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Anotações: ASSOUN, P.

Introdução a epistemologia freudiana

Prefácio
 O que a epistemologia coloca em questão?
 “A possibilidade de submeter o saber analítico a uma investigação capaz de
detectar suas condições de possibilidade, seus princípios, seus métodos e suas
fontes”
 “O que está em jogo, não é uma epistemologia indo buscar em Freud um
referente que se trataria, em seguida, de generalizar ou formalizar” “Não se trata
de nos aproveitar das contribuições freudianas para delas inferir uma
epistemologia, reclamando-nos, consequentemente, de Freud. Nosso objetivo é
muito mais positivo: detectar a identidade freudiana, tomada em sua
idiossincrasia histórica, teórica e pragmática, investigando suas origens, seus
fundamentos e suas finalidades. Partimos, pois, do seguinte fato elementar: a
reivindicação, por Freud, da psicanálise como um saber. Ora, todo saber possui
regras de funcionamento próprias e seus referentes específicos, operando na
constituição e na produção desse saber. Basta compreendermos o que são essas
regras e esses referentes como funcionam, esboçando, em seguida, em sua terra
natal e em sua linguagem de origem, essa identidade epistêmica freudiana
condicionando a posição de todo discurso relativo a Freud.”
 “É na literalidade do discurso freudiano e na objetividade de seu meio que
deveremos procurar esse fundamento epistemológico, estando atento para não
projetar todo constructo que não esteja implicado nessa literalidade. Neste
sentido, Freud será nossa garantia essencial, visto ser ele quem forja sua
epistemologia pensando sua prática científica.

Introdução

 Alemanha
 Problemáticas envolvendo a questão de uma epistemologia freudiana
 Maria Dorer: uma das mais sérias tentativas para se detectar os fundamentos
históricos do texto freudiano – filiação da psicanálise à psicologia oriunda de
Herbart (materialismo)
 Ludwig Binswanger: tentativa interessante de vincular a psicanálise à seus
referentes próprios – teoria naturalista – uma antropologia “em sua doutrina,
Freud não coloca ênfase principal na mudança da existência, mas naquilo que,
na mudança, permanece igual a si mesmo: a pulsão”
 Destituição da historicidade – “Freud chega ao limite universal do método das
ciências naturais em geral, que é o de começar por reduzir o mundo a um fato
desprovido de sentido para, em seguida, deixar que o homem explique
subjetivamente esse fato artificialmente objetivo.
 França
 Roland Dalbiez – método psicanalítico e doutrina freudiana - O erro
fundamental de Freud consiste no fato de tomar seu sistema por um bloco
intangível e de não separar claramente seu método e sua doutrina –
Consequência: como a doutrina freudiana está repleta de construções metafísicas
e de interpretações inverificáveis acontece que estas são apresentas no mesmo
plano que os fatos, o que acarreta controversas sem saída.
 Somente o método permanece no terreno puramente cientifico, já sua doutrina
pode ser aceita ou rejeitada, pois constituem apenas um quadro próprio a colocar
ordem nos fatos.
 O freudismo não penetrou na França com a psicanálise
 “era preciso corrigir Freud para produzir uma exposição autentica da
psicanálise”
 Jean Hyppolite – Psicanálise e filosofia
 Para apreciar a significação filosófica da obra freudiana, não se deve temer ir
além de certas formulações do mestre e explicitar um sentido que ele mesmo não
formulou” Em outras palavras, a pesquisa de Freud vale infinitamente mais que
a linguagem pela qual ele a decifra: é preciso separá-la da linguagem para
reconquistá-la em sua pureza primitiva. Este é o trabalho filosófico da
psicanálise: depuração de ganga positivista.
 J. Hyppolite questiona a identidade epistêmica da psicanálise – “Ao despojar a
psicanálise dessa linguagem na qual ela pensa e forja seus termos, não é a
própria identidade freudiana que se atinge? – O valor da psicanálise viria daquilo
que ela investiga, das unidades de sentido que elucida, mas sua fraqueza
proveria do essencial: da plataforma epistêmica dos princípios e da linguagem.”
 Problemática energética e uma teoria do sentido. Freud, porém, nunca se
apresentou como sintetizados da energia e do sentido.
 Nele naturalismo e hermenêutica estão vinculados como uma única e mesma
linguagem.
 P. Ricoeur (1961) – O problema epistemológico do freudismo – aporia:
energética e hermenêutica
 Qual o estatuto da representação relativamente às noções de pulsão, de objetivo
de pulsão e de afeto? Como compor uma interpretação do sentido pelo sentido
com uma economia de investimentos, desinvestimentos e de contra-
investimentos? À primeira vista, parece que há antinomia entre uma explicação
regulada pelos princípios da metapsicologia e uma interpretação que se move
necessariamente entre significações e não entre forças, entre representações e
não entre pulsões. Todo o problema da epistemologia freudiana parece
concentrar-se numa única questão: como é possível que a explicação econômica
passe por uma interpretação que versa sobre significações e, em sentido oposto,
que a interpretação seja um momento da explicação econômica?”
 A questão pendente é a de elucidar qual das origens lhe dará direito à
legitimidade e a autenticidade epistêmicas, sendo a investigação conduzida do
ponto de vista hermenêutico e o sendo a questão freudiana apenas um fragmento
da questão genérica da Interpretação e de seus conflitos.
 EUA
 Otto Fenichel – “A teoria psicanalítica das neuroses” – procura formalizar os
elementos do saber a partir de uma perspectiva mentalista/desenvolvimentista
que apreende elementos considerados irracionais a partir de conotações
biológicas, postulando como os fatores constitutivos as necessidades e o meio.”
 Toda teoria digna deste nome deve ser suscetível de validação empírica e de
procedimentos determinados de verificação. Ora, a base da psicanalise
freudiana, longe de repousar sobre fatos e procedimentos, é toda construída
sobre o cal de noções com conotações metafísicas, tomadas de empréstimo à
energética de seu tempo. Por outro lado, a interpretação freudiana remete à
arbitrariedade , por não se apoiar em procedimentos permitindo objetivar tal
configuração de enunciados.
 “A questão consiste em compreendermos como o saber se forja no procedimento
freudiano, em sua historicidade e ordenado à constituição de sua objetividade
específica. Antes de ser interpretado do exterior, ele exige que seja apreendido
em seu húmus próprio”.
 “Revisionismo epistemológico: uma vez que a epistemologia freudiana é negada
e desvalorizada do exterior, resta apenas um passo até a correção. Desta forma;
só se poderão ser salvos os resultados dessa teoria considerado indigente,
reajustando os fatos à doutrina. Observemos que foi isso que realizou Fenichel,
retraduzindo em seu mentalismo genético as aquisições freudianas. Mas
enquanto essa transcrição fenicheliana foi feita súbito e espontaneamente, como
se Fenichel tivesse lido Freud diretamente nas categorias da psicologia genética,
sem prévio desenvolvimento crítico, sabemos que a psicologia do ego
retranscreve sistematicamente as aquisições freudianas num quadro susceptível
de renová-las.”
 David Rapaport: “A estrutura da teoria psicanalítica” – datar a psicanalise do
dado observável: condutas, estruturas, organismo. “A metapsicologia não é mais
senão o despistamento de modelos heurísticos que são, ao mesmo tempo, sua
desconstrução e sua ‘verdade’ experimental. Assim, a linguagem histórica da
epistemologia freudiana se converte apenas na metáfora da linguagem autêntica
de sua descoberta: behavorista”
 Albert Ellis e Peter Madison – reconstrução operacionalista “a dinâmica do
recalque é pluralizada numa soma de manifestações testáveis, a tópica se
espatifa num quebra cabeça hipotético; a energética se quantifica obstinada em
indicadores.

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