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Especial www.exameangola.com
Dezembro 2012 v 500 kz
Sustentabilidade
clima lixo mais
5 projectos angolanos
pioneiros no mercado
mundial de carbono
programa angola limpa
investirá 6 mil milhões
de dólares até 2025
• O desafio da superpopulação
• a era dos combustíveis verdes
• chegou a lampâda inteligente
Lista das 6
empresas-modelo
em responsabilidade social e ambiental em Angola
Chevron empresa sustentável do ano
Sumário
chevron:
A primeira empresa
sustentável do ano
eleita pela EXAME
Entrevista INOVAÇÃO
08 João Serôdio Para o professor da Universidade Agostinho 50 Cradle to cradle A EXAME esteve em Petropólis para
Neto, o futuro do país pode estar na produção alimentar conhecer o biossistema que transforma esgotos em energia
54 Aviação Os grandes fabricantes de aviões aderiram aos
angola combustíveis verdes para reduzir as emissões de carbono
12
Alterações climáticas Conheça cinco projectos angolanos 56
Lâmpadas Mais luz com menos consumo de electricidade
em fase de validação para receberem créditos de carbono 58
Reciclagem Garrafas de plástico que são 100% recicláveis
18 Políticas públicas As novas leis para um novo ambiente
20 Resíduos urbanos A revolução na gestão dos lixos já está Empresas modelo
em curso. Conheça as metas e os investimentos até 2025 61
Metodologia Saiba como a EXAME escolheu as seis
24 B iodiversidade O plano para salvar a floresta do Maiombe empresas-modelo de sustentabilidade a operar em Angola
26 Sociedade civil O caso da Juventude Ecológica Angolana e quem nos ajudou a seleccionar as melhores práticas
28 A rte O perfil da artista plástica Daniela Ribeiro que cria 66 Chevron A empresa sustentável do ano distingue-se pela
obras a partir de telemóveis usados e outros desperdícios protecção de pessoas e ambiente e o apoio às comunidades
70 Odebrecht Os projectos Acreditar e Kukunga Pala Kukula
Opinião são trunfos da construtora brasileira, em Angola há 27 anos
32
Eufrazina Paiva A deputada e ambientalista explica como 72 BP A quarta maior empresa do mundo tem uma política
é que Angola poderá aproveitar melhor a riqueza natural de responsabilidade social baseada nas parcerias locais
74 BESA Economia, social, ambiente e cultura são os quatro
Global pilares para a sustentabilidade segundo o banco do planeta
34 Jeffrey Sachs O prestigiado economista americano diz 76
Total Nos últimos cinco anos, a petrolífera investiu cerca
que chegou a hora do mundo passar dos discursos à acção 64 milhões de dólares na política de responsabilidade social
38
Ellen Shapiro A especialista em sustentabilidade alerta, 78
BAI O BAI Arte é a iniciativa mais mediática do banco.
no seu novo livro, para os danos ambientais na China Conheça outros projectos na saúde, desporto e educação
40 Demografia Lidar com o crescimento da população, que 80 Como fazer Erros típicos dos programas de sustentabilidade
hoje é de 7 mil milhões, será o maior desafio deste século
44 Energia O mundo já entrou na “era dourada” do gás Exame final
natural. Saiba quem lidera esta corrida à escala planetária 82 VAmbiental
ladimir Russo Recomendações do mestre em Educação
48 E conomia verde O tema que animou o debate na RIO +20 pela Universidade de Rhodes, da África do Sul
O
Filipe Correia de Sá
(filipe.sa@medianova.co.ao)
Director Executivo: Jaime Fidalgo
documentário Gasland, nomeado para os Óscares de 2010, mostra cenas (jaimefidalgo@exameangola.com)
onde os moradores de fazendas acendem um isqueiro junto à torneira e a Director de Arte: Jorge Ribeiro (jorgeribeiro@exameangola.com)
água se transforma literalmente em fogo. Realidade ou ficção? Para mui- Coordenadora editorial da Edição Especial:
Cássia Ayres
tos o mundo já entrou na “era dourada do gás”. A Agência Internacional de Colaboraram nesta edição:
Andrea Vialli, Bruno Ferrari, Filipe Cardoso, Fabiane Stefano,
Energia (AIE) estima que os investimentos na exploração do gás natural José Alberto Gonçalves Pereira, Luiza Dalmazo,
Mariana Segala, Sérgio Teixeira Jr. (texto), Eufrazina Paiva,
chegarão aos 20 biliões de dólares em 2035. O paradoxo: boas perspectivas para a indústria e Vladimir Russo (colunistas), Antónia Correia (secretariado)
preocupação para os ambientalistas que já falam na iminência de “fractura hidráulica” e apelam Fotografia: Carlos Moco (editor),
Carlos Augusto, Daniel Miguel, Jacinto Figueiredo, Maura Gueve,
à aplicação rigorosa dos princípios do desenvolvimento sustentável. Curiosamente, enquanto Pedro Nicodemos (fotógrafos), Rosa Gaspar (assistente)
os países desenvolvidos percebem na chamada economia verde uma oportunidade de confron- Direitos Internacionais: Exame Brasil (texto e imagens),
AFP, Graphic News e IStockPhoto
tar a crise financeira que se instalou no planeta, os emergentes vêem o tema com desconfiança, Multimédia e Internet: Géraldine Correia (directora),
supondo ser mais um instrumento de manobra dos ricos para restringir o desenvolvimento dos e Isabel Dalla (site@exameangola.com)
demais países. Continuar a crescer em índices satisfatórios, proporcionar a melhoria da quali- www.exameangola.com
dade vida das pessoas com uma produção baixa de carbono e no uso sustentável e eficiente dos
recursos naturais é a receita da economia verde. Publicidade
222 006 409
Em 2011, a marca do crescimento humano atingiu os 7 biliões. Prevê-se que o planeta che- comercial@medianova.co.ao
gue a 9 biliões em 2050 e ultrapasse os 10 biliões até ao final do século. O desafio de alimen- Comerciais:
Bruno Fundões (918 200 106 / 923 791 605),
tar 10 biliões de pessoas voltou a estar no centro do debate sobre sustentabilidade. Somos nós Viviani Kanzóvia (918 800 981 / 924 079 696),
Witman Luamba (918 800 982 /937 149 739)
qualificados para mudanças em direcção a um mundo mais equilibrado e melhor? Facturação: Firmino Pinto (+244 918 800 980)
Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável é preciso que seja:
Registo Minist. Comunicação Social: MCS-560/B/2009
1. Ecologicamente correcto;
Tiragem: 5 mil exemplares
2. Economicamente viável; Depósito Legal: 261-09
3. Socialmente justo; Distribuição: Media Nova Distribuição
Tel: +244 943 028 039
4. Culturalmente diverso. pontodevenda@medianova.co.ao
Com base nestes pressupostos, a Exame decidiu lançar um desafio às empresas nacionais Assinaturas
e estrangeiras em Angola, no sentido de medir o grau de envolvimento do empresariado local Antónia Correia: 927 954 034
antonia.correia@imprescrita.co.ao
com os conceitos da sustentabilidade. Em última análise, uma consciência sustentável significa
uma vantagem competitiva se integrar uma estratégia única da organização e não for conside- Impressão: Damer Gráficas, SA
EXAME — Condomínio Alpha, Ed. 6, 1.º
rada apenas como parte da política de marketing e comunicação. Que lições podemos aprender Sector de Talatona; Luanda-Sul, Angola;
das empresas que investem em Angola? A resposta ao desafio da Exame fala por si nas pági- Tel.: 222 003 275; Fax: 222 003 289;
nas desta revista, permitindo-nos olhar para o panorama empresarial sobre uma nova óptica e exameangola@gmail.com
A revista Exame (Angola) é um licenciamento internacional da
um maior campo de consciência em que pontificam como marcos os indicadores do desenvol- revista Exame (Brasil), propriedade da Editora Abril.
vimento humano.
Termino com a mesma reflexão da carta da edição anterior da Exame, mas sob uma pers-
pectiva localizada:
Em 2030, uma criança nascida neste momento em Angola terá a idade para eleger e ser
eleita. Que compromisso assumimos agora para com o seu futuro?
Propriedade: IMPRESCRITA
Imprensa Escrita, SA
Sustentabilidade: o futuro N.º de Matrícula: 1279-07
Conservatória do Registo Comercial de Luanda
contempla-nos no que fazemos agora
Para realizar grandes obras, como hi- do negócio. Não se trata apenas do cumprimento
droelétricas, rodovias e projectos de saneamento da legislação, por mais rigorosa que ela possa ser,
básico, um amplo conjunto de acções voltadas à mas de ir além, fazer mais do que o exigido, inves-
mitigação de impactos e à utilização racional dos tir em iniciativas consistentes e avançadas, reali-
recursos naturais é colocado em prática. A con- zar pesquisas e estudos pioneiros que se tornem
servação do meio ambiente, da fauna, da flora e referência nacional e até internacional. A políti-
da biodiversidade juntamente com o desenvol- ca de sustentabilidade da O-debrecht estabelece
vimento social e econômico (e isso é entendido e as referências sobre o tema para posicionamen-
praticado em cada um dos projectos que contam to interno e externo perante a sociedade de um
com a participação da Odebrecht) fazem parte modo geral e o mundo empresarial em particular.
reconhecimento em sustentabilidade
Recentemente a Odebrecht venceu o Prémio de Sustentabilidade na décima edição da Feira Internacional de
Equipamentos e Materiais de Construção Civil, Obras Públicas, Urbanismo e Arquitetura “Projekta by Constroi
Angola 2012” , realizada nas instalações da FIL/Luanda no período de 25 à 28 de Outubro. No evento que
contou com a participação de 380 expositores, a Odebrecht recebeu também um “Prémio Especial” pela sua
participação contínua, activa e dinâmica em todas as edições da Feira Projekta by Constroi Angola
A Odebrecht estabeleceu para si o desafio de ser reconhecida como
uma empresa comprometida com a criação e o oferecimento de
um legado às populações das áreas de influência de suas obras de
engenharia e construção e de suas operações industriais .”
A Odebrecht estabeleceu para si o desafio de ser cipal o conceito de inclusão: é essencial que as
reconhecida como uma empresa comprometida comunidades sejam envolvidas nesse processo
com a criação e o oferecimento de um legado às de aprimoramento, com a participação directa
populações das áreas de influência de suas obras de seus membros na manutenção, no aperfei-
de engenharia e construção e de suas operações çoamento e na multiplicação das transforma-
industriais. Esse legado tem como pilar prin- ções realizadas e dos benefícios conquistados.
“
a agricultura
é o futuro”
João Serôdio, professor de Biologia da Faculdade de Ciências da
Universidade Agostinho Neto, acredita que o futuro de Angola estará
na produção alimentar dirigida, sobretudo, aos países asiáticos.
Defende que a educação ambiental deveria fazer parte do currículo escolar
Cássia Ayres
J
oão Serôdio trabalha -ministro do Ambiente entre 1997 e 1999. Qual é, na sua opinião, a relação entre
na área ambiental há “Professor Serôdio”, como também é conhe- a ecologia e a economia?
40 anos. Além de educa- cido, é filho de um engenheiro silvicultor Tudo está ligado à ecologia. Ambas as pala-
dor, começou por ser quadro e entrou na área ambiental por influência vras advém de uma mesma raiz: ecos, que
do Ministério da Agricultura, do pai. Nesta entrevista, ele defende que a em grego é oikos, significa “casa”. São ter-
primeiro como técnico médio agrícola e educação ambiental é a grande prioridade mos indissociáveis. Se a economia não tiver
depois como médico veterinário. Foi vice- rumo ao desenvolvimento sustentável. como base a ecologia, não sobreviveremos.
Mas não há vantagens ambientais... as pessoas precisam de aprender a evitar misturada com o lixo, se vai acumular
Enquanto os combustíveis fósseis são pro- os desperdícios. Aí entra mais uma vez a nas ruas, servindo de fonte para a multi-
blemáticos depois da sua utilização, os questão da educação ambiental. plicação de mosquitos e outros focos de
biocombustíveis trazem problemas ainda doença. Outro exemplo, é o edifício-sede
antes, através da desmatação para novas É preciso rever hábitos de consumo... do Gamek — Gabinete para o Aproveita-
terras agrícolas, da utilização maciça de Sem dúvida. O angolano consome de mento do Médio Kwanza. Quando lá tra-
agro-químicos e de grandes quantidades forma desenfreada o que gera desperdí- balhei, em 1988, não tinha interruptores
de água e, no final da cadeia, na acumula- cio e lixo. É frequente ver, na cidade de para desligar as luzes. Ficava completa-
ção dos resíduos da produção. Em vez de Luanda, pessoas com mangueiras de água mente iluminado 24 horas por dia. Esta
apostar nos biocombustíveis Angola deve, a lavar viaturas, a “varrer” a calçada com prática correspondia ao conceito ameri-
em alternativa, fazer um esforço de inves- jactos de água tratada, que posteriormente, cano do século xx, que apagar as luzes da
tigação científica, na busca de novas fontes casa seria um sinal de “pessoas pobres”.
de energia limpa. É aí que reside o futuro. Espero que esta situação já tenha sido
agricultura tradicional:
É importante formar e resgatar as
técnicas ancestrais de cultivo que não
passaram para as gerações seguintes
4 Angola fez, na década passada, um plano prospectivo até 2025,
onde se equacionaram diversos cenários de desenvolvimento.
Agora, apenas é necessário colocar essas premissas em prática.
Podemos dizer que, felizmente, a grande maioria delas está a ser
aplicada. Mas ainda há muito que fazer na área ambiental.
Mercado de
carbono chega
a Angola
Usar tecnologias amigas do ambiente vale dinheiro. Muito dinheiro.
Angola já tem cinco projectos em fase de validação, de forma a receberem
créditos de carbono que poderão ser comercializados internacionalmente
Cássia Ayres e Jaime Fidalgo
A
lterar a matriz pro-
dutiva dos países
o mercado de carbono movimentou
industrializados em
nome das alterações climáti-
179 mil milhões de dólares em 2011.
cas é algo que vai levar muito África representa menos de 1% do total
tempo e custar muito dinheiro. Para per-
mitir a adequação das economias desen-
volvidas às metas de redução dos gases Quioto) como os do Anexo 2 (países em também permite que os países desenvol-
de efeito estufa (GEE) definidas no pro- desenvolvimento, isentos dessas obriga- vidos comprem toneladas de CO2 que não
tocolo de Quioto, foi criado o mecanismo ções), para que se desenvolvam economi- foram emitidas por países em desenvolvi-
de desenvolvimento limpo (MDL). Através camente seguindo critérios sustentáveis. mento graças à implantação de tecnologias
deste mecanismo, é possível obter as redu- Na prática, tanto os governos como os limpas em diferentes áreas. Um crédito de
ções certificadas de emissões com projec- privados ganharão um incentivo finan- carbono equivale a 1 tonelada não emitida
tos sustentáveis, os chamados créditos de ceiro, se provarem que os seus projectos (por isso o esquema é apelidado pelos crí-
carbono, que depois podem ser comercia- industriais adoptam tecnologias limpas ticos de “licença para poluir”).
lizados no mercado internacional. capazes de parar os temidos GEE: dióxido Na lista dos sectores elegíveis (ou seja,
O mecanismo funciona numa via em de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido abrangidos pelo MDL), destacam-se a
dois sentidos, que apoia tanto os países do nitroso (N2O). O mercado de carbono visa geração, distribuição e conservação de
designado Anexo 1 (países industrializa- dois grandes incentivos: a redução das energia (renovável ou não renovável),
dos com obrigações de redução de emis- emissões; e o incentivo ao investimento as indústrias de transporte, mineração,
sões de GEE no âmbito do Protocolo de em tecnologias amigas do ambiente. Mas construção e produção de metais e ainda
de 3,6 mil milhões de dólares na mitiga- tico que pode demorar 18 meses e inclui
ção das alterações climáticas. Só que o a aprovação do projecto como “elegível”,
Novo centro valor dos créditos de carbono apoiados a validação (por parte de uma entidade
pela ONU, as chamadas reduções cer- internacional), a obtenção da aprovação
de estudos tificadas de emissões, caiu cerca de 70% do país anfitrião (pela Autoridade Nacio-
ao longo dos últimos 12 meses, devido nal Designada — AND) o registo, a imple-
Inaugurado a 8 de Agosto o CETAC
à grande oferta de créditos (a fasquia de mentação do projecto, a verificação e a
(Centro de Ecologia Tropical e Alte-
rações Climáticas), visa desenvolver
1000 milhões de certificados emitidos foi certificação (pela Convenção das Nações
estudos e investigações aplicadas batido em Setembro) e à queda na procura Unidas sobre Alterações Climáticas) para
para assegurar a melhoria da quali- devido à desaceleração global da econo- que haja a emissão de créditos de carbono.
dade ambiental e da gestão da água. mia. Hoje a cotação da tonelada de car- Angola, que aderiu à Convenção-Qua-
O criação do novo centro permitiu a bono está entre 5 e 16 dólares. Durante a dro das Nações Unidas para as Alterações
inserção no mercado de trabalho de conferência da UNFCCC, em Durban, Climáticas, já deu passos firmes desde a
42 jovens licenciados com especiali- em Dezembro no ano passado, na África fundação da AND em 2010. O órgão, que
zações em Engenharia Florestal, En- do Sul, o preço chegou ao menor patamar está ligado ao Ministério do Ambiente,
gelharia Agronóma ou Veterinária e de sempre: 3 dólares — dez vezes abaixo cria os critérios de avaliação dos projectos
estudantes do Instituto Superior Po- do pico das cotações em Março de 2006. que pretendem concorrer ao mecanismo
litécnico. Em declarações à imprensa,
O problema de fundo é que os grandes de desenvolvimento limpo. Já estão em
a ministra do Ambiente realçou que
o CETAC tem laboratórios com meios
produtores de GEE não ratificaram o Pro- fase de validação os cinco primeiros pro-
modernos para investigar a qualida- tocolo de Quioto, caso dos Estados Unidos jectos, todos na área de energia — barra-
de de água e irá celebrar protocolos ou da China e da Índia (que, sendo países gem de Cambambe (um de reabilitação e
com universidades angolanas e ou- em desenvolvimento, não têm essa obri- outro de ampliação), barragem de Gove,
tras instituições ligadas ao estudo gação). As atenções estão voltadas para parque eólico do Tômbwa e o Angola LNG
das alterações climáticas. a Europa em plena crise económica. No de gás natural. Juntos, somam 24 milhões
ETS (European Union’s Emissions Trading de toneladas por ano em créditos e colo-
System), o maior mercado de carbono do cam Angola como o terceiro país do conti-
mundo, com 11 mil empresas, cada crédito nente, atrás da Nigéria e da África do Sul.
a agricultura, e os projectos em prol da vale hoje 8,32 euros (cerca de 10,5 dóla- Existem ainda outros projectos em curso
biodiversidade, como a reflorestação de res), quando há um ano a média foi de 13 como a substituição de lâmpadas antigas
áreas degradadas. Outras iniciativas que euros (16,5 dólares). Mas o que realmente por outras mais “amigas do ambiente”
valem créditos de carbono são os aterros preocupa os investidores é a insegurança (projecto Onda Verde). A lista completa,
sanitários com captura de gás metano, o sobre o futuro do acordo de Quioto e o do com 19 iniciativas, incluem a nova central
aproveitamento de biogás a partir da agri- próprio mercado europeu de carbono que hidroeléctrica de Laúca, diversas mini-
cultura ou da compostagem de resíduos aguarda decisões quanto à sua eventual -hídricas espelhadas pelo país, fábricas de
sólidos urbanos e a incineração de lixo. reformulação. Este é um dossiê “quente” reciclagem de alumínio e de outros resí-
Segundo um estudo do Banco Mundial, que está nas mãos da dinamarquesa Con- duos, a instalação de energia fotovoltaica
o mercado mundial de carbono movi- nie Hedegaard, comissária da União Euro- nas áreas rurais ou a melhoria dos fornos da
mentou 179 mil milhões de dólares em peia para as Alterações Climáticas. Cimangola para que reduzam as emissões.
2011. A Europa representa o maior mer- “Este é um mercado com grande expec-
cado, enquanto África tem menos de 1% 19 projectos em curso tativa de retorno, tendo em vista a elevada
do total. Segundo a revista The Economist, No meio da incerteza uma coisa é certa: o procura por parte das economias desen-
o MDL ajudou a reduzir 1000 milhões de mercado de carbono é uma grande opor- volvidas pelos créditos, que visam a ade-
toneladas de carbono em sete anos, atraiu tunidade para os países em desenvolvi- quação às metas de Quioto”, afirma Giza
215 mil milhões de dólares em “investi- mento como Angola. Mas até receber os Martins, titular da AND. A opinião da
mentos verdes” para os países em desen- créditos, os investidores precisam de seguir especialista é comprovada pelas estatísti-
volvimento e teve um impacto estimado as fases do MDL, um processo burocrá- cas. A expectativa para o mercado de car-
bono é que atinja os 500 milhões de dólares
em dez anos. “Os projectos das mini-hídri-
Angola é o terceiro país do continente. cas, onde se espera instalar 52 unidades,
e o dos sistemas fotovoltaicos isolados,
projectos valem 24 milhões de toneladas por exemplo, representam um horizonte
no MDL onde essas receitas financeiras
por ano em créditos de carbono poderão fazer a diferença na viabilidade
do projecto”, revela Giza Martins. “Para se é que, segundo a AND, a comercialização corre directamente com África na atracção
ter uma ideia da rentabilidade, se um pro- de créditos de CO2 adiciona entre 1% e de projectos. Outros argumentam que o
jecto gerar uma substituição equivalente 10% à taxa de retorno sobre investimento. mercado de carbono foi uma forma inte-
a 10 milhões de toneladas de carbono por Estes factos levam a crer que Angola tem ligente dos países em desenvolvimento
ano, algo perto daquilo que fará o projecto um grande potencial em termos de projec- terem acesso às tecnologias limpas de
Angola LNG (avaliado em 12 milhões de tos elegíveis, sobretudo no sector da ener- vanguarda. Abias Huongo, responsável
toneladas de CO2) e multiplicarmos por gia. Ainda assim, o mercado é olhado com do Ministério do Ambiente pela área das
um preço de 4,8 euros, isso significa contar desconfiança por alguns países em desen- alterações climáticas, reconhece as vir-
com um montante de 48 milhões de euros volvimento que vêem no mecanismo uma tudes do mercado de carbono, mas con-
por ano em recursos adicionais”, completa. licença para as nações ricas continuarem sidera que “os verdadeiros problemas do
É importante salientar que os lucros dos a poluir socorrendo-se da aquisição dos planeta só se resolverão quando os países
créditos pertencem a quem adopta a tec- créditos em economias emergentes. Assim poluidores mudarem a sua matriz energé-
nologia limpa, sejam eles actores públi- pensam alguns países da América Latina tica”. Até lá, Angola, como se vê, já entrou
cos, privados, ou mistos. Outra vantagem (Venezuela, Colômbia e Bolívia) que con- a todo o “gás” na rota do carbono. h
feira do ambiente:
Ponto de encontro do sector
já vai na segunda edição
Colocando o
Ambiente na agenda
Maura Gueve
Os últimos quatro anos foram decisivos para a criação das principais políticas
ambientais no país. Em jeito de balanço, o Ministério do Ambiente – Minamb,
destaca a consolidação da lei de base do ambiente, o regulamento de avaliação
de impacte ambiental e a criação da comissão multisectorial, medidas que
trouxeram o tema para a agenda de todos os ministérios
Cássia Ayres
O
Ministério do Nos últimos quatro anos, só no quadro a sua parte”, resume Abias Huongo, res-
Ambiente é relati- jurídico, foram criados 20 novos regula- ponsável pela área das alterações climá-
vamente jovem em mentos dentro da lei de base do ambiente ticas. Na governação, os destaques estão
Angola. Teve início em em áreas consideradas estratégicas, como na definição de estratégias para três áreas
1992, ano que marca a 1.ª água, resíduos, biodiversidade, petróleo e consideradas prioritárias para as políticas
Conferência das Nações Unidas para o clima. A preocupação das outras áreas do do Executivo que derivaram da participa-
Ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Governo e da sociedade civil com o ambiente ção de Angola na cimeira do Rio 92 — a
Naquela época, o Minamb era apenas cresceu desde a criação da comissão mul- biodiversidade, as alterações climáticas e
uma secretaria de Estado e, ao longo da tisectorial, em Junho de 2010. Ao todo, são a desertificação — onde novos mecanis-
sua evolução, chegou a partilhar funções mais de 15 instituições a discutir a relação mos e programas estão a ser desenvolvidos.
com a área das pescas e, mais tarde, com das questões ambientais. “A transversali-
o urbanismo. Hoje, é um Ministério dinâ- dade é a principal marca do Minamb. As visibilidade internacional
mico que tem ganho um protagonismo informações compartilhadas com outros No circuito mundial da sustentabilidade,
crescente no país devido à transversabili- sectores criam os pressupostos para o desen- Angola, que outrora era um participante
dade da sua actuação. volvimento sustentável, onde cada um faz espectador, também tem tido uma posi-
4
• Plano de contingência contra
derrames de petróleo no mar. centro tem uma parceria com a Universidade José Alterações Climáticas
• Decreto presidencial sobre as Eduardo dos Santos, do Huambo. O Ministério fez a implantação efec-
tiva da convenção do Rio 92 no que
2
substâncias que empobrecem
a camada do ozono. Educação Ambiental se refere aos temas:
• Regulamento sobre a qualidade Durante os anos 90, houve um forte engaja- • Inventário de emissão de gases de efeito
da água. mento das organizações não governamentais estufa — concluído em 2011.
(ONG), caso do JEA e da Rede Mayombe, na sensi- • Estratégia nacional de alterações
• Regulamento para prevenção e bilização da sociedade para o ambiente. Contudo, a
controlo da poluição das águas climáticas — concluída em 2007.
falta de financiamento externo influenciou a quali-
nacionais. dade e o alcance das acções de educação. O Ministé- • Estratégia nacional — projectos da
• Relatório nacional sobre saúde rio reconhece que sem o apoio da sociedade civil será autoridade nacional designada — em curso.
e ambiente. difícil alcançar resultados e tem como meta redefinir • Projecto de substituição de lâmpadas de
• Plano estratégico da rede nacional os projectos de relevância de forma a funcionar como baixo consumo — Em curso em Luanda,
de áreas de conservação. um mediador junto dos agentes privados. Huíla e Benguela.
Recolha e deposição 25 50 25 50
do passivo disperso
Infra-estruturas de tratamento 161 1 383
e deposição final
Valor total de investimento 1 061 1 545 4 672 6 404
(intervalo estimado por período)
Observações
A
gestão dos resíduos
é indicador de desen-
luanda produz 5 mil toneladas de lixo
volvimento das socieda-
des modernas e, ao mesmo
por dia (1 quilo por habitante), valor
tempo, um dos problemas acima da média dos países emergentes
mais complexos devido às suas repercus-
sões ambientais e de saúde pública. O cres-
cimento demográfico e económico coloca gentes na produção de lixo por habitante. O da pesquisa realizada com as administra-
uma forte pressão sobre o sistema de ges- lixo colectado vai para o único aterro sani- ções provinciais em 80% do território nacio-
tão de resíduos urbanos que leve Angola a tário da cidade, o de Mulenvos. Mas o pas- nal, juntamente com empresas que fazem a
alcançar os objectivos de desenvolvimento sivo restante é acumulado nas ruas, onde recolha de dados para a ONU.
do milénio e transforme o lixo em oportu- milhares de indivíduos convivem directa A boa notícia divulgada pelo Ministério
nidade de negócio com benefícios sociais. e diariamente com todos os perigos para a do Ambiente (Minamb) à EXAME é que a
A situação actual é preocupante. Segundo saúde pública que daí advêm. legislação que coloca em prática o plano foi
a Elisal, empresa angolana de recolha de Se observamos o mesmo cenário nas pro- aprovada pelo Conselho de Ministros, em
resíduos na capital, Luanda produz 5 mil víncias, o número cai para 460 gramas por Julho, e deve entrar em vigor ainda este ano
toneladas de lixo diariamente (aproximada- habitante, mas, segundo as projecções até após a apresentação da Comissão Multissec-
mente 1 quilo por habitante), o que coloca 2025, a tendência é que o descarte passe para torial para o Ambiente que disseminará o
a cidade acima da média dos países emer- o dobro por habitante. Os números advêm tema para as outras instâncias do Executivo.
Centro/Plataforma
de Compostagem
Ecocentro 2017
Capitais de província
2017 com centro de triagem
Todas as capitais de província
2022
2022 Restantes capitais e em cidades
Todas as sedes de município com produção >70kton./ano
* CTV (centros de tratamento e valorização). Dimensão da rede pode ser optimizada com estações/plataformas de transferência.
Salvem o
Maiombe
Angola preside à “Iniciativa transfronteiriça da
floresta do Maiombe”, que reúne a RDC e o Congo.
O plano para a conservação da biodiversidade até
2017 precisa de um investimento de 40 milhões de
dólares. A FAO, Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura, vai dar um ajuda
Filipe Cardoso
P
rimeiro surgiu o tor público-privado e diplomatas, pediu Unidas para Alimentação e Agricultura
apelo. A ministra do apoios para a implementação da “Iniciativa (FAO), que anunciou um apoio incondi-
Ambiente, Fátima Jar- transfronteiriça da floresta do Maiombe”, cional à iniciativa. “Estamos disponíveis
dim, durante um encontro rea- que reúne Angola e as repúblicas do Congo para apoiar este projecto, sobretudo nas
lizado em Luanda com a classe e Democrática do Congo (RDC). A res- áreas de reforço das capacidades, de pre-
empresarial, representantes de órgão das posta surgiu rápida por parte de Maria servação e protecção assim como a gestão
Nações Unidas em Angola (como o PNUD Helena Semedo, representante regional e o aproveitamento dos recursos florestais.
e a FAO), além dos representantes do sec- para África da Organização das Nações Julgamos importante que as comunidades
Por uma
juventude mais
ecológica Durante os anos 90, um grupo de jovens foi pioneiro do
movimento da sociedade civil pela preservação do ambiente. A Juventude
Ecológica Angolana fez de um assunto ainda pouco conhecido no país,
uma causa de vida para centenas de jovens. O seu trabalho já foi
reconhecido com o Prémio Ambiental Global 500 da ONU
Cássia Ayres
E
nquanto muitos jovens da sua público. Caso contrário não haveria adesão. práticas à volta do ambiente. Como resul-
idade pensavam no Mussulo Por isso, pensámos em fazer actividades tado, os participantes passavam a integrar
como destino de praia e na Ilha divertidas e cativantes, tais como progra- a JEA e a tornarem-se novos activistas e
do Cabo como fonte de diversão mas de rádio e jogos educativos”, resume educadores ambientais. “Ambos os projec-
nocturna, estes jovens tinham José Silva, representante da organização. tos tornaram-se referências, tanto a nível
algo diferente em mente. Eles reuniam-se Foi dessa ideia que nasceu o primeiro pro- nacional como internacional ”, salienta José
aos fins-de-semana em campanhas de lim- grama radiofónico ambiental em Angola Silva com indisfarçável orgulho.
peza e de plantação de árvores nas praias do criado em 1995 e denominado Telefone
Mussulo e da Ilha. Cerca de dois anos depois, Verde, feito pela Rádio LAC. O programa Trabalho de formiguinha
já eram um grupo organizado com mais de que era exibido semanalmente, com o for- A partir de 1996, a JEA entrou num ciclo
200 voluntários que se dividiam em acções mato de uma hora de duração, incluía deba- de actividades de formação de formado-
de sensibilização ambiental nas comunida- tes, curiosidades, notícias e denúncias dos res em metodologias de educação ambien-
des e nas escolas. Assim foram sendo deli- abusos cometidos ao meio ambiente (a sua tal. O que antes parecia não ter resultados
neados os princípios e as metas daquilo que rubrica mais polémica e popular). aparentes, tomou corpo quando o conhe-
é hoje a principal ONG ambiental no país. Outro momento marcante para a histó- cimento chegou às escolas, outras ONG
A Juventude Ecológica Angolana (JEA) ria da educação ambiental em Angola foi a parceiras, instituições governamentais,
foi constituída oficialmente em 1991 e cedo realização entre 1999 a 2004 do concurso igrejas, os meios de comunicação social
ganhou notoriedade devido à ousadia das interescolar denominado “Olimpíadas do e a sociedade civil em geral. “É um pro-
suas acções e à capacidade de engajamento Ambiente”, realizado nas províncias de cesso quase invisível, mas que surpreende
voluntário da juventude. Ao regressarem Lunda, Huíla e Benguela. O projecto envol- quando é feito por muitas mãos”, sintetiza.
da Cimeira da Terra, na Rio 92, o grupo veu, anualmente, mais de 2 mil jovens estu- A força e entusiasmo destes jovens pio-
tinha como meta a educação ambiental dos dantes do ensino médio de escolas públicas neiros fez com que a JEA conte actualmente
jovens como forma de sensibilizar o resto e privadas e teve como lema “Conhecer com mais de 1500 membros voluntários,
da população a partir de boas práticas. “A para Conservar”. Consistia no desenvol- desde estudantes a trabalhadores, e tem
estratégia tinha de ser atractiva junto do vimento de várias actividades teóricas e delegações em oito províncias do país: Ben-
E se
do lixo
se fizesse
arte?
O trabalho da artista angolana Daniela Ribeiro tem estado ligado aos
desperdícios tecnológicos e à sua reutilização. Depois da estreia, em 2009, com a
exposição de máscaras Tchokwe futuristas, fará em Janeiro uma reinterpretação
dos símbolos nacionais a partir de telemóveis usados. Mal esperamos para ver...
Jaime Fidalgo
A
artista plástica A filha cresceu na capital, na “fase quente”, formação, chegou a ser vice-ministro das
Daniela Ribeiro, tal até aos 12 anos. Era uma eximia desportista Indústrias Pesadas. “Passei a minha infân-
como tantos angolanos, tem — aos 9 anos já era nadadora profissional do cia nas fábricas”, resume. Também recorda
dois passaportes: o de Portu- Petro. “Foi uma infância inesquecível. Pas- com nostalgia a escola de artes plásticas e
gal e o de Angola. Paradoxal- sei pelas modas todas. Fazíamos natação até de trabalhos manuais do Barracão. “Foi lá
mente não nasceu em nenhum deles, mas, que a piscina sofria um rombo e íamos todos que aprendi a mexer com o barro, com as
sim, em Moçambique (Nampula), para onde para o xadrez. Depois faltavam as peças que colas.” Todas estas influências seriam deci-
o pai, Luís Ribeiro, tinha sido enviado para vinham da União Soviética e íamos para o sivas na sua carreira como artista plástica.
uma missão temporária. Daniela ficou por ténis. Também experimentei a ginástica “Desde pequena que pegava em coisas que
lá até ter 1 ano de idade e nunca mais vol- rítmica. Faltava tudo em Luanda, por isso encontrava na rua para fazer esculturas.”
tou. As suas origens e, mais importante do tínhamos de ser inventivos e construir os Mas não foi menos importante a sua aber-
que tudo, o seu coração, sempre estiveram nossos próprios brinquedos a partir do que tura para o mundo. É que Daniela, tal como
aqui. Daniela faz parte de uma quinta gera- encontrávamos à nossa volta”, recorda. Outra sucedeu com tantos angolanos da sua gera-
ção de angolanos, espalhada pelas provín- memória que retém é o fascínio pelas maté- ção, foi estudar para o exterior. Como havia
cias de Luanda, Huambo, Uíge e Benguela. rias-primas. O pai, engenheiro mecânico de feito o Liceu Francês em Angola a escolha
recaiu sobre um colégio interno em Lyon coragem para me despedir, resolvi pintar do Paço, em Lisboa (mais tarde, criou pai-
(França), onde viveu até aos 16 anos. “Não quadros. Comecei por aguarelas, acrílicos néis para o átrio de entrada do grupo Ren-
foram momentos fáceis. Eu era alvo de pia- e óleos. O meu processo era intuitivo. Fun- tipar ou da sede do Banco Mais). É também
das por vir de Angola e falar português. Mas cionava por tentativa e erro. Fechava-me em 2005 que cria o Artin Park, uma asso-
a cultura francesa até acabou por me mar- em casa e experimentava mexer em tudo ciação sem fins lucrativos que apoia artis-
car nalgumas coisas. Ao nível do pensa- até acertar.” A sua primeira exposição foi tas em início de carreira. Três anos depois,
mento filosófico ou dos grandes ideais dos um sucesso. “Em duas horas, vendi tudo. a convite da Italian Motors, muda-se para
direitos humanos, por exemplo.” Seguiu- As pessoas gostavam daquele experimen- o Spazio Dual, um espaço de 1000 metros
-se Portugal onde, em 1993, fez um curso talismo e dos padrões e traços africanos.” quadrados na Avenida da República. Leva
de Design, Imagem e Criação por Compu- Daniela, no entanto, também investiu na consigo 11 artistas de áreas distintas como as
tador e, em 1998, se licenciou em Relações sua formação. Em 2000, frequentou o curso artes plásticas, joalharia, fotografia, moda,
Internacionais. Estagiou no Centro de Estu- de Pintura da Sociedade Nacional de Belas graffiti, design, pintura, Web e vídeo. “É
dos Europeus e passou pelo Ministério da Artes e, em 2006, o curso de Escultura na uma espécie de incubadora que promove o
Economia e o Gabinete da Presidência da ARCO. No mesmo ano, especializou-se em intercâmbio com jovens talentos de outras
República portuguesa. As coisas até não lhe Moldes de Resina e Silicone na Escola Pas- nacionalidades.”
corriam mal, mas o trabalho administra- cal Rosier, em Paris. “No fundo, andava a O projecto foi vantajoso para todos. “Nós
tivo não era a sua “praia”. “Era um mundo fazer coisas que já tinha aprendido no Bar- ganhámos um espaço fantástico e os nos-
diferente do meu. Demasiado elitista. Eu racão”, diz divertida. sos artistas deram vida ao show-room de
vinha de Angola onde éramos todos cama- automóveis”, justifica. Hoje, a Artin Park
radas. Nada me apaixonava. Nada vinha do uma ascensão meteórica tem outro espaço no Beato, vocacionado
coração”, justifica. A sua carreira, embora tardia, teve uma para a escultura. A Praça Martins Moniz,
A opção de se tornar artista, sempre desa- ascensão meteórica. Desde 2002 que pas- o Casino de Lisboa e as Olaias (graças a um
conselhada pelos pais, só foi tomada aos 30 sou a expor em diversas galerias e espaços protocolo com a Câmara Municipal de Lis-
anos. Começou quase por acaso. “Houve nobres como o Convento do Beato, em Lisboa. boa que deseja revitalizar os bairros sociais)
uma altura em trabalhei na organização de Em 2005, participa na Feira Art de Madrid são locais em vista para galerias. Daniela
eventos. Mal dava por mim já estava a cons- e nesse ano é convidada para criar quatro Ribeiro também quer replicar o conceito,
truir e a decorar as salas. Quando arranjei obras para o mediático restaurante Terreiro em Luanda, no “comboio” do Miramar.
Angola,
istockphoto
menos
Há quem culpe o crescimento
económico pelos problemas
ambientais. Isso faz sentido?
A ideia de que precisamos de travar a eco-
conversa
nomia para não agredir o ambiente está
errada. A redução da pobreza depende do
progresso económico. Mas é preciso des-
vincular o crescimento da destruição da
natureza. Há quem diga que combinar as
e mais
duas coisas não é possível, pois o uso de
recursos naturais cresceu nas últimas déca-
das e não podemos prescindir deles. Creio
~
que não devemos olhar para trás, mas, sim,
para a frente. É bom lembrar que, para os
acçao
países pobres, o crescimento é uma questão
de vida ou morte. Eles precisam de apoio
para adoptar tecnologias novas, mais caras
e que conservem os ecossistemas. Além da
tributação sobre as emissões de carbono,
defendo que os países de altos rendimen-
tos paguem pelas suas emissões, criando
Para o famoso economista americano Jeffrey Sachs, um fundo global que financie os países
pobres. Investimentos desse tipo podem
encontros como a Rio+20 só beneficiam advogados ser parte da saída para a crise.
e diplomatas. Ele diz que a fase de discutir já passou. É viável propor essa medida num
Agora é tempo de se colocar os projectos em prática momento de crise económica?
É verdade que os políticos não gostam de
mariana segala falar de novos impostos. Os americanos
são alérgicos a essa palavra como se per-
S
cebeu na recente campanha presidencial.
obram advogados e Conselheiro da Organização das Nações Sei que as minhas sugestões estão fora
faltam engenheiros. Unidas (ONU), Sachs está à frente dos da agenda política, mas a verdade é que
Esse é, em resumo, o problema Objectivos do Milénio, um projecto criado a estratégia actual não resulta. Quando a
de conferências como a Rio+20 em 2000 para reduzir a pobreza no mundo. crise se abateu sobre os Estados Unidos,
e de outros eventos que se pro- Ele orgulha-se da simplicidade da inicia- em 2008, o consumo caiu. Para o reto-
põem a discutir soluções para as questões tiva: há oito metas, que podem ser des- mar, alguns defenderam cortes de impos-
ambientais, na visão do americano Jeffrey critas numa folha de papel. Nem tudo o tos, outros sugeriram benefícios especiais.
Sachs, um dos mais prestigiados econo- que está escrito foi colocado em prática, Sempre achei que nenhuma delas funcio-
mistas actuais, professor da Universidade mas houve alguns avanços importantes. naria porque os consumidores estão endi-
Columbia, em Nova Iorque. Para ele, a preo- Segundo os dados da ONU, o número de vidados. Defendi que apostássemos numa
cupação central desse tipo de encontros pobres já caiu para metade. Obviamente, retoma baseada em investimentos em tec-
deveria ser como tornar as energias alter- que a aceleração do crescimento econó- nologias limpas, com um horizonte de dez
nativas (nomeadamente a eólica e solar) mico nos países emergentes foi essencial. anos. Infelizmente, o Presidente Barack
comercialmente viáveis — e não produ- “A humanidade gosta de progresso, claro. Obama optou por estímulos de curto prazo.
zir documentos de centenas de páginas Mas é preciso crescer, sem destruir a natu- Estamos com a economia estagnada, sem
com ideias sobre como salvar o planeta. reza”, disse ele em entrevista à EXAME. consumo e sem um plano de investimento.
A boa notícia é que países como os BRIC E não se muda da noite para o dia a forma tente como conciliar desenvolvimento eco-
(Brasil, Rússia, Índia e China) hoje são como abastecemos os carros ou aquece- nómico com preocupações ambientais. Só
muito mais poderosos economicamente. mos as casas. Mas é preciso começar por que o documento, a Agenda 21, tinha cente-
Há mais nações para liderar esse esforço. algum lado. Entrámos numa fase perigoso nas de páginas de intenções. Muito extenso,
das alterações climáticas. Os estragos vão muito complicado. Na prática, não ajudou
Qual deveria ser a prioridade? piorar mais rapidamente se não agirmos. a mudar nada. Um sistema com base em
É necessário desenvolver tecnologias que acordos leva os problemas para o nível da
nos permitam crescer, usando menos com- E já vê alguns sinais de mudança? negociação. Desde então houve encontros
bustíveis fósseis, que representam 80% do Sim, mas caminhamos de forma lenta. em Cancum, Copenhaga ou Durban, onde
consumo global de energia. Há duas alter- Eventos como a Rio+20 têm demasiada diplomatas que não conhecíamos discu-
nativas: ou usamos mais as energias lim- conversa e pouca acção. Há 20 anos, na tiram durante dias. E as soluções ficaram
pas, como a eólica e a solar, ou capturamos Eco92, assinámos um bom acordo para sempre para o ano seguinte. Esse sistema
o carbono emitido quando consumimos enfrentar as mudanças climáticas. Con- está a beneficiar advogados e diplomatas.
combustíveis fósseis em vez libertá-lo no sagrámos o conceito de desenvolvimento Mas nós precisamos é de engenheiros capa-
ambiente. Qual é a correcta? Não sabemos. sustentável. Discutimos de forma consis- zes de solucionar problemas quotidianos.
judith shapiro,
da american
university:
“Se a China não parar
de poluir, o resto
do planeta sofrerá”
Uma factura
made in China
A maior autoridade sobre o meio ambiente chinês, a americana Judith Shapiro,
diz que o país está a exportar os seus problemas, e o mundo pagará por isso
Luiza Dalmazo
E
m apenas duas décadas, por produtos made in China, os preços gresso chinês foi o meio ambiente. Este é
a China saiu de uma situação caíram — o que, nalguns casos, ajudou a o tema do seu último livro China’s Envi-
de quase irrelevância no cená- controlar a inflação —, mas tudo isso teve ronmental Challenges (Os desafios ambien-
rio económico para o posto de um custo. Para a antropóloga americana tais da China”, numa tradução livre). “A
maior potência industrial do Judith Shapiro, directora do Programa sua ânsia por matérias-primas e as suas
mundo, responsável por quase 20% da pro- de Recursos Naturais e Desenvolvimento fábricas poluentes estão a deixar marcas
dução global. As lojas e os supermercados Sustentável, da American University, em que extrapolam as fronteiras do país”, diz
de todos os continentes foram invadidos Washington, a principal vítima do pro- Judith, na entrevista exclusiva à EXAME.
Mark Henley/panos
A poluição ainda tentam que o país poderia passar por uma
Gilberto tadday
RUMo aos
10 MIL
Lidar com o crescimento da população do planeta — e com as
Plantação de algodão
no mato-grosso (brasil):
Menos de metade da produção agrícola
mundial é usada como alimento humano
delfim martins
O
primeiro bilião sur- “O que teremos de fazer para que todos que persiste, mas deve ser tomada como
giu no início do os habitantes do planeta possam levar uma um aviso, não como algo inevitável.
século xix. O segundo vida produtiva e próspera?”, interroga-se Há inúmeros dados para comprovar esta
levou menos tempo: cerca Jeffrey Sachs, professor de Economia da tese. Metade do planeta sobrevive com 2
de 120 anos. Nos últimos 50 Universidade Columbia, em Nova Ior- dólares ou menos por dia. Mais de 800
anos, o crescimento da população da Terra que. São dois os pontos principais, aponta milhões de pessoas vivem em musseques.
acelerou de vez. Os 3 biliões de 1960 tor- Sachs. O primeiro, é uma mudança tecno- E há um número similar de não alfabeti-
naram-se 4 biliões em 1974, 5 biliões em lógica que reduza o impacto ambiental de zados. Quase 1000 milhões de pessoas não
1987 e 6 biliões em 1998. Em 2011, a marca todas as actividades humanas. Isso signi- se alimentam devidamente ou sofrem de
chegou aos 7 biliões. Devido ao enrique- fica tornar realidade uma economia menos desnutrição. Os estudos dizem que as calo-
cimento das populações e à urbanização, dependente do carbono. Nas palavras do rias dos alimentos produzidos no planeta
o ritmo de crescimento está a diminuir. próprio Sachs, “isso vai exigir uma coo- seriam suficientes para alimentar cerca de
Ainda assim, o planeta deve chegar aos 9 peração global sem precedentes”. Mas o 9 biliões a 11 biliões de pessoas. Mas menos
biliões em 2050 e passar os 10 biliões até segundo ponto, é mais controverso: esta- de metade da produção agrícola é dirigida
ao final do século. Um cenário malthu- bilizar o crescimento populacional. “A à alimentação humana. Uma parte dirige-
siano (alusão ao pensador inglês Robert redução das taxas de natalidade deveria ser -se aos animais domésticos e a maioria tem
Malthus no século xviii) de fome genera- incentivada nos países pobres. Uma rápida as indústrias como destinatários.
lizada e esgotamento dos recursos naturais e voluntária redução na natalidade como Perante números assim, é difícil ser opti-
não parece razoável, embora haja quem sucedeu na China, por exemplo, seria dese- mista. Mas eles ainda existem. “O mundo
leve essa ameaça a sério. O desafio de ali- jável”, escreveu Sachs num artigo recente. é capaz de providenciar comida, abrigo e
mentar 10 biliões de pessoas voltou a estar O cenário descrito por Thomas Malthus há prosperidade a todos os seus habitantes”,
no centro dos debates da sustentabilidade. dois séculos, afirma Sachs, é uma ameaça diz Joel Cohen, do laboratório de popula-
10
8,9 2100
2050 2,1 2,3
8,6
1930 1940
1,9
1920 2,5
1950
2040 1,8
1910
3
1,7 1 1960
8,1 1900
1,3
1850
1800
3,7
2030 1970
7,5 4,4
1980
2020 5,3
Táxis congestionam
7 6,1 1990
as ruas de Nova iorque: 2011 2000
©lAtinStoCk
A era
dourada
do gAs
´
natural A exploração de reservas subterrâneas de
gás nos Estados Unidos continua. E o coro de
protestos dos ambientalistas também...
sérgio teixeira jr., em Nova Iorque
N
o relatório anual não tenha reduzido as previsões de cresci- No passado recente, o gás natural era
que traça os cená- mento dessa fonte de energia, muitos países considerado o parente pobre dos combus-
rios energéticos já decidiram não investir mais nessa opção. tíveis. Mas a procura crescente de energia
globais da Agência Inter- O motivo foi o acidente ocorrido na central por parte dos países emergentes, as incer-
nacional de Energia (AIE) de Fukushima Daiichi, no Japão. Mas se o tezas políticas no mundo árabe e a inova-
foram apontadas algumas dúvidas impor- futuro do nuclear é incerto o do gás natural ção tecnológica têm causado um interesse
tantes. A mais contundente refere-se ao está garantido. A AIE afirma que o mundo jamais visto pelas reservas espalhadas pelo
futuro das centrais nucleares. Embora a AIE já entrou na “era dourada do gás”. planeta (veja quadro “Gás para mais de meio
século”). Mais do que isso: a combinação da estão no subsolo dos Estados Unidos, e são Hoje, as reservas de gás já são conside-
alta dos preços com os novos métodos de esses poços que geraram uma das maiores radas um elemento essencial na política
extracção gerou uma “corrida ao gás” em controvérsias ambientais dos últimos anos. energética dos Estados Unidos. Estima-se
áreas que antes eram consideradas pouco “O potencial dessas reservas não convencio- que, até 2020, metade do gás natural usado
atraentes do ponto de vista económico. A nais é desconcertante”, diz Andrew Leach, no país venha dessas fontes subterrâneas.
AIE estima que os investimentos na explo- da Universidade de Alberta, no Canadá. “O O problema é que a exploração está sob a
ração de gás natural chegarão aos 20 biliões volume pode ser 10 a 12 vezes maior do que mira dos ambientalistas. O método usado
de dólares até 2035. As maiores reservas todo o petróleo consumido na história.” é conhecido como “fractura hidráulica”
documentário Gasland,
nomeado para os Óscares:
Alerta para o perigo de beber água
em áreas de exploração de gás
Alfredo CAliz/pAnos
Com a economia a precisar de gás, os Estados Unidos têm
tido dificuldades em encontrar um equilíbrio entre os
interesses das grandes empresas e os dos ambientalistas
(fracking, em inglês, um nome que dá azo A contestação à extração do gás também Por todas estas razões, o braço-de-ferro
a trocadilhos menos próprios). O processo se faz sentir nos Reino Unido, onde a explo- com os ambientalistas não dá sinais de abran-
consiste em fazer perfurações horizontais ração ainda está no início. Uma das pionei- damento. Nos Estados Unidos, o governo
e injecções de água e químicos no subsolo ras, a Cuadrilla, admitiu ter sido responsável parece estar do lado da indústria. Afinal de
a alta pressão, de modo a libertar os gases. por dois pequenos tremores de terra que contas, não se pode ignorar uma fonte de
O problema é que as substâncias usadas ocorreram este ano devido à injecção de energia barata e produzida em casa. Porém,
para expelir os gases podem contaminar os água no subsolo. Neste caso, existem solu- o Presidente Obama, decerto recordado
lençóis freáticos. E esse risco não é expli- ções alternativas. Uma delas, já testada no do que sucedeu no Golfo do México com
cado aos proprietários dos terrenos (em Canadá e nos Estados Unidos com sucesso, o petróleo, nomeou uma comissão parla-
regra pequenos produtores rurais) que os consiste em fazer injecções com gel de pro- mentar para estudar o impacto da explo-
alugam às grandes empresas. O documen- pano. Este tem o mesmo efeito da água — aju- ração no subsolo que deixou vários alertas.
tário Gasland, nomeado para os Óscares dar a expelir o gás das formações rochosas “O impacto ambiental tem de ser reduzido”,
de 2010, mostra cenas onde os morado- profundas —, mas apresenta uma diferença disse o presidente da comissão, John Deu-
res dessas fazendas acendem um isqueiro fundamental: o calor e a pressão fazem com tch, professor do MIT. O problema é que a
junto à torneira, e a água, literalmente, que o gel evapore e volte à superfície sob a economia precisa de “gás”. Daí que o país
transforma-se em fogo. Trata-se de um forma de gás. Nessa altura o propano pode não possa enjeitar a possibilidade de entrar
filme de culto para os críticos do fracking. ser recapturado e reaproveitado. na “era dourada do gás natural”. h
Rumo à
Economia
Verde
Continuar a crescer a índices satisfatórios, proporcionar a melhoria da
qualidade de vida às populações, com base numa produção de baixo carbono
e no uso sustentável e eficiente dos recursos naturais. Este é a receita da
economia verde que esteve no centro dos debates da Rio+20
Cássia Ayres
E
nquanto os países gir o desenvolvimento dos demais países. Mas para os peritos do PNUMA, Pro-
desenvolvidos per- Este foi o cenário que justificou o impasse grama das Nações Unidas para o Meio
cebem na designada “econo- das negociações durante a cimeira RIO+20, Ambiente, com sede em Nairóbi (Quénia),
mia verde” uma oportunidade realizada em Junho (veja EXAME n.º 28), é possível conciliar crescimento económico
de dar a volta à crise financeira que pretendiam definir metas concretas, res- com sustentabilidade. A conclusão está no
que se instalou num planeta de recursos em ponsabilidades e cumprimento de prazos. recente relatório “Rumo a uma economia
extinção, os emergentes, vêm o tema com Mais uma vez, frustrou-se uma excelente verde: Caminhos para o desenvolvimento
desconfiança, supondo ser mais um instru- oportunidade para se passar do discurso à sustentável e erradicação da pobreza —
mento de manobra dos ricos para restrin- acção durante os trabalhos da conferência. uma síntese para os tomadores de decisão”.
Quando nada
se perde e tudo
se transforma...
Imagine um sistema capaz de digerir resíduos biológicos que advêm dos
dejectos de seres humanos e de animais. E que transforma esse material tóxico
e poluente em nutrientes capazes de serem reaproveitados pela natureza
infinitamente. Bem-vindo ao mundo dos biossistemas
Cássia Ayres, em Petrópolis (Brasil)
P
rovavelmente nunca
ouviu falar em bios-
o primeiro biossistema foi construído
sistema. Trata-se de um bio-
digestor capaz de transformar
no rio de janeiro e tornou-se uma
os dejectos de seres humanos e referência em tecnologia sustentável
animais em nutrientes. É uma solução sim-
ples e barata, mas com efeitos comprovados
na produção de biogás, biomassa e biofer- Naquela comunidade carioca, a implan- trabalho dos professores Michael Braun-
tilizantes, cuja utilização tem crescido em tação do biossistema já “alimenta” mais de gart (da HUI) e José Lutzemberger, (Funda-
comunidades carenciadas em todo o mundo. 1000 habitantes. A única creche da loca- ção Gaia) e os conceitos de engenharia do
A EXAME visitou o funcionamento de lidade já usufrui de gás metano para a professor Georg Chan (Fundação Zeri). E
um biossistema no bairro de Vila Ipanema, preparação da merenda escolar e alguns o primeiro biossistema foi construído em
em Petrópolis, região serrana do estado do moradores começaram a receber, gratui- Silva Jardim, no Rio de Janeiro, conside-
Rio de Janeiro. A experiência de direccio- tamente, o gás canalizado. Este é o caso rado uma referência em tecnologia susten-
nar resíduos do sistema de saneamento de Geralda Alves de Arruda que, segundo tável durante a Eco92.
daquela comunidade para ser aprovei- confidenciou à EXAME, há seis meses não Outra experiência bem-sucedida ocor-
tada biologicamente é pioneira no Brasil. compra gás. Jorge Fernando revela que o reu no Haiti, depois do terramoto em 2010,
“O sistema é totalmente limpo e não uti- próximo passo da empresa é levar o sistema através da ONG Viva Rio que executou os
liza mais nada além dos detritos que vêm a outras localidades carenciadas do país. projectos e preparou a população para a
das residências, a partir da rede de cana- O modelo original nasceu na Alema- construção de biossistemas. “Como resul-
lização”, esclarece o arquitecto Jorge Fer- nha, em 1993, fruto da colaboração com tado, não só reduzimos a proliferação de
nando, da empresa Arquitectura Positiva. o Hamburger Umweltinstitut (HUI) e do doenças, como produzimos gás metano para
O esgoto
produzido Filtro Zona
nas casas é anaeróbico de raízes Tanque
canalizado até Biodigestor com Tanque
O material orgânico
ao biodigestor. macrófitas de peixes
Bactérias que deixa o
Lá dentro, o
alimentam-se da biodigestor está A água sai limpa do
material sólido
matéria orgânica, cheio de nutrientes biodigestor e também
desprende-se da
produzindo o biogás, e serve para vem cheia de nutrientes,
água e decanta
mistura de metano reuperar solos pode até ser usada num
e gás carbónico tanque de peixes
Matérias-primas
Produtos Separação
Nutrientes Ciclo orgânicos do lixo Ciclo Fabrico
Biológico Técnico
Consumo
animal
Degradação Produto
biológica
a Corrida
verde Chega
aos Céus
N
Grandes fabricantes a trilogia CINEMATO- que dos aviões. A pressão por alternativas
de aviões ou GRÁFICA “regresso
ao Futuro”, um clássico
sustentáveis tem recaído sobre os princi-
pais fabricantes do sector e não pára de
pequenas empresas dos anos 80, o personagem aumentar. Proporcionalmente, os aviões
de tecnologia. Todas vivido pelo actor Michael
J. Fox viaja pelo tempo a bordo de um
são o meio de transporte que mais polui.
As cerca de 17 mil aeronaves comerciais
querem combustível DeLorean, um carro desportivo que era em actividade no mundo respondem por
verde para se reduzir abastecido com lixo e voava. Os carros
ainda não voam, mas o lixo já está a ali-
2% das emissões dos gases de efeito estufa.
E os 1000 milhões de carros em circula-
as emissões de mentar aviões, ou quase. Na corrida pelo ção respondem por 15% dos poluentes.
carbono do sector “combustível verde” para a aviação, vale
qualquer tipo de matéria-prima. Plástico
Segundo a Associação Internacional
do Transporte Aéreo, a meta do sector é
reciclável, serradura, palha, óleo de cozi- reduzir as emissões de carbono em 50%
nha e algas são algumas das opções que até 2050, tendo como base o ano 2005.
fabiane stefano estão a ser estudadas para entrar no tan- Tal como tantas vezes sucede quando o
uma luz
no deBate
amBiental
A era das lâmpadas incandescentes está a chegar ao fim.
As novas tecnologias de iluminação prometem reduzir a
conta de electricidade — e o impacto no ambiente
Bruno Ferrari
U
ma das invenções mais, até 40 anos. Por enquanto, o seu
mais importantes preço ainda é uma barreira. Nos Estados
da história só poderá Unidos, custa, em média, 15 dólares. Mas,
ser vista em museus dentro segundo um estudo da consultora ameri-
Bioluminescência
de alguns anos. A lâmpada cana McKinsey, tal custo tenderá a descer.
incandescente, inventada por Thomas Edi- A previsão é que os valores tenham uma A lâmpada biológica na verdade
é uma bactéria anaeróbia, que vive
son, em 1879, terá a sua venda proibida queda de 30% ao ano até 2016. A McKin-
dentro da água e se alimenta de
em diversos países do mundo até o final sey calcula que, dentro de oito anos, a tec- resíduos como o lixo doméstico.
do ano. O problema das incandescentes nologia LED passará dos actuais 7% de
está no consumo de energia. Essas lâmpa- quota no mercado mundial de ilumina- Consumo: Não gasta electricidade.
das apenas convertem 5% da electricidade ção para 50%. Vida útil e preço: Ainda não
consumida em luz — o restante é elimi- A confirmar-se este cenário, as novas tem aplicação comercial.
nado sob a forma de calor. Num mundo lâmpadas seguirão o padrão de outros pro-
cada vez mais preocupado com as questões dutos tecnológicos inovadores. Na década
de sustentabilidade e da redução de cus- de 50, com o início da popularização das
tos, deixou de fazer sentido continuar com televisões, as famílias americanas gasta-
esse desperdício. O argumento favorável vam 10% do seu rendimento anual para
à reforma das incandescentes ganha força comprar um aparelho. Hoje, o preço de um Segundo os cálculos do Departamento
quando se examinam as opções disponí- produto comparável equivale a 0,8% dos Nacional de Energia dos Estados Unidos,
veis — e as novidades que estão a caminho. rendimentos. O que dá sustentação à ideia a troca de lâmpadas incandescentes pelas
Os especialistas dizem que chegou a vez de que as lâmpadas mais eficientes se vão LED nos lares das famílias gerará uma
da iluminação ganhar destaque no que se espalhar pelo mundo é o incentivo finan- poupança de até 50 dólares por ano. “Os
convencionou chamar eficiência energética. ceiro. Ao aderir, os consumidores gastam gastos com a iluminação representam, em
Um frigorífico hoje gasta metade da energia menos em energia. De acordo com estima- média, 20% do consumo mensal de ener-
dos seus antecessores em 1993. Uma lâm- tivas, para cada tonelada de carbono que gia de uma residência”, diz um relatório
pada de LED (sigla em inglês para díodo uma empresa deixa de produzir ao trocar recente do instituto americano. “Com a
emissor de luz) gasta um décimo da ener- as suas lâmpadas, há uma redução de 183 troca de lâmpadas, as contas de electri-
gia de uma incandescente e dura muito dólares por ano nos gastos com energia. cidade podem cair para menos de 10%.”
oLed
A tecnologia substitui o bulbo
por uma placa fina de polímero
plástico, um composto orgânico que
se auto-ilumina na presença de energia.
Consumo: 20 a 25 watts (para a mesma
quantidade de luz de uma lâmpada
incandescente de 65 watts).
Vida útil e preço: Dura 25
anos e custa 450 dólares.
Luminescência
por eLétrons
A VU1, livre de mercúrio, tem um Led com
Além das lâmpadas de LED, começam nescentes que produzem luz processando cos, mas como surgiram milhões de novos
a aparecer alternativas nas prateleiras dos restos de material orgânico como o lixo. No consumidores que tiveram acesso a eles,
supermercados dos países ricos. A startup famoso Massachusetts Institute of Techno- o consumo de electricidade acabou por
americana Switch acrescentou um sistema logy (MIT), a ideia é fazer o LED absorver aumentar. Caso as investigações da Phi-
de arrefecimento líquido às lâmpadas de o calor do ambiente e convertê-lo em luz. lips ou do MIT tenham sucesso, as lâmpa-
LED. Lançada no início deste ano, a tec- “No futuro, apenas uma pequena parcela das poderão inverter essa tendência. Com
nologia faz com que elas durem mais de da energia que é utilizada pelos LED de essa poupanças ao nível da eficiência ener-
20 anos. Nos laboratórios da multinacio- hoje será necessária”, diz Rajeev J. Ram, gética, talvez seja possível levar luz às 1,4
nal holandesa Philips as inovações pro- professor de Engenharia Eléctrica, no MIT. mil milhões de pessoas que ainda vivem
metem ser ainda mais radicais. Nos seus Nas últimas décadas, os electrodomésticos na escuridão — sem aumentar a conta e
laboratórios testam-se bactérias biolumi- ficaram mais eficientes em termos energéti- sem agredir o meio ambiente. h
garrafas 100%
recicláveis A Ambev, que integra o maior grupo de cervejas do mundo, lançou
a primeira garrafa de PET 100% reciclável. Um exemplo de inovação
no qual a florescente indústria de bebidas angolana se deveria inspirar
andrea vialli
N
o Brasil, AS LATAS Mas há outros materiais que, infeliz- Este ano, no entanto, a Ambev, maior
DE ALUMÍNIO SÃO AS mente, não têm o mesmo status. É o caso fabricante de bebidas do país e que faz
ESTRELAS da reciclagem. das embalagens de plástico PET (muito usa- parte do maior grupo mundial do sec-
Mais de 98% das latas, das nas águas, sumos e refrigerantes), cujo tor, decidiu conferir ao plástico a mesma
depois de usadas, regres- índice de reciclagem no Brasil é de apenas atractividade que hoje é patente na lata de
sam à indústria. Reciclar 57%. Por esse motivo, a maioria das gar- alumínio. A empresa começou a introdu-
latas parece ser um bom negócio: 1 tonelada rafas vão parar ao lixo ou, pior ainda, são zir no mercado o Guaraná Antarctica de
de alumínio prensado vale 1500 dólares. descartadas em terrenos baldios e rios. 2 litros, numa garrafa de PET que é 100%
Empresas-modelo *
Foco no
desenvolvimento
humano
A
responsabilidade A lista das seis empresas-modelo é
social empresa- dominada pelas multinacionais do petró- Conferência
rial, o Investimento leo (que representam metade das finalis- Nacional de
social privado e a tas), uma de construção e obras públicas Responsabilidade
sustentabilidade e duas representantes da banca (entre elas Empresarial
corporativa são práticas recen- o maior banco de Angola). em Abril de 2013
tes no contexto empresarial angolano. A pesquisa realizada pela EXAME junto
Os dez anos de paz assinalados em 2012, dessas empresas que se destacaram como A EXAME aproveita esta oportu-
coincidem com o período em que Angola sendo socialmente responsáveis revela que nidade para saudar o Programa
fez a sua transição da economia planifi- os seus investimentos estão sobretudo foca- das Nações Unidas para o Desen-
cada para a de mercado. A reconstrução dos no atendimento directo às comunida- volvimento — PNUD, que se pro-
das infra-estruturas apoiada no aumento des e ao público interno (funcionários) em põe realizar um estudo, a ser
da produção do petróleo levou ao país programas de saúde, educação, geração divulgado em Janeiro de 2013,
números recorde de crescimento mun- de rendimentos e mitigação de impactos que visa mapear a responsabi-
dial (de dois dígitos desde 2002, excepto no meio ambiente. A mudança do para- lidade social em Angola, retra-
durante o período da crise económica digma da filantropia e do assistencialismo tando actores, áreas de actuação,
global). Infelizmente, o progresso econó- para programas e projectos estruturantes, números investidos, destinatários
mico não tem sido acompanhado de um emancipatórios e com visão longo prazo, foi e impactos gerados. “O estudo
crescimento do bem-estar das popula- outro aspecto altamente meritório detec- oferecerá elementos importantes
ções na mesma proporção. Não obstante tado durante este estudo. para a definição de prioridades
as melhorias evidentes, o desempenho no Outros critérios importantes como a das empresas, do Governo, das
sector social (nomeadamente na educa- governanção e a transparência nas relações ONG e agências multilaterais.
ção e na saúde) continua aquém do dese- com o Governo e com outros stakeholders Será algo que poderá suscitar a
jado, conforme demonstram os rankings das empresas (públicos de interesse) foram associação directa entre os acto-
internacionais como o Índice do Desen- também comprovados nos seus relatórios res que, segundo os dados pre-
volvimento Humano, da ONU. anuais de sustentabilidade (publicados a liminares deste estudo, tendem
Esse papel activo no sector social, como se par dos seus relatórios oficias de contas a actuar por núcleos isolados”,
sabe, não cabe apenas ao Estado. O aumento anuais). Está também a crescer o apoio a revela Glayson dos Santos, coor-
dos investimentos públicos trouxe compe- eventos artísticos e culturais, algo que a denador do Programa Empresa-
titividade ao sector privado que, por sua nova legislação sobre mecenato cultural rial Angolano do PNUD, o (PEA).
vez, tem a obrigação ética e moral de par- dará certamente mais um impulso. O referido estudo será divulgado
tilhar os seus resultados económicos com Contudo, o factor mais importante e que durante a Conferência Nacio-
os seus colaboradores e as comunidade demonstra a evolução da responsabilidade nal de Responsabilidade Social
onde está inserido. As grandes empresas, social em Angola está na tomada de cons- Empresarial, a realizar em Abril
neste sentido, têm uma responsabilidade ciência da organização como um compro- de 2013. Os debates serão acom-
acrescida. Não surpreende, por isso, que misso público, patente na sua ética interna panhados de uma exposição que
as eleitas pela EXAME como exemplos de e inserida na sua filosofia de gestão. Vale a trará casos práticos e modelos
excelência na sustentabilidade sejam das pena conhecer estes exemplos de boas prá- de participação das empresas.
maiores empresas a actuar em Angola. ticas de gestão nas páginas seguintes. h
1
O perfil dos Preenchimento As quatro Dimensões
Conselheiros do questionário
As empresas receberam um peso Geral
questionário baseado em quatro
critérios elaborados pelo Centro de
15 Procura apurar como a
empresa lida com a questão
Estudos em Sustentabilidade (GVces) da sustentabilidade internamente;
da Fundação Getúlio Vargas (Brasil) a quem cabe essa responsabilidade e
para a revista Exame que elaborou como é que ela se insere na estratégia
João Serôdio
uma versão resumida e adaptada global da empresa e nas relações com
Professor de Biologia da
Faculdade de Ciências da ao contexto de Angola. os funcionários e demais interessados.
Universidade Agostinho Neto
e com mais de 40 anos de
experiência em ambiente. peso Ambiental
2
Análise e 25 Procura medir o
Aprovação desempenho ambiental
do Conselho da empresa em temas como a
biodiversidade, as mudanças
Os questionários foram climáticas, a ecoeficiência e a
encaminhados ao grupo composto preservação dos recursos naturais.
Vladimir Russo por três conselheiros (à esquerda)
Mestre em Educação com reconhecida experiência no tema
Ambiental é director técnico da sustentabilidade em Angola e no peso Social
da empresa de consultoria
ambiental Holísticos.
exterior. Cada membro pontuou as 35 Como é que a empresa
seis empresas nos quatro critérios actua na responsabilidade
definidos pela EXAME apurando social perante os seus stakeholders
seis empresas-modelo finalistas. (ou públicos de interesse), caso dos
funcionários, clientes, consumidores,
comunidade, Governo e organizações
da sociedade civil.
3
Empresa
Glayson dos Santos Sustentável
Coordenador executivo peso Económica
do Ano
do Programa Empresarial
Angolano no âmbito do 25 Qual é o desempenho
PNUD (Programa das A empresa com a maior pontuação económico e financeiro
Nações Unidas para o atribuída pelo conselho deliberativo da empresa e que parcela dos seus
Desenvolvimento). foi considerada a “Empresa resultados que são afectos às áreas
Sustentável do Ano”. da responsabilidade social e ambiental.
do r a
Vence
2po3nt4
os
A
Chevron está em Angola há mais de “Proteger as pessoas e o ambiente” é um dos valores fundamen-
75 anos. Tem participações em quatro conces- tais da Chevron, que possui normas ambientais rigorosas para a
sões, duas das quais opera, sendo a maior emprega- monitorização da água (devido às descargas e fluidos de perfu-
dora estrangeira da indústria de petróleo em Angola. ração), do ar (queima contínua do gás) e do solo (eliminação do
As quatro concessões estão no Bloco 0, ao largo da lixo e protecção das águas subterrâneas). A empresa reconhece
costa da província de Cabinda; Bloco 14, em águas profundas, que as suas operações podem causar sérios danos à biodiversi-
Bloco 2, que fica na zona marítima do Noroeste de Angola, e no dade. Um risco que a levou a criar o sistema de gestão de excelên-
Bloco Fina Sonangol Texaco de zona terrestre. Alguns dos mais cia operacional, uma abordagem consistente para a conservação
importantes investimentos em Angola são a fábrica de queima da biodiversidade, que vai desde a concepção de novas instala-
de gás do Malongo; o projecto Mafumeira Sul, o projecto Ben- ções à realização das operações petrolíferas que visem minimi-
guela Belize–Lobito Tomboco e a fábrica de gás natural lique- zar os riscos e impactos, especialmente em ambientes sensíveis.
feito, no Soyo (Angola Liquefied Natural Gas Limited ou Angola Outro importante investimento da Chevron está na educa-
LNG), um empreendimento conjunto de gás natural liquefeito ção ambiental, através da norma de procedimentos operativos,
na zona terrestre. SOP 57 — Vida Selvagem de Malongo, que proíbe qualquer per-
turbação, alimentação, captura, morte ou ferimento de animais No âmbito da actividade petrolífera, a Chevron tem um pro-
selvagens. As medidas de educação ambiental estendem-se às grama de monitorização da quantidade da água, dos sedimentos
comunidades locais e às ONG. “A cada seis meses, a empresa e dos peixes e um plano de prevenção e de resposta rápida a der-
patrocina fóruns especiais durante os quais se partilham experi- rames. A operação do aterro sanitário iniciou-se em 2010, elimi-
ências sobre as melhores práticas para a preservação do ambiente nando a queima de resíduos no campo do Malongo. A Chevron
e oportunidades de parceria no domínio da protecção ambien- também tem investido na redução da queima rotineira em projec-
tal”, diz Filipe Silva Rodrigues, responsável pelo departamento tos como o da fábricas de gás de Cabinda e a do Angola LNG. Esta
de comunicação e imagem da Chevron em Angola. última, ainda não inaugurada oficialmente, representa um inves-
Na área da biodiversidade, a multinacional tem acções especí- timento de 10 mil milhões de dólares e visa processar diariamente
ficas como o programa de Monitorização da Tartaruga Marinha 1,1 milhões de pés cúbicos de gás natural, com uma média de ven-
nas praias do campo de Malongo, criado há mais de dez anos, que das diárias de 670 milhões de pés cúbicos de gás natural lique-
tem ajudado a proteger as espécies ameaçadas. Há ainda o pro- feito regaseificado e até 63 mil barris de líquidos de gás natural.
jecto de Monitorização de Mamíferos Marinhos, que visa mini- Mas nem só do petróleo vive a gigante americana, oitava maior
mizar as perturbações de ruídos em operações offshore, a captura empresa do mundo segundo a revista Fortune. A Chevron Tech-
e devolução de espécies aos seus habitat naturais e ainda a pro- nology Ventures está a estudar métodos avançados que visam
moção de recifes artificiais — aproveitando as plataformas des- aproveitar a energia solar no país. O uso de células fotovoltaicas
manteladas das operações no fundo do mar para a atracção de é uma das alternativas usadas pela Chevron para levar energia
peixes e outras centenas de espécies marinhas, tal como sucede eléctrica às povoações nas províncias sem acesso a electricidade.
num recife natural. Outra das normas ambientais da Chevron Na área da responsabilidade social, o destaque vai para a Ini-
consiste em identificar a pegada ambiental das suas operações no ciativa de Parceria em Angola, iniciada em 2002. No total, a Che-
formato de um mapa de cobertura do uso da terra (conhecido vron já investiu mais de 180 milhões de dólares em programas de
pela sua sigla na língua inglesa: LULC). apoio às necessidades de saúde, educação, economia, ambientais
erradicação da pólio: Doação de 1 milhão de dólares yola semedo: Embaixadora dos projectos sociais da Chevron
e sociais dos angolanos (60 milhões de dólares, os quais foram rismo como matéria curricular nas escolas secundárias de Angola
investidos nos últimos três anos). Em 2011, cerca de 2 milhões de (hoje está implementado em 45 escolas de nove províncias). Em
pessoas e 75 instituições foram apoiadas pela Chevron que tem na 2011, a Chevron investiu 310 mil dólares para a reabertura da
cantora Yola Semedo, a embaixadora para os programas sociais Biblioteca Municipal de Cabinda e mais 45 mil num programa
em Angola, em particular, no rastreio, prevenção e tratamento de ensino do Inglês para 30 mil estudantes. Em parceria com a
de doenças como a anemia falciforme, HIV/SIDA, malária e can- Africare, foram abertas pequenas bibliotecas e centros de infor-
cro da mama. Em Cabinda, a Chevron apoia o banco de sangue mática em Cacuso, província de Malanje
e o programa Sangue Seguro. Investiu 13 milhões de dólares em Na cultura, a Chevron possui, na sede em Luanda, um valioso
três novos centros de saúde e 6 milhões num programa que envia espólio de centenas de peças de arte angolanas. Em 2011, foi o
médicos às populações carenciadas. Este ano, doou 1 milhão de principal patrocinador do programa televisivo de talentos musi-
dólares ao Ministério da Saúde para o combate à poliomielite. cais Angola Encanta. No desporto, a Chevron e os parceiros dos
Blocos 0 e 14 financiaram com 1 milhão de dólares cada um o
erguendo a bandeira da angonalização Sporting Clube de Cabinda e o Atlético do Namibe e subsidia-
Na educação, os destaques vão para a competição educacional ram a compra de equipamento desportivo para 24 escolas de
Aprenda Brincando, que promove a aprendizagem fora da sala de Cabinda, participantes no programa anual de torneios de futebol.
aula; um concurso de redacção que abrangeu dez escolas primá- Na frente interna, os princípios de gestão de recursos huma-
rias públicas, a compra de 1600 livros para bibliotecas escolares nos estão definidos no documento The Chevron Way (À maneira
em Cabinda e a associação à Parceria Global Educativa do Disco- da Chevron). Uma das bandeiras da companhia em Angola é a
very Channel e ao Ministério da Educação, que visa a introdução “angolanização”, um processo contínuo de desenvolvimento,
da tecnologia audiovisual e de vídeos educativos para melhorar recrutamento e formação do talento angolano. O ano passado,
a qualidade do ensino. Há ainda um programa de capacitação, os trabalhadores nacionais perfizeram 88% da força de traba-
que forma administradores, funcionários e professores dos ensi- lho, estando 76% em cargos profissionais e de supervisão, e 45
nos primário e secundário nas 18 províncias e a concessão de 60 angolanos em missões de serviço fora do país. Recorde-se que a
bolsas a estudantes universitários de Cabinda. Chevron tem o seu próprio centro de formação, localizado em
No apoio aos negócios, a Chevron lançou o projecto de Agricul- Malongo, com professores próprios. Destaque ainda para o pro-
tura Integrada, em 2008, para promover a produção sustentável grama da Chevron de Oportunidades de Voluntariado.
e a assistência técnica a milhares de agricultores e existe um pro- Além da prática de campanhas de marketing social, visando
jecto de apoio ao sector pesqueiro de Cabinda que abrangeu 2700 promover a adesão da população aos programas sociais, a Che-
famílias. Recorde-se que a Chevron tem uma participação de 7% vron produz um site externo e público, uma revista trimestral
no Banco BAI Microfinanças e que, nos últimos dois anos, con- para os seus beneficiários a nível nacional e um programa de
tribuiu com 1,75 milhões de dólares para um projecto da ONU e rádio, Juntos com a Comunidade. Está ainda presente nas redes
do Ministério da Educação, que visa introduzir o empreendedo- sociais através do Facebook, Twitter e YouTube. h
r
1.º luga
2po2nt6
os
Sustentabilidade com
sotaque brasileiro
Há 27 anos presente em Angola, o grupo Odebrecht tem uma política
de sustentabilidade definida para dentro e fora do “canteiro de obras”.
No apoio social, destacam-se os projectos Acreditar e Kukunga Pala Kukula
O
grupo Odebrecht foi fundado no obras. A Odebrecht Angola possui outros investimentos e parti-
Estado Brasileiro da Bahia, em 1944, estando cipações, tais como o condomínio Atlântico Sul e participa em
presente em vários países da América, África, consórcios para a produção de diamantes e de petróleo.
Europa e Médio Oriente. A Construtora Nor- O grupo Odebrecht tem a sua política de sustentabilidade baseada
berto Odebrecht assinou o seu primeiro con- naquilo que é o ADN da empresa — a Tecnologia Empresarial
trato em Angola em 1984, para a construção da hidroeléctrica de Odebrecht (TEO) — uma cultura que enfatiza princípios como:
Capanda, num consórcio russo-brasileiro. Desde então, o grupo “Sobreviver, crescer e perpetuar.” Para a Odebrecht a perpetui-
fincou raízes em solo angolano, actuando em diversos projectos dade só é possível num ambiente de desenvolvimento sustentável.
em sintonia com o esforço de recuperação do país. Salientam-se Por isso, é que em cada um dos cerca de 20 contratos celebrados
projectos como a reabilitação do Canal da Matala, na província em Angola existe, pelo menos, um programa social dirigido às
de Huíla, que possibilitou a irrigação da região considerada um comunidades locais. Com esta metodologia, esclarece o direc-
dos celeiros de Angola, ou o redesenho urbanístico de Luanda tor de sustentabilidade, Felipe Cruz, a empresa consegue contri-
Sul e o sistema de captação, tratamento e distribuição de água buir para transformar cada um dos seus empreendimentos num
potável das Águas de Luanda e de Benguela, entre várias outras indutor de desenvolvimento sustentável e um vector de prospe-
100%
dos contratos incluem projectos sociais
100%
dos resíduos oleosos são armazenados
97%
dos resíduos são colectados
para as comunidades. em locais limpos e ajustados. e têm uma reutilização adequada.
ridade na micro-região em que está implantado. “A Odebrecht cado de trabalho. O segundo é o projecto Kulonga Pala Kukula,
entende que não pode nem deve substituir-se ao papel do Estado, baseado na província de Malanje, voltado para o abastecimento
mas ainda há muito a fazer para criar acções estruturantes, coe- de água e a promoção da agricultura familiar na região do Pólo
rentes com nossos valores filosóficos”, afirma o gestor. Dentro e Agroindustrial de Capanda. No âmbito deste projecto, a Odebre-
fora do seu “canteiro de obras”, o compromisso com a sustentabi- cht oferece assistência técnica para que as comunidades rurais
lidade da Odebrecht tem cinco vertentes: meio ambiente; mudan- produzam e comercializem os seus produtos nos mercados.
ças climáticas; programas sociais; saúde ocupacional; e promoção Na vertente da saúde, a empresa criou campanhas de prevenção
da saúde e segurança do trabalho. e de combate à malária e às doenças sexualmente transmissíveis
Dentro da área da engenharia e construção, a Odebrecht faz um e tem programas de orientação sobre planeamento familiar, de
inventário anual de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os ajuda às parteiras que são treinadas nas próprias comunidades e
impactos ambientais são avaliados desde a fase de viabilidade até à investe fortemente na limpeza e geração de resíduos.
executiva de um empreendimento. “Por exemplo, a frota de equi- Recorde-se que o grupo criou, em 2010, o Prémio Odebrecht
pamentos é monitorizada via satélite para evitar o uso indevido para o Desenvolvimento Sustentável, um concurso dirigido a
ou a queima não apropriada de combustíveis, há cuidados com o jovens universitários de Engenharia, que estudam nas universi-
descarte de óleos, filtros e outros componentes, sendo promovida dades angolanas, e premeia as melhores contribuições de enge-
a reciclagem de materiais. Num dos contratos, reciclamos óleo nharia para o desenvolvimento sustentável. A segunda edição
queimado que gera sabão para a comunidade do Zango”, justifica. deste prémio, realizada no ano passado, teve 23 grupos inscri-
Na responsabilidade social, a Odebrecht manifestou particular tos, num total de 45 alunos, 23 orientadores e 9 universidades.
orgulho em dois projectos ambicioso. O primeiro é o programa Foram premiados os três melhores projectos, no valor de 7500
Acreditar, criado no Brasil em 2009 e reproduzido em Luanda e dólares para os estudantes; 7500 dólares para o professor orien-
em Benguela, que consiste em oferecer formação integral a pro- tador e 7500 dólares para a universidade. Aos alunos vencedo-
fissionais para que possam estar mais capacitados para o mer- res foi oferecido um estágio na Odebrecht Angola. h
ar
2.º lug
1po9nt7os
A
britânica British Petroleum (BP), A BP inovou na sua metodologia de intervenção social, ao sair
quarta maior empresa do mundo do modelo de investimento directo nas comunidades para outro
por volume de facturação, está em Angola desde que privilegiasse a participação de parceiros locais (organiza-
os anos 70. Hoje, tem quatro grandes licenças no ções governamentais e não governamentais, líderes comunitá-
offshore angolano (Blocos 15, 17, 18 e 31 — lidera a rios, igrejas, instituições académicas e cooperativas de pequenos
operação nos dois últimos) e acesso a mais cinco licenças (Blocos empresários) em projectos e programas estruturantes. “Esta estra-
19, 20, 24, 25 e 26). O primeiro grande projecto da multinacional tégia reforça as capacidades institucionais e humanas dos agen-
foi o campo Grande Plutónio, Bloco 18 (50% do capital), que ini- tes sociais, habilitando-os a serem indutores do desenvolvimento
ciou a produção em 2007. A multinacional também é accionista sustentável”, afirma Gaspar Santos, director de sustentabilidade.
do Angola LNG, onde tem uma participação de 13,6%. Presente Os resultados directos têm sido sentidos em várias províncias do
em 80 países, a BP emprega cerca de 80 mil pessoas e a opera- país em sectores como a educação, desenvolvimento empresa-
ção angolana representa 7% da produção petrolífera do grupo. rial, energia e combate à pobreza, saúde, segurança e ambiente.
2639
em Angola pelo projecto Road Safety.
membros foram beneficiados
pelo projecto SAN de apoio à
agricultura nas províncias de
Cunene e Cuando Cubango.
82 famílias têm abastecimento de energia solar graças
ao projecto Paranhos, localizado a norte de Luanda.
É o caso do projecto Mabuia, realizado na Comuna da Funda Outra aposta forte da empresa é a educação. A BP financia,
pela CLUSA (National Cooperative Business Association), que desde 2007, o mestrado em Direito do Petróleo e Gás, da Univer-
visa o apoio às associações de camponeses na melhoria das con- sidade Agostinho Neto, e tem apoiado a faculdade, desde 2005,
dições técnicas de irrigação. A norte de Luanda, em Paranhos, a no aumento do número de engenheiros e cientistas angolanos.
BP financia um projecto de energia solar que visa fornecer ener- A multinacional também suporta projectos em diversas escolas,
gia eléctrica aos lares, escola, clínica e bomba de água. Outros orfanatos, institutos de formação de professores e um projecto
exempos são os projectos: SAN, que visa reforçar a capacidade de estágios comunitários, que permite aos estudantes universi-
técnica na prática da agricultura nas províncias do Cunene e de tários participarem em projectos de carácter social.
Cuando Cubango; o Namibe Verde, que já plantou mais de 4200 Juventude Responsável por uma Paz Duradora é o nome de
árvores; e o Road Safety, que capacitou 35 mil agentes de trânsito. outro programa recente que, no seu auge, atingirá 1330 jovens.
Destaque também para o projecto Microcrédito Grande Plu- A estratégia consiste em instalar 10 centros de resolução de con-
tónio, implementado pela ADRA (Acção para o Desenvolvi- flitos em municípios de Luanda. Inspirado no conceito do jango,
mento Rural e Ambiente), que já ofereceu crédito a cerca de 2 onde ocorrem importantes decisões das comunidades, o espaço
mil microempreendedores rurais nas províncias de Benguela albergará formações em educação cívica, liderança e mediação de
e Huambo (o programa venceu o galardão Global Partnership conflitos. A ideia é permitir que a juventude utilize os conheci-
Award) e o Kixicrédito, em curso desde Maio de 2009, na cidade mentos adquiridos para aplicá-los na comunidade, de uma forma
do Soyo, e que oferece serviços financeiros a mais de 650 clientes. interactiva, com as autoridades locais e com a sociedade civil.
A BP também apoia o CAE/CCIA, um centro de negócios que Como curiosidade, refira-se que a BP apoia o Petro Atlético do
visa capacitar as empresas angolanas para participarem mais acti- Huambo, cujo craques de futebol participam activamente na sen-
vamente na indústria petrolífera e do gás (a base de dados inclui sabilização da população local para o combate e a prevenção do
640 PME de Luanda, Cabinda e Benguela, das quais 127 já ganha- HIV/SIDA. Embora o clube não esteja na divisão principal (Gira-
ram contratos no valor de 60 milhões de dólares). bola) esta é uma ideia, pela sua originalidade, à campeão. h
ar
3.º lug
1po9nt6os
H
á dez anos em angola, o compromisso em várias escolas de Luanda, Huíla e Huambo e o projecto Eco
com o desenvolvimento sustentável BESA que consiste na reconversão de garrafas de plástico de água
do Banco Espírito Santo Angola (BESA) está reflec- em vassouras e visa promover a reciclagem e reutilização e melho-
tido em quatro pilares: economia (oferecer serviços rar as condições de vida da comunidade no Zango (Luanda).
e produtos de elevada qualidade); social (igualdade, No âmbito da saúde destaca-se a prevenção da malária, diabe-
respeito e mais qualidade de vida); ambiente (utilização racional tes, hipertensão, cancros do colo útero e da mama, tuberculose,
dos recursos e protecção dos sistemas naturais); e cultura (promo- hepatite B e HIV/SIDA, através da realização de palestras, ras-
ver a divulgação cultural e surgimento de novos artistas), valores treios, campanhas de sensibilização, recolha e doação de sangue.
expressos no seu relatório de sustentabilidade publicado desde 2010. Com o Ministério da Saúde foi lançado o projecto Luanda a Sor-
Leonor de Sá Monteiro, directora de comunicação e imagem, diz rir, dirigido a crianças, que visa a realização de rastreios gratuitos
que “a actividade do BESA está muito mais além do que a presta- de saúde oral e a sensibilização sobre práticas diárias de preven-
ção de serviços financeiros, procurando envolver-se em projectos ção. O BESA apoia o Jornal da Saúde, um projecto promovido
que promovam uma melhor qualidade de vida para a população.” pelo Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos de Angola. Há
Entre esses projectos, destacam-se a parceria com o Ministério ainda o projecto Omufiati, para o qual o banco disponibilizou
do Ambiente para o lançamento do Kit de Educação Ambiental duas clínicas móveis para a província do Cunene.
No âmbito do envolvimento com a comunidade, foi lançado o sado, as agências do banco acolheram as obras dos artistas da 1.ª
Centro de Excelência para Ciências e Sustentabilidade em África, edição do Movimento de Jovens Artistas Angolanos (Jaango).
instituição que acolherá pós-doutorandos que se dedicarão à pes- Nas exposições, o destaque vai para “Salvar e Preservar o Planeta”,
quisa de soluções de desenvolvimento sustentável em África. Para- que foi apresentada em Angola, nas sedes das Nações Unidas, em
lelamente, o banco continua a apoiar o programa de Reintegração Nova Iorque, e da Unesco, em Paris, e em eventos na Finlândia,
de Refugiados Angolanos, do Alto Comissariado das Nações Uni- Suécia e Reino Unido. Esta iniciativa apresentou os trabalhos de
das. Existe ainda um Fundo de Solidariedade, criado em 2005, fotógrafos de cinco países africanos — Angola, Gana, Zimbabué,
dedicado à acção social. O fundo apoiou, entre outros, os esforços Quénia e Tanzânia — que percorreram províncias de Angola para
do bispado do Cunene no atendimento médico, educação, acolhi- retratar temáticas relacionadas com o desenvolvimento susten-
mento de crianças e socorro à comunidade em alturas das cheias; tável. Outra exposição, a “Mulher Angolana — Ao Encontro do
criou a estrutura do posto de assistência no Zango, onde também Desenvolvimento Sustentável”, foi apresentada em São Paulo,
participou num programa de assistência à população sénior e, na Praça Victor Civita (um espaço nobre dedicado a sustentabi-
por fim, financiou o projecto Kassai, no Lobito, que integra uma lidade) na câmara e na estação metropolitana de Santa Cecília.
escola, lar de idosos e posto médico. Apoiou também iniciativas Dirigido aos seus clientes, o banco promove a iniciativa Plante
como o Jardim do Livro Infantil (promoção do livro e da leitura) Uma Flor, que consiste na oferta de cartões que incluem uma
e as Associações Pacto (para a formação de formadores comuni- semente. Tanto empenho rendeu ao BESA o reconhecimento
tários) e Tchiweka (que visa contribuir para preservar a memória internacional em 2009 — “Best Sustainability Bank” — galardão
e aprofundar o conhecimento sobre a luta de libertação). conferido pela revista financeira Emeafinance. Na qualidade de
Na área da cultura, a grande aposta está na fotografia. O BESA- “Banco Oficial do Planeta Unesco”, o BESA esteve presente em
foto, maior evento do país nessa área, já vai na sexta edição. É um 2011, pela segunda vez consecutiva, na sessão anual das Nações
concurso dirigido a jovens talentos, realizado em parceria com a Unidas, realizada na sede em Nova Iorque, para apresentar o seu
prestigiada World Press Photo (veja EXAME n.º 32). No ano pas- projecto de sustentabilidade em Angola. h
ar
4.º lug
1po7nt5os
A
história da Total em Angola começa -se CLOV (acrónimo de cravo, lírio, orquídea e violeta). No ano
em 1952 quando se estabeleceu em Angola, a par- passado, surgiu o Pazflor, que passou a ser o maior projecto da
tir da atribuição de uma concessão à antiga empresa Total, em Angola (com uma produção estimada de 220 mil barris
Petrofina. A primeira descoberta comercial deu- por dia), e um dos mais sofisticados tecnologicamente do mundo.
-se em 1955 na bacia do Kuanza. Três anos depois, Durante as mais de cinco décadas de operação, a Total E&P
surgiu a refinaria operada pela então Petrangol (Fina). Depois Angola, filial do grupo francês Total, tem desenvolvido uma polí-
da Dipanda, em 1980, o Bloco 3 é atribuído à Elf que começou a tica de responsabilidade social que contempla quatro sectores
laborar em 1985. Até ao fim dessa década, seguiram-se 15 des- prioritários: saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento
cobertas no Bloco 17, um dos mais prolíferos do mundo (atin- económico. Nos últimos cinco anos, investiu cerca de 64 milhões
giu a marca de 1000 milhões de barris em 2010). Foram lá que de dólares (50% com fundos próprios) em programas nas qua-
nasceram os FPSO (floating production, storage and offloading) tro áreas citadas. Na sua política de sustentabilidade, definida
Girassol (2001), Dalia (2006) e Rosa (2007) — o próximo chama- no código de conduta, está o foco no desenvolvimento humano.
32 milhões de
dólares investidos em acções de
Ofereceu 700 bolsas
de estudos em instituições de
1200 jovens em seis
ramos de especialidades foram ajudados
responsabilidade social em fundos ensino nas disciplinas ligadas ao sector a ser formados profissionalmente com
próprios nos últimos cinco anos. dos petróleos, representando um a Associação Religiosa Dom Bosco.
4
investimento de mais de 17 milhões
Na área do ambiente, a petrolífera assumiu compromissos com Na saúde destacam-se os programas de capacitação das famí-
parceiros de peso, tais como os Ministérios do Ambiente e dos lias para os cuidados primários de saúde com a Congregação
Petróleos e o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira. Com das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, em Viana;
o primeiro, celebrou um memorando de entendimento para a o de formação de técnicos de vacinação com a ONG Africare,
instalação do Centro de Alterações Climáticas e Biodiversidade, em Malanje, o de erradicação da poliomielite com a Unicef e a
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, a Campanha Nacio- prevenção e combate à HIV/SIDA com a CAJ (Centro de Apoio
nal de Protecção à Biodiversidade e Reflorestação (que implica a aos Jovens). Um outro programa ambicioso foi realizado com o
plantação de 10 mil árvores autóctones em 100 escolas) e o Pro- Ministério da Saúde e a DSF (Douleurs Sans Frontières) e visou
jecto de Protecção e Conservação da Palanca Negra, em Malanje. lutar contra a mortalidade materno-infantil, formar parteiras e
Na educação, em parceria com o respectivo Ministério, cons- enfermeiras e vacinar a população da província do Zaire.
truiu quatro escolas Eiffel, do ensino secundário, nas províncias O pilar económico está ligado ao incentivo à cultura do empreen-
do Bengo, Malanje, Kwanza-Norte e Cunene, com uma capaci- dorismo. Nesta vertente, destacam-se os programas de formação
dade global de 576 alunos. Destaque ainda para os programas de de cooperativas agrícolas em Malanje com a ADRA (Acção para
formação de 100 professores realizados com a ONG Mulemba em o Desenvolvimento Rural e Ambiente); o programa Zimbo, que
Viana; o de formação de instrutores rurais com a ONG ADPP visa facilitar o acesso ao microcrédito e o CAE (Centro de Apoio
nas províncias do Zaire, Bié e Malanje e de o formação profissio- às Empresas) que forma PME para o fornecimento de serviços no
nal de 1200 jovens com a Associação Religiosa Dom Bosco. Há sector petrolífero. O destaque final vai para o desenvolvimento
ainda programas de alfabetização e aceleração escolar desenvol- de um estudo do tecido económico em três províncias (Kwanza-
vidos com a Cáritas; de formação das mulheres empresárias em -Sul, Benguela e Luanda) para seleccionar alguns sectores eco-
Porto Amboim com a FMEA (Federação de Mulheres Empreen- nómicos estratégicos a apoiar no futuro. Futuro esse que, como
dedoras de Angola) e de bolsas de estudos ligadas ao sector dos se vê pelos números da exploração petrolífera, se avizinham bri-
petróleos (foram atribuídas 700, desde 2005). lhantes para, pelo menos, outras cinco décadas. h
ar
5.º lug
1po3nt2os
A riqueza de um país
(tambÉm) estÁ nas artes
O maior banco angolano, que está entre os 25 maiores de África
e os 100 maiores do mundo, tem no BAI Arte a sua iniciativa de
responsabilidade social mais mediática. Conheça outros projectos
relevantes nas áreas da saúde, do desporto e da educação
C
om 16 anos de actuação em Angola e civil, engenharia e ambiente através da subsidiária Griner e uma
presente em todas as províncias do participação maioritária na Nossa Seguros. Internacionalmente está
país, o Banco Angolano de Investimentos (BAI) é presente em Portugal, com o BAI Europa, em Cabo Verde com o
um grupo financeiro angolano de referência (maior BAI Cabo Verde, na África do Sul com um escritório de represen-
banco angolano, 22.º no ranking africano e 686.º no tação, e com parcerias em São Tomé e Príncipe e Brasil. O grupo
mundial). Construiu a sua reputação não apenas com serviços assinalou no dia 14 de Novembro o 16.º aniversário, data marcada
bancários, mas sobretudo pela capacidade de atrair, desenvolver pela inauguração oficial da academia de formação, no Morro Bento.
e reter os melhores profissionais e de criar valor para os accionis- O desenvolvimento da cultura e das artes, através do incentivo
tas e a sociedade, algo que está expresso na missão da instituição. aos artistas nacionais, é um dos principais focos da instituição no
Em Angola, o grupo também possui o BAI Micro Finanças, ins- que diz respeito à responsabilidade social. O projecto com maior
tituição dedicada ao microcrédito (que resultou da aquisição do visibilidade é o BAI Arte, que se tornou uma referência de mece-
Novo Banco, em 2007); um “braço” nos sectores da construção nato cultural privado, promovendo os valores culturais angolanos
75 000 dólares
para a reabilitação da pediatria do Hospital Américo Boavida,
60 000 dólares
para o projecto TISA, que visa disponibilizar tecnologias
que se debatia com a falta de equipamento de reanimação de informação nas salas de aulas.
a crianças em estado grave.
e contribuindo para o fortalecimento da memória colectiva e da outros apoios regulares, tais como o fornecimento mensal de ali-
identidade nacional. O projecto apoia artistas angolanos nas áreas mentos ao lar de idosos Beiral e às populações carenciadas do Mus-
da pintura, escultura, música e dança assim como a pesquisa nou- sulo (projecto Criskari) e o apadrinhamento do Centro Arnaldo
tras áreas como antropologia, museologia e história que contribuem Janssen “Padre Horácio” de acolhimento de crianças. Outros pro-
para o entendimento, preservação e afirmação da cultura angolana. jectos sociais relevantes, em parceria com a igreja católica, foram
O BAI Arte tem crescido nos últimos 11 anos e, em 2011, reali- a construção de um centro paroquial e de uma escola em Caxito,
zou-se, pela primeira vez, fora de Luanda, em Cabinda, uma expo- o apoio a diversas iniciativas da diocese de Cabinda e a constru-
sição subordinada ao tema “Investimos nos artistas da Terra”. Já ção de um seminário missionário arquidiocesano.
este ano, a província de Huíla acolheu o BAI Arte Lubango, de 14 Na área da educação, merece especial referência o projecto TISA,
a 21 de Agosto. A mostra, da responsabilidade do artista plástico que visa promover o acesso à informática das crianças do ensino
Jorge Gumbe, incluiu diversas esculturas e 20 quadros de Paulo básico, através da disponibilidade de computadores e de professo-
Kussy, Pascoal Kadu, Andre Malenga, Lázaro Cruz, Rebeca Lua e res (a primeira acção decorreu em Maio do ano passado na Escola
Aguinaldo Faria. “O BAI vê na cultura uma extensão da sua activi- Primária n.º 60 do Lubango). O BAI apoiou também as jornadas
dade, já que a indústria cultural contribui para o PIB, gera empre- alusivas ao Dia Mundial da Luta Contra a SIDA, realizadas em
gos e impostos e promove a mão-de-obra qualificada e mais riqueza Novembro. “O nosso objectivo é aumentarmos a aproximação às
material com a vertente do turismo cultural”, resume o director comunidades locais”, sintetiza Diala Monteiro.
de marketing, Diala Monteiro. No desporto, além do apoio ao BAI Basket (a primeira divisão
Outra área que o BAI aposta é a saúde. No âmbito do projecto nacional da modalidade) o ano passado, foi marcado pelo lança-
BAI 15 Anos adquiriu geradores para a unidade de queimados do mento de um torneio de minibasquetebol nas províncias de Ben-
Hospital Neves Mendinha e um equipamento de reanimação para guela e Huíla. No futebol, patrocina o Petro de Luanda e é o banco
as urgências da pediatria do Hospital Américo Boavida (ao qual já oficial dos Palancas Negras. Trata-se, em suma, de um grupo finan-
patrocinara a ala da cirurgia pediátrica). No ano passado, manteve ceiro jovem (16 anos), mas que já é um orgulho nacional. h
faça você 1
visão de
curto prazo
Muitas empresas estabelecem metas
na área da sustentabilidade de três
mesmo...
anos para acções que exigiriam 5
a 20 anos para gerar resultados. Quando
isso acontece, os profissionais envolvi-
dos ficam desmotivados, o que preju-
dica o relacionamento da empresa com
A sua empresa já tem um programa de as comunidades. Infelizmente, poucas
empresas estão focadas no longo prazo.
2
sustentabilidade? Anote os erros típicos
publicidade
José alberto goNçalves pereira enganosa
A ansiedade em mostrar que
M
contribuem para um mundo
aquiLHagem verde. É assim que os ambientalistas chamam às mais sustentável faz com que
empresas que dizem proteger o meio ambiente para melhorar a sua empresas divulguem acções ambientais
imagem. Visão de curto prazo, escassez de dados, falta de transparên- que ainda não saíram do papel. Ainda
cia na comunicação e baixo envolvimento dos funcionários são outras mais grave é quando elas fazem campa-
falhas comuns que podem inviabilizar os mais bem-intencionados pro- nhas de publicidade que exageram a sua
jectos. Anote os sete erros mais frequentes na gestão de programas de sustentabilidade. actuação ambientalmente responsável.
3
Dados derrame no Golfo no México para rever dores e aos meios de comunicação, do
5
escassos todos os processos de extracção de petróleo. que em incorporar o assunto no dia-a-
Poucas empresas têm -dia dos funcionários. Quando a susten-
um sistema eficiente Falta tabilidade está confinada aos gestores de
de recolha e avaliação de poder topo da empresa, isso é um péssimo sinal
7
de dados para moni- Há departamentos de sus- quanto à eficácia desses programas.
torizar a sua política tentabilidade formados por
de sustentabilidade. equipas pequenas (ou até Ignorar
Muitas vezes, o objectivo é apenas ter núme- uma única pessoa), cujo as partes
ros para publicar no relatório de susten- papel é meramente decorativo. Nesses interessadas
tabilidade. Ou seja, esses indicadores não casos, é raro que o responsável reporte Um projecto de susten-
4 6
são usados como informação de gestão. directamente ao presidente. Logo, ele não tabilidade pode pare-
tem voz nas decisões. Outro problema cer muito interessante,
Pouca típico é terem orçamentos escassos para mas dificilmente resul-
transparência gerir os projectos orçamentados. tará se não ouvir a opi-
Mu itas empresas nião dos beneficiários ou se ignorar a
optam por redigir Falta de posição das ONG que actuam no local.
relatórios de susten- envolvimento Em áreas remotas, sobretudo nas zonas de
tabilidade apenas com Algumas empresas preocu- exploração de recursos naturais, a empresa
informações genéricas pam-se mais em divulgar corre o risco de gastar muito dinheiro em
que omitem os assuntos polémicos. A BP, os seus relatórios de sus- acções que as populações locais não irão
por exemplo, acabou por usar o trágico tentabilidade aos investi- valorizar. h
vazamento de
petróleo na bacia
de campos em 2011:
a Chevron levou 11 dias
para detalhar informações
sobre o acidente
ExameFinal
Vladimir Russo Mestre em Educação Ambiental na Universidade de Rhodes em Grahamstown, África do Sul
O que eu aprendi
sobre a educação
ambiental em África
Redigir relatórios de sustentabilidade não faz com
que a Terra seja um melhor planeta para se viver
A
o longo de mais de uma década de tra- cordam que deve ser aplicado a todos os sectores. Este conceito, que desde a sua
balho envolvendo a educação ambien- apresentação, em 1987 pela Comissão Brundtland, foi tendo vários significados, é
tal na África Austral aprendi que há três importantes definido como sendo o “desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades
factores a ter em consideração. Estes factores são a base de algumas ideias gerais das gerações actuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de sa-
sobre o papel da educação ambiental na divulgação e implementação do conceito tisfazerem as suas próprias necessidades”.
de sustentabilidade no nosso país. Enquanto educador ambiental, é necessário analisar o significado deste con-
Em primeiro lugar, a educação ambiental não é uma “coisa” que se transmite ceito para melhor poder discutir com os alunos, público e colegas. Nessa análise,
de um ser humano para o outro. É um processo de aprendizagem onde actores in- podemos compreender que neste conceito se assume saber quais são as nossas
dividuais (indivíduo) e colectivos (organizações, grupos, associações, educadores) necessidades actuais (independentemente da situação económica de cada um, a
constroem, em conjunto, valores, conhecimentos, atitudes, habilidades e compe- sua localização geográfica e as suas expectativas de vida). Será que estamos a falar
tências para melhor gerir o ambiente, tanto o natural, como o construído. de necessidades básicas? Por outro lado, é explícito neste conceito que as necessi-
Este conjunto de valores e competências tem como objectivo comum a garan- dades das gerações futuras serão iguais às actuais. Algo que com o avanço tecno-
tia de um ambiente sadio e não poluído, conforme recomendado no Artigo 39.º da lógico, alterações climáticas, aumento populacional, não parece correcto assumir.
nossa Constituição, assim como a sustentabilidade da humanidade. A sustentabi- Em terceiro lugar, os processos de educação ambiental não levam à imediata
lidade é vista como um conceito abrangente assente na interdependência de três mudança de atitude das pessoas, mas devem ser desenvolvidos no sentido de levar
componentes fundamentais — a ambiental, a social e a económica — visando a à tomada de acção e resolução de problemas. No contexto da sustentabilidade, os
perpetuidade da satisfação das necessidades humanas. processos de educação ambiental devem incidir na construção de valores, conhe-
Por ser um conceito bastante amplo, e ao mesmo tempo com interpretações cimentos, atitudes, habilidades e competências que permitam às pessoas, associa-
diferenciadas — dependendo da disciplina em análise, e do contexto do indivíduo ções, sector privado e Estado serem mais proactivas.
ou da colectividade que o analisam ou empregam —, este termo é muitas vezes Desenvolver relatórios de sustentabilidade, políticas descrevendo os princípios
usado como um “chavão” sem um significado claro. Deste modo, tratar o conceito de desenvolvimento sustentável, realizar estudos ambientais, fazer campanhas de
“sustentabilidade” nos processos de educação ambiental é uma tarefa complexa, marketing socioambiental não faz com que a Terra seja um melhor planeta para
tanto para quem ensina, como para quem aprende. se viver. Aqui, o papel da educação ambiental reveste-se de crucial importância.
Em segundo lugar, a educação ambiental não é apenas o processo de passagem Primeiro, porque é feita de um modo contínuo. Segundo, por ajudar na análise crí-
de informação de uma pessoa para outra, de uma forma estruturada ou informal, tica das nossas actividades resultando numa melhor compreensão dos problemas
através dos meios de comunicação social ou dos sistemas formais de ensino. Os ambientais. Terceiro, por traduzir o conhecimento em acções práticas de protecção
processos de educação ambiental incluem também uma análise crítica da infor- do ambiente e que se reflectem na qualidade de vida das pessoas.
mação recebida e uma construção e desconstrução do significado dos conceitos, Educação ambiental no contexto da sustentabilidade em Angola deve, no meu
situações e mensagens. Este processo permite ao educador analisar a mensagem entender, fomentar o debate crítico sobre os três pilares da sustentabilidade (social,
que quer partilhar e ajudar na sua interpretação. económico e ambiental), a sua aplicação prática na vida de cada um e como os
Olhemos, por exemplo, para o conceito de “desenvolvimento sustentável” (do nossos conhecimentos e habilidades podem traduzir-se em acções que diminuam a
qual mais tarde emana o conceito de “sustentabilidade”) que muitas pessoas con- nossa pegada ecológica. h