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Português Instrumental
Coordenação: Prof.ª Lucia Moutinho, Prof.ª Diana Pinto,
Prof.ª Bárbara Costa, Prof.ª Jessica Rodrigues, Prof. Tiago Santos
AP2 – 2020.1

Caro/a estudante,
esta é a segunda AP do primeiro semestre de 2020, desta vez composta por 10 questões de múltipla
escolha. Como cada uma delas admite apenas uma resposta, leia os enunciados com bastante atenção. Para
começar, leia os textos 1 e 2, os quais direcionam todas as questões elaboradas nesta avaliação.

A equipe de Português Instrumental lhe deseja um excelente trabalho!

TEXTO 1
Quem tem o direito de falar?
Vladimir Safatle

A política não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Ou seja, ela não se
funda simplesmente em uma decisão a respeito de como as riquezas e os bens devem circular, como
eles devem ser distribuídos.
Embora essa seja uma questão central que mobiliza todos nós, ela não é tudo, nem é razão
suficiente de todos os fenômenos internos ao campo que nomeamos "política". Na verdade, a política
é também uma questão de circulação de afetos, da maneira com que eles irão criar vínculos sociais,
afetando os que fazem parte destes vínculos.
A maneira com que somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver,
o que somos e não somos capazes de sentir e perceber. Definido o que vejo, sinto e percebo, define-
se o campo das minhas ações, a maneira com que julgarei, o que faz parte e o que está excluído do
meu mundo.
Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação de
uma mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo.
Nesse sentido, foi muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram
sites de notícias de seu continente com posts e comentários. Uma quantidade impressionante deles
reclamava daqueles jornais que decidiram publicar a foto. Por trás de sofismas primários, eles diziam
basicamente a mesma coisa: "parem de nos mostrar o que não queremos ver", "isto irá quebrar a
força de nosso discurso".
Pois eles sabiam que seu fascismo ordinário cresce à condição de administrar uma certa zona
de invisibilidade. É necessário que certos afetos não circulem, que a humanização bruta produzida
pela morte estúpida de um refugiado não nos afete. Todo fascismo ordinário é baseado em uma
desafeição.
Toda verdadeira luta política é baseada em uma mudança nos circuitos hegemônicos de
afetos. Prova disso foi o fato de tal foto produzir aquilo que vários discursos até então não haviam
conseguido: que a política criminosa de indiferença em relação à sorte dos refugiados fosse
temporariamente suspensa.
Mas essa quebra da invisibilidade também se dá de outras formas. De fato, sabemos como
faz parte das dinâmicas do poder decidir qual sofrimento é visível e qual é invisível. Mas, para tanto,
devemos antes decidir sobre quem fala e quem não fala, qual fala ouvirei e qual fala representará,
para mim, apenas alguma forma de ressentimento.
Há várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente que se calem aqueles que
não têm direito à voz. Isso é o que nos lembram todos aqueles que se engajaram na luta por grupos
sociais vulneráveis e objetos de violência contínua (negros, homossexuais, mulheres, travestis,
palestinos, entre tantos outros).
Mas há ainda outra forma de silêncio. Ela consiste em limitar sua fala. Assim, um será a voz
dos negros e pobres, já que o enunciador é negro e pobre. O outro será a voz das mulheres e
lésbicas, já que o enunciador é mulher e lésbica. A princípio, isto pode parecer um ato de dar voz
aos excluídos e subalternos, fazendo com que negros falem sobre os problemas dos negros,
mulheres falem sobre os problemas das mulheres, e por aí vai.
No entanto, essa é apenas uma forma astuta de silêncio, e deveríamos estar mais atentos a
tal estratégia de silenciamento identitário. Ao final, ela quer nos levar a acreditar que negros devem
apenas falar dos problemas dos negros, que mulheres devem apenas falar dos problemas das
mulheres.
Pensar a política como circuito de afetos significa compreender que sujeitos políticos são
criados quando conseguem mudar a forma como o espaço comum é afetado.
Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, uma vez que aceito
limitar minha fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação
de afetos, pois não conseguirei implicar quem não partilha minha identidade na narrativa do meu
sofrimento. Minha produção de afecções continuará circulando em regime restrito, mesmo que agora
codificada como região setorizada do espaço comum.
Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que implicam todo mundo, que
podem implicar qualquer um, ou seja, que se dirigem a esta dimensão do "qualquer um" que faz parte
de cada um de nós. É, sem dúvida, quando nos colocamos na posição de qualquer um que temos
mais força de desestabilização de circuitos hegemônicos de afetos.
O verdadeiro medo do poder é que você se coloque na posição de qualquer um.

Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2015/09/1686060-quem-tem-o-direito-de-falar.shtml.


Acesso em: 13 jun. 2018. (adaptado)

TEXTO 2

“A memória coletiva é sempre de curto prazo.”

Disponível em: http://spminforma.blogspot.com/2016/02/quadrinhosa-memoria-coletiva-sempre-e.html.


Acesso em: 6 ago. 2018.
Questão 1 (Valor: 1,0)

Assinale a alternativa que apresenta a análise ADEQUADA dos textos 1 e 2.

a) O texto verbal contido no texto 2 vai ao encontro do ponto de vista de “certos europeus” citados
no texto 1 e de suas reações à imagem no menino sírio.
b) No texto 1, especificamente no fragmento “Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos
políticos de 2015 foi a circulação de uma mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio
no Mar Mediterrâneo”, e no texto 2, que é verbo-visual, é possível observar o uso da ironia como
estratégia argumentativa.
c) No texto 1, o autor critica a estratégia de silenciamento identitário. Para isso, defende que cada
sujeito social deve possuir legitimidade apenas para falar do ponto de vista da identidade que
representa.
d) No texto 1, a fotografia do menino sírio é um mote para o debate acerca dos silenciamentos
provocados em sociedades que evitam a circulação de afetos, diferente do texto 2, cujo tema se
restringe ao choque provocado pela referida fotografia.

Questão 2 (Valor: 1,0)

Observe a capa do jornal Extra publicado em maio deste ano:

Disponível em: https://oestadoacre.com/blog/2020/05/20/extra/. Acesso em: 25 maio 2020.


Assinale a alternativa que NÃO apresenta inferências válidas para a análise da capa do Jornal Extra
na sua relação intertextual com os textos 1 e 2.

a) Se, por um lado, existe a invisibilização de questões sociais caras à humanidade, por outro, há a
sua banalização, evidente em capas de jornais, a exemplo do Extra.
b) A naturalização da violência em nosso país, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro, também
é decorrente do silenciamento de camadas mais pobres da população.
c) Casos como o do menino sírio e o de João Pedro, assim como tantos outros, possivelmente serão
suprimidos na História, afinal, como bem destacado no texto 2, “A memória coletiva é sempre de
curto prazo”.
d) Muitos meninos e meninas, como ocorreu com João Pedro, foram assassinados no país por razões
meramente identitárias.

Questão 3 (Valor: 1,0)


Vladimir Safatle, a partir do penúltimo parágrafo de seu texto, usa recorrentemente a expressão
“qualquer um” como forma de argumentar a favor de uma política de circuito de afetos. No parágrafo
final do texto, o filósofo conclui seu ponto de vista retomando o uso dessa mesma expressão
indefinida. Levando em consideração o uso linguístico da expressão e o sentido global do texto 1,
pode-se afirmar que o autor
a) acredita que nem todo mundo pode colocar-se no lugar do outro;
b) defende que as minorias tratem dos próprios problemas apenas;
c) argumenta a favor da empatia de todos perante todos, independentemente de gênero, classe
social ou raça;
d) destaca a importância dos movimentos migratórios no mundo.

Questão 4 (Valor: 1,0)

No período “Embora essa seja uma questão central que mobiliza todos nós, ela não é tudo”, o
conectivo destacado poderia ser substituído, sem prejuízos semânticos ao texto, por:

a) Já que
b) Ainda que
c) Consoante
d) À medida que

Questão 5 (Valor: 1,0)

Releia o fragmento:

“Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, uma vez que aceito
limitar minha fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação
de afetos”.

Assinale a alternativa que apresente a reescrita do fragmento supracitado com problemas de coesão
e coerência textuais.

a) Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, enquanto aceito limitar minha
fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos.
b) Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, porque aceito limitar minha
fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos.
c) Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, como aceito limitar minha fala
pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos.
d) Posso dar visibilidade a sofrimentos que antes não circulavam, mas, visto que aceito limitar minha
fala pela identidade que supostamente represento, não mudarei a forma de circulação de afetos.

Questão 6 (Valor: 1,0)

O encadeamento de ideias, na construção dos textos, é promovido especialmente (mas não só) pelo
uso adequado de conectivos. Logo, para que possamos produzir um texto organizado, uma das
estratégias é a ligação das partes do texto por meio dos denominados elementos de coesão, os quais
nos auxiliam, por exemplo, a evitar a repetição de palavras mediante as retomadas, as antecipações,
as conexões ou as referenciações.

Nos fragmentos a seguir, os termos destacados podem fazer referência interna a palavras, orações
ou parágrafos localizados no próprio texto. Assinale a alternativa cuja explicação indicada entre
parênteses NÃO está correta.

a) “Na verdade, a política é também uma questão de circulação de afetos, da maneira com que eles
irão criar vínculos sociais, afetando os que fazem parte destes vínculos.” (Eles refere-se a “afetos”).
b) “Uma quantidade impressionante deles reclamava daqueles jornais que decidiram publicar a foto.”
(Deles refere-se a “de certos europeus”).
c) “Prova disso foi o fato de tal foto produzir aquilo que vários discursos até então não haviam
conseguido: que a política criminosa de indiferença em relação à sorte dos refugiados fosse
temporariamente suspensa.” (Disso refere-se a que “a política criminosa de indiferença em relação
à sorte dos refugiados fosse temporariamente suspensa”).
d) Ao final, ela quer nos levar a acreditar que negros devem apenas falar dos problemas dos negros,
que mulheres devem apenas falar dos problemas das mulheres. (ela refere-se “a tal estratégia de
silenciamento identitário”).

Questão 7 (Valor 1,0)

Assinale a alternativa que apresenta INADEQUAÇÃO no uso da vírgula.

a) “Ou seja, ela não se funda simplesmente em uma decisão a respeito de como as riquezas e os
bens devem circular, como eles devem ser distribuídos.”
b) “Isso é o que nos lembram todos aqueles que se engajaram na luta por grupos sociais vulneráveis
e objetos de violência contínua (negros, homossexuais, mulheres, travestis, palestinos, entre tantos
outros).”
c) “Definido o que vejo, sinto e percebo, define-se o campo das minhas ações, a maneira com que
julgarei, o que faz parte e o que está excluído do meu mundo.”
d) “Mas, para tanto, devemos antes decidir sobre quem fala e quem não fala, qual fala ouvirei e qual
fala representará, para mim, apenas alguma forma de ressentimento.”

Questão 8 (Valor: 1,0)

No que se refere ao uso de conectivos e a seus respectivos valores semânticos, assinale a alternativa
CORRETA:
a) “A política não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Ou seja, ela não se funda
simplesmente em uma decisão a respeito de como as riquezas e os bens devem circular, como eles
devem ser distribuídos.” - O operador sequenciador “Ou seja” possui valor semântico de
certeza/ênfase e pode ser substituído, sem mudança de sentido, por “Em outras palavras”.
b) “Nesse sentido, foi muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram
sites de notícias de seu continente com posts e comentários.” - O operador sequenciador “Nesse
sentido” possui valor semântico de recapitulação/resumo/conclusão e pode ser substituído, sem
mudança de sentido, por “Ademais”.
c) “De fato, sabemos como faz parte das dinâmicas do poder decidir qual sofrimento é visível e qual
é invisível” - O operador sequenciador “De fato” possui valor semântico de certeza/ênfase e pode ser
substituído, sem mudança de sentido, por “Por certo”.
d) “Pensar a política como circuito de afetos significa compreender que sujeitos políticos são criados
quando conseguem mudar a forma como o espaço comum é afetado.” - O operador sequenciador
“como” possui valor semântico de comparação/semelhança e pode ser substituído, sem mudança de
sentido, por “independentemente do”.

Questão 9 (Valor 1,0)

Levando em consideração os estudos sobre gêneros textuais, tipologias/sequências textuais e


textualidade, assinale a afirmativa INCORRETA:

a) Como sabemos, nenhum texto existe isoladamente. Nesse sentido, dentre as explicações para a
existência da intertextualidade entre os textos 1 e 2, está o fato de ambos se relacionarem
estreitamente com o mesmo contexto, mesmo que não sejam do mesmo gênero textual.
b) Como os tipos textuais se mesclam na construção dos diversos gêneros, é possível afirmar que,
no texto 2, existe uma sequência narrativa, considerando o apagamento do menino quadro a quadro,
e uma sequência argumentativa, respaldada pela frase declarativa “A memória coletiva é sempre de
curto prazo”, na sua relação com a imagem.
c) Os gêneros textuais são formas de agir socialmente por meio da língua e, por isso mesmo,
correspondem a classes de textos com propriedades comuns especialmente em termos de funções
sociocomunicativas. Em artigos de opinião, por exemplo, é comum o uso de argumentos de
autoridade, principal estratégia utilizada pelo autor do texto 1 com o objetivo de convencer o leitor
sobre o ponto de vista adotado.
d) A situacionalidade e a intencionalidade são fatores de coerência inerentes a todo e qualquer texto,
evidenciando não haver neutralidade/imparcialidade na produção de gêneros textuais. No caso dos
textos 1 e 2, há uma coincidência situacional em razão dos elementos presentes no contexto
extralinguístico tomados como ponto de partida pelos autores (a fotografia do menino sírio morto em
um naufrágio no Mar Mediterrâneo) e um encontro de intencionalidades ancorado na crítica à
invisibilidade/invisibilização de determinados problemas sociais.

Questão 10 (Valor 1,0)

Em cada alternativa a seguir, apresentam-se sugestões de reescrita de fragmentos do texto 1.


Assinale aquela cuja reescrita contém um desvio no uso da língua portuguesa mais formal.

a) “A maneira com que somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver, o
que somos e não somos capazes de sentir e perceber.”
Reescrita: A maneira como somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver,
sentir e perceber.
b) “Há várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente que se calem aqueles que não
têm direito à voz.”
Reescrita: Existem várias maneiras de silêncio. A mais comum é simplesmente que se calem os que
não têm direito à voz.
c) “Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que implicam todo mundo, que podem
implicar qualquer um, ou seja, que se dirigem a esta dimensão do ‘qualquer um’ que faz parte de
cada um de nós.”
Reescrita: Ser um sujeito político é conseguir enunciar proposições que implicam em todo mundo,
que podem implicar em qualquer um, ou seja, que se dirigem à dimensão do ‘qualquer um’ que faz
parte de cada um de nós.
d) “Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação de uma
mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo.”
Reescrita: Percebam, por exemplo, que um dos maiores feitos políticos de 2015 foi a circulação da
mera foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo.

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