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Como você imagina porque a morte é tema tabu na sociedade atual?

Trabalho para composição de nota da matéria Tanatologia

Professora Léa P. de Arruda Oliveira

Aluna: Patrícia Soares Carletti

RA 20710035

Acredito que o tabu da morte esteja ligado ao fato de que viver é lidar
com incertezas.

A morte evidencia o fim de tudo. A incerteza do lugar para onde se vai


quando se morre, se é que se vai para algum lugar, causa muitas
angústias.

Mesmo para as pessoas que são religiosas. Por exemplo, conheci uma
senhora, dona Lurdes que era católica fervorosa, trabalhava na igreja,
participava ativamente de todas as atividades promovidas pela
comunidade, tinha uma fé linda de ver que inspirava a tantos. Casada há
23 anos quando a conheci, tinha um marido super apaixonado e um filho
de 19 anos. Ela tinha 42 anos e o marido 44 anos na época. O filho
resolver viajar com uns amigos no carnaval e voltou pra casa numa caixa
de madeira vítima de um acidente de carro. Foi uma trágica na vida da
família. Ela precisou ficar em terapia do sono durante 7 dias pois chorava
tanto que chegava a desmaiar. Quando voltou pra casa, ainda chorava
muito, triste e angustiada demais mas já não desmaiava. Ela não foi mais
a igreja. O padre foi visita-la e não lhe dirigiu nem palavras nem olhares.
Simplesmente o ignorou como se ele não estivesse ali. A fé e a prática
religiosa se foi junto com o filho. Segundo ela, uma frieza invadiu por
dentro do corpo, ela sentia um frio estranho a maior parte do tempo e por
isso, mesmo estando calor, ela sempre estava com um xale e uma
blusinha. Mesmo que se pratique uma religião, exercite a fé em alguma
comunidade, mesmo acreditando que o filho descansou nos braços do
Senhor como dizem os religiosos, na verdade não sabemos para onde
vamos quando morremos. Essa incerteza traz uma angústia e ao mesmo
uma revolta, uma sensação de limitação pois não se pode fazer nada para
evitar o que não sabemos como, onde ou quando vai acontecer. Porém, a
morte faz parte da vida. Isso mostra que não temos controle sobre a
morte como temos controle sobre algumas coisas da vida. A vida e morte
fazer parte da própria vida e não somos ensinados sobre a importância da
morte e por esse motivo, muitos de nós não temos um projeto de vida e
portanto, a morte soa tão ruim.

Penso que talvez, se olhássemos mais para a morte, poderíamos


aproveitar melhor o tempo que temos pois sem um plano, perdemos ele, o
tempo, de vista e portanto, a finitude da vida.

Tem outro ponto que também vale a pena considerar, que é a questão de
que não se pode ficar triste. A vida tem que ser feliz, tem badalada,
comemorada senão, não vale. Tem princípios que creio ser importante
para atravessarmos a dor e a delícia de viver e morrer que é a palavra. A
palavra registra o conhecimento, as memórias, os momentos que
vivemos e a forma como vivemos. Através da palavra registramos a
lembrança do que dizemos e do que ouvimos, ou seja, acompanhada da
palavra, é preciso que exista uma escuta seja ela de que natureza for:
cuidadosa, carinhosa, acolhedora, gentil. Quem passa por uma perda
carrega no peito a dor e a angústia da perda por conta desse tabu
chamado morte que é igual a fim, precisa de alguma forma se esvaziar
porque faz sentido pensar que essa angústia gere um morto-vivo que fica
vagando por aí por não tratar de seus mortos, por não olhar para essa
morte. É preciso uma escuta que não julgue, mas que antes d qualquer
coisa, acolha e respeite esse momento que é muito dolorido, que abala
muito, que é um luto que precisa ser vivido. Antigamente essa escuta,
esse consolo era encontrado nos padres, pastores, xamãs, líderes
religiosos, representantes de uma comunidade e hoje podemos consultar
uma psicóloga que vai emprestar sua escuta e ajudar a elaborar a perda e
amadurecer a relação necessária com a própria essência para que se
possa reconstruir.

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