Você está na página 1de 84

Edição

Especial www.exameangola.com
Dezembro 2012 v 500 kz

Sustentabilidade
clima lixo mais

5 projectos angolanos
pioneiros no mercado
mundial de carbono
programa angola limpa
investirá 6 mil milhões
de dólares até 2025
• O desafio da superpopulação
• a era dos combustíveis verdes
• chegou a lampâda inteligente

Lista das 6
empresas-modelo
em responsabilidade social e ambiental em Angola
Chevron empresa sustentável do ano
Sumário

chevron:
A primeira empresa
sustentável do ano
eleita pela EXAME

Entrevista INOVAÇÃO
08 João Serôdio Para o professor da Universidade Agostinho 50 Cradle to cradle A EXAME esteve em Petropólis para
Neto, o futuro do país pode estar na produção alimentar conhecer o biossistema que transforma esgotos em energia
54 Aviação Os grandes fabricantes de aviões aderiram aos
angola combustíveis verdes para reduzir as emissões de carbono
12 
Alterações climáticas Conheça cinco projectos angolanos 56 
Lâmpadas Mais luz com menos consumo de electricidade
em fase de validação para receberem créditos de carbono 58 
Reciclagem Garrafas de plástico que são 100% recicláveis
18 Políticas públicas As novas leis para um novo ambiente
20 Resíduos urbanos A revolução na gestão dos lixos já está Empresas modelo
em curso. Conheça as metas e os investimentos até 2025 61 
Metodologia Saiba como a EXAME escolheu as seis
24 B iodiversidade O plano para salvar a floresta do Maiombe empresas-modelo de sustentabilidade a operar em Angola
26 Sociedade civil O caso da Juventude Ecológica Angolana e quem nos ajudou a seleccionar as melhores práticas
28 A rte O perfil da artista plástica Daniela Ribeiro que cria 66 Chevron A empresa sustentável do ano distingue-se pela
obras a partir de telemóveis usados e outros desperdícios protecção de pessoas e ambiente e o apoio às comunidades
70 Odebrecht Os projectos Acreditar e Kukunga Pala Kukula
Opinião são trunfos da construtora brasileira, em Angola há 27 anos
32 
Eufrazina Paiva A deputada e ambientalista explica como 72 BP A quarta maior empresa do mundo tem uma política
é que Angola poderá aproveitar melhor a riqueza natural de responsabilidade social baseada nas parcerias locais
74 BESA Economia, social, ambiente e cultura são os quatro
Global pilares para a sustentabilidade segundo o banco do planeta
34 Jeffrey Sachs O prestigiado economista americano diz 76 
Total Nos últimos cinco anos, a petrolífera investiu cerca
que chegou a hora do mundo passar dos discursos à acção 64 milhões de dólares na política de responsabilidade social
38 
Ellen Shapiro A especialista em sustentabilidade alerta, 78 
BAI O BAI Arte é a iniciativa mais mediática do banco.
no seu novo livro, para os danos ambientais na China Conheça outros projectos na saúde, desporto e educação
40 Demografia Lidar com o crescimento da população, que 80 Como fazer Erros típicos dos programas de sustentabilidade
hoje é de 7 mil milhões, será o maior desafio deste século
44 Energia O mundo já entrou na “era dourada” do gás Exame final
natural. Saiba quem lidera esta corrida à escala planetária 82 VAmbiental
ladimir Russo Recomendações do mestre em Educação
48 E conomia verde O tema que animou o debate na RIO +20 pela Universidade de Rhodes, da África do Sul

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 3


carta do
director
Media Nova, SA
João Van Dunem Presidente do Conselho de Administração:
João B. V. Van Dunem
Administrador Executivo:
Filipe Correia de Sá

GasLand: O futuro é Director:


João Van Dunem

o que fazemos agora


(joao.vandunem@medianova.co.ao)
Director Editorial:

O
Filipe Correia de Sá
(filipe.sa@medianova.co.ao)
Director Executivo: Jaime Fidalgo
documentário Gasland, nomeado para os Óscares de 2010, mostra cenas (jaimefidalgo@exameangola.com)
onde os moradores de fazendas acendem um isqueiro junto à torneira e a Director de Arte: Jorge Ribeiro (jorgeribeiro@exameangola.com)

água se transforma literalmente em fogo. Realidade ou ficção? Para mui- Coordenadora editorial da Edição Especial:
Cássia Ayres
tos o mundo já entrou na “era dourada do gás”. A Agência Internacional de Colaboraram nesta edição:
Andrea Vialli, Bruno Ferrari, Filipe Cardoso, Fabiane Stefano,
Energia (AIE) estima que os investimentos na exploração do gás natural José Alberto Gonçalves Pereira, Luiza Dalmazo,
Mariana Segala, Sérgio Teixeira Jr. (texto), Eufrazina Paiva,
chegarão aos 20 biliões de dólares em 2035. O paradoxo: boas perspectivas para a indústria e Vladimir Russo (colunistas), Antónia Correia (secretariado)
preocupação para os ambientalistas que já falam na iminência de “fractura hidráulica” e apelam Fotografia: Carlos Moco (editor),
Carlos Augusto, Daniel Miguel, Jacinto Figueiredo, Maura Gueve,
à aplicação rigorosa dos princípios do desenvolvimento sustentável. Curiosamente, enquanto Pedro Nicodemos (fotógrafos), Rosa Gaspar (assistente)
os países desenvolvidos percebem na chamada economia verde uma oportunidade de confron- Direitos Internacionais: Exame Brasil (texto e imagens),
AFP, Graphic News e IStockPhoto
tar a crise financeira que se instalou no planeta, os emergentes vêem o tema com desconfiança, Multimédia e Internet: Géraldine Correia (directora),
supondo ser mais um instrumento de manobra dos ricos para restringir o desenvolvimento dos e Isabel Dalla (site@exameangola.com)

demais países. Continuar a crescer em índices satisfatórios, proporcionar a melhoria da quali- www.exameangola.com
dade vida das pessoas com uma produção baixa de carbono e no uso sustentável e eficiente dos
recursos naturais é a receita da economia verde. Publicidade
222 006 409
Em 2011, a marca do crescimento humano atingiu os 7 biliões. Prevê-se que o planeta che- comercial@medianova.co.ao
gue a 9 biliões em 2050 e ultrapasse os 10 biliões até ao final do século. O desafio de alimen- Comerciais:
Bruno Fundões (918 200 106 / 923 791 605),
tar 10 biliões de pessoas voltou a estar no centro do debate sobre sustentabilidade. Somos nós Viviani Kanzóvia (918 800 981 / 924 079 696),
Witman Luamba (918 800 982 /937 149 739)
qualificados para mudanças em direcção a um mundo mais equilibrado e melhor? Facturação: Firmino Pinto (+244 918 800 980)
Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável é preciso que seja:
Registo Minist. Comunicação Social: MCS-560/B/2009
1. Ecologicamente correcto;
Tiragem: 5 mil exemplares
2. Economicamente viável; Depósito Legal: 261-09
3. Socialmente justo; Distribuição: Media Nova Distribuição
Tel: +244 943 028 039
4. Culturalmente diverso. pontodevenda@medianova.co.ao
Com base nestes pressupostos, a Exame decidiu lançar um desafio às empresas nacionais Assinaturas
e estrangeiras em Angola, no sentido de medir o grau de envolvimento do empresariado local Antónia Correia: 927 954 034
antonia.correia@imprescrita.co.ao
com os conceitos da sustentabilidade. Em última análise, uma consciência sustentável significa
uma vantagem competitiva se integrar uma estratégia única da organização e não for conside- Impressão: Damer Gráficas, SA
EXAME — Condomínio Alpha, Ed. 6, 1.º
rada apenas como parte da política de marketing e comunicação. Que lições podemos aprender Sector de Talatona; Luanda-Sul, Angola;
das empresas que investem em Angola? A resposta ao desafio da Exame fala por si nas pági- Tel.: 222 003 275; Fax: 222 003 289;

nas desta revista, permitindo-nos olhar para o panorama empresarial sobre uma nova óptica e exameangola@gmail.com
A revista Exame (Angola) é um licenciamento internacional da
um maior campo de consciência em que pontificam como marcos os indicadores do desenvol- revista Exame (Brasil), propriedade da Editora Abril.
vimento humano.
Termino com a mesma reflexão da carta da edição anterior da Exame, mas sob uma pers-
pectiva localizada:
Em 2030, uma criança nascida neste momento em Angola terá a idade para eleger e ser
eleita. Que compromisso assumimos agora para com o seu futuro?
Propriedade: IMPRESCRITA
Imprensa Escrita, SA
Sustentabilidade: o futuro N.º de Matrícula: 1279-07
Conservatória do Registo Comercial de Luanda
contempla-nos no que fazemos agora

4 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Viana ganhou
um novo ritmo
No novo VIANA Restaurante & Casino irá encontrar a melhor gastronomia servida ao som
dos melhores músicos locais, num espaço desenhado para despertar todos os seus sentidos.

Visite-nos e embarque connosco nesta viagem.

Estrada de Catete, Km 17 • Viana • Angola


Reservas: 923 234 807 · www.facebook.com/casinosdeangola
FeliPe cruz, director de sustentabilidade da odebrecht angola.

Para realizar grandes obras, como hi- do negócio. Não se trata apenas do cumprimento
droelétricas, rodovias e projectos de saneamento da legislação, por mais rigorosa que ela possa ser,
básico, um amplo conjunto de acções voltadas à mas de ir além, fazer mais do que o exigido, inves-
mitigação de impactos e à utilização racional dos tir em iniciativas consistentes e avançadas, reali-
recursos naturais é colocado em prática. A con- zar pesquisas e estudos pioneiros que se tornem
servação do meio ambiente, da fauna, da flora e referência nacional e até internacional. A políti-
da biodiversidade juntamente com o desenvol- ca de sustentabilidade da O-debrecht estabelece
vimento social e econômico (e isso é entendido e as referências sobre o tema para posicionamen-
praticado em cada um dos projectos que contam to interno e externo perante a sociedade de um
com a participação da Odebrecht) fazem parte modo geral e o mundo empresarial em particular.

reconhecimento em sustentabilidade
Recentemente a Odebrecht venceu o Prémio de Sustentabilidade na décima edição da Feira Internacional de
Equipamentos e Materiais de Construção Civil, Obras Públicas, Urbanismo e Arquitetura “Projekta by Constroi
Angola 2012” , realizada nas instalações da FIL/Luanda no período de 25 à 28 de Outubro. No evento que
contou com a participação de 380 expositores, a Odebrecht recebeu também um “Prémio Especial” pela sua
participação contínua, activa e dinâmica em todas as edições da Feira Projekta by Constroi Angola
A Odebrecht estabeleceu para si o desafio de ser reconhecida como
uma empresa comprometida com a criação e o oferecimento de
um legado às populações das áreas de influência de suas obras de
engenharia e construção e de suas operações industriais .”

A Odebrecht estabeleceu para si o desafio de ser cipal o conceito de inclusão: é essencial que as
reconhecida como uma empresa comprometida comunidades sejam envolvidas nesse processo
com a criação e o oferecimento de um legado às de aprimoramento, com a participação directa
populações das áreas de influência de suas obras de seus membros na manutenção, no aperfei-
de engenharia e construção e de suas operações çoamento e na multiplicação das transforma-
industriais. Esse legado tem como pilar prin- ções realizadas e dos benefícios conquistados.

O desenvolvimento sustentável é parte do negócio da Odebrecht.


Nossos empreendimentos e aqueles que realizamos para outros
investidores devem realizar todo o potencial de resultados de que
sejam capazes, para clientes, acionistas, comunidades, integrantes
e parceiros. A nossa cultura fala de Sobreviver, Crescer e Perpectuar,
e isto só é possível em um ambiente de desenvolvimento continuado
e como tal sustentável. Na Odebrecht, a preocupação com a
sustentabilidade está presente desde o momento em que se começa
a pensar em um projecto, na sua viabilidade. Na sequencia, a
nossa atenção é focada nos processos executivos e as melhores de
mitigação de impactos gerados: às vezes, mudar o traçado de uma
estrada entre dois pontos pode significar menos área desmatada,
menos pessoas afetadas, menos impacto ambiental. Durante a
fase da execução, uma outra sequencia de cuidados, como, por
exemplo, tratar adequadamente os resíduos que geramos.”
afirma Felipe Cruz, director de Sustentabilidade da Odebrecht Angola.

sustentabilidade na odebrecht tem o foco da externa e fazemos por iniciativa empresarial.


em Pessoas, com ênfase no seu desenvolvimento e Portanto, o grande desafio dos empresários não
capacitação. São elas que detêm a capacidade para é criar iniciativas voltadas à sustentabiliade, mas,
implementar um modelo de desenvolvimento que sim, incorporar práticas sustentáveis nas organi-
possa atingir simultânea e sinergicamente resulta- zações, fazer com que a sustentabilidade esteja no
dos relacionados ao desenvolvimento econômico e quadro mental referencial de criação dos negócios.
social, responsabilidade ambiental, participação Hoje está claro que sustentabilidade e desenvol-
política e valorização da cultura. Envolvimento vimento fazem parte do mesmo lado da equação.
com comunidades, melhoria da qualidade de vida, Na Visão 2020 da Organização Odebrecht Susten-
respeito ao cidadão, tudo isso está na nossa cultu- tabilidade é um dos pilares fundamentais. A Ode-
ra. Praticamos isso muito antes de ser uma deman- brecht quer crescer, sim, mas de forma sustentável.
angola Entrevista


a agricultura
é o futuro”
João Serôdio, professor de Biologia da Faculdade de Ciências da
Universidade Agostinho Neto, acredita que o futuro de Angola estará
na produção alimentar dirigida, sobretudo, aos países asiáticos.
Defende que a educação ambiental deveria fazer parte do currículo escolar
Cássia Ayres

J
oão Serôdio trabalha -ministro do Ambiente entre 1997 e 1999. Qual é, na sua opinião, a relação entre
na área ambiental há “Professor Serôdio”, como também é conhe- a ecologia e a economia?
40 anos. Além de educa- cido, é filho de um engenheiro silvicultor Tudo está ligado à ecologia. Ambas as pala-
dor, começou por ser quadro e entrou na área ambiental por influência vras advém de uma mesma raiz: ecos, que
do Ministério da Agricultura, do pai. Nesta entrevista, ele defende que a em grego é oikos, significa “casa”. São ter-
primeiro como técnico médio agrícola e educação ambiental é a grande prioridade mos indissociáveis. Se a economia não tiver
depois como médico veterinário. Foi vice- rumo ao desenvolvimento sustentável. como base a ecologia, não sobreviveremos.

8 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Uma economia para ser válida, tem de ter sejam apenas práticos. Deveremos resga- altera o ambiente local. Foi assim que che-
uma garantia de continuidade ou de sus- tar os conhecimentos empíricos perdidos, gámos aos actuais biomas e ecossistemas
tentabilidade para as próximas gerações. mesmo os que se baseavam apenas na “ten- (Hipótese Gaia). A agricultura, em particu-
Algo que somente pode ser alcançado se tativa e erro”, e aliá-los aos conhecimen- lar, cria o chamado “ecossistema agrário”,
tivermos conhecimentos de ecologia. tos técnicos e científicos actuais. E temos que num estádio de estabilidade, permite
de fazer com que os mais jovens recupe- a sua utilização continuada, de preferência
Quais são os principais desafios rem o gosto e o entusiasmo por trabalhar para sempre. Penso que na Europa, a explo-
do país rumo ao desenvolvimento a terra, dando-lhe o devido valor. ração milenar de terras agrícolas criou mui-
sustentável? tos exemplos desses ecossistemas agrícolas
É a diversificação da economia. Tere- E como promover a agricultura mais estáveis. Essa estabilidade é indispensável
mos de dar uma grande atenção à agri- sofisticada de tipo empresarial? para a conservação de zonas naturais que
cultura tradicional. Angola enfrenta um O Governo tem de definir as zonas onde sirvam de reservas biológicas para as gera-
problema grave, resultado dos 30 anos de se pode praticar a agricultura familiar e a ções futuras. Também a utilização de água
guerra. Basicamente, houve uma ruptura empresarial e, sobretudo, criar condições para a agricultura assim como de defensivos
do tecido social camponês, com a inter- para que o homem volte ao campo, quer agrícolas, deve ser muito bem ponderada.
rupção da passagem do conhecimento seja por uma via quer pela outra. A ver- A ciência moderna já conhece os mecanis-
de uma geração para outra, das práti- dade é que a agricultura empresarial é o mos para o fazer com inteligência. Inclusi-
cas agrícolas aprendidas durante alguns meio mais próximo para sustentar o cres- vamente o que se considera como resíduo,
milhares de anos. Estes conhecimentos cimento económico do país. E ela pode pode e deve ser reintegrado na produção,
perderam-se com os fluxos migratórios ser feita seguindo-se critérios ambiental- se necessário, utilizando os métodos tec-
entre as províncias. Por um lado, por- mente correctos, tal sucedia na agricul- nológicos adequados.
que o conhecimento ancestral nem sem- tura tradicional. A industrialização, outra
pre é aplicável quando se muda de região, via do desenvolvimento, demorará mais a Como vê a agricultura
por outro, porque as gerações mais novas ser aplicada, pois carece de quadros téc- para os biocombustiveis?
foram mobilizadas para as guerras, dei- nicos mais especializados que ainda não Não concordo que Angola perca muito
xando de haver jovens para que os mais temos, sendo necessário contratá-los fora, tempo com essa actividade. O país não tem
velhos passassem o testemunho. As con- com todos os prejuízos ou riscos que essa necessidade de avançar nessa senda, pois,
sequências foram a estagnação da produ- medida pode acarretar. segundo se prevê, é uma prática que não
ção de alimentos — mesmo nos regime vai durar mais de 30 a 40 anos. Os hidro-
de auto-subsistência — e da silvicultura. Como fazer uma agricultura lucrativa, carbonetos para os motores de combustão
mas com menos impacto ambiental ? vão ser mais sofisticados no futuro próximo.
Essa ruptura criou problemas sociais? Mais uma vez, coloco a educação ambiental Depois serão os motores eléctricos a domi-
Sim, dado que a agricultura familiar não como prioridade para se poder atingir bons nar o panorama motriz. Desenvolver agora
apenas garantia o sustento, como gerava resultados económicos na agricultura com a produção de biocombustíveis, apenas ser-
um rendimento mínimo para 8 milhões de um mínimo de impacte ambiental. O conhe- virá para a exportação, logo para permitir
indivíduos. Temos de levar em conta que cimento do clima, dos recursos hídricos e que os países desenvolvidos mantenham
esta imensa quantidade de pessoas não dis- dos solos são indispensáveis para se tirar da o status de bem-estar para as suas popu-
põe de outros conhecimentos para se dedi- terra os maiores benefícios. A agricultura, lações, em detrimento dos menos desen-
car a outras profissões. Daí que o Estado como qualquer outra actividade biológica, volvidos, que no final ficarão com as suas
tenha de lhes garantir a possibilidade de terras degradadas.
executarem tarefas onde podem ser úteis,
tanto a si próprios como à sua comunidade.
Temos de deixar as pessoas fazerem aquilo
temos de resgatar Quem ganha com os biocombustiveis?
Os biocombustíveis só trazem vantagens
que sabem fazer bem, para assim se senti-
rem felizes, logo estáveis emocionalmente.
o conhecimento para os países sem recursos petrolíferos
(a excepção é o Brasil com o etanol) ou
Quando estamos felizes, estamos estáveis perdido e fazer para os que tenham necessidade de redu-
zir as suas emissões de carbono. Creio que
Que soluções propõe para o com que os jovens Angola deverá aplicar todas as suas capa-
regresso à agricultura familiar?
É fundamental voltar a educar as pessoas.
recuperem o gosto cidades agrícolas na produção alimentar.
Essa, sim, será uma moeda forte nos próxi-
Criar centros de ensino agrícola pelo ter-
ritório nacional, mobilizando todas as
e o entusiasmo por mos anos, principalmente nas trocas comer-
ciais com os países asiáticos que começam
pessoas com conhecimentos, mesmo que trabalhar a terra a lutar pelo controlo económico do mundo.

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 9


angola Entrevista

Mas não há vantagens ambientais... as pessoas precisam de aprender a evitar misturada com o lixo, se vai acumular
Enquanto os combustíveis fósseis são pro- os desperdícios. Aí entra mais uma vez a nas ruas, servindo de fonte para a multi-
blemáticos depois da sua utilização, os questão da educação ambiental. plicação de mosquitos e outros focos de
biocombustíveis trazem problemas ainda doença. Outro exemplo, é o edifício-sede
antes, através da desmatação para novas É preciso rever hábitos de consumo... do Gamek — Gabinete para o Aproveita-
terras agrícolas, da utilização maciça de Sem dúvida. O angolano consome de mento do Médio Kwanza. Quando lá tra-
agro-químicos e de grandes quantidades forma desenfreada o que gera desperdí- balhei, em 1988, não tinha interruptores
de água e, no final da cadeia, na acumula- cio e lixo. É frequente ver, na cidade de para desligar as luzes. Ficava completa-
ção dos resíduos da produção. Em vez de Luanda, pessoas com mangueiras de água mente iluminado 24 horas por dia. Esta
apostar nos biocombustíveis Angola deve, a lavar viaturas, a “varrer” a calçada com prática correspondia ao conceito ameri-
em alternativa, fazer um esforço de inves- jactos de água tratada, que posteriormente, cano do século xx, que apagar as luzes da
tigação científica, na busca de novas fontes casa seria um sinal de “pessoas pobres”.
de energia limpa. É aí que reside o futuro. Espero que esta situação já tenha sido

Onde está o potencial para desenvolver


É frequente ver superada. Em termos gerais, em Angola
muitos de nós têm comportamentos de
energias limpas em Angola?
A nossa matriz é a hidroeléctrica. Angola
pessoas na rua “novos ricos”, quando grande parte da
nossa população vive com grandes difi-
possui cursos de água em todo o país, até com mangueiras culdades e carências de toda a ordem.
mesmo no deserto. A questão é que para
a energia chegar às áreas mais isoladas os a lavar viaturas. Como é que se muda essa cultura
investimentos em linhas de transmissão
são muito elevados. Por isso é que a ener-
a água misturada de consumismo e desperdício?
Precisamos de institucionalizar a educa-
gia eólica e solar devem ser desenvolvi-
das para alimentar os locais com menor
com o lixo é uma ção ambiental, prioritariamente na idade
entre os 9 e os 14 anos, onde os jovens têm
concentração humana. A questão é que fonte de doenças maior interesse e receptividade às novida-

10 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Quatro razões de optimismo
para uma Angola mais sustentável

1 Angola tem capacidades financeiras para preparar as políticas


ambientais adequadas, mesmo que para tal tenha de recorrer
a colaborações internacionais de qualidade inquestionável.

2 Angola já tem recursos humanos capazes de darem resposta


a muitos dos problemas das populações. É apenas necessário
que haja o bom senso de utilizar esses recursos.

3 Angola ainda está numa situação “confortável” quanto à


preservação de recursos naturais, fruto da fraca densidade
populacional em comparação com a sua extensão territorial.

agricultura tradicional:
É importante formar e resgatar as
técnicas ancestrais de cultivo que não
passaram para as gerações seguintes
4 Angola fez, na década passada, um plano prospectivo até 2025,
onde se equacionaram diversos cenários de desenvolvimento.
Agora, apenas é necessário colocar essas premissas em prática.
Podemos dizer que, felizmente, a grande maioria delas está a ser
aplicada. Mas ainda há muito que fazer na área ambiental.

des. A sustentabilidade é uma disciplina que


tem de vir no currículo escolar. A África
em angola nós muito tempo que a universidade tem pro-
curado unir esforços de forma a contribuir
do Sul fez isso. Investiu dez anos em pro-
gramas maciços e os resultados hoje são
não aproveitamos para a solução dos problemas que realmente
afectam as nossas gentes. Só agora podemos
evidentes. Angola não tem nenhum pro- nada. Atiramos dizer que estamos no bom caminho, com a
grama significativo de educação ambiental. inauguração do campus universitário, onde
os desperdícios finalmente poderemos concentrar pessoas e
Como é que estamos a tratar
os nossos resíduos sólidos?
para um aterro. competências para trabalharem em equipa.
Até agora, a dispersão das diversas facul-
Tratamos muito mal a questão. Para nós,
ecologistas, não há lixo. Há, sim, matéria-
poluímos terras dades pela cidade de Luanda e a falta cró-
nica de fundos financeiros para trabalhos
-prima que não sabemos, ou não queremos, e linhas de água que não sejam exclusivamente ligados ao
aproveitar. Angola ainda está numa posição ensino, limitava-nos a capacidade de desen-
onde seria fácil evitar problemas futuros, volver estudos científicos e mesmo tecno-
porque tem pouca população, tem pouco sempre, pois as suas propriedades não se lógicos. Agora, o encontro diário com os
desenvolvimento industrial. Nós podemos alteram. Aqui nós não aproveitamos nada outros colegas das diversas especialidades
ter uma política correcta, dando um tra- e somente geramos “lixo”. Atirar com os permitiu a realização projectos conjuntos
tamento adequado ao lixo, aproveitando desperdícios todos para um aterro e poluir de trabalho. Neste momento, está em curso
melhor o potencial energético e reduzindo as terras e as linhas de água, não nos trará a possibilidade da Universidade Agostinho
a procura de matérias-primas. nenhum benefício em termos de saúde. Neto colaborar com outras estruturas do
Governo em leis ligadas à segurança das
Como é que o lixo pode gerar riqueza? O que se está a fazer ao nível do populações contra as catástrofes naturais,
Tudo gera riqueza e pode evitar a poluição. ensino superior na área do ambiente? por exemplo. Os investigadores da Univer-
O alumínio, por exemplo, que é um metal Apenas posso falar enquanto membro da sidade Agostinho Neto podem ajudar a pre-
caro de explorar, pode ser reciclado para Universidade Agostinho Neto. Desde há ver essas situações. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 11


Angola Alterações Climáticas

Os projectos pioneiros ...


Barragem Barragem
de Cambambe do Gove
Abrange a requalificação e Inaugurada em Agosto, a
ampliação da barragem. A barragem hidroeléctrica
segunda fase do projecto, a do Gove, localizada na pro-
ampliação da barragem de víncia do Huambo, tem
Cambambe, situada na pro- uma capacidade de produ-
víncia do Kwanza-Norte, ção de 60 megawatts e irá
iniciou-se em Janeiro, com a fornecer energia ao centro
construção da segunda cen- e sul de Angola, nomeda-
tral eléctrica, com capacida- mente as cidades do
de para produzir 700 megawatts. A nova central estará dotada de quatro Huambo, Caála e Kuito (Bié). O projecto representou um investimento
grupos geradores, cada qual com capacidade de 175 megawatts, requer um de 279 milhões de dólares e foi executado pelo grupo brasileiro Odebre-
investimento inicial de 400 milhões de dólares e será concluída em 2014. cht. Recorde-se que a construção da barragem data de 1969 e foi inter-
Recorde-se que a primeira fase foi iniciada em 2009, com a reabilitação e rompida em 1975. A retoma dos trabalhos só surgiu em 1983 sendo no-
modernização da primeira central.Já a terceira fase, ainda em projecto, vai vamente suspensa três anos depois. Em 1990, foi alvo de um explosão
abarcar o alteamento da barragem de 102 para 132 metros, visando o maior que a destruiu parcialmente. Os trabalhos recomeçaram em 2001 e só
aproveitamento do curso das águas do Kwanza. este ano foram concluídos.

...e a lista Energia Hidroeléctrica


•C  entral Hidroeléctrica de Laúca • Mini-hídrica M’Bridge /N’Zeto
completa • Ampliação da central Hidroeléctrico de Cambambe • Mini-hídrica Cuemba
• Mini-hídrica Cuando • Mini-hídrica Chiumbe
• Mini-hídrica Liapeca • Mini-hídrica Kuito 2 (Katermo)
• Mini-hídrica N’harea • Mini-hídrica Andulo

Mercado de
carbono chega
a Angola
Usar tecnologias amigas do ambiente vale dinheiro. Muito dinheiro.
Angola já tem cinco projectos em fase de validação, de forma a receberem
créditos de carbono que poderão ser comercializados internacionalmente
Cássia Ayres e Jaime Fidalgo

12 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Parque eólico Angola LNG
do Tombwa — Gás Natural
O Governo vai construir o Liquefeito
primeiro parque eólico de É um projecto ambicioso,
Angola, na região do Tom- iniciado em Dezembro de
bwa, província do Namibe. 2007, que permitirá a pro-
Este parque, um dos maio- dução de gás natural lique-
res de África, terá capaci- feito, reduzindo a queima
dade para 100 megawatts, de gás e as emissões de
tem 50 aerogeradores de 2 carbono. Está localizado no
megawatts, e representa Soyo (província do Zaire) e
uma forte aposta por parte do Ministério da Energia e Águas (Minea) tem como accionistas a Sonangol (22,8%), Chevron (36,4%), Total
nas energias renováveis (a par de projectos ligados à biomassa e de sis- (13,6%), BP (13,6%), e ENI (13,6%). Com uma capacidade de produção
temas fotovoltaicos). Funcionará também como centro de formação e de 5,2 milhões de toneladas por ano e um potencial de 1000 milhões de
experimentação de novas tecnologias. Segundo a directora nacional pa- metros cúbicos por dia, já está em fase de exploração (apesar de ainda
ra as energias renováveis, Sandra Cristóvão, foi encontrada nesta região não ter sido inaugurado oficialmente) e teve um impacto significativo na
potencial eólico com ventos de 5,2 metros por segundo tornando o local comunidades local ao nível da reabilitação de infra-estruturas, da geração
ideal para a construção de um parque. de empregos e da responsabilidade social.

Energias renováveis Indústria


•A  ldeias Solares — Energia fotovoltaica nas áreas rurais • F ábrica de reciclagem de resíduos — Grupo Neuerth
• Projecto Onda Verde — Distribuição de lâmpadas eficientes • Fábrica de reciclagem de alumínio — Neuerth
• Parque eólico do Tombwa —Namibe • Fábrica de Reciclagem de Resíduos — Universal Minerals & Metals
• Angola LNG —Soyo • Fábrica de reciclagem de alumínio — Universal Minerals & Metals
• Fábrica de cimento Nova Cimangola (geração de energia a partir do calor)

A
lterar a matriz pro-
dutiva dos países
o mercado de carbono movimentou
industrializados em
nome das alterações climáti-
179 mil milhões de dólares em 2011.
cas é algo que vai levar muito África representa menos de 1% do total
tempo e custar muito dinheiro. Para per-
mitir a adequação das economias desen-
volvidas às metas de redução dos gases Quioto) como os do Anexo 2 (países em também permite que os países desenvol-
de efeito estufa (GEE) definidas no pro- desenvolvimento, isentos dessas obriga- vidos comprem toneladas de CO2 que não
tocolo de Quioto, foi criado o mecanismo ções), para que se desenvolvam economi- foram emitidas por países em desenvolvi-
de desenvolvimento limpo (MDL). Através camente seguindo critérios sustentáveis. mento graças à implantação de tecnologias
deste mecanismo, é possível obter as redu- Na prática, tanto os governos como os limpas em diferentes áreas. Um crédito de
ções certificadas de emissões com projec- privados ganharão um incentivo finan- carbono equivale a 1 tonelada não emitida
tos sustentáveis, os chamados créditos de ceiro, se provarem que os seus projectos (por isso o esquema é apelidado pelos crí-
carbono, que depois podem ser comercia- industriais adoptam tecnologias limpas ticos de “licença para poluir”).
lizados no mercado internacional. capazes de parar os temidos GEE: dióxido Na lista dos sectores elegíveis (ou seja,
O mecanismo funciona numa via em de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido abrangidos pelo MDL), destacam-se a
dois sentidos, que apoia tanto os países do nitroso (N2O). O mercado de carbono visa geração, distribuição e conservação de
designado Anexo 1 (países industrializa- dois grandes incentivos: a redução das energia (renovável ou não renovável),
dos com obrigações de redução de emis- emissões; e o incentivo ao investimento as indústrias de transporte, mineração,
sões de GEE no âmbito do Protocolo de em tecnologias amigas do ambiente. Mas construção e produção de metais e ainda

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 13


Angola Alterações Climáticas

de 3,6 mil milhões de dólares na mitiga- tico que pode demorar 18 meses e inclui
ção das alterações climáticas. Só que o a aprovação do projecto como “elegível”,
Novo centro valor dos créditos de carbono apoiados a validação (por parte de uma entidade
pela ONU, as chamadas reduções cer- internacional), a obtenção da aprovação
de estudos tificadas de emissões, caiu cerca de 70% do país anfitrião (pela Autoridade Nacio-
ao longo dos últimos 12 meses, devido nal Designada — AND) o registo, a imple-
Inaugurado a 8 de Agosto o CETAC
à grande oferta de créditos (a fasquia de mentação do projecto, a verificação e a
(Centro de Ecologia Tropical e Alte-
rações Climáticas), visa desenvolver
1000 milhões de certificados emitidos foi certificação (pela Convenção das Nações
estudos e investigações aplicadas batido em Setembro) e à queda na procura Unidas sobre Alterações Climáticas) para
para assegurar a melhoria da quali- devido à desaceleração global da econo- que haja a emissão de créditos de carbono.
dade ambiental e da gestão da água. mia. Hoje a cotação da tonelada de car- Angola, que aderiu à Convenção-Qua-
O criação do novo centro permitiu a bono está entre 5 e 16 dólares. Durante a dro das Nações Unidas para as Alterações
inserção no mercado de trabalho de conferência da UNFCCC, em Durban, Climáticas, já deu passos firmes desde a
42 jovens licenciados com especiali- em Dezembro no ano passado, na África fundação da AND em 2010. O órgão, que
zações em Engenharia Florestal, En- do Sul, o preço chegou ao menor patamar está ligado ao Ministério do Ambiente,
gelharia Agronóma ou Veterinária e de sempre: 3 dólares — dez vezes abaixo cria os critérios de avaliação dos projectos
estudantes do Instituto Superior Po- do pico das cotações em Março de 2006. que pretendem concorrer ao mecanismo
litécnico. Em declarações à imprensa,
O problema de fundo é que os grandes de desenvolvimento limpo. Já estão em
a ministra do Ambiente realçou que
o CETAC tem laboratórios com meios
produtores de GEE não ratificaram o Pro- fase de validação os cinco primeiros pro-
modernos para investigar a qualida- tocolo de Quioto, caso dos Estados Unidos jectos, todos na área de energia — barra-
de de água e irá celebrar protocolos ou da China e da Índia (que, sendo países gem de Cambambe (um de reabilitação e
com universidades angolanas e ou- em desenvolvimento, não têm essa obri- outro de ampliação), barragem de Gove,
tras instituições ligadas ao estudo gação). As atenções estão voltadas para parque eólico do Tômbwa e o Angola LNG
das alterações climáticas. a Europa em plena crise económica. No de gás natural. Juntos, somam 24 milhões
ETS (European Union’s Emissions Trading de toneladas por ano em créditos e colo-
System), o maior mercado de carbono do cam Angola como o terceiro país do conti-
mundo, com 11 mil empresas, cada crédito nente, atrás da Nigéria e da África do Sul.
a agricultura, e os projectos em prol da vale hoje 8,32 euros (cerca de 10,5 dóla- Existem ainda outros projectos em curso
biodiversidade, como a reflorestação de res), quando há um ano a média foi de 13 como a substituição de lâmpadas antigas
áreas degradadas. Outras iniciativas que euros (16,5 dólares). Mas o que realmente por outras mais “amigas do ambiente”
valem créditos de carbono são os aterros preocupa os investidores é a insegurança (projecto Onda Verde). A lista completa,
sanitários com captura de gás metano, o sobre o futuro do acordo de Quioto e o do com 19 iniciativas, incluem a nova central
aproveitamento de biogás a partir da agri- próprio mercado europeu de carbono que hidroeléctrica de Laúca, diversas mini-
cultura ou da compostagem de resíduos aguarda decisões quanto à sua eventual -hídricas espelhadas pelo país, fábricas de
sólidos urbanos e a incineração de lixo. reformulação. Este é um dossiê “quente” reciclagem de alumínio e de outros resí-
Segundo um estudo do Banco Mundial, que está nas mãos da dinamarquesa Con- duos, a instalação de energia fotovoltaica
o mercado mundial de carbono movi- nie Hedegaard, comissária da União Euro- nas áreas rurais ou a melhoria dos fornos da
mentou 179 mil milhões de dólares em peia para as Alterações Climáticas. Cimangola para que reduzam as emissões.
2011. A Europa representa o maior mer- “Este é um mercado com grande expec-
cado, enquanto África tem menos de 1% 19 projectos em curso tativa de retorno, tendo em vista a elevada
do total. Segundo a revista The Economist, No meio da incerteza uma coisa é certa: o procura por parte das economias desen-
o MDL ajudou a reduzir 1000 milhões de mercado de carbono é uma grande opor- volvidas pelos créditos, que visam a ade-
toneladas de carbono em sete anos, atraiu tunidade para os países em desenvolvi- quação às metas de Quioto”, afirma Giza
215 mil milhões de dólares em “investi- mento como Angola. Mas até receber os Martins, titular da AND. A opinião da
mentos verdes” para os países em desen- créditos, os investidores precisam de seguir especialista é comprovada pelas estatísti-
volvimento e teve um impacto estimado as fases do MDL, um processo burocrá- cas. A expectativa para o mercado de car-
bono é que atinja os 500 milhões de dólares
em dez anos. “Os projectos das mini-hídri-
Angola é o terceiro país do continente. cas, onde se espera instalar 52 unidades,
e o dos sistemas fotovoltaicos isolados,
projectos valem 24 milhões de toneladas por exemplo, representam um horizonte
no MDL onde essas receitas financeiras
por ano em créditos de carbono poderão fazer a diferença na viabilidade

14 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Angola Alterações Climáticas

O essencial sobre o mercado de carbono


O que é O que é o mecanismo de te, por sua vez, um “mercado voluntário”, onde
Surgiu a partir da criação da Convenção- Desenvolvimento Limpo empresas, ONG, instituições, governos, ou até
-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudan- Este mecanismo permite projectos de redução cidadãos, tomam a iniciativa de reduzir as emis-
ça Climática (UNFCCC, em inglês), durante de emissões em países em desenvolvimento, sões voluntariamente. Além destes dois tipos
a ECO 92, no Rio de Janeiro. Em 1997, na que não possuem metas de redução de emis- de mercado, outra forma de financiar projectos
reunião de Quioto, Japão, os países signatá- sões no âmbito do Protocolo de Quioto. Estes de redução de emissões são os chamados fun-
rios concordaram em assumir compromissos projectos (em regra nos sectores energético, dos voluntários, caso do Forest Carbon Partner-
mais rígidos para a redução das emissões de transporte e florestal) podem ser transforma- ship Facility, do Banco Mundial. Hoje o maior
gases que agravam o efeito estufa. Para que dos em reduções certificadas de emissões mercado mundial de comércio de emissões é o
o documento, designado por Protocolo de (veja ponto seguinte), que podem ser negocia- European Union Emission Trading Scheme
Quioto, entrasse em vigor, deveria ser assi- dos com os países com metas de redução de (EU ETS) que abrange 11 mil empresas de 30
nado por 55% dos países responsáveis por emissões definidas no Protocolo de Quioto. países (os 27 da União Europeia, mais a Norue-
55% das emissões, o que só aconteceu depois Um projecto só é considerado elegível se for ga, Islândia e Liechtenstein).
que a Rússia o ratificou em Novembro de aprovado pela Entidade Nacional Designada Fonte: UNFCCC — www.unfccc.int
2004. O objectivo central é que os países de cada país. A funcionar desde 2006, este
limitem ou reduzam as suas emissões de ga- mecanismo já registou mais de mil projectos,
ses de efeito estufa (GEE). que valem mais de 2,7 mil milhões de tonela- projectos aumentam,
das de CO2 equivalentes. mas os preços descem
Quanto valem as emissões
Quanto vale o mercado global
1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) cor- O que são os créditos de carbono dos créditos de carbono
responde a um crédito de carbono que pode Também chamados de “redução certificada
ser negociado no mercado internacional. A de emissões” significa simplesmente comprar Reduções certificadas
Preço de carbono emitidas
redução da emissão de outros gases gerado- uma permissão para emitir GEE. O preço, ne- (em dólares) (mil milhões)
res do efeito estufa, também pode ser conver- gociado no mercado, deve ser necessariamen- 25 1,0
tida em créditos de carbono, utilizando-se o te inferior ao da multa que o emissor deveria
conceito de “carbono equivalente”. Para aju- pagar. Os créditos de carbono podem ser ge- 20 0,8
dar os países a alcançarem as suas metas de rados em qualquer lugar do mundo e são au-
emissões e para encorajar o sector privado e ditados por uma entidade independente do 15 0,6
os países em desenvolvimento a contribuírem sistema das Nações Unidas.
10 0,4
para os esforços de redução das emissões, o
protocolo inclui três mecanismos de mercado: Onde podem ser transaccionados 5 0,2
o comércio de emissões; a implementação O Protocolo de Quioto, representa o “mercado
conjunta de projectos; e o mecanismo de de- regulado”, onde os países possuem metas de 0 0
senvolvimento limpo (veja ponto seguinte). reduções a cumprir de forma obrigatória. Exis- 2008 09 10 11 12
Fonte: The Economist /CDM Policy Dialogue.

do projecto”, revela Giza Martins. “Para se é que, segundo a AND, a comercialização corre directamente com África na atracção
ter uma ideia da rentabilidade, se um pro- de créditos de CO2 adiciona entre 1% e de projectos. Outros argumentam que o
jecto gerar uma substituição equivalente 10% à taxa de retorno sobre investimento. mercado de carbono foi uma forma inte-
a 10 milhões de toneladas de carbono por Estes factos levam a crer que Angola tem ligente dos países em desenvolvimento
ano, algo perto daquilo que fará o projecto um grande potencial em termos de projec- terem acesso às tecnologias limpas de
Angola LNG (avaliado em 12 milhões de tos elegíveis, sobretudo no sector da ener- vanguarda. Abias Huongo, responsável
toneladas de CO2) e multiplicarmos por gia. Ainda assim, o mercado é olhado com do Ministério do Ambiente pela área das
um preço de 4,8 euros, isso significa contar desconfiança por alguns países em desen- alterações climáticas, reconhece as vir-
com um montante de 48 milhões de euros volvimento que vêem no mecanismo uma tudes do mercado de carbono, mas con-
por ano em recursos adicionais”, completa. licença para as nações ricas continuarem sidera que “os verdadeiros problemas do
É importante salientar que os lucros dos a poluir socorrendo-se da aquisição dos planeta só se resolverão quando os países
créditos pertencem a quem adopta a tec- créditos em economias emergentes. Assim poluidores mudarem a sua matriz energé-
nologia limpa, sejam eles actores públi- pensam alguns países da América Latina tica”. Até lá, Angola, como se vê, já entrou
cos, privados, ou mistos. Outra vantagem (Venezuela, Colômbia e Bolívia) que con- a todo o “gás” na rota do carbono. h

16 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Angola Políticas Públicas

feira do ambiente:
Ponto de encontro do sector
já vai na segunda edição

Colocando o
Ambiente na agenda

Maura Gueve
Os últimos quatro anos foram decisivos para a criação das principais políticas
ambientais no país. Em jeito de balanço, o Ministério do Ambiente – Minamb,
destaca a consolidação da lei de base do ambiente, o regulamento de avaliação
de impacte ambiental e a criação da comissão multisectorial, medidas que
trouxeram o tema para a agenda de todos os ministérios
Cássia Ayres

O
Ministério do Nos últimos quatro anos, só no quadro a sua parte”, resume Abias Huongo, res-
Ambiente é relati- jurídico, foram criados 20 novos regula- ponsável pela área das alterações climá-
vamente jovem em mentos dentro da lei de base do ambiente ticas. Na governação, os destaques estão
Angola. Teve início em em áreas consideradas estratégicas, como na definição de estratégias para três áreas
1992, ano que marca a 1.ª água, resíduos, biodiversidade, petróleo e consideradas prioritárias para as políticas
Conferência das Nações Unidas para o clima. A preocupação das outras áreas do do Executivo que derivaram da participa-
Ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Governo e da sociedade civil com o ambiente ção de Angola na cimeira do Rio 92 — a
Naquela época, o Minamb era apenas cresceu desde a criação da comissão mul- biodiversidade, as alterações climáticas e
uma secretaria de Estado e, ao longo da tisectorial, em Junho de 2010. Ao todo, são a desertificação — onde novos mecanis-
sua evolução, chegou a partilhar funções mais de 15 instituições a discutir a relação mos e programas estão a ser desenvolvidos.
com a área das pescas e, mais tarde, com das questões ambientais. “A transversali-
o urbanismo. Hoje, é um Ministério dinâ- dade é a principal marca do Minamb. As visibilidade internacional
mico que tem ganho um protagonismo informações compartilhadas com outros No circuito mundial da sustentabilidade,
crescente no país devido à transversabili- sectores criam os pressupostos para o desen- Angola, que outrora era um participante
dade da sua actuação. volvimento sustentável, onde cada um faz espectador, também tem tido uma posi-

18 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Temas em agenda ...e áreas prioritárias do ministério
na Comissão
Multisectorial
1 3
Qualidade do Ambiente Agricultura
A novidade é o Centro de Ecologia Tropical e Sustentável
Alterações Climáticas, inaugurado em Agosto, Ainda em fase de estudos, o Minamb
• E stratégia nacional para na província do Huambo. O novo centro investigará a tem um projecto para a gestão de terras que
as alterações climáticas. qualidade do ar, água, solo e os avanços de fenóme- visa promover a agricultura sustentável. A inicia-
• Plano estratégico para gestão nos com a desertificação e as alterações climáticas. tiva vai testar as práticas existentes e introduzir
de resíduos urbanos. A sua missão consiste em produzir e disponibilizar inovações quanto a prevenção da desertifica-
• Plano de contingência contra informações ao Governo, à comunidade científica e ção, o aproveitamento da água e a redução
derrames de petróleo. às empresas privadas que necessitam de dados desta dos produtos químicos tóxicos na agricultura.
natureza para desenvolverem as suas actividades. O

4
• Plano de contingência contra
derrames de petróleo no mar. centro tem uma parceria com a Universidade José Alterações Climáticas
• Decreto presidencial sobre as Eduardo dos Santos, do Huambo. O Ministério fez a implantação efec-
tiva da convenção do Rio 92 no que

2
substâncias que empobrecem
a camada do ozono. Educação Ambiental se refere aos temas:
• Regulamento sobre a qualidade Durante os anos 90, houve um forte engaja- • Inventário de emissão de gases de efeito
da água. mento das organizações não governamentais estufa — concluído em 2011.
(ONG), caso do JEA e da Rede Mayombe, na sensi- • Estratégia nacional de alterações
• Regulamento para prevenção e bilização da sociedade para o ambiente. Contudo, a
controlo da poluição das águas climáticas — concluída em 2007.
falta de financiamento externo influenciou a quali-
nacionais. dade e o alcance das acções de educação. O Ministé- • Estratégia nacional — projectos da
• Relatório nacional sobre saúde rio reconhece que sem o apoio da sociedade civil será autoridade nacional designada — em curso.
e ambiente. difícil alcançar resultados e tem como meta redefinir • Projecto de substituição de lâmpadas de
• Plano estratégico da rede nacional os projectos de relevância de forma a funcionar como baixo consumo — Em curso em Luanda,
de áreas de conservação. um mediador junto dos agentes privados. Huíla e Benguela.

ção activa, com participação plena dos


seus quadros em grupos de estratégicos de
o ministério do ambiente possui poucos
decisão. Neste momento, Angola preside ao
Fórum das Autoridades Nacionais Desig-
recursos financeiros. representa menos
nadas, integra o grupo de peritos para a ela- de 3% do orçamento geral do estado
boração das comunicações nacionais e do
Plano Nacional de Adaptação às Mudan-
ças Climáticas. Todos relativos aos países de Abias Huongo, Angola vai ao mundo entre realizar o urgente em detrimento
do Anexo 2 (países emergentes sem obri- para mostrar as suas potencialidades em do necessário, influencia grande parte das
gações com o Protocolo de Quioto para a recursos naturais e as suas estratégias para decisões dos gestores públicos. “No caso
redução de gases de efeito estufa — GEE). o crescimento sustentável. “Contudo, não de África, parece que sempre existiu um
No âmbito das grandes cimeiras interna- nos podemos esquecer de que somos um consenso sobre as verdadeiras prioridades
cionais, vale a pena recordar que durante país africano e por este motivo ainda pre- das populações. Oferecer água, alimentos,
a Rio+20, Angola levou uma delegação cisamos de ajuda externa para concretizar habitação e educação às populações são
com 70 integrantes que participaram em esse desenvolvimento.” problemas que assumem maior urgência se
painéis paralelos e representaram o país Mas se por um lado, há muito traba- comparados com as questões do ambiente.
num stand temático. No seu discurso, o (na lho a ser feito por parte do Minamb, por A questão fundamental é que todos esses
altura) vice-presidente Fernando da Pie- outro, faltam receitas financeiras para apli- problemas acabam por ser influenciados
dade, defendeu a criação de uma agência car os planos de acção que se pretendem. pelo ambiente. É um assunto transversal
especializada do Ambiente na ONU, com A fatia do Ministério representa menos à sociedade.” Abias Huongo não poderia
poderes de execução e autonomia superio- de 3% do Orçamento do Geral do Estado. estar mais de acordo: “Este é um Minis-
res ao do Programa das Nações Unidas para “Somos os que menos dispõe de recursos, tério dinâmico, não apenas pelo cenário
o Meio Ambiente (PNUMA). Há um ano, o que infelizmente não é um caso isolado mundial que o inspira, mas pela maneira
na COP 17, na cidade de Durban, Angola no contexto global”, afirma Kâmia Víc- como todos reagimos a ele.” Convém que
discutiu as alterações climáticas e os efei- tor de Carvalho, directora Nacional do esse espírito não se perca neste novo ciclo
tos para os países africanos. Na opinião Ambiente. Para a responsável o dilema iniciado após as eleições de Agosto. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 19


Angola resíduos

Por uma Angola


mais limpa Já foi dado o pontapé de saída para um Plano Estratégico de Gestão
de Resíduos Urbanos em Angola — PESGRU que pretende reconstruir,
capacitar e alargar as infra-estruturas fundamentais em todo o país.
Mais do que um nome sugestivo, o Programa Angola Limpa é a meta
do Executivo que repensa a cadeia produtiva dos resíduos até 2025
Cássia Ayres

20 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


aterro de
mulenvos:
Lixo de Luanda QUANTO SERÁ INVESTIDO NO PROGRAMA
está concentrado Angola Limpa prevê investimentos de 6 mil milhões de dólares até 2025
num único local
2012-2017 2018-2025

(em milhões de dólares) Mínimo Máximo Mínimo Máximo

Custo da recolha 1 428 2 166 1 904 2 888


indiferenciada (1)
Alargamento do âmbito
da recolha indiferenciada (2) 875 1 334 3 264 4 971

Recolha e deposição 25 50 25 50
do passivo disperso
Infra-estruturas de tratamento 161 1 383
e deposição final
Valor total de investimento 1 061 1 545 4 672 6 404
(intervalo estimado por período)

Observações

• Estimativas baseadas em projecções de acentuado crescimento demográfico (de 20


XXXXXXxxxxxxx XXXXXXxxxxxxx XXXXXXxxxxxxx

milhões para 29 milhões de habitantes) e económico (14% ao ano até 2016 e 5% ao


ano de 2017 a 2025).
• Custos unitários da recolha assumidos nesta estimativa poderão diminuir até 20%
com a optimização de práticas e a melhoria das infra-estruturas de base.
• Investimento em infra-estruturas pode diminuir em virtude de economias de escala
e da consolidação de estruturas através dos planos provinciais de acção.
• Investimento apresentado não inclui: incineração, recolha selectiva, capacitação
do MINAMB e optimização de infra-estruturas de base (exemplo: rede viária).
(1) Assumindo a realidade actual. (2) Investimento adicional a somar ao actual custo da recolha indiferenciada em Angola,
cujo valor total para 2012 se estima entre 240 milhões e 360 milhões de dólares/ano. Fonte: PRESGRU — MINANB.

A
gestão dos resíduos
é indicador de desen-
luanda produz 5 mil toneladas de lixo
volvimento das socieda-
des modernas e, ao mesmo
por dia (1 quilo por habitante), valor
tempo, um dos problemas acima da média dos países emergentes
mais complexos devido às suas repercus-
sões ambientais e de saúde pública. O cres-
cimento demográfico e económico coloca gentes na produção de lixo por habitante. O da pesquisa realizada com as administra-
uma forte pressão sobre o sistema de ges- lixo colectado vai para o único aterro sani- ções provinciais em 80% do território nacio-
tão de resíduos urbanos que leve Angola a tário da cidade, o de Mulenvos. Mas o pas- nal, juntamente com empresas que fazem a
alcançar os objectivos de desenvolvimento sivo restante é acumulado nas ruas, onde recolha de dados para a ONU.
do milénio e transforme o lixo em oportu- milhares de indivíduos convivem directa A boa notícia divulgada pelo Ministério
nidade de negócio com benefícios sociais. e diariamente com todos os perigos para a do Ambiente (Minamb) à EXAME é que a
A situação actual é preocupante. Segundo saúde pública que daí advêm. legislação que coloca em prática o plano foi
a Elisal, empresa angolana de recolha de Se observamos o mesmo cenário nas pro- aprovada pelo Conselho de Ministros, em
resíduos na capital, Luanda produz 5 mil víncias, o número cai para 460 gramas por Julho, e deve entrar em vigor ainda este ano
toneladas de lixo diariamente (aproximada- habitante, mas, segundo as projecções até após a apresentação da Comissão Multissec-
mente 1 quilo por habitante), o que coloca 2025, a tendência é que o descarte passe para torial para o Ambiente que disseminará o
a cidade acima da média dos países emer- o dobro por habitante. Os números advêm tema para as outras instâncias do Executivo.

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 21


Angola resíduos

ONDE FICARÃO OS CENTROS DE TRATAMENTO


Rede de CTV * terá abrangência nacional e uma implementação faseada
Centro/Plataforma
de Triagem
2017
50% das capitais de província
Aterro/Vala Sanitária até 2022
2017 Restantes capitais e em cidades
Todas as capitais de província com produção >70kton./ano
2022 após 2022
Todas as sedes de município nas restantes cidades

Centro/Plataforma
de Compostagem
Ecocentro 2017
Capitais de província
2017 com centro de triagem
Todas as capitais de província
2022
2022 Restantes capitais e em cidades
Todas as sedes de município com produção >70kton./ano

* CTV (centros de tratamento e valorização). Dimensão da rede pode ser optimizada com estações/plataformas de transferência.

O projecto contém o princípio dos três


“R” — reduzir, reutilizar e reciclar — que
até ao fim de 2013, serão criados novos
reforça quatro eixos de acção: alargamento
e optimização da recolha indiferenciada;
regulamentos e a autoridade nacional
implementação do modelo de tratamento, de gestão do instituto de resíduos
de valorização e de deposição dos resíduos;
recolha e deposição do passivo existente;
e, por fim, o lançamento da recolha selec- As empresas que entrarem neste negócio Mas assegurar a eficiência do serviço,
tiva com a estruturação de fluxos especí- vão ter o benefício de implementar pro- com qualidade de cobertura e frequência
ficos. Para o efeito, o plano propõe acções jectos prioritários com o Governo, através da recolha em todo o território angolano,
de formação e sensibilização, a construção de parcerias público-privadas”, escla- também gerará novos custos. A taxa de
de um modelo institucional e um outro rece Kâmia Victor de Carvalho, direc- recolha irá crescer e será partilhada pelas
modelo para o financiamento. tora Nacional do Ambiente. províncias segundo critérios de zonas urba-
Neste último aspecto, entram em jogo, A aplicação do programa será faseada nas estruturadas (100%), zonas periurba-
o aumento das dotações do Executivo, a com o início em 2017 e o final em 2025. nas (100%) e aglomerados das zonas rurais
capitalização de fundos internacionais, Vai compreender a construção de ater- (80%) de acréscimo.
a entrada nos mecanismos de financia- ros sanitários, ecocentros, plataformas Além dos benefícios sociais e ambien-
mento de carbono e um sistema tarifário de triagem e de compostagem. No total, tais inerentes a gestão, o PESGRU reforça o
que garanta a sustentabilidade do sector. os investimentos andarão na ordem dos aspecto económico quando propõe inserir
6 milhões de dólares até 2025. no mercado de trabalho, mais mão-de-obra
A face económica do lixo Assim que o plano entre em operação, o especializada, incrementar a produção de
A recuperação dos resíduos para a geração Minamb quer dar um salto qualitativo no energia e potencializar o sector turístico.
de energia e a promoção de uma indústria quadro legal e institucional com a aprova- “Este conjunto de medidas darão uma nova
de reciclagem também estão nas ambições ção do Regulamento Geral de Resíduos e cara ao Ministério, os benefícios serão os
do Minamb com o PESGRU. “Repensar a constituição de uma Autoridade Nacio- mais visíveis até aqui”, reforça Kâmia.
a cadeia dos resíduos irá potencializar as nal de Gestão do Instituto de Resíduos, a Revelar a outra face do lixo em Angola é
oportunidades do mercado do ambiente. concluir até ao final de 2013. o todos esperam para ver. h

22 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Angola BIODIVERSIDADE

Salvem o
Maiombe
Angola preside à “Iniciativa transfronteiriça da
floresta do Maiombe”, que reúne a RDC e o Congo.
O plano para a conservação da biodiversidade até
2017 precisa de um investimento de 40 milhões de
dólares. A FAO, Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura, vai dar um ajuda
Filipe Cardoso

P
rimeiro surgiu o tor público-privado e diplomatas, pediu Unidas para Alimentação e Agricultura
apelo. A ministra do apoios para a implementação da “Iniciativa (FAO), que anunciou um apoio incondi-
Ambiente, Fátima Jar- transfronteiriça da floresta do Maiombe”, cional à iniciativa. “Estamos disponíveis
dim, durante um encontro rea- que reúne Angola e as repúblicas do Congo para apoiar este projecto, sobretudo nas
lizado em Luanda com a classe e Democrática do Congo (RDC). A res- áreas de reforço das capacidades, de pre-
empresarial, representantes de órgão das posta surgiu rápida por parte de Maria servação e protecção assim como a gestão
Nações Unidas em Angola (como o PNUD Helena Semedo, representante regional e o aproveitamento dos recursos florestais.
e a FAO), além dos representantes do sec- para África da Organização das Nações Julgamos importante que as comunidades

24 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


decorrer estes mês em Doha (Qatar), na -se ao Parque Nacional de Cabinda, que
qual o plano estratégico quinquenal (2012 está inserido na floresta do Maiombe. O
floresta a 2017) será apresentado. Fátima Jardim projecto vai formar 45 fiscais, todos ex-
do maiombe: justificou o pedido dizendo que os esfor- -militares, para o patrulhamento da zona.
“Engloba Angola, RDC, ços dos parceiros do projecto “devem ser Acrescentou que a floresta do Maiombe é
Congo e Gabão e tem uma contínuos para que seja um exemplo em um território importante para a promo-
dimensão comparável à de matéria de preservação do ambiente”. Acres- ção da economia verde, alertando, porém,
290 mil campos de futebol centou que Angola, que preside a esta ini- que “o conceito tem um foco diferente
ciativa, continua “empenhada para que os em África, dado que assenta em priori-
objectivos traçados sejam uma realidade”. dades como o bem-estar da população, o
O problema de “fundo” é que o plano pre- acesso à água potável e a infra-estrutu-
cisa de 40 milhões de dólares para cumprir ras que promovem o desenvolvimento”.
as metas de protecção da biodiversidade. Recorde-se que, segundo o Ministério
do Ambiente, 12,56% do território nacio-
um plano em três fases nal já estão classificados como área de con-
A estratégia traçada prevê a gestão sus- servação (parques ou reservas naturais).
tentável dos ecossistemas florestais do Destaque também para projectos em curso
Maiombe, que, numa primeira fase, vai como o estudo e a protecção de espécies
concretizar-se na zona florestal, no Baixo- em vias em extinção — caso da palanca
-Congo, incluindo a reserva do Uki, na negra gigante, na província de Malanje —
RDC. A floresta do Maiombe, na provín- e o levantamentos da flora nas províncias
cia de Cabinda, na parte sul, e a dos dois de Cabinda e Maiombe. Apesar do Plano
Congos serão alvos de intervenção ambien- Nacional da Biodiversidade ter sido apro-
tal na segunda fase do projecto. Por fim, vado em 2007, os responsáveis reconhecem
a parte norte da floresta, entre a RDC e que ainda há muito a fazer para combater
Gabão, será revista na terceira. Recorde- ameaças à biodiversidade tais como a caça
-se que desde a assinatura do memorando furtiva e a falta de consciência ambiental
tripartido (Angola, RDC e República do da população.
Congo), em 2009, que já foram efectuados Tal cenário também é visível na floresta
estudos de viabilidade que determinam tropical do Maiombe, tal como alerta a
os corredores biológicos e os instrumen- organização Mundial para a Conservação
tos jurídicos que visam proteger a floresta da Natureza, (IUCN). Além da caça ilegal
do Maiombe, com uma dimensão com- com intuitos comerciais, existem outras
parável a de 290 mil campos de futebol. ameaças diagnosticadas pela organização,

a caça furtiva e a falta de consciência


ambiental das populações são os
DESIREY MINKOH / AFP

grandes inimigos da protecção dos


ecossistemas florestais do maiombe
sejam inseridas nas várias fase do projecto”, Agostinho Chicaia, o coordenador do tais como a caça de sobrevivência, a degra-
afirmou e alusão às mais de 1 milhão de projecto transfronteiriço, afirmou à Angop, dação da própria floresta, o conflito sem-
pessoas, sobretudo agricultores de subsis- que está tudo pronto para o estabelecimento pre latente entre “o homem e o animal”, a
tência, que vivem e dependem da riqueza e ligação das cinco reservas ou parques falta de cultura de educação ambiental, o
natural da floresta do Maiombe. existentes na zona verde dos três países, uso insustentável da terra ou as obras rela-
Agora falta saber o que pensam os par- que é alimentada pela bacia do Congo e cionadas com a mineração. Tudo razões de
ticipantes da 18.ª Conferência das Nações constituída por árvores com mais de 50 sobra para que o alerta de Fátima Jardim
Unidas sobre as Alterações Climáticas, a metros. Estas zonas em Angola, vão ligar- seja ouvido: “Salvem o Maiombe.” h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 25


Angola Sociedade Civil

Por uma
juventude mais
ecológica Durante os anos 90, um grupo de jovens foi pioneiro do
movimento da sociedade civil pela preservação do ambiente. A Juventude
Ecológica Angolana fez de um assunto ainda pouco conhecido no país,
uma causa de vida para centenas de jovens. O seu trabalho já foi
reconhecido com o Prémio Ambiental Global 500 da ONU
Cássia Ayres

E
nquanto muitos jovens da sua público. Caso contrário não haveria adesão. práticas à volta do ambiente. Como resul-
idade pensavam no Mussulo Por isso, pensámos em fazer actividades tado, os participantes passavam a integrar
como destino de praia e na Ilha divertidas e cativantes, tais como progra- a JEA e a tornarem-se novos activistas e
do Cabo como fonte de diversão mas de rádio e jogos educativos”, resume educadores ambientais. “Ambos os projec-
nocturna, estes jovens tinham José Silva, representante da organização. tos tornaram-se referências, tanto a nível
algo diferente em mente. Eles reuniam-se Foi dessa ideia que nasceu o primeiro pro- nacional como internacional ”, salienta José
aos fins-de-semana em campanhas de lim- grama radiofónico ambiental em Angola Silva com indisfarçável orgulho.
peza e de plantação de árvores nas praias do criado em 1995 e denominado Telefone
Mussulo e da Ilha. Cerca de dois anos depois, Verde, feito pela Rádio LAC. O programa Trabalho de formiguinha
já eram um grupo organizado com mais de que era exibido semanalmente, com o for- A partir de 1996, a JEA entrou num ciclo
200 voluntários que se dividiam em acções mato de uma hora de duração, incluía deba- de actividades de formação de formado-
de sensibilização ambiental nas comunida- tes, curiosidades, notícias e denúncias dos res em metodologias de educação ambien-
des e nas escolas. Assim foram sendo deli- abusos cometidos ao meio ambiente (a sua tal. O que antes parecia não ter resultados
neados os princípios e as metas daquilo que rubrica mais polémica e popular). aparentes, tomou corpo quando o conhe-
é hoje a principal ONG ambiental no país. Outro momento marcante para a histó- cimento chegou às escolas, outras ONG
A Juventude Ecológica Angolana (JEA) ria da educação ambiental em Angola foi a parceiras, instituições governamentais,
foi constituída oficialmente em 1991 e cedo realização entre 1999 a 2004 do concurso igrejas, os meios de comunicação social
ganhou notoriedade devido à ousadia das interescolar denominado “Olimpíadas do e a sociedade civil em geral. “É um pro-
suas acções e à capacidade de engajamento Ambiente”, realizado nas províncias de cesso quase invisível, mas que surpreende
voluntário da juventude. Ao regressarem Lunda, Huíla e Benguela. O projecto envol- quando é feito por muitas mãos”, sintetiza.
da Cimeira da Terra, na Rio 92, o grupo veu, anualmente, mais de 2 mil jovens estu- A força e entusiasmo destes jovens pio-
tinha como meta a educação ambiental dos dantes do ensino médio de escolas públicas neiros fez com que a JEA conte actualmente
jovens como forma de sensibilizar o resto e privadas e teve como lema “Conhecer com mais de 1500 membros voluntários,
da população a partir de boas práticas. “A para Conservar”. Consistia no desenvol- desde estudantes a trabalhadores, e tem
estratégia tinha de ser atractiva junto do vimento de várias actividades teóricas e delegações em oito províncias do país: Ben-

26 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


com espírito
de missão:
Jovens estiveram na
Feira do Ambiente
a fazer pedagogia

a juventude ecológica angolana conta com


mais de 1500 membros voluntários — desde estudantes
a trabalhadores — e está presente em oito províncias
guela, Cabinda, Cunene, Huíla, Kwanza- Juventude, Plataforma das Organizações da Educação, governos provinciais, Con-
-Sul, Lunda, Malanje e Namibe. Tem ainda Juvenis Angolanas e membro fundador da selho Nacional da Juventude, Embaixada
representações, através de núcleos dina- Rede Maiombe (o fórum das organizações da Suécia (através da Asdi), Grupo África
mizadores, na Lunda-Norte, Cuando- ambientais em Angola), além de partici- da Suécia, Instituto Holandês para áfrica
-Cubango e Zaire (este em reactivação). par em vários acordos, protocolos e con- Austral (NIZA), além de inúmeras empre-
Mas a organização atingiu o seu ponto venções em todo o mundo. sas privadas atentas à responsabilidade
mais alto quando em 2002 teve o seu tra- À medida em que ampliava o seu raio social ambiental.
balho reconhecido mundialmente com de acção, após duas décadas de trabalho, a A mais recente actividade pública da JEA
a atribuição do Prémio Ambiental Glo- JEA também alcançou a diversificação da ocorreu durante a Feira do Ambiente, rea-
bal 500 do Programa das Nações Unidas sua área de trabalho que além da educação lizada em Maio deste ano, em Luanda. A
para o Meio Ambiente (PNUmA). Daí em ambiental, advocacia e lobby, actua tam- organização criou um stand com dez mem-
diante, alcançou voos mais altos interna- bém na investigação, pesquisa e divulgação bros que circularam durante os dias da feira
cionalmente. em questões transversais como o associa- pelo pavilhão da FIL para abordar exposi-
Hoje, a JEA é membro da União Inter- tivismo e participação, HIV/SIDA, direitos tores e visitantes sobre a temática ambien-
nacional para a Conservação da Natu- humanos e combate à pobreza. tal. Foi como que um exército de formigas,
reza (UICN/IUCN) e da Associação de O financiamento e o apoio material são laboriosas e determinadas, a pedir passa-
Educação Ambiental da África Austral garantidos por parceiros no Ministérios gem rumo a uma juventude angolana mais
(EEASA), CNJ — Conselho Nacional da da Juventude e Desporto, do Ambiente e saudável e ecológica. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 27


Angola cultura

E se
do lixo
se fizesse
arte?
O trabalho da artista angolana Daniela Ribeiro tem estado ligado aos
desperdícios tecnológicos e à sua reutilização. Depois da estreia, em 2009, com a
exposição de máscaras Tchokwe futuristas, fará em Janeiro uma reinterpretação
dos símbolos nacionais a partir de telemóveis usados. Mal esperamos para ver...
Jaime Fidalgo

28 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


FOTOS: Pedro Pina

tradição e modernidade: Máscaras tribais adornadas


com desperdícios tecnológicos foi a base da primeira exposição.
Agora, a artista foi desafiada a reinterpretar os símbolos nacionais

A
artista plástica A filha cresceu na capital, na “fase quente”, formação, chegou a ser vice-ministro das
Daniela Ribeiro, tal até aos 12 anos. Era uma eximia desportista Indústrias Pesadas. “Passei a minha infân-
como tantos angolanos, tem — aos 9 anos já era nadadora profissional do cia nas fábricas”, resume. Também recorda
dois passaportes: o de Portu- Petro. “Foi uma infância inesquecível. Pas- com nostalgia a escola de artes plásticas e
gal e o de Angola. Paradoxal- sei pelas modas todas. Fazíamos natação até de trabalhos manuais do Barracão. “Foi lá
mente não nasceu em nenhum deles, mas, que a piscina sofria um rombo e íamos todos que aprendi a mexer com o barro, com as
sim, em Moçambique (Nampula), para onde para o xadrez. Depois faltavam as peças que colas.” Todas estas influências seriam deci-
o pai, Luís Ribeiro, tinha sido enviado para vinham da União Soviética e íamos para o sivas na sua carreira como artista plástica.
uma missão temporária. Daniela ficou por ténis. Também experimentei a ginástica “Desde pequena que pegava em coisas que
lá até ter 1 ano de idade e nunca mais vol- rítmica. Faltava tudo em Luanda, por isso encontrava na rua para fazer esculturas.”
tou. As suas origens e, mais importante do tínhamos de ser inventivos e construir os Mas não foi menos importante a sua aber-
que tudo, o seu coração, sempre estiveram nossos próprios brinquedos a partir do que tura para o mundo. É que Daniela, tal como
aqui. Daniela faz parte de uma quinta gera- encontrávamos à nossa volta”, recorda. Outra sucedeu com tantos angolanos da sua gera-
ção de angolanos, espalhada pelas provín- memória que retém é o fascínio pelas maté- ção, foi estudar para o exterior. Como havia
cias de Luanda, Huambo, Uíge e Benguela. rias-primas. O pai, engenheiro mecânico de feito o Liceu Francês em Angola a escolha

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 29


Angola cultura

recaiu sobre um colégio interno em Lyon coragem para me despedir, resolvi pintar do Paço, em Lisboa (mais tarde, criou pai-
(França), onde viveu até aos 16 anos. “Não quadros. Comecei por aguarelas, acrílicos néis para o átrio de entrada do grupo Ren-
foram momentos fáceis. Eu era alvo de pia- e óleos. O meu processo era intuitivo. Fun- tipar ou da sede do Banco Mais). É também
das por vir de Angola e falar português. Mas cionava por tentativa e erro. Fechava-me em 2005 que cria o Artin Park, uma asso-
a cultura francesa até acabou por me mar- em casa e experimentava mexer em tudo ciação sem fins lucrativos que apoia artis-
car nalgumas coisas. Ao nível do pensa- até acertar.” A sua primeira exposição foi tas em início de carreira. Três anos depois,
mento filosófico ou dos grandes ideais dos um sucesso. “Em duas horas, vendi tudo. a convite da Italian Motors, muda-se para
direitos humanos, por exemplo.” Seguiu- As pessoas gostavam daquele experimen- o Spazio Dual, um espaço de 1000 metros
-se Portugal onde, em 1993, fez um curso talismo e dos padrões e traços africanos.” quadrados na Avenida da República. Leva
de Design, Imagem e Criação por Compu- Daniela, no entanto, também investiu na consigo 11 artistas de áreas distintas como as
tador e, em 1998, se licenciou em Relações sua formação. Em 2000, frequentou o curso artes plásticas, joalharia, fotografia, moda,
Internacionais. Estagiou no Centro de Estu- de Pintura da Sociedade Nacional de Belas graffiti, design, pintura, Web e vídeo. “É
dos Europeus e passou pelo Ministério da Artes e, em 2006, o curso de Escultura na uma espécie de incubadora que promove o
Economia e o Gabinete da Presidência da ARCO. No mesmo ano, especializou-se em intercâmbio com jovens talentos de outras
República portuguesa. As coisas até não lhe Moldes de Resina e Silicone na Escola Pas- nacionalidades.”
corriam mal, mas o trabalho administra- cal Rosier, em Paris. “No fundo, andava a O projecto foi vantajoso para todos. “Nós
tivo não era a sua “praia”. “Era um mundo fazer coisas que já tinha aprendido no Bar- ganhámos um espaço fantástico e os nos-
diferente do meu. Demasiado elitista. Eu racão”, diz divertida. sos artistas deram vida ao show-room de
vinha de Angola onde éramos todos cama- automóveis”, justifica. Hoje, a Artin Park
radas. Nada me apaixonava. Nada vinha do uma ascensão meteórica tem outro espaço no Beato, vocacionado
coração”, justifica. A sua carreira, embora tardia, teve uma para a escultura. A Praça Martins Moniz,
A opção de se tornar artista, sempre desa- ascensão meteórica. Desde 2002 que pas- o Casino de Lisboa e as Olaias (graças a um
conselhada pelos pais, só foi tomada aos 30 sou a expor em diversas galerias e espaços protocolo com a Câmara Municipal de Lis-
anos. Começou quase por acaso. “Houve nobres como o Convento do Beato, em Lisboa. boa que deseja revitalizar os bairros sociais)
uma altura em trabalhei na organização de Em 2005, participa na Feira Art de Madrid são locais em vista para galerias. Daniela
eventos. Mal dava por mim já estava a cons- e nesse ano é convidada para criar quatro Ribeiro também quer replicar o conceito,
truir e a decorar as salas. Quando arranjei obras para o mediático restaurante Terreiro em Luanda, no “comboio” do Miramar.

30 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Daniela Ribeiro:
Os painéis à base de
resina, inspirados nas
imagens do telescópio
Hubble, foram expostas
em Londres, durante
os Jogos Olímpicos

FOTOS: Ricardo quaresma vieira


Importa referir que durante todo este perí-
odo a artista nunca quebrou os laços com
A IDEIA DA REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS
a “terra”. Mas a primeira exposição indi-
vidual em Angola só surgiu em 2009, no
É MUITO AFRICANA. EXISTE UMA CULTURA
Edifício Escom, com o apoio da Fundação E UMA TRADIÇÃO DE SE APROVEITAR TUDO
Sindika Dokolo. Chamada “Unicidade do
Tempo” apresentou máscaras tribais afri-
canas (Tchokwe) adornadas com jóias fei- Earth, patente na prestigiada Art Gallery melha (um embondeiro feito com base em
tas a partir de peças de telemóveis, ecrãs, londrina, em plena Cork Street, durante os peças de telemóveis). Em Janeiro, fará uma
chips, teclados, auriculares e fios, numa Jogos Olímpicos deste ano. “Fiquei muito exposição para o BAI Arte que a desafiou
combinação única de tradição e moder- orgulhosa de ter os meus painéis expostos a reinterpretar símbolos nacionais como a
nidade. “Esta ideia da reutilização é muito na ala do Rodin, em frente à famosa escul- estátua do Pensador, a rosa-de-porcelana
africana. Existe uma tradição de se apro- tura O Beijo”, diz. As obras gigantescas ou a beleza da mulher angolana. A EXAME
veitar tudo”, refere. de Daniela Ribeiro (com 2 por 2 metros ainda não viu as obras, mas conhece a maté-
No ano seguinte, a Fundação Portuguesa de dimensão) foram inspiradas em ima- ria-prima: dois contentores de telemóveis
de Comunicações pediu-lhe um ensaio gens da Terra vistas do telescópio espacial usados cedidos pela Unitel. A escolha é pro-
artístico sobre o futuro das tecnologias Hubble e vendidas a investidores do Reino positada. “A tradição da comunicação oral
de informação. Daniela Ribeiro aceitou o Unido, Estados Unidos e Hong-Kong. Fei- sempre foi uma característica dos povos
desafio e criou um projecto composto por tas à base de resinas, transportam-nos para africanos”, justifica.
14 olhos biónicos, criados a partir de com- um mundo encantando feito das cores do Para o futuro, a artista deixa um desejo
ponentes electrónicos de 2 mil telemóveis. pôr-do-sol e o azul cristalino dos oceanos. e um sonho. O desejo é que as empresas
Daniela Ribeiro considera que o seu estilo “Os painéis foram inspirados nas minhas angolanas, impulsionadas pela nova lei do
se insere na corrente do “surrealismo cien- memórias de infância e nas tonalidades da mecenato cultural, reforcem a sua aposta na
tífico”. “É um movimento que está para a cultura visual africana”, confessa. cultura. O sonho é que se crie um museu de
pintura como a ficção científica está para o Os próximos desafios da artista terão nova- arte contemporânea. “É algo que existe em
cinema”, esclarece. Foi também nessa linha mente Luanda como palco. Em Novembro, todas as capitais progressistas do mundo.
que lançou a exposição Sun, Moon and terá uma obra no leilão anual da Cruz Ver- Porque não em Luanda?, questiona. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 31


opinião
Eufrazina Paiva Ambientalista e parlamentar, Fundadora da Associação Embondeiro

Angola,

istockphoto

32 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


um país rico em
capital verde
A
ngola, como a maior parte dos esta- reduzindo significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. A sua ca-
dos africanos, é um país muito rico racterística mais marcante em relação ao modelo vigente é a avaliação directa do
em recursos naturais, cuja maior parte desta capital natural e serviços ecológicos quantificados e qualificados em valor mone-
exploração está muito aquém das suas possibilidades. Florestas, tário (capital verde) e um regime de contabilidade de custo total em que os custos
mares, bacias hidrográficas, mangais e outros biomas estão hoje externos para a sociedade através de ecossistemas são rastreados e contabilizados
a ser mais valorizados no mundo inteiro, tendo como base os serviços ecossistémi- como passivos da entidade que faz o mal ou negligencia um activo ambiental.
cos que prestam à economia, na geração de bens e serviços, mas sobretudo à manu- O capital verde oferece uma gama de serviços essenciais para a sociedade e que
tenção da vida saudável no planeta. outrora eram considerados commodities sem qualquer valor acrescentado. Ele tam-
Com a contínua degradação da biosfera, começamos a ensaiar uma nova forma bém pode ser quantificado com base naquilo que o homem investiria para substituir
de exploração sustentável desses recursos, tendo em vista estender a sua manu- o serviço que a natureza lhe prestou “gratuitamente”.
tenção, garantindo o melhor aproveitamento, em especial daqueles que não são Se tomarmos como exemplo as zonas pantanosas saudáveis, veremos que elas
renováveis. Estão aí, por exemplo, o REDD (Reducing Emissions from Deforestation passaram a ser valorizadas por serem fonte de água natural purificada, bem como a
and Degradation), que valoriza os ecossistemas florestais e o Cradle to Cradle (ber- protecção contra as enchentes e captação de dióxido de carbono.
ço ao berço) que repensa o ciclo de produção da indústria, preservando recursos Em Angola, as florestas ocupam cerca de 35% do território nacional e a sua im-
logo à partida e gerando menos resíduos. Numa outra perspectiva, foi criado em portância é fundamental à manutenção de um ambiente saudável e não poluído,
2010, durante a COP 16, no México, o chamado “Fundo Verde”, onde 194 nações pois as suas raízes ajudam a evitar a erosão do solos e manter preservados os len-
acordaram transferir um montante de 100 biliões de dólares anuais aos países em çóis freáticos e regular o clima. Além disso, elas assumem importância económica
desenvolvimento. Os valores que estarão disponíveis em 2020 pretendem mitigar com impactos na geração de rendimento das populações quando incluímos a extra-
efeitos das mudanças climáticas em países com maior vulnerabilidade. ção sustentável da madeira, a silvicultura e a medicina tradicional.
Em ambos os casos, seja em estratégias para preservar ou em mitigar efeitos Os recifes de corais estão estimados entre 172 mil milhões e 375 mil milhões de
humanos no ambiente, as nações declararam uma intenção precisa de avançar no dólares por ano. Estes cumprem serviços como a pesca, manutenção da biodiversi-
sentido de valorização da biodiversidade numa forma mais oficial e universal de fi- dade marinha e o turismo. O mesmo vale para os mangais e os rios que acrescentam
nanças. O que as economias mais desenvolvidas apoiadas pelo Banco Mundial e o valor económico e social às comunidades ribeirinhas.
FMI estão a ensaiar é a inclusão do capital verde nos orçamentos públicos, tarefa a Angola precisa atribuir o verdadeiro valor aos seus recursos naturais. Somos
ser exercida pelos mecanismos institucionais. Insere-se aí o conceito da “economia um país de riquezas não aproveitadas. O sector financeiro precisa estabelecer um
verde” como um novo modelo de desenvolvimento sustentável que traz na base compromisso ambicioso e começar a incluir o capital verde no Orçamento Geral
o conhecimento da economia ecológica. Segundo o Programa das Nações Unidas do Estado. Isso permitirá o seu uso mais eficiente e sustentável e a garantia de que
para o Ambiente (UNEP), ela resulta em melhoria do bem-estar e equidade social, futuras gerações possam gozar de bem-estar e inclusão social. h

ANGOLA PRECISA DE ATRIBUIR O VERDADEIRO VALOR AOS SEUS


RECURSOS NATURAIS. SOMOS UM PAÍS DE RIQUEZA NÃO APROVEITADA
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 33
entrevista jeffrey sachs

menos
Há quem culpe o crescimento
económico pelos problemas
ambientais. Isso faz sentido?
A ideia de que precisamos de travar a eco-

conversa
nomia para não agredir o ambiente está
errada. A redução da pobreza depende do
progresso económico. Mas é preciso des-
vincular o crescimento da destruição da
natureza. Há quem diga que combinar as

e mais
duas coisas não é possível, pois o uso de
recursos naturais cresceu nas últimas déca-
das e não podemos prescindir deles. Creio

~
que não devemos olhar para trás, mas, sim,
para a frente. É bom lembrar que, para os

acçao
países pobres, o crescimento é uma questão
de vida ou morte. Eles precisam de apoio
para adoptar tecnologias novas, mais caras
e que conservem os ecossistemas. Além da
tributação sobre as emissões de carbono,
defendo que os países de altos rendimen-
tos paguem pelas suas emissões, criando
Para o famoso economista americano Jeffrey Sachs, um fundo global que financie os países
pobres. Investimentos desse tipo podem
encontros como a Rio+20 só beneficiam advogados ser parte da saída para a crise.
e diplomatas. Ele diz que a fase de discutir já passou. É viável propor essa medida num
Agora é tempo de se colocar os projectos em prática momento de crise económica?
É verdade que os políticos não gostam de
mariana segala falar de novos impostos. Os americanos
são alérgicos a essa palavra como se per-

S
cebeu na recente campanha presidencial.
obram advogados e Conselheiro da Organização das Nações Sei que as minhas sugestões estão fora
faltam engenheiros. Unidas (ONU), Sachs está à frente dos da agenda política, mas a verdade é que
Esse é, em resumo, o problema Objectivos do Milénio, um projecto criado a estratégia actual não resulta. Quando a
de conferências como a Rio+20 em 2000 para reduzir a pobreza no mundo. crise se abateu sobre os Estados Unidos,
e de outros eventos que se pro- Ele orgulha-se da simplicidade da inicia- em 2008, o consumo caiu. Para o reto-
põem a discutir soluções para as questões tiva: há oito metas, que podem ser des- mar, alguns defenderam cortes de impos-
ambientais, na visão do americano Jeffrey critas numa folha de papel. Nem tudo o tos, outros sugeriram benefícios especiais.
Sachs, um dos mais prestigiados econo- que está escrito foi colocado em prática, Sempre achei que nenhuma delas funcio-
mistas actuais, professor da Universidade mas houve alguns avanços importantes. naria porque os consumidores estão endi-
Columbia, em Nova Iorque. Para ele, a preo- Segundo os dados da ONU, o número de vidados. Defendi que apostássemos numa
cupação central desse tipo de encontros pobres já caiu para metade. Obviamente, retoma baseada em investimentos em tec-
deveria ser como tornar as energias alter- que a aceleração do crescimento econó- nologias limpas, com um horizonte de dez
nativas (nomeadamente a eólica e solar) mico nos países emergentes foi essencial. anos. Infelizmente, o Presidente Barack
comercialmente viáveis — e não produ- “A humanidade gosta de progresso, claro. Obama optou por estímulos de curto prazo.
zir documentos de centenas de páginas Mas é preciso crescer, sem destruir a natu- Estamos com a economia estagnada, sem
com ideias sobre como salvar o planeta. reza”, disse ele em entrevista à EXAME. consumo e sem um plano de investimento.

34 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


os países ricos devem pagar
pelas emissões de carbono,
criando um fundo global para
Orjan F. Ellingvag/corbis/latinstock

financiar os mais pobres

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 35


entrevista jeffrey sachs
Markel Redondo/panos

A boa notícia é que países como os BRIC E não se muda da noite para o dia a forma tente como conciliar desenvolvimento eco-
(Brasil, Rússia, Índia e China) hoje são como abastecemos os carros ou aquece- nómico com preocupações ambientais. Só
muito mais poderosos economicamente. mos as casas. Mas é preciso começar por que o documento, a Agenda 21, tinha cente-
Há mais nações para liderar esse esforço. algum lado. Entrámos numa fase perigoso nas de páginas de intenções. Muito extenso,
das alterações climáticas. Os estragos vão muito complicado. Na prática, não ajudou
Qual deveria ser a prioridade? piorar mais rapidamente se não agirmos. a mudar nada. Um sistema com base em
É necessário desenvolver tecnologias que acordos leva os problemas para o nível da
nos permitam crescer, usando menos com- E já vê alguns sinais de mudança? negociação. Desde então houve encontros
bustíveis fósseis, que representam 80% do Sim, mas caminhamos de forma lenta. em Cancum, Copenhaga ou Durban, onde
consumo global de energia. Há duas alter- Eventos como a Rio+20 têm demasiada diplomatas que não conhecíamos discu-
nativas: ou usamos mais as energias lim- conversa e pouca acção. Há 20 anos, na tiram durante dias. E as soluções ficaram
pas, como a eólica e a solar, ou capturamos Eco92, assinámos um bom acordo para sempre para o ano seguinte. Esse sistema
o carbono emitido quando consumimos enfrentar as mudanças climáticas. Con- está a beneficiar advogados e diplomatas.
combustíveis fósseis em vez libertá-lo no sagrámos o conceito de desenvolvimento Mas nós precisamos é de engenheiros capa-
ambiente. Qual é a correcta? Não sabemos. sustentável. Discutimos de forma consis- zes de solucionar problemas quotidianos.

36 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


geração de energia
eólica na província
chinesa de gansu:
Há iniciativas para a produção
de combustíveis alternativos
em diversos países; o desafio
é tornar esses modelos
economicamente viáveis

nas primeiras eleições, obama disse que a questão climática


era uma prioridade. Desta vez, nem mencionou o assunto
Perdemos 20 anos? climática, embora tenha chegado à Casa por motoristas. Na maioria dos países, não
Sim, e não podemos perder mais 20. Por- Branca a dizer que isso seria prioridade. há impostos que repassem aos consumi-
que não se criam objectivos do desen- dores o custo, em poluição e mudança cli-
volvimento sustentável, nos moldes dos Como tornar as energias alternativas mática, do uso de combustíveis fósseis. Se
objectivos do milénio, lançados em 2000. economicamente vantajosas? fossem cobrados 4 dólares por tonelada de
As pessoas percebem que algo está errado. Faltam investimentos. Já existem inicia- carbono emitida pelos países ricos, e uma
Há mais secas em certos lugares, enquanto tivas interessantes. Há veículos eléctricos parte desse valor aos países em desenvol-
noutros as inundações aumentam. Mas os com piloto automático que, com base em vimento, seria possível arrecadar cerca de
governos já não falam disso. Nesta campa- coordenadas de GPS, são mais eficientes 100 mil milhões de dólares por ano. Isso
nha Obama nem sequer abordou a questão em termos energéticos do que os guiados certamente favoreceria a mudança h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 37


Global ÁSia

judith shapiro,
da american
university:
“Se a China não parar
de poluir, o resto
do planeta sofrerá”

Uma factura
made in China
A maior autoridade sobre o meio ambiente chinês, a americana Judith Shapiro,
diz que o país está a exportar os seus problemas, e o mundo pagará por isso
Luiza Dalmazo

E
m apenas duas décadas, por produtos made in China, os preços gresso chinês foi o meio ambiente. Este é
a China saiu de uma situação caíram — o que, nalguns casos, ajudou a o tema do seu último livro China’s Envi-
de quase irrelevância no cená- controlar a inflação —, mas tudo isso teve ronmental Challenges (Os desafios ambien-
rio económico para o posto de um custo. Para a antropóloga americana tais da China”, numa tradução livre). “A
maior potência industrial do Judith Shapiro, directora do Programa sua ânsia por matérias-primas e as suas
mundo, responsável por quase 20% da pro- de Recursos Naturais e Desenvolvimento fábricas poluentes estão a deixar marcas
dução global. As lojas e os supermercados Sustentável, da American University, em que extrapolam as fronteiras do país”, diz
de todos os continentes foram invadidos Washington, a principal vítima do pro- Judith, na entrevista exclusiva à EXAME.

38 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


para outros lugares. As emissões de gases
da China e das suas empresas no exterior
não são um problema exclusivo dos chi-
neses, mas de todo o planeta.

Os países desenvolvidos também


fizeram o mesmo no passado.
Poluir não é um direito da
China para também crescer?
Parte do governo defende que o país pode
seguir o mesmo modelo de industrialização
que os países do Ocidente adoptaram no
passado. Há várias razões para isso. Ape-
sar dos progressos das últimas décadas, a
China ainda tem milhões de pobres. Por
outro lado, manter o crescimento econó-
mico e o sonho da ascensão social é uma
garantia para se evitar os protestos sociais.
Dado o histórico dos países ricos na área
datong, ambiental e a situação política chinesa, mui-
na china: tos membros do Partido Comunista sus-

Mark Henley/panos
A poluição ainda tentam que o país poderia passar por uma
Gilberto tadday

é encarada como etapa de poluição para depois se “limpar”.


um mal necessário”
Esse caminho é possível?
Infelizmente, não. Essa lógica já não fun-
ciona hoje. Existem substâncias novas e
Qual é a real dimensão dos danos ainda há limitações. Como há corrupção, as muito mais tóxicas do que no passado. É
ambientais na China? leis não são seguidas rigidamente. A socie- bem possível que não se consiga limpar
Vinte das 30 cidades mais poluídas do dade poderia ter um papel importante se amanhã o que hoje se suja. Quando se des-
mundo estão na China, principalmente tivesse coragem de denunciar mais casos trói um ecossistema, se mata um rio ou se
devido ao uso intensivo de carvão. Cerca irregulares, como o que aconteceu com o deposita lixo nuclear numa região, não dá
de 75% dos rios e lagos do país estão tão leite em pó que contaminou milhares de para a recuperar depois. Hoje, o ar já está
sujos que a água é salobra, inclusivamente crianças há alguns anos. tão poluído que milhões de chineses não
para a utilização agrícola. Cerca de 560 se sentem saudáveis. Todos se perguntam
milhões de moradores das áreas urbanas No seu novo livro argumenta que a se existem formas de desenvolvimento que
chinesas respiram ar com uma qualidade China está a exportar a sua poluição... combinem crescimento e sustentabilidade.
inaceitável. Estima-se que 750 mil pessoas A maioria das questões ecológicas na China O mundo está a tentar encontrar soluções.
morrem anualmente devido a questões tem impactos que vão muito além das suas E a China não pode ficar de fora.
relacionadas com a poluição de alimen- fronteiras terrestres. Há barragens que
tos. A população chinesa está a ficar cada estão a ser construídas na China e que A China é a líder mundial em produção
mais consciente deste problema. afectam o abastecimento de água de paí- de painéis solares e turbinas eólicas.
ses vizinhos como o Laos, Tailândia e Vie- Poderemos esperar uma transição
Num regime autoritário como o chinês tname. Levados pelo vento, os poluentes para um modelo menos poluente?
será que essa insatisfação popular produzidos na China chegam ao Paquis- O impacto ambiental desse esforço é menor
se pode traduzir em mudanças tão, Japão, Rússia e até aos Estados Uni- do que parece. A China ainda depende
concretas? dos. A China, por exemplo, é a maior fonte muito da queima de carvão, que gera graves
Alguns sectores do governo já perceberam de poluição de mercúrio no Oeste ameri- problemas ecológicos. A expectativa para
a importância do desenvolvimento susten- cano. Também é preciso não esquecer que, os próximos anos é que o país continue a
tável. A opinião pública mais esclarecida para alimentar as suas fábricas, os chine- emitir grandes quantidades de dióxido de
está a favor dessa mudança. As metas do ses importam matérias-primas de várias carbono. O problema é que, para cada notí-
país para os próximos cinco anos demons- partes do mundo. Isso levou os chineses a cia boa sobre energias limpas na China, há
tram essa preocupação. Mas é certo que transferirem as suas fábricas mais poluentes muitas outras desanimadoras. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 39


Global Demografia

RUMo aos

10 MIL
Lidar com o crescimento da população do planeta — e com as

40 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


milhões
inevitáveis tensões geopolíticas — será o grande desafio deste século
sérgio teixeira jr., em Nova Iorque
Randy Olson/National Geographic Society/Corbis

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 41


Global Demografia

Plantação de algodão
no mato-grosso (brasil):
Menos de metade da produção agrícola
mundial é usada como alimento humano

delfim martins

O
primeiro bilião sur- “O que teremos de fazer para que todos que persiste, mas deve ser tomada como
giu no início do os habitantes do planeta possam levar uma um aviso, não como algo inevitável.
século xix. O segundo vida produtiva e próspera?”, interroga-se Há inúmeros dados para comprovar esta
levou menos tempo: cerca Jeffrey Sachs, professor de Economia da tese. Metade do planeta sobrevive com 2
de 120 anos. Nos últimos 50 Universidade Columbia, em Nova Ior- dólares ou menos por dia. Mais de 800
anos, o crescimento da população da Terra que. São dois os pontos principais, aponta milhões de pessoas vivem em musseques.
acelerou de vez. Os 3 biliões de 1960 tor- Sachs. O primeiro, é uma mudança tecno- E há um número similar de não alfabeti-
naram-se 4 biliões em 1974, 5 biliões em lógica que reduza o impacto ambiental de zados. Quase 1000 milhões de pessoas não
1987 e 6 biliões em 1998. Em 2011, a marca todas as actividades humanas. Isso signi- se alimentam devidamente ou sofrem de
chegou aos 7 biliões. Devido ao enrique- fica tornar realidade uma economia menos desnutrição. Os estudos dizem que as calo-
cimento das populações e à urbanização, dependente do carbono. Nas palavras do rias dos alimentos produzidos no planeta
o ritmo de crescimento está a diminuir. próprio Sachs, “isso vai exigir uma coo- seriam suficientes para alimentar cerca de
Ainda assim, o planeta deve chegar aos 9 peração global sem precedentes”. Mas o 9 biliões a 11 biliões de pessoas. Mas menos
biliões em 2050 e passar os 10 biliões até segundo ponto, é mais controverso: esta- de metade da produção agrícola é dirigida
ao final do século. Um cenário malthu- bilizar o crescimento populacional. “A à alimentação humana. Uma parte dirige-
siano (alusão ao pensador inglês Robert redução das taxas de natalidade deveria ser -se aos animais domésticos e a maioria tem
Malthus no século xviii) de fome genera- incentivada nos países pobres. Uma rápida as indústrias como destinatários.
lizada e esgotamento dos recursos naturais e voluntária redução na natalidade como Perante números assim, é difícil ser opti-
não parece razoável, embora haja quem sucedeu na China, por exemplo, seria dese- mista. Mas eles ainda existem. “O mundo
leve essa ameaça a sério. O desafio de ali- jável”, escreveu Sachs num artigo recente. é capaz de providenciar comida, abrigo e
mentar 10 biliões de pessoas voltou a estar O cenário descrito por Thomas Malthus há prosperidade a todos os seus habitantes”,
no centro dos debates da sustentabilidade. dois séculos, afirma Sachs, é uma ameaça diz Joel Cohen, do laboratório de popula-

42 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Espiral de crescimento
De 1000 a 10 mil milhões em três séculos

10
8,9 2100
2050 2,1 2,3
8,6
1930 1940
1,9
1920 2,5
1950
2040 1,8
1910
3
1,7 1 1960
8,1 1900
1,3
1850
1800

3,7
2030 1970

7,5 4,4
1980
2020 5,3
Táxis congestionam
7 6,1 1990
as ruas de Nova iorque: 2011 2000
©lAtinStoCk

Os países ricos não querem prescindir de


hábitos como o uso do automovél
População mundial em mil milhões. Fonte: UN Population Division.

Os Programas de planeamento familiar para reduzir a


natalidade custariam 6,7 milhões de dólares por ano.
É menos do que os americanos gastam no Halloween
ções da Universidade Rockefeller e da Uni- não querem impor mudanças impopula- recursos essenciais, pode intensificar a pola-
versidade Co­lum­bia. Cohen argumenta res aos cidadãos, seja através de impostos rização social entre os que têm e os que não
que o crescimento populacional médio “verdes” seja em medidas que reduzam o têm. Os custos, aponta Cohen, não são tão
é metade do que se registava nos anos nível de conforto dos americanos e euro- altos quanto possam parecer. Programas
60. Desde 1950 que a média de filhos por peus. Por outro lado, chineses, indianos de planeamento familiar para pessoas
mulher reduziu para metade — de cinco e demais emergentes não aceitam travar necessitadas custariam cerca de 6,7 mil
para 2,5, desde 1950. E desde o início da o ritmo do desenvolvimento económico milhões de dólares por ano — menos do
Revolução Industrial, em 1820, que o PIB para pagar os erros que outros cometeram. que os americanos gastam no feriado do
per capita aumentou 11 vezes. Halloween. Fornecer educação primária e
Equacionar esses dois lados da questão é POLARIZAÇÃO social secundária universal custaria entre 35 mil
o grande desafio. O fracasso da reunião de Não é apenas no consumo de energia que e 70 mil milhões de dólares anuais. Não é
Copenhaga, em 2009, provou que conci- as tensões geopolíticas tendem a acentuar- pouco. Para mais quando os países ricos se
liar os interesses de quase 200 países é uma -se. O crescimento das populações dos paí- afundam na austeridade. Mas é um preço
tarefa impossível. Os países ricos, maio- ses pobres ou em desenvolvimento, muitas pequeno a pagar perante um desafio com
res responsáveis pelo consumo de energia, delas com problemas crónicos de acesso a muito mais zeros — 10 biliões. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 43


Global Combustíveis

A era
dourada
do gAs
´
natural A exploração de reservas subterrâneas de
gás nos Estados Unidos continua. E o coro de
protestos dos ambientalistas também...
sérgio teixeira jr., em Nova Iorque

N
o relatório anual não tenha reduzido as previsões de cresci- No passado recente, o gás natural era
que traça os cená- mento dessa fonte de energia, muitos países considerado o parente pobre dos combus-
rios energéticos já decidiram não investir mais nessa opção. tíveis. Mas a procura crescente de energia
globais da Agência Inter- O motivo foi o acidente ocorrido na central por parte dos países emergentes, as incer-
nacional de Energia (AIE) de Fukushima Daiichi, no Japão. Mas se o tezas políticas no mundo árabe e a inova-
foram apontadas algumas dúvidas impor- futuro do nuclear é incerto o do gás natural ção tecnológica têm causado um interesse
tantes. A mais contundente refere-se ao está garantido. A AIE afirma que o mundo jamais visto pelas reservas espalhadas pelo
futuro das centrais nucleares. Embora a AIE já entrou na “era dourada do gás”. planeta (veja quadro “Gás para mais de meio

44 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Gás para mais de meio século
10 maiores reservas do mundo

1.º Rússia 44,6 (21,4%)

2.º Irão 33, (15,95)

3.º Catar 25 (12%)

4.º Turquemenistão 24,3 (11,7%)

5.º Estados Unidos 8,5 (4,1%)

6.º Arábia Saudita 8,2 (3,9%)

7.º Emirados Árabes 6,1 (2,9%)

8.º Venezuela 5,5 (2,7%)

9.º Nigéria 5,1 (2,5%)

10.º Argélia 4,5 (2,2%)


Valores em biliões de metros cúbicos. Quotas de mercado entre parêntisis.
Dados relativos a 2011. Fonte: BP (Statistical Review of World Energy 2012).

Daniel acker/Getty imaGes


Extração de gás
natural no estado
da Pensilvânia:
uma riqueza gigantesca no
subsolo dos Estados Unidos

século”). Mais do que isso: a combinação da estão no subsolo dos Estados Unidos, e são Hoje, as reservas de gás já são conside-
alta dos preços com os novos métodos de esses poços que geraram uma das maiores radas um elemento essencial na política
extracção gerou uma “corrida ao gás” em controvérsias ambientais dos últimos anos. energética dos Estados Unidos. Estima-se
áreas que antes eram consideradas pouco “O potencial dessas reservas não convencio- que, até 2020, metade do gás natural usado
atraentes do ponto de vista económico. A nais é desconcertante”, diz Andrew Leach, no país venha dessas fontes subterrâneas.
AIE estima que os investimentos na explo- da Universidade de Alberta, no Canadá. “O O problema é que a exploração está sob a
ração de gás natural chegarão aos 20 biliões volume pode ser 10 a 12 vezes maior do que mira dos ambientalistas. O método usado
de dólares até 2035. As maiores reservas todo o petróleo consumido na história.” é conhecido como “fractura hidráulica”

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 45


Global Combustíveis

documentário Gasland,
nomeado para os Óscares:
Alerta para o perigo de beber água
em áreas de exploração de gás

Alfredo CAliz/pAnos
Com a economia a precisar de gás, os Estados Unidos têm
tido dificuldades em encontrar um equilíbrio entre os
interesses das grandes empresas e os dos ambientalistas
(fracking, em inglês, um nome que dá azo A contestação à extração do gás também Por todas estas razões, o braço-de-ferro
a trocadilhos menos próprios). O processo se faz sentir nos Reino Unido, onde a explo- com os ambientalistas não dá sinais de abran-
consiste em fazer perfurações horizontais ração ainda está no início. Uma das pionei- damento. Nos Estados Unidos, o governo
e injecções de água e químicos no subsolo ras, a Cuadrilla, admitiu ter sido responsável parece estar do lado da indústria. Afinal de
a alta pressão, de modo a libertar os gases. por dois pequenos tremores de terra que contas, não se pode ignorar uma fonte de
O problema é que as substâncias usadas ocorreram este ano devido à injecção de energia barata e produzida em casa. Porém,
para expelir os gases podem contaminar os água no subsolo. Neste caso, existem solu- o Presidente Obama, decerto recordado
lençóis freáticos. E esse risco não é expli- ções alternativas. Uma delas, já testada no do que sucedeu no Golfo do México com
cado aos proprietários dos terrenos (em Canadá e nos Estados Unidos com sucesso, o petróleo, nomeou uma comissão parla-
regra pequenos produtores rurais) que os consiste em fazer injecções com gel de pro- mentar para estudar o impacto da explo-
alugam às grandes empresas. O documen- pano. Este tem o mesmo efeito da água — aju- ração no subsolo que deixou vários alertas.
tário Gasland, nomeado para os Óscares dar a expelir o gás das formações rochosas “O impacto ambiental tem de ser reduzido”,
de 2010, mostra cenas onde os morado- profundas —, mas apresenta uma diferença disse o presidente da comissão, John Deu-
res dessas fazendas acendem um isqueiro fundamental: o calor e a pressão fazem com tch, professor do MIT. O problema é que a
junto à torneira, e a água, literalmente, que o gel evapore e volte à superfície sob a economia precisa de “gás”. Daí que o país
transforma-se em fogo. Trata-se de um forma de gás. Nessa altura o propano pode não possa enjeitar a possibilidade de entrar
filme de culto para os críticos do fracking. ser recapturado e reaproveitado. na “era dourada do gás natural”. h

46 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


GLOBAL ideias

Rumo à
Economia
Verde
Continuar a crescer a índices satisfatórios, proporcionar a melhoria da
qualidade de vida às populações, com base numa produção de baixo carbono
e no uso sustentável e eficiente dos recursos naturais. Este é a receita da
economia verde que esteve no centro dos debates da Rio+20
Cássia Ayres

E
nquanto os países gir o desenvolvimento dos demais países. Mas para os peritos do PNUMA, Pro-
desenvolvidos per- Este foi o cenário que justificou o impasse grama das Nações Unidas para o Meio
cebem na designada “econo- das negociações durante a cimeira RIO+20, Ambiente, com sede em Nairóbi (Quénia),
mia verde” uma oportunidade realizada em Junho (veja EXAME n.º 28), é possível conciliar crescimento económico
de dar a volta à crise financeira que pretendiam definir metas concretas, res- com sustentabilidade. A conclusão está no
que se instalou num planeta de recursos em ponsabilidades e cumprimento de prazos. recente relatório “Rumo a uma economia
extinção, os emergentes, vêm o tema com Mais uma vez, frustrou-se uma excelente verde: Caminhos para o desenvolvimento
desconfiança, supondo ser mais um instru- oportunidade para se passar do discurso à sustentável e erradicação da pobreza —
mento de manobra dos ricos para restrin- acção durante os trabalhos da conferência. uma síntese para os tomadores de decisão”.

48 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Quanto ao financiamento da economia
Tim Jackson: verde, os especialistas dizem que esses valo-
Autor de palestras res podem advir do mercado de carbono,
muito populares de incentivos fiscais e das licenças governa-
na TED sobre mentais concedidas ao sector privado para
crescimento promover os investimentos em inovações
sustentável verdes e em formação. Como parte do tra-
tamento, eles prescrevem que os governos
melhorem os regulamentos ambientais e
eliminem os subsídios à produção conven-
cional nas energias, pesca e agricultura, que
hoje representam 1% a 2% do PIB global.

Remédio amargo, mas eficaz


Os especialistas confirmam que a resposta
às medidas da economia verde gerariam
mais empregos e mais benefícios sociais e
reduziriam a pobreza. Segundo eles, uma
melhor gestão dos recursos naturais traz
benefícios para os mais pobres, sob a forma
de actividades como a agricultura familiar,
silvicultura, artesanato, ecoturismo, medi-
cina tradicional e segurança contra desas-
tres naturais. A economia verde propõe,
“a partir de um em suma, um novo paradigma económi-
LUIZ ROBERT O LIMA/FUTURA PRESS

cos que visa o bem-estar das populações.


certo ponto, mais “A crise económica levou o mundo à beira
crescimento da de um desastre e abalou os alicerces do
modelo económico dominante. À medida
economia não gera que a economia se expande, o impacto nos
recursos naturais é cada vez maior. Hoje, a
mais bem-estar” obsessão com crescimento tornou-se algo
insustentável para o planeta”, diz o espe-
cialista britânico em desenvolvimento
O documento afirma que um investi- segurança alimentar, água potável, habi- sustentável, Tim Jackson. O autor do acla-
mento de 2% do PIB global (cerca de 1,3 tação e bens de consumo. Mas a verdade mado livro Prosperidade Sem Crescimento,
biliões de dólares) até ao ano 2050, em dez é que hoje, num mundo de 7 mil milhões, acrescenta que “a partir de certo ponto o
sectores-chave — agricultura, construção mais de um quarto sobrevive com menos crescimento económico já não gera maior
civil, energia, transporte, pesca, silvicul- de 2 dólares por dia. bem-estar para as pessoas. Actualmente, o
tura, indústria, turismo, gestão de resíduos Mas o remédio verde é também amargo conceito de prosperidade é algo que trans-
e água — poderia dar início a uma tran- para os tomadores de decisão. As medidas cende as questões meramente materiais”.
sição para a economia verde. Na prática, propostas pelo documento sugerem que A boa notícia é que a adopção da eco-
essa mudança de paradigma consiste em empresas e governos incorporarem os cus- nomia verde já está em curso, não só nos
mudar a forma como hoje se produz de tos das externalidades (carbono, água, por países ricos, mas também nos emergentes,
modo a optimizar os resultados e em usar exemplo); dupliquem a produção agrícola onde os investimentos em energia limpa
a inovação tecnológica ao serviço de uma sem aumentar as áreas cultiváveis nem o têm subido significativamente. Efeitos cola-
economia com menos resíduos. consumo da água; acabem com o desflo- terais? Sim, eles também existem nesta tran-
O caminho traçado pelo documento restação potenciando o rendimento das sição. Alguns deles, são desconhecidos num
toma como ponto de partida a estimativa florestas plantadas; reduzam para metade modelo que sempre dependeu do petróleo e
da ONU para 2045 de um mundo com 9 mil as emissões de carbono no planeta a par- das investidas contra o ambiente. Longe de
milhões de pessoas (veja texto nesta edição tir da utilização de recursos renováveis e ser somente um novo bálsamo, a economia
da EXAME) e pretende que esta população permitam o acesso a modelos energéticos verde é complexa e propõe a recuperação
possa aceder à qualidade de vida, saúde, com baixa emissão de carbono. plena de um sistema em fase terminal. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 49


inovação CASO

Quando nada
se perde e tudo
se transforma...
Imagine um sistema capaz de digerir resíduos biológicos que advêm dos
dejectos de seres humanos e de animais. E que transforma esse material tóxico
e poluente em nutrientes capazes de serem reaproveitados pela natureza
infinitamente. Bem-vindo ao mundo dos biossistemas
Cássia Ayres, em Petrópolis (Brasil)

50 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


geralda arruda e jorge fernando:
O arquitecto desenhou o sistema que providencia
energia gratuita a 1000 famílias de Vila Ipanema

P
rovavelmente nunca
ouviu falar em bios-
o primeiro biossistema foi construído
sistema. Trata-se de um bio-
digestor capaz de transformar
no rio de janeiro e tornou-se uma
os dejectos de seres humanos e referência em tecnologia sustentável
animais em nutrientes. É uma solução sim-
ples e barata, mas com efeitos comprovados
na produção de biogás, biomassa e biofer- Naquela comunidade carioca, a implan- trabalho dos professores Michael Braun-
tilizantes, cuja utilização tem crescido em tação do biossistema já “alimenta” mais de gart (da HUI) e José Lutzemberger, (Funda-
comunidades carenciadas em todo o mundo. 1000 habitantes. A única creche da loca- ção Gaia) e os conceitos de engenharia do
A EXAME visitou o funcionamento de lidade já usufrui de gás metano para a professor Georg Chan (Fundação Zeri). E
um biossistema no bairro de Vila Ipanema, preparação da merenda escolar e alguns o primeiro biossistema foi construído em
em Petrópolis, região serrana do estado do moradores começaram a receber, gratui- Silva Jardim, no Rio de Janeiro, conside-
Rio de Janeiro. A experiência de direccio- tamente, o gás canalizado. Este é o caso rado uma referência em tecnologia susten-
nar resíduos do sistema de saneamento de Geralda Alves de Arruda que, segundo tável durante a Eco92.
daquela comunidade para ser aprovei- confidenciou à EXAME, há seis meses não Outra experiência bem-sucedida ocor-
tada biologicamente é pioneira no Brasil. compra gás. Jorge Fernando revela que o reu no Haiti, depois do terramoto em 2010,
“O sistema é totalmente limpo e não uti- próximo passo da empresa é levar o sistema através da ONG Viva Rio que executou os
liza mais nada além dos detritos que vêm a outras localidades carenciadas do país. projectos e preparou a população para a
das residências, a partir da rede de cana- O modelo original nasceu na Alema- construção de biossistemas. “Como resul-
lização”, esclarece o arquitecto Jorge Fer- nha, em 1993, fruto da colaboração com tado, não só reduzimos a proliferação de
nando, da empresa Arquitectura Positiva. o Hamburger Umweltinstitut (HUI) e do doenças, como produzimos gás metano para

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 51


Inovação CASO

COMO FUNCIONA O BIOSSISTEMA


Conheça as etapas do tratamento natural de esgotos

O esgoto
produzido Filtro Zona
nas casas é anaeróbico de raízes Tanque
canalizado até Biodigestor com Tanque
O material orgânico
ao biodigestor. macrófitas de peixes
Bactérias que deixa o
Lá dentro, o
alimentam-se da biodigestor está A água sai limpa do
material sólido
matéria orgânica, cheio de nutrientes biodigestor e também
desprende-se da
produzindo o biogás, e serve para vem cheia de nutrientes,
água e decanta
mistura de metano reuperar solos pode até ser usada num
e gás carbónico tanque de peixes

a manutenção das cozinhas nos aldeamen-


tos”, revela Jorge Fernando. Em três anos,
à semelhança de um estômago humano
a ONG executou 20 projectos no Haiti e
criou condições para que a população seja
o biossistema industrial tem como base
auto-suficiente na implementação. Hoje, o ciclo de decomposição da natureza
existem mais de 80 biossistemas integra-
dos com 50 metros cúbicos de capacidade,
que geram biogás suficiente para substituir Depois dos resíduos chegarem ao biodi- sistema não tem riscos de contaminação
900 botijas de GPL (gás de petróleo lique- gestor, as bactérias anaeróbicas começam para a natureza, dado que apresenta níveis
feito), 4 mil litros de diesel ou 50 mil Kwh a sintetizar os componentes nocivos por de toxicidade abaixo dos padrões inter-
por ano. O investimento é de apenas 60 a meio de processos químicos e biológicos. nacionais exigidos pelo Conselho Nacio-
80 dólares por pessoa. Isso deve-se à sim- A reacção completa-se quando sobre o sis- nal do Ambiente do Brasil — CONAMA,
plicidade do engenho, de fácil manuten- tema se plantam os papiros, uma espécie órgão que legisla a qualidade da água para
ção, feito à base de betão, de fabrico chinês, de plantas capaz de purificar a água arma- o uso humano. “Com o biodigestor, 99% da
instalado pela mão-de-obra local. zenada. Dessa forma, o sistema separa o toxicidade desaparecem. Assim, tudo volta
que é tóxico do que é nutriente. Assim, ao início, com o aproveitamento máximo
água sem riscos para a saúde aquilo que antes era esgoto, transforma- de nutrientes e o mínimo impacto para o
“À semelhança de um estômago humano, -se em biogás (metano) e biomassa (plan- ambiente”, diz Jorge com orgulho.
o biossistema tem como base o ciclo de tas aquáticas e papiros) que podem servir A ideia não é propriamente nova. Alguns
decomposição da natureza. Num sistema para adubo e alimentação do gado. aspectos desta tecnologia, que visa devolver
fechado, ele acelera as reacções químicas Por sua vez, a água resultante do pro- a água à natureza sem riscos de contamina-
com a ajuda das bactérias anaeróbicas pró- cesso, rica em nutrientes orgânicos, pode ção, têm sido aplicados há vários séculos.
prias das substâncias ali contidas. Sem adi- alimentar peixes criados em cativeiro (téc- Afinal, como dizia o francês Antoine Lavoi-
ção de qualquer componente externo, o nica conhecida como aguaponia) e servir sier, considerado o pai da física moderna,
sistema faz uma reciclagem segura de bio- para a fertilização e irrigação de cultu- “na natureza nada se cria, nada se perde,
nutrientes”, resume o arquitecto. ras agrícolas. A água que resulta do bio- tudo se transforma”... h

52 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


De volta ao início
O ciclo biológico de todos os materiais ria-prima valiosa para a economia, as pi
na natureza serviu de inspiração para pessoas e o ambiente”, resume Ale-
uma plataforma de inovação nos negó- xandre Fernandes, director da KCA
cios que revê o desenho dos processos Consulting, empresa que popularizou
industriais, a partir da infinita utilização o conceito no Brasil e que organizou a
de recursos. Dito por outras palavras, visita guiada da EXAME ao biossistema William McDonough
tenta reproduzir o ciclo da natureza no de Petrópolis, no decurso da cimeira
mundo industrial. O conceito intitulado Rio + 20. Fraldas que se transformam
“Cradle to Cradle” (ou “berço ao berço”, em adubo quando se decompõe, tape-
também chamado “design regenerativo” tes que filtram o ar e podem ser reci-
ou simplesmente “C2C”) é da auto- clados inúmeras vezes e até o referido
ria do químico alemão Michael Braun- biodigestor, são alguns exemplos que
gart e do arquitecto britânico William constam de uma lista de mais de 400
McDonough (autores de um livro de produtos que já receberam a certifica-
culto com o mesmo título, publicado em ção Cradle to Cradle no mundo. Michael Braungart
2002). Pretende transformar o relacio- Segundo o conceito, cada produto
namento entre os membros da cadeia é constituído de nutrientes, sejam eles manifesto
de produção e de consumo — fornece- biológicos ou não. Todos eles — desde do design
dores, transformadores, consumidores alimentos a automóveis ou até compu- regenerativo:
e indústria de reciclagem — em torno tadores — podem ser reaproveitados e A obra de culto
da chamada “economia circular”, atra- transformados em novos produtos, sem da dupla de
vés da qual, todos os materiais que um ser necessário extrair mais recursos da mentores do
dia partiram da natureza, possam ser natureza ou acumular mais resíduos. design ecológico
reciclados e reutilizados infinitas vezes. Transformar resíduos em nutrientes aplicado à
“O Cradle to Cradle elimina o con- é uma ideia simples e eficaz que tem indústria
ceito de lixo que passa a ser uma maté- um espaço para florescer em África.

o que é o cradle to cradle


Quando a indústria se inspira nas leis da natureza Materiais
orgânicos
Plantas e sintéticos

Matérias-primas

Produtos Separação
Nutrientes Ciclo orgânicos do lixo Ciclo Fabrico
Biológico Técnico

Consumo
animal

Degradação Produto
biológica

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 53


INOVAÇão aviação

a Corrida
verde Chega
aos Céus
N
Grandes fabricantes a trilogia CINEMATO- que dos aviões. A pressão por alternativas
de aviões ou GRÁFICA “regresso
ao Futuro”, um clássico
sustentáveis tem recaído sobre os princi-
pais fabricantes do sector e não pára de
pequenas empresas dos anos 80, o personagem aumentar. Proporcionalmente, os aviões
de tecnologia. Todas vivido pelo actor Michael
J. Fox viaja pelo tempo a bordo de um
são o meio de transporte que mais polui.
As cerca de 17 mil aeronaves comerciais
querem combustível DeLorean, um carro desportivo que era em actividade no mundo respondem por
verde para se reduzir abastecido com lixo e voava. Os carros
ainda não voam, mas o lixo já está a ali-
2% das emissões dos gases de efeito estufa.
E os 1000 milhões de carros em circula-
as emissões de mentar aviões, ou quase. Na corrida pelo ção respondem por 15% dos poluentes.
carbono do sector “combustível verde” para a aviação, vale
qualquer tipo de matéria-prima. Plástico
Segundo a Associação Internacional
do Transporte Aéreo, a meta do sector é
reciclável, serradura, palha, óleo de cozi- reduzir as emissões de carbono em 50%
nha e algas são algumas das opções que até 2050, tendo como base o ano 2005.
fabiane stefano estão a ser estudadas para entrar no tan- Tal como tantas vezes sucede quando o

54 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Caro e poluente tações no motor, isso acaba por fazer subir
avião da boeing: Os combustíveis fósseis são um os custos. Actualmente, a fabricante brasi-
O aparelho cruzou o problema financeiro e ambiental leira, em parceria com a americana Boeing
Pacífico com uma mistura para as companhias aéreas e a Fundação de Amparo à Pesquisa do
de diesel e óleo de cozinha Estado de São Paulo, estuda outras alter-
Em duas décadas, o número nativas, como o bagaço de cana.
de voos comerciais cresceu
no mundo... DO VERMELHO AO VERDE
por ano Atraídas pelas oportunidades criadas
pelo sector aéreo, até algumas empresas
15
milhões
28
milhões
de pequeno porte estão a investir numa
solução verde. A irlandesa Cynar, por
exemplo, criou um diesel para aviação a
partir de plástico reciclado — obtido de
1992 2012
vários utensílios domésticos e de emba-
lagens de produtos. O material é derre-
...o preço do combustível para tido a altíssimas temperaturas e os gases
as companhias aéreas disparou...
por galão, em dólares (1) expelidos no processo são convertidos
em combustível líquido. Para cada tone-
0,56 3,14 lada de lixo plástico é possível extrair 662
litros de diesel. Em Novembro, o combus-
tível da Cynar deverá fazer o seu primeiro
grande teste. Um pequeno avião Cessna
fará a rota desde Sydney, na Austrália,
1992 2012 a Londres, no Reino Unido. “A vanta-
gem do nosso produto é que ele é menos
...e as emissões de CO2 poluente e reduz a quantidade de plásti-
da aviação aumentaram
em milhões de toneladas
cos no meio ambiente”, diz o presidente
Michael Murray à EXAME.
600 810 Nas Filipinas, a empresa Polygreen
desenvolveu outra versão verde a partir
do plástico, cujo preço seria 20% menor
LUCY NICHOLSON/reuters

do que o do querosene comum da avia-


1999 2006 ção. Nos Estados Unidos, a Swift Fuels
criou um biodiesel com alta capacidade
(1) A preços correntes Fontes: Banco Mundial, Agência Internacional
de Energia, Iata e OCDE. de conversão em energia. “A nossa alter-
nativa é menos poluente e reduz a depen-
dência dos países que importam petróleo”,
assunto é meio ambiente, os europeus uma mistura de diesel e óleo de cozinha diz Chris d’Acosta, presidente da Swift.
deram os primeiros passos. No ano pas- reutilizável. O mais recente anúncio ocor- Além dos protestos dos ambientalistas,
sado, a Comissão Europeia, companhias reu no dia 24 de Setembro. A Airbus e a há um incentivo financeiro para a adop-
áreas e fabricantes de biodiesel assina- petrolífera chinesa Sinopec assinaram um ção de uma opção sustentável no sector
ram um pacto para produzir 2 milhões acordo para desenvolver um combustível aéreo. Nas últimas duas décadas, o preço
de toneladas de combustível sustentável mais verde de biomassa e óleo reciclado. do querosene multiplicou-se por seis. As
até 2020, o que equivale a 14% do con- No Brasil, desde 2005, a Embraer fabrica medidas aplicadas desde a década de 70
sumo de querosone da aviação na Europa. aviões agrícolas que são abastecidos com para aumentar a eficiência energética,
Com base nesse compromisso, em Março, etanol. O combustível, porém, não é con- como novos motores, têm surtido efeito.
a francesa Airbus entrou num consórcio siderado o ideal para jactos por apresentar Com a mesma quantidade de passageiros
com empresas australianas para estudar dificuldades técnicas. O poder calorífico e querosene, voa-se o dobro da distância.
o potencial do eucalipto para o fabrico do produto (a quantidade de energia por Apesar disso, os gastos com o combus-
de biocombustível. Em Abril, um 787 da unidade de massa) é bem menor do que o tível ainda são o maior custo das com-
concorrente americana Boeing cruzou o do querosene, o que reduz a autonomia de panhias aéreas. Falta passar das contas a
Pacífico com os tanques abastecidos com voo. Para mais, como o etanol exige adap- vermelho para o verde dos lucros. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 55


inovação sustentabilidade

uma luz
no deBate
amBiental
A era das lâmpadas incandescentes está a chegar ao fim.
As novas tecnologias de iluminação prometem reduzir a
conta de electricidade — e o impacto no ambiente
Bruno Ferrari

U
ma das invenções mais, até 40 anos. Por enquanto, o seu
mais importantes preço ainda é uma barreira. Nos Estados
da história só poderá Unidos, custa, em média, 15 dólares. Mas,
ser vista em museus dentro segundo um estudo da consultora ameri-
Bioluminescência
de alguns anos. A lâmpada cana McKinsey, tal custo tenderá a descer.
incandescente, inventada por Thomas Edi- A previsão é que os valores tenham uma A lâmpada biológica na verdade
é uma bactéria anaeróbia, que vive
son, em 1879, terá a sua venda proibida queda de 30% ao ano até 2016. A McKin-
dentro da água e se alimenta de
em diversos países do mundo até o final sey calcula que, dentro de oito anos, a tec- resíduos como o lixo doméstico.
do ano. O problema das incandescentes nologia LED passará dos actuais 7% de
está no consumo de energia. Essas lâmpa- quota no mercado mundial de ilumina- Consumo: Não gasta electricidade.
das apenas convertem 5% da electricidade ção para 50%. Vida útil e preço: Ainda não
consumida em luz — o restante é elimi- A confirmar-se este cenário, as novas tem aplicação comercial.
nado sob a forma de calor. Num mundo lâmpadas seguirão o padrão de outros pro-
cada vez mais preocupado com as questões dutos tecnológicos inovadores. Na década
de sustentabilidade e da redução de cus- de 50, com o início da popularização das
tos, deixou de fazer sentido continuar com televisões, as famílias americanas gasta-
esse desperdício. O argumento favorável vam 10% do seu rendimento anual para
à reforma das incandescentes ganha força comprar um aparelho. Hoje, o preço de um Segundo os cálculos do Departamento
quando se examinam as opções disponí- produto comparável equivale a 0,8% dos Nacional de Energia dos Estados Unidos,
veis — e as novidades que estão a caminho. rendimentos. O que dá sustentação à ideia a troca de lâmpadas incandescentes pelas
Os especialistas dizem que chegou a vez de que as lâmpadas mais eficientes se vão LED nos lares das famílias gerará uma
da iluminação ganhar destaque no que se espalhar pelo mundo é o incentivo finan- poupança de até 50 dólares por ano. “Os
convencionou chamar eficiência energética. ceiro. Ao aderir, os consumidores gastam gastos com a iluminação representam, em
Um frigorífico hoje gasta metade da energia menos em energia. De acordo com estima- média, 20% do consumo mensal de ener-
dos seus antecessores em 1993. Uma lâm- tivas, para cada tonelada de carbono que gia de uma residência”, diz um relatório
pada de LED (sigla em inglês para díodo uma empresa deixa de produzir ao trocar recente do instituto americano. “Com a
emissor de luz) gasta um décimo da ener- as suas lâmpadas, há uma redução de 183 troca de lâmpadas, as contas de electri-
gia de uma incandescente e dura muito dólares por ano nos gastos com energia. cidade podem cair para menos de 10%.”

56 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


génios da lâmpada
Uma nova geração de tecnologias oferece
a mesma quantidade de luz e menos consumo
de energia — e já há estudos de lâmpadas que
funcionam sem depender da electricidade

oLed
A tecnologia substitui o bulbo
por uma placa fina de polímero
plástico, um composto orgânico que
se auto-ilumina na presença de energia.
Consumo: 20 a 25 watts (para a mesma
quantidade de luz de uma lâmpada
incandescente de 65 watts).
Vida útil e preço: Dura 25
anos e custa 450 dólares.

Luminescência
por eLétrons
A VU1, livre de mercúrio, tem um Led com

fotos: Rene van deR Hulst; James maRcus-Wade ; divulgação.


bulbo revestido com um tipo diferente ARREFECIMENTO
de fósforo e oferece uma luz semelhante Líquido
à lâmpada incandescente. A lâmpada Switch usa um sistema
Consumo: 19 watts (para a mesma de refrigeração com silicone líquido
quantidade de luz de uma lâmpada que aumenta a sua durabilidade.
incandescente de 65 watts).
Consumo: 21 watts (para a mesma
Vida útil e preço: Dura 10 quantidade de luz de uma lâmpada
anos e custa 15 dólares incandescente de 100 watts).
Vida útil e preço: Dura 20
anos e custa 40 dólares.

Além das lâmpadas de LED, começam nescentes que produzem luz processando cos, mas como surgiram milhões de novos
a aparecer alternativas nas prateleiras dos restos de material orgânico como o lixo. No consumidores que tiveram acesso a eles,
supermercados dos países ricos. A startup famoso Massachusetts Institute of Techno- o consumo de electricidade acabou por
americana Switch acrescentou um sistema logy (MIT), a ideia é fazer o LED absorver aumentar. Caso as investigações da Phi-
de arrefecimento líquido às lâmpadas de o calor do ambiente e convertê-lo em luz. lips ou do MIT tenham sucesso, as lâmpa-
LED. Lançada no início deste ano, a tec- “No futuro, apenas uma pequena parcela das poderão inverter essa tendência. Com
nologia faz com que elas durem mais de da energia que é utilizada pelos LED de essa poupanças ao nível da eficiência ener-
20 anos. Nos laboratórios da multinacio- hoje será necessária”, diz Rajeev J. Ram, gética, talvez seja possível levar luz às 1,4
nal holandesa Philips as inovações pro- professor de Engenharia Eléctrica, no MIT. mil milhões de pessoas que ainda vivem
metem ser ainda mais radicais. Nos seus Nas últimas décadas, os electrodomésticos na escuridão — sem aumentar a conta e
laboratórios testam-se bactérias biolumi- ficaram mais eficientes em termos energéti- sem agredir o meio ambiente. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 57


ambev ultrapassa a coca-cola na corrida ecológica: Agora as garrafas de Guaraná Antarctica são 100% verdes

garrafas 100%
recicláveis A Ambev, que integra o maior grupo de cervejas do mundo, lançou
a primeira garrafa de PET 100% reciclável. Um exemplo de inovação
no qual a florescente indústria de bebidas angolana se deveria inspirar
andrea vialli

N
o Brasil, AS LATAS Mas há outros materiais que, infeliz- Este ano, no entanto, a Ambev, maior
DE ALUMÍNIO SÃO AS mente, não têm o mesmo status. É o caso fabricante de bebidas do país e que faz
ESTRELAS da reciclagem. das embalagens de plástico PET (muito usa- parte do maior grupo mundial do sec-
Mais de 98% das latas, das nas águas, sumos e refrigerantes), cujo tor, decidiu conferir ao plástico a mesma
depois de usadas, regres- índice de reciclagem no Brasil é de apenas atractividade que hoje é patente na lata de
sam à indústria. Reciclar 57%. Por esse motivo, a maioria das gar- alumínio. A empresa começou a introdu-
latas parece ser um bom negócio: 1 tonelada rafas vão parar ao lixo ou, pior ainda, são zir no mercado o Guaraná Antarctica de
de alumínio prensado vale 1500 dólares. descartadas em terrenos baldios e rios. 2 litros, numa garrafa de PET que é 100%

58 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Inovação reciclagem

No mercado ninguém questiona o mérito


ambiental da nova embalagem da Ambev.
Além de contribuir para reduzir a geração
de lixo, a fabricação de uma garrafa PET
reciclada requer, em média, 70% menos
energia e 20% menos água do que a de uma
garrafa feita de material virgem.

falta mais recolha selectiva


Mas existem dúvidas sobre até que ponto a
iniciativa pode realmente influenciar a indús-
tria de reciclagem. Afinal, face ao volume
total de PET consumido no Brasil — 514 mil
toneladas no ano passado —, as sete pisci-
nas olímpicas da Ambev não parecem ser
assim tão grandes. Para Auri Marçon, pre-
sidente da Associação Brasileira da Indús-
tria do PET (Abipet), a empresa terá de usar
um volume bem maior de PET reciclado se

MATEus BruxEl/Ag rBs


quiser realmente fazer a diferença no sector.
André VAlentim

Para mais, há o facto de que, hoje, o pro-


blema na cadeia de reciclagem do plástico
não está na falta de destinos de reutilização
latas de alumínio usadas: 98% delas são recicladas e reutilizadas pela indústria para o material (ainda que a descoberta de
mais um deles seja vista com bons olhos).
A indústria têxtil, por exemplo, é respon-
reciclável. As garrafas de guaraná já eram loucos por plástico sável por 39% do plástico descartado. “O
verdes na cor. Agora ficaram ainda mais O consumo de PET pelo sector de embalagens problema da reciclagem do PET é a falta de
“verdes” aos olhos do consumidor, pois são cresceu 542% nos últimos 18 anos... recolha selectiva. Nalgumas alturas do ano,
feitas de embalagens de PET descartadas. as empresas de reciclagem chegam a ficar
A corrida da Ambev para lançar a gar- Consumo anual 514 000 com uma taxa de não ocupação de 30%”,
(em toneladas)
rafa PET 100% reciclável começou em 2009, afirma Auri Marçon.
94 000
quando a Agência Nacional de Vigilância O vice-presidente da Ambev diz que a
Sanitária (Anvisa) do Brasil, depois de oito estratégia de reciclar o PET a 100% vai aju-
anos de discussões, permitiu que o PET 1993 2011 dar a subir o preço desse material no mer-
reciclado fosse usado em embalagens de ... mas as taxas de reciclagem são inferiores cado e estimular a recolha (hoje a tonelada
alimentos e bebidas. A Coca-Cola, a princi- às do alumiínio ou papelão (em % do total) da resina PET vale cerca de 768 dólares).
pal concorrente da Antarctica, partiu pri- Ricardo Moreira também não teme que a
Alumínio
meiro ao lançar, em 2011, uma embalagem (latas) 98% empresa sofra com a falta do material, uma
produzida com 20% de PET reciclado. A vez que espera receber parte importante do
Ambev demorou mais tempo para encon- Papelão 70% volume necessário directamente das 134 coo-
trar os fornecedores aptos a responder ao perativas de “catadores” que apoia. O exe-
desafio. Valeu a pena esperar. Hoje, 12% cutivo não se compromete, porém, quanto
das embalagens PET de 2 litros do Gua-
PET 57% à expansão da política para as outras mar-
raná Antarctica são 100% recicláveis. Para cas do grupo. “Para já queremos alargar a
2013, a meta é chegar aos 20%. Isso signi- Vidro 47% garrafa PET reciclada a todo o portefólio
fica reintroduzir no mercado 66 milhões de Guaraná Antarctica até 2014”, diz. A
de garrafas PET descartadas — ou seja, Papel 28% Ambev é uma empresa conhecida por ter
sete piscinas olímpicas do material pren- metas agressivas para absolutamente tudo
sado. “Com esta medida, vamos aumentar Embalagens e por se esmerar em cumpri-las. Espera-se
longa vida 25%
a demanda do PET e estimular a reciclagem que essa determinação também seja visível
desse material”, afirma Ricardo Moreira, Plásticos na PET verde. E que a florescente indústria
vice-presidente da Ambev. em geral 19% angolana de bebidas se inspire nela. h
Fonte: Cempre, Abai e Abipet. Valores relativos ao Brasil.

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 59


Experience the dream
Viva o sonho
Lisbon, Portugal

T. +351 211 107 600 . F. +351 211 107 601 . www.myriad.pt


n

Empresas-modelo *

Chevron A empresa sustentável do ano


Finalistas • Odebrecht • BESA • BP • Total • BAI
* Os textos sobre as empresas foram baseados, exclusivamente, nas suas respostas a um questionário padronizado, desenvolvido pela EXAME Brasil em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e adaptado pela equipa editorial da EXAME Angola. Dito por outras
palavras a EXAME não entrevistou posteriormente as empresas (a não ser para esclarecer eventuais duvidas sobre alguns dos números referidos) de modo a que todas estivessem em igualdade de circunstâncias no que se refere ao veredicto do júri.
Pesquisa Critérios

Foco no
desenvolvimento
humano

62 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


A primeira pesquisa sobre sustentabilidade
realizada pela EXAME identifica que grande
parte dos investimentos sociais das empresas
a operarem em Angola foi aplicado na melhoria
da qualidade de vida das comunidades locais.
Siga os bons exemplos nas páginas seguintes
Cássia Ayres

A
responsabilidade A lista das seis empresas-modelo é
social empresa- dominada pelas multinacionais do petró- Conferência
rial, o Investimento leo (que representam metade das finalis- Nacional de
social privado e a tas), uma de construção e obras públicas Responsabilidade
sustentabilidade e duas representantes da banca (entre elas Empresarial
corporativa são práticas recen- o maior banco de Angola). em Abril de 2013
tes no contexto empresarial angolano. A pesquisa realizada pela EXAME junto
Os dez anos de paz assinalados em 2012, dessas empresas que se destacaram como A EXAME aproveita esta oportu-
coincidem com o período em que Angola sendo socialmente responsáveis revela que nidade para saudar o Programa
fez a sua transição da economia planifi- os seus investimentos estão sobretudo foca- das Nações Unidas para o Desen-
cada para a de mercado. A reconstrução dos no atendimento directo às comunida- volvimento — PNUD, que se pro-
das infra-estruturas apoiada no aumento des e ao público interno (funcionários) em põe realizar um estudo, a ser
da produção do petróleo levou ao país programas de saúde, educação, geração divulgado em Janeiro de 2013,
números recorde de crescimento mun- de rendimentos e mitigação de impactos que visa mapear a responsabi-
dial (de dois dígitos desde 2002, excepto no meio ambiente. A mudança do para- lidade social em Angola, retra-
durante o período da crise económica digma da filantropia e do assistencialismo tando actores, áreas de actuação,
global). Infelizmente, o progresso econó- para programas e projectos estruturantes, números investidos, destinatários
mico não tem sido acompanhado de um emancipatórios e com visão longo prazo, foi e impactos gerados. “O estudo
crescimento do bem-estar das popula- outro aspecto altamente meritório detec- oferecerá elementos importantes
ções na mesma proporção. Não obstante tado durante este estudo. para a definição de prioridades
as melhorias evidentes, o desempenho no Outros critérios importantes como a das empresas, do Governo, das
sector social (nomeadamente na educa- governanção e a transparência nas relações ONG e agências multilaterais.
ção e na saúde) continua aquém do dese- com o Governo e com outros stakeholders Será algo que poderá suscitar a
jado, conforme demonstram os rankings das empresas (públicos de interesse) foram associação directa entre os acto-
internacionais como o Índice do Desen- também comprovados nos seus relatórios res que, segundo os dados pre-
volvimento Humano, da ONU. anuais de sustentabilidade (publicados a liminares deste estudo, tendem
Esse papel activo no sector social, como se par dos seus relatórios oficias de contas a actuar por núcleos isolados”,
sabe, não cabe apenas ao Estado. O aumento anuais). Está também a crescer o apoio a revela Glayson dos Santos, coor-
dos investimentos públicos trouxe compe- eventos artísticos e culturais, algo que a denador do Programa Empresa-
titividade ao sector privado que, por sua nova legislação sobre mecenato cultural rial Angolano do PNUD, o (PEA).
vez, tem a obrigação ética e moral de par- dará certamente mais um impulso. O referido estudo será divulgado
tilhar os seus resultados económicos com Contudo, o factor mais importante e que durante a Conferência Nacio-
os seus colaboradores e as comunidade demonstra a evolução da responsabilidade nal de Responsabilidade Social
onde está inserido. As grandes empresas, social em Angola está na tomada de cons- Empresarial, a realizar em Abril
neste sentido, têm uma responsabilidade ciência da organização como um compro- de 2013. Os debates serão acom-
acrescida. Não surpreende, por isso, que misso público, patente na sua ética interna panhados de uma exposição que
as eleitas pela EXAME como exemplos de e inserida na sua filosofia de gestão. Vale a trará casos práticos e modelos
excelência na sustentabilidade sejam das pena conhecer estes exemplos de boas prá- de participação das empresas.
maiores empresas a actuar em Angola. ticas de gestão nas páginas seguintes. h

EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 63


Pesquisa Critérios

A escolha das melhores


O presente “Guia Exame Angola de Responsabili- sociais no país. Infelizmente, nem todas responderam aos ques-
dade Social Empresarial”, foi inspirado e concebido a tionários e algumas fizeram-no já depois da data limite. Mas se
partir da edição homóloga brasileira Exame, da editora Abril. O a quantidade de participantes esteve aquém do desejável, a qua-
processo teve início com o envio de 16 cartas-convite a empresas lidade das respostas dificultou a tarefa do júri na selecção das
a actuar em Angola, comprovadamente envolvidas com projectos melhores, cujo processo explicamos seguidamente.

A selecção passo a passo

1
O perfil dos Preenchimento As quatro Dimensões
Conselheiros do questionário
As empresas receberam um peso Geral
questionário baseado em quatro
critérios elaborados pelo Centro de
15 Procura apurar como a
empresa lida com a questão
Estudos em Sustentabilidade (GVces) da sustentabilidade internamente;
da Fundação Getúlio Vargas (Brasil) a quem cabe essa responsabilidade e
para a revista Exame que elaborou como é que ela se insere na estratégia
João Serôdio
uma versão resumida e adaptada global da empresa e nas relações com
Professor de Biologia da
Faculdade de Ciências da ao contexto de Angola. os funcionários e demais interessados.
Universidade Agostinho Neto
e com mais de 40 anos de
experiência em ambiente. peso Ambiental

2
Análise e 25 Procura medir o
Aprovação desempenho ambiental
do Conselho da empresa em temas como a
biodiversidade, as mudanças
Os questionários foram climáticas, a ecoeficiência e a
encaminhados ao grupo composto preservação dos recursos naturais.
Vladimir Russo por três conselheiros (à esquerda)
Mestre em Educação com reconhecida experiência no tema
Ambiental é director técnico da sustentabilidade em Angola e no peso Social
da empresa de consultoria
ambiental Holísticos.
exterior. Cada membro pontuou as 35 Como é que a empresa
seis empresas nos quatro critérios actua na responsabilidade
definidos pela EXAME apurando social perante os seus stakeholders
seis empresas-modelo finalistas. (ou públicos de interesse), caso dos
funcionários, clientes, consumidores,
comunidade, Governo e organizações
da sociedade civil.

3
Empresa
Glayson dos Santos Sustentável
Coordenador executivo peso Económica
do Ano
do Programa Empresarial
Angolano no âmbito do 25 Qual é o desempenho
PNUD (Programa das A empresa com a maior pontuação económico e financeiro
Nações Unidas para o atribuída pelo conselho deliberativo da empresa e que parcela dos seus
Desenvolvimento). foi considerada a “Empresa resultados que são afectos às áreas
Sustentável do Ano”. da responsabilidade social e ambiental.

64 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


DAMOS MAIS CRÉDITO AO
FUTURO DE ANGOLA
Mais actividade económica, mais emprego, mais produção nacional,
mais lucro, mais sucesso, mais riqueza, Mais Angola.

A linha de crédito bonificada MPME’s, foi criada para facilitar o financia-


mento das PME’s em investimentos de imobilizado corpóreo ou para o re-
forço do fundo de maneio.
Pretendemos contribuir para o alargamento do tecido empresarial An-
golano, contribuindo para o aumento da oferta de produção nacional e
estimular e fortalecer o espirito de empreendedorismo.
Visite já o balcão Caixa Totta mais perto de si.
Empresa Sustentável do Ano Chevron

do r a
Vence

2po3nt4
os

Uma americana em Cabinda


Em 2010, a Chevron foi galardoada pelo Ministério do Ambiente com o
Prémio Palanca. Um reconhecimento da sua política de responsabilidade social
e ambiental que actua na prevenção dos danos da actividade petrolífera,
na preservação dos ecossistemas terrestres e marinhos e no apoio às
comunidades locais nas áreas da saúde, educação e empreendedorismo

A
Chevron está em Angola há mais de “Proteger as pessoas e o ambiente” é um dos valores fundamen-
75 anos. Tem participações em quatro conces- tais da Chevron, que possui normas ambientais rigorosas para a
sões, duas das quais opera, sendo a maior emprega- monitorização da água (devido às descargas e fluidos de perfu-
dora estrangeira da indústria de petróleo em Angola. ração), do ar (queima contínua do gás) e do solo (eliminação do
As quatro concessões estão no Bloco 0, ao largo da lixo e protecção das águas subterrâneas). A empresa reconhece
costa da província de Cabinda; Bloco 14, em águas profundas, que as suas operações podem causar sérios danos à biodiversi-
Bloco 2, que fica na zona marítima do Noroeste de Angola, e no dade. Um risco que a levou a criar o sistema de gestão de excelên-
Bloco Fina Sonangol Texaco de zona terrestre. Alguns dos mais cia operacional, uma abordagem consistente para a conservação
importantes investimentos em Angola são a fábrica de queima da biodiversidade, que vai desde a concepção de novas instala-
de gás do Malongo; o projecto Mafumeira Sul, o projecto Ben- ções à realização das operações petrolíferas que visem minimi-
guela Belize–Lobito Tomboco e a fábrica de gás natural lique- zar os riscos e impactos, especialmente em ambientes sensíveis.
feito, no Soyo (Angola Liquefied Natural Gas Limited ou Angola Outro importante investimento da Chevron está na educa-
LNG), um empreendimento conjunto de gás natural liquefeito ção ambiental, através da norma de procedimentos operativos,
na zona terrestre. SOP 57 — Vida Selvagem de Malongo, que proíbe qualquer per-

66 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: Chevron — Cabinda Gulf Oil Company.


Área de negócio: Energia (produção e exploração de petróleo e gás). Presente em Angola com actividade
comercial desde a década de 30. Tem operações de produção e exploração de petróleo desde
a década de 50.
Onde actua: Província de Cabinda (na cidade de Cabinda e com um campo de operações em Malongo — área operacional
dos Blocos 0 e 14), Luanda (onde se encontra a sede) e Zaire (área operacional — do Angola LNG no Soyo e do Bloco
2). Âmbito nacional (área de responsabilidade corporativa, com impacto nas 18 províncias).
Número de Funcionários: Mais de 3700 empregados em Angola (mais de 3100 dos quais são angolanos,
os quais representam 88% da actual força de trabalho no país).

Desempenho Porque se destacou (em números)

A Chevron já investiu mais de180 milhões de


dólares em programas de apoio às necessidades de saúde,
Em 2011, quase2 milhões de pessoas e cerca de 75
instituições beneficiaram directamente dos programas
educação, economia, ambientais e sociais dos angolanos. apoiados pela Chevron e parceiros.

Desse montante, 60 milhões de dólares


foram investidos nos últimos três anos e mais de 20 milhões
Nos últimos três anos, foram mais de10 milhões
os beneficiários directos das iniciativas apoiadas e promovidas
foram investidos no ano passado. pela companhia e os parceiros em cada uma das 18 províncias.

turbação, alimentação, captura, morte ou ferimento de animais No âmbito da actividade petrolífera, a Chevron tem um pro-
selvagens. As medidas de educação ambiental estendem-se às grama de monitorização da quantidade da água, dos sedimentos
comunidades locais e às ONG. “A cada seis meses, a empresa e dos peixes e um plano de prevenção e de resposta rápida a der-
patrocina fóruns especiais durante os quais se partilham experi- rames. A operação do aterro sanitário iniciou-se em 2010, elimi-
ências sobre as melhores práticas para a preservação do ambiente nando a queima de resíduos no campo do Malongo. A Chevron
e oportunidades de parceria no domínio da protecção ambien- também tem investido na redução da queima rotineira em projec-
tal”, diz Filipe Silva Rodrigues, responsável pelo departamento tos como o da fábricas de gás de Cabinda e a do Angola LNG. Esta
de comunicação e imagem da Chevron em Angola. última, ainda não inaugurada oficialmente, representa um inves-
Na área da biodiversidade, a multinacional tem acções especí- timento de 10 mil milhões de dólares e visa processar diariamente
ficas como o programa de Monitorização da Tartaruga Marinha 1,1 milhões de pés cúbicos de gás natural, com uma média de ven-
nas praias do campo de Malongo, criado há mais de dez anos, que das diárias de 670 milhões de pés cúbicos de gás natural lique-
tem ajudado a proteger as espécies ameaçadas. Há ainda o pro- feito regaseificado e até 63 mil barris de líquidos de gás natural.
jecto de Monitorização de Mamíferos Marinhos, que visa mini- Mas nem só do petróleo vive a gigante americana, oitava maior
mizar as perturbações de ruídos em operações offshore, a captura empresa do mundo segundo a revista Fortune. A Chevron Tech-
e devolução de espécies aos seus habitat naturais e ainda a pro- nology Ventures está a estudar métodos avançados que visam
moção de recifes artificiais — aproveitando as plataformas des- aproveitar a energia solar no país. O uso de células fotovoltaicas
manteladas das operações no fundo do mar para a atracção de é uma das alternativas usadas pela Chevron para levar energia
peixes e outras centenas de espécies marinhas, tal como sucede eléctrica às povoações nas províncias sem acesso a electricidade.
num recife natural. Outra das normas ambientais da Chevron Na área da responsabilidade social, o destaque vai para a Ini-
consiste em identificar a pegada ambiental das suas operações no ciativa de Parceria em Angola, iniciada em 2002. No total, a Che-
formato de um mapa de cobertura do uso da terra (conhecido vron já investiu mais de 180 milhões de dólares em programas de
pela sua sigla na língua inglesa: LULC). apoio às necessidades de saúde, educação, economia, ambientais

a chevron é o maior accionista do projecto de gás natural


liquefeito — angola lng — que beneficiou a província do zaire
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 67
Empresa Sustentável do Ano Chevron

erradicação da pólio: Doação de 1 milhão de dólares yola semedo: Embaixadora dos projectos sociais da Chevron

e sociais dos angolanos (60 milhões de dólares, os quais foram rismo como matéria curricular nas escolas secundárias de Angola
investidos nos últimos três anos). Em 2011, cerca de 2 milhões de (hoje está implementado em 45 escolas de nove províncias). Em
pessoas e 75 instituições foram apoiadas pela Chevron que tem na 2011, a Chevron investiu 310 mil dólares para a reabertura da
cantora Yola Semedo, a embaixadora para os programas sociais Biblioteca Municipal de Cabinda e mais 45 mil num programa
em Angola, em particular, no rastreio, prevenção e tratamento de ensino do Inglês para 30 mil estudantes. Em parceria com a
de doenças como a anemia falciforme, HIV/SIDA, malária e can- Africare, foram abertas pequenas bibliotecas e centros de infor-
cro da mama. Em Cabinda, a Chevron apoia o banco de sangue mática em Cacuso, província de Malanje
e o programa Sangue Seguro. Investiu 13 milhões de dólares em Na cultura, a Chevron possui, na sede em Luanda, um valioso
três novos centros de saúde e 6 milhões num programa que envia espólio de centenas de peças de arte angolanas. Em 2011, foi o
médicos às populações carenciadas. Este ano, doou 1 milhão de principal patrocinador do programa televisivo de talentos musi-
dólares ao Ministério da Saúde para o combate à poliomielite. cais Angola Encanta. No desporto, a Chevron e os parceiros dos
Blocos 0 e 14 financiaram com 1 milhão de dólares cada um o
erguendo a bandeira da angonalização Sporting Clube de Cabinda e o Atlético do Namibe e subsidia-
Na educação, os destaques vão para a competição educacional ram a compra de equipamento desportivo para 24 escolas de
Aprenda Brincando, que promove a aprendizagem fora da sala de Cabinda, participantes no programa anual de torneios de futebol.
aula; um concurso de redacção que abrangeu dez escolas primá- Na frente interna, os princípios de gestão de recursos huma-
rias públicas, a compra de 1600 livros para bibliotecas escolares nos estão definidos no documento The Chevron Way (À maneira
em Cabinda e a associação à Parceria Global Educativa do Disco- da Chevron). Uma das bandeiras da companhia em Angola é a
very Channel e ao Ministério da Educação, que visa a introdução “angolanização”, um processo contínuo de desenvolvimento,
da tecnologia audiovisual e de vídeos educativos para melhorar recrutamento e formação do talento angolano. O ano passado,
a qualidade do ensino. Há ainda um programa de capacitação, os trabalhadores nacionais perfizeram 88% da força de traba-
que forma administradores, funcionários e professores dos ensi- lho, estando 76% em cargos profissionais e de supervisão, e 45
nos primário e secundário nas 18 províncias e a concessão de 60 angolanos em missões de serviço fora do país. Recorde-se que a
bolsas a estudantes universitários de Cabinda. Chevron tem o seu próprio centro de formação, localizado em
No apoio aos negócios, a Chevron lançou o projecto de Agricul- Malongo, com professores próprios. Destaque ainda para o pro-
tura Integrada, em 2008, para promover a produção sustentável grama da Chevron de Oportunidades de Voluntariado.
e a assistência técnica a milhares de agricultores e existe um pro- Além da prática de campanhas de marketing social, visando
jecto de apoio ao sector pesqueiro de Cabinda que abrangeu 2700 promover a adesão da população aos programas sociais, a Che-
famílias. Recorde-se que a Chevron tem uma participação de 7% vron produz um site externo e público, uma revista trimestral
no Banco BAI Microfinanças e que, nos últimos dois anos, con- para os seus beneficiários a nível nacional e um programa de
tribuiu com 1,75 milhões de dólares para um projecto da ONU e rádio, Juntos com a Comunidade. Está ainda presente nas redes
do Ministério da Educação, que visa introduzir o empreendedo- sociais através do Facebook, Twitter e YouTube. h

76% dos cargos dirigentes são preenchidos por angolanos.


existem 45 colaboradores em missões de serviço no exterior
68 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com
FInalistas Odebrecht

r
1.º luga

2po2nt6
os

Sustentabilidade com
sotaque brasileiro
Há 27 anos presente em Angola, o grupo Odebrecht tem uma política
de sustentabilidade definida para dentro e fora do “canteiro de obras”.
No apoio social, destacam-se os projectos Acreditar e Kukunga Pala Kukula

O
grupo Odebrecht foi fundado no obras. A Odebrecht Angola possui outros investimentos e parti-
Estado Brasileiro da Bahia, em 1944, estando cipações, tais como o condomínio Atlântico Sul e participa em
presente em vários países da América, África, consórcios para a produção de diamantes e de petróleo.
Europa e Médio Oriente. A Construtora Nor- O grupo Odebrecht tem a sua política de sustentabilidade baseada
berto Odebrecht assinou o seu primeiro con- naquilo que é o ADN da empresa — a Tecnologia Empresarial
trato em Angola em 1984, para a construção da hidroeléctrica de Odebrecht (TEO) — uma cultura que enfatiza princípios como:
Capanda, num consórcio russo-brasileiro. Desde então, o grupo “Sobreviver, crescer e perpetuar.” Para a Odebrecht a perpetui-
fincou raízes em solo angolano, actuando em diversos projectos dade só é possível num ambiente de desenvolvimento sustentável.
em sintonia com o esforço de recuperação do país. Salientam-se Por isso, é que em cada um dos cerca de 20 contratos celebrados
projectos como a reabilitação do Canal da Matala, na província em Angola existe, pelo menos, um programa social dirigido às
de Huíla, que possibilitou a irrigação da região considerada um comunidades locais. Com esta metodologia, esclarece o direc-
dos celeiros de Angola, ou o redesenho urbanístico de Luanda tor de sustentabilidade, Felipe Cruz, a empresa consegue contri-
Sul e o sistema de captação, tratamento e distribuição de água buir para transformar cada um dos seus empreendimentos num
potável das Águas de Luanda e de Benguela, entre várias outras indutor de desenvolvimento sustentável e um vector de prospe-

70 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: Odebrecht Angola.


Áreas de negócio: Construção civil, infra-estruturas, energia, imobiliário, projectos especiais.
Onde actua: Luanda, Benguela, Huambo, Malanje, Lubango, Huíla, Kwanza-Sul, Kwanza-Norte, Lunda-Norte, Uíge, Bengo,
Zaire e Lunda-Sul.
Número de Funcionários: 20 mil (nacionais e expatriados), sendo 92% angolanos.

Desempenho Por que se destacou (em números)

100%
dos contratos incluem projectos sociais
100%
dos resíduos oleosos são armazenados
97%
dos resíduos são colectados
para as comunidades. em locais limpos e ajustados. e têm uma reutilização adequada.

100% 100% 80%


das obras têm um programa de
dos efluentes sanitários e industriais das obras e das centrais industriais prevenção que contempla: a recuperação
recebem tratamento adequados. controlam as emissões atmosféricas. de áreas degradadas e a redução do
consumo de recursos (água e energia).

ridade na micro-região em que está implantado. “A Odebrecht cado de trabalho. O segundo é o projecto Kulonga Pala Kukula,
entende que não pode nem deve substituir-se ao papel do Estado, baseado na província de Malanje, voltado para o abastecimento
mas ainda há muito a fazer para criar acções estruturantes, coe- de água e a promoção da agricultura familiar na região do Pólo
rentes com nossos valores filosóficos”, afirma o gestor. Dentro e Agroindustrial de Capanda. No âmbito deste projecto, a Odebre-
fora do seu “canteiro de obras”, o compromisso com a sustentabi- cht oferece assistência técnica para que as comunidades rurais
lidade da Odebrecht tem cinco vertentes: meio ambiente; mudan- produzam e comercializem os seus produtos nos mercados.
ças climáticas; programas sociais; saúde ocupacional; e promoção Na vertente da saúde, a empresa criou campanhas de prevenção
da saúde e segurança do trabalho. e de combate à malária e às doenças sexualmente transmissíveis
Dentro da área da engenharia e construção, a Odebrecht faz um e tem programas de orientação sobre planeamento familiar, de
inventário anual de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os ajuda às parteiras que são treinadas nas próprias comunidades e
impactos ambientais são avaliados desde a fase de viabilidade até à investe fortemente na limpeza e geração de resíduos.
executiva de um empreendimento. “Por exemplo, a frota de equi- Recorde-se que o grupo criou, em 2010, o Prémio Odebrecht
pamentos é monitorizada via satélite para evitar o uso indevido para o Desenvolvimento Sustentável, um concurso dirigido a
ou a queima não apropriada de combustíveis, há cuidados com o jovens universitários de Engenharia, que estudam nas universi-
descarte de óleos, filtros e outros componentes, sendo promovida dades angolanas, e premeia as melhores contribuições de enge-
a reciclagem de materiais. Num dos contratos, reciclamos óleo nharia para o desenvolvimento sustentável. A segunda edição
queimado que gera sabão para a comunidade do Zango”, justifica. deste prémio, realizada no ano passado, teve 23 grupos inscri-
Na responsabilidade social, a Odebrecht manifestou particular tos, num total de 45 alunos, 23 orientadores e 9 universidades.
orgulho em dois projectos ambicioso. O primeiro é o programa Foram premiados os três melhores projectos, no valor de 7500
Acreditar, criado no Brasil em 2009 e reproduzido em Luanda e dólares para os estudantes; 7500 dólares para o professor orien-
em Benguela, que consiste em oferecer formação integral a pro- tador e 7500 dólares para a universidade. Aos alunos vencedo-
fissionais para que possam estar mais capacitados para o mer- res foi oferecido um estágio na Odebrecht Angola. h

O PROJECTO ACREDITAR É DIRIGIDO À FORMAÇÃO. O KULONGO PALA


KUKULA VISA FORNECER ÁGUA E PROMOVER A AGRICULTURA RURAL
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 71
Finalistas BP

ar
2.º lug

1po9nt7os

uma Gigante global


com parceiros locais
Com nove concessões em Angola, com relevo para o campo Grande Plutónio,
a postura socialmente responsável da BP destaca-se pelas parcerias com
comunidades locais. Tem um protocolo com a Universidade Agostinho Neto
desde 2005, segundo o qual financia o mestrado em Direito do Petróleo

A
britânica British Petroleum (BP), A BP inovou na sua metodologia de intervenção social, ao sair
quarta maior empresa do mundo do modelo de investimento directo nas comunidades para outro
por volume de facturação, está em Angola desde que privilegiasse a participação de parceiros locais (organiza-
os anos 70. Hoje, tem quatro grandes licenças no ções governamentais e não governamentais, líderes comunitá-
offshore angolano (Blocos 15, 17, 18 e 31 — lidera a rios, igrejas, instituições académicas e cooperativas de pequenos
operação nos dois últimos) e acesso a mais cinco licenças (Blocos empresários) em projectos e programas estruturantes. “Esta estra-
19, 20, 24, 25 e 26). O primeiro grande projecto da multinacional tégia reforça as capacidades institucionais e humanas dos agen-
foi o campo Grande Plutónio, Bloco 18 (50% do capital), que ini- tes sociais, habilitando-os a serem indutores do desenvolvimento
ciou a produção em 2007. A multinacional também é accionista sustentável”, afirma Gaspar Santos, director de sustentabilidade.
do Angola LNG, onde tem uma participação de 13,6%. Presente Os resultados directos têm sido sentidos em várias províncias do
em 80 países, a BP emprega cerca de 80 mil pessoas e a opera- país em sectores como a educação, desenvolvimento empresa-
ção angolana representa 7% da produção petrolífera do grupo. rial, energia e combate à pobreza, saúde, segurança e ambiente.

72 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: British Petroleum (BP) Angola.


Áreas de negócio: Pesquisa e produção de petróleo.
Onde actua: Luanda, Zaire e Bengo offshore.
Número de Funcionários: 747, sendo 627 nacionais (84%) e 120 expatriados (16%).

Desempenho Porque se destacou (em números)

2000  empreendedores rurais


foram apoiados pelo projecto
4200  árvores foram plantadas na província do
Namibe, no âmbito do projecto Namibe Verde.
Microcrédito Grande Plutónio.

35 000  agentes de trânsito capacitados

2639 
em Angola pelo projecto Road Safety.
membros foram beneficiados
pelo projecto SAN de apoio à
agricultura nas províncias de
Cunene e Cuando Cubango.
82  famílias têm abastecimento de energia solar graças
ao projecto Paranhos, localizado a norte de Luanda.

É o caso do projecto Mabuia, realizado na Comuna da Funda Outra aposta forte da empresa é a educação. A BP financia,
pela CLUSA (National Cooperative Business Association), que desde 2007, o mestrado em Direito do Petróleo e Gás, da Univer-
visa o apoio às associações de camponeses na melhoria das con- sidade Agostinho Neto, e tem apoiado a faculdade, desde 2005,
dições técnicas de irrigação. A norte de Luanda, em Paranhos, a no aumento do número de engenheiros e cientistas angolanos.
BP financia um projecto de energia solar que visa fornecer ener- A multinacional também suporta projectos em diversas escolas,
gia eléctrica aos lares, escola, clínica e bomba de água. Outros orfanatos, institutos de formação de professores e um projecto
exempos são os projectos: SAN, que visa reforçar a capacidade de estágios comunitários, que permite aos estudantes universi-
técnica na prática da agricultura nas províncias do Cunene e de tários participarem em projectos de carácter social.
Cuando Cubango; o Namibe Verde, que já plantou mais de 4200 Juventude Responsável por uma Paz Duradora é o nome de
árvores; e o Road Safety, que capacitou 35 mil agentes de trânsito. outro programa recente que, no seu auge, atingirá 1330 jovens.
Destaque também para o projecto Microcrédito Grande Plu- A estratégia consiste em instalar 10 centros de resolução de con-
tónio, implementado pela ADRA (Acção para o Desenvolvi- flitos em municípios de Luanda. Inspirado no conceito do jango,
mento Rural e Ambiente), que já ofereceu crédito a cerca de 2 onde ocorrem importantes decisões das comunidades, o espaço
mil microempreendedores rurais nas províncias de Benguela albergará formações em educação cívica, liderança e mediação de
e Huambo (o programa venceu o galardão Global Partnership conflitos. A ideia é permitir que a juventude utilize os conheci-
Award) e o Kixicrédito, em curso desde Maio de 2009, na cidade mentos adquiridos para aplicá-los na comunidade, de uma forma
do Soyo, e que oferece serviços financeiros a mais de 650 clientes. interactiva, com as autoridades locais e com a sociedade civil.
A BP também apoia o CAE/CCIA, um centro de negócios que Como curiosidade, refira-se que a BP apoia o Petro Atlético do
visa capacitar as empresas angolanas para participarem mais acti- Huambo, cujo craques de futebol participam activamente na sen-
vamente na indústria petrolífera e do gás (a base de dados inclui sabilização da população local para o combate e a prevenção do
640 PME de Luanda, Cabinda e Benguela, das quais 127 já ganha- HIV/SIDA. Embora o clube não esteja na divisão principal (Gira-
ram contratos no valor de 60 milhões de dólares). bola) esta é uma ideia, pela sua originalidade, à campeão. h

127 pequenas e médias empresas nacionais já ganharam


contratos com a bp no valor de 60 milhões de dólares
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 73
FInalistas BESA

ar
3.º lug

1po9nt6os

DEZ anos a salvar o planeta


O “banco do planeta”, distinção recebida pela Unesco em 2009, assenta a sua
estratégia de sustentabilidade em quatro pilares — economia, social, ambiente
e cultura. Nesta última, destaca-se a aposta forte na fotografia. Uma das suas
exposições “Salvar o Planeta” ganhou uma enorme visibilidade internacional

H
á dez anos em angola, o compromisso em várias escolas de Luanda, Huíla e Huambo e o projecto Eco
com o desenvolvimento sustentável BESA que consiste na reconversão de garrafas de plástico de água
do Banco Espírito Santo Angola (BESA) está reflec- em vassouras e visa promover a reciclagem e reutilização e melho-
tido em quatro pilares: economia (oferecer serviços rar as condições de vida da comunidade no Zango (Luanda).
e produtos de elevada qualidade); social (igualdade, No âmbito da saúde destaca-se a prevenção da malária, diabe-
respeito e mais qualidade de vida); ambiente (utilização racional tes, hipertensão, cancros do colo útero e da mama, tuberculose,
dos recursos e protecção dos sistemas naturais); e cultura (promo- hepatite B e HIV/SIDA, através da realização de palestras, ras-
ver a divulgação cultural e surgimento de novos artistas), valores treios, campanhas de sensibilização, recolha e doação de sangue.
expressos no seu relatório de sustentabilidade publicado desde 2010. Com o Ministério da Saúde foi lançado o projecto Luanda a Sor-
Leonor de Sá Monteiro, directora de comunicação e imagem, diz rir, dirigido a crianças, que visa a realização de rastreios gratuitos
que “a actividade do BESA está muito mais além do que a presta- de saúde oral e a sensibilização sobre práticas diárias de preven-
ção de serviços financeiros, procurando envolver-se em projectos ção. O BESA apoia o Jornal da Saúde, um projecto promovido
que promovam uma melhor qualidade de vida para a população.” pelo Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos de Angola. Há
Entre esses projectos, destacam-se a parceria com o Ministério ainda o projecto Omufiati, para o qual o banco disponibilizou
do Ambiente para o lançamento do Kit de Educação Ambiental duas clínicas móveis para a província do Cunene.

74 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: Banco Espirito Santo Angola (BESA).


Áreas de negócio: Banca.
Onde actua: Território nacional.
Número de Funcionários: 600 (nacionais e expatriados).

Desempenho Porque se destacou (em números)

Projecto Projecto Beneficiou Concurso Exposição Apoiou o


Eco Besa, Luanda 250 BESAfoto, “Salvar 1.º
que transforma a Sorrir, crianças realizado em o Planeta”, Movimento
garrafas sobre na Escola Kassai parceria com que englobou de Jovens
de plástico higiene oral, do Lobito, o World Press cinco artistas Artistas
em vassouras, contemplou trabalhando temas Photo, e que já vai africanos, Angolanos,
abrange 500 crianças como as drogas na sexta edição, passou por Angola, no qual nove
500 famílias da Escola 3022 ilícitas, o álcool, reuniu Estados Unidos, artistas
realojadas e será alargado a prostituição 172 candidatos França, Finlândia, expuseram
no Zango. a todo o país. e a gravidez e mais de 1500 Suécia e as suas obras
precoce. trabalhos. Reino Unido. nas agências.

No âmbito do envolvimento com a comunidade, foi lançado o sado, as agências do banco acolheram as obras dos artistas da 1.ª
Centro de Excelência para Ciências e Sustentabilidade em África, edição do Movimento de Jovens Artistas Angolanos (Jaango).
instituição que acolherá pós-doutorandos que se dedicarão à pes- Nas exposições, o destaque vai para “Salvar e Preservar o Planeta”,
quisa de soluções de desenvolvimento sustentável em África. Para- que foi apresentada em Angola, nas sedes das Nações Unidas, em
lelamente, o banco continua a apoiar o programa de Reintegração Nova Iorque, e da Unesco, em Paris, e em eventos na Finlândia,
de Refugiados Angolanos, do Alto Comissariado das Nações Uni- Suécia e Reino Unido. Esta iniciativa apresentou os trabalhos de
das. Existe ainda um Fundo de Solidariedade, criado em 2005, fotógrafos de cinco países africanos — Angola, Gana, Zimbabué,
dedicado à acção social. O fundo apoiou, entre outros, os esforços Quénia e Tanzânia — que percorreram províncias de Angola para
do bispado do Cunene no atendimento médico, educação, acolhi- retratar temáticas relacionadas com o desenvolvimento susten-
mento de crianças e socorro à comunidade em alturas das cheias; tável. Outra exposição, a “Mulher Angolana — Ao Encontro do
criou a estrutura do posto de assistência no Zango, onde também Desenvolvimento Sustentável”, foi apresentada em São Paulo,
participou num programa de assistência à população sénior e, na Praça Victor Civita (um espaço nobre dedicado a sustentabi-
por fim, financiou o projecto Kassai, no Lobito, que integra uma lidade) na câmara e na estação metropolitana de Santa Cecília.
escola, lar de idosos e posto médico. Apoiou também iniciativas Dirigido aos seus clientes, o banco promove a iniciativa Plante
como o Jardim do Livro Infantil (promoção do livro e da leitura) Uma Flor, que consiste na oferta de cartões que incluem uma
e as Associações Pacto (para a formação de formadores comuni- semente. Tanto empenho rendeu ao BESA o reconhecimento
tários) e Tchiweka (que visa contribuir para preservar a memória internacional em 2009 — “Best Sustainability Bank” — galardão
e aprofundar o conhecimento sobre a luta de libertação). conferido pela revista financeira Emeafinance. Na qualidade de
Na área da cultura, a grande aposta está na fotografia. O BESA- “Banco Oficial do Planeta Unesco”, o BESA esteve presente em
foto, maior evento do país nessa área, já vai na sexta edição. É um 2011, pela segunda vez consecutiva, na sessão anual das Nações
concurso dirigido a jovens talentos, realizado em parceria com a Unidas, realizada na sede em Nova Iorque, para apresentar o seu
prestigiada World Press Photo (veja EXAME n.º 32). No ano pas- projecto de sustentabilidade em Angola. h

o besa foi à sede da onu, pela segunda vez consecutiva,


apresentar o seu projecto de sustentabilidade em Angola
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 75
Finalistas Total

ar
4.º lug

1po7nt5os

Uma história com mais


de cinco décadas
A responsabilidade social da Total E&P Angola, filial da francesa Total,
assenta em quatro pilares: ambiente, educação, saúde
e desenvolvimento económico. O investimento da petrolífera
ascendeu a 64 milhões de dólares nos últimos cinco anos

A
história da Total em Angola começa -se CLOV (acrónimo de cravo, lírio, orquídea e violeta). No ano
em 1952 quando se estabeleceu em Angola, a par- passado, surgiu o Pazflor, que passou a ser o maior projecto da
tir da atribuição de uma concessão à antiga empresa Total, em Angola (com uma produção estimada de 220 mil barris
Petrofina. A primeira descoberta comercial deu- por dia), e um dos mais sofisticados tecnologicamente do mundo.
-se em 1955 na bacia do Kuanza. Três anos depois, Durante as mais de cinco décadas de operação, a Total E&P
surgiu a refinaria operada pela então Petrangol (Fina). Depois Angola, filial do grupo francês Total, tem desenvolvido uma polí-
da Dipanda, em 1980, o Bloco 3 é atribuído à Elf que começou a tica de responsabilidade social que contempla quatro sectores
laborar em 1985. Até ao fim dessa década, seguiram-se 15 des- prioritários: saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento
cobertas no Bloco 17, um dos mais prolíferos do mundo (atin- económico. Nos últimos cinco anos, investiu cerca de 64 milhões
giu a marca de 1000 milhões de barris em 2010). Foram lá que de dólares (50% com fundos próprios) em programas nas qua-
nasceram os FPSO (floating production, storage and offloading) tro áreas citadas. Na sua política de sustentabilidade, definida
Girassol (2001), Dalia (2006) e Rosa (2007) — o próximo chama- no código de conduta, está o foco no desenvolvimento humano.

76 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: Total E&P Angola.


Área de negócio: Petróleo.
Onde está: Luanda e em offshore.
Número de Funcionários: 1635 (sendo 1220 nacionais e 415 expatriados).

Desempenho Porque se destacou (em números)

32 milhões de
dólares investidos em acções de
Ofereceu 700 bolsas
de estudos em instituições de
1200 jovens em seis
ramos de especialidades foram ajudados
responsabilidade social em fundos ensino nas disciplinas ligadas ao sector a ser formados profissionalmente com
próprios nos últimos cinco anos. dos petróleos, representando um a Associação Religiosa Dom Bosco.

4
investimento de mais de 17 milhões

Apoiou a construção de escolas


do ensino secundário, nas províncias do
Bengo, Malanje, Kwanza-Norte e Cunene,
de dólares entre 2005 e 2012.
10 000
árvores autóctones foram
com uma capacidade de 576 alunos. plantadas em 100 escolas espalhadas
por diversas províncias, associada
aos programas de tracking on-line.

Na área do ambiente, a petrolífera assumiu compromissos com Na saúde destacam-se os programas de capacitação das famí-
parceiros de peso, tais como os Ministérios do Ambiente e dos lias para os cuidados primários de saúde com a Congregação
Petróleos e o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira. Com das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, em Viana;
o primeiro, celebrou um memorando de entendimento para a o de formação de técnicos de vacinação com a ONG Africare,
instalação do Centro de Alterações Climáticas e Biodiversidade, em Malanje, o de erradicação da poliomielite com a Unicef e a
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, a Campanha Nacio- prevenção e combate à HIV/SIDA com a CAJ (Centro de Apoio
nal de Protecção à Biodiversidade e Reflorestação (que implica a aos Jovens). Um outro programa ambicioso foi realizado com o
plantação de 10 mil árvores autóctones em 100 escolas) e o Pro- Ministério da Saúde e a DSF (Douleurs Sans Frontières) e visou
jecto de Protecção e Conservação da Palanca Negra, em Malanje. lutar contra a mortalidade materno-infantil, formar parteiras e
Na educação, em parceria com o respectivo Ministério, cons- enfermeiras e vacinar a população da província do Zaire.
truiu quatro escolas Eiffel, do ensino secundário, nas províncias O pilar económico está ligado ao incentivo à cultura do empreen-
do Bengo, Malanje, Kwanza-Norte e Cunene, com uma capaci- dorismo. Nesta vertente, destacam-se os programas de formação
dade global de 576 alunos. Destaque ainda para os programas de de cooperativas agrícolas em Malanje com a ADRA (Acção para
formação de 100 professores realizados com a ONG Mulemba em o Desenvolvimento Rural e Ambiente); o programa Zimbo, que
Viana; o de formação de instrutores rurais com a ONG ADPP visa facilitar o acesso ao microcrédito e o CAE (Centro de Apoio
nas províncias do Zaire, Bié e Malanje e de o formação profissio- às Empresas) que forma PME para o fornecimento de serviços no
nal de 1200 jovens com a Associação Religiosa Dom Bosco. Há sector petrolífero. O destaque final vai para o desenvolvimento
ainda programas de alfabetização e aceleração escolar desenvol- de um estudo do tecido económico em três províncias (Kwanza-
vidos com a Cáritas; de formação das mulheres empresárias em -Sul, Benguela e Luanda) para seleccionar alguns sectores eco-
Porto Amboim com a FMEA (Federação de Mulheres Empreen- nómicos estratégicos a apoiar no futuro. Futuro esse que, como
dedoras de Angola) e de bolsas de estudos ligadas ao sector dos se vê pelos números da exploração petrolífera, se avizinham bri-
petróleos (foram atribuídas 700, desde 2005). lhantes para, pelo menos, outras cinco décadas. h

a petrolífera celebrou acordo com o ministério do ambiente


de apoio ao programa nacional de gestão ambiental
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 77
Finalistas Bai

ar
5.º lug

1po3nt2os

A riqueza de um país
(tambÉm) estÁ nas artes
O maior banco angolano, que está entre os 25 maiores de África
e os 100 maiores do mundo, tem no BAI Arte a sua iniciativa de
responsabilidade social mais mediática. Conheça outros projectos
relevantes nas áreas da saúde, do desporto e da educação

C
om 16 anos de actuação em Angola e civil, engenharia e ambiente através da subsidiária Griner e uma
presente em todas as províncias do participação maioritária na Nossa Seguros. Internacionalmente está
país, o Banco Angolano de Investimentos (BAI) é presente em Portugal, com o BAI Europa, em Cabo Verde com o
um grupo financeiro angolano de referência (maior BAI Cabo Verde, na África do Sul com um escritório de represen-
banco angolano, 22.º no ranking africano e 686.º no tação, e com parcerias em São Tomé e Príncipe e Brasil. O grupo
mundial). Construiu a sua reputação não apenas com serviços assinalou no dia 14 de Novembro o 16.º aniversário, data marcada
bancários, mas sobretudo pela capacidade de atrair, desenvolver pela inauguração oficial da academia de formação, no Morro Bento.
e reter os melhores profissionais e de criar valor para os accionis- O desenvolvimento da cultura e das artes, através do incentivo
tas e a sociedade, algo que está expresso na missão da instituição. aos artistas nacionais, é um dos principais focos da instituição no
Em Angola, o grupo também possui o BAI Micro Finanças, ins- que diz respeito à responsabilidade social. O projecto com maior
tituição dedicada ao microcrédito (que resultou da aquisição do visibilidade é o BAI Arte, que se tornou uma referência de mece-
Novo Banco, em 2007); um “braço” nos sectores da construção nato cultural privado, promovendo os valores culturais angolanos

78 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Sobre a Empresa

Nome: Banco Angolano de Investimentos (BAI).


Áreas de negócio: Banca.
Onde está: Em toda Angola (103 pontos de atendimento), com sede em Luanda.
Número de Funcionários: 1636 (nacionais e expatriados, em Junho de 2012).

Desempenho Porque se destacou (em números)

250 000 dólares


de apoio à construção de centro paroquial
92 000 dólares
para o Hospital Neves Bendinha, o único do país para doentes
e escola em Caxito. com queimaduras que ainda não disponha de um gerador.

75 000 dólares
para a reabilitação da pediatria do Hospital Américo Boavida,
60 000 dólares
para o projecto TISA, que visa disponibilizar tecnologias
que se debatia com a falta de equipamento de reanimação de informação nas salas de aulas.
a crianças em estado grave.

e contribuindo para o fortalecimento da memória colectiva e da outros apoios regulares, tais como o fornecimento mensal de ali-
identidade nacional. O projecto apoia artistas angolanos nas áreas mentos ao lar de idosos Beiral e às populações carenciadas do Mus-
da pintura, escultura, música e dança assim como a pesquisa nou- sulo (projecto Criskari) e o apadrinhamento do Centro Arnaldo
tras áreas como antropologia, museologia e história que contribuem Janssen “Padre Horácio” de acolhimento de crianças. Outros pro-
para o entendimento, preservação e afirmação da cultura angolana. jectos sociais relevantes, em parceria com a igreja católica, foram
O BAI Arte tem crescido nos últimos 11 anos e, em 2011, reali- a construção de um centro paroquial e de uma escola em Caxito,
zou-se, pela primeira vez, fora de Luanda, em Cabinda, uma expo- o apoio a diversas iniciativas da diocese de Cabinda e a constru-
sição subordinada ao tema “Investimos nos artistas da Terra”. Já ção de um seminário missionário arquidiocesano.
este ano, a província de Huíla acolheu o BAI Arte Lubango, de 14 Na área da educação, merece especial referência o projecto TISA,
a 21 de Agosto. A mostra, da responsabilidade do artista plástico que visa promover o acesso à informática das crianças do ensino
Jorge Gumbe, incluiu diversas esculturas e 20 quadros de Paulo básico, através da disponibilidade de computadores e de professo-
Kussy, Pascoal Kadu, Andre Malenga, Lázaro Cruz, Rebeca Lua e res (a primeira acção decorreu em Maio do ano passado na Escola
Aguinaldo Faria. “O BAI vê na cultura uma extensão da sua activi- Primária n.º 60 do Lubango). O BAI apoiou também as jornadas
dade, já que a indústria cultural contribui para o PIB, gera empre- alusivas ao Dia Mundial da Luta Contra a SIDA, realizadas em
gos e impostos e promove a mão-de-obra qualificada e mais riqueza Novembro. “O nosso objectivo é aumentarmos a aproximação às
material com a vertente do turismo cultural”, resume o director comunidades locais”, sintetiza Diala Monteiro.
de marketing, Diala Monteiro. No desporto, além do apoio ao BAI Basket (a primeira divisão
Outra área que o BAI aposta é a saúde. No âmbito do projecto nacional da modalidade) o ano passado, foi marcado pelo lança-
BAI 15 Anos adquiriu geradores para a unidade de queimados do mento de um torneio de minibasquetebol nas províncias de Ben-
Hospital Neves Mendinha e um equipamento de reanimação para guela e Huíla. No futebol, patrocina o Petro de Luanda e é o banco
as urgências da pediatria do Hospital Américo Boavida (ao qual já oficial dos Palancas Negras. Trata-se, em suma, de um grupo finan-
patrocinara a ala da cirurgia pediátrica). No ano passado, manteve ceiro jovem (16 anos), mas que já é um orgulho nacional. h

O BAI ARTE JÁ SE REALIZOU EM LUANDA, CABINDA E HuíLA.


a ACADEMIA DE FORMAÇÃO foi inaugurada EM NOVEMBRO
EXAME SUSTENTABILIDADE • Edição especial 2012 | 79
como fazer sustentabilidade

faça você 1
visão de
curto prazo
Muitas empresas estabelecem metas
na área da sustentabilidade de três

mesmo...
anos para acções que exigiriam 5
a 20 anos para gerar resultados. Quando
isso acontece, os profissionais envolvi-
dos ficam desmotivados, o que preju-
dica o relacionamento da empresa com
A sua empresa já tem um programa de as comunidades. Infelizmente, poucas
empresas estão focadas no longo prazo.

2
sustentabilidade? Anote os erros típicos
publicidade
José alberto goNçalves pereira enganosa
A ansiedade em mostrar que

M
contribuem para um mundo
aquiLHagem verde. É assim que os ambientalistas chamam às mais sustentável faz com que
empresas que dizem proteger o meio ambiente para melhorar a sua empresas divulguem acções ambientais
imagem. Visão de curto prazo, escassez de dados, falta de transparên- que ainda não saíram do papel. Ainda
cia na comunicação e baixo envolvimento dos funcionários são outras mais grave é quando elas fazem campa-
falhas comuns que podem inviabilizar os mais bem-intencionados pro- nhas de publicidade que exageram a sua
jectos. Anote os sete erros mais frequentes na gestão de programas de sustentabilidade. actuação ambientalmente responsável.
3
Dados derrame no Golfo no México para rever dores e aos meios de comunicação, do

5
escassos todos os processos de extracção de petróleo. que em incorporar o assunto no dia-a-
Poucas empresas têm -dia dos funcionários. Quando a susten-
um sistema eficiente Falta tabilidade está confinada aos gestores de
de recolha e avaliação de poder topo da empresa, isso é um péssimo sinal

7
de dados para moni- Há departamentos de sus- quanto à eficácia desses programas.
torizar a sua política tentabilidade formados por
de sustentabilidade. equipas pequenas (ou até Ignorar
Muitas vezes, o objectivo é apenas ter núme- uma única pessoa), cujo as partes
ros para publicar no relatório de susten- papel é meramente decorativo. Nesses interessadas
tabilidade. Ou seja, esses indicadores não casos, é raro que o responsável reporte Um projecto de susten-

4 6
são usados como informação de gestão. directamente ao presidente. Logo, ele não tabilidade pode pare-
tem voz nas decisões. Outro problema cer muito interessante,
Pouca típico é terem orçamentos escassos para mas dificilmente resul-
transparência gerir os projectos orçamentados. tará se não ouvir a opi-
Mu itas empresas nião dos beneficiários ou se ignorar a
optam por redigir Falta de posição das ONG que actuam no local.
relatórios de susten- envolvimento Em áreas remotas, sobretudo nas zonas de
tabilidade apenas com Algumas empresas preocu- exploração de recursos naturais, a empresa
informações genéricas pam-se mais em divulgar corre o risco de gastar muito dinheiro em
que omitem os assuntos polémicos. A BP, os seus relatórios de sus- acções que as populações locais não irão
por exemplo, acabou por usar o trágico tentabilidade aos investi- valorizar. h

vazamento de
petróleo na bacia
de campos em 2011:
a Chevron levou 11 dias
para detalhar informações
sobre o acidente
ExameFinal
Vladimir Russo Mestre em Educação Ambiental na Universidade de Rhodes em Grahamstown, África do Sul

O que eu aprendi
sobre a educação
ambiental em África
Redigir relatórios de sustentabilidade não faz com
que a Terra seja um melhor planeta para se viver

A
o longo de mais de uma década de tra- cordam que deve ser aplicado a todos os sectores. Este conceito, que desde a sua
balho envolvendo a educação ambien- apresentação, em 1987 pela Comissão Brundtland, foi tendo vários significados, é
tal na África Austral aprendi que há três importantes definido como sendo o “desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades
factores a ter em consideração. Estes factores são a base de algumas ideias gerais das gerações actuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de sa-
sobre o papel da educação ambiental na divulgação e implementação do conceito tisfazerem as suas próprias necessidades”.
de sustentabilidade no nosso país. Enquanto educador ambiental, é necessário analisar o significado deste con-
Em primeiro lugar, a educação ambiental não é uma “coisa” que se transmite ceito para melhor poder discutir com os alunos, público e colegas. Nessa análise,
de um ser humano para o outro. É um processo de aprendizagem onde actores in- podemos compreender que neste conceito se assume saber quais são as nossas
dividuais (indivíduo) e colectivos (organizações, grupos, associações, educadores) necessidades actuais (independentemente da situação económica de cada um, a
constroem, em conjunto, valores, conhecimentos, atitudes, habilidades e compe- sua localização geográfica e as suas expectativas de vida). Será que estamos a falar
tências para melhor gerir o ambiente, tanto o natural, como o construído. de necessidades básicas? Por outro lado, é explícito neste conceito que as necessi-
Este conjunto de valores e competências tem como objectivo comum a garan- dades das gerações futuras serão iguais às actuais. Algo que com o avanço tecno-
tia de um ambiente sadio e não poluído, conforme recomendado no Artigo 39.º da lógico, alterações climáticas, aumento populacional, não parece correcto assumir.
nossa Constituição, assim como a sustentabilidade da humanidade. A sustentabi- Em terceiro lugar, os processos de educação ambiental não levam à imediata
lidade é vista como um conceito abrangente assente na interdependência de três mudança de atitude das pessoas, mas devem ser desenvolvidos no sentido de levar
componentes fundamentais — a ambiental, a social e a económica — visando a à tomada de acção e resolução de problemas. No contexto da sustentabilidade, os
perpetuidade da satisfação das necessidades humanas. processos de educação ambiental devem incidir na construção de valores, conhe-
Por ser um conceito bastante amplo, e ao mesmo tempo com interpretações cimentos, atitudes, habilidades e competências que permitam às pessoas, associa-
diferenciadas — dependendo da disciplina em análise, e do contexto do indivíduo ções, sector privado e Estado serem mais proactivas.
ou da colectividade que o analisam ou empregam —, este termo é muitas vezes Desenvolver relatórios de sustentabilidade, políticas descrevendo os princípios
usado como um “chavão” sem um significado claro. Deste modo, tratar o conceito de desenvolvimento sustentável, realizar estudos ambientais, fazer campanhas de
“sustentabilidade” nos processos de educação ambiental é uma tarefa complexa, marketing socioambiental não faz com que a Terra seja um melhor planeta para
tanto para quem ensina, como para quem aprende. se viver. Aqui, o papel da educação ambiental reveste-se de crucial importância.
Em segundo lugar, a educação ambiental não é apenas o processo de passagem Primeiro, porque é feita de um modo contínuo. Segundo, por ajudar na análise crí-
de informação de uma pessoa para outra, de uma forma estruturada ou informal, tica das nossas actividades resultando numa melhor compreensão dos problemas
através dos meios de comunicação social ou dos sistemas formais de ensino. Os ambientais. Terceiro, por traduzir o conhecimento em acções práticas de protecção
processos de educação ambiental incluem também uma análise crítica da infor- do ambiente e que se reflectem na qualidade de vida das pessoas.
mação recebida e uma construção e desconstrução do significado dos conceitos, Educação ambiental no contexto da sustentabilidade em Angola deve, no meu
situações e mensagens. Este processo permite ao educador analisar a mensagem entender, fomentar o debate crítico sobre os três pilares da sustentabilidade (social,
que quer partilhar e ajudar na sua interpretação. económico e ambiental), a sua aplicação prática na vida de cada um e como os
Olhemos, por exemplo, para o conceito de “desenvolvimento sustentável” (do nossos conhecimentos e habilidades podem traduzir-se em acções que diminuam a
qual mais tarde emana o conceito de “sustentabilidade”) que muitas pessoas con- nossa pegada ecológica. h

82 | EXAME SUSTENTABILIDADE 2012 | www.exameangola.com


Plantando juntos para uma Angola mais verde
Projecto Namibe Verde
Mais de 4200 árvores plantadas no deserto do Namibe

Você também pode gostar