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Curitiba
Multideia
2010
Capa: Sônia Maria Borba
Projeto gráfico e revisão: Fátima Beghetto
Impressão: Nova Letra Gráfica e Editora Ltda.
ISBN 978-85-86265-14-3
CDD 340(22.ed.)
CDU 340
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9
UNIDADE I
UNIDADE II
UNIDADE III
Capítulo 01
ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE OS DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL
[...] o que significa “proteção integral”? Quer dizer amparo completo, não
só da criança e do adolescente, sob o ponto de vista material e espiritual,
como também a sua salvaguarda desde o momento da concepção, zelando
pela assistência à saúde e bem-estar da gestante e da família, natural ou
substituta da qual irá fazer parte. Mas também outro sentido do ponto de
vista estritamente legal: é que toda a matéria passará a ficar subordinada
aos dispositivos do seu Estatuto, como de resto se deduz do último dos
seus artigos, o de n. 267. (1997, p. 51)
Em estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),
a entrada na adolescência representa mais que um período cronológico, pois
18 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
No Brasil, essa janela está aberta para 21.249.557 adolescentes que re-
presentam 12,5% da população brasileira. São garotos e garotas com ida-
de entre 12 e 18 incompletos que vivem um momento especial do seu
desenvolvimento. Um tempo de crises e conflitos próprios, mas também de
um imenso conjunto de possibilidades de mudanças e de questionamentos
fundamentais para o desenvolvimento de toda a sociedade. (SUDBRACK;
ALCÂNTARA, 2007, p. 5-6)
“Os homens não têm asas. Mas nós as construiremos, e então poderemos
voar.” A princípio, Ícaro achou ousado o plano do pai, genial arquiteto.
Mas depois, ao seu lado, começou a procurar um meio de construir as asas
que os salvariam. O primeiro passo foi colecionar penas de aves e juntá-las
segundo os tamanhos. Em seguida, amarraram-nas com fios de linho, e
sob elas colocaram cera, para que ficassem coladas umas nas outras. Fi-
nalmente, a obra está pronta. Dois enormes pares de asas brancas espe-
ram Dédalo, o pai, e Ícaro, o filho, para levá-los, em longa viagem, pelos
céus da Grécia. Com uma tira de couro, o arquiteto amarra o belo engenho
ao corpo. Ícaro segue o exemplo. E ambos saltam para o infinito. Os pri-
meiros momentos de vôo são penosos. Os corpos não encontram o equilí-
brio exato, e tremem com o vento. Preocupado, o pai recomenda carinho-
samente ao filho que voe sempre numa altitude média: nem baixo demais
– para não mergulhar as asas no mar –, nem alto demais – para não quei-
mar as frágeis penas no calor do sol. Dédalo vai na frente, mostrando o
caminho ao filho. O vento favorável ajuda-os na difícil empresa. Mas Ícaro,
deslumbrado com a beleza do firmamento e com a música dos pássaros,
deixa-se chegar próximo demais do sol. Os raios ardentes amolecem a cera
20 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
autor de infração à lei penal, mas no instituir, como pacto entre as Nações,
a obrigatoriedade da regulamentação da possibilidade de poder resistir à
pretensão acusatória de que poderia resultar a aplicação de uma medida
ou de resistir à injustiça da medida aplicada. (KONZEN, 2007, p. 26-27)
Portanto, o que deve ser foco das preocupações em relação ao tema é qual
o sentido socioeducativo que está atrelado ao seu cumprimento e como superar
os caracteres negativos do estigma e da ausência de políticas públicas de prote-
ção, que envolvam a família, a comunidade e o Estado, pois “o importante é que
o adolescente envolvido em atos infracionais deve ser considerado como sujeito
em desenvolvimento e com autonomia, munido de garantias infracionais e pro-
cessuais. Caso contrário, perdura a concepção tutelar” (ROSA, 2007, p. 7). Isso
porque,
[...] numa sociedade, aquilo que faz a força das injustiças, da desordem
estabelecida, é a cumplicidade, isto é, a cooperação voluntária ou passiva
da maioria dos cidadãos com as ideologias, instituições, estruturas, siste-
mas, regimes e leis que criam e mantêm essas injustiças. A resistência
não-violenta visa romper essa cumplicidade por meio da organização de
acções coletivas de não-cooperação. (MULLER, 1995, p. 91)
Em outros termos, é preciso não cooperar com a violência e com isso agir
de forma não violenta. Além disso, os atos comunicativos se concretizam quando
o esclarecimento dos homens se dá pela instauração da paz e da resolução de
conflitos. Logo, “a estratégia da acção não-violenta quer suplementar mecanis-
mos de regulação de conflitos susceptíveis de os neutralizar e de os fazer evoluir
para uma solução pacífica” (MULLER, 1995, p. 87).
Ao se mencionar a necessidade de resolução de conflitos e de enfrenta-
mento da delinquência juvenil com ações sociais já referidas por Habermas, loca-
liza-se no seu centro a figura de um adolescente que, pelos atos agressivos ou
violentos, quer ser reconhecido e construir uma identidade no cenário social
(FEFFERMANN, 2006, p. 184). Então, para que se possa concretizar o princípio
da não violência com relação à adolescência, deve-se buscar o fortalecimento das
relações sociais, seja na escola, seja na família, e principalmente na comunidade.
A trajetória do adolescente que esbarra na legislação quando do cometi-
mento do ato infracional está um tanto distante do paradigma emancipatório
(RAMIDOFF, 2006, p. 67). Entretanto, é preciso ter cuidado com as frequentes
justificativas da produção social de atos infracionais como fruto da delinquência
pela estrutura psíquica, pela hereditariedade ou genética e pela família em condi-
ção de vulnerabilidade social, pois pode se estar querendo ocultar as reais ori-
gens decorrentes de fatores históricos, sociais e políticos. Se assim for procedi-
do, está se legitimando a desigualdade social e a violência (FEFFERMAN, 2006,
p. 185). Para se refletir sobre o discurso de reprodução social que paira sobre os
atos violentos e infracionais, eis a seguinte reflexão:
[...] até que ponto se pode responsabilizar um ser humano por sua cons-
tituição genética, seu desenvolvimento cerebral, sua infância traumática ou
30 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
mente das decisões que são de interesse coletivo, isto é, não discutem as políti-
cas públicas que priorizam as suas crianças e adolescentes.
Mesmo que se possa acreditar na proposta de democracia participativa,
apresentada por Habermas, que conclama a necessidade de os atores sociais
debaterem sobre suas prioridades sociais na esfera pública, de modo que a cida-
dania não se restrinja a um mero ato de votar, faz-se necessário, antes de coadu-
nar essa visão emancipatória, baseada na razão comunicativa, trazer também à
tona o pensamento de Michel Foucault sobre o poder que se produz com os dis-
cursos, muito embora tais construções sejam distintas da concepção dada por
Habermas.
Portanto, para Foucault, nos enunciados dos discursos, sejam eles falados
ou escritos, está no seu interior o poder, que se modifica de forma global. Além
disso, o poder não se dá exclusivamente pela repressão, pois, se assim o fosse,
tornaria tal noção inadequada, visto que a repressão não dá conta do que existe
de produtor no poder.
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente
que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele
permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.
Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo
social muito mais do que uma instância negativa que tem por função
reprimir. (FOUCAULT, 2001, p. 8)
[...] ele procura apoiar seu pensamento esclarecedor numa teoria da racio-
nalidade que abandona o purismo da razão pura, amparando-se numa ra-
zão comunicativa, situada historicamente, na praxis social, que é o lugar
onde a razão pode ser mediada concretamente como seu “outro”. O es-
clarecimento passa a ser visto como um processo de argumentação, que
tende reiteradamente à tarefa de mediação entre razão e não-razão, entre
razão e a esfera do poder, da dominação. (SIEBENEICHLER, 1989, p. 22)
de 1% (um por cento), sendo certo que o índice percentual dos atos infra-
cionais assemelhados ao tipo penal visto no art. 121, do Código Penal –
homicídio – é de 0,16% daqueles referidos 1% (um por cento). Isto é,
inexiste, pois, “criminalidade juvenil”, e, muito menos, “criminalidade ju-
venil violenta”, que justifiquem a adoção de medidas legais recrudesce-
doras da repressão e punição nos moldes do Direito Penal para jovens
autores de ações conflitantes com a lei, as quais, na verdade, em sua
grande maioria, circunscrevem-se a subtrações de reduzidos valores e
bens, quando não, a atitudes – dimensão comportamental – próprias à
fase de desenvolvimento da personalidade. Até porque, não é através da
repressão-punição exercida pelo Direito Penal que se resolverá o problema
da violência social. (RAMIDOFF, 2006, p. 190-191)
dução de distância entre Estado e sociedade, sem que isto signifique uma
cooptação dos atores sociais às políticas governamentais, razão pela qual
se justifica ainda mais a construção de espaços de autonomização e mani-
festação espontânea da cidadania, que passa a adquirir um viés gover-
nante. (HERMANY, 2007, p. 308)
Sob essa ótica é que se trouxe à tona o outro modelo de justiça, a Justiça
Restaurativa, que tem sido defendida e aplicada aqui no Brasil na execução de
medidas socioeducativas. A proposta ressalta a relevância do princípio da prote-
ção integral, como também quer banir das práticas institucionais a retributividade
e diminuir os danos ocasionados também pela violência institucional e estrutural
em relação aos atores envolvidos: adolescente, vítima e comunidade. Porém, há
de se atentar pela prática de linguagem não punitiva, caso contrário, tal modelo
será uma falácia.
A gestão local de rede prevê espaço para o compartilhamento de experiên-
cias e políticas. Igualmente, o Direito da Criança e do Adolescente também
48 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
terem a qualquer uma das medidas do artigo 129 do Estatuto. E tal acordo pode
ocorrer antes ou durante o processo, com o Ministério Público de um lado e as
partes envolvidas de outro, devendo ser levada à homologação judicial ou não,
que só então valerá como sentença, formando título executivo para cumprimento
na execução das medidas.
Quanto às medidas socioeducativas, essas podem recepcionar as práticas
restaurativas, pois, além de se propor um espaço de diálogo e escuta para os
atores sociais, tendo por premissa o distanciamento do discurso punitivo, tal
procedimento auxilia o magistrado a uma melhor leitura da realidade ou do caso
concreto que envolve o adolescente, para fins, por exemplo, de progressão de
medida. Pela particularidade de as medidas serem indeterminadas no tempo, o
sistema carece de interpretação não punitiva; logo, as concepções de Justiça
Restaurativa vêm proporcionando relevantes “subsídios na depuração das convic-
ções a respeito dos objetivos e abordagens a serem priorizadas durante o aten-
dimento socioeducativo” (BRANCHER, 2006a, p. 688), que anteriormente era
obscuro e distanciavam-se do caráter sociopedagógico.
No entanto, vale lembrar que a postura do Juiz da Infância e da Juventude
com a inserção da teoria da proteção integral deve se ater a defender os interes-
ses e direitos das crianças e dos adolescentes. Além disso, pode participar de
práticas que o aproximem mais da realidade do infante, porém a sua função social
deve ser bem distinta da “figura do bom pai”.
A Justiça da Infância e da Juventude pode ser propulsora de política de jus-
tiça e instrumento de expansão da cidadania (VERONESE, 2003, p. 442), como as
práticas restaurativas, desde que sob a égide da proteção integral, e de que o
espaço público seja devidamente ocupado pelos demais atores sociais, pelo fato
de serem corresponsáveis pelas crianças e pelos adolescentes.
UNIDADE II
Capítulo 01
JUSTIÇA RESTAURATIVA: PREMISSAS E
CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS
À medida que nossos desejos são os mesmos que os dos outros, gerando
rivalidade e disputa pelo domínio de um território, nasce o conflito, que provém
da incapacidade do sujeito de perceber que há “lugar para dois” (MULLER, 2006,
p. 22-23).
O direito existe também para mediar esses conflitos; logo, quando o Judiciá-
rio se propõe a aplicar outras alternativas de resolução de conflitos, como a Justiça
Restaurativa, é possível notar a inter-relação com a teoria da ação comunicativa
de Habermas, mais especificamente o que ela quer ensinar. Porém, aplicar uma
outra modalidade na área do Direito da Criança e do Adolescente representa en-
frentar discursos fundados nos valores antigos do menorismo e da situação irre-
gular, abrindo espaço para o paradigma restaurativo enquanto afirmação da teoria
da proteção integral.
52 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
que as relações entre os homens são movidas por ações que têm por finalidade
precípua a comunicação, ou seja, o entendimento mútuo. Desse modo, entende-
-se também que “a linguagem é o meio da ação comunicativa” (SIEBENEICHLER,
1989, p. 79).
Por conseguinte, os dois tipos de ações sociais desenvolvidos por Habermas
são: a ação não social instrumental e a ação social comunicativa. A primeira diz
respeito ao agir estratégico do sujeito, e a segunda refere-se ao agir comunicativo
direcionado ao interesse mútuo (HABERMAS, 1987).
No entanto, quando o tema envolve os adolescentes e o modelo de siste-
ma de Justiça, são nítidas as distorções sociais oriundas da falta de entendimento
na comunicação entre os atores sociais, que integram e constituem a sociedade
compartilhada. Do mesmo modo, percebe-se que as distorções nos atos comuni-
cativos entre esses sujeitos prejudicam o processo emancipatório individual e
também social (GUIMARÃES, 2005, p. 303). Assim, tornam-se imprescindíveis as
considerações gerais sobre a Justiça Restaurativa a partir de uma abordagem
conceitual e histórica, perpassando sobre sua origem e existência em vários paí-
ses, incluindo o Brasil, e após seus valores fundamentais, princípios e procedi-
mentos, adotando como referencial teórico autores como Jürgen Habermas e
Michel Foucault.
Abordar um sistema de justiça que atenda satisfatoriamente com seus ser-
viços aos interesses da sociedade é tarefa desafiadora, principalmente quando se
verifica a dicotomia existente entre o modelo retributivo e o restaurativo. Observe
que este está sendo incorporado em algumas práticas jurídicas brasileiras, com a
finalidade de melhorar o atendimento e construir um espaço propício que possi-
bilite o diálogo pacífico entre as partes envolvidas no conflito (HABERMAS, 1989).
A Justiça Restaurativa tem origem nos modelos de organização social das
comunidades pré-estatais, europeias e nas coletividades nativas, que privilegia-
vam as práticas de regulamentação social voltadas aos interesses coletivos sobre
os interesses individuais (JACCOUD, 2005, p. 163). Dito de outra maneira, a Justi-
ça Restaurativa é implementada nas sociedades ocidentais, baseando-se nas
tradições indígenas do Canadá, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia. Além
disso, destaca-se que a Irlanda é o país pioneiro no emprego dos procedimentos
restaurativos, especificadamente no que versa à resolução de conflitos juvenis.
A implementação das práticas restaurativas na Nova Zelândia deu-se pela
reivindicação da população maior, pois seus membros eram discriminados em
54 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
3 “Na região de Nova Gales do Sul, inspirados no chamado modelo Wagga Wagga de justiça,
membros da polícia local implementaram, em 1991, as Community Youth Conferences, criando
um programa gerido conjuntamente pela polícia, pelo Department of Juvenile Justice, pela New
South Wales Childrens´s Court e pelos Community Justice Centres. Como produto dessa expe-
riência, foi promulgado, com validade para todo o Estado de Nova Gales do Sul, o Young
Offenders Act, de 1997, pelo qual regulamentaram as sanções aplicáveis a jovens infratores,
dispondo-as em uma hierarquia de opções que passou a incluir conferências restaurativas.
Podem participar das conferências, além do jovem, a família, o advogado, policiais, a vítima e
seus apoiadores. Se optar por não participar, a vítima pode enviar representantes e, uma vez
presente, tem poder de veto sobre a solução deliberada. Eventualmente, podem participar
também membros mais velhos de comunidades indígenas, oficiais de probation e assistentes
sociais. O encaminhamento dos casos é feito pela polícia e, mais raramente, pela corte, quan-
do o magistrado inclui entre as disposições constantes da sentença a realização de uma con-
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 57
ferência. É preciso, para que haja encaminhamento, que se cuide de [sic] do jovem entre 10 e
17 anos que tenha cometido infração sujeita ao procedimento sumário, entre as quais estão o
roubo, o furto, o dano e as chamadas condutas desordeiras. São excluídas de plano ofensas
sexuais, ofensas que tenham resultado em morte e algumas ofensas relacionadas a drogas.
Uma vez indicado pela polícia, o caso é encaminhado ao Departament of Juvenile Justice (DJ J),
no qual ele é recebido por um administrador de conferências, que nomeia um facilitador
(chamado de conference convenor). Se houver conflito sobre a conveniência ou não de reali-
zação da conferência entre o DJJ e o órgão que houver encaminhado o caso, a decisão cabe ao
Director of Public Prosecutions (DPP).” (SICA, 2007, p. 93-94)
58 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
4 Ver a distinção em: (VEZZULA, 2004, p. 63) [...] temos apontado as características diferenciais
da mediação de conflitos a respeito do processo judicial (formal, adversarial e impositivo), da
negociação cooperativa (diálogo com objetivo resolutivo, autocompositivo), da conciliação
(procedimento rápido que inclui um terceiro que orienta e até pressiona na obtenção de um
acordo que, ainda que não satisfaça totalmente, consegue encerrar o assunto) e da arbitra-
gem (procedimento privado e misto: negocial e impositivo, que parte da escolha livre de um
terceiro para decidir sobre uma questão de sua competência). (VEZZULA, 2004, p. 63)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 59
5 “O grupo de estudiosos da Comissão de Prevenção do Crime e Justiça Penal das Nações Uni-
das está desde 2002 trabalhando para tentar definir algumas bases gerais da justiça restau-
rativa. Por Justiça restaurativa eles entendem todo o processo em que a vítima, o criminoso e,
quando for o caso, qualquer outra pessoa ou membro da comunidade afetado pelo crime par-
ticipe juntamente e de um modo ativo na resolução das questões derivadas do crime, com
ajuda de um mediador ou facilitador.” (Tradução livre.)
6 “[...] um novo movimento no campo da vitimologia e da criminologia. Reconhecendo que o
crime causa danos às pessoas e comunidades, insiste-se que a justiça repare esses danos e
que seja permitido às partes participar de todo processo. Os programas de justiça restaurativa,
por conseguinte, habilitam à vítima, ao ofensor e aos membros da comunidade diretamente
afetados de forma que lhes é dada uma resposta ao crime. Eles acabam sendo o centro do
processo de justiça penal, com profissionais do Governo e do Direito que servem como facili-
tadores de um sistema que aponta a responsabilidade do ofensor, a reparação para a vítima, e
permite a participação de todos os envolvidos na resolução do caso.” (Tradução livre.)
60 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
Dados mais recentes (MAXWELL et al., 2001), sobre 300 jovens que parti-
ciparam dessas reuniões restaurativas em 1998 na Nova Zelândia, mos-
tram, após uma análise preliminar, que mais da metade deles disseram que
se sentiam envolvidos no processo decisório; mais de dois terços, que ti-
veram oportunidade de dizer o que queriam; mais de 80%, que entendiam
a decisão; e mais de dois terços disseram que concordavam com a decisão.
Da mesma forma, pesquisas recentes na Austrália mostram que os jovens
infratores vêem as reuniões restaurativas como justas e estão satisfeitos
com seus processos e resultados (PALK et al., 1998; CANT e DOWNIE,
1998; STRANG et al., 1999; TRIMBOLI, 2000; DALY, 2001). No entanto, eu
também entendo que “restaurar” significa a compensação dos males cau-
sados tanto pela vítima como aqueles por ela sofridos. Isto significa que
nossas atitudes devem não somente ter como objeto as conseqüências do
crime, mas também os fatores que a ela estão subjacentes. Nenhum pro-
cesso, não importa o quão inclusivo, e nenhum resultado, não importa o
quão reparador, poderão magicamente desfazer os anos de marginalização
e exclusão social experimentados por tantos infratores (ver também POLK,
2001), muito menos poderão suprir a necessidade que têm as vítimas de
ajuda e aconselhamento terapêutico no longo prazo. [...] (MORRIS, 2005,
p. 449-450)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 65
Logo, o autor não tem precisão do que se entenda por restaurar danos
ocasionados pelo ato infracional, pois é notório no atual cenário de desigualda-
des sociais que certos atos violentos ocasionam feridas traumáticas, podendo ser
irrestauráveis (MORRIS, 2005, p. 449-450). Contudo, o espaço dialógico e inter-
subjetivo criado pela Justiça Restaurativa é a possibilidade de os sujeitos exter-
narem suas emoções e razões a respeito do fato e, diante disso, aprenderem a
conviver com o trauma, de tal forma que possam seguir adiante suas vidas.
De acordo com a rede de procedimentos restaurativos da Nova Zelândia, a
visão e a prática da Justiça Restaurativa são formadas por vários valores funda-
mentais que a distinguem de outras abordagens e estratégias de justiça para se
resolver conflitos. Os valores das práticas restaurativas são aqueles considerados
essenciais aos relacionamentos saudáveis, equitativos e justos, que são: partici-
pação, respeito, honestidade, humildade, interconexão, responsabilidade, empo-
deramento e esperança (MARSHAL; BOWEN, 2005).
A participação diz respeito aos mais afetados pela transgressão (vítimas,
ofensores e suas comunidades de interesses). Os atores sociais devem erguer
seus atos de fala e serem responsáveis pela coordenação das respectivas ações,
cabendo somente a eles a tomada de decisões, o que contribuirá para o acordo.
Quanto ao respeito, este deve ser mútuo e gerador de confiança e boa-fé entre
os atores sociais envolvidos no processo restaurativo. Por sua vez, nos atos de
fala faz-se necessária a honestidade, pois a verdade esclarece melhor os fatos e
a culpa dentro dos parâmetros legais.
Note-se, também, a relevância de os participantes do processo restaurativo
(que poderá se dar nos círculos restaurativos, nos encontros, nas conferências)
terem humildade, pois esta é uma condição humana que capacita a todos desco-
brirem o que há em comum. Além disso, a empatia e os cuidados mútuos são
manifestações de humildade.
Com isso, reforça-se ainda mais a interconexão entre os atores sociais,
bem como a Justiça Restaurativa reconhece que todos, independentemente de
serem vítimas ou infratores, estão interligados e fazem parte de uma sociedade
compartilhada. Portanto, as infrações ocorridas no meio social também são de
responsabilidade da sociedade, que pode contribuir na restauração da vítima e na
inclusão do ofensor. Não raro, constata-se que a própria sociedade, pela estru-
tura que a constitui, exerce um papel excludente; consequentemente, as desi-
gualdades sociais, os estereótipos e a forma de normatização das suas institui-
ções contribuem para o desenvolvimento de seres humanos evasivos e sem sen-
timento de pertencimento, o que pode levar à violência.
66 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
desse enfoque, destaca-se que a reparação deve ser decidida pelo próprio infra-
tor e pela própria vítima, e não por terceiros, como o juiz ou a sociedade.
Não importa o tipo de infração com o qual a pessoa se depare; o fato é que
este rouba a autonomia do sujeito, pois no exercício desse ato de violência um
indivíduo exerce o controle sobre o outro sem o seu consentimento. Porém,
quando esses indivíduos, na condição de vítima e ofensor, participam do processo
restaurativo são devolvidos à vítima os seus poderes. A vítima retoma seu papel
ativo para determinar quais são as suas necessidades humanas e como devem ser
satisfeitas (MARSHALL; BOWEN, 2005, p. 273). Por conta disso, também dá po-
der aos ofensores de responsabilizarem-se por seus atos e fazerem o possível
para remediar o dano causado, buscando a reabilitação e a integração. Em outras
palavras, o que ocorre nesse compartilhamento de mundos distintos, mas aproxi-
mados pela dor da violência, é uma espécie de empoderamento (SICA, 2007, p. 19).
Sica define o empowerment como: “a recuperação do poder de diálogo en-
tre as partes, suprimido pelo processo penal, assim como o poder de evitar o
processo e definir outras formas de regulação social distintas daquela única ofe-
recida pelas agências judiciais tradicionais” (2007, p. 19).
Ademais, a esperança deve nortear sempre as relações dos atores sociais,
sobretudo no restabelecimento das vítimas e principalmente no aspecto emocio-
nal e na mudança do ofensor de não delinquir novamente. As abordagens res-
taurativas visarão às necessidades presentes e futuras; por isso a esperança é
prioridade para aqueles que acreditam na possibilidade de construir uma socie-
dade melhor.
A Justiça Restaurativa recepciona inúmeras práticas, dentre elas, como
mencionado anteriormente, está a mediação, mas, por ser um modelo em cons-
trução e em transformação, não é possível delimitá-la a um tipo específico de
procedimento ou considerá-la sinônimo de mediação (SICA, 2007, p. 72). Enten-
de-se que a mediação
Uma das questões que permeia o tema é quando se pode utilizar os pro-
gramas de Justiça Restaurativa. Para Martín, poderão ser utilizados em qualquer
etapa do sistema de justiça penal da Espanha, por exemplo, desde que respeita-
da a legislação nacional. Os processos restaurativos poderão ser utilizados sem-
pre que existirem provas suficientes de autoria do delito contra o ofensor e o livre
consentimento da vítima em qualquer momento do processo. Os acordos deverão
ser construídos espontaneamente, nos quais os envolvidos (ofensor e vítima)
participam voluntariamente. Quando os processos restaurativos não são um re-
curso apropriado e possível, o caso deverá ser remetido para a justiça penal, que
decidirá sobre a forma de atuação (MARTÍN, 2006b, p. 158). Ressalte-se que,
ção que o contrário. Vale mencionar que a justiça restaurativa não é um mero
instrumento de desafogamento de trabalho dos tribunais, pois entre os seus
objetivos está a qualidade na prestação dos serviços institucionais. É importante
salientar que, como se trata de experiências recentes, torna-se difícil obter con-
clusões seguras em relação à diminuição da reincidência e do número de crimes
praticados devido à sua aplicação. No entanto, há pesquisas que indicam bons
resultados (SICA, 2007, p. 141).
11 “As necessidades não são uma subclasse dos desejos, mas elas informam sobre os estados
reais em que vivem os seres humanos, sobre situações, piores ou melhores, em que os
homens têm que realizar seus planos de vida, tendo que tomar importantes decisões, se é
que podem realmente.” (Tradução livre.)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 75
Nesse aspecto, considera-se que o Poder Público tem obrigação com seus
cidadãos, no atendimento às necessidades humanas básicas, que lhes assegurem
um mínimo existencial, pois estas fazem parte do núcleo central dos direitos fun-
damentais. Assim, reconhece-se que o seu atendimento possibilitará que as pes-
soas se entendam pela linguagem de maneira não violenta.
Entende-se por Comunicação Não Violenta (CNV) como um processo de
linguagem que capacita o sujeito a ouvir e a conectar-se com os sentimentos e as
76 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
12 “Sobre como achamos que os outros estão se comportando do que realmente estamos sen-
tindo: A. “Sinto-me insignificante para as pessoas com quem trabalho”. A palavra insignifi-
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 77
Sabe-se que o poder exerce uma atração sobre os seres humanos; por
isso, é denotado como uma das mais legítimas emoções, suas motivações são os
resultados, pois sempre se age para ser mais. A terminologia poder deriva do
latim potere, “ser capaz” (é energia). Portanto, sem poder não há ação ou movi-
mento. Logo, ele pode ser utilizado como um instrumento negativo para a satisfa-
ção do ego ou a serviço da vida, como energia de compartilhamento e não de
imposição. Assim, também pode-se entender por poder “a capacidade e habilida-
de de mudar nossas vidas”. “É a habilidade de definir as necessidades humanas
e resolvê-las.” “Poder é energia” (CLARET, 1996, p. 6).
As necessidades humanas básicas são compartilhadas por todos os sujei-
tos, independentemente da condição e da posição social que cada um detém.
Para a Comunicação Não Violenta, as pessoas geralmente confundem estratégias
com necessidades13. Um exemplo bem simples e claro é quando afirmam “ter
necessidade do dinheiro”. O dinheiro não é uma necessidade, é uma estratégia
de que se vale o ser humano para satisfazer uma necessidade, podendo ser a
autonomia, a autoafirmação, o amor, o calor humano, a comunhão espiritual (be-
leza, harmonia, ordem, paz), as necessidades físicas (abrigo, água, alimento,
expressão sexual), entre outras (ROSEMBERG, 2006, p. 86-87). Além do dinheiro,
o poder também não é uma necessidade básica do ser humano, embora ele seja
cante descreve como acho que os outros estão me avaliando, e não um sentimento real, que,
nessa situação, poderia ser “Sinto-me triste” ou “Sinto-me desestimulado.” B. “Sinto-me
incompreendido.” Aqui, a palavra incompreendido indica minha avaliação do nível de com-
preensão de outra pessoa, em vez de um sentimento real. Nessa situação, posso estar me
sentindo ansioso, ou aborrecido, ou estar sentindo alguma outra emoção. C. “Sinto-me igno-
rado”. Mais uma vez, isso é mais uma interpretação das ações dos outros do que uma descri-
ção clara de como estou me sentindo. Sem dúvida, terá havido momentos em que pensamos
estar sendo ignorados e nosso sentimento terá sido de alívio, porque queríamos ser deixados
sozinhos. Da mesma forma, terá havido outros momentos em que nos sentimos magoados por
estar sendo ignorados, porque queríamos participar.” (ROSEMBERG, 2006, p. 70-71)
13 “As necessidades básicas (de vida, de segurança, de filiação e de afeição, de respeito e de
dignidade pessoal, e de individuação ou autonomia), as emoções humanas básicas e as capa-
cidades humanas básicas são, ao que parece, neutras, pré-morais ou positivamente ‘boas’. A
destrutividade, o sadismo, a crueldade, a premeditação malévola etc. parecem não ser intrín-
secos, mas, antes, constituiriam reações violentas contra a frustração das nossas necessida-
des, emoções e capacidades intrínsecas. A cólera, em si mesma, não é má, nem o medo, a in-
dolência ou até a ignorância. É claro, podem levar (e levam) a um comportamento maligno,
mas não forçosamente. Esse resultado não é intrinsecamente necessário. A natureza humana
está muito longe de ser tão má quanto se pensava. De fato, pode-se dizer que as possibilida-
des da natureza humana têm sido, habitualmente, depreciadas”. (MASLOW, [s.d.], p. 27-28)
78 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
14 “O amor é a condição dinâmica espontânea de aceitação, por um sistema vivo, de sua coexis-
tência com outro (ou outros) sistema(s) vivo(s), e que tal amor é um fenômeno biológico que
não requer justificação: o amor é um encaixe dinâmico recíproco espontâneo, um aconteci-
mento que acontece ou não acontece. Como um encaixe dinâmico recíproco espontâneo, o
amor ocorre ou não ocorre. Se o amor ocorre, há socialização; se não ocorre, não há socializa-
ção. Além disso, eu também estou dizendo que como tal, o amor é a expressão de uma con-
gruência estrutural espontânea que constitui um começo que pode ser expandido ou restrin-
gido, ou pode mesmo desaparecer na deriva estrutural co-ontogênica que começa a acontecer
quando ele acontece. E, uma vez que eu digo que os fenômenos sociais são fenômenos que
se dão na deriva estrutural espontânea co-ontogênica, eu também estou dizendo que o amor
é o fundamento do fenômeno social e não uma conseqüência dele, e que os fenômenos sociais,
em um domínio qualquer de interações, duram somente enquanto o amor persistir nesse
domínio.” (MATURANA, 1997, p. 184)
80 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
15 “A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteú-
dos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetiza-
dos, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. [...]
A esfera pública constitui principalmente uma estrutura comunicacional do agir orientado pelo
entendimento, a qual tem a ver com o espaço social gerado no agir comunicativo, não com as
funções nem com os conteúdos da comunicação cotidiana.” (HABERMAS, 2003, p. 92)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 83
16 “Os seres humanos não devem se deixar levar para um relacionamento de “hostilidade” com
aqueles que encontram, em que todos sejam inimigos de todos; devem antes buscar estabele-
cer um relacionamento de “hospitalidade”, onde cada um é anfitrião do outro. É significativo
que as palavras hostilidade e hospitalidade derivem da mesma raiz etimológica: as palavras
hostes e hospes referem-se ambas ao estrangeiro ou forasteiro, que pode ser excluído como
inimigo ou acolhido como hóspede.” (MULLER, 2006, p. 28)
84 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
17 “Ações em sentido estrito, ou seja, atividades não lingüísticas do tipo citado como exemplo,
são descritas por mim como atividades orientadas para um fim (Zwecktätigkeiten) através das
quais um ator (Aktor) intervém no mundo, a fim de realizar fins propostos, empregando meios
adequados. Eu descrevo os proferimentos lingüísticos como atos através dos quais um falante
gostaria de chegar a um entendimento com um outro falante sobre algo no mundo. Eu posso
levar a cabo essas descrições assumindo a perspectiva do agente, portanto, da primeira pes-
soa. Contrastam com esta perspectiva as descrições feitas na perspectiva de uma terceira pes-
soa, que observa o modo como um ator atinge um objetivo através de uma atividade orientada
para um fim, ou como ele, através de um ato de fala, chega a um entendimento com alguém
sobre algo. Descrições na perspectiva da segunda pessoa são sempre possíveis quando se
trata de ações de fala (‘Você me ordena, (ele ordena) que eu deixe cair a arma’); no caso de
atividades orientadas para um fim, essas mesmas descrições somente são possíveis quando
introduzidas em contextos cooperativos (‘Você me entrega (ele entrega) a arma’).”
(HABERMAS, 1990b, p. 65)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 85
19 “Em sociedades complexas, as pretensões a uma participação justa nos casos recursos da
sociedade, isto é, os direitos positivos ao bem-estar (à alimentação e à habitação, à saúde,
educação e oportunidades de trabalho) só podem ser efectivamente satisfeitas através da
mediação de organizações. Assim sendo, os direitos e os deveres individuais transformam-se
em direitos e deveres institucionais: quem tem obrigações é a sociedade organizada como um
todo – é perante ela que são defendidos os direitos positivos.” (HABERMAS, 1991, p. 170)
20 “O campo semântico de conteúdos simbólicos, o espaço social e o tempo histórico constituem
as dimensões que as ações comunicativas compreendem. O entretenimento de interações de
que resulta a rede da prática comunicativa cotidiana constitui o meio através do qual se
reproduzem a cultura, a sociedade e a pessoa. Tais processos de reprodução somente se
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 87
Para que o espaço comunicativo seja construído, não significa que as polí-
ticas de atendimento e os princípios elencados no Direito da Criança e do Adoles-
cente devam ser abandonados e em seu lugar seja adotado o modelo da Justiça
Restaurativa, que é contemplado por outros países, como a Nova Zelândia. Ao
23 “Do ponto de vista de uma teoria da sociedade, o direito preenche as funções de integração
social; com efeito, associado ao sistema político configurado através das Constituições, o di-
reito assume a garantia pelas perdas que se instalam na área da integração social. Ele funcio-
na como uma espécie de correia de transmissão que transporta, de forma abstrata, porém,
impositiva, as estruturas de reconhecimento recíproco existentes entre conhecidos e em con-
textos concretos do agir comunicativo, para o nível das interações anônimas entre estranhos,
mediadas pelo sistema. Ao passo que a solidariedade – que é a terceira fonte da integração
social, ao lado do poder administrativo e do dinheiro – surge indiretamente do direito, pois
ele garante, através da estabilização de expectativas de comportamento, relações simétricas
de reconhecimento recíproco entre os titulares dos direitos subjetivos. Tais semelhanças es-
truturais entre direito e agir comunicativo que se tornam reflexivas, desempenham papel cons-
titutivo na produção e no emprego de normas de direito.” (HABERMAS, 2003, p. 308-309)
90 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
contrário, o que se pretende é lançar mão de mais uma ferramenta que, combina-
da à legislação brasileira, contribua para que se efetivem políticas públicas de
proteção, atendimento, promoção e justiça na área da infância e da juventude. A
adoção das práticas restaurativas que podem ser recepcionadas representa a
(re)significação e o reconhecimento dos atores sociais enquanto sujeitos de di-
reitos plenos. Por isso,
Capítulo 01
A RECONSTRUÇÃO DA SOLIDARIEDADE DOS ATORES
SOCIAIS A PARTIR DO ESPAÇO LOCAL – A EXPERIÊNCIA
DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM PORTO ALEGRE
24 “Autor e vítima se encontram. Todos somos ao mesmo tempo delinquentes e vítimas, pois o
mundo é unidade. Neste único mundo existem diferentes espaços de encontro. Nós não
poderíamos perguntar à maneira de Heidegger. Como se pode dispor adequadamente um
espaço para que se faça dele um lugar de encontro? (Tradução livre.)
92 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
ços devem ser centralizados para a inserção e a proteção das crianças e dos
adolescentes no atual contexto de desigualdades e exclusões sociais.
O espaço local não é um lugar sem hostilidade e isolado das consequências
oriundas da globalização, por isso toda experiência que proponha desenvolver
um trabalho sério e de mobilização social precisa estar ciente da complexidade e
da necessidade de reconstruir a solidariedade, como também resgatar o sentido
de comunidade.
A 3ª Vara do Juizado Regional da Infância e da Juventude de Porto Alegre
elaborou em parceria com algumas instituições ligadas à rede de proteção e
atendimento da criança e do adolescente o projeto piloto denominado “Justiça
para o Século 21”, que consiste na implementação do modelo da Justiça Restau-
rativa, tendo como premissa maior romper com as práticas punitivas herdadas da
Doutrina da Situação Irregular e enraizadas na cultura patriarcal e assistencialista.
Assim, se propõe a mudança comportamental e de atitudes, de tal maneira que o
agir comunicativamente dos atores sociais, baseando-se na linguagem não vio-
lenta, ocasione transformações institucionais e estruturais para um melhor aten-
dimento de adolescentes.
A expressão “práticas restaurativas” é empregada para se referir em geral
às diversas estratégias judiciais ou não que possibilitem aos envolvidos outra
abordagem como resposta à infração para a resolução do conflito. Saliente-se que
o procedimento adotado é o modelo dos círculos, baseado na experiência neoze-
landesa na área da Infância e da Juventude.
Desse modo, faz-se também necessária a ruptura dos discursos do poder que
encobrem a realidade social (FEFFERMANN, 2006, p. 126).
e operacional. Nenhuma das etapas deve ser extinta, pois tem relevância na práti-
ca propriamente dita.
Note-se que o pré-círculo é uma fase preliminar, que tem por finalidade
aproximar e preparar as partes envolvidas para o dia do círculo, procurando fixar
o encontro dos atores nos fatos e evitar uma discussão desgastante sobre o con-
flito. Ademais, é apresentado aos envolvidos o resumo dos fatos e como se dará
o círculo, em data e local definidos pelos coordenadores, que são técnicos da
justiça. Aliás, todo o trabalho desenvolvido por eles é devidamente documentado
(BRANCHER, 2006a, p. 686).
25 “Um processo que reúne as pessoas que desejam resolver um conflito, reconstruir vínculos,
reparar uma transgressão, oferecer apoio, tomar decisões ou realizar outras ações nas quais a
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 97
26 “Às diferentes funções dos círculos se dão o nome de círculos de diálogo. círculo de
reparação, círculos de planejamento, círculos de sentença, círculos de celebração, sendo
‘circulos de paz’ o uso mais genérico, assim como o que se utiliza para denominar os círculos
para as soluções de conflito. Os ‘Círculos’ representam uma alternativa aos processos
comumente utilizados para resolver conflitos e relacionar-se, os quais muitas vezes se fundam
na hierarquia e aplicam enfoques bidimensionais, como o de ganhar-perder, vítima-salvador,
inclusão-exclusão, branco-negro. Embora os círculos tenham sua origem nas tradições nativas
e aborígenes da Nova Zelândia e da América do Norte principalmente, são comuns e têm sido
utilizados em grande parte das comunidades indígenas do mundo. Os círculos congregam as
pessoas de tal maneira que gera confiança, respeito, iontimidade, boa vontade, sentido de
pertença, generosidade, solidariedade e reciprovidade entre elas. É um processo que não
tenta mudar o outro, sendo suficiente um convite para mudar a si mesmo e sua relação com a
comunidade, entendendo-se por comunidade as pessoas da família, do trabalho, da escola, a
igreja ou a associação de bairro. Os círculos têm mecanismos para criar um espaço ‘sagrado’
que derruba as barreiras entre as pessoas, abrindo-lhes novas possibilidades de relacionarem-
-se, de colaborarem e compreenderem-se mutuamente.” (Tradução livre.)
100 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
aos pais, não mais roubar e compromisso em pedir desculpas à vítima não pre-
sente ao círculo (BRANCHER; AGUINSKI, 2007).
Quanto a informações sobre o pós-círculo, que diz respeito ao acompa-
nhamento dos acordos pelos técnicos responsáveis pelas práticas restaurativas,
cinco casos foram cumpridos, um não foi cumprido, um foi cumprido parcialmente
e um sem registro (BRANCHER; AGUINSKI, 2007).
Como se pode notar, no ano de 2005, os círculos restaurativos não reper-
cutiram com a amplitude desejada pelas práticas restaurativas, pois dos vários
casos que se encontravam em condições de aplicabilidade e inserção a essa prá-
tica, apenas oito tiveram prosseguimento, o que demonstra a dificuldade de se
resolver conflitos pela não violência e principalmente de se distanciar do atual
modelo de justiça considerado retributivo, por ter nas suas práticas essencial-
mente a punição como cunho dissimulado de caráter pedagógico.
Baseado nos levantamentos desse período, a 3ª Vara do Juizado da Infân-
cia e Juventude procurou se articular e estabelecer melhor suas metas de trabalho
e abordagem com os círculos restaurativos, que centralizaram um espaço e pes-
soal qualificado para o atendimento dos casos que eram recepcionados pela Jus-
tiça Restaurativa. Assim se originou a Central de Práticas Restaurativas.
Já no ano de 2006, a Central de Práticas Restaurativas obteve um total de
133 casos distribuídos. Nesses casos, 26 círculos (19,5%) foram realizados,
destes: 20 com a participação da vítima e 06 de natureza familiar, sem a partici-
pação da vítima. Saliente-se apenas sete pós-círculos foram realizados. Os casos
em andamento, que naquele período eram 22, passaram para o ano de 2007
(16,5%), casos encerrados no pré-círculo foram 73 (54,9%) e casos não inicia-
dos e não realizados 12 (9,0%).
Um dos pontos que merece ser destacado são os casos encerrados no pré-
-círculo, que apresentaram os seguintes motivos: não admissão de autoria do fato,
oito (11,0%); ofensor e vítima não aceitaram, dois (2,7%); vítima impossibilitada
em participar, um (1,4%); ofensor impossibilitado em participar, um (1,4%);
ofensor aceitou, mas não compareceu, um (1,4%); vítima aceitou mas não com-
pareceu, um (1,4%); não localização do ofensor, quatro (5,5%); não localização
da vítima, três (4,1%); avaliação técnica, cinco (6,8%); técnicos não conseguiram
realizar o círculo; oito (11,0%); e por decisão judicial, dois (2,7%). Desses, sali-
enta-se dois pela maior proporcionalidade, 21 (28,8%), porque o ofensor não
aceitou participar; e 16 (21,9%), em que a vítima não aceitou participar.
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 105
sociais, pois há uma ilusão de que nela as discussões são amigáveis e amenas,
que os interesses são voltados à coletividade em prol da harmonia, embora a
palavra comunidade evoque tudo aquilo de que se sente falta e de que se precise
para viver seguro e confiante no mundo contemporâneo28.
Nesse sentido, Sica traz à discussão as dificuldades de se resgatar o signi-
ficado de comunidade, principalmente nos grandes centros urbanos, onde são
raras as relações pessoais e o convívio nos espaços sociais. Contudo, enfatiza
que a proposta da Justiça Restaurativa é a de resgatar as relações comunitárias
(2007, p. 15). Porém,
o que se observa é que o preenchimento do conteúdo do termo “comuni-
dade” deve ser obtido de acordo com as [...] peculiaridades operativas de
cada programa [...]. Por exemplo, em certos lugares a comunidade é com-
preendida no sentido de community of concern , ou seja, aquelas pessoas
mais diretamente relacionadas com o ofensor e com a vítima (familiares,
amigos, vizinhos) e que, de alguma forma, podem dimensionar os efeitos
ou foram afetados pelo crime e colaborar para uma solução consensual.
Em outros lugares, a comunidade pode ser concebida por meio da partici-
pação de entidades da sociedade civil organizada que trabalham em de-
terminadas situações, ou seja, a regra básica é “respostas diferentes, para
contextos diferentes”. (SICA, 2007, p. 15)
Verifica-se, desse modo, que, para se obter êxito nos programas de Justiça
Restaurativa, faz-se necessária a participação da comunidade, de maneira coo-
perativa e responsável. Além disso, para que se tenham sujeitos responsáveis,
solidários, cooperativos e que se sintam pertencendo àquela respectiva comuni-
dade, torna-se relevante o reconhecimento do capital social e o seu fortaleci-
mento com as políticas públicas sociais.
No entanto, essa assertiva não é simples, pois resgatar o sentido de comu-
nidade parece uma busca incessante de um lugar que seja aconchegante e que
acolha os seus membros, independentemente das divergências de pensamento. O
28 [...] “comunidade” é o tipo de mundo que não está, lamentavelmente, a nosso alcance – mas
no qual gostaríamos de viver e esperamos vir a possuir. Raymond Williams, atento analista de
nossa condição comum, observou de modo cáustico que o que é notável sobre a comunidade
é que “ela sempre foi”. Podemos acrescentar: que ela sempre esteve no futuro. “Comunida-
de” é nos dias de hoje outro nome de paraíso perdido – mas a que esperamos ansiosamente
retornar, e assim buscamos febrilmente os caminhos que podem levar-nos até lá. (BAUMAN,
2003, p. 9)
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 115
cumprem esses objetivos de forma mais completa que a votação pela von-
tade da maioria. Nessa nova forma de responder ao crime estão as se-
mentes para um modo de praticar todas as novas funções democráticas.
(PRANIS, 2006, p. 609)
para que a Justiça Restaurativa atinja seu objetivo maior, que é diminuir a violên-
cia institucional. Primeiramente, é preciso reafirmar que a teoria da proteção inte-
gral visa garantir a condição e o reconhecimento da criança e do adolescente
como sujeitos de direitos. Segundo, destaca-se a necessidade de o Estado
implementar políticas públicas básicas de enfrentamento à pobreza, à exclusão
social e às desigualdades sociais. Contudo, se o locus da Justiça Restaurativa está
na comunidade, é preciso questionar: de qual comunidade se está falando?
Hodiernamente, percebem-se as dificuldades do atual sistema de Justiça da
área da Infância e da Juventude em dirimir os conflitos. Tais demandas estão
atreladas a vários motivos, em especial a pobreza, a exclusão e a desigualdade
social. Compreende-se, ainda, que a Justiça não consegue promover sozinha a
efetivação dos direitos de crianças e adolescentes, pois essa instituição repre-
senta apenas uma parte da rede de atendimento que deve ter agregada a si
outros segmentos, como o município responsável pela implementação de progra-
mas de medidas socioeducativas em meio aberto, assim como a concretude de
políticas setoriais de saúde, educação e assistência social (MELO, 2006, p. 658).
Como se verifica,
Portanto, embora a Justiça Restaurativa possa ser tida como uma política
pública de inclusão social por escutar e conclamar que os atores envolvidos se
manifestem significativamente em um determinado espaço, por si só não atende o
que se deve contemplar em uma política pública efetiva, devido à necessidade de
complementaridade de outras políticas públicas que atendam e envolvam as famí-
lias; políticas públicas que explorem a cooperação e a confiança de uma comuni-
dade (ou espaço local) para resolver seus próprios conflitos.
De qualquer sorte, pode-se dizer que a Justiça Restaurativa é uma utopia,
como a educação, a comunidade e a justiça enquanto solidariedade e acesso para
todos. Mas o que é a utopia? Para Santos,
A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por
via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, só porque
existe, em nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem di-
reito de desejar e por que merece a pena lutar. (1999, p. 323)
29 “A substituição dos homens uns pelos outros, desrespeito original, torna possível a explora-
ção. Na história – história dos Estados – o ser humano aparece como o conjunto de suas
obras – vivo, ele é sua própria herança. A justiça consiste em tornar novamente possível a
expressão em que, na não-reciprocidade, a pessoa se apresenta única. A justiça é um direito à
palavra.” (LEVINAS, 1980, p. 278)
124 André Viana Custódio – Marli Marlene Moraes da Costa – Rosane Teresinha Carvalho Porto
Com isso, pode-se afirmar que a educação tem um papel relevante e tam-
bém deve educar para a não violência. Para que tal proposta seja possível, não se
deve esquecer que a violência “é a expressão de algo que não conseguiu ser
dito” e que a resposta deve ser “uma tentativa de restabelecer a comunicação”.
Por conta disso, é importante que as instituições educacionais estabeleçam redes
com a comunidade e que busquem as organizações de bairro, especialmente
aqueles sujeitos que tenham um papel social de mediação ou liderança (MULLER,
2006, p. 68-69).
A educação também é uma ação comunicativa para a difusão da paz, por-
tanto reforça-se ainda mais a sua função social em preparar a comunidade pela
linguagem contra a cultura da violência (GUIMARÃES, 2005). Logo, as políticas
públicas básicas e socioeducativas como a Justiça Restaurativa devem ser traba-
lhadas no espaço local para cotejarem resultados satisfatórios.
O Estado precisa cumprir plenamente suas responsabilidades como poder
público, intervindo como agente interessado na defesa, na garantia e na
ampliação de direitos. A implementação dessa política implica a participa-
ção da sociedade e a fixação de previsões orçamentárias concretas. Como
se sabe, os Conselhos de Direitos, os Conselhos Tutelares e os Conselhos
de Assistência são atores centrais da política de assistência, cabendo-lhes
elaborar estratégias e programas de ação, com o apoio material dos res-
pectivos governos estaduais e municipais e no nível federal. Os Conselhos
devem saber combinar suas ações com as do Judiciário e do Executivo. Os
governadores e prefeitos precisam ser mobilizados para apoiar os Conse-
Justiça Restaurativa e Políticas Públicas: uma análise a partir da teoria da proteção integral 125
sujeito, que identifica nesse mesmo espaço diverso a solidariedade, como a local
do agir comum.
aceito por todos. Desse modo, mesmo que a verdade seja dissimulada, não
importará para o círculo restaurativo o sentimento de arrependimento ou veraci-
dade e sim a capacidade de se responsabilizar pelo seu ato, de tal forma que as
alternativas apresentadas para a elaboração conjunta de um acordo sejam legíti-
mas e aceitas pelos demais atores sociais. Se assim o for, pode-se afirmar que o
atual modelo de justiça não está ocupando novos espaços para continuar propa-
gando e aplicando suas práticas punitivas.
Entre as funções do direito está a sua capacidade de solucionar conflitos
pela cooperação, integração e sociabilização entre os atores sociais. Sabe-se que
os atores sociais são os sujeitos livres na condição de cidadãos, que agem comu-
nicativamente, e por meio das articulações e mobilizações sociais transformam o
seu entorno social. Além disso, considera-se o próprio direito um paradigma pro-
cedimentalista, quando, por exemplo, não se detém estritamente ao conteúdo da
norma, mas ao procedimento que se adotará para a solução de um conflito, como
as práticas restaurativas. Observe-se mais uma vez a sua inter-relação necessária
com a Teoria da Ação Comunicativa.
De sorte, a Justiça Restaurativa como espaço de diálogos é desenvolvida no
Brasil em três localidades: São Caetano do Sul, em São Paulo, Brasília, no Distrito
Federal, e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na 3ª Vara do Juizado Regional
da Infância e da Juventude. Salienta-se que em Porto Alegre, com a experiência,
via “Projeto Justiça para o Século 21” os facilitadores que realizam os círculos
restaurativos ou as práticas restaurativas adotam dois procedimentos para a sua
execução. O primeiro é a técnica da Comunicação Não Violenta (CNV), do psicólo-
go Marshall Rosenberg, e a segunda é a técnica da mediação. Denota-se que a
CNV trabalha com uma linguagem limpa, sem subterfúgios e que principalmente
reafirma a importância de se conduzir o diálogo entre os interlocutores, explorando
as suas necessidades humanas e básicas. Resta assim a mediação, que pode ser
considerada como processo restaurativo, porém, a abordagem emprega outras
técnicas ou terminologias diferenciadas para que se resolva o conflito. Geral-
mente se tem procurado utilizá-la com a CNV nos conflitos de natureza familiar.
Trabalhou-se na construção e reconstrução da parte histórica do Direito da
Criança e do Adolescente, com a conexão e o desvelamento do discurso assisten-
cialista, filantrópico e punitivo, que se dissimula pela violência estrutural e pelas
suas mais variadas facetas – a violência institucional e intrafamiliar – como um
discurso necessário e protetivo. Isso significa reconhecer que as práticas puniti-
vas permanecem latentes e servindo de estratégia de controle social e aniquila-
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