Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOCIOAMBIENTAIS
Volume II
Grão-Chanceler
Dom José Antônio Peruzzo
Reitor
Waldemiro Gremski
Vice-reitor
Vidal Martins
Pró-Reitora de Graduação
Maria Beatriz Balena Duarte
MULHERES E CONFLITOS
SOCIOAMBIENTAIS
Volume II
Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho
CEP 80.230-100 - Curitiba - Paraná - Brasil
www.direitosocioambiental.org
contato@direitosocioambiental.org
Conselho Editorial
Antônio Carlos Sant’Anna Diegues
Presidente Antônio Carlos Wolkmer
José Aparecido dos Santos Bartomeu Melià, SJ (in memorian)
Bruce Gilbert
Vice-Presidenta Carlos Frederico Marés de Souza Filho
Liana Amin Lima da Silva Caroline Barbosa Contente Nogueira
Clarissa Bueno Wandscheer
Diretora Executiva Danielle de Ouro Mamed
Flávia Donini Rossito David Sanchez Rubio
Edson Damas da Silveira
Primeira Secretária Eduardo Viveiros de Castro
Amanda Ferraz da Silveira Fernando Antônio de Carvalho Dantas
Heline Sivini Ferreira
Segundo Secretário Jesús Antonio de la Torre Rangel
Oriel Rodrigues de Moraes Joaquim Shiraishi Neto
José Aparecido dos Santos
Tesoureira José Luis Quadros de Magalhães
Jéssica Fernanda Maciel da Silva José Maurício Arruti
Juliana Santilli (in memorian)
Conselho Fiscal Liana Amin Lima da Silva
Andrew Toshio Hayama Manuel Munhoz Caleiro
Anne Geraldi Pimentel Maria Cristina Vidotte Blanco Tárrega
Priscila Lini Milka Castro Lucic
Priscila Lini
Rosembert Ariza Santamaría
PREFÁCIO
Bruna Balbi Gonçalves, Liana Amin Lima da Silva,
Maria Cristina Vidotte Blanco Tárrega e Nadia Teresinha da Mota Franco ............ 7
INTRODUÇÃO
reprodução da atividade.
Em um segundo momento, faz-se um apanhado acerca de diferentes
fatores que promovem a desigualdade de gênero para as mulheres pescado-
ras. Confere-se um enfoque no acesso ao seguro defeso, um direito também
previdenciário, que teve sua concessão suspensa às mulheres pescadoras
da Laguna dos Patos, em virtude de um entendimento errôneo por parte
do Ministério do Trabalho e Emprego. A abordagem deste conflito vem
à tona para assinalar que a garantia de direitos sociais está sempre em
disputa, não se constituindo uma benesse do Estado, mas, antes, uma luta
por cidadania.
E, por fim, o artigo se dedica a contrapor as regras atuais de concessão
de aposentadoria por idade rural e as futuras regras de acesso ao benefício,
caso a PEC 06/2019 seja aprovada, bem como questionar a atuação do
Poder Executivo para empreender esta drástica modificação na Previdên-
cia, já que as reformas nesta área são uma realidade desde a promulgação
da Constituição. Após, examinam-se possíveis consequências decorren-
tes da reforma, levando em consideração dois aspectos principais sobre a
PEC 06/2019 que afrontam a Constituição Federal: a desconsideração
da categoria de gênero para a concessão da aposentadoria por idade rural
e a incompreensão das dificuldades do labor rural.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
(...)
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos
termos da lei, obedecidas as seguintes condições
(...)
II – sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade,
se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais
de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de
economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro
e o pescador artesanal. (Constituição Federal de 1988) (grifo nosso)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
php?acao=consulta_processual_resultado_pesquisa&selForma=NU&txt-
Valor=50108743820144047107&chkMostrarBaixados=S&selOrigem=-
TRF&hdnRef Id=af2bc5f6623d7786c3d3f80a64c60db9&txtPala-
vraGerada=dnFa. Acesso em 30 de maio de 2019.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem entre seus objetivos, verificar mesmo que de forma
breve, o processo de apropriação das terras indígenas no Estado de Mato
Grosso do Sul, a consequente consolidação do latifúndio e do agronegócio,
bem como o impacto que este processo trouxe para a vida das populações
indígenas, em especial para as mulheres Guarani e Kaiowá. Além do que,
evidenciar as lutas e resistência destas mulheres. Neste ínterim, percebe-se
que, se, por um lado o sistema as oprime e as discrimina, por outro, estas
mulheres resistem e lutam por seus direitos.
Quanto a metodologia que utilizamos para este trabalho, enfatiza-
mos a busca pela revisão bibliográfica sobre o tema, também elegemos
trabalhar com a prática da “escuta” de mulheres indígenas. Dentre as
fontes consultadas, recorremos ao Documento Final elaborado na VI
Kunãgue Aty Guasu de 2018. Enfatizamos que este é um trabalho que
está em processo de construção.
No que tange aos resultados parciais deste trabalho, entendemos
que uma compreensão mais ampla dos desafios que os povos indígenas,
1 Doutoranda em História, PPGH-UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados);
Doutoranda em Direito, PPGD-PUCR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná),
Professora UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).
Contato: roselystefanes@gmail.com
2 Acadêmica 4º ano Curso de Direito, UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul).
Contato: julianalyno@hotmail.com
30 | ANÁLISES SOBRE O AGRONEGÓCIO E O SEU IMPACTO NA VIDA DAS MULHERES INDÍGENAS GUARANI
E KAIOWÁ NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ENTRE LUTAS E RESISTÊNCIAS
Mato Grosso do Sul, este processo foi conduzido pelo grupo que ocupava
o poder político e econômico. Almeida (2012), afirma que o processo
separatista, executado no governo Militar de Geisel, foi um projeto polí-
tico atrelado a estes dirigentes do Estado. A partir de 1980, este cenário de
concentração de terras e renda, de aldeamento compulsório, e de aumento
das desigualdades, fez com que esta fosse acentuada, desencadeando movi-
mentos incisivos de lutas por territórios e por direitos.
Em abril o fazendeiro mandou tirar os bois de uma área usada para pasto
e começou a preparar a terra para plantar. Começou a jogar o calcário e
depois a pulverizar com agrotóxico. As nuvens de poeira e veneno são
levadas pelo vento para a comunidade”. (Palavras de uma moradora da
comunidade).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13 Apesar de não ser objeto deste trabalho o tema do feminismo comunitário indígena,
compreendemos que é importante, trazer algumas considerações.
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 43
de seu bem viver fazem parte de uma prática descolonizadora que vem
romper com uma colonialidade de poder (Quijano, 2009).
REFERÊNCIAS
Relatório Human Rights Watch. “Você não quer mais respirar veneno” As
falhas do Brasil na proteção de comunidades rurais expostas à dispersão
de agrotóxicos. Impresso nos Estados Unidos da América , 2018.
CAMPESINAS Y AGROBIODIVERSIDAD:
DERECHO DE SER Y VIVIR EN EL CAMPO
INTRODUÇÃO
políticas públicas que garantam essa vivência. Para além disso as campo-
nesas enfrentam outra luta, que mostra que o avanço da classe depende da
derrubada do patriarcado; o que faz com que dentro das relações sociais
familiares e com os movimentos sociais de luta pela terra são necessários
criação de espaços de reflexão, conhecimentos e construção de ações que
permitam que as relações humanas no campo sejam mais igualitárias; que
o patriarcado rural seja desconstruído, permitindo a participação efetiva
das camponesas nas lutas sociais, sem a carga excessiva da tripla jornada
no campo: cuidar da casa; da educação dos filhos e trabalhar no roçado.
Nesse processo de desconstrução do patriarcado rural o fazer coletivo
mostra-se necessário, pois, não basta conhecer e reconhecer as condições
opressoras que vivem as camponesas, é necessário construir saídas através
de ações sociais que influenciem as mudanças necessárias que permitam
a mudança das relações sociais no campo.
transformação.
O discurso urbano de que as mulheres possuem igualdade de direitos
e que as suas lutas e pautas avançam não encontram o mesmo amparo
no campo, onde a dominação masculina se faz presente e se reproduz
de geração para geração, onde a suposta força física masculina alimenta
as relações familiares fez com o projeto fosse um espaço de construção e
afirmação da camponesa quanto ser em construção, na busca por igualdade
de direitos sociais.
De forma, que a autoafirmação quanto camponesa nesses encontros
e quanto mulher em construção foi sempre reforçado com a intencionali-
dade clara de permitir que essas camponesas construíssem suas autonomias
a partir do domínio de conhecimentos.
A camponesa além de ter que se afirmar como mulher nesse espaço
agrário, lutar contra o patriarcado, também tem que desconstruir a con-
cepção de que é natural a divisão de trabalho entre homens e mulheres
no campo, principalmente, quando essa divisão de trabalho implica em
sobrecarga de trabalho para a mulher e que não há valoração desse traba-
lho, segundo Christiane Campos no livro organizado pelo Setor de Gênero
do Movimento dos Trabalhadores Rurais: Construindo novas relações de
gênero: desafiando relações de poder (2003, p. 21):
sociedade capitalista que vivemos e por isso, não há espaço para atribuir
todos os males do mundo aos camponeses e nem a salvação, mas, entender
que estes marcham ao longo da história humana como classe que busca
sua permanência na terra.
O campesinato, como bem destaca o estudioso Ariovaldo Umbelino
Oliveira, se produz e reproduz dentro da sociedade capitalista e nessa
condição se faz classe por lutar por sua sobrevivência e essa sobrevivência
significa formas criativas de vida que implica em relações sociais dentro
da classe e para fora da classe. Mesmo em processo migratório o camponês
sempre volta para o campo.
O campesinato deve, pois, ser entendido como classe social que ele é. Deve
ser estudado como um trabalhador criado pela expansão capitalista, um
trabalhador que quer entrar na terra. O camponês deve ser visto como um
trabalhador que, mesmo expulso da terra, com freqüência a ela retorna,
ainda que para isso tenha que (e)migrar. Dessa forma, ele retorna à terra
mesmo que distante de sua região de origem. É por isso que boa parte da
história do campesinato sob o capitalismo é uma história de (e)migrações.
(OLIVEIRA, 2007, p. 11)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, Valter Israel da. Classe camponesa: modo de ser, de viver e pro-
duzir. Porto Alegre: Padre Josimo, 2014.
INTRODUÇÃO
Saneamento, foi criado em 1996 pelo governo federal, porém até 2002
este tinha como objetivo apenas coletar dados sobre prestadores de serviços
de água ou esgoto, e só a partir de 2002 é que o “componente resíduos
sólidos começou a ser investigado” (BRASIL, 2019).
Após dez anos em operação o sistema ainda apresenta falhas críticas
como informações desatualizadas, incompletas, imprecisas não pertinentes
e não confiáveis (CONDURU, 2012).
O problema acontece, em parte pela forma que os dados são obti-
dos, muitas informações são baseadas em questionários preenchidos pelas
secretarias municipais onde o responsável, na maioria das vezes, não é da
área e está no cargo graças a indicação política.
Catadores de resíduos existem a muito tempo. Para Dias (2016) a
recuperação de materiais a partir do lixo é uma atividade milenar, de fato,
na idade média os menos favorecidos sobreviviam graças às sobras das
classes dominantes.
Segundo Coelho (2016b), cerca de 1,5% da população mundial
economicamente ativa na Ásia e na América Latina obtém seu sustento a
partir de atividades provenientes da coleta seletiva de resíduos.
No Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA,
buscou em 2016 apresentar uma estimativa da quantidade de catadores
de resíduos ativos em território nacional chegando ao número de 387.910
(trezentos e oitenta e sete mil e novecentos e dez) indivíduos (PEREIRA
& GOES, 2016). Esses dados são bem próximos aos 398.348 (trezentos e
noventa e oito mil trezentos e quarenta e oito) catadores divulgados pelo
Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (USP,
2016).
Com a introdução da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os
municípios foram obrigados a encerrar seus lixões até 02 de agosto de
2014, o que acabou não acontecendo e os lixões acabaram sobrevivendo
até os dias de hoje. Com isso o Brasil perdeu uma ótima oportunidade
de encerrar os lixões e acabar com os passivos ambientais gerados (LOSS
et al., 2015).
Assim, a pesquisa tem como objetivo fazer um diagnóstico das
mulheres catadoras de materiais recicláveis no Município de Tabatinga,
no Estado do Amazonas, em relação a sua satisfação profissional, condições
de ambiente de trabalho e de saúde, se são estrangeiras ou não, tendo em
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 69
Figura 1
Datas escalonadas para o encerramento dos lixões municipais
Tabela 01
Município de fronteira do Amazonas e
critérios de encerramento dos lixões
CATADORAS DE RESÍDUOS
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÕES
CONDIÇÕES DE TRABALHO
SATISFAÇÃO PROFISSIONAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
USP. Censo 2010: bases de dados do projeto Censo. São Paulo, 2016.
Disponível em: <https://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1147>.
Acesso em 16/02/2019.
GÊNERO E INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS:
MULHERES GUARDIÃS DA BIODIVERSIDADE?
INTRODUÇÃO
saqueia os trabalhos que geram a vida e que são vistos como “femininos por
excelência”. Curioso é que tais trabalhos são chamados de “reprodutivos”,
quando em verdade são produtores da vida, enquanto que os trabalhos
chamados “produtivos” são aqueles cujo produto é matéria morta - merca-
doria. Por que somente a mercadoria é tida como produtiva e com valor?
Foi devido às injustiças e à violência que as atividades de manter a
vida foram colocadas como tarefas inferiores, assim como responsabilida-
des de mulheres e não de homens. Gestação de vidas, alimentação, coleta de
água, atenção às crianças, cultivos de hortas, plantas medicinais e o cuidado
não mercadológico com a saúde. Viver e fazer nascer é apresentado como
função das mulheres e como algo necessário, mas sem importância ou
valor, pois significa a “perda de tempo” para a produção de mercadorias.
A gestação e a maternidade atrapalham a utilização de corpos humanos
no mercado de trabalho.
Os trabalhos culturalmente preservados sobremaneira pelas mulhe-
res rurais sintetizam relações da vida com o território, por isso os conflitos
socioambientais, por afetarem o acesso ou o desenvolvimento dos citados
trabalhos no território, impactam principalmente as mulheres. Não restam
dúvidas. As mulheres, principalmente as rurais, são mais impactadas pelos
conflitos socioambientais, não por um fato essencial, biológico, mas decor-
rente de uma onda esparsa e múltipla no tempo e espaço de profundas
injustiças sociais, as quais se expressam, por exemplo, nas relações, sim-
bolismos e percepções que baseiam o que chamamos de ordem machista,
de consciência fragmentária e patriarcal.
Diante disso, cabe analisar o quanto dizer que as mulheres são “guar-
diãs da biodiversidade” e incentivar essa realidade, por exemplo, mediante
programas de pagamento por serviços ambientais prestados por mulheres
na conservação da biodiversidade, para além da relevante visibilidade que
proporciona, também pode reafirmar papéis de gênero constituídos pelo
modelo patriarcal sexista, impondo injustamente às mulheres cargas de
trabalho e responsabilidades que deveriam ser de todos. Diante desse todo,
este artigo é um manifesto para escapar de soluções jurídico-políticas de
cunho essencialista e ressaltar que as injustiças colocam as mulheres não
no papel de vítimas, mas de re-existência na construção de uma realidade
que potencializa a vida e cria novos sentidos.
86 | GÊNERO E INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS: MULHERES GUARDIÃS DA BIODIVERSIDADE?
livre para usufruto violento das coisas e dos “outros” máquinas (PRE-
CIADO, 2013). As primeiras máquinas da Revolução Industrial foram
vivas: trabalhadores da roça escravizados, trabalhadoras do sexo, as mulhe-
res reprodutoras e os animais (PRECIADO, 2019). Os seres sem natureza
individualizada e os animais foram destituídos de essência, meras coisas
para uso irresponsável, para o bel prazer.
Quando o discurso descolonial “dissolve o “Ocidente” e seu produto
supremo - o Homem, ou seja, aquele ser que não é animal, bárbaro ou
mulher, mas que é autor de um cosmo chamado história” (HARAWAY,
2009, p. 49), uma fissura se coloca na ordem patriarcal. A partir das ela-
borações ecofeministas são assinalados importantes “paralelos históricos,
culturais e simbólicos entre a opressão e a exploração das mulheres e da
Natureza” (BARRAGÁN, LANG & CHÁVEZ, 2016, p. 103). A leitura
ecofeminista desde uma perspectiva descolonial articula a denúncia da
colonização e de sua herança: a colonialidade, como forma patriarcal de
domínio. Sendo assim, trata-se de uma crítica radical ao sistema capita-
lista e à lógica do desenvolvimentismo etapista, propondo estratégias de
descolonização e despatriarcalização.
O ecofeminismo crítico distancia-se dos essencialismos e identifica
as mulheres com a natureza a partir da construção histórica e social de
gênero presente em cada cultura, também das divisões sociais de trabalho,
de tarefas, de papéis sociais e das relações de poder político e econômicas
relacionadas, denunciando os processos coloniais (BARRAGÁN, LANG
& CHÁVEZ, 2016). Esta corrente mostra, assim, que o destino dos opri-
midos, em especial das mulheres, devido a sua esparsa e longa história
de perseguição ao lado da natureza, está intimamente ligado ao destino
da Terra e que a relação desses oprimidos com o meio deve ser reconhe-
cida, mas, sobretudo, suas razões devem ser questionadas, revelando as
injustiças que a permeiam. O desenvolvimento capitalista se reproduz
pela superexploração e subordinação dos trabalhos de cuidados com a
natureza, produção de alimentos e de biodiversidade desempenhado por
povos e principalmente suas parcelas de mulheres. Todavia, isso ocorre sem
permitir sua participação ativa nos processos de decisão sobre manejo e
gestão do que se entende por recursos, de forma a impor sua subordinação
a um sistema de vida que os violenta.
Na toada da crítica feminista ao ideário do “desenvolvimento”, a
94 | GÊNERO E INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS: MULHERES GUARDIÃS DA BIODIVERSIDADE?
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
25% deles, em razão do intenso grau de toxicidade, não têm sua entrada
permitida na União Europeia.
Art. 4º. – Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito
deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção.
Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
[...]
Art. 26 – Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências, tanto
no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efeti-
vidade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre
educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Esta-
dos Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
CONCEITO DE ECOFEMINISMO
2 E ainda, Capra (1996, p. 18) alui que as três visões não devem competir entre si, mas se
complementarem, logo criando uma visão ecológica coerente. No sentido de guarnecer
um suporte filosófico e espiritual ao ideal ecológico e ativismo ambientalista.
130 | OMULHERES
CONCEITO DE ECOFEMINISMO COMO SUBSÍDIO PARA A FORMAÇÃO DE UMA COOPERATIVA DE
RURAIS EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UMA PROPOSTA DE POLÍTICA PÚBLICA
DO ECOFEMINISMO SOCIOAMBIENTAL
com as vitórias humanas sobre a natureza, pois para cada uma destas vitó-
rias, a natureza vinga-se às nossas custas” (ENGELS, 1972, p. 30).
Diante desta crise ambiental mundial e da consciência de que o
planeta precisa ser preservado para garantir a sobrevivência das espécies,
incluindo a própria raça humana, aconteceu um despertar de valores ecoló-
gicos. Isso remonta a valores considerados como femininos na sociedade: o
cuidado e a solidariedade. A justificativa de que as mulheres estão mais pró-
ximas da natureza do que os homens trazem à luz o risco da interpretação
de que elas estão em uma posição agenciadora onde a cultura está vinculada
a esfera masculina, enquanto por outro lado, a natureza descontrolada, à
esfera feminina. Dessa forma, as características das mulheres poderiam
ser utilizadas como argumento para serem consideradas inferiores aos
homens, caindo num nível inferior da hierarquia entre natureza e cultura
(RUETHER, 1993, p. 66).
Nesse sentido, ao analisar a exploração e a submissão das mulheres,
há uma importância fundamental de serem expostas a crítica e a superação
da hierarquia criada dos seres humanos sobre a natureza. Para Eisler, até a
natureza parece estar se rebelando contra o patriarcado, como por exemplo,
com a erosão, chuva ácida, escassez de recursos e poluição ambiental, mas
não sendo uma rebelião que tem como antagonista a tecnologia, mas sim o
uso destrutivo e abusivo da tecnologia pela sociedade de dominação, onde
os homens possuem a necessidade constante e incessante de conquistar,
seja a natureza, as mulheres ou os outros homens (EISLER, 2007, p. 243).
Retornando às medidas protetivas do meio ambiente na legis-
lação brasileira, há os corredores ecológicos, regulamentados pela Lei
9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
e seu Decreto 4.340/2002, que possuem como objetivo amenizar os efeitos
da fragmentação dos ecossistemas, promovendo a ligação entre diferentes
áreas, visando proporcionar o deslocamento de animais, a dispersão de
sementes e o aumento da cobertura vegetal. São, assim, uma estratégia
para apaziguar os impactos das atividades humanas sob o meio ambiente
e uma busca ao ordenamento da ocupação humana para a manutenção
das funções ecológicas no mesmo território, de acordo com o Ministério
do Meio Ambiente.
Ainda, na Lei 9.985/2000, mormente o artigo 5º inciso XII, é carac-
terizado como um dos objetivos do Sistema Nacional de Unidades de
136 | OMULHERES
CONCEITO DE ECOFEMINISMO COMO SUBSÍDIO PARA A FORMAÇÃO DE UMA COOPERATIVA DE
RURAIS EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS: UMA PROPOSTA DE POLÍTICA PÚBLICA
ACERCA DO TERRITÓRIO
uso comum, e por fim, que cabe ao município zelar e promover a sustenta-
bilidade. E no artigo 14° da mesma lei complementar, demanda diretrizes
gerais a respeito do desenvolvimento territorial e ambiental que versem
sobre a distribuição e ocupação do solo de forma harmônica, ou seja, de
forma equilibrada e sustentável . E, nos incisos II e II da Lei complementar
Municipal n. 100/15,
DA COOPERATIVA
Vale ressaltar que o cooperativismo não pode ser tratado como uma
ciência exata, mas sim, como uma prática social, que depende e se ancora
em outras ciências para ir se aprimorando. Assim, por meio das teorias
e dos princípios desenvolvidos e aprimorados, com o auxílio de pesqui-
sas cientificas para melhor compreensão dos efeitos e ações que podem
se desenvolver dentro das cooperativas, pode-se buscar a otimização.
‘Segundo a Lei 12.690/2012, cooperativa de trabalho é uma sociedade
constituída por trabalhadores para o exercício de suas atividades, com pro-
veito comum, autonomia e autogestão, cujo objetivo é obter melhor qua-
lificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho.
Ou seja, as cooperativas de trabalho surgem da vontade de profissionais
autônomos que se unem para conseguir melhores condições de trabalho,
e, em geral, são formadas por profissionais de um mesmo ramo que se
propõem a realizar em comum suas atividades profissionais.
3 Art. 3o A Cooperativa de Trabalho rege-se pelos seguintes princípios e valores: I - adesão
voluntária e livre; II - gestão democrática; III - participação econômica dos membros; IV
- autonomia e independência; V - educação, formação e informação; VI - intercoopera-
ção; VII - interesse pela comunidade; VIII - preservação dos direitos sociais, do valor social
do trabalho e da livre iniciativa; IX - não precarização do trabalho; X - respeito às decisões
de assembleia, observado o disposto nesta Lei; XI - participação na gestão em todos os
níveis de decisão de acordo com o previsto em lei e no Estatuto Social.
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Titular do lote, viúva por duas vezes, hoje está dividindo o lote com um
novo marido, também assentado. O seu lote está com os filhos, mas D.
Maria está pensando em se separar do marido para voltar ao seu lote, pois
o ITESP a tem pressionado devido a sua saída por caracterizar abandono
da propriedade e teme em passar o lote para um dos filhos, pois sabe que
correrá risco que eles venham colocar os demais para fora. (ARO E FER-
RANTE, 2013, p.216).
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 153
vezes as mulheres que ocupam este território não são enxergadas como
sujeitos produtivos, tampouco como sujeito de direito. Muito pouco se
reconhece acerca do trabalho realizado pelas mulheres no campo.
Apesar dessa invisibilidade que por séculos martiriza as mulheres que
vivem no campo é forçoso reconhecer que o papel desempenhado por elas
é de suma importância para o desenvolvimento das atividades agrárias e,
por consequência, para o desenvolvimento do país. As mulheres desem-
penham diversas atividades no contexto da agricultura familiar e desta
forma contribuem intensamente para a melhoria da renda das famílias
que vivem no campo. Assim, elas conseguem elevar o seu padrão de vida
e a sua dignidade, bem como contribuir para a melhores condições das
pessoas com que coabitam.
Além dessa vertente, acima mencionada, o trabalho desempenhado
pelas mulheres no meio rural deve ser reconhecido e devidamente valori-
zado também pelo que representa no âmbito da produtividade. O abaste-
cimento do mercado interno de alimentos também passa pelas mãos das
mulheres trabalhadoras do campo. As mulheres do século XX e XXI não
se dedica mais, com exclusividade, aos trabalhos domésticos. Ao contrário,
elas vão ao mercado de trabalho nos centros urbanos, e no meio rural elas
dividem com o homem, os cuidados com a terra, o plantio e a colheita,
bem como o manejo dos animais, sejam eles de pequeno ou grande porte.
Apesar dessa realidade de semelhança no enfrentamento trabalho
rural por homes e mulheres, do ponto de vista do investimento e do reco-
nhecimento não é possível falar em muitos avanços. Ainda são tímidas as
iniciativas voltadas ao reconhecimento e ao fortalecimento do trabalho
desempenhado pelas trabalhadoras do campo. Ainda existe um legado de
preconceito e de depreciação da figura feminina, que impede o reconhe-
cimento do seu trabalho e o acesso a bens historicamente destinados aos
homens. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2016)
Neste contexto de invisibilidade e preconceito em relação ao papel
desempenhado pelas mulheres do campo, surgiu a necessidade de imple-
mentação de políticas públicas que diminuísse essa desigualdade e modifi-
casse esse quadro de invisibilidade. Como ressaltado, é um pequeno avanço
diante do contexto ora apresentado.
É neste cenário que surge o Crédito Instalação, destinado aos
beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA). Este
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 157
dos homens produtores rurais não possuem terra e para as mulheres este
percentual é de 8,1%. (OXFAM BRASIL, 2016)
No que se refere ao tamanho médio das propriedades, verifica-se,
mais uma vez, níveis alarmantes de desigualdade, na medida em que o
tamanho médio das propriedades tituladas por homens é mais que o dobro
das propriedades tituladas por mulheres. Traduzindo estas informações em
números, chega-se ao tamanho médio de 84,2 hectares para propriedades
de homens, e apenas 33,1 hectares para propriedades cujas mulheres sejam
suas titulares. (OXFAM BRASIL, 2016)
Em relação ao acesso à orientação técnica, as mulheres mais uma
vez sofrem um desprestígio em relação aos homens. A falta de acesso a
orientação técnica chega a 76,5% para homens, mas para mulheres atinge
o patamar de 87,3%. Portanto, além de enfrentar problemas de acesso à
terra, a mulher do campo ainda padece com a precariedade das técnicas
utilizadas no desempenho das atividades agrárias e encontra maior resistên-
cia quando da necessidade de auxílio técnico. (OXFAM BRASIL, 2016)
Essa desigualdade expressa o histórico papel secundário atribuído
à mulher ao longo do tempo. Pela análise da história é possível perceber
que as mulheres sempre ocuparam lugares menos privilegiados em relação
aos homens e, mesmo quando ocuparam os mesmos lugares ou postos de
trabalho, não tiveram o devido reconhecimento.
Para exemplificar o que se expõe, dados do IBGE demonstram que
mulheres que desempenham as mesmas funções que os homens, percebem
uma remuneração 23,5% inferior a remuneração percebida pelo homem.
Esse dado fica ainda pior quando se soma à questão de gênero a questão
étnico/racial, ou seja, mulheres negras, são piores remuneradas quando
comparadas a homens e também à mulheres brancas. (IPEA, 2019)
Outros indicadores acentuam ainda mais o histórico de desigualdade.
A educação, por exemplo, é outra vertente importante que demonstra esse
fato, pois as mulheres que vivem no campo estudam menos que as mulhe-
res que vivem nas cidades, e isso é determinante para a perpetração dessa
abismo existente entre homens e mulheres, e entre habitantes urbanos e
rurais. (IPEA, 2015)
A distribuição da renda entre o sexo masculino e o feminino também
demonstram a desigualdade. De acordo com pesquisa desenvolvida pelo
Instituto de pesquisa Econômica Aplicadas - IPEA, a renda das mulheres
MULHERES E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
| 161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que tende
a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão social
do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades atribuídas a cada
um dos dois eixos, de seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estru-
tura do espaço, pondo o lugar se assembleia ou de mercado, reservados ao
homens, e a casa, reservada às mulheres (...).
Elas precisam estar presentes nos foros deliberativos e decisórios para que a
perspectiva social que incorporam se faça ouvir e participe da construção de
projetos coletivos - que, aliás, contempla a própria redefinição dos interesses
dos envolvidos - que ocorre em tais foros.
O ECOFEMINISMO E AS MULHERES
5 Em 1974, a indiana Gaura Devi liderou um grupo de 27 mulheres que, inspiradas pelo
pacifismo nacionalista de Mahatma Gandhi, abraçaram as árvores de sua vila no norte da
Índia e após quatro dias de resistência conseguiram impedir a derrubada das árvores pelos
madeireiros. Este foi um marco do Movimento Chipko, que ganhou força, protegeu as
áreas florestais na Índia da exploração predatória e culminou em 1980 com o banimento
do corte de árvores no estado de Uttar Pradesh por 15 anos. Disponível em: https://www.
akatu.org.br/noticia/valores-femininos-devem-nos-guiar-rumo-a-sociedade-do-bem-es-
tar/, acesso em 27 de maio de 2019.
172 | OMAIOR
ECOFEMINISMO COMO INSTRUMENTO DE DESCONSTRUÇÃO DO PATRIARCADO PARA UMA
REPRESENTATIVIDADE FEMININA
FILOSOFIA ECOFEMINISTA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
TSE. Brasil tem 147,3 milhões de eleitores aptos a votar nas Eleições
2018. Disponível em: http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/
Agosto/brasil-tem-147-3-milhoes-de-eleitores-aptos-a-votar-nas-elei-
coes-2018, acesso em 20 maio 2019.
WEBER, Rosa. Prefácio. In: SILVA, Christine Oliveira Peter da, et al.
Constitucionalismo Feminista. Salvador: Editora JusPodivm, 2018.
Publicação elaborada pela editora do
Centro de Pesquisa e Extensão em Direito Socioambiental
Curitiba - Paraná - Brasil
www.direitosocioambiental.org
Preparação de texto
Amanda Ferraz da Silveira
Ipuvaíva - Editora & Laboratório de Textos
www.ipuvaíva.com.br
Vetor de capa
Dirk M. de Boer
www.shutterstock.com
Formato 14,5x20cm
Fonte Garamond Premier Pro
Impressão descentralizada, sob demanda
Recomenda-se papel Pólen 90g/m2 (miolo)