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Resposta ao Despacho: 30945/2020

Referência: PR-SP-00092984/2020
Assunto: Solicitação de Cancelamento da NBR 16747 – Inspeção Predial

AO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Venho através deste recurso complementar apresentar provas adicionais e


fundamentar a necessidade do CANCELAMENTO URGENTE DA NBR 16747.

A NBR 16747 foi publicada com objetivo de abrir mercado para


profissionais com formação em engenharia civil poderem fazer laudos de inspeção
predial sem conhecimento técnico nas áreas que mais causam acidentes no Brasil.

Durante a criação da norma por parte dos interessados, foram recusados e


negligenciados os comentários de especialistas em outras áreas técnicas que garantem a
segurança das edificações.

O objeto central da denúncia é a falta de transparência e os critérios de


aprovação ou rejeição de comentários por parte da ABNT, sendo esse o núcleo da
denúncia a ser investigada pelo Ministério Público Federal.

Este documento está sendo compartilhado com outros profissionais para que
possam acompanhar o posicionamento por parte da ABNT e do CONFEA, no que se
refere aos posicionamentos, necessários pelos mesmos, assim como a opinião do MPF
sobre o tema, considerando que se trata de um assunto que envolve a segurança da
sociedade.

Fico à disposição para esclarecer qualquer dúvida adicional por vídeo


conferência.

Recurso protocolado em: 20/09/20

DANIEL MACHADO DUARTE


Eng. Eletricista
www.periciaeletrica.com.br
Elaboração de Norma Técnica da
ABNT para abertura de mercado com
objetivo de beneficiar profissionais
com formação em Engenharia Civil

Solicitação de cancelamento da
NBR 16747 – INSPEÇÃO PREDIAL

Denúncia feita ao
Ministério Público Federal

Setembro/2020
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL x ABNT: DENÚNCIA: 20200114241/2020 - PR-SP-00057875/2020

ÍNDICE
1. COMPREENSÃO DOS ACIDENTES COM ORIGEM ELÉTRICA NO BRASIL 2
1.1. Aumento nos acidentes com energia elétrica no Brasil 5
1.2. Acidente no Centro de Treinamento do Flamengo 8
1.3. Erros de projeto elétrico 10
1.4. Erros durante a execução da obra 17
1.5. Uso de materiais impróprios nas edificações 19
1.6. Impactos da ABNT na prestação de serviço e fabricação de materiais 22
2. NBR 16747 – INSPEÇÃO PREDIAL 26
3. COMO FUNCIONA O SISTEMA INTERLIGADO 39
4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ENGENHEIROS ELETRICISTAS (ABEE) 45
5. SUGESTÕES DE PERGUNTAS QUE PODEM SER FEITAS PARA ABNT POR
PARTE DO MPF 52
6. CONCLUSÕES FINAIS 53
7. REFERÊNCIAS 53

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL x ABNT: DENÚNCIA: 20200114241/2020 - PR-SP-00057875/2020

NBR 16747 – INSPEÇÃO PREDIAL


Criação da Norma para Abertura de Mercado no Brasil

1. COMPREENSÃO DOS ACIDENTES COM ORIGEM ELÉTRICA NO BRASIL

Este documento tem como objetivo formalizar ao Ministério Público Federal uma
denúncia pública contra a ABNT, que criou e publicou a NBR 16747 – Inspeção predial,
através da Comissão de Estudo Inspeção Predial (CE-002:140.002) do Comitê Brasileiro
da Construção Civil (ABNT/CB-002), sem levar em consideração a opinião de especialistas
de outras áreas, como por exemplo, engenharia elétrica e mecânica, entre outras áreas.

A NBR 16747 teve um ALTO INDICE DE REJEIÇÃO durante a fase de consulta


pública e a opinião de diversos especialistas foi descartada SEM JUSTIFICATIVA em
um TEATRO com objetivo maquiar e fazer parecer que houve um processo
transparente de votação no âmbito nacional, o que de fato, NÃO OCORREU.

A NBR 16747 é um excelente exemplo de como são manipuladas as informações


em um mercado que movimenta bilhões no Brasil, ligado a criação de normas que, por
vezes, beneficiam determinados segmentos.

Essa norma tem como OBJETIVO IMPLÍCITO a abertura de mercado que irá
BENEFICIAR OS ENGENHEIROS CIVIS. O núcleo da norma, através das suas
referências e solicitações de múltiplas vistorias, deixa claro que SOMENTE esses
profissionais podem fazer os laudos de inspeção predial, de maneira EXCLUSIVA
para todas edificações no Brasil.

Por isso não HOUVE INTERESSE de consultar outros especialistas ao


publicarem a NBR 16747. Os poucos de outras áreas consultados, na maioria das
vezes, se beneficiam de maneira indireta apoiando esse ABSURDO ou não tem o
mínimo conhecimento do que falam.

A constatação das afirmações não pode ser obtida de maneira direta, pois não está
escrito dessa forma na norma, no entanto, é um jogo de palavras muito bem articulado e
amarado, sendo necessário observar os detalhes com muita atenção.

Os textos colocados são planejados e pensados de maneira que não sejam de fácil
compreensão para profissionais com formação na área jurídica, permitindo que as
manobras não sejam facilmente descobertas.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Pensando em um bem maior para sociedade, nesta denuncia que carrega o meu
nome e assumo a responsabilidade pelas informações destacadas, me colocando a
disposição para novos esclarecimentos, detalho os bastidores do palco da ABNT.

Nesse momento, torna-se necessário refletir sobre qual o risco que a NBR
16747 gera para todas edificações no Brasil?

Na prática, um aumento no número de acidentes e mortes com origem elétrica no


Brasil através dos incêndios gerados, pois os engenheiros civis não tem conhecimento
técnico para fazer uma inspeção elétrica. Os pareceres técnicos emitidos por estes
profissionais na área elétrica irão gerar uma falsa sensação de segurança para os usuários
das edificações, contribuindo de maneira negativa com os acidentes, pois os mesmos
deixaram de contratar os especialistas naquelas áreas.

O que passo a relatar nesse documento irá permitir ao Ministério Público


Federal, perceber as manobras implícitas feitas pela ABNT na criação da NBR 16747,
que também podem estar ocorrendo em muitas outras normas, através do monopólio que
a ABNT tem para criar normas no Brasil.

Quando pensamos em fazer uma análise a segurança das edificações no Brasil,


precisamos deixar de lado os nossos interesses pessoais e olhar a fonte do problema de
maneira mais ampla.

Isso nem sempre ocorre nas instituições em geral, universidades, cursos técnicos,
indústrias, associações, etc. O fato é que diversas opiniões e interpretações muitas vezes
são por conveniência para obtenção de benefício próprio ou podem ser por falta de
ampliação do campo de visão sobre o problema devido à falta de conhecimento no assunto
do profissional que comenta o tema.

Nesse contexto, é difícil saber quem é quem, mas o que passo a relatar aqui, deixa
claro que está sendo construído um grande SISTEMA INTERLIGADO que movimenta
bilhões e vem prestando um desserviço para nossa sociedade.

Se isso continuar a acontecer, irá contribuir cada vez mais de maneira indireta e por
vezes direta com muitos acidentes no Brasil. Sendo necessário uma intervenção do
Ministério Público Federal, no que se refere a auditoria de todo processo de criação da NBR
16747. Durante essa auditoria, vão perceber o quanto a criação de uma norma pode ser
facilmente manipulada, para beneficiar um pequeno grupo e não a sociedade.

O SISTEMA INTERLIGADO, possui pessoas em instituições, associações e


entidades que deveriam defender os interesses da população, ajudando os profissionais a
desempenharem melhor o seu trabalho.

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Em muitos casos, as pessoas ligadas e esses sistemas, se apresentam com


máscaras que distorcem a forma como se beneficiam sobre o que dizem. Para conhecer
melhor os mascarados, não podemos olhar as instituições que pertencem, mas sim as
empresas que possuem, basta uma simples pesquisa no Linkedin ou leitura dos seus
post’s, lives, para compreender um pouco mais sobre isso.

A ABNT conta com uma rede de muitos especialistas para criar normas técnicas
sem custo de mão de obra, nesse grupo encontramos pessoas bem intencionadas e
pessoas mal intencionadas.

Um mal intencionado e parceiro da ABNT nunca se posiciona contra a mesma, na


maioria das vezes, quando precisa emitir uma opinião que pode denegrir a imagem da
mesma, fala algo vago e superficial, para não comprometer ambos. Essas pessoas são
chave para construção do negócio, pois em muitos casos, influenciam grandes massas.

Nesse contexto, vamos encontrar inclusive, especialistas com formação em


engenharia elétrica que fazem parte desse SISTEMA INTERLIGADO, apoiando a NBR
16747, mesmo que ela não cite nenhuma norma da área elétrica. Essas pessoas
geralmente se beneficiam na sua vida pessoal com o nome da ABNT de maneira direta ou
indireta.

Em breve, os mesmos articuladores dessa norma, devem tentar entrar com um


projeto de lei convencendo a todos que as edificações do Brasil devem possuir um laudo
de inspeção, conforme a NBR 16747.

O que relato é um crime contra a nação que irá contribuir com um aumento no
número de mortes no Brasil, em virtude da falta de uma inspeção adequada nas
instalações elétricas, que deve ser realizada por pessoas com amplo conhecimento nessa
área.

Como cidadão brasileiro e com o conhecimento técnico que tenho na área de


Perícia Elétrica, me sinto no dever de formalizar essa denúncia, após diversas
tentativas de dialogo pacifico com a ABNT.

Não podemos aceitar que sejam criadas normas técnicas com benefícios para
poucos, negligenciando as reais necessidades da população, estando alinhadas com o
que é possível ser oferecido pelos prestadores de serviço.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Considerando o exposto, passo a apresentar fatos associados a essa denúncia,


dedicando este documento às famílias dos 10 jovens que morreram no incêndio do Centro
de Treinamento do Flamengo no ano de 2019 e a todos cidadãos que lutam pelo respeito
e credibilidade da nossa engenharia no Brasil, priorizando SEMPRE o que é melhor para
sociedade, de maneira transparente e justa.

Passamos agora à compreensão dos reais motivos que vem causando incêndios e
mortes com origem elétrica no Brasil.

1.1. Aumento nos acidentes com energia elétrica no Brasil

Em uma das reportagens feitas em junho/2018 [1] pela revista Incêndio, podemos
encontrar o título “Em cinco anos, incêndios por curto-circuito duplicaram no País”.

A Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade


(ABRACOPEL) todo ano apura em seu anuário, com grande esforço e contribuição, os
números dos acidentes no Brasil.

Nas palavras do Eng. Edson Martinho, fundador da associação, encontramos a


informação de como são coletados os dados e quais dificuldades são enfrentadas.

“Nossa apuração se concentra nos eventos divulgados pelos meios de comunicação. Estimamos que o número
de incêndios e acidentes com eletricidade seja bem maior do que o que documentamos, porque nem todo evento é
noticiado pela mídia”.

Reforçando o que foi dito pela ABRACOPEL, diante das dificuldades que temos no
Brasil é IMPOSSÍVEL saber o número de acidentes e mortes com energia elétrica.

Essa conclusão é fácil de ser obtida, através do entendimento de que:

a) Nem todo acidente com energia elétrica gera uma notícia na mídia;

b) Quando acontece um incêndio, é comum os bombeiros atribuírem a sua origem


como causa desconhecida, na maioria dos casos não são feitas perícias
posteriores para identificar a origem, e mesmo que sejam feitas, em alguns
casos não é possível identificar a origem do incêndio;

c) As mortes com energia elétrica, além de não gerarem notícias em sua maioria,
podem ocorrer semanas depois do incêndio, devido a falência dos órgãos;

d) Não existe um sistema interligado nos hospitais que permita quantificar os


acidentados com origem elétrica.

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No link é possível obter mais informações sobre a reportagem:


https://revistaincendio.com.br/em-cinco-anos-incendio-por-curto-circuito-duplicaram-no-
pais/

Infelizmente, por vezes não nos atentamos a esses detalhes importantes, expondo
números que podem amenizar a situação, causando interpretações errôneas para
sociedade. Como exemplo, podemos citar uma reportagem da Agência Brasil, que
apresenta como título da notícia a afirmação de que os acidentes com origem elétrica
causaram 622 mortes em 2018 [2].

Um leigo sem conhecimento mais aprofundado sobre eletricidade ao ler uma


reportagem como essa é induzido a pensar que os números apresentados são exatos. Na
grande maioria dos casos, os sites de notícias desconhecem a dificuldade técnica de saber
as reais causas dos incêndios, conforme explicado pelo fundador da ABRACOPEL.

É importante destacar que o número de acidentes no Brasil, pode ser 10, 20 ou 30


vezes maior que os dados que geram notícias na internet, sendo impossível medir a taxa
de distorção entre os números que geram notícia na internet e os REAIS que
desconhecemos.

Por tanto, JAMAIS podemos atribuir o número de publicações sobre acidentes


com energia elétrica da Internet, sendo uma quantidade que reflete uma realidade
absoluta. Isso é um grande erro cometido por alguns veículos de comunicação que
interpretam de maneira errada os dados da ABRACOPEL, nesses casos atenuando um
grave problema que vem tirando muitas vidas no Brasil.

No link é possível ver a notícia completa:

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-05/acidentes-com-origem-
eletrica-causaram-622-mortes-em-2018

Em março de 2020, a revista O Setor Elétrico publicou uma matéria apresentando


um resumo sobre os números de acidentes entre 2013 e 2019 [3], onde utiliza como
referência os dados da ABRACOPEL. O gráfico 01, apresenta o resultado dos acidentes
ocorridos no período e o gráfico 02 o número de mortes, demonstrando a evolução os
números registrados, que são muito abaixo dos números reais.

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Gráfico 01 – Número de acidentes com origem elétrica (Fonte: O Setor Elétrico)

Gráfico 02 – Mortes com choque elétrico no Brasil (Fonte: O Setor Elétrico)

No link é possível obter mais informações sobre os dados apresentados:


https://www.osetoreletrico.com.br/acidentes-com-choques-eletricos-no-brasil-em-7-anos-
mais-de-4-mil-mortes/

Como exemplo da complexidade de avaliarmos e atribuirmos os incêndios a causa


elétrica, vamos utilizar como referência uma reportagem do jornal Estado de Minas Nacional
sobre um incêndio ocorrido no dia 30/08/20 no Hospital Santa Luzia em Brasília. Na
reportagem, o título em destaque fala que “Fogo em hospital de Brasília interrompeu
cirurgia e fez pai conhecer filho em estacionamento” [4].

Em um dos trechos da reportagem, destaca:

“A suspeita é de que o fogo teria começado durante a manutenção do equipamento de ar condicionado daquele
piso, mas a informação será confirmada após a perícia do corpo de bombeiros – o laudo deve ficar pronto em 30 dias”

Em situações como essa, um incêndio dessa natureza só pode ter a sua origem
atribuída às instalações elétricas se o laudo for avaliado posteriormente, sendo que após
30 dias o laudo ainda pode ser inconclusivo sobre a origem do incêndio devido aos
problemas gerados durante o rescaldo do local e do quanto o equipamento foi danificado.

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Essa dinâmica complexa geram grandes desafios em qualquer tentativa de


quantificação de acidentes com origem elétrica no Brasil, tendo em vista que nem todo
acidente gera notícia e quando gera, precisamos ter cautela ao atribuir ou deixar de atribuir
a causa do incêndio a um curto-circuito ou sobrecarga.

No link é possível ver a reportagem completa do incêndio:


https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/08/30/interna_nacional,1180772/fogo-
em-hospital-de-brasilia-interrompeu-cirurgia-pai-conhecer-filho.shtml

1.2. Acidente no Centro de Treinamento do Flamengo

Após compreendermos a dificuldade em mapear o número de incêndios com origem


elétrica no Brasil, torna-se necessário refletir sobre o incêndio que ocorreu no Centro de
Treinamento do Flamengo.

No dia 08/02/2019 houve um incêndio que deixou 10 mortos e 3 feridos. Todos eram
jovens atletas com idade entre 14 e 16 anos.

Este acidente vai nos trazer uma compreensão sobre a importância dos profissionais
com formação específica em cada área técnica (elétrica, civil e mecânica) e a influência da
ABNT sobre a vida dos profissionais e da sociedade. Assim, passamos a utilizar como
exemplo um acidente grave com energia elétrica que chocou o Brasil em 2019, para
refletirmos sobre a responsabilidade de cada profissional.

A foto 01, em destaque na reportagem do jornal G1 [5], que traz detalhes sobre o
acidente.

Foto 01 – 10 jovens que morreram no Centro de Treinamento do Flamengo

No processo: 0041139-60.2019.8.19.0001, distribuído em 20/02/2019, podemos


encontrar todas informações sobre esse caso.

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Na petição inicial desse caso podemos ver a legitimidade do caso, sendo repassada
ao Ministério Público Federal e a Defensoria Pública do Rio de Janeiro as atribuições para
verificar o caso. No trecho dessa petição mostrado na figura 01, podemos encontrar as
informações abaixo:

Figura 01 – 10 jovens que morreram no Centro de Treinamento do Flamengo

O processo que trata do acidente no Centro de Treinamento do Flamengo faz


referência ao Código de Defesa do Consumidor [6], através da Lei nº 8.078, de 11 de
setembro de 1990, em um dos seus artigos, encontramos a seguinte informação:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas:

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo


com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não
existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada
pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro).

No dia 08/05/2019 o jornal Globo [7] publicou uma reportagem informando que teve
acesso aos documentos da Polícia Civil que comprovam que o acidente começou no ar
condicionado. A reportagem também destaca:

“Os peritos ainda encontraram mais irregularidades: o prédio ao lado dos contêineres, usado como vestiário,
tinha instalações elétricas que alimentavam os módulos e estavam em desacordo com os princípios fundamentais da
Associação Brasileira de Normas Técnicas.”

No link é possível ver a matéria completa: https://g1.globo.com/rj/rio-de-


janeiro/noticia/2019/05/08/incendio-no-ct-do-flamengo-comecou-em-curto-no-ar-
condicionado-e-se-alastrou-devido-a-material-do-conteiner-aponta-laudo.ghtml

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Como pode ser observado, durante uma análise de acidente a ABNT é utilizada
como referência para apurar responsabilidades, verificando as omissões e
negligências dos prestadores de serviço e/ou fornecedores. Nesse momento, a
instituição RECEBE FORÇA DE LEI NA CRIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS, podendo
colocar profissionais na cadeia, através do que cria.

Aqui começa o perigo, pois estamos dando a uma instituição privada que
detém um monopólio, o poder de criar normas que não passam por um processo
transparente de auditoria e fiscalização durante a sua criação. As suas tomadas de
decisão, em alguns casos não apresentam justificativas plausíveis, sendo imposto somente
o que a mesma e algumas pessoas julgam necessários para uma sociedade. Em sua
proteção existe um forte SISTEMA INTERLIGADO, onde muitos que fazem parte, por
vezes chegam a se intitular como donos de determinadas normas, por terem uma forte
influência em sua criação.

Na minha opinião pessoal uma norma técnica não é de ninguém e deve ser um
documento criado com o objetivo real de tornar a sociedade um ambiente mais seguro, mas
de fato, em muitos casos isso não ocorre, pois os interesses pessoais estão acima dos
interesses coletivos.

Nos casos de acidentes com energia elétrica, no que se refere a responsabilidade


dos prestadores de serviço contratados, devemos avaliar 3 fortes contribuições:

a) Erro de projeto elétrico;

b) Erros durante a execução da obra;

c) Uso de materiais impróprios para edificação.

No decorrer iremos analisar cada problema de maneira detalhada, visando uma


melhor compreensão dos fatos.

1.3. Erros de projeto elétrico

O que passo a relatar aqui tem como base perícias elétricas que realizo em
condomínios, sendo que em diversos locais encontro erros graves, erros esses que tem
colocado em risco a vida da população.

Para simplificar, vou classificar os erros em duas categorias, sendo elas:

a) Intencionais;

b) Não intencionais.

Erros de projetos elétricos intencionais

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Esse tipo de erro gera como benefício para as construtoras uma grande economia
de material, prejudicando pessoas leigas que passam uma vida inteira trabalhando para
comprar o tão sonhado imóvel próprio. Isso acontece com grande frequência apartamentos
novos, principalmente os chamados de “Minha Casa, Minha Vida”.

A falta de instalação de um dispositivo de segurança chamado de interruptor


diferencial residual, pode gerar uma economia próxima de R$ 200,00 por apartamento,
beneficiando e aumentando o lucro das construtoras, isso geralmente ocorre em imóveis
de baixo custo, onde encontramos as pessoas mais carentes.

O uso de dispositivos de proteção adequados pode evitar acidentes como o


destacado na foto 02, segundo a reportagem do jornal Clic Camaquã:

“Pelo menos cinco sobrados foram consumidos. Ninguém ficou ferido. Um novo foco retornou há pouco. A cena,
mais uma vez, é de desolação. Menos de três meses atrás, um incidente semelhante já havia ocorrido no local.”

Foto 02 – 2º incêndio ocorrido no edifício Haragano em menos de 3 meses

No laudo feito para esse conjunto habitacional, podendo ser localizado através do
número: 50010415-51.2019.4.04.7110/RS, encontramos as seguintes informações,
referente um dos apartamentos:

“Dimensionamento insuficiente da fiação do chuveiro, uma vez que fio com #4mm2 suporta uma capacidade de
condução de corrente de 28 A sem aquecer.”

“Má distribuição das tomadas da cozinha no ambiente (somente em uma das quatro paredes) forçando o uso de
extensões e T.”

“Ausência de dispositivos de proteção, como DR.”

“Dimensionamento insuficiente dos disjuntores dos circuitos: Circuito 4 (reserva), com carga de 5.000 W foram
dimensionado disjuntor de 32 A e para o circuito 5 (chuveiro), com carga de 6.800 W foi dimensionado disjuntor de 25 A.
(Corrigido durante a execução das obras).”

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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“As Instalações Elétricas de Baixa Tensão possuem alto risco de curto circuito, de sobrecarga e de choque elétrico,
há grandes chances de qualquer um dos vícios listados ocorrerem em grande escala e com efeitos significativos, podendo
causar incêndios e perda de vidas humanas.”

Podemos perceber no descritivo e no laudo anexado ao processo que toda análise


de verificação de conformidade ou desconformidade, remete às normas técnicas da
ABNT.

O código de defesa do consumidor dá autonomia para ABNT, legislar de


maneira direta sobre como devem ser feitos projetos elétricos e execução de obras.

Isso gera uma grande responsabilidade para mesma, tendo em vista que atribuem
aos prestadores de serviço, com base em suas definições e imposições, como as coisas
devem ou não serem feitas, sendo necessário muita transparência na elaboração dos
documentos. No entanto, isso não ocorre, sendo prova disso a criação da NBR 16747 que
foi feita pela ABNT/CB-002, sem consultar especialistas de outras áreas, de maneira
autônoma, com intuito de abrir mercado e beneficiar a sua categoria.

Cabe destacar que o código penal através do seu artigo 250, nos diz que causar
incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, pode
ter uma pena de reclusão, de três a seis anos, e multa.

Infelizmente no Brasil, muitos acidentes como esse acontecem sem a realização de


uma perícia elétrica. Na maioria dos casos, quando ocorre o problema a discussão gira em
torno do dano físico e não a responsabilidade do profissional.

Erros de projetos elétricos não intencionais

O fato é que no Brasil diversas edificações são construídas apresentando erros de


projetos, em muitos casos por falta conhecimento técnico do profissional devido as
falhas em sua formação acadêmica e as negligências do CONFEA ao definir as
atribuições dos profissionais de maneira clara e objetiva.

Em um estudo feito pelo CREA/PR, através da sua Câmara Especializada de


Engenharia Elétrica (CEEE/PR), foi realizado um levantamento em um período de 4 anos
sobre o número de projetos elétricos elaborados no Paraná. Esse estudo compara a
proporção de projetos elétricos elaborados através da emissão de ART (anotação de
responsabilidade técnica) entre a modalidade civil e elétrica.

A conclusão foi de que para cada 10 projetos elétricos com ART emitida pela
civil SOMENTE 1 ART é emitida pela modalidade elétrica. Essas informações podem
ser comprovadas no procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento 1.5, página 6,
sendo destacado um resumo da figura 02.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Figura 02 – A cada 10 projetos elétricos elaborados 9 são feitos por engenheiros civis

O CREA/PR afirma nesse documento e fundamenta que a formação acadêmica


dos profissionais da civil e arquitetura é restrita para elaboração de projetos
elétricas, o que representa um grande risco para sociedade. A NBR 16747 irá
contribuir com esse risco, considerando as vistorias previstas nas instalações
elétricas são superficiais.

O mesmo estudo feito pelo CREA/PR, mostra através da figura 03 que em diversas
universidades a carga horária de estudo sobre eletricidade é em média inferior a 95h na
área.

Figura 03 – Engenheiros civis estudam menos de 95h sobre eletricidade e podem assinar projetos elétricos

No site do SENAI de Pernambuco, podemos encontrar o treinamento de instalações


elétricas prediais para eletricistas com uma carga horária de 104h.

Em termos práticos a carga horária de estudo sobre eletricidade de um


engenheiro civil é menor do que a carga horária que um profissional precisa ter para
se tornar eletricista.

Infelizmente por serem um grupo com muito mais profissionais em ternos de


quantidade, acabam assumindo as lideranças por voto no CONFEA e nos CREA’s.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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O assunto é evitado pelos profissionais da engenharia civil e da elétrica, porém é


simples compreender que não faria sentido existir um curso se engenharia elétrica se as
atribuições de um engenheiro civil fossem as mesmas – este último, estudando muito
menos o assunto. Na prática, as interpretações feitas são as mais convenientes aos
interesses pessoais.

Em uma postagem [10] feita no site da Associação Brasileira dos Engenheiros


Civis (ABENC) a instituição incentiva pessoas sem conhecimento na área elétrica, com
formação em engenharia civil a elaborarem projetos elétricos, contribuindo de maneira
negativa de maneira indireta com o número de acidentes, levando em consideração as
informações apresentadas até o momento.

Figura 04 – ABENC induz engenheiros civis a fazerem projetos elétricos com pouco conhecimento na área

Em um dos trechos o vice presidente ABENC em 2017, data da publicação,


afirma que NUNCA EXISTIU, impedimento para engenheiros civis fazer projetos
elétricos prediais, destacando que não existe limites de potência, induzindo pessoas
sem conhecimento a acharem que fazer um projeto elétrico é algo simples e fácil.

No link é possível ver a postagem completa:


http://www.abenc.org.br/artigo/186/competencia-dos-engenheiros-civis-para-projetos-de-
instalacoes-eletricas-prediais

As atribuições dos engenheiros civis para atuarem na área elétrica vem sendo
discutidas a anos sem êxito. O tema chega no CONFEA, mas não avança, por não ser
“relevante”.

Uma observação interessante: a presidência do CONFEA é eleita por voto da


maioria. Esta maioria, tem formação em engenharia civil. Poderia a presidência se valer
de uma manobra perigosa e que põe a vida de milhares de brasileiros em risco
somente para manter-se no poder? Essa é uma entre tantas reflexões que precisamos
ter nesse momento.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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O decreto federal nº 23.569, de 1933 regula as atribuições profissionais. Por falta


de visão do Judiciário e do Senado, somado a grande influência dos engenheiros civis no
Brasil, o assunto não avança. Também podemos encontrar diversos engenheiros
eletricistas influentes no Brasil que não se envolvem ou não opinam sobre o caso para não
se indispor com a grande massa, estes eu costumo chamar de “lobos em pele de cordeiro”,
pois acabam mais prejudicando do que contribuindo verdadeiramente com a redução dos
acidentes no Brasil.

No que se refere às atribuições dos profissionais com formação em engenharia


civil e elétrica, a revista O Setor Elétrico fez uma publicação [11], SENDO DE GRANDE
RELEVÂNCIA ESSE LEITURA QUE COMPLEMENTA ESSA DENÚNCIA.

A postagem está disponível no link: https://www.osetoreletrico.com.br/atuacao-na-


area-eletrica-falta-etica-na-engenharia.

É sempre importante escutarmos não só os engenheiros civis, mas também os


profissionais com formação específica na área elétrica, caso contrário, qualquer análise
para uma tomada de decisão passa a ser unilateral.

Nesse momento não podemos esquecer que existe um SISTEMA INTERLIGADO


que pode ser definido como um grande grupo, unido e forte. Nesse sistema, pessoas da
velha guarda, atraem novos influenciadores, para reforçar teorias, por vezes sem sentido e
de aplicação prática inviável aos profissionais que realmente prestam serviço de
engenharia.

O resultado prático disso é que de a maioria das edificações no Brasil não


atendem as normas técnicas e mesmo assim as revisões normativas são cada vez
mais rígidas, sem um mapeamento das dificuldades práticas de implementação das
teorias acadêmicas.

Em resumo, falar é fácil o difícil é tornar muitas coisas viáveis e aplicáveis a


sociedade em termos de prestação de serviço e contratação por parte dos
consumidores. Falta sensibilidade por parte de quem não conhece a realidade
prática, sem considerar os seus interesses ocultos.

Para compreender isso tudo é preciso olhar além do palco e começar a entender os
bastidores desse jogo que movimenta bilhões de reais.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Entre os grandes líderes do SISTEMA INTERLIGADO encontramos o CONFEA,


que por sua vez, não toma partido sobre as atribuições dos profissionais, não
deixando de maneira clara e transparente, se engenheiros civis podem ou não fazer
projetos elétricos e inspeções prediais na área elétrica, com base em sua formação
acadêmica.

Posição claramente entendida, quando observamos a formação acadêmica das


lideranças, cuja maior concentração e influência são de engenheiros civis.

No trecho destacado na figura 04 o CREA/PR, faz afirmações e críticas sobre


a interpretação dúbia do que são obras complementares. Para os engenheiros civis, os
projetos elétricos são obras complementares, sendo está uma interpretação conveniente
que os favorece.

Figura 04 – Dúvidas sobre atribuição dos engenheiros civis para fazer projeto elétrico

Considerando os fatos apresentados até o momento, que retratam um número


crescente de acidentes no Brasil, provocados por falhas em projetos elétricos, devemos
fazer UMA ÚNICA PERGUNTA POR PARTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ao
CONFEA, sendo ela:

Considerando a resolução nº 373, de 16 dezembro 1992, que define a


atribuição dos profissionais de engenharia e o dever do CONFEA de fiscalizar e
aprimorar o exercício dos profissionais, comparando a carga horária de escudo dos
engenheiros civis durante a sua formação, os mesmos estão aptos a elaborarem
projetos elétricos e fazer inspeção elétrica predial?

É importante que a resposta do CONFEA seja bilateral, ou seja, envolvendo


representantes da engenharia civil e elétrica, incluindo a opinião do coordenador
nacional das câmaras especializadas de engenharia do sistema CONFEA/CREA.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Ao NÃO ser exigido do CONFEA um parecer sobre o tema de maneira objetiva,


do tipo “sim” ou “não” em sua conclusão, estaremos CONTINUANDO a contribuir de
maneira significativa com o número de acidentes e mortes no Brasil, deixando claro a
participação deles em um SISTEMA INTERLIGADO, que de maneira direta e indireta, o
que contribui com os acidentes no Brasil.

Cabe ao Ministério Público Federal, avaliar a coerência dos fatos apresentados


nesse documento e optar por formular ou não está pergunta através de um ofício
direcionado ao CONFEA exigindo um posicionamento.

1.4. Erros durante a execução da obra

Uma realidade que encontramos no Brasil é a execução das instalações elétricas


sendo gerenciadas por profissionais com formação em engenharia civil. Frequentemente é
possível encontrar problemas nessas obras, conforme as fotos apresentadas a seguir.

Foto 03 – Instalação dos eletrodutos e cabos de maneira inadequada

Foto 04 – Montagem irregular com emendas mal feitas

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Foto 05 – Montagem irregular do Quadro de Energia

Foto 06 – Erro de instalação dos cabos

Foto 07 – Conexão feita de maneira inadequada

Todas as fotos 03, 04, 05, 06 e 07 foram tiradas por mim, em clientes diferentes
durante a realização de uma certificação das instalações elétricas a pedido dos
moradores das edificações.

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Em todos os casos, as pessoas que estavam conduzindo as instalações


elétricas tinham como formação o curso de engenharia civil.

Caso os clientes não tivessem contratado um serviço de perícia elétrica, as


edificações onde foram tiradas essas fotos poderiam ter pego fogo, pois apresentavam um
elevado risco de incêndio e choque elétrico.

Detalhes mais técnicos como esses não são encontrados, não podem ser vistos,
considerando o tipo de inspeção elétrica previsto na NBR 16747.

1.5. Uso de materiais impróprios nas edificações

Percebendo a falta de conhecimento na área elétrica das pessoas que trabalham na


construção civil, muitos fabricantes começaram a tirar proveito da situação.

Durante uma reportagem abaixo feita pelo G1[12], foram inspecionadas 100 lojas
em São Paulo que vendiam cabos elétricos, sendo analisado 36 fabricantes. Destes,
22 fabricantes apresentavam não conformidades com as normas técnicas,
representando 61% dos materiais vendidos na cidade.

Para compreensão dos fatos, é necessário que o Ministério Público Federal assista
o vídeo da reportagem. Em alguns dos casos, os materiais possuíam menos de 30%
de cobre do que deveriam, sendo está uma das principais causas de incêndios no
Brasil.

Acesso ao vídeo da reportagem: https://g1.globo.com/sp/sao-


paulo/noticia/2019/09/12/fiscalizacao-encontra-problemas-em-22-marcas-de-fiacao-
eletrica-que-podem-causar-incendios.ghtml.

Em uma das certificações das instalações elétricas que realizei, tive a


oportunidade de encontrar um material de natureza semelhante. Na parte superior da foto
08, encontramos um cabo identificado pelo fabricante como cabo de 4mm2, comparando
com o cabo de baixo, produto de boa qualidade com identificação e área equivalente a um
cabo 2,5mm2, podemos perceber que o material de cima possui muito menos cobre.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Foto 08 – Comparativo entre cabos irregular 4mm2 e um cabo de boa qualidade 2,5mm2

Ao levar uma amostra do material para realização de ensaios no laboratório, foi


possível atestar a gravidade da situação.

Foto 09 – Ensaio de resistência ôhmica no cabo identificado como 4mm2

Foto 10 – Resultado do ensaio de resistência ôhmica no cabo identificado como 4mm2

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Foto 11 – Área cobre de 1,43mm2 do cabo identificado pelo fabricante com uma área de 4mm2

O material destacado na foto 08 estava instalado na edificação de um cliente,


cuja instalação elétrica estava sobre a responsabilidade de um profissional com
formação em engenharia civil, sendo essa uma realidade de muitas edificações no Brasil.

Isso poderia ocorrer se a obra estivesse sendo gerenciada por um engenheiro


eletricista ou eletrotécnico? Sim. No entanto, esses profissionais por terem uma carga
horário de estudo maior sobre eletricidade, facilitando a identificação de problemas dessa
natureza.

O que estou reforçando não tem relação com reserva de mercado e sim com o fato
de que estamos tirando muitas vidas no Brasil ao aceitarmos que profissionais com
formação superior em engenharia civil atuem na área elétrica, estudando menos do
que um eletricista, dando aos mesmos o direito de assinar projetos elétricos,
executar obras e fazer laudos de inspeção visual na área elétrica.

O CONFEA é omisso, negligente e passivo em relação ao tema, pois não cumpre


com o seu dever, evitando um posicionando sobre o fato de aceitar que engenheiros civis
atuem na área elétrica somente com base nos conhecimentos obtidos na graduação.

Cabe destacar que o risco de incêndio ao fazer uso de um material cabo desbitolado
é extremamente elevado, sendo relevante reforçar que durante uma inspeção em lojas
de São Paulo, mais de 61% dos cabos comercializados no Brasil estavam em situação
semelhante.

A NBR 16747, criada para fazer inspeções prediais, irá permitir que
engenheiros civis, sem formação na área elétrica, inspecionem edificações e atestem
problemas gerados e criados por muitos dessa categoria ao atuarem na área elétrica,
contribuindo ainda mais com o número de incêndios, pois irá induzir pessoas a NÃO
CONTRATAREM especialistas na área elétrica para fazerem esse serviço.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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A prova de que raramente um engenheiro civil deixa de fazer uma inspeção


nas instalações elétricas, está na relação de projetos elétricos elaborados pelos
mesmos (10 vezes maior, conforme apresentado na figura 02) quando comparados com
os projetos emitidos por profissionais com formação na área elétrica.

Fazendo uma analogia de um ditado popular, estamos deixando “lobos disfarçados


de ovelha”, criarem regras de proteção, através de um SISTEMA INTERLIGADO de
manipulação que visa interesses próprios e beneficia poucos, sendo o status uma das
moedas de troca.

A grande pergunta que devemos nos fazer é: por qual motivo isso acontece?

Como resposta, podemos concluir que os fabricantes de materiais mal


intencionados no Brasil descobriram que muitos profissionais que fazem projetos elétricos,
compram ou que fazem a aquisição de materiais elétricos e acompanham a execução de
obras, não estudam o necessário para conhecer um problema dessa natureza.

Muitos desses profissionais nem sequer sabem a diferença entre um fio e um cabo
elétrico, sendo altamente complexo encontrar e saber lidar com um problema de cabo
desbitolado.

Existe um ditado popular que se aplica perfeitamente a esta situação:

“Em terra de cego, quem tem um olho é rei.”

Por isso as empresas que fabricam cabos desbitolados estão fazendo a festa no
Brasil. Tem muito nó cego sem conhecimento fazendo projeto e inspeção na área
elétrica.

É exatamente por isso que as empresas fabricam cabos em desbitolados no Brasil.

Se aproveitam de que existem profissionais sem conhecimento na área elétrica e


que fazem serviços de inspeção e projetos para ganharem dinheiro às custas de vidas
brasileiras.

Cada vez que ocorre um incêndio, diversos palpiteiros de pouca prática,


geralmente atribuem o problema ao sistema de aterramento, entre outras coisas básicas,
deixando de lado o núcleo da questão.

1.6. Impactos da ABNT na prestação de serviço e fabricação de


materiais

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Considerando as exigências cada vez mais severas para realização de um projeto


ou execução de uma obra por parte da ABNT, por vezes desalinhadas com a realidade do
Brasil, principalmente no que se refere às instalações elétricas, estamos colocando em
risco a carreira de muitos profissionais, a segurança da população e jogando no lixo
a engenharia do Brasil.

Muitas normas de instalações elétricas são escritas ou copiadas da Comissão


Eletrotécnica Internacional (IEC) sem levar em consideração a realidade do Brasil.

Uma boa parcela dos defensores das normas rígidas não oferece serviços e
não estão preocupados com as condições financeiras dos clientes e nem com a
viabilidade de aplicação do que está sendo proposto.

Em muitos casos, são modelados cenários ideais sem justificar o quanto


percentualmente isso está aumentando a segurança das edificações.

São criados argumentos e justificativas superficiais sem dados tangíveis, como


vimos até agora, muitos fazem parte do SISTEMA INTERLIGADO, atuando como agentes
de influência de massa para obter benefício próprio.

Assim, é possível enxergar um jogo de interesses por trás dessa afirmação, que
está em criar dificuldades para vender oportunidades - no qual podemos observar diversos
exemplos em momentos oportunos.

De maneira prévia antecipo o que provavelmente irá ocorrer em breve com outra
norma, a NBR 5410, que trata das Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Atualmente a
norma se encontra em revisão, o seu valor atual é de R$ 436,60 [13], sendo enviado um
arquivo em “pdf” para o comprador.

Figura 05 – Valor da NBR 5410 em revisão

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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A NBR 5410 é a principal norma de instalações elétrica, que possui um custo


extremamente elevado para os profissionais.

Tendo em vista que a elaboração da mesma é feita de maneira gratuita pelos


profissionais voluntários, se tivesse um valor mais acessível ou fossem distribuídas
de maneira gratuita, mais pessoas teriam acesso as informações e certamente isso
iria diminuir o número de acidentes no Brasil.

Fato é que a dificuldade de acesso aumenta a ignorância de um povo, sendo uma


benção para quem se beneficia com isso.

Para que o Ministério Público Federal possa entender como são criadas as normas
técnicas, é necessária uma leitura do estatuto da ABNT [14] disponível em seu site:
http://www.abnt.org.br/images/Docspdf/ESTATUTOABNT_abril18.pdf

No estatuto é possível compreender que uma única instituição privada tem


autonomia para elaborar normas no Brasil, cobrando dos seus associados valores que os
permitem criar normas em seus segmentos, podendo estes serem pessoas físicas ou
jurídicas.

Cabe destacar que a ABNT tem como origem das suas receitas os repasses dos
associados, da venda das normas técnicas e de diversas instituições, incluindo do governo
federal.

Podemos perceber o impacto da instituição no mercado de consumo através de uma


postagem que fala sobre a atualização de normas técnicas no setor de cimentos no Brasil
[15]. Em um trecho da reportagem e citado o convênio e a relação entre a ABNT e outros
setores.

“ O convênio entre as associações prevê, entre outras ações, a atualização do corpo normativo da ABNT para
os setores de saneamento e tratamento de resíduos, composto atualmente por 208 normas publicadas e 73 projetos
em andamento, relacionados a saneamento, e 27 normas publicadas, além de sete projetos em andamento, ligados a todos
os tipos de resíduos no país.”

Reportagem completa disponível em: https://abcp.org.br/imprensa/cooperacao-


entre-abema-e-abnt-garante-modernizacao-de-normas-tecnicas-ambientais/

Como podemos perceber na reportagem uma associação do setor de saneamento


e tratamento de resíduos trata de maneira direta com a presidência da ABNT a atualização
de diversas normas que tem um impacto direto no mercado de consumo. Cabe destacar
que as associações dessa natureza defendem os interesses do setor industrial que
consegue impactar o mercado e o consumo.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Se não houver um processo de transparência claro na criação de normas que


seja facilmente auditável e transparente, isso pode se tornar um negócio bilionário
no Brasil.

No setor elétrico, existem diversas normas criadas ou revisadas, que em muitos


casos não são feitas uma análise pensando na sociedade e na dificuldade que os
profissionais encontram para colocar as mesmas em prática, nesse caso especifico pode
ser citado a NBR 5419 (proteção de estruturas contra descargas atmosféricas).

Também pode ser citado a NBR 14136 que trata do novo Padrões de plugues e
tomadas que movimentou bilhões na economia.

No que se refere a tomada de 3 pinos, imposta no Brasil através da NBR 14136, a


revista Época em 2018 [16] fez uma reportagem específica sobre o tema, trazendo como
título: Sete anos depois quem ganhou dinheiro com a tomada de 3 pinos?

Esse é um dos trechos da reportagem:

“Mercado movimenta R$ 24 bilhões por ano e segurança das redes elétricas não aumentou”.

Em outro trecho a reportagem destaca:

“Executivo do setor elétrico há 50 anos, Marco Aurélio Sprovieri disse que, no auge da discussão para tornar a
norma obrigatória, a multinacional francesa Pial Legrand trouxe para o Brasil os moldes prontos para produzir o padrão que
aqui tinha acabado de se transformar em norma. A empresa é uma gigante que atua em 180 países com um faturamento
anual de € 4 bilhões, quase R$ 18 bilhões.”

“Comentava-se na época que a Pial já tinha as máquinas para fabricar o novo padrão antes mesmo de ele ser
imposto no Brasil”, disse Sprovieri. Só a Pial tinha o formato hexagonal. “A empresa se beneficiou mais do que os outros
fabricantes, que tiveram um pouquinho mais de dificuldade de desenvolver um novo processo fabril de produção”.

No link é possível obter mais informações sobre a reportagem:


https://epoca.globo.com/tecnologia/noticia/2018/06/sete-anos-depois-quem-ganhou-
dinheiro-com-tomadas-de-tres-pinos.html
A maioria das tentativas de justificativas técnicas de melhoria para sociedade
sobre as normas citadas, tem relação direta com benefícios obtidos por influenciadores
ligados ao setor industrial de maneira direta ou indireta, através do aumento do prestígio,
credibilidade ou melhoria do seu relacionamento com a ABNT. Muitos também fazem parte
do SISTEMA INTERLIGADO, sendo necessário não só avaliar o que diz, mas como se
beneficia através dos CNPJ`s que possuem.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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O fato é que cada vez mais estão sendo criadas bíblias técnicas através de
normas, por vezes feitas por teóricos com desconhecimento das dificuldades
sociais, que estão cada vez mais inviabilizando a prestação de serviço de bons
profissionais no setor elétrico, pois muitas coisas tem custos inviáveis para quem
contrata os serviços. Isso impacta a vida dos prestadores de serviço, dos condomínios,
comércios e indústrias, pois se não atenderem as normas técnicas podem ser penalizadas
em casos de acidentes.

Em resumo, a engenharia do Brasil está em perigo, pois o modelo de educação


e o modelo de criação das regras de trabalho, estão cada vez mais nas mãos de
empresas privadas que se beneficiam comas decisões por falta de fiscalização e
transparência.

Fica fácil pra quem não faz dizer como deve ser feito. O difícil é fazer o que
está escrito. Por vezes podemos pensar, “então onde estão as pessoas que fazem”?

Muitas delas trabalhando, tentando sobreviver em um mercado que paga cada vez
menos para engenheiros eletricistas e eletrotécnicos, por ter pessoas que estudam menos
de 100h sobre eletricidade (engenheiros civis e arquitetos) e o CONFEA, aceita que esses
profissionais assinem projetos. A ABENC também é uma instituição que incentiva esse
absurdo, motivando os profissionais com formação em engenharia civil a fazerem projetos
e inspeção elétrica sem conhecimento na área.

Considerando que o Ministério Público é o órgão responsável pela defesa dos


interesses sociais de forma a garantir a cidadania em uma sociedade. Este é um tema que
merece uma auditoria e fiscalização profunda, através da leitura do estatuto da ABNT e
compreensão aprofundada da geração de recursos e influência de uma instituição privada
que detém um monopólio na criação de normas técnicas que impactam em todo mercado
de consumo.

2. NBR 16747 – INSPEÇÃO PREDIAL

A NBR 16747 trata sobre inspeção predial, abordando as diretrizes e conceitos


sobre como deve ser feita uma inspeção. A sua publicação foi feita no dia 21/05/20,
sendo uma grande manipulação de massa para abertura de mercado para os
engenheiros civis.

Ao ler a norma encontramos as informações sobre a sua consulta pública:

A ABNT NBR 16747 foi elaborada no Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), pela Comissão de
Estudo Inspeção Predial (CE-002:140.002). O Projeto circulou em Consulta Nacional conforme Edital nº 12, de 17.12.2018 a
14.02.2019.

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Durante a fase de consulta pública que ocorreu em entre dez/18 e fev/19 tive a
oportunidade de participar de uma reunião no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Na
ocasião, foi feito uma apresentação sobre a norma, com intuito de aprovarem na mesma
reunião o que estava sendo exposto, para envio em nome da instituição.

Considerando a relevância do tema e a falta de participação de pessoas da área


elétrica em uma reunião onde predominavam engenheiros civis, destaquei que seria
necessária uma análise mais cautelosa, sendo necessário a participação de profissionais
com formação na área elétrica.

O meu pedido foi negligenciado, pois se tratava de um jogo de cartas marcadas. Ao


entender o que estava ocorrendo, informei a APEE/PR (Associação dos Engenheiros
Eletricistas do Paraná) e o CREA/PR, solicitando uma reunião com os mesmos.

Durante a reunião, fiz uma gravação em vídeo, pois tinha certeza que a norma iria
passar, sem que as nossas exigências fossem atendidas, mesmo durante o prazo de
consulta pública.

Recomendo que assistam a minha apresentação feita para o CREA/PR e APEE


nesse link, disponível no Youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=K2sDdEjsvgA&t=2937s

O vídeo chegou ao conhecimento de diversas pessoas do setor elétrico, tem o


depoimento de uma cliente que era síndica de um prédio com 16 apartamentos e teve toda
sua instalação elétrica condenada após a contratação de uma certificação das instalações
elétricas.

Infelizmente para os responsáveis pela elaboração da norma, nada do que foi dito
no vídeo foi levado em consideração e a norma manteve o seu curso, de acordo com as
articulações e manobras previstas.

Para tentar me calar, a ABENC (Associação Brasileira dos Engenheiros Civis)


entrou com uma denúncia no conselho de ética do CREA/PR. Obteve um retorno negativo
e pelo que me consta, está recorrendo no momento. Essa informação pode ser confirmada
no procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento 1.5, página 2.

Durante a consulta pública a norma teve 168 votos, sendo que destes 75 votos
foram aprovados sem restrição, 33 com observação de forma e 60 não aprovações
com objeções.

Essas informações foram enviadas para o meu e-mail por parte da ABNT no dia de
abril de 2019. As mesmas constam no procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento
1.2, página 1, sendo destacado abaixo algumas informações relevantes:

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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“O CB-002 fará em breve a convocação para a reunião especial de análise da Consulta Nacional. Estamos
cadastrando seus dados para que na ocasião da reunião, o senhor seja convidado a participar.”

Entre os comentários feitos com rejeição da NBR 16747 estão a opinião de


especialistas da ABNT/CB-003 (Comitê Brasileiro de Eletricidade), que constam no
documento 1.4, página 1, deste procedimento, com destaque para o trecho abaixo:

“Apoiamos o parecer de nosso especialista o qual corrobora com o parecer do Sr. Daniel abaixo e gostaríamos de
ter seu parecer quanto esta questão, qual seria o caminho a ser adotado.”

O Sr. Daniel citado no e-mail que recebe apoio e concordância sou eu. Cabe
destacar que o e-mail foi enviado por um dos membros do COBEI para o responsável pela
ABNT/ CB-002 (Comitê Brasileiro da Construção Civil), pedindo que fosse citado na NBR
16747, as normas da elétrica, entre elas a NBR 5410.

No ofício emitido para o Ministério Público em resposta a essa denúncia, o


COBEI adota uma postura contrária, no sentido de apoiar a ABNT, essa informação pode
ser encontrada no procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento 24.1, página 3, que
as respostas se assemelham as respostas emitidas pela ABNT, caracterizando um
alinhamento de discurso, conforme trecho do ofício, destacado na figura 06.

Figura 06 – Opinião do COBEI sobre a NBR 16747

No mesmo ofício enviado ao Ministério Público o COBEI informa que tem como
objetivo:

a) Promover, divulgar, desenvolver e dar sustentação às atividades de


Normalização Técnica do Setor Eletroeletrônico;
b) Prover suporte técnico, econômico e financeiro às atividades de normalização
do ABNT/CB-003 – Comitê Brasileiro de Eletricidade em âmbito nacional;

Cabe destacar que a missão do COBEI é:

“Mobilizar Empresas e Entidades do Complexo Eletroeletrônico e afins, visando


apoiar as Atividades de Normalização Técnica do Setor no País e no Exterior.”

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Considerando o exposto e um trecho da resposta do COBEI informado na figura 6,


que nos diz, ter sido convidado para participar das discussões somente na condição
de participante, temos uma divergência de opinião dentro do próprio COBEI.

Durante a fase que antecedeu a publicação da norma o COBEI concordou com


a minha opinião sobre a NBR 16747 (documento 1.4, página 1). Após a sua publicação
o mesmo informa que não há fundamento para a minha denúncia e que participou na
elaboração na norma representando a elétrica, somente na condição de participante.

Cabe ao Ministério Público Federal, avaliar o que fez o COBEI mudar de


opinião e o que significa participar da elaboração de uma norma somente como
participante. Isso é um conflito com a missão do COBEI e com a responsabilidade que o
mesmo carrega junto a sociedade.

O que gera espanto após a aprovação da norma é o COBEI apoiar uma norma de
Inspeção Predial, sem citar normas como a NBR 5410, feita por profissionais que estudaram
menos de 100h sobre eletricidade, sendo que a maioria dos incêndios tem como origem as
instalações elétricas.

O aumento nos incêndios e a sua origem (estimada), pode ser comprovada pela
reportagem pelo G1, com o título: Pará registra mais de 600 ocorrências de incêndios em
imóveis este ano [17].

“De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Pará, só neste ano já foram registradas cerca
de 669 ocorrências de incêndios em edificações no estado.”

Em outro trecho da reportagem o corpo de bombeiros destaca:

“Os Bombeiros indicam que as principais causas de incêndio ainda estão relacionadas aos
chamados fenômenos termoelétricos em aparelhos eletro/eletrônicos, como curto-circuito, sobrecarga
de energia e instalações elétricas em mau estado de conservação.”

No link é possível obter mais informações sobre a matéria:


https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/09/08/para-registra-mais-de-600-ocorrencias-
de-incendios-em-imoveis-este-ano.ghtml
O que a NBR 16747 está propondo é que pessoas sem conhecimento na área
elétrica façam verificação dos itens que mais geram incêndio no Brasil, gerando uma
falsa sensação de segurança para os usuários das edificações.

Caso não tenha ficado claro o termo SISTEMA INTERLIGADO, passamos a


compreender melhor o que de fato ocorre nos bastidores.

Qualquer profissional que tente se manifestar a respeito, será SEMPRE voto


vencido, pois os consensos são feitos em níveis superiores.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL x ABNT: DENÚNCIA: 20200114241/2020 - PR-SP-00057875/2020

Após o período de consulta pública da NBR 16747, compreendendo o contexto de


manipulação de massa e o jogo de cartas marcadas, no dia 20/09/19, enviei um e-mail para
os responsáveis pela CB-002 e CB-003 os meus comentários sobre a NBR 16747, incluindo
vídeos, justificando o não comparecimento na reunião que iria ocorrer na ABNT em São
Paulo/SP no dia 25/09/19 para discutir os comentários sobre a norma.

Em um jogo de cartas marcadas, qualquer minoria que se oponha a uma


grande maioria de pessoas que obtém benefícios próprios com a criação de uma
norma técnica, se torna facilmente voto vencido ou marionete.

Considerando a publicação da NBR 16747, de maneira autoritária e negligente, no


que se refere a considerar ou desconsiderar a opinião de outros especialistas, em defesa
de uma sociedade mais justa, foi necessário uma medida mais dura, sendo protocolado
pelo autor uma denúncia no Ministério Público Federal no dia 21/05/20, conforme
procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento 1, página 1, recebendo a numeração:
20200114241/2020 - PR-SP-00057875/2020.

A denúncia percorreu um fluxo interno por parte do Ministério Público Federal, sendo
solicitado esclarecimentos por parte da ABNT, COBEI e CONFEA, que responderam
através de ofícios direcionados ao MPF.

No dia 26/06/20 a ABNT através da sua presidência enviou um oficio para o


Ministério Público Federal, conforme consta no documento 20.1, página 1. Esse ofício
apresenta trechos relevantes que merecem destaque.

“A ABNT é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 28 de setembro de 1940 e considerada de utilidade
pública pela Lei 4.150, de 21 de novembro de 1962. No ano de 1992, recebeu do Governo Federal através da Resolução nº
7 do Conmetro (Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), de 24 de agosto de 1992, o título de
Único Foro Nacional de Normalização.”

Cabe destacar que a ABNT, conforme a mesma se posiciona é o Único Foro


Nacional de Normatização, em resumo detém um monopólio ao criar normas que tem força
de lei pelo CDC.

Para criar normas a ABNT recebe repasses milionários, além de ganhar com
associados que podem e têm interesses específicos. Empresas e pessoas físicas que se
beneficiam com as normas criadas e impostas a população em alguns casos, tais como a
criação da NBR 16747.

“O processo de elaboração de um Documento Técnico ABNT é iniciado a partir de uma demanda, que pode
ser apresentada por qualquer pessoa, empresa, entidade ou organismo regulamentador, que estejam envolvidos com o
assunto a ser normalizado.”

“O assunto é discutido amplamente pelas Comissões de Estudo, com a participação aberta a qualquer
interessado, independentemente de ser ou não associado à ABNT, até atingir consenso, gerando então um Projeto de
Norma.”

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Podemos perceber no texto acima citado pela presidência da ABNT que o termo
“discutido amplamente” não existe no caso da NBR 16747, pois a norma foi criada pela
CB-002, sem citar normas de outras áreas, tais como elétrica e mecânica. Uma prova
disso foi o alto índice de rejeição durante a consulta pública, com posterior
publicação da norma com poucas alterações, em resumo, mudança de palavras sem
alteração do contexto.

Como podemos pensar em inspeção predial, sem pensar nas coisas que mais
vem causando acidentes e incêndios? É de tamanha arrogância, audácia e prepotência
qualquer opinião que desconsidere esse contexto.

“Assim, uma vez detectada a necessidade de normalização de um determinado assunto, uma Comissão de Estudo
é formada para elaborar um Projeto de Norma, o qual é debatido à exaustão, até que se encontre consenso, resultando em
um texto-base que tenha maturidade suficiente para submissão à Consulta Nacional (CN) pelo prazo mínimo de 30 dias.
Durante este período, qualquer interessado pode se manifestar, sem qualquer ônus, a fim de recomendar à Comissão de
Estudo a aprovação do texto como apresentado, a aprovação do texto com sugestões ou a não aprovação, devendo, para
tal, apresentar as objeções técnicas que justifiquem sua manifestação.

Ao final deste prazo, os comentários recebidos são analisados pela ABNT/CE responsável pelo Projeto, em
reunião que conta com a participação de todos aqueles que se manifestaram, com a obrigação de apresentar resposta
a todos os posicionamentos técnicos justificados que tenham sido encaminhados.”

A obrigação de apresentar respostas é um jogo de cartas marcadas, onde a


presença dos beneficiados predomina sobre a minoria.

Para comprovar isso, o Ministério Público pode solicitar a ABNT todos os 93


comentários feitos sobre a NBR 16747 e solicitar da ABNT/CB-002 os
esclarecimentos sobre cada comentário, classificando os rejeitados e os aprovados,
com as devidas justificativas.

Se o Ministério Público Federal verificar a forma como os comentários são enviados


e respondidos, irá compreender que não existe um controle de qualidade e rastreabilidade.
Em resumo, o que quero dizer NÃO É POSSÍVEL SABER QUEM ENVIOU OS
COMENTÁRIOS feitos durante a consulta pública e QUEM APROVOU OU REJEITOU OS
COMENTÁRIOS COM JUSTIFICATIVAS, PERMITINDO CAMULHAR AS DECISÕES. Foi
isso o que foi feito na NBR 16747 e pode estar acontecendo com a criação de outras normas
técnicas no Brasil. O SISTEMA INTERLIGADO foi feito para funcionar dessa forma.

Na prática não existe um processo de transparência e quem envia os comentários


não recebe resposta. Fica evidente que ao participar da reunião que analisa os comentários
pode passar por um processo de persuasão por parte do mediador que detém a palavra e
conduz o jogo. Por isso a ABNT, considera a reunião de análise de comentários, mais
importante que os comentários enviados durante a consulta pública. É nessa hora que as
mágicas acontecem e deixam o processo parecer transparente...

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Basta nesse momento refletirmos, se mesmo que eu estivesse apresentando todas


provas, citadas até agora em uma reunião da NBR 16747 teria alguma chance de barrar ou
alterar a norma? Obviamente não, pois as cartas já foram dadas previamente e sabemos o
final do jogo.

Em sua resposta ao Ministério Público Federal a ABNT, informa que durante a


elaboração da NBR 16747, diversas instituições participaram, entre elas:

- Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece);

- Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU);

- Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA);

- Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE);

- Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI);

- Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON);

- Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis


e dos Condomínios Residenciais e Comerciais (Secovi);

- Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais


Não Ferrosos (Sindicel);

- Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon);

- Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);


- Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

A compreensão necessária por parte do Ministério Público é de que estamos falando


de uma NORMA DE INSPEÇÃO PREDIAL, em um prédio existem partes relacionadas
as áreas civis, elétricas e mecânicas, sendo que a que mais vem causando incêndio no
Brasil é a área elétrica.

Se o Ministério Público Federal investigar os nomes informados na norma


disponibilizada para consulta pública, acessíveis no documento 1.3, página 1, do
referido procedimento, vai compreender que muitas pessoas se posicionam como
membros de instituições, tais como o IBAPE (Instituto Brasileiro de Perícias e
Avaliações), no entanto, se entrarem no detalhe vão perceber que diversas pessoas
possuem benefícios diretos com a aprovação dessa norma, pois muitos tem empresa
de prestação de serviço nessa área.

O interesse oculto por parte de muitos participantes que elaboraram a NBR 16747
é fácil de compreender quando observamos os ganhos diretos com a aprovação da norma.

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Sobre o IBAPE, cabe destacar que são uma instituição cuja predominância são
profissionais com formação em engenharia civil, não tendo conhecimento técnico
aprofundado sobre Perícia Elétrica em edificações.

Isso pode ser constatado pelo quadro de associados do IBAPE/PR [18], através do
link: http://www.ibapepr.org.br/associados/.

Dando continuidade ao ofício enviado por parte da ABNT ao Ministério Público


Federal, em um dos trechos, encontramos o texto:

“A segurança de que o processo transcorreu dentro de todos seus princípios e com total transparência se reflete no
fato de que foram recebidas mais de 160 indicações de posicionamento, distribuídos em 75 recomendações de aprovação,
33 recomendações de aprovação com comentários e 60 recomendações de desaprovação.

Cabe ainda complementar o acima citado lembrando que o resultado de uma Consulta Nacional não leva em
consideração critérios numéricos, mas sim o debate técnico, cujos resultados são obtidos por meio do consenso
entre as partes interessadas, e que tais práticas,”

Através das palavras da ABNT, podemos perceber que a mesma deixa claro que A
CONSULTA PÚBLICA NÃO TEM RELEVÂNCIA. O que é considerado importante para
eles é uma VALIDAÇÃO DOS COMENTÁRIOS DURANTE UMA REUNIÃO DE DEBATE
TÉCNICO É O MAIS IMPORTANTE, é nesse momento que um bom orador consegue
MANIPULAR A MASSA e aprovar normas ou itens que facilitam a vida de prestadores de
serviços ou fabricantes.

O fato é que muitos temas são complexos para serem debatidos em pouco tempo,
não tendo tempo hábil para uma leitura na integra e uma análise crítica dos presentes em
uma reunião, que por vezes pode envolver pesquisas complementares.

Como a plateia não tem acesso e mesmo que tivesse não estuda os comentários
antes, fica fácil fazer uma leitura dinâmica e acelerada, dando mais ou menos importância
a cada tema. Um bom orador faz isso facilmente.

A forma como é feito a reunião de aprovação dos comentários dá ao MEMBRO DA


ABNT que está conduzindo a reunião técnica o poder de aumentar ou diminuir o tempo,
entre os itens relevantes, deixando por último e com menos tempo os itens mais complexos.

Com menos tempo e com uma plateia cansada por ter ficado um dia inteiro lendo
comentários fica fácil MANIPULAR UMA MASSA, fazendo com que a aprovação final tenha
passado pela aprovação de diversos especialistas e que isso irá beneficiar a sociedade.

Em resumo um sistema falho, que qualquer pessoa de má fé, que tenha boa oratória,
pode manipular a plateia, cuja predominância é de interessados.

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O benefício por trás dessa estratégia é de que nada fica registrado, não é possível
saber quais foram as justificativas para cada item aceito ou rejeitado. Não é possível saber
os nomes das pessoas e nem o que elas ganham ou perdem com o que defendem.

É nessa hora que damos a uma empresa que tem um monopólio e tem relação
direta com empresas que investem nela o poder de criar normas que em muitos casos
estão ligados com o aumento de faturamento das empresas do que com a segurança
da sociedade.

Para validar o exposto até o momento, considerando a gravidade do tema, o


Ministério Público Federal pode solicitar a ABNT o nome e a formação dos
profissionais que votaram durante a consulta pública da NBR 16747 e a lista de
presença com a formação dos profissionais que participaram da reunião de debates
citada pela ABNT.

É recomendado que o MPF solicite os comentários feitos durante a consulta


pública por parte de diversos especialistas que opinaram sobre a NBR 16747. Junto
com esses comentários, pode ser exigido da ABNT as justificativas para não inclusão
dos comentários na norma. Nesse momento, será possível perceber que não existem
tais justificativas e que quem envia os comentários, não recebe resposta, sendo
somente uma marionete do SISTEMA INTERLIGADO.

No caso da NBR 16747 o MPF irá perceber que a predominância das pessoas que
aprovaram a norma e filtraram os comentários da elétrica são de profissionais com
formação em engenharia civil, pois a norma foi criada por eles, com intuito de abrir mercado
para essa categoria. Isso não poderia ocorrer, considerando que o que mais gera
incêndios e mortes no Brasil são os acidentes com origem elétrica.

A baixa participação de profissionais da elétrica, pode ser justificada pela ABNT


como falta de interesse dos mesmos, no entanto, a ABNT/CB-002, rejeitou a opinião dos
especialistas em engenharia elétrica e tem o poder de enviar convites para uma massa cuja
predominância pode ser os profissionais com formação em engenharia civil, excluindo
quem pode contribuir de maneira negativa com os seus interesses. No caso da NBR 16747,
abrir mercado para os engenheiros civis fazerem laudos de inspeção de maneira autônoma.

Com as listas de presenças e interpretações sobre como são feitos os convites o


MPF vai poder compreender que UM PEQUENO GRUPO, que pode se beneficiar de
maneira direta ou indireta, TEM O PODER DE CRIAR NORMAS que IMPACTAM EM
TODA SOCIEDADE, MOVIMENTANDO BILHÕES DE REAIS EM NEGÓCIOS. Isso pode
estar ocorrendo em diversas normas criadas no Brasil.

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No ofício enviado para o MPF a ABNT descreve alguns trechos da NBR 16747.

“Esta Norma se aplica às edificações de qualquer tipologia, públicas ou privadas, para avaliação global da
edificação, fundamentalmente através de exames sensoriais por profissional habilitado.”

Nesse trecho a estratégia utilizada é para dar alcance a NBR 16747, dando
oportunidade para que os engenheiros civis sem conhecimento na área elétrica, façam
laudos de inspeção predial de maneira superficial em edificações públicas e privadas.

Quando a ABNT/CB-002, fala em “Avaliação Global” está tirando a responsabilidade


do profissional que fez o laudo, justamente pelo fato dos engenheiros civis não entenderem
da parte elétrica, assim como engenheiros eletricistas não entendem da parte civil. É uma
forma de se eximirem da sua responsabilidade, caso sejam negligentes com a elaboração
do laudo.

O termo “Avaliação Global” indica que “qualquer coisa” pode ser entregue para o
cliente, não deixando claro o que será inspecionado na parte elétrica. Isso é uma ANTI
ENGENHARIA e uma VERGONHA por parte da ABNT criar um documento dessa
natureza, comprometendo a segurança das edificações e ENGANANDO OS CLIENTES
QUE CONTRATAM ESSE SERVIÇO COM BASE NA NBR 16747.

Para que as edificações tenham segurança, os serviços oferecidos devem ser feitos
por especialistas em cada área de atuação.

Qual dificuldade existem em se entender que profissionais com formação na área


civil devem inspecionar a parte estrutural, os da elétrica verificam as instalações elétricas e
os da área mecânica verificam os sistemas mecânicos?

Precisamos ter limites, caso contrário TODOS estaremos sendo coniventes com
mortes semelhantes ao que acontecem com os 10 jovens no Centro de Treinamento do
Flamengo. O que mais temos que esperar acontecer para tratar desse assunto como deve
ser tratado?

É uma IGNORÂNCIA e FALTA DE SENSO CRÍTICO pensar que um engenheiro


eletricista tem condições de avaliar a parte estrutural de um prédio, no entanto,
achamos certos imaginar que um engenheiro civil pode avaliar as instalações
elétricas?

A NBR 16747, contempla essa ignorância com objetivo de beneficiar os engenheiros


civis. A norma IRÁ PREJUDICAR A SOCIEDADE, sendo seu objetivo abrir mercado para
os Engenheiros Civis poderem fazer LAUDOS SUPERFICIAIS, por isso está sendo usado
o termo “AVALIAÇÃO GLOBAL”.

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Em resumo, a NBR 16747 irá tirar dinheiro da sociedade sem aumentar a


segurança das edificações para beneficiar poucas pessoas QUE NÃO TEM
CONDIÇÕES TÉCNICAS DE AVALIAR UMA INSTALAÇÃO ELÉTRICA, pois estudaram
menos do que um eletricista precisa saber sobre eletricidade.

Em seu posicionamento para o MPF a ABNT, cita outro trecho da NBR 16747:

“NOTA Em termos da lógica de um sistema de inspeção, a inspeção predial descrita nesta Norma ocupa a função
de um exame “clínico geral” que avalia as condições globais da edificação e detecta a existência de problemas de
conservação ou funcionamento, com base em uma análise fundamentalmente sensorial por um profissional habilitado. Com
base nesta análise, pode ser recomendada a contratação de inspeções prediais especializadas ou outras ações, para
que se possa aprofundar e refinar o diagnóstico. Os procedimentos e recomendações para as inspeções prediais
especializadas não estão cobertos por esta Norma.”

A tradução de inspeção em formato “exame clínico geral” para leigos é a seguinte:

Quando ocorrer um incêndio o responsável técnico pelo laudo de inspeção predial


vai poder dizer que a avaliação foi feita em formato “clínico geral”, não cabendo a ele essa
responsabilidade. Esse é o jogo de palavras que a anos a ABNT vem usando em muitas
normas. Em resumo, as pessoas vão contratar um laudo, gastar muito dinheiro e ele
não vai servir pra nada, pois não avalia os riscos de maneira profunda em cada área.

Podemos perceber isso quando a norma define quem são os profissionais


habilitados para fazer essas inspeções prediais.

“Profissional habilitado: Profissional com formação nas áreas de conhecimento da engenharia ou arquitetura e
urbanismo, com registro no respectivo conselho de classe e consideradas suas atribuições profissionais.

NOTA Exemplos de órgãos de conselhos de classe são Conselho Regional de Engenharia e Agronomia – CREA –
e Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU.”

Traduzindo o que está sendo informado acima, estamos dizendo que um laudo de
inspeção predial, pode ser feito por profissionais registrados no CREA e no CAU, em
resumo, eng. eletricistas, eng. mecânicos, eng. civis e arquitetos.

Inocentemente poderíamos pensar que a norma beneficia todos profissionais,


no entanto, precisamos entrar mais no detalhe para compreender COMO OCORRE a
ABERTURA DE MERCADO de maneira EXCLUSIVA PARA OS ENGENHEIROS CIVIS,
obviamente, os criadores na norma com omissão da participação ativa dos
representantes da elétrica da ABNT/CB-003 e do COBEI.

No procedimento 1.34.001.004310/2020-10, documento 1.7, página 7, podemos


encontrar todas as normas que precisam ser observadas para fazer um Laudo de Inspeção
Predial, sendo elas:

- ABNT NBR 5674, Manutenção de edificações – Requisitos para o sistema de gestão de manutenção;

- ABNT NBR 13752, Perícias de engenharia na construção civil;

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- ABNT NBR 14037, Diretrizes para elaboração de manuais de uso, operação e manutenção das edificações –
Requisitos para elaboração e apresentação dos conteúdos;

- ABNT NBR 15575-1, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais;

- ABNT NBR 15575-2, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais;

- ABNT NBR 15575-3, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos;

- ABNT NBR 15575-4, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações
verticais internas e externas – SVVIE;

- ABNT NBR 15575-5, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 5: Requisitos para os sistemas de
coberturas

- ABNT NBR 15575-6, Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 6: Requisitos para os sistemas
hidrossanitários;

- ABNT NBR 16280, Reforma em edificações – Sistema de gestão de reformas – Requisitos;

- ABNT NBR ISO 5492, Análise sensorial – Vocabulário.

Todas as normas citadas como referência foram feitas pela própria ABNT/CB-
002, NÃO SENDO INCLUIDO NENHUMA NORMA DA ELÉTRICA nas referências para
se fazer uma inspeção predial. O mesmo ocorre com as normas feitas pelos engenheiros
mecânicos.

É fácil de entender os motivos pelo qual a ABNT/CB-002 não citou nenhuma norma
da área elétrica. Como os profissionais de engenharia civil estudam menos de 100h sobre
eletricista, os mesmos desconhecem as normas sobre eletricidade, que vem sendo
descumpridas e tirando muitas vidas no Brasil.

Em termos práticos, os arquitetos não tem condições de fazer uma avaliação global
em sistemas mecânicos e elétricos, e os engenheiros eletricistas desconhecem e não tem
atribuição para fazer inspeção predial, com base nas normas citadas pela CB-002. Os
técnicos ficaram de lado, mesmo tendo atribuição pelo Conselho Federal dos Técnicos para
desempenhar tal atividade.

Na prática restou somente uma categoria qualificada para fazer inspeção


predial, sendo eles os profissionais com formação em engenharia civil.

A NBR 16747 FOI UM JOGO ARTICULADO PARA BENEFICIAR A CATEGORIA


DOS ENGENHEIROS CIVIS QUE IRÁ AUMENTAR CONTRIBUIR COM OS ACIDENTES
COM ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL.

A forma como a norma foi feita denigre a imagem da ABNT e nos mostra como
existem FALHAS GRAVES que precisam ser CORRIGIDAS IMEDIATAMENTE com uma
FISCALIZAÇÃO MAIS RÍGIDA E TRANSPARENTE sobre como as normas técnicas são
feitas no Brasil.

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Essa CONCLUSÃO pode ser obtida se não avaliarmos o que está escrito na
NBR 16747 de maneira explícitas, mas sim DE MANEIRA IMPLÍCITA e oculta, sendo
essa uma manobra vergonhosa que mostra como de fato as coisas são feitas no
Brasil.

“Não foi apresentada, em momento algum, conforme a informação prestada pela comissão uma argumentação
técnica para a não aprovação do Projeto de Norma, sendo a única justificativa mencionada o fato de que este favoreceria
a classe de Engenheiros Civis, indicação que não é encontrada no documento.”

O trecho acima é uma tentativa de enganar a massa, dizendo que não está escrito
de MANEIRA EXPLÍCITA na norma que só engenheiros civis podem fazer laudos de
inspeção predial. Essa conclusão só pode ser feita de MANEIRA IMPLÍCITA, sendo essa
uma MANOBRA para OFUSCAR E CONFUNDIR O SISTEMA JUDICIÁRIO por parte da
ABNT/CB-002 ao criar essa norma e na forma como a ABTN respondeu o o Ministério
Público Federal:

“Apesar de todo esse cuidado, especialmente considerando as preocupações apontadas pelos profissionais
engenheiros elétricos, a ABNT desde já está coordenando junto ao Comitê ABNT/CB-002 (Construção Civil) aos outros
Comitês Técnicos da ABNT, como o ABNT/CB-003 (Eletricidade) e o ABNT/CB-024 (Segurança contra incêndio) a
revisão e a criação de normas específicas para cada especialidade, de modo que, em conjunto comporão um todo
mais específico para fins de inspeção predial.”

O trecho mencionado por último, significa, “agora que a norma já está publicada,
vamos ganhando tempo, dizendo para o Ministério Público Federal e para sociedade
que vamos pensar em como fazer outras normas, enquanto isso, vamos pensar em
como convencemos a sociedade que os laudos de inspeção predial em formato
“clínico geral”, são úteis e necessários.”

A ABNT assume a sua falha em não ter previsto itens e não quer
DESPUBLICAR a NBR 16747. Novas normas podem demorar anos para serem
criadas, enquanto isso, vamos deixar quantas pessoas morrendo pela falta de
cuidados com eletricidade?

Cabe ao MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL analisar os argumentos e fatos


apresentados, considerando o seu papel de zelar pela segurança da sociedade, pedindo a
ABNT que DESPUBLIQUE A NBR 16747 até que o assunto seja amplamente discutido
por especialistas multidisciplinares. Sendo despublicada a norma, a ABNT deve devolver o
dinheiro das pessoas que compraram o seu arquivo em formato “pdf” com um custo de R$
92,10, que não serve pra nada, exceto para abrir mercado para alguns engenheiros civis
que atuam nessa área se beneficiarem aos fazer inspeção predial de maneira superficial
em áreas que não dominam.

Cabe destacar que a critica não está direcionada a todos engenheiros civis, sendo
feita somente para os profissionais de negligenciam a importância de outros especialistas.

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Para comprovar o que foi dito até o presente momento, passo a descrever a opinião
de outros especialistas sobre a NBR 16747, citado em uma entrevista para Revista
Potência, ano 15, nº 175 [19].

Em um dos trechos a revista fala sobre a indignação do Presidente da Associação


dos Engenheiros Eletricistas do Brasil (ABEE) sobre a NBR 16747:

“Em comunicado datado de 26 de junho, a ABEE Nacional (Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas),
representada por seu presidente, o engenheiro eletricista José Antônio Latrônico Filho, reclama que a “norma concedeu aos
engenheiros civis praticamente a exclusividade sobre tal procedimento (inspeção predial), inclusive autorizando-os
a inspecionar toda a instalação elétrica de uma edificação independentemente de sua complexidade”.

Segundo a ABEE, “a inspeção e análise de instalações elétricas não faz parte do currículo específico dos
engenheiros civis, nem tampouco consta de qualquer norma vigente emitida pelo Confea sobre atribuições profissionais.
Portanto, seu exercício por engenheiros civis representa uma infração à Lei n. 5.194/66, além de um enorme risco para a
sociedade”.

A ABEE diz no comunicado que, após a publicação da norma, “centenas” de engenheiros eletricistas
recorreram à entidade, “demonstrando grande indignação e extrema preocupação” com o assunto.

Para a ABEE, “o adequado seria a elaboração de uma norma estruturada sob bases técnicas
multidisciplinares, onde haveria necessariamente a interação de especialidades profissionais da engenharia - civil,
elétrica e mecânica, para a técnica e adequada realização das atividades de inspeção predial, pública e privada, no
âmbito nacional”.

Na opinião de outro especialista, encontramos a seguinte informação relevante:

O engenheiro eletricista Eduardo Daniel, que no momento coordena a comissão de estudos que está revisando a
NBR 5410 diz que a NBR 16747 tem um “potencial enorme”, mas hoje seria “muito genérica”.

Para ele, é um erro não citar normas de referência, como os documentos sobre temas como combate a incêndio e
elétrica: “Se vai citar a referência normativa, teria que ter citado a NBR 5410 desde o início”.

Segundo Eduardo, a norma está prestando um desserviço para sociedade do jeito que saiu porque não cita
procedimentos. “Está deixando para decisão do próprio inspetor ver o que vai fazer: inspeção visual, ensaio,
desmonte da instalação...”.

Eduardo também revela o receio de que a inspeção venha a ser feita por pessoal sem conhecimentos na área
elétrica. “Assim como eu, engenheiro eletricista, não tenho a mínima noção de o que é fazer inspeção numa estrutura
de concreto, acho que engenheiros civis podem não saber o que é importante numa instalação elétrica. Tem que ser
cada um na sua seara”, defende.

Podemos perceber que não se trata de um manifesto individual, diversos


especialistas do setor elétrico estão alertando sobre as negligências cometidas por parte
da ABNT/CB-002 ao elaborar essa norma e mantê-la publicada da forma como está.

No link encontra-se a entrevista: https://revistapotencia.com.br/revista-pdf/revista-


potencia-ed-175-em-pdf/

3. COMO FUNCIONA O SISTEMA INTERLIGADO

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Em termos práticos toda rede funciona com base em decisões feitas por pessoas
influentes colocadas de maneira estratégica dentro de cada instituição. Quando cito os
problemas encontrados dentro da ABNT, CONFEA e COBEI, não podemos deixar de lado
a contribuição essencial para o crescimento do Brasil feita através do trabalho destas
instituições.

É possível que muitas coisas que estão sendo apresentadas nesse documento não
sejam do conhecimento dos diretores dessas instituições, no entanto, cabe aos seus
governantes selecionarem melhor os seus tomadores de decisão, para evitarem problemas
dessa natureza.

Também podemos pensar que em um pais onde predomina a corrupção um sistema


que não permite transparência, possa ser do conhecimento de muitas pessoas que não tem
interesse em mexer nisso.

O FATO É QUE DO JEITO QUE A NBR 16747 FOI CRIADA NÃO PODE
ACONCETER NOVAMENTE COM NENHUMA OUTRA NORMA.

A ABNT é uma empresa que detém um monopólio e presta um serviço


importante para o Brasil. Precisa ser um exemplo em transparência nos seus
processos, fato este que não ocorre no momento.

Por vezes, sobre pressão, após terem feito algo errado, é melhor tentar lutar até o
fim do que retroceder e corrigir o erro. Isso é inerente ao ser humano, principalmente
quando envolve questões financeiras e uma forte pressão por trás do que ocorre.

Cabe a nós como profissionais que estamos na base dessa pirâmide, pensar sobre
qual é o nosso verdadeiro papel como engenheiros, advogados, arquitetos e cada profissão
criada para resolver os problemas da sociedade.

Estamos assistindo milhares de pessoas sofrerem acidentes e mortes com energia


elétrica em virtude de um jogo de interesse estrategicamente montado para beneficiar uma
pequena parcela desse SISTEMA INTERLIGADO.

No sistema encontramos instituições importantes, que vem influenciando o consumo


e a prestação de serviço no Brasil. No que se refere a NBR 16747, o SISTEMA
INTERLIGADO criou uma norma técnica que de maneira IMPLÍCITA, permite que somente
os engenheiros civis possam fazer laudos de inspeção predial. Uma atitude autoritária,
negligente e que deve ser duramente penalizada para evitar que isso ocorra
novamente.

A grande questão é: Mais quantas normas não estão sendo criadas no Brasil
em um formato semelhante?

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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O SISTEMA INTERLIGADO está presente na criação de diversas normas,


exercendo poderes de influência com maior ou menor representatividade.

Nesse sistema encontramos alguns elementos que merecem destaque:

ABNT – Trata-se de uma Instituição pública de direito privado que recebe dinheiro
do Governo Federal (Governo Federal), CONFEA, FINEP, Inmetro, indústrias, entre outras
instituições e interessados. Os contratos da ABNT com outras empresas são
MILIONÁRIOS. As decisões feitas por ela movimentam BILHÕES DE REAIS de
maneira direta e indireta, impactando fortemente a sociedade.

A ABNT também se beneficia com a venda de normas técnicas praticando


valores abusivos (extremamente altos) com a realidade econômica dos profissionais.
Usando como referência os valores das normas técnicas obtidos no site da ABNT um
profissional que abre uma empresa de projetos elétricos, precisa investir facilmente mais
de R$ 3.000,00 em normas técnicas para começar a trabalhar na área.

Considerando os repasses milionários que a instituição recebe e o fato de não pagar


para que as pessoas elaborem as normas, caso as NORMAS TÉCNICAS não tivessem um
VALOR TÃO ALTO, teríamos o conhecimento compartilhado com mais pessoas, reduzindo
muito o número de acidentes no Brasil. No entanto, isso não é do interesse de muitos que
fazem parte do SISTEMA INTERLIGADO e se beneficiam com o desconhecimento da
maioria dos profissionais de engenharia sobre o que está sendo abordado nesse
documento.

SISTEMA CONFEA/CREA – É uma instituição geralmente governada por


engenheiros civis, colocados nesse lugar por voto. A engenharia civil por ser mais antiga
no Brasil e pela demanda de mercado, em quantidade possui muito mais profissionais,
facilitando a colocação de engenheiros civis em posições estratégicas.

O CONFEA sempre que é questionado sobre a diferença de atribuição entre


engenheiros eletricistas e engenheiros civis, se posiciona de maneira VERGONHOSA e no
bom português, sempre sai pela tangente, gerando uma falsa interpretação de que não
existe um grave problema na engenharia do Brasil.

Ao ser questionado pelo Ministério Público Federal, ao receber uma cópia do


manifesto inicial, o CONFEA respondeu através do oficio que consta no procedimento
1.34.001.004310/2020-10, documento 29.1, página 2, dizendo:

“Destaca-se ainda que as atribuições de cada modalidade não se confundem entre si cabendo, inclusive, autuação
por exorbitância àquele profissional que extrapolar suas atribuições, ou seja, que se incumbir de atividades estranhas às
atribuições discriminadas em seu registro, conforme previsto na alínea 'b' do art. 6°, da Lei n° 5.194, de 1966.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Contudo, as atribuições profissionais não são, por assim dizer, "engessadas" ou "vinculadas" a um título
profissional, no sentido de que, caso um profissional pertencente a uma determinada modalidade venha cursar
conteúdo referente a outra modalidade profissional dentro do mesmo grupo ou mesmo conclua curso stricto sensu,
no caso deste se tratar de pós-graduação no mesmo grupo ou diferente da formação inicial do profissional, a
concessão da extensão da atribuição inicial de atividades e de campo de atuação profissional no âmbito das
profissões fiscalizadas pelo Sistema Confea/Crea será em conformidade com a análise efetuada pelas câmaras
especializadas competentes do Crea da circunscrição na qual se encontra estabelecida a instituição de ensino ou a
sede do campus avançado, conforme o caso, nos termos do art. 7°, da Resolução Confea n° 1.073, de abril de 2016, a qual
regulamenta a atribuição de títulos, competências e campos de atuação profissionais aos profissionais registrados no Sistema
Confea/Crea para efeito de fiscalização do exercício profissional no âmbito da Engenharia e da Agronomia.”

Dando continuidade em sua resposta o CONFEA também informa:

“Assim, cabem aos Conselhos Regionais a verificação de eventual transgressão à legislação profissional no que se
refere ao exercício das atividades previstas na Lei n° 5.194, de 1966, de forma que eventual exorbitância cometida por
profissional estará passível de aplicação de penalidade.”

O que o CONFEA está tentando induzir o Ministério Público Federal a pensar é que
dos 9 projetos elétricos feitos por engenheiros civis a cada 10 elaborados (usando como
extrapolação os dados do CREA/PR), grande parte engenheiros civis possuem uma
especialização complementar na área elétrica.

O fato é que o sistema dos conselhos regionais não restringe os engenheiros


civis que não possuem especialização complementar a emitirem ART (Anotação de
Responsabilidade Técnica) nas áreas de projetos e laudos de natureza elétrica. A
própria Associação Brasileira dos Engenheiros Civis (ABENC) induz os mesmos a
fazerem projetos com base no conhecimento obtido durante a sua graduação, sem
formação complementar, sendo esta uma realidade de mercado.

Em resumo uma tentativa de MANOBRA VERGONHOSA por parte do CONFEA,


pois é de conhecimento público, o quanto os engenheiros civis que trabalham com
eletricidade, acreditam que estudando menos de 100h, tem o conhecimento
necessário sem limitações para fazerem projetos ou inspeções elétricas, conforme
mostra o estudo do CREA/PR na figura 02.

Grande parte do problema estaria resolvido se o CONFEA tivesse um único


posicionamento, que deveria ser responder 1 só pergunta:

CONFEA, nos responda de maneira objetiva, com base na formação


acadêmica dos engenheiros civis, eles podem fazer projetos e inspeções na área
elétrica? Ou eles só podem fazer essas atividades se tiverem uma pós graduação na
área elétrica?

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Um POSICIONAMENTO OBJETIVO por parte do CONFEA sobre esse tema, já iria


evitar muitas mortes no Brasil, no entanto, por omissão eles repassam para os CREA's a
responsabilidade de fiscalizar, sabendo que o núcleo do problema é a resposta que
precisam dar e não dão para não prejudicar as pessoas que os elegeram.

Cabe destacar que na súmula da 591ª reunião da Câmara Especializada de


Engenharia Elétrica realizada no dia 31 de julho de 2020, está sendo informado um repasse
de R$ 750.000,00, através de contratos anuais entre a ABNT e o sistema
CONFEA/CREA, caracterizando uma forte ligação entre as instituições.

COBEI – É uma associação civil de direito privado, que exerce forte influência na
ABNT, tendo como associados outras associações e indústrias. Tem como objetivo:

a) Prover suporte técnico, econômico e financeiro às atividades de normalização


do ABNT/CB-003 – Comitê Brasileiro de Eletricidade em âmbito nacional;
b) Participar em fóruns que envolvem a Normalização Técnica do Setor
Eletroeletrônico;
c) Incrementar a Representatividade e a Participação de empresas e entidades na
Normalização Técnica no Brasil e no exterior, entre outras.

O COBEI tem como missão mobilizar empresas e entidades do complexo


eletroeletrônico e afins, visando apoiar as atividades de normalização técnica do setor no
País e no Exterior.

Cabe destacar que o COBEI é mantido por indústrias, que por sua vez, através da
influência no COBEI, decorrente de suas lideranças conseguem influenciar diretamente as
decisões tomadas na ABNT, no que se refere a criação de normas técnicas.

O SISTEMA INTERLIGADO TEM O PODER DE MOVIMENTAR BILHÕES,


principalmente, quando refletimos sobre as palavras da própria ABNT, enviadas para o
Ministério Público Federal, informando como compilam os dados e decidem o que entra ou
é rejeitado, após a norma passar pela consulta pública. A frase abaixo, escrita pela ABNT
no oficio enviado ao MPF, merece atenção:

“Ao final deste prazo, os comentários recebidos são analisados pela ABNT/CE responsável pelo Projeto, em
reunião que conta com a participação de todos aqueles que se manifestaram, com a obrigação de apresentar resposta
a todos os posicionamentos técnicos justificados que tenham sido encaminhados.”

É nesse momento que os interesses podem exercer influência sobre a criação de


normas que impactam o mercado de consumo. Nessas reuniões temos Interessados
Ocultos na plateia fazendo parte do teatro, com objetivo apoiar decisões que podem
beneficiar as indústrias, sem fazer uma análise de viabilidade do que é melhor para
sociedade como um todo.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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INTERESSADOS OCULTOS – Nesse grupo encontramos especialistas no setor


elétrico, pessoas com formação e alcance da sua mensagem, que defendem o SISTEMA
INTERLIGADO. Algumas dessas pessoas colocam em seu currículo que são responsáveis
pela criação de normas e que estão preocupados com a sociedade, no entanto, quando se
torna necessário ter um posicionamento, fazem como o CONFEA, saindo pela tangente.

De maneira resumida, não falam sobre coisas polêmicas ou quando falam, não
dizem nada com nada para não comprometer ninguém.

Para reconhecer um interessado oculto é necessário estudá-lo com mais carinho,


lendo suas postagens, assistindo seus vídeos, observando como se posiciona através do
Linkedin, seminários, grupos de WhatsApp, entre outras redes sociais.

A função principal do INTERESSADO OCULTO é tirar o foco do real problema,


confundindo a opinião da massa, principalmente quando nos referimos a outros
especialistas que desconhecem o que está escrito nesse documento.

Os mesmos se beneficiam das mais diversas formas, sendo que geralmente não
são prestadores de serviço que conhecem a realidade do mercado. São geralmente
teóricos que não emitem uma Anotação de Responsabilidade Técnica a muitos anos, pois
não precisam disso para sobreviver e não estão preocupados com quem precisa.

Tem por hábito, apoiarem ideias de normas cada vez mais rígidas e por padrão dão
ênfase nos problemas e não na solução deles de maneira palpável, apresentando
propostas de melhorias empíricas ou transferindo a culpa para os profissionais da área
elétrica. Muitos desses se posicionam como donos da verdade, podendo serem associados
aos Fariseus, do século II a.C.

Infelizmente, encontramos muitos engenheiros eletricistas, fazendo esse papel de


apoiadores e defensores da ABNT. Em termos práticos, eles se beneficiam com o uso do
nome e da proximidade com a ABNT, por isso deixam de ver o que realmente importa e
deve ser visto, focando somente nos detalhes.

Na prática, muitos tendem a criticar esse documento e o que está sendo exposto,
sem considerar a gravidade do tema para sociedade. É um padrão típico desse grupo.

Também encontramos uma velha guarda e uma nova geração em busca de status
que tem entrado nesse SISTEMA INTERLIGADO, sendo conduzida e manipulada por essa
velha guarda.

Com o uso das redes sociais, a velha guarda entendeu que precisa se conectar com
pessoas mais jovens para gerar conteúdos digitais e essas parcerias geram benefícios para
todos.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Quando deixamos de olhar o problema como deve ser visto e começamos a criar
dificuldades para vender oportunidades, passamos a COMPROMETER UMA
SOCIEDADE.

No que se refere a NBR 16747, os membros do SISTEMA INTERLIGADO estão


contribuindo de maneira indireta com o número de acidentes e mortes no Brasil, pois estão
colocando os seus interesses pessoais à frente das necessidades da população.

O fato é que todo esse SISTEMA INTERLIGADO vem criando normas cada vez
mais rígidas sem conhecer a realidade e as necessidades da população. Em muitos
casos não são feitos estudos que VERDADEIRAMENTE justifiquem muitas mudanças
técnicas, beneficiando por vezes, pessoas que têm ganhos diretos com as aplicações
das normas e não a população.

É uma vergonha é sabermos que a ABNT/CB-003, COBEI e o CONFEA são


coniventes e apoiam essa ação vergonhosa por parte da ABNT/CB-002 ao criar a NBR
16747, se OMITINDO ou SENDO SUPERFICIAIS em suas opiniões, assim como muitos
especialistas do Brasil.

4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ENGENHEIROS ELETRICISTAS (ABEE)

No dia 09/06/20 a Associação Brasileira dos Engenheiros Eletricistas (ABEE)


enviou um comunicado extrajudicial para ABNT através do seu presidente, Eng.
Eletricista José Antônio Latrônico Filho. O mesmo também é coordenador nacional das
Câmaras Especializadas de Engenharia do Sistema CONFEA/CREA.

Alguns trechos desse comunicado enviado para presidência da ABNT por parte da
ABEE, que são de grande relevância, serão transcritos aqui. O documento completo está
no anexo II, disponível para conferência do Ministério Público Federal:

“Como é do conhecimento de Vossa Senhoria, foi elaborada por essa entidade a Norma Técnica NBR
16747/2020, aprovada no dia 21/05/20, tendo sido negligenciados os comentários de Engenheiros
Eletricistas especialistas na área.

Na prática, muitas normas são criadas para a satisfação de interesses meramente corporativos,
num jogo de cartas marcadas, sem transparência, com divulgações e encontros personalizados para
apoiadores.

Essa norma foi elaborada pela Comissão de Engenharia Civil (CB002) da ABNT, tendo tido muito
pouca participação e representatividade de Engenheiros Eletricistas; no entanto, trata de áreas de
atuação comum de ambas as modalidades de profissionais.

A ideia central da norma é obrigar que os prédios públicos e privados tenham um laudo de
inspeção predial multidisciplinar.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Baseado nas leis Nº 5.194, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1966, e Nº12.378, DE 31 DE DEZEMBRO DE


2010, somente engenheiros civis e arquitetos poderiam fazer esse tipo de laudo.

A norma aprovada em 21/05/20, em PLENA PANDEMIA, cita que os profissionais podem chamar
outros especialistas, mas na prática isso muito raramente ocorre.

Ela prevê que sejam feitas inspeções em sistemas elétricos de edificações de maneira multidisciplinar
(um único especialista assina o laudo, geralmente engenheiro civil), por profissionais (engenheiros civis)
que se graduam tendo cursado menos de 100 horas x aula sobre eletricidade; na maioria das faculdades,
essa carga horária não atinge sequer 75 horas x aula. Isso NÃO CREDENCIA NENHUM ENGENHEIRO CIVIL
A ELABORAR LAUDOS TÉCNICOS EM ELETRICIDADE, POR FALTA DE FORMAÇÃO TÉCNICA
SUFICIENTE.

A carga horária de estudos que um engenheiro civil recebe sobre eletricidade é muito menor que a de
um eletrotécnico, para realizar esse tipo de trabalho.

A Norma de Inspeção Predial criada basicamente por engenheiros civis e arquitetos não cita as
principais normas de segurança das instalações elétricas, entre elas a norma ABNT NBR 5410 que trata
das Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Nela são tratados diversos temas importantes, como o
dimensionamento dos circuitos elétricos, que podem evitar incêndios como o que matou dez jovens no
CT do Flamengo, entre outros aspectos importantes.

Os temas técnicos, na prática, são decididos por poucas pessoas, mas influenciam todo o contexto
técnico nacional.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, todo serviço ou produto comercializado deve estar
em conformidade com as normas técnicas, mas não existe fiscalização adequada, tampouco tecnicidade e
responsabilidade na elaboração dessas normas, resultando na manipulação do mercado consumidor.

Muitas pessoas vêm morrendo por conta de negligências de alguns engenheiros civis e
arquitetos que acreditam ter conhecimento na área elétrica. Laudos são elaborados de maneira muito
superficial, por parte de alguns engenheiros civis e arquitetos que acreditam possuir competência para
atuar na área elétrica.

Legalmente falando, nenhum engenheiro civil ou arquiteto possui atribuições para atuar na área
elétrica. As atribuições dos engenheiros civis estão no artigo 28 do Decreto 23.569/33 ou no artigo 7º da
Resolução N. 218/73 do Confea, a depender da época em que o profissional se graduou. As atribuições dos
arquitetos estão no artigo 2º da Lei N. 12.378/10. Basta uma leitura atenta desses dispositivos legais para se
constatar que as palavras “elétrico” ou “eletricidade” não são mencionadas uma vez sequer no rol de atribuições
lá elencadas.

Na prática, o consumidor e a sociedade acabam ficando com uma falsa sensação de segurança
ao acreditar que as instalações elétricas estão corretas por terem sido inspecionadas por arquitetos ou
engenheiros civis; mas não estão, pois foram inspecionadas por profissionais sem habilitação legal e
capacitação técnica suficiente.

Esses mesmos profissionais, reunidos numa instituição de enorme importância para a


sociedade, aprovaram escandalosamente uma norma técnica para inspecionar os problemas de
incêndios, cuja maioria tem como origem instalações elétricas malfeitas por muitos deles.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Sob o ponto de vista técnico, importante salientar que, para a elaboração e execução de projetos de
instalações de energia elétrica sem restrições quanto a carga, tensão e tipo ou condição de trabalho, somente
os engenheiros eletricistas estão plenamente habilitados, ou os profissionais que tenham em sua grade
curricular uma carga horária e conhecimento similar, em se tratando de sistemas de eletricidade.

Na elaboração e execução de projetos e instalações de energia elétrica em baixa tensão, média ou


alta tensão, deve-se considerar que essas instalações:

a) podem se destinar ao suprimento de energia elétrica a locais que exigem a utilização de materiais
especiais de segurança e proteção, como hospitais, postos de gasolina e afins;

b) podem ser dotadas de sistema de geração de energia, como centros de processamento de dados e
afins;

c) podem se destinar ao suprimento de energia para espaços de reuniões, como teatros, cinemas,
templos, ginásios, hotéis, "shopping-centers", mercados, escolas e afins (norma ABNT NBR 13570 –
Instalações elétricas em locais de afluência de público – Requisitos específicos);

d) podem alimentar instalações onde se verifique a presença de gases ou vapores inflamáveis, assim
como poeiras, fibras, combustíveis, etc. (norma ABNT NBRIEC 60070-14 – Atmosferas explosivas. Parte 14 –
Projeto, seleção e montagem de instalações elétricas);

e) podem necessitar de sistemas complexos de proteção contra descargas atmosféricas e sobre


tensões, em especial nos locais onde a mínima elevação do potencial de terra pode causar sérios riscos a
equipamentos sensíveis e até a morte de pessoas (norma ABNT NBR 5419 – Projeto contra descargas
atmosféricas – Parte 1 à 4);

Em muitos casos deve-se considerar a necessidade de se proceder ao estudo prévio e à análise dos
circuitos da rede elétrica de distribuição da concessionária à qual o prédio estará conectado.

Precisa-se também realizar o cálculo da demanda, quando aplicado o compartilhamento de fases


(circuitos trifásicos), bem como realizar o cálculo das correntes de curto-circuito do sistema de proteção.

Além disso, deve-se levar em consideração o tipo de carga que estará conectado à instalação elétrica
trifásica. Pode haver a conexão de máquinas elétricas síncronas (motor, gerador ou compensador), máquinas
assíncronas, fornos resistivos ou indutivos, entre tantas outras com “n” especificidades distintas. Para essas
instalações elétricas trifásicas precisa-se analisar o seu regime de trabalho, o tempo de partida/aquecimento, a
seletividade, o relé de proteção, entre outros, tornando complexos tanto o projeto quanto o dimensionamento
do circuito trifásico.

Ainda sobre cargas típicas de circuitos trifásicos, que influenciam em todos os pontos do projeto e no
dimensionamento das instalações elétricas: precisam ser consideradas e tratadas as harmônicas geradas pelos
dispositivos de acionamento (soft starter, inversor de frequência etc.) e a devida correção do FP (Fator de
Potência, dimensionando e aplicando um banco capacitivo ou um filtro ativo de potência.

Sob o ponto de vista jurídico, o tema foi pacificado nos Tribunais, reconhecendo a
INCOMPETÊNCIA TÉCNICA DO ENGENHERIRO CIVIL PARA OBRAS E PROJETOS ELÉTRICOS:

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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APELAÇÃO CÍVEL. ENGENHEIRO CIVIL. COMPETÊNCIA PARA INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO


DE SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS (SPDA). IMPOSSIBILIDADE. 1. O
exercício da profissão de engenheiro é disciplinado pelo Decreto nº 23.569/33, que regula o exercício das
profissões de engenheiro, arquiteto e agrimensor. 2. O Decreto nº 23.569/33 dispõe, em relação ao engenheiro
civil, ser de sua atribuição as seguintes atividades (art. 28): trabalhos topográficos e geodésicos; estudo, projeto,
direção, fiscalização e construção de edifícios, com todas as suas obras complementares; estudo, projeto,
direção, fiscalização e construção das estradas de rodagem e de ferro; estudo, projeto, direção, fiscalização e
construção das obras de captação e abastecimento de água; estudo, projeto, direção, fiscalização e construção
de obras de drenagem e irrigação; estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras destinadas ao
aproveitamento de energia e dos trabalhos relativos às máquinas e fábricas; estudo, projeto, direção,
fiscalização e construção das obras relativas a portos, rios e canais e dos concernentes aos aeroportos; estudo,
projeto, direção, fiscalização e construção das obras peculiares ao saneamento urbano e rural; projeto, direção
e fiscalização dos serviços de urbanismo; engenharia legal, nos assuntos correlacionados com a especificação
das atividades anteriores; perícias e arbitramentos referentes à matéria das atividades anteriores. 3. A
Resolução nº 318/1973, do CONFEA, no intuito de discriminar as diferentes modalidades profissionais da
engenharia, arquitetura e agronomia, define, para efeitos de fiscalização do exercício profissional, as atividades
que competem a cada uma delas, atribuindo ao engenheiro civil as atividades referentes a edificações, estradas,
rios, pistas de rolamentos e aeroportos; sistema de transportes, de abastecimento de água e de saneamento;
portos, rios, canais, barragens e diques; drenagem e irrigação; pontes e grandes estruturas; seus serviços afins
e correlatos (art. 7º). 4. A mesma norma, em seu art. 8º, estabelece as atribuições do engenheiro eletricista, a
saber: geração, transmissão, distribuição e utilização da energia elétrica; equipamentos, materiais e máquinas
elétricas; sistemas de medição e controle elétricos; seus serviços afins e correlatos. 5. Nos termos do art. 25 da
referida Resolução, "nenhum profissional poderá desempenhar atividades além daquelas que lhe competem,
pelas características de seu currículo escolar, consideradas em cada caso, apenas as disciplinas que
contribuem para a graduação profissional, salvo outras que lhe sejam acrescidas em curso de pós-graduação,
na mesma 1 modalidade" 6. A divisão entre as atribuições das diversas modalidades de engenharia não
configura novidade trazida pela Resolução nº 318/1973, do CONFEA, que apenas esmiuçou o conteúdo do
Decreto nº 23.569/33, tratando-se de técnica por este já adotada. 7. O CONFEA é a instância superior da
fiscalização do exercício profissional da engenharia, arquitetura e agronomia, sendo sua atribuição, dentre
outras, baixar e fazer publicar as resoluções previstas para sua regulamentação e execução (art. 27, f, Lei nº
5.194/66). 8. O CONFEA, detentor do conhecimento técnico relativo à profissão de engenheiro, ao ressalvar,
em relação ao engenheiro civil, a atribuição para atividades relativas ao SPDA, agiu dentro dos limites em lei
estabelecidos, não cabendo ao Poder Judiciário se imiscuir na esfera de competência do Conselho para ampliar
o rol de atribuições por ele conferidas a esse profissional. 9. Apelação e remessa necessária providas para
denegar a segurança. (TRF-2 - APELREEX: 01137006620154025001 ES 0113700-66.2015.4.02.5001, Relator:
EUGENIO ROSA DE ARAUJO, Data de Julgamento: 25/05/2017, 6ª TURMA ESPECIALIZADA).

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DECRETO FEDERAL Nº 23.569/1933.


CONFEA: RESOLUÇÃO 218/73 E DN 70/2001. ENGENHEIRO CIVIL E ELETRICISTA. HABILITAÇÕES
DISTINTAS. SISTEMA DE PROTEÇÃO DE DESCARGA ATMOSFÉRICA. TITULAÇÃO DO PROFISSIONAL.
ESFERA ADMINISTRATIVA. 1. Pretende o apelante a obtenção da ordem voltada a inibir a atuação do CREA
que lhe impeça o exercício de atividades profissionais de engenharia civil com a possibilidade de executar o
serviço de engenharia elétrica referente aos imóveis sob sua responsabilidade (para-raios, cerca elétrica,
elevador, projeto elétrico e lógica). 2. O exercício da profissão de engenheiro encontra-se disciplinada pelo
Decreto Federal nº 23.569/1933 que dispõe relativamente ao engenheiro civil nos artigos 28 e 29. As atribuições
do engenheiro eletricista encontram-se reguladas no artigo 33 do mesmo diploma legal. 3. A Resolução nº
218/73 do CONFEA estabelece o limite de atribuições de cada especialidade de engenharia, fazendo menção
às obras que podem ser executadas sob a condução de cada especialidade. 4. A distinção entre as atribuições
das habilitações em engenharia civil e elétrica não foram criadas pela Resolução nº 218/1973, posto que tal
separação já havia sido feita pelo Decreto nº 23.569/1933. 5. A existência de procedimento administrativo
favorável ao cancelamento de autuação do impetrante por atividade relacionada ao Sistema de Proteção Contra
Descarga Atmosférica- SPDA (DN 70/2001 do CONFEA) em nada modifica a conclusão deste processo. O DN
nº 70/2001 foi anulado por vício de forma, com o cancelamento de todos os autos de infração com tal motivação.
Por outro lado, o Conselho deliberou que a competência do profissional para executar atividade de SPDA deve
ser analisada caso a caso, observando a titulação do profissional. 6. Ao Judiciário não cabe ampliar a
competência profissional para garantir aos engenheiros civis atribuições para as quais estes não se habilitaram.
7. Apelo conhecido e desprovido (TRF2, 7ª Turma Especializada, AC 20145001002187, relator Desembargador
Federal José Antônio Neiva, 09/09/2015).

ADMINISTRATIVO. CONSELHO DE ENGENHARIA E AGRONOMIA. PROJETOS DE SISTEMAS DE


PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS (SPDA). A competência para assinar e executar projeto
referente a Sistema de Proteção contra Descargas Elétricas Atmosféricas (SPDA) não é do Engenheiro Civil.
(TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº 5018643-46.2013.404.7200, 4ª TURMA, Des. Federal CANDIDO ALFREDO
SILVA LEAL JUNIOR, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 04/09/2014).

ADMINISTRATIVO. ENGENHEIRO CIVIL. ASSINATURA DE PROJETOS DE SISTEMAS DE


PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS (SPDA). NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE
REQUISITOS. 1. A competência para assinar e executar projetos referentes a Sistema de Proteção contra
Descargas Elétricas Atmosféricas (SPDA) não é do Engenheiro Civil. 2. A fabricação de estruturas metálicas
não envolve atividade privativa de engenheiro mecânico. 3. Há autorização para que engenheiros civis possam
realizar a condução de obras que envolvam instalações elétricas de baixa tensão para fins residenciais e
comerciais de pequeno porte. 4. Apelação parcialmente provida. (TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº 5000436-
22.2011.404.7215, 3ª TURMA, Des. Federal FERNANDO QUADROS DA SILVA, POR UNANIMIDADE,
JUNTADO AOS AUTOS EM 22/08/2013).

ADMINISTRATIVO. ENGENHEIRO CIVIL. DECRETO Nº 23.569/33. ASSINATURA DE PROJETOS


DE SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS (SPDA). NECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DE REQUISITOS. 1. Hipótese em que se justifica o empenho do CONFEA em


explicitar a disposição extremamente singela do Decreto nº 23.569/33 que defere ao engenheiro civil a
habilitação profissional para a realização de "obras complementares" aos estudos, projetos, direções,
fiscalizações e construções de edifícios. Essa atividade não gera discricionariedade, pois sua adoção decorre
da necessidade de fixação da melhor solução técnica ou, em alguns casos, dos limites técnicos mínimos de
observância. 2. No controle judicial, o mais relevante é a sindicância da adequação da solução técnica imposta

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL x ABNT: DENÚNCIA: 20200114241/2020 - PR-SP-00057875/2020

no plano infra legal, sendo certo que, por meio de peritos, seria possível discutir a adequação dos
critérios ali definidos. Ocorre que isso não pode ser sindicado, haja vista que o mandado de segurança não
admite dilação probatória. 3. Ainda que o currículo do impetrante seja bastante extenso, há necessidade de
comprovação dos requisitos formais para o exercício da atividade que pretende realizar assinar, consistente em
projetos de Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA). 4. Apelação e remessa oficial
providas. (TRF4, APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 0011715-09.2009.404.7200, 3ª TURMA, Juiz
Federal NICOLAU KONKEL JUNIOR, POR UNANIMIDADE, D.E. 28/02/2011, PUBLICAÇÃO EM 01/03/2011.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ENGENHEIRO CIVIL. RESPONSABILIDADE TÉCNICA.


ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS. INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE MAIOR PORTE E OBRAS DE
PAISAGISMO. DECRETO Nº. 23.569/33 E RESOLUÇÃO CONFEA Nº. 218/73 e 1.010/2005 DO CONFEA.
ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DOS ENGENHEIROS ELETRICISTAS E ARQUITETOS. DIREITO ADQUIRIDO A
REGIME JURÍDICO. INEXISTÊNCIA. ENTENDIMENTO PACIFICADO NA SUPREMA CORTE. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. FIXAÇÃO DE ACORDO COM O ART. 20, parágrafo 4º DO CPC. APELAÇÃO IMPROVIDA.
1. Hipótese em que a apelante pretende a emissão de nova Certidão de Registro e Quitação pelo CREA/RN,
sem as exceções nela consignadas quanto à ausência de atribuições da apelante para a realização de obras
de paisagismo e de instalações elétricas, exceto as de baixa tensão em edificações. 2. Inexistência de
ilegalidade no ato administrativo que reconheceu a inaptidão da empresa apelante para a realização de
atividades de paisagismo e de instalações elétricas, salvo aquelas realizadas em baixa tensão nas edificações
sob condução da apelante, tendo em vista que a análise da capacidade técnica do profissional engenheiro
indicado pela apelante foi feita pelo CREA/RN em conformidade com a legislação pertinente, especialmente os
atos normativos editados pelo CONFEA. 3. A Resolução nº. 218/73 do CONFEA estabelece o limite de
atribuições de cada especialidade de engenharia, fazendo menção às obras que podem ser executadas sob a
condução de cada especialidade. 4. De acordo com o anexo II da Resolução nº. 1.010/2005 do CONFEA, os
engenheiros civis não possuem atribuições profissionais para a execução de instalações elétricas de maior
porte e que envolvem tensões elétricas elevadas, estando habilitados apenas para a realização de obras que
envolvem instalações elétricas em baixa tensão para fins residenciais e comerciais de pequeno porte. 5. Nos
termos dos artigos nº. 28 do Decreto nº. 23.569/33 e 2º da Resolução 218/73 do CONFEA, o engenheiro civil
ou engenheiro arquiteto não possuem atribuição para anotação de responsabilidade técnica por projeto elétrico
de tensão elevada e também não estão autorizados a realizar obras de caráter paisagístico, as quais devem
ser executadas sob responsabilidade técnica de engenheiro eletricista e de um arquiteto, respectivamente. 6.
O Supremo Tribunal Federal já reconheceu que inexiste direito adquirido a regime jurídico. Assim, ainda que o
responsável técnico apresentado pela apelante tenha colado grau em 1971 e obtido o registro no CREA na
vigência do Decreto nº. 23.569/33, não se pode cogitar da aplicação das disposições desse Normativo à
contratação das obras a serem realizadas quando já se encontravam em vigor a Lei nº. 5.144/66 e a Resolução
nº. 218/73, que normatizou as atribuições dos arquitetos e dos engenheiros, nas suas respectivas áreas de
atuação. 7. Os honorários sucumbenciais foram fixados em conformidade com o parágrafo 4º do artigo 20 do
CPC, descabendo qualquer reparo na sua estipulação. 8. Apelação improvida. (AC 200784000090010,
Desembargador Federal Francisco Barros Dias, TRF5 - Segunda Turma, 04/02/2010).

Tendo em vista que a norma técnica em comento revela-se um atentado à segurança da sociedade,
pois criou oportunidades (praticamente monopolistas) de trabalho para profissionais que não possuem formação
técnica suficiente na área elétrica, REQUEREMOS O CANCELAMENTO INTEGRAL DA NBR 16747 -
INSPEÇÃO PREDIAL.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Em resposta a representação da ABEE feita para ABNT, a mesma obteve como


resposta o constante no anexo III. Alguns trechos do documento são descritos a seguir.

“Em atenção à correspondência recebida, informamos que a norma ABNT NBR 16747:2020 - Inspeção
predial - Diretrizes, conceitos, terminologia e procedimento, aprovada em 21 de maio de 2020, entrou em nova
revisão no dia 15 de junho de 2020.

Ressalva-se que estamos em entendimento com o Sistema CONFEA, visto que a habilitação do
profissional deve ser regulamentado por esse Conselho Federal de Engenharia e Agronomia.”

A resposta da ABNT para ABEE é uma MENTIRA, pois durante esse período da
citada revisão a norma NUNCA DEIXOU DE SER COMERCIALIZADA, O QUE SIGNIFICA
QUE ELA NUNCA VOLTOU PARA REVISÃO.

O que de fato ocorreu foi uma ERRATA DA NBR 16747 de maneira AUTORITÁRIA
POR PARTE DA ABNT/CB-002, sendo publicada no dia 15/07/20, sendo colocado
somente o trecho destacado abaixo:

“A inspeção predial descrita nesta Norma ocupa a função de um exame “clínico geral” que avalia
as condições globais da edificação e detecta a existência de problemas de conservação ou funcionamento, com
base em uma análise fundamentalmente sensorial por um ou mais profissionais habilitados, tal que esta equipe
deve ser tomada de acordo com as características e complexidades técnicas dos sistemas e procedimentos
descritos nesta norma. Pode ser recomendada a contratação de inspeções especializadas, ou de outras
ações, quando for necessário complementar ou aprofundar o diagnóstico.

As diretrizes, conceitos, terminologias e procedimentos para as inspeções especializadas não estão


cobertos por esta Norma, e caberão ser desenvolvidos em textos normativos próprios e específicos para essa
finalidade e escopo específico.”

Essa foi mais uma tentativa de manobra para dizer que a norma passou por um
processo de revisão, no entanto, diversos profissionais que se inscreveram para
participar da revisão da NBR 16747 para sugerir melhorias NÃO FORAM
CONSULTADOS. Isso ocorreu comigo, pois me cadastrei para opinar sobre a NBR
16747 e com diversos outros engenheiros eletricistas que conheço e fizeram o
mesmo.

A ABNT também publicou em seu site de notícias NOTA TÉCNICA SOBRE A NBR
16747 que comprova que houve negligência na criação da NBR 16747.

“Comunicamos que a norma ABNT NBR 16747:2020 - Inspeção predial - Diretrizes, conceitos,
terminologia e procedimento, desenvolvida no âmbito da Comissão de Estudo de Inspeção Predial, que
pertence ao Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002) segue em vigor, e foi aberto um processo
breve de revisão que resultou na publicação de uma Errata, com o objetivo de melhor esclarecer a
abrangência de seu escopo, qual seja, de diretrizes e procedimentos gerais.

Autor: Daniel Machado Duarte Formação: Engenharia Elétrica


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Esclarecemos que durante este processo ficou decidido o desenvolvimento de análises e estudos,
pelos diversos comitês brasileiros, quanto à pertinência de criação de normas complementares,
especializadas em inspeção de subsistemas da construção, tais como Elétrico, Segurança contra
Incêndio, Estrutura, Ar-condicionado entre outros, para as quais haverá ampla convocação de especialistas
de cada setor da sociedade para contribuição aos trabalhos normativos.”

A nota técnica [20] pode ser acessada no link abaixo:

http://www.abnt.org.br/noticias/6949-nota-tecnica-abnt-nbr-16747-2020

A NOTA TÉCNICA EMITIDA PELA ABNT É UMA CONFISSÃO DE ERRO, NO


ENTANTO, DEVIDO AO INTERESSE PESSOAL ACIMA DO COLETIVO A NORMA
SEGUE EM VIGOR.

A tentativa da ABNT é postergar o tema, para tratar das instalações elétricas e


estruturas de ar-condicionado, entre outros sistemas importantes encontrados nas
edificações.

É UM ABSURDO ACEITARMOS QUE ISSO OCORRA EM UM PRAZO QUE PODE


ULTRAPASSAR 5 ANOS, MANTENDO A NBR 16747 QUE É UM LIXO E TEM COMO
OBJETIVO ENGANAR A POPULAÇÃO PARA ABRIR MERCADO.

Essa opinião não é só minha, sendo de diversos especialistas com base nas provas
apresentadas e da Associação Brasileira dos Engenheiros Eletricistas (ABEE) e das
pessoas que tem atitude e se manifestaram na reportagem da Revista Potencia [19] de
maneira objetiva e agregadora.

5. SUGESTÕES DE PERGUNTAS QUE PODEM SER FEITAS PARA ABNT POR


PARTE DO MPF

Com objetivo de contribuir com a verificação do Ministério Público Federal, descrevo


abaixo algumas perguntas que são relevantes de serem feitas para ABNT:

1) Do total de membros citados revisão da NBR 16747, quantos são formados em


engenharia civil, elétrica e mecânica?
2) Houve participação ativa da ABNT/CB-003 durante a elaboração da NBR
16747? Quais foram os comentários feitos pelos mesmos e as justificativas para
rejeição dos mesmos?
3) As pessoas que elaboraram a NBR 16747 podem se beneficiar com a aprovação
dessa norma?
4) Qual o critério utilizado para aprovação ou rejeição dos comentários enviados
durante a consulta pública? Esse processo pode ser auditado de maneira
rastreável?

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5) Os comentários enviados por especialistas durante o processo de consulta


pública de uma norma técnica que antecede a sua publicação, recebem uma
devolutiva caso não sejam aceitos?
6) Quais justificativas a ABNT/CB-002 tem para os comentários enviados e não
inclusos na NBR 16747?
7) A ABNT recebe recursos financeiros do CONFEA e de empresas privadas que
podem se beneficiar com a criação de normas técnicas de maneira direta ou
indireta?

6. CONCLUSÕES FINAIS

Diante do exposto, considerando que os fatos acima narrados, requer-se ao


Ministério Público que sejam tomadas as providências cabíveis para que a NBR 16747 –
INSPEÇÃO PREDIAL, seja CANCELADA COM URGÊNCIA e o dinheiro de quem
comprou a mesma, seja devolvido por parte da ABNT.
Torna-se necessário que a ABNT apresente como resposta com objetivo de fazer
parte dos autos dessa denúncia os comentários feitos pelos especialistas durante o
processo de consulta pública da NBR 16747, as justificativas para rejeitar os comentários
recebidos, incluindo o fato de não citar a NBR 5410 nessa norma, entre outras problemas
enviados sem resposta.
Trata-se de uma instituição técnica com um vasto corpo de especialistas que
tem o DEVER de analisar e se manifestar de maneira técnica sobre o que é aceito ou
recusado para criação de uma norma técnica.
Solicito ainda ao Ministério Público Federal, que o CONFEA também seja envolvido
nesse debate, uma resposta ÚNICA PERGUNTA DE MANEIRA OBJETIVA:
COM BASE NA FORMAÇÃO ACADEMICA OS PROFISSIONAIS HABILITADOS
COM FORMAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL OU ARQUITETURA PODEM FAZER
PROJETOS ELÉTRICOS OU INSPEÇÕES ELÉTRICAS, TENDO ESTUDADO MENOS
DE 100h SOBRE O TEMA?
Como recomendação final, destaca-se a importância da ABNT ser auditada em
todas etapas de transparência no processo de elaboração de normas técnicas, incluindo a
forma como são aceitos ou rejeitados os comentários antes da publicação de uma norma
técnica.
Cabe reforçar que as decisões tomadas pela mesma podem movimentar bilhões no
mercado de consumo.

7. REFERÊNCIAS

[1] Reportagem de 2018 destaca que o número de incêndios duplicou em 2018,


disponível em: https://revistaincendio.com.br/em-cinco-anos-incendio-por-curto-circuito-
duplicaram-no-pais/, acessado em 07/09/20;
[2] Apresentação de dados sobre acidentes de maneira distorcida, disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-05/acidentes-com-origem-eletrica-
causaram-622-mortes-em-2018, acessado em 07/09/20;

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[3] Histórico de acidentes mínimos no Brasil, disponível em:


https://www.osetoreletrico.com.br/acidentes-com-choques-eletricos-no-brasil-em-7-anos-
mais-de-4-mil-mortes/, acessado em 07/09/20;
[4] Incêndio no Hospital Santa Luzia em Brasília, disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/08/30/interna_nacional,1180772/fogo-
em-hospital-de-brasilia-interrompeu-cirurgia-pai-conhecer-filho.shtml, acessado em
07/09/20;
[5] Informações sobre o acidente no Centro de Treinamento do Flamengo, disponível
em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/02/08/veja-que-sao-as-vitimas-do-
incendio-no-ninho-do-urubu-ct-do-flamengo.ghtml, acessado em 07/09/20;
[6] Código de defesa do consumidor, disponível em: https://www.procon.sp.gov.br/wp-
content/uploads/files/CDCcompleto.pdf, acessado em 07/09/20;
[7] Causa do acidente no Centro de treinamento do Flamengo, disponível em:
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/05/08/incendio-no-ct-do-flamengo-
comecou-em-curto-no-ar-condicionado-e-se-alastrou-devido-a-material-do-conteiner-
aponta-laudo.ghtml, acessado em 07/09/20;
[8] Incêndio no edifício Haragano, disponível em:
https://www.cliccamaqua.com.br/noticia/50417/incendio-destroi-residencial-em-
pelotas.html, acessado em 08/09/20;
[9] Carga horária do curso de eletricista no SENA de Pernambuco, disponível em:
http://www.pe.senai.br/cursos/detalhe/curso/34/#.X1hMRXnMPIU, acessado em 09/09/20.
[10] ABENC incentiva engenheiros civis a elaborarem projetos elétricos, disponível em:
http://www.abenc.org.br/artigo/186/competencia-dos-engenheiros-civis-para-projetos-de-
instalacoes-eletricas-prediais, acessado em 08/09/20;
[11] Atribuições dos profissionais de engenharia, disponível em:
https://www.osetoreletrico.com.br/atuacao-na-area-eletrica-falta-etica-na-engenharia,
acessado em 08/09/20;
[12] Cabos desbitolados sendo comercializados no Brasil, disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/12/fiscalizacao-encontra-problemas-
em-22-marcas-de-fiacao-eletrica-que-podem-causar-incendios.ghtml, acessado em
07/09/20;
[13] Valor da NBR 5410, disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br, acessado em
09/09/20;
[14] Estatuto da ABNT, disponível em:
http://www.abnt.org.br/images/Docspdf/ESTATUTOABNT_abril18.pdf, acessado em
09/09/20;
[15] Convênio entre a ABNT e o setor de cimentos no Brasil, disponível em:
https://abcp.org.br/imprensa/cooperacao-entre-abema-e-abnt-garante-modernizacao-de-
normas-tecnicas-ambientais/, acessado em 09/09/20;

[16] Denúncia da revista Época sobre o novo padrão de tomadas no Brasil, disponível
em: https://epoca.globo.com/tecnologia/noticia/2018/06/sete-anos-depois-quem-ganhou-
dinheiro-com-tomadas-de-tres-pinos.html, acessado em 08/09/20;
[17] Pará registra mais de 600 ocorrências de incêndios em imóveis este ano, disponível
em: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/09/08/para-registra-mais-de-600-
ocorrencias-de-incendios-em-imoveis-este-ano.ghtml, acessado em 08/09/20;
[18] Associados do IBAPE/PR, disponível em: http://www.ibapepr.org.br/associados/,
acessado em 10/09/20;

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[19] Revista Potência – Destaque sobre a NBR 16747, disponível em:


https://revistapotencia.com.br/revista-pdf/revista-potencia-ed-175-em-pdf/, acessado em
10/09/20.
[20] Nota técnica da ABNT sobre a NBR 16747, disponível em:
http://www.abnt.org.br/noticias/6949-nota-tecnica-abnt-nbr-16747-2020, acessado em
20/09/20;
[21] Anexo I - Comentários enviados por e_mail sobre a reunião da NBR 16747
[22] Anexo II - REPRESENTAÇÃO ABEE - ABNT
[23] Anexo III - Carta resposta da ABNT para ABEE

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