esteja apta a afetar a posição jurídica da agenciada com respeito a terceiros
àquela relação pela celebração de contratos ou pela disposição de bens.
(FRIDMAN, 1990, apud SMITH; LAWSON, 2011, p. 110)24
A lei de agência surgiu pela primeira vez como um corpo em grande parte
unitário de direito comum. No entanto, determinados costumes, muitos dos
quais depois corporificados em regras, passaram a ser reconhecidos para
23
Como a relação de agência implica um regime jurídico mais geral e amplo do que aquele atinente ao contrato de agência,
adotaremos neste trabalho, em benefício da clareza e fidelidade, a designação “principal” quando nos referirmos à relação
de agência e o termo “agenciado” quando fizermos referencia ao sujeito por conta de quem a atividade é promovida no
contrato de agência.
24
No original: “Agency is the relationship that exists between two persons where one, called agent, is considered in law
to represent the other, called the principal, in such a way as to be able to affect the principal’s legal position in respect of
strangers to the relationship by the making of contracts or the disposition of property.”
25
“The fiduciary relationship that arises when one person (a ‘principal’) manifests assent to another person (an ‘agent’)
that the agent shall act on the principal’s behalf and subject to the principal’s control, and the agent manifests assent or
otherwise consents so to act.”
26
MUNDAY, Roderick. Agency: Law and Principles. Oxford: Oxford University Press, 2013, item 1.06.
54 • Em Debate
27
“[A] law of agency first emerged as a largely unitary body of common law. However, particular customs, many of
which later hardened into rules, came to be recognized to apply to particular classes of intermediary. By the eighteenth
century, for instance, it was fully accepted that those agents known as ‘factors’ had the right to sell their principal’s goods
in their own names; brokers, in contrast, did not.”
28
Um exemplo clássico da influência das relações de agência no direito público está na estrutura governamental.
O termo que designa as agências, de que são espécies as agências executivas e reguladoras, que mais recentemente ficaram
famosas entre nós com a reforma administrativa do Estado brasileiro, decorre justamente da noção tradicional de agên-
cia do Common Law. Agências são subdivisões do governo (Poder Executivo), cuja autoridade emana – indiretamente
– do Povo, mais especificamente das leis que são produzidas pelo Poder Legislativo, legítimo representante do Povo.
Nesse esquema, é o Povo ou o Congresso (que, por sua vez, representa o Povo) que define na lei a medida de poder del-
egada às agências do Poder Executivo. Esse é o conceito tradicional do princípio da legalidade num Estado Democrático
de Direito, figurando o Povo como agenciado e as agências como agentes – daí o termo “agências” –, cujos poderes
estariam delegados pelo agenciado ao agente nos limites da lei. Nesse sentido, veja-se Marshall et al.:
“As the word ‘agency’ suggests, the ‘authorities’ that are the subject matter of administrative law are the agents –
officers, boards, commissions, and the like – established by some principal to carry that person’s or body’s purpose.
Within the federal government, it is usually a stature that charters an agency to carry out public purposes. This com-
mon model would suggest that Congress is the principal and the administrative body is the agent whose existence,
powers, purposes and structure are within the control of the legislative branch.”
(MARSHALL, Jerry L. et al., 2009, p. 13-14).
29
“Public management is not neutral administrative action but consists of the execution of public policies. The principal-
agent framework underlines this feature, as the basic principal of public sector organizations is the population, or demos.”
(LANE, Jan-Erik, 2005. p. 4)
30
Notadamente a partir das décadas de 60 e 70, a teoria da agência passou a despertar intenso interesse de outras áreas do
conhecimento, como a economia, a contabilidade, as finanças, o marketing etc. Nesse sentido, vide Kathleen M. Eisenhardt,
segundo a qual “[a]gency theory has been used by scholars in accounting (e.g., Demski & Feltham, 1978), economics
(e.g., Spence & Zeckhauser, 1971), finance (e.g., Fama, 1980), marketing (e.g., Basu, Lal, Srinivasan, & Staelin, 1985),
political science (e.g., Mitnick, 1986), organizational behavior (e.g., Eisenhardt, 1985, 1988; Kosnik, 1987) and sociol-
ogy (e.g., Eccles, 1985; White, 1985). [...] During the 1960s and early 1970s, economists explored risk sharing among
individuals or groups (e.g., Arrow, 1971; Wilson, 1968).” (Agency Theory: An Assessment and Review, The Academy
of Management Review, vol. 14, no. 1 (Jan., 1989), pp. 57-58).
31
No original: “No business owner can do everything himself. He must delegate some things to agents, and this is
true not only for large corporations, but for any business with employees. This is particularly true, of course, once the
organization has more than one owner. In partnerships, the partners act as each other’s agents. And in corporations,
the shareholders are completely unable to act on their own behalf; they delegate authority to a board of directors, which in
turn delegates authority to officers. Indeed, agency is one of the main themes of corporate law, and a standard introductory
section of its textbooks.” Disponível em SSRN: http://ssrn.com/abstract=271692 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.271692.
Acesso: 25 dez.2013).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 55
Nenhum empresário pode fazer tudo sozinho. Ele deve delegar algumas
coisas para agentes, e isso é verdadeiro não apenas para grandes sociedades
anônimas, mas também para qualquer negócio contendo empregados. Isso é
especialmente verdadeiro, claro, quando a organização possui mais de um dono.
Em parcerias32, os parceiros agem como agentes uns dos outros. E nas socie-
dades anônimas, os acionistas são completamente incapazes de agir em nome
delas; eles delegam poderes a um conselho de administração, que, por sua vez,
delega poderes a diretores. De fato, agência é um dos principais temas do direito
societário, e um capítulo introdutório padrão dos livros-texto.
(RASMUSSEN, 2003)
32
As “partnerships” (parcerias) norte-americanas são assemelhadas às sociedades limitadas brasileiras, com algumas
diferenças, como, por exemplo, a de os parceiros numa “partnership” não gozarem de responsabilidade limitada ao capital
subscrito e integralizado por eles.
33
“Today, most of the world’s work is performed by agents. The division of labor, the ready means of transportation and
the growth of cooperative enterprises largely in the form of corporations, both public and private, dictate the need for
agents. The kinds of persons functioning as agents in commercial activity are numerous and varied. The factor, to whom
goods are to be sold for his principal; the broker, who makes contracts of purchase and sale for others; these are agents.
We usually characterize the employees of enterprises which mine, manufacture, buy, sell or transport, as servants, but they
also fall within the general category of agents, inasmuch as their work is performed subject to the direction of and for the
benefit of their employers. Officers and employees of the nation, states and municipalities are agents, though subject to
legal rules often characterized by special limitations set forth in works under some such title as ‘Public Officers.’”
34
No mesmo sentido, Bainbridge: “Agency is the most pervasive form of business relationship. Just as a sole proprietor
and his single employee are in an agency relationship, so are a Fortune 500 company and its president. […] An agency
relationship comes into existence when there is a manifestation by the principal of consent that the agent act on his behalf
and subject to his control, and the agent consents to so act. The requisite manifestation of consent can be implied from
the circumstances, which makes it possible for the parties to have formed a legally effective agency relationship without
realizing they had done so. The purpose of the relationship need not be a business one; in theory, if you send a buddy to
the vending machine to get you a soda, you may have retained an agent.” (BAINBRIDGE, 2004. p. 2).
56 • Em Debate
a) General agent (agente geral): possui poderes gerais para desenvolver um amplo
número e variedade de transações em nome e por conta do agenciado. Uma vez
caracterizado o sujeito como general agent, cria-se para ele uma presunção
relativa de poderes de sorte que limitações a tais poderes por parte do principal
devem ser expressas;
35
Em seu substancioso artigo, o professor da Faculdade de Direito de Harvard Robert H. Sitkoff explica por que finan-
cial advisors que detêm poderes para gerir contas de seus clientes são agentes (lato sensu) destes e, com efeito, rendem
a eles deveres fiduciários de lealdade (duty of loyalty), cuidado (duty of care), a par de se sujeitarem a uma série de
regras subsidiárias influentes sobre as suas condutas – e.g., regras a respeito da possibilidade de competirem com seus
principais, confidencialidade, divulgação, escrituração e guarda de documentos, etc. Disponível em: <http://ssrn.com/
abstract=2234830> ou <http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2234830>).
36
“Cases involving termination of the relationship between an insurer and the agent have raised some of the same issues
affecting termination of the at will employee. That may be surprising because an employee is not generally viewed as hav-
ing the same relationship to his or her employer as the agent has with his or her insurance company. Agents are generally
considered as independent contractors. Also, the insurance agent occupies a different position compared with the common
law employee in regards to compensation. While an agent’s compensation is obviously derived from the sale of a product,
the success in the sale is very often directly related to the individual agent’s own effort and his or her reputation. It is a
sale based upon a personal relationship with e purchaser. The sale comes from the effort put into acquiring knowledge
about the needs of a prospective insured, knowledge as to particular products available as well as the reputation acquired
by the agent over the years in the community. […]”
“An agent has the power and authority to take applications, collect funds, perform field underwriting, and in the case
of casualty insurance, the ability to bind the company. What the company knows about a particular risk may oftentimes
come solely from the agent. There is a fiduciary relationship that exists between the agent and the insurer. None of these
factors may be found in an employer-employee relationship. In addition, most insurer-agent relationships are evidenced
by a written agreement which usually does discuss the issue of termination. Generally, the insurer has reserved the right
to terminate at will usually upon the giving of a particular notice. Finally, and not the least important, the relationship
between an agent and the insurance company is the common law relationship between and agent and the principal. Com-
mon law over the years has clearly established the right of a principal to revoke the agent’s authority.”
37
No original: “An insurance agent is a person who transacts insurance, other than life, disability, or health insurance,
on behalf of an admitted insurance company.”
58 • Em Debate
[...]
Um corretor de seguros é a pessoa que, em troca de retribuição e em nome de
outra pessoa, transaciona seguro que não seguro de vida com, mas não em nome
de, uma seguradora admitida. (§ 1623)38
38
No original: “An insurance broker is a person who, for compensation and on behalf of another person, transacts insur-
ance other than life insurance with, but not on behalf of, an admitted insurer.” (Cal. Ins. Code, § 1623(a)).
39
No original: “1624. An insurance solicitor is a natural person employed to aid an insurance agent or insurance broker
in transacting insurance other than life.”
40
Por exemplo, a Lei de Seguros do Estado de Nova Iorque estipula como sendo corretor de seguros (broker) “qualquer
pessoa, empresa, associação ou sociedade anônima que, em troca de retribuição, comissão ou outra coisa de valor, atua
ou auxilia de qualquer forma na busca, negociação ou venda, de qualquer contrato de seguro ou plano ou na colocação
de riscos ou contratação de seguros, em nome de um segurado que não ele mesmo, ela mesma ou em nome de qualquer
corretor de seguros autorizado [..]” (§ 2101(c)). No original: “Any person, firm, association or Corporation who or which
for any compensation, commission or other thing of value acts or aids in any manner in soliciting, negotiating or selling,
any insurance or annuity contract or in placing risks or taking out insurance, on behalf of an insured other than himself,
herself or itself or on behalf of any licensed insurance broker (…)” (N.Y. Ins. Law, § 2101(c)).
41
Disponível em: <http://www.bls.gov/ooh/sales/insurance-sales-agents.htm>. Acesso em: 29 dez.2013.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 59
vínculos contratuais de exclusividade com uma única seguradora ou com uma seguradora
conforme o tipo de seguro envolvido. Em contrapartida, os agentes independentes são
aqueles que não possuem semelhantes restrições na promoção de seguros, realizando
contratos simultâneos com várias seguradoras concorrentes.
Há, nos EUA, diversos estudos objetivando determinar a forma mais eficiente
de distribuição de seguros. Tradicionalmente, a distribuição por meio de agentes
independentes sempre foi aquela dominante para seguros de responsabilidade
civil e de propriedades ( property and liability insurance). Nas últimas décadas,
contudo, notou-se um aumento na participação dos agentes exclusivos (CUMMINS;
VANDERHEI, 1979, p. 710).42
A distinção entre agentes exclusivos e agentes independentes é relevante ainda
porque muitos são os que computam os seguros comercializados pelos primeiros (agentes
exclusivos) como vendas diretas, equiparáveis, para tal fim, às vendas realizadas pelo
corpo funcional da própria seguradora. Nesse raciocínio, aqueles seguros contratados por
intermédio dos agentes independentes são comumente classificados como contratação
42
Esse aumento foi acompanhado de estudos que demonstram a sua maior eficiência para diversas linhas de seguros.
Veja, por todos, Cummins e VanDerhei:
“Property-liability insurance in the United States is distributed through two major channels – the independent
(American) agency system and the exclusive agency system. Independent agents maintain contracts with several
insurance companies and are not obligated to place business with any one of them. Most exclusive agents, on the
other hand, are contractually bound to place their business with a single company. The independent agency system
is the traditional method for distributing property-liability insurance and for many years was dominant in all types
of coverage. During the past 25 years, exclusive agency companies, led by State Farm and Allstate, have captured
a substantial share of the market for automobile and homeowners’ insurance and have begun to challenge the
independent agency firms for the business of commercial clients.
In his classic study of property-liability insurance markets, Joskow (1973) presented evidence that the exclusive
agency system is substantially more efficient than the independent agency system. Based on regression results,
Joskow (1973, p. 400) found that ‘the expense ratios of [exclusive agency companies] average 10.82 percentage
points less than the agency companies ceteris paribus. For the auto companies themselves the figure is 11.48.’
He recommended that attempts be made ‘to speed up the transition from agency production of customers to direct
writing whenever possible’ (p. 425).
Joskow’s findings have received widespread attention both from the insurance industry and from regulators
(MacAvoy, 1977). The defenders of the independent agency system have relied on three major arguments:
(1) independent agents provide better, more personalized service than exclusive agents; (2) independent agency
companies recently have introduced several cost-cutting innovations which may have narrowed the gap between
their expense ratios and those of the exclusive agency firms; and (3) Joskow’s results were biased because they
focused only on underwriting costs. According to this argument, independent agency companies rely heavily on
their agents to settle losses, while exclusive agency companies perform this service primarily through company
personnel. Hence, if one considers total costs (for underwriting and loss adjustment services), the efficiency differ-
ence between the two systems should be less pronounced.
Recent evidence presented by Etgar (1976) and by Cummins and Weisbart (1977) indicates that the first argument is
not valid, i.e., there is no systematic difference in quality of service between independent and exclusive agents.”
60 • Em Debate
43
Veremos mais adiante que essa classificação não corresponde àquela mais apropriada à luz do Direito brasileiro posto.
44
“In general, the use of direct distribution system means that the product is sold to the end consumer by a direct
representative of the company. There is no intermediary within the channel of distribution. Such is also the case in
property-liability insurance, but the direct representation may take one of three different forms: sales through a salaries
employee, sales using a an exclusive agent, or direct solicitation to the consumer using the mail or one or more of the
other forms of advertising media such as radio, television, newspaper, and magazines.
The concept of an indirect system of distribution implies a channel intermediary. That is, an independent business owner
is involved in the distribution of the product. In the indirect distribution of property-liability insurance there exists two
subsets: independent agents and brokers. Independent insurance agents are independent contractors who may legally
represent many insurance companies. Such an agent contracts with multiple insurance companies, and for each loss
exposure, the agent determines which of the companies he/she represents will receive the business, allocating the placement
of coverage accordingly. A broker represents the consumer and serves as an intermediary when dealing with the insurers
selected. No contractual relationship exists between brokers and insurers. The broker contracts with the insured as their
representative, and acts upon their behalf, selecting potential insurers, negotiating coverage, and in general, serving as
the insured’s representative.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 61
• Special agent: é o tipo de agente cujos poderes para vincular uma seguradora
são expressamente limitados. Por exemplo, um agente de vendas ou de anga-
riação é ordinariamente autorizado a comercializar seguros, receber propostas
de seguros e encaminhá-las para as seguradoras ou para seus agentes gerais, a
entregar apólices quando emitidas pelas seguradoras e a receber pagamentos de
prêmios. Ele não costuma deter poderes para alterar o clausulado de apólices,
renunciar a direitos previstos nas disposições contratuais ou a emitir apólices.
45
Baseada na classificação catalogada por Richmond, ob. cit., p. 5-6.
46
Idem, ibidem.
62 • Em Debate
47
O paralelo é nosso. A descrição da atuação das plataformas é de Tzirulnik e Piza (1996).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 63
[...] Assim, enquanto os rótulos ”agente” e “corretor” têm uma aparente simpli-
cidade legal, a realidade econômica é mais complexa. Agentes independentes
e corretores são melhor pensados como criadores de mercado ou casadores [no
sentido de] que casam necessidades específicas dos segurados com os produtos
das seguradoras.
(CUMMINS; DOHERTY 2006, p. 361)48
As linhas que limitam o status ou o papel de um corretor podem, por vezes, ser
turvas. Se um segurado determina a um corretor para obter o seguro de uma
determinada empresa de seguro, o corretor é considerado como um agente da
seguradora. Um agente também pode ser um agente duplo do segurado para
fins de obtenção de uma cobertura e um agente da seguradora para outros fins.
[Ver Secura Ins. Co. v Saunders, 227 F.3d 1077, 1080 (8º Cir. 2000) (aplicação
do direito do Missouri e explicando que um corretor “pode ser o agente da segu-
radora para alguns propósitos, e o agente do segurado para os outros”), Layne
Christensen Co. v Zurique Canadá, 38 P.3D 757, 768 (Kansas Ct App 2002.)
(explicando que o corretor “estava agindo em nome da seguradora para outros
fins”)] [Transamerica Interway, Inc. v Commercial Union Assurance Co. de S.
África , Ltd., 97 FRD 419, 421 (SDNY 1983) (observando que “enquanto um
corretor de seguros pode agir para o segurado na proposta e no processamento
48
“The distinction between independent agents and brokers is a subtle one. The usual ‘textbook’ distinction is that
insurance agents are ‘agents’ (in the legal sense) of the insurer, whereas brokers are traditionally described as agents of
the policyholder. However, the textbook distinction is too simplistic to provide an adequate description of the insurance
marketplace because independent agents and brokers perform many of the same functions and provide services to both
insurers and policyholders […]. In fact, both independent agents and brokers act in varying degrees as advocates for the
policyholder, providing services such as coverage design, loss control, and claims management. In addition, although
independent agents do represent several insurers under ‘agency appointment’ contracts, many firms, generally known as
brokers, also place a significant proportion of their business under essentially identical contracts.
[…]Thus, while the labels ‘agent’ and ‘broker’ have a disarming legal simplicity, the economic reality is more complex.
Independent agents and brokers are best thought of as market makers or matchmakers who match particular needs of
policyholders with the products of insurers.”
64 • Em Debate
Richmond50 prossegue:
A ideia de que um corretor de seguros pode servir como um agente duplo pode
parecer à primeira vista estranha, na medida em que relações de agência duplas
são reprimidas na lei. Afinal de contas, os agentes são fiduciários para os seus
49
“The lines bounding a broker’s status or role sometimes blur. If an insured directs a broker to obtain insurance from
a particular insurance company, the broker is considered to be an agent of the insurer. A broker also can be a dual agent
of the insured for purposes of obtaining coverage and an agent of the insurer for other purposes. [See Secura Ins. Co. v.
Saunders, 227 F.3d 1077, 1080 (8th Cir. 2000) (applying Missouri law and explaining that a broker ‘may be the agent
of the insurer for some purposes, and the agent of the insured for others’); Layne Christensen Co. v. Zurich Canada, 38
P.3d 757, 768 (Kan. Ct. App. 2002) (explaining that broker ‘was acting on behalf of the insurer for other purposes’).]
[Transamerica Interway, Inc. v. Commercial Union Assurance Co. of S. Africa, Ltd., 97 F.R.D. 419, 421 (S.D.N.Y. 1983)
(observing that ‘while an insurance broker may act for the insured in applying for and processing a policy, the broker
generally acts for the insurer in delivering the policy and in collecting and remitting the premiums’)]
Brokers are typically insurers’ agents with respect to issuing policies, issuing certificates of insurance, collecting premi-
ums, and the like. A broker may not be converted into an agent for an insurer without some action on the carrier’s part
or without facts sufficient to infer an agency relationship. The mere acceptance by a broker of a commission paid by an
insurer is insufficient to create an agency relationship between the broker and the insurance company.”
50
ob. cit., pp. 8. Richmond defende a ausência de conflito de interesses a partir de argumentos que parecem ao autor deste
trabalho discutíveis, argumentando que (i) as atividades desenvolvidas pelo corretor como agente da seguradora (colocação
de cobertura e recebimento de prêmios de seguro) são totalmente separadas daquelas desenvolvidas por ele como agente
do segurado; e que (ii) a relação de agência constituída entre o corretor e o segurado terminaria quando ele obtém para
o segurado a cobertura desejada. Confira-se o que ele apresenta em relação às indagações surgidas a respeito do papel
duplo do corretor: “This question can be answered at least two ways. Fist, dual agency is possible with the consent of both
principals. An insurer expressly consents to a broker’s dual agency when it contracts with him. An insured’s consent to a
broker’s dual agency may be express or implied. Second, brokers can act as dual agents because they have no conflict of
interest in their roles and it is conflict of interest that a prohibition on dual agency is intended to prevent. For example, a
broker can compatibly procure insurance for an insured and collect a premium for that coverage for the insurance company.
The broker’s responsibilities to the insured and to the insurer are independent. Dual agency is permissible here because
the transactions (placing coverage and collecting the premium) are separate and distinct; the insured controls the broker
with respect to placing coverage and the insurer controls the broker with respect to collecting the premium. Indeed, it is
generally the case that the principal-agent relationship between the insured and the broker terminates when the broker
obtains the desired coverage. In that situation there is no dual agency relationship to be concerned about when it comes
time for the broker to perform those tasks for which it clearly is the insurer’s agent, such as collecting premiums of issuing
certificates, for then the broker is solely an agent of the insurer.” (ob. cit., p. 8-9).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 65
No fundo, é importante que se entenda que, nos Estados Unidos, haverá sempre
uma relação de agência, segundo o conceito básico anglo-saxão, entre o corretor de
seguros e o seu contratante (geralmente o segurado) e entre o agente de seguros e o seu
contratante (geralmente a seguradora), conforme assevera Richmond:
51
“The idea that an insurance broker can serve as a dual agent may at first seem odd, inasmuch as dual agency relation-
ships are disfavored in the law. After all, agents are fiduciaries to their principals and therefore owe them undivided
loyalty. An agent is bound to act solely for his principal in all matters connected with his agency. How then can a broker
be a dual agent?”
52
“It is important to understand, however, that an intermediary always is an agent for some party to the insurance purchase.
Whether an intermediary is an agent of the insured or the insurer depends on the facts of the case.
How intermediaries are classified determines to whom they may owe duties, and also may determine the nature of those
duties. This inquiry is obviously important when evaluating insurance companies’ potential liability in disputes stemming
from intermediaries’ actions, because insurers are vicariously liable only for the tortious acts of their agents acting within
the course and scope of their agency. If an intermediary is functioning as an agent of the insured, on the other hand, his
negligence cannot be imputed to the insurance company.”
66 • Em Debate
não concorrência etc., do corretor e do agente de seguros para com os seus contratantes,
sejam eles segurados ou seguradoras.
Em uma frase, são deveres que impõem ao agente e ao corretor atuação perante
terceiros estritamente dentro das atribuições delegadas e que, numa escala de priori-
dades, leve em consideração de forma primária o interesse daquele que o contratou em
detrimento do seu próprio interesse individual, quando esses dois interesses estiverem
em conflito.
O Código de Seguros do Estado da Califórnia busca definir quais atividades um
corretor não pode desenvolver para uma seguradora sob pena de desnaturar sua qualidade
única de corretor, transmudando-se em um corretor de papel duplo ou corretor-agente.
O § 1.623, alínea “c”, estabelece que a presunção legal de que um corretor está agindo
genuína e unicamente como corretor, e não como verdadeiro agente de seguros, é refu-
tada se o corretor praticar alguma das seguintes atividades à conta da seguradora:
(1) O corretor é nomeado pela seguradora para a mesma classe de seguros negociada;
(2) O corretor possui poderes para vincular a seguradora;
(3) O corretor possui poderes para nomear outros intermediários como agentes da
seguradora; e
(4) O corretor é autorizado a pagar indenizações à conta da seguradora.
53
Acrônimo de National Association of Insurance Commissioners.
54
A NAIC, que se chamava originalmente “Convenção Nacional de Comissários de Seguros”, iniciou suas operações com
a sua primeira reunião em 24 de maio de 1871. Os objetivos da NAIC incluem proteger os interesses de consumidores
de seguros e propiciar um foro de desenvolvimento de políticas de regulação uniformes sempre que apropriado. (DOC-
TOR, Randall; CERNY, Robert J. Regulation of Insurance Intermediaries, New Appleman on Insurance Law Library
Edition, Chapter 15, § 15.03).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 67
Model Act (PLMA). O PLMA foi criado com o objetivo de garantir certa uniformidade
no tratamento dispensado aos agentes e corretores de seguros quanto aos requisitos para
o seu registro e quanto às possibilidades de atuação dentro das fronteiras do país55.
A maior parte dos estados norte-americanos adotou o PLMA, embora com alguns
com modificações, enquanto outros aderiram apenas às disposições de reciprocidade do
documento.
A Cláusula 18 do PLMA disciplina o dever de produtores de seguros de divulgar
a seus clientes retribuições recebidas de seguradores em situações de potencial conflito
de interesses.
Segundo a Cláusula 18, A (1), do PLMA, quando um produtor de seguros ou
sua filiada receberem alguma retribuição de seu cliente para a colocação de seguro ou
para representarem o cliente a respeito de tal colocação, não devem aceitar ou receber
qualquer retribuição de uma seguradora ou de terceiros pela colocação de seguros, salvo
se o produtor houver, anteriormente à contratação de seguro pelo seu cliente:
(a) Obtido a admissão documentada do cliente de que tal retribuição será recebida
pelo produtor ou filiada; e
55
O PLMA pode ser acessado no sítio eletrônico <http://www.naic.org/store/free/MDL-218.pdf>. Acesso em 04
jan.2014.
68 • Em Debate
56
Carta-circular disponível no sítio eletrônico do Department of Financial Services do Estado de Nova Iorque. Disponível
em: <http://www.dfs.ny.gov/insurance/circltr/1998/cl98_22.htm>. Acesso em: 05 jan.2014.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 69
A carta concluía:
Assim, de acordo com as seções de lei mencionado acima, bem como o artigo
23 da NYIL, este Departamento oferece a seguinte orientação.
Pois bem. Passados alguns anos, em outubro de 2004, após meses de investiga-
ções, o advogado geral de Nova Iorque, Eliot Spitzer, ajuizou ação judicial contra Marsh
& MacLennan Companies e Marsh, Inc., notadamente a maior corretora de seguros do
mundo, alegando atuação fraudulenta e violações às normas de defesa da concorrência
nas atividades de corretagem e contratação de seguros.
As práticas denunciadas por Spitzer também incriminavam diversas das maiores
seguradoras, incluindo a American International Group (AIG), ACE Ltd. e o Hartford
Financial Services Group (BRAHAM(B), 2010. p. 135).
57
“Accordingly, pursuant to the sections of law noted above, as well as Article 23 of the NYIL, this Department offers
the following guidance.
• All compensation arrangements between an insurer and a broker should be reduced to writing and agreed to by
both parties;
• All such compensation arrangements should be disclosed to insureds prior to the purchase so as to enable insureds to
understand the costs of the coverage and the motivation of their broker in placing the business;
• All fees paid to brokers should be included as factors in the establishment of an insurer’s premium rates;
• All fees paid to brokers (and reasons for such fee payments) should be included in a broker file maintained by the
insurer; and
• The insurer’s internal auditing procedures should include verification that all fees paid to brokers are proper and within
the parameters of the New York Insurance Law and Department regulations.”
70 • Em Debate
58
“Very quickly, our investigation found widespread evidence that brokers were receiving hidden payments, essentially
kickbacks, from insurance companies.
By looking closely at these contingent commissions, we uncovered another side of the insurance industry. Not only do
insurance brokers receive contingent commissions to steer business, but many brokers, with the assistance and collusion
of insurance companies, engage in systematic fraud and market manipulation in order to ensure that profitable and high
volume business goes to a few selected insurance companies. In other words, we found that favoritism, secrecy and
conflicts rule this market, and not open competition.
(…)
All insurance brokers receive compensation when they obtain insurance for their clients. (…)
Our investigation revealed that in addition to this customary disclosed commission, many brokers also receive contingent
compensation from insurance companies based on the volume and/or profitability of the business that the broker places
with them. These payments are known as ‘contingent commissions,’ but go by many other names such as ‘overrides,’ or
in the case of Marsh, placement service agreements (‘psas’) or market service agreements (‘msas’).
We found that brokers routinely mislead their clients about the true nature of contingent commissions. Marsh’s website,
for instance, describe msas as ‘agreements that cover payment for the value brokers provide to insurance carriers.’ The
truth is that contingent commissions and msas provide little or no value or services to insurance carriers. They appear to
be nothing more than payments for steering business to preferred insurance carriers.
(…)
Contingent commissions represent the first source of undisclosed or poorly disclosed income. However, in exchange for
entering into contingent commissions and steering retail insurance to an insurance carrier, brokers sometimes demand
that the carrier enter into a reciprocal relationship to use to the broker for the carrier’s reinsurance purchases, resulting in
additional reinsurance commissions to the broker. This represents a second source of undisclosed income.
(…)
Thus, across the entire life span of an insurable risk, brokers may receive as many as four additional streams of income in
addition to receiving customary retail commissions. All of these payments, however, are undisclosed, or poorly disclosed,
and place higher costs on the insurance itself, resulting in higher premium payments by consumers.
(…)
To make the system work, however, the broker has to deliver the promised volume of business to the insurance company
that is paying it to steer. This pressure to deliver business leads brokers to engage in bid rigging and other forms of market
manipulation. We found:
• Evidence of direct bid rigging in excess casualty insurance markets where Marsh arranged for the submission of fictitious
or artificially inflated bids in order to create the illusion of competition among insurance carriers and mask the direct
steering of insurance business to a favored insurance carrier. Criminal charges were filed against two AIG employees
and one Ace employee in connection with this scheme.
• Cases where Marsh arranger for insurance carriers to refrain from bidding on certain accounts in order to limit competi-
tion and steer business to a preferred carrier.
• Evidence of proposed or actual ‘no shopping’ agreements where Marsh and ULR [Universal Life Resources, Inc.]
would affirmatively undertake not to shop policies when they come up for renewal, essentially guaranteeing that the
business stayed with the incumbent insurer.
• Numerous indirect examples of steering such as brokers offering favored carriers opportunities to be the lowest bidder
but not offering similar opportunities to other bidders.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 73
Por fim, os corretores devem ser chamados a prestar contas de suas atividades
de direcionamento. Como é que a cultura de favorecimento e recompensas
distorceu seu dever fiduciário básico de servir o cliente. Mais importante, como
podemos tomar medidas para reformar esta cultura, exigindo a divulgação
adequada para garantir que os mercados estão funcionando corretamente?59
(ABRAHAM(B), 2010)
59
“Lastly, the brokers should be called to account for their steering activities. How has the culture of favoritism and
pay-offs distorted their basic fiduciary duty to serve the customer. More importantly, how can we take steps to reform
this culture by requiring appropriate disclosure to ensure the markets are operating properly?”
60
O estado de Illinois adotou iniciativa similar contra a corretora Arthur J. Gallagher & Co.
61
Os acordos firmados pelo Estado de Nova Iorque estão disponíveis no sítio eletrônico do Department of Financial
Services do Estado de Nova Iorque: <http://www.dfs.ny.gov/insurance/invstcomp.htm>.
74 • Em Debate
do globo. Inúmeros estudos são continuamente dedicados ao tema, muitos dos quais,
registre-se, defendem veementemente os benefícios desse tipo de arranjo para o mercado
de seguros e seus consumidores, persistindo a polêmica em torno do tema62.
Legislações foram modificadas após o imbróglio para, em nome das respon-
sabilidades fiduciárias de corretores para com segurados, criar ou reforçar o dever
de informação dos primeiros para com os últimos quanto a esquemas de pagamento de
comissões como aqueles denunciados por Sptizer, buscando incutir mais transparência
nas operações de intermediação de seguros. Exemplos incluem as normas vigentes na
União Europeia e as propostas atuais no sentido de sua reforma, que intensificam ainda
mais tais deveres informativos.
Consigne-se, por fim, que há ainda nos Estados Unidos muitos defensores da tese
de que corretores não têm um dever afirmativo de voluntariar a segurados a existência
de algum vínculo ou de recebimentos adicionais de seguradoras com quem operam.
Segundo os cultores desse raciocínio, o dever de informação somente surgiria sempre
que (e somente se) assim perquirido pelo segurado.63
Decididamente, o equilíbrio exato da regulação da questão não é algo homo-
gêneo, variando, pelo que parece, ao sabor do valor e do peso relativo conferido ao
dever fiduciário de lealdade do corretor de seguros perante o segurado em cada estado
dos EUA.
62
E.g., CHENG, Jiang; ELYASIANI, Elyas; LIN, Tzu-Ting. Market Reaction to Regulatory Action in the Insurance
Industry: The Case of Contingent Commission. The Journal of Risk and Insurance, v. 77, n. 2 (June 2010), p. 347-368;
SCHWARCZ, Daniel, Beyond Disclosure: The Case for Banning Contingent Commissions. Yale Law & Policy Review,
Vol. 25, p. 289, 2007, Minnesota Legal Studies Research Paper No. 07-52.
63
Por todos, consulte-se RICHMOND, Douglas R., em “New Appleman on Insurance Law Library Edition”, Lexis Nexis,
2009, Capítulo 2.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 75
dando lugar à distinção entre os chamados agentes vinculados (tied agents) e agentes
independentes (independent agents):
64
“Until recently insurance intermediaries were of two kinds, tied agents and independent agents. Of the latter, those
who registered as such were called insurance brokers. Today what counts is not the name or the label but what a person
does, the activity undertaken. (…) In this book, however, unless the context otherwise requires, those whose are mainly
occupied in selling insurance on behalf of insurers are referred to as agents; those who are mainly occupied with the role
of intermediary between buyers and sellers of insurance, including those called insurance brokers in the past, are referred
to as independents.”
76 • Em Debate
Conforme se vê, segundo Clarke, justamente por conta desse papel duplo de
corretores e do conflito de interesses potencial daí decorrente66, em 2005 já era notável
na Inglaterra um movimento dos chamados “independentes”, ou seja, dos intermediá-
rios sem vínculos de exclusividade com seguradoras, no sentido de serem remunerados
diretamente apenas pelos segurados, em contrapartida aos serviços especializados de
angariação de seguro e consultoria que lhes prestam.
O ICOBS, alinhado com a Diretiva 2002/92/EC, de 09 de dezembro de 2002,
conhecida como a Diretiva de Mediação de Seguros e transposta tempestivamente
para o direito interno do Reino Unido em 14 de janeiro de 2005, não se envereda em
distinções entre agente de seguros e corretores de seguros. O ICOBS se refere ao gênero
“intermediário de seguros”, o qual, por sua vez, é definido de forma ampla como “a
fi rma que desenvolve atividade de mediação de seguro que não uma seguradora”.
A diretiva será examinada mais detalhadamente na próxima seção em que trataremos
da União Europeia.
65
“A curious feature of the contract between independent and their clients is that, in the past, independents were gener-
ally paid not fees by clients but commission by insurers. In the general law, the answer to ‘who pays the piper?’ is one
of the main tests of agency: the piper is the agent of the one who pays. This remains so in the law of other countries, not
only in general but also for independent insurance intermediaries in the United States. On account partly of the problems
debated here, in recent times many independents in the UK have switched to a more transparent relationship whereby
they are remunerated like any other profession, namely, by professional fees payable by clients. However, a large number
still operate as before on commission from insurers. One reason is fear that clients would not appreciate the real value
and cost of the service provided by independents and find the fees excessive; and that, in a market driven by price, the
insurance buying public will be driven to direct insurers and that independents will be forced out of business. Be that as
it may, the system of payment by commission poses problems of law.”
66
Sobre o tema, Doctor e Cerny comentam que “[...] the dual agency doctrine has been recognized widely in other jurisdic-
tions. Thus, within the same transaction, a broker will be deemed to be the agent of the insured for purposes of selecting
a particular insurer and placing coverage with the insurer and will [be] deemed to be the agent of the insurer for purposes
of collecting the premium, issuing evidence of insurance coverage and any other tasks that the broker may undertake on
behalf of the insurer.” (DOCTOR, Randall; CERNY, Robert J., em “New Appleman on Insurance Law Library Edition”,
§ 15.02[1][d], Lexis Nexis, 2009. p. 15-13).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 77
67
“Prior to the conclusion of an initial contract of insurance and, if necessary, on its amendment or renewal, a firm must
provide the customer with at least:
(1) its name and address;
(2) the fact that it is included in the Financial Services Register and the means for verifying this;
(3) whether it has a direct or indirect holding representing more than 10% of the voting rights or capital in a given insur-
ance undertaking (that is not a pure reinsurer);
(4) whether a given insurance undertaking (that is not a pure reinsurer) or its parent undertaking has a direct or indirect
holding representing more than 10% of the voting rights or capital in the firm; and
(5) the procedures allowing customers and other interested parties to register complaints about the firm with the firm
and the Financial Ombudsman Service or, if the Financial Ombudsman Service does not apply, information about
the out-of-court complaint and redress procedures available for the settlement of disputes between the firm and its
customers.”
78 • Em Debate
(2) Uma empresa que não aconselha com base em uma análise imparcial
do mercado deve informar o cliente de que ele tem o direito de solicitar o
nome de cada seguradora com a qual a empresa pode e não realizar negócio.
A empresa deve respeitar tal pedido.68
(ICOBS, 2014)
Há muito tempo tem sido aceito que a relação corretor / cliente dá origem a uma
obrigação contratual implícita de que o corretor irá exercer todos os cuidados
razoáveis e habilidades na execução de suas instruções. [...] O corretor também
tem o dever de cuidado extensiva no delito culpável do common law decorrente
da posição do corretor de ser uma pessoa que professa ter habilidade especial.
O dever de um corretor de seguros ou outro intermediário é o mesmo, e é de
exercer um grau razoável e normal de cuidado e habilidades “como uma pessoa
de capacidade média e habilidade ordinária na sua situação e profissão pode
razoavelmente esperar que exercem.”
(JESS, 2011, p. 111-112)69
68
“(1) Prior to the conclusion of an initial contract of insurance (other than a connected travel insurance contract)2 and,
if necessary, on its amendment or renewal, a firm must tell the customer whether:
(a) it gives advice on the basis of a fair analysis of the market; or
(b) it is under a contractual obligation to conduct insurance mediation business exclusively with one or more insurance
undertakings; or
(c) it is not under a contractual obligation to conduct insurance mediation business exclusively with one or more insurance
undertakings and does not give advice on the basis of a fair analysis of the market.
(2) A firm that does not advise on the basis of a fair analysis of the market must inform its customer that he has the right
to request the name of each insurance undertaking with which the firm may and does conduct business. A firm must
comply with such a request.”
69
“It has long been accepted that the broker/client relationship gives rise to an implied contractual duty that the broker will
exercise all reasonable care and skill in the performance of his instructions. (…) The broker will also owe a coextensive
duty of care in the common law tort of negligence arising from the broker’s position of being a person professing to have
special skill.
The duty of an insurance broker or other intermediary is the same, and it is to exercise such a reasonable and ordinary
degree of care and skill ‘as a person of average capacity and ordinary ability in his situation and profession might fairly
be expected to exert.’”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 79
70
Convém esclarecer que no Direito português é frequente que referências a “insurance intermediaries” contidas nas
normas da União Europeia sejam muitas vezes traduzidas como “mediadores de seguros”. É que mediação de seguros é
uma expressão que de longa data possui acepção jurídica própria no Direito português. Neste trabalho utilizaremos o termo
“intermediário de seguros” e suas variações de estilo, inclusive “mediador de seguros” indistintamente, sem a mesma
preocupação e rigidez, eis que no Brasil a figura do mediador de seguros não encontra definição em nosso Direito positivo.
A distinção terminológica entre intermediador e mediador de seguros no Direito luso é explicada por Alves: “Julgamos
que qualquer actividade de distribuição de seguros em que haja a intervenção de um terceiro em relação à seguradora é
intermediação de seguros. A entidade alheia às seguradoras, que distribui produtos de seguros de uma ou mais empresas,
é um intermediário de seguros. A intermediação pode assumir a forma de mediação. A mediação é o modo mais frequente
de distribuir seguros e encontra-se sujeita a regulamentação específica. O acesso à actividade de mediação encontra-se
limitado ao preenchimento de determinados requisitos e à inscrição num registro nacional. Os mediadores têm direitos e
deveres que resultam da lei e podem ser sujeitos à aplicação de sanções, caso não os cumpram. A actividade de mediação
é uma profissão que o legislador pretende que seja exercida com rigor e dignidade, para o que estabeleceu um regime
exigente para a ela aceder. Os mediadores de seguros são intermediários de seguros, sujeitos ao regime específico da
mediação. Existe, portanto, intermediação lato sensu, que inclui a mediação e a intermediação stricto sensu. É mediação
de seguros toda a actividade que tem em vista a celebração e/ou execução de contratos de seguro, sujeita à legislação
específica que a regula. É intermediação de seguros stricto sensu toda a actividade legal de distribuição de seguros ou
execução de contratos de seguro, que não esteja sujeita às regras específicas de mediação.”
80 • Em Debate
71
“Ficou previsto que essa Diretriz vigoraria até à (sic) entrada em vigor das disposições relativas à coordenação das
regulamentações nacionais respeitantes ao acesso às atividades de agentes e corretores de seguros e ao seu exercício.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 81
[...] Qualquer pessoa que exerça uma atividade de mediação de seguros, em nome
e por conta de uma empresa de seguros ou de várias empresas de seguros, caso
os produtos não sejam concorrentes, mas que não receba prêmios nem somas
destinadas ao cliente e atue sob a inteira responsabilidade dessas empresas de
seguros, no que se refere aos respectivos produtos. [...] Considera-se igualmente
mediador de seguros ligado, agindo sob a responsabilidade de uma ou várias
empresas de seguros, no que se refere aos respectivos produtos, qualquer pessoa
72
“1. A presente directiva aplica-se às actividades seguintes, na medida em que se insiram no ex grupo 630 CITI do
Anexo III do Programa Geral para a Supressão das Restrições à Liberdade de Estabelecimento:
a) A actividade profissional das pessoas que, estabelecendo a ligação entre os tomadores de seguro e as empresas de
seguros ou de resseguro, e podendo escolher livremente essas empresas, com vista à cobertura de riscos a segurar ou a
ressegurar, preparam a celebração de contratos de seguro e colaboram, eventualmente, na sua gestão e na sua execução,
nomeadamente em caso de sinistro;
b) A actividade profissional das pessoas encarregadas, por força de um ou mais contratos ou de procurações, de apresentar,
propor e preparar ou celebrar contratos de seguros, ou de colaborar na sua gestão e na sua execução, nomeadamente,
em caso de sinistro, em nome e por conta, ou unicamente por conta, de uma ou mais empresas de seguros;
c) As actividades de pessoas não abrangidas pelas alíneas a) e b), mas que actuando por conta delas executam, nomeada-
mente, trabalhos de preparação, apresentam contratos de seguro ou cobram prémios, sem que estas operações possam
representar qualquer compromisso perante o público ou da parte do público.”
73
Acrônimo de Insurance Mediation Directive.
74
Na versão da diretiva em língua portuguesa, a expressão é traduzida como “mediador de seguros ligado”.
82 • Em Debate
CAPÍTULO III
INFORMAÇÕES A PRESTAR PELOS MEDIADORES
Artigo 12.º
Informações a prestar pelo mediador de seguros
1. Antes da celebração de qualquer contrato de seguro inicial e, se necessário,
aquando da sua alteração ou renovação, um mediador de seguros deve
informar os clientes, pelo menos:
a) Da sua identidade e endereço;
b) Do registo em que foi inscrito e dos meios para verificar se foi efectivamente
registado;
c) De qualquer participação, directa ou indirecta, superior a 10 % nos direitos
de voto ou no capital que tenha numa determinada empresa de seguros;
d) De qualquer participação, directa ou indirecta, superior a 10 % nos direitos
de voto ou no capital do mediador de seguros detida por uma determinada
empresa de seguros, ou pela empresa-mãe de uma determinada empresa de
seguros;
e) Dos procedimentos, referidos no artigo 10º, que permitem aos clientes e a
outras partes interessadas apresentarem reclamações contra mediadores de
seguros e, eventualmente, dos procedimentos extrajudiciais de reclamação
e recurso referidos no artigo 11º.
Além disso, o mediador de seguros deve indicar ao cliente, no que se refere ao
contrato que é fornecido:
i) Se baseia os seus conselhos na obrigação de fornecer uma análise imparcial
prevista no nº 2; ou
75
O Artigo 13 da diretiva cuida da forma/dos meios de prestação das informações impostas ao intermediário de seguros
pelo Artigo 12.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 83
76
Salvo por algumas poucas exceções (e.g., Alemanha), a grande maioria dos países já possuía regimes próprios para
a disciplina dos intermediários de seguros. Tais legislações nacionais tiveram que ser reformadas para se adaptarem à
Diretiva 2002/92/EC.
77
Diretivas são instrumentos normativos vinculantes em relação à finalidade por elas prescrita, mas deixam espaço aos
Estados-Membros para a escolha da forma e do método de implementação. Conforme esclarecem CRAIG e DE BÚRCA,
“[d]irectives are particularly useful when the aim is to harmonize the laws within a certain area or to introduce complex
legislative change. This is because discretion is left to Member States as to how the directive is to be implemented.”
(CRAIG, Paul, DE BÚRCA, Gráinne. EU Law – Text, Cases, and Materials. 4. ed. New York: Oxford University Press,
2008. p. 85)
78
Sobretudo quanto aos requisitos de informação exigidos dos mediadores de seguros.
79
Vide http://ec.europa.eu/internal_market/insurance/consumer/mediation/#maincontentSec3.
80
Proposta de revisão da IMD: EC. European Comission. Proposal for a Directive of The European Parliament and of
The Council on insurance mediation. Disponível em: <http://ec.europa.eu/internal_market/insurance/docs/consumers/
mediation/20120703-directive_en.pdf>. Acesso em: 30 dez.2013.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 85
81
Idem, ibidem.
82
“In concrete terms, the IMD2 project should achieve the following improvements: expand the scope of application of IMD1
to all distribution channels (e.g. direct writers, car rentals, etc.); identify, manage and mitigate conflicts of interest; raise the
level of harmonization of administrative sanctions and measures for breach of key provisions of the current Directive; enhance
the suitability and objectiveness of advice; ensure sellers’ professional qualifications match the complexity of products sold;
simplify and approximate the procedure for cross-border entry to insurance markets across the EU.”
83 Também conhecidos como agregadores on line de seguros, os insurance aggregator websites são sítios da internet que
congregam cotações de várias seguradoras simultaneamente para as coberturas procuradas. No Brasil, o serviço ainda é
incipiente, mas já existem alguns poucos sítios que prestam tais serviços.
86 • Em Debate
• close links (conexões ou relações próximas) definem arranjos com pessoas conec-
tadas e acertos que podem afetar a capacidade do regulador de supervisionar
eficazmente; e
• remuneration é definido para incluir não apenas pagamentos (taxas, comissões,
etc.), mas também benefícios pecuniários de qualquer tipo.
A IMD 2 deve ser aprovada em breve pelo Conselho da União Europeia e pelo
Parlamento Europeu antes de sua adoção com eficácia normativa vinculante. A expec-
tativa inicial do mercado era de que tais aprovações tivessem ocorrido em 2013 para sua
entrada em vigor em 201584.
Para os fi ns deste trabalho, destaquem-se as seguintes disposições presentes
na “consideranda” da IMD2, que salientam a preocupação de manter o consumidor
de seguros bem informado na hipótese de laços entre o intermediário de seguros e
a seguradora:
84
Vide http://www.nortonrosefulbright.com/knowledge/publications/69251/revised-insurance-mediation-direc-
tive e http://www.bakermckenzie.com/files/Publication/803a2d89-c011-47ef-a8a7-f89d4683e987/Presentation/
PublicationAttachment/88c4fda1-d62c-4b67-aaef-fd5495a6c4d9/al_belgium_imdii_jul12.pdf. Acesso em 30 dez.2013.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 87
85
“(30) Consumers should be provided in advance with clear information about the status of the persons who sell the
insurance product and about the remuneration which they receive. There is a need to introduce a mandatory status disclo-
sure for European insurance intermediaries and insurance undertakings. This information should be given to the consumer
at the pre-contractual stage. Its role is to show the relationship between the insurance undertaking and the intermediary
(where applicable) as well as the structure and the content of the intermediaries’ remuneration.
(31) In order to mitigate conflicts of interest between the seller and the buyer of an insurance product, it is necessary
to ensure sufficient disclosure of remuneration of insurance distributors. Accordingly, for life insurance products, the
intermediary and the employee of the insurance intermediary or the insurance undertaking should be obliged to inform
the customer about its remuneration, in advance of the sale. For other insurance products, subject to a transitional period
of 5 years, the customer must be informed of the customer’s right to request this information, which must be provided
to the customer upon request.
(32) In order to provide a customer with comparable information on the insurance mediation services provided regardless
of whether the customer purchases through an intermediary, or directly from an insurance undertaking, and to avoid the
distortion of competition by encouraging insurance undertakings to sell direct to customers rather than via intermediar-
ies in order to avoid information requirements, insurance undertakings should also be required to provide information
about remuneration to customers with whom they deal directly in the provision of insurance mediation services about the
remuneration they receive for the sale of insurance products.
[…]
(35) It is essential for the customer to know whether he/she is dealing with an intermediary who is advising the customer
on products from a broad range of insurance undertakings or on products provided by a specific number of insurance
undertakings.”
88 • Em Debate
Capítulo VI.
Requisitos de informação e regras de conduta profissional
Artigo 15
Princípio geral
Artigo 16
Informações gerais fornecidas por intermediário
de seguros ou empresa de seguros
Artigo 17
Conflitos de interesse e transparência
(a) se ele tem uma participação, direta ou indireta, superior a 10% dos
direitos de voto ou do capital de uma determinada empresa de seguros;
(b) se uma determinada empresa de seguros ou empresa-mãe de uma
determinada empresa de seguros tem uma participação, direta ou
indireta, superior a 10% dos direitos de voto ou no capital do inter-
mediário de seguros;
(c) em relação ao contrato proposto, se:
(i) ele dá aconselhamento baseado numa análise justa;
(ii) ele está sob uma obrigação contratual de conduzir negócio de
mediação de seguros exclusivamente com uma ou mais empresas
de seguros. Neste caso, ele deve fornecer os nomes dessas
empresas de seguros; ou
(iii) ele não está sob a obrigação contratual de conduzir negócios de
mediação de seguros exclusivamente com uma ou mais empresas
de seguros e não fornece aconselhamento à base de uma análise
justa. Neste caso, ele deve fornecer os nomes das empresas de
seguros com as quais deve e pode conduzir negócios
(d) a natureza da remuneração recebida em relação ao contrato de seguro;
(e) se, em relação ao contrato de seguro, ele trabalha:
(i) com base em uma taxa, que é a remuneração paga diretamente
pelo cliente; ou
90 • Em Debate
86
“Chapter VI.
Information Requirements and Conduct of Business Rules
Article 15
General principle
1. Member States shall require that, when carrying out insurance mediation with or for customers, an insurance inter-
mediary or insurance undertaking acts honestly, fairly and professionally in accordance with the best interests of its
customers.
2. All information, including marketing communications, addressed by the insurance intermediary or insurance undertak-
ing to customers or potential customers shall be fair, clear and not misleading. Marketing communications shall be
clearly identifiable as such.
Article 16
General information provided by the insurance intermediary or insurance undertaking
Article 17
Conflicts of interest and transparency
1. Prior to the conclusion of any insurance contract, an insurance intermediary – including tied ones – shall provide the
customer with at least the following information:
(a) whether it has a holding, direct or indirect, representing more than 10% of the voting rights or of the capital in
a given insurance undertaking;
(b) whether a given insurance undertaking or parent undertaking of a given insurance undertaking has a holding, direct
or indirect, representing more than 10% of the voting rights or of the capital in the insurance intermediary;
(c) in relation to the contract proposed, whether:
(i) it gives advice on the basis of a fair analysis, or
(ii) it is under a contractual obligation to conduct insurance mediation business exclusively with one or more
insurance undertakings. In that case, it shall provide the names of those insurance undertakings, or
92 • Em Debate
(iii) it is not under a contractual obligation to conduct insurance mediation business exclusively with one or
more insurance undertakings and does not give advice on the basis of a fair analysis. In that case, it shall
provide the names of the insurance undertakings with which it may and does conduct business;
(d) the nature of the remuneration received in relation to the insurance contract;
(e) whether in relation to the insurance contract, it works:
(i) on the basis of a fee, that is the remuneration paid directly by the customer; or
(ii) on the basis of a commission of any kind, that is the remuneration included in the insurance premium; or
(iii) on the basis of a combination of both (i) and (ii);
(f) if the intermediary will receive a fee or a commission of any kind, the full amount of the remuneration concerning
the insurance products being offered or considered or, where the precise amount is not capable of being given,
the basis of calculation of all the fee or commission or the combination of both;
(g) if the amount of the commission is based on the achievement of agreed targets or thresholds relating to the
business placed by the intermediary with an insurer, the targets or thresholds as well as the amounts payable on
the achievement of them.
2. By derogation from paragraph 1 (f) for five years from the date on which this Directive comes into force, the inter-
mediary of insurance contracts other than contracts in any of the classes specified in Annex I of Directive 2002/83/
EC, shall, prior to the conclusion of any such insurance contract, if the intermediary is to be remunerated by a fee or
commission,
(a) provide the customer with the amount or, where the precise amount is not capable of being given, the basis of
calculation of the fee or commission or the combination of both, if the customer so requests.
(b) inform the customer of his right to request the information referred to in point (a).
3. The insurance undertaking or insurance intermediary shall also inform the customer about the nature and the basis of
the calculation of any variable remuneration received by any employee of theirs for distributing and managing the
insurance product in question.
4. If any payments are made by the customer under the insurance contract after its conclusion, the insurance undertaking
or intermediary shall also make the disclosures in accordance with this Article for each such payment.
5. The Commission shall be empowered to adopt delegated acts in accordance with Article 33. Those delegated acts shall
specify:
(a) appropriate criteria for determining how the remuneration of the intermediary – including contingent commission
– shall be disclosed to the customer as referred to in paragraph 1 (f) and (g) and paragraph 2 of this Article;
(b) appropriate criteria for determining in particular the basis of calculation of all the fee or commission or the
combination of both;
(c) the steps that insurance intermediaries and insurance undertakings might reasonably be expected to take to
disclose their remuneration to the customer.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 93
87
“A necessidade de transposição da directiva constitui, ainda, a oportunidade para a revisão global do actual ordenamento
jurídico nacional em matéria de mediação de seguros, uma vez que se reconhece que o mesmo carece de actualização
face à evolução do mercado segurador, às novas técnicas de comercialização de seguros e às exigências de aumento da
confiança no mercado, mediante o incremento da profissionalização, da credibilidade e da transparência na actividade de
mediação de seguros.” (trecho preâmbulo do Decreto-Lei nº 144/2006).
94 • Em Debate
88
“Parece que se incluem nesta categoria todas as pessoas singulares ou colectivas que comercializam
seguros associados aos seus bens ou produtos. Refira-se, a título de exemplo, empresas de venda de auto-
móveis que disponibilizam seguros automóvel; empresas que concedem crédito, que disponibilizam seguros
de vida; agências de viagem, que disponibilizam seguros de assistência e acidentes pessoais, bancos que
disponibilizam seguros de vida e de incêndio e outros danos em coisas a mutuários de crédito à habitação;
empresas que vendem bens diversos e disponibilizam seguros com coberturas de assistência e furto ou roubo.
(ALVES, Paula Ribeiro, ob. cit., p. 95, nota 240).
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 95
Artigo 31º
Deveres do mediador de seguros para com os clientes
Artigo 32º
Deveres de informação em especial
C) Ética e Integridade
89
A Lei nº 11, de 04 de abril de 2006, autorizou o Governo de Portugal a regular o acesso e o exercício da atividade de
mediação de seguros ou de resseguros, conferindo determinados poderes normativos e de supervisão ao ISP.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 99
A lentidão da justiça leva a que, no verão de 2012, não exista ainda jurispru-
dência publicada de tribunais superiores sobre a mediação de seguros, à luz do
Decreto-Lei nº 144/2006.
(CORDEIRO, 2013, p. 423)
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual
e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra,
mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada,
caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa
a ser negociada. [...]
90
ob. cit., p. 423.
100 • Em Debate
A nosso ver, existe entre o regime jurídico dos arts. 710 e 721, atinentes ao
contrato de agência e, com efeito, ao agente em geral, e o art. 775, concernente ao agente
de seguros, uma relação de especialidade, conquanto todos os dispositivos estejam
previstos no mesmo diploma legal. Nos clássicos ensinamentos de Bobbio:
A situação antinômica, criada pelo relacionamento entre uma lei geral e uma
lei especial, é aquela que corresponde ao tipo de antinomia total-parcial.
Isso significa que quando se aplica o critério da lex specialis não acontece a
eliminação total de uma das duas normas incompatíveis, mas somente daquela
parte da lei geral que é incompatível com a lei especial. Por efeito da lei especial,
a lei geral cai parcialmente.
(BOBBIO, 1999, p. 96-97)
[A] representação comercial autônoma, por defi nição legal; não pode ser
eventual. Não é ato instantâneo, ou de curta vida, que se esgota com uma ou
poucas operações, como é o caso da corretagem de Bolsa, quando o corretor,
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 101
na maior parte dos casos, é contratado para uma operação de compra ou venda,
esgotando-se o contrato quando se concretiza o negócio.
(REQUIÃO, 2003, p. 12)91
91
“O Código Civil, como se lê no texto do art. 710, atribui ao contrato de agência a natureza de permanente, de longa
duração, conceito também fixado no art. 1º da Lei nº 4.886/65 para a representação comercial. As relações das partes,
representante e representada, agente e proponente, têm características duráveis. O contrato não é instantâneo, pois não se
resolve de imediato à celebração ou execução do negócio intermediado. Ao contrário, a complexidade dos atos, a constância
dos contatos, a persistência do agente, as novas contratações que tenham como objeto os mesmos bens já solicitados pelos
mesmos ou novos clientes, a continuidade da intermediação para renovação dos contratos executados, visando a novos
fornecimentos, impõem a longa duração ao contrato examinado. A eventualidade, que pode ser elementos de certos tipos
de contratos de intermediação (caso da corretagem regulada pelos arts. 722 e s. do Código Civil), como já dito, não é
característica do contrato de agência.” (REQUIÃO, Rubens Edmundo, ob. cit., p. 13).
102 • Em Debate
o sujeito veste duas camisas ou utiliza dois chapéus distintos e autônomos, sem relação
de acessoriedade entre a corretagem e a agência e vice-versa.
Abra-se um parêntese para destacar que a norma do art. 775 do Código Civil
é autoaplicável, não se argumentando que sua eficácia dependesse de regulamentação
(CASSA, SORAGAYA JR., 2013, p. 71).92
Pois bem. Essa nova rotulagem legal (agente) não tem per se o condão de desna-
turar a qualidade de corretores de seguros detida por esses sujeitos. Afinal, conforme já
vimos no item 2.1 supra, a dicção do art. 1º da Lei nº 4.594/6493 é de largueza suficiente
para conter a atividade prevista no art. 775 do Código Civil sem conflitar com essa
norma. Daí ser possível falar em corretores de seguros-agentes de seguros sem que tal
terminologia constitua uma contradição em termos, contanto, a nosso ver, que o duplo
papel seja exercido separadamente, ou seja, não se misture numa mesma dada relação
de contratação de seguros.
A promiscuidade em um mesmo negócio, vale dizer, a confluência concomi-
tante dos papéis de, por um lado, corretor do segurado quanto a seu aconselhamento e
busca da apólice mais adequada e, por outro lado, agente da seguradora com deveres
de produção – isto é, de promoção de produtos de seguros –, em troca de remuneração
própria e específica, cria um estado de conflito de interesses. É o que, aliás, sugerem o
PLMA norte-americano, o IMD 1 e, sobretudo, o IMD 2 da União Europeia.
Vimos de passagem que a norma do art. 775 do Código Civil de 2002 não carece,
em princípio, de regulamentação. Nada obstante, a elevação promovida pelo legislador
civil do agente de seguros ao patamar legal não foi suficiente para provocar uma alteração
no mercado quanto à utilização desse intermediário.
92 “Nem se argumente que o art. 775 do CC pende de regulamentação. Segundo Rui Barbosa, normas autoaplicáveis ou
autoexecutáveis são aquelas que contêm determinações que, para serem executadas, ‘não se haja mister de constituir ou
designar uma autoridade, nem criar ou indicar um processo especial, e aquelas onde o direito instituído se ache armado
por si mesmo, pela sua própria natureza dos seus meios de execução e preservação.’” (Comentários à Constituição Federal
Brasileira, coligidos e ordenados por Homero Pires, vol II, São Paulo, Saraiva, 1933, p. 488). O art. 775 do CC não tem
sua eficácia condicionada à posterior edição de qualquer lei ou ato normativo para produzir todos os seus efeitos. O seu
conteúdo já reflete uma regra clara, não existindo qualquer óbice à sua imediata e plena aplicabilidade, sendo ela, portanto,
norma autoaplicável.”
93
“Art. 1º. O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e a
promover contratos de seguros, admitidos pela legislação vigente, entre as Sociedades de Seguros e as pessoas físicas ou
jurídicas, de direito público ou privado.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 103
Passados mais de dez anos da entrada em vigor do código, não se via qualquer
impacto decorrente da introdução da norma, de sorte que agentes de seguros autônomos
e ostentando esse título continuaram sendo uma raridade, praticamente inexistentes.
O termo “agente de seguros” era quase um tabu para a classe de corretores, provocando,
muitas vezes, arrepios quando pronunciado.
Na prática, nada mudara na vida dos corretores em função do art. 775
do Código Civil. Eis que, em 14 de junho de 2013, sobreveio consulta pública lançada
pela SUSEP com o objetivo de colher comentários e críticas sobre uma minuta de
resolução CNSP destinada a disciplinar a atuação do representante, pessoa jurídica,
das sociedades seguradoras denominado pelas autoridades por agente de seguros.
Consoante indicamos na abertura deste trabalho, a consulta pública dos agentes de
seguros provocou uma reação feroz da classe de corretores de seguros, temerosa
de que tal fato viesse a, de algum modo, prejudicar a sua confortável situação de
senhores absolutos da intermediação de seguros.
É difícil especular sobre a verdadeira motivação das autoridades de seguros
brasileiras para a iniciativa de regulamentar o art. 775 do Código Civil após uma década
de vigência do diploma.
Contudo, o contexto em que a citada consulta pública surgiu leva a crer que as
autoridades de seguros parecem ter buscado promover alguns ajustes importantes no
mercado de intermediação/distribuição de seguros, com o fito principal de intensificar
a proteção do consumidor de seguros.
Vale lembrar que a consulta pública do agente de seguros surgiu quase conco-
mitantemente com a consulta pública da proposta de normativo tendente a regulamentar
a atuação da rede varejista na comercialização de seguros, em nome das seguradoras.
Em relação a essa última, um dos focos de preocupação das autoridades de seguros
brasileiras era combater e moralizar a atuação de falsos estipulantes em prejuízo do
mercado consumidor.
O problema dos falsos estipulantes, sobre o qual não nos deteremos neste
trabalho, estava na prática, largamente utilizada, segundo a qual vendedores de seguros
na rede varejista passaram a se apropriar, de forma atécnica e anômala, da figura do
estipulante no contrato de seguro.
104 • Em Debate
[...] A pessoa física ou jurídica que contrata apólice coletiva de seguros, ficando
investido dos poderes de representação dos segurados perante as sociedades
seguradoras [...].
(CNSP, 2004)
A regra básica da estipulação nos seguros está prevista no art. 767 do Código
Civil de 200294, que reza:
A norma do art. 767 pressupõe que o estipulante, que contrata seguro em favor
de outrem, comungue interesses e tenha vínculo com o terceiro em favor de quem
o seguro é contratado. É geralmente o caso, por exemplo, do estipulante de seguros
em favor de membros de associações, sindicatos, ou de estipulantes-empregadores
em favor de empregados. O estipulante liga-se por representação, portanto, ao segu-
rado, podendo ser interessante ou vantajoso ao primeiro, mediatamente, que o último
obtenha a garantia do seguro. Este é o estipulante genuíno, o qual por isso zela pela
salutar manutenção do contrato de seguro em benefício do segurado, assumindo geral-
mente funções administrativas em relação ao seguro contratado e inúmeros deveres
de informação perante o segurado.
Falso estipulante é uma das denominações possíveis daquelas pessoas que,
abusando da dicção da norma, atuam profissionalmente como estipulantes na contra-
tação de seguros em favor de terceiros com os quais não guardam qualquer outra relação
duradoura senão a securitária.
94
Vide ainda o art. 21, §§ 1º e 2º do Decreto-Lei nº 73/66: “§1º – Para efeitos deste Decreto-Lei, estipulante é a pessoa
que contrata seguros por conta de terceiros, podendo acumular a condição de beneficiário. § 2º – Nos seguros facultativos,
o estipulante é mandatário dos segurados.”
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 105
95
A importância do seguro de grupo na distribuição de seguros é destacada por Paula Ribeiro Alves: “Os seguros de
grupo, em nossa opinião, surgem também como um canal de distribuição. [...] Julgamos que, na realidade, a seguradora
ao celebrar o contrato de seguro de grupo está a colocar no mercado, através do tomador de seguro, o seu produto.
[...] A distribuição através dos tomadores de seguros de grupo é um modo sui generis de distribuição, uma vez que é uma
parte no contrato de seguro que promove a sua comercialização. Não deixará, no entanto, de ser uma forma de distribuição
indirecta, uma vez que a seguradora coloca, indirectamente, através do tomador de seguro, os seus seguros no mercado.”
(Estudos de Direito dos Seguros – Intermediaçãço de Seguros e Seguro de Grupo. Coimbra: Almedina, 2007, p. 23-25).
106 • Em Debate
96
Publicado no sítio eletrônico da Associação do Ministério Público de Minas Gerais e disponível em <http://www.amp-
mg.jusbrasil.com.br>.
97
“Art. 4º. O plano de seguro de garantia estendida somente poderá ser contratado mediante emissão de apólice individual
ou de bilhete, observadas as legislações específicas, não se admitindo, em nenhuma hipótese, contratação por meio de
apólice coletiva.”
98
Art. 14. O segurado poderá desistir do seguro contratado no prazo de 7 (sete) dias corridos a contar da assinatura da
proposta, no caso de contratação por apólice individual, ou da emissão do bilhete, no caso de contratação por bilhete.
99
“Para efeitos desta Circular, entende-se como ‘organização varejista’ qualquer organização que pratique as atividades
de venda, revenda ou distribuição de mercadorias, novas ou usadas, em loja ou por outros meios, incluindo meios remotos,
preponderantemente para o consumidor final para consumo pessoal ou não comercial.” (Art. 1º, §1º)
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 107
Para não dizer mais, registre-se que seguradores, praticamente todos, para
poderem oferecer preços competitivos ou mesmo com o intuito de obter
melhores resultados, passaram a fazer uso de corretoras fictícias, comumente
denominadas cativas, ao invés das contratações diretas explícitas. Aqui uma
grave infração à lei. A relação das cativas com os seguradores burla o princípio
da autonomia dos corretores fixado no art. 125 do D.L. 73/66, que proíbe mante-
nham esses profissionais, seus prepostos, assim como os sócios ou diretores de
sociedades corretoras, relação de emprego ou de direção com sociedade segu-
radora. Embora tecnicamente não se trate de vínculo laboral, porque a lei veda
essa possibilidade, a relação do corretor cativo, assim como da pessoa jurídica
desse tipo, produz igual subordinação e dependência.
(TZIRULNIK, PIZA, 1996)
100
TZIRULNIK, Ernesto; PIZA, Paulo L. T., ob. cit., loc. cit.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
Atuação do Corretor de Seguros no País e no Direito Comparado • 109
Já tivemos ocasião de adiantar que o nomen juris agente de seguros, que era a
vocação exata da proposta de resolução lançada em consulta pública, não sobreviveu ao
processo de escrutínio público.
A Resolução CNSP nº 297, de 25 de outubro de 2013, adotou a expressão “repre-
sentantes de seguros” para caracterizar o que mundo afora é denominado agente de
seguros, apesar da tendência verificada em se designá-los pelo gênero intermediário
de seguros ou mediador de seguros, que inclui o agente de seguros, corretores de seguros
e figuras afins.
Não vemos sentido no disfarce, senão para talvez acalmar os ânimos mais exal-
tados de alguns corretores de seguros, incomodados com a iniciativa do CNSP de retirar
o agente de seguros do ostracismo. A definição do representante de seguros pelo regula-
mento, a qual é abaixo transcrita, não deixa qualquer dúvida de que ele é rigorosamente
o mesmo agente de seguros capitulado no art. 775 do Código Civil de 2002:
poderá exercer sua atividade para outra empresa, ou efetuar negócios em nome e
por conta própria, desde que não se trate de atividade concorrente com a da socie-
dade seguradora, observado o que dispuser no contrato celebrado entre ambos;
• O contrato celebrado entre a sociedade seguradora e o representante de seguros
deve dispor sobre a forma, a delimitação da zona de atuação, exclusividade,
rescisão e estipulação de prazo de duração, se determinado ou indeterminado.
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento
101
do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento
comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
112 • Em Debate
Conclusões
Diante do exposto, conclui-se que a expressão “representantes de seguros”,
nomenclatura empregada pela Resolução CNSP nº 297/2013, designa, na realidade, os
personagens da indústria de seguros que mundo afora são denominados “agentes de
seguros”. Aliás, a bem da verdade, também o Código Civil brasileiro de 2002 adota
essa terminologia internacional, embora com mínima variação, ao se referir aos agentes
autorizados do segurador, segundo dicção do seu art. 775.
A constatação acima torna difícil de explicar em bases técnicas a razão de o
CNSP ter se convencido de abandonar o termo “agente de seguros”, consagrado inter-
nacionalmente e previsto na proposta de resolução que, após consulta pública, transfor-
mou-se na Resolução CNSP nº 297/2013. Quer nos parecer que somente considerações
114 • Em Debate
de ordem política poderiam explicar essa mudança de rumo. É provável que o fator que
motivou o CNSP a assim agir tenha sido o intuito de não estimular uma reação corpora-
tivista contrária mais forte e exaltada dos corretores de seguros, os quais, como vimos,
ao menos por meio de suas entidades de classe, vociferaram contra a possibilidade de
regulamentação da figura do agente de seguros. Não vemos nenhuma procedência nessa
reação ou resistência dos corretores de seguros, mesmo porque a atuação do agente de
seguros, ao menos a partir do advento do Código Civil de 2002, passou a ser desemba-
raçadamente legal, podendo ser bem defendida contra eventuais ataques com suporte
no princípio constitucional da livre iniciativa.
Gostem os dirigentes da classe dos corretores de seguros ou não, o fato é que
essa regulamentação em caráter infralegal se deu, sendo absolutamente desimportante
para o Direito se sob o “exótico” nomen juris de “representantes de seguros” em lugar
do seu título original, genuíno e legítimo, de agentes de seguros.
A substância, por óbvio, prevalece sobre a forma, valendo recordar, ainda, que,
aos olhos do ordenamento jurídico brasileiro, o art. 775 do Código Civil de 2002 sequer
carecia de regulamentação para sua norma ser eficaz. Assim, entendemos que é possível
falar sem qualquer hesitação que temos devidamente regulamentada a figura dos agentes
de seguros, conquanto camuflada pelo CNSP sob outro nome.
O disfarce sob o rótulo “representantes de seguros” é de se lamentar, pois revela
uma face embaraçosa e atrasada da indústria de seguros brasileira, ainda refém de alguns
interesses classistas e corporativistas típicos de organizações oligárquicas, na contramão
do que já está sedimentado internacionalmente há várias décadas.
Vimos ainda que os agentes de seguros não são inteiramente novos na história
da indústria de seguros brasileira. A rigor, a sua presença é verificada nos primórdios
das atividades de seguros em nosso território, precedendo, inclusive, a atuação dos
corretores de seguros.
Embora os agentes de seguros tenham caído no esquecimento e quase desapa-
recido (movimento que coincidiu com a emergência e afirmação dos corretores e com o
acúmulo, na sua pessoa, de funções anteriormente afetas aos agentes de seguros), nunca
chegaram a ser inteiramente eliminados. Mesmo nos períodos de atuação mais tímida e
discreta dos agentes, normas inferiores do ordenamento previam a sua possibilidade de
existência (agentes gerais emissores), conquanto desencorajando, de certo modo, a sua
criação, dadas as severas restrições que relegavam a eles papéis residuais e secundários
de cooperação com seguradoras.
A Regulação do Agente de Seguros no Direito Brasileiro e sua Interrelação com a
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