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Teses defensivas – Processo Penal

2012

ADVOGADO. CRIME DE DIFAMAÇÃO. AUSÊNCIA TEMPORÁRIA DO MAGISTRADO DA SALA DO


INTERROGATÓRIO.
O paciente responde à ação penal pelo crime de difamação, por ter afirmado, ao peticionar em
processo judicial em que atuava como advogado, que a juíza do feito, ainda que
temporariamente, ausentou-se do interrogatório do seu cliente, deixando de assinar o referido
ato. Ciente dessa manifestação, a juíza ofereceu representação ao Ministério Público Federal,
requerendo que fossem tomadas as medidas criminais cabíveis, originando-se a denúncia pelo
crime de difamação. A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para trancar a ação penal
por atipicidade da conduta do paciente, por não ter sido caracterizado o animus difamandi,
consistente no especial fim de difamar, na intenção de ofender, na vontade de denegrir, no
desejo de atingir a honra do ofendido, sem o qual não se perfaz o elemento subjetivo do tipo
penal em testilha, impedindo que se reconheça a configuração do delito. Precedentes citados:
APn 603-PR, DJe 14/10/2011, e APn 599-MS, DJe 28/6/2010. HC 202.059-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 16/2/2012.

JÚRI. DESAFORAMENTO. IMPARCIALIDADE DOS JURADOS.


A Turma decidiu que, em caso de desaforamento fundado na dúvida de imparcialidade do corpo
de jurados (art. 427 do CPP), o foro competente para a realização do júri deve ser aquele em
que esse risco não exista. Assim, o deslocamento da competência nesses casos não é
geograficamente limitado às comarcas mais próximas, que são preferíveis às mais distantes. De
fato, o desaforamento deve garantir a necessária imparcialidade do conselho de sentença. Na
hipótese, o paciente tem grande influência política na região do distrito da culpa e é acusado de
ser integrante de organização criminosa atuante em várias comarcas do estado. Nesse contexto,
o Min. Relator não enxergou ilegalidade no desaforamento requerido pelo juiz de primeiro grau,
que resultou no deslocamento do feito para a capital do estado. Asseverou, ainda, com base na
doutrina e jurisprudência, que no desaforamento é de enorme relevância a opinião do
magistrado que preside a causa por estar mais próximo da comunidade da qual será formado o
corpo de jurados e, por conseguinte, tem maior aptidão para reconhecer as hipóteses elencadas
no art. 427 do CPP. Precedentes citados: HC 43.888-PR, DJe 20/10/2008; HC 34.574-RJ, DJ
5/11/2007, e HC 134.314-PI, DJe 2/8/2010. HC 219.739-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
6/3/2012.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. TERMO INICIAL.


A Lei n. 9.296/1996, que regula a quebra de sigilo das comunicações telefônicas, estabelece em
15 dias o prazo para duração da interceptação, porém não estipula termo inicial para
cumprimento da ordem judicial. No caso, a captação das comunicações via telefone iniciou-se
pouco mais de três meses após o deferimento, pois houve greve da Polícia Federal no período,
o que interrompeu as investigações. A Turma entendeu que não pode haver delonga
injustificada para o começo da efetiva interceptação e deve-se atentar sempre para o princípio
da proporcionalidade, mas, na hipótese, sendo a greve evento que foge ao controle direto dos
órgãos estatais, não houve violação do mencionado princípio. Assim, a alegação de ilegalidade
das provas produzidas, por terem sido obtidas após o prazo de 15 dias, não tem fundamento,
uma vez que o prazo é contado a partir do dia em que se iniciou a escuta, e não da data da
decisão judicial que a autorizou. Precedente citado: HC 135.771-PE, DJe 24/8/2011. HC
113.477-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/3/2012.
CC. INJÚRIA. CRIME PRATICADO POR MEIO DE INTERNET.
A Seção entendeu que compete à Justiça estadual processar e julgar os crimes de injúria
praticados por meio da rede mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas
internacionais, tais como as redes sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que o simples fato de o
suposto delito ter sido cometido pela internet não atrai, por si só, a competência da Justiça
Federal. Destacou-se que a conduta delituosa mensagens de caráter ofensivo publicadas pela
ex-namorada da vítima nas mencionadas redes sociais não se subsume em nenhuma das
hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF. O delito de injúria não está previsto em tratado
ou convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, por exemplo, os
crimes de racismo, xenofobia, publicação de pornografia infantil, entre outros. Ademais, as
mensagens veiculadas na internet não ofenderam bens, interesses ou serviços da União ou de
suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Dessa forma, declarou-se competente para
conhecer e julgar o feito o juízo de Direito do Juizado Especial Civil e Criminal. CC 121.431-SE,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/4/2012.

PRISÃO PREVENTIVA. SUBSTITUIÇÃO. EXCEPCIONALIDADE. LEI N. 12.403/2011.


Trata-se de habeas corpus com pedido de liminar impetrado em favor do paciente contra
acórdão que manteve a decisão que decretou sua prisão preventiva pelo crime de homicídio
duplamente qualificado tentado. Sustentam os impetrantes a ocorrência de constrangimento
ilegal sob o argumento de que o tribunal de origem não teria apresentado dados concretos que
justificassem a necessidade da segregação cautelar do paciente e de que as instâncias ordinárias
sequer se manifestaram acerca das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do CPP,
com redação dada pela Lei n. 12.403/2011. O Min. Relator destacou que a matéria referente à
incidência de medidas alternativas à prisão foi examinada somente em parte pela autoridade
impetrada, a qual se ateve a tecer considerações somente no que diz respeito à impossibilidade
de arbitramento de fiança nos crimes hediondos, omitindo-se quanto às demais providências
passíveis de aplicação, alternativas à prisão. Isso porque, com a inovação legislativa introduzida
pela Lei n. 12.403/2011, o CPP passou a capitular diversas providências substitutivas à prisão,
sendo essa imposta apenas quando aquelas não se mostrarem suficientes à repressão e à
reprovabilidade do delito, o que, contudo, não foi tratado na espécie. Diante dessa e de outras
considerações, a Turma concedeu parcialmente a ordem, determinando que a corte a quo
proceda ao exame da possibilidade de aplicação de providência cautelar diversa da prisão. HC
219.101-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 10/4/2012.

HC. ADVOGADO. ACESSO. DENÚNCIA.


In casu, requerem os impetrantes o reconhecimento do direito de ter acesso à denúncia de uma
ação penal na qual não possuem procuração, visando instruir a defesa de seu cliente na ação
penal a que responde. Noticiam os autos que o paciente foi denunciado e pronunciado por
homicídio qualificado com dolo eventual, acusado de ter causado a morte de nove pessoas ao
dirigir embriagado. Com base em notícias vinculadas na imprensa nacional, a defesa do paciente
solicitou ao juízo processante cópia da exordial acusatória de uma ação penal em trâmite no
órgão especial do Tribunal de Justiça estadual, envolvendo um promotor público que teria,
também, atropelado e matado três pessoas, vindo a ser denunciado por homicídio culposo.
Alegam os impetrantes que o paciente e o aludido promotor de justiça, embora tenham
praticado a mesma conduta, receberam tratamentos legais e processuais diversos, razão pela
qual o elemento de prova pretendido seria essencial à tese da defesa, visando à desclassificação
do tipo denunciado. Com o indeferimento do pedido, a defesa impetrou habeas corpus na corte
local, também denegado. Inicialmente, observou o Min. Relator que, por determinação
constitucional, é assegurado aos membros do Parquet foro especial por prerrogativa de função,
criado para proteger determinados cargos ou funções públicas diante de sua relevância, já que
as decisões referentes aos delitos praticados por seus ocupantes poderiam ocasionar uma série
de implicações. Por outro vértice, ainda que a regra seja a da publicidade nos termos do art. 93,
IX, da CF, excepcionalmente, a fim de que se preserve a intimidade do réu e desde que não
prejudique o interesse público à informação, a autoridade competente poderá decretar o sigilo
processual. É o que aparenta ser o caso da ação penal movida em desfavor do promotor.
Também, é certo que a ampla defesa deve abranger tanto o direito de o acusado ser assistido
por profissional habilitado, como o direito de defender-se com a maior amplitude possível, e
é certo que a imputação de responsabilidade penal a qualquer acusado deve observar o
devido processo legal e permitir o pleno exercício da ampla defesa e do contraditório. Nesse
viés, cabe ao magistrado a faculdade do indeferimento, de forma motivada, das providências
que julgar protelatórias, irrelevantes ou impertinentes. Ressaltou, ainda, o Min. Relator que,
no caso, restou equivocadamente fundamentada a negativa de acesso à cópia da denúncia,
limitando-se o magistrado processante a afirmar que a eventual simetria entre os fatos não
justifica a juntada ou a quebra de sigilo decretado por outro juízo. É exatamente a aparente
simetria entre os fatos que justifica o pedido do paciente para ter acesso à cópia da exordial
de outra ação penal, visando ao cotejo entre aquela e a sua acusação. Diante dessa e de outras
considerações, a Turma concedeu a ordem. HC 137.422-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
10/4/2012.

MEDIDA DE SEGURANÇA. TRÂNSITO EM JULGADO.


A prisão preventiva é excepcional e só deve ser decretada a título cautelar e de forma
fundamentada em observância ao princípio constitucional da presunção de inocência. O STF
fixou o entendimento de que ofende o princípio da não culpabilidade a execução da pena
privativa de liberdade antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, ressalvada a
hipótese de prisão cautelar do réu, desde que presentes os requisitos autorizadores previstos
no art. 312 do CPP. Assim, verificou-se a ilegalidade da medida cautelar no caso; pois, como o
paciente encontrava-se em liberdade durante a tramitação da apelação e não foi fundamentada
a necessidade da imediata aplicação da medida de segurança de internação, ele tem o direito
de aguardar o eventual trânsito em julgado da condenação em liberdade. Destaque-se que a
medida de segurança é uma espécie de sanção penal ao lado da pena, logo não é cabível, no
ordenamento jurídico, sua execução provisória, pois a LEP (arts. 171 e 172) determina a
expedição de guia pela autoridade judiciária para a internação em hospital psiquiátrico ou
submissão a tratamento ambulatorial, o que só se mostra possível depois do trânsito em
julgado da decisão. Precedentes citados do STF: HC 90.226-SP, DJe 14/5/2009; HC 84.078-MG,
DJe 26/2/2010; HC 98.166, DJe 18/6/2009, e do STJ: HC 103.429-SP, DJe 23/3/2009. HC 226.014-
SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/4/2012.

BUSCA E APREENSÃO. DOCUMENTOS. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. NOVA INVESTIGAÇÃO.


Cuida-se de habeas corpus no qual os impetrantes postulam o trancamento do inquérito policial
devido à suposta nulidade no procedimento, pelo fato de o inquérito ter sido originado de
documentos apreendidos no escritório do advogado do paciente em determinação judicial
relativa a outra investigação. A Turma reafirmou que configura excesso a instauração de
investigações ou ações penais com base apenas em elementos recolhidos durante a execução
de medidas judiciais cautelares relativamente a investigados que não eram, inicialmente,
objeto da ação policial. Nesse tocante, destacou-se que os escritórios de advocacia, como
também os de outros profissionais, não são impenetráveis à investigação de crimes.
Entretanto, consignou-se que os documentos, as mídias e os objetos pertencentes a clientes
do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham
informações sobre clientes somente poderão ser utilizados caso ele esteja sendo formalmente
investigado como partícipe ou coautor pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra
de inviolabilidade (§ 7º do art. 7º da Lei n. 8.906/1994). In casu, o paciente não estava sendo
formalmente investigado e o crime ora apurado não guardava relação com o crime que
originou a cautelar de busca e apreensão (estelionato judiciário). Assim, a Turma concedeu em
parte a ordem para afastar do inquérito policial instaurado contra o paciente a utilização dos
documentos obtidos por meio da busca e apreensão no escritório de seu advogado. Precedente
citado: HC 149.008-PR, DJe 9/8/2010. HC 227.799-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 10/4/2012.

SIGILO. CORRESPONDÊNCIA. VIOLABILIDADE.


A Turma, por maioria, entendeu que não é absoluto o princípio constitucional da
inviolabilidade das comunicações. In casu, a simples menção, no julgamento plenário, de cartas
apreendidas que provaram o relacionamento extraconjugal entre a paciente e o corréu,
acusados do homicídio da vítima (marido da paciente), não viola o sigilo de correspondência.
Nos termos da jurisprudência do STF, o interesse público, em situações excepcionais, como na
hipótese, pode se sobrepor aos direitos individuais a fim de evitar que os direitos e garantias
fundamentais sejam utilizados para resguardar conduta criminosa. Também já decidiu a
Suprema Corte que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. Além disso, a apreensão das cartas é respaldada
pelo art. 240, § 1º, f, do CPP. Ademais, o juízo condenatório não estava alicerçado somente
nessa prova, obtida na fase inquisitorial, mas em amplo contexto probatório colhido nas duas
fases do procedimento, sendo incabível a pretensão de anular o julgamento soberano realizado
pelo Tribunal do Júri. Precedentes citados do STF: HC 70.814-SP, DJ 24/6/1994, e do STJ: HC
93.874-DF, DJe 2/8/2010. HC 203.371-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 3/5/2012.

INOBSERVÂNCIA DA ORDEM DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS.


A inobservância da ordem de inquirição de testemunhas prevista no art. 212 do CPP é causa
de nulidade relativa, ou seja, o reconhecimento do vício depende de arguição em momento
oportuno e comprovação do prejuízo para a defesa. No caso, a magistrada realizou dezenas
de perguntas às testemunhas de acusação antes da inquirição direta pelas partes. Os
questionamentos demonstraram o interesse na colheita de provas de caráter eminentemente
acusatório. No momento de inquirição das testemunhas de defesa, a juíza não realizou
perguntas. A defesa pediu que constasse na ata a discrepância quanto à ordem de indagação
prevista no art. 212 do CPP. Nesse contexto, restou claro o prejuízo à defesa do acusado, com
ofensa ao citado artigo do diploma processual, o qual foi modificado pela Lei n. 11.690/2008.
O Min. Relator para acórdão ressaltou que a nova redação do dispositivo teve como objetivo
consolidar um modelo com feições acusatórias, distanciando o juiz do papel de protagonista
da prova. Assim, a Turma reconheceu a nulidade desde a audiência de instrução, bem como de
todos os atos posteriores. Determinou, ainda, que nova audiência seja feita observando o
disposto no art. 212 do CPP. Precedente citado do STF: HC 87.926-SP, DJe 24/4/2008. HC
212.618-RS, Rel. originário Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 24/4/2012.

DEFENSOR. INTIMAÇÃO PESSOAL. AUSÊNCIA.


Na espécie, a paciente foi condenada à pena de nove anos e quatro meses de reclusão em
regime inicial fechado, além do pagamento de 120 dias-multa no valor mínimo legal, pela prática
do delito descrito no art. 12, caput, c/c art. 18, IV, e art. 14 da Lei n. 6.368/1976. Em grau de
apelação, essa condenação foi reduzida a oito anos e quitação de 120 dias-multa mínimos.
Pretende-se, agora, no habeas corpus, entre outros temas, a nulidade do julgamento da
apelação por falta de intimação pessoal do defensor da paciente, visto que isso ocasionou a falta
de interposição de recurso contra o acórdão proferido. Neste Superior Tribunal, é pacífico o
entendimento de que a ausência de intimação pessoal do defensor público ou dativo acerca
da data aprazada para o julgamento do apelo é causa de nulidade absoluta, por cerceamento
de defesa, a teor do disposto no art. 370 do CPP e na Lei n. 1.060/1950. Entretanto, a intimação
pessoal a que se refere o art. 370 do CPP somente é exigível quando se tratar de defensor
público ou dativo. In casu, cuidou-se de defensor constituído, pois a paciente nomeou
advogados para promover a sua defesa. Além disso, segundo informações prestadas pelo
tribunal a quo, os patronos foram devidamente intimados da inclusão do apelo em pauta de
julgamento (em que constou, de forma correta, o número do processo, o nome da apelante e
de seus advogados), por meio de publicação do respectivo decisório no órgão oficial de
imprensa. Dessa forma, consignou-se que a falta de intimação pessoal do advogado nomeado
pela própria paciente acerca da data do julgamento do recurso não consubstancia nulidade
processual, não havendo, portanto, que falar em mitigação do exercício do direito de ampla
defesa. Precedentes citados: HC 72.531-SP, DJ 285/2007; HC 213.818-SP, DJe 28/2/2012, e HC
98.562-SP, DJe 3/11/2009. HC 187.757-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 22/5/2012.

HC. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA.


O habeas corpus, por ser ação de rito célere, demandar prova pré-constituída e dotada de
absoluta certeza, somente poderá ser o instrumento apto para trancar a ação penal, quando,
excepcionalmente, manifestarem-se, de forma inequívoca e patente, a inocência do acusado,
a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. In casu, a denúncia descreveu
elementos indiciários suficientes da autoria e da materialidade do delito de lavagem de dinheiro.
Os diálogos mencionados na denúncia, travados entre o recorrido, advogado do grupo, e alguns
dos envolvidos no crime antecedente furto a banco dão o mínimo de indicação da prática do
delito que lhe fora imputado, pois causam a impressão de haver interesses que ultrapassam os
meramente profissionais, devendo-se oportunizar ao Estado investigar e provar o efetivo
cometimento do delito de lavagem de dinheiro. Além disso, o acórdão impugnado, ao decidir
pelo trancamento do feito, acabou por apreciar o próprio mérito da ação penal, devendo, por
isso, ser cassado para que seja dado prosseguimento à persecutio criminis. REsp 1.046.892-CE,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/8/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE AGRAVO EM


EXECUÇÃO.
É possível a impetração de habeas corpus em substituição à utilização do agravo em execução,
previsto no art. 197 da LEP, desde que não seja necessário revolvimento de provas para a sua
apreciação e que a controvérsia se limite à matéria de direito. Precedentes citados: HC 238.021-
SP, DJe 29/6/2012, e HC 232.497-SP, DJe 23/4/2012. HC 255.405-SP, Rel. Min. Campos Marques
(Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em 13/11/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. REPUBLICAÇÃO DE DECISÃO. REABERTURA DO PRAZO RECURSAL.


O prazo para a interposição de recurso flui a partir da última publicação da decisão a ser
impugnada, de modo que a republicação, mesmo que desnecessária ou feita por equívoco,
acarreta a reabertura do prazo recursal. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.219.132-PR, DJe
12/5/2011, e EREsp 281.590-MG, DJ 1º/8/2006. HC 238.698-SP, Rel. Min. Marilza Maynard
(Desembargadora-convocada do TJ-SE), julgado em 20/11/2012.

2013

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. RECONHECIMENTO DO RÉU POR FOTOGRAFIA.
Para embasar a denúncia oferecida, é possível a utilização do reconhecimento fotográfico
realizado na fase policial, desde que este não seja utilizado de forma isolada e esteja em
consonância com os demais elementos probatórios constantes dos autos. Precedentes citados:
HC 186.916-SP, DJe 11/5/2011, e HC 105.683-SP, DJe 3/5/2011. HC 238.577-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/12/2012 (Informativo nº 0514).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE DE PRISÃO PROVISÓRIA QUANDO REPRESENTAR
MEDIDA MAIS SEVERA DO QUE A POSSÍVEL PENA A SER APLICADA.
É ilegal a manutenção da prisão provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início
do cumprimento da reprimenda, em caso de eventual condenação, dar-se-á em regime menos
rigoroso que o fechado. De fato, a prisão provisória é providência excepcional no Estado
Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os critérios de adequação,
necessidade e proporcionalidade. Dessa forma, para a imposição da medida, é necessário
demonstrar concretamente a presença dos requisitos autorizadores da preventiva (art. 312 do
CPP) — representados pelo fumus comissi delicti e pelo periculum libertatis — e, além disso,
não pode a referida medida ser mais grave que a própria sanção a ser possivelmente aplicada
na hipótese de condenação do acusado. É o que se defende com a aplicação do princípio da
homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não sendo razoável manter o
acusado preso em regime mais rigoroso do que aquele que eventualmente lhe será imposto
quando da condenação. Precedente citado: HC 64.379-SP, Sexta Turma, DJe 3/11/2008. HC
182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Informativo nº 0523).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA E
INDIVIDUALIZADA PARA A IMPOSIÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NO ART. 319 DO
CPP.
É necessária a devida fundamentação — concreta e individualizada — para a imposição de
qualquer das medidas alternativas à prisão previstas no art. 319 do CPP. Isso porque essas
medidas cautelares, ainda que mais benéficas, representam um constrangimento à liberdade
individual. Assim, é necessária a devida fundamentação em respeito ao art. 93, IX, da CF e ao
disposto no art. 282 do CPP, segundo o qual as referidas medidas deverão ser aplicadas
observando-se a "necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais", bem
como a "adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais
do indiciado ou acusado". HC 231.817”SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/4/2013
(Informativo nº 0521).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DE MEDIDA DE SEGURANÇA
EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL COMUM.
O inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico não poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum, ainda que
sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso porque não pode o
paciente ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida judicialmente.
Precedentes citados: HC 211.750-SP, Sexta Turma, DJe 26/10/2011; HC 207.019-SP, Quinta
Turma, DJe 31/8/2011. HC 231.124-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013 (Informativo
nº 0522).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. REPARAÇÃO CIVIL DOS DANOS DECORRENTES DE CRIME.
Para que seja fixado na sentença valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
com base no art. 387, IV, do CPP, é necessário pedido expresso do ofendido ou do Ministério
Público e a concessão de oportunidade de exercício do contraditório pelo réu. Precedentes
citados: REsp 1.248.490-RS, Quinta Turma, DJe 21/5/2012; e Resp 1.185.542-RS, Quinta Turma,
DJe de 16/5/2011. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/08/2013, DJe
27/8/2013 (Informativo nº 0528).
Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. IRRETROATIVIDADE DO ART. 387, IV, DO CPP, COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI 11.719/2008.
A regra do art. 387, IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor
mínimo para reparação civil dos danos causados ao ofendido, aplica-se somente aos delitos
praticados depois da vigência da Lei 11.719/2008, que deu nova redação ao dispositivo. Isso
porque se trata de norma híbrida - de direito material e processual - mais gravosa ao réu, de
sorte que não pode retroagir. Precedente citado: REsp 1.206.635-RS, Quinta Turma, DJe
9/10/2012. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013 (Informativo nº
0528).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO VÍNCULO ENTRE O
DENUNCIADO E A EMPREITADA CRIMINOSA NAS DENÚNCIAS NOS CRIMES SOCIETÁRIOS.
Nos crimes societários, embora não se exija a descrição minuciosa e individualizada da conduta
de cada acusado na denúncia, é imprescindível que haja uma demonstração mínima acerca da
contribuição de cada acusado para o crime a eles imputado. Apesar de nos crimes societários a
individualização da conduta ser mais difícil, deve a denúncia demonstrar de que forma os
acusados concorreram para o fato delituoso, de modo a estabelecer um vínculo mínimo entre
eles e o crime, não se admitindo imputação consubstanciada exclusivamente no fato de os
acusados serem representantes legais da empresa. O STJ tem decidido ser inepta a denúncia
que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à
pessoa física levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa, deixando
de demonstrar o vínculo do acusado com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa
à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva,
repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. Precedentes citados do STF: HC 85.327-SP, DJ
20/10/2006; e do STJ: HC 65.463-PR, DJe 25/5/2009, e HC 164.172-MA, DJe 21/5/2012. HC
218.594-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2012 (Informativo nº 0514).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO DE
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA APÓS A DEFESA PRÉVIA DO RÉU.
O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o
oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a
anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses
elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Nos termos do art. 396, se não
for verificada de plano a ocorrência de alguma das hipóteses do art. 395, a peça acusatória deve
ser recebida e determinada a citação do acusado para responder por escrito à acusação. Em
seguida, na apreciação da defesa preliminar, segundo o art. 397, o juiz deve absolver
sumariamente o acusado quando verificar uma das quatro hipóteses descritas no dispositivo.
Contudo, nessa fase, a cognição não pode ficar limitada às hipóteses mencionadas, pois a
melhor interpretação do art. 397, considerando a reforma feita pela Lei 11.719/2008, leva à
possibilidade não apenas de o juiz absolver sumariamente o acusado, mas também de fazer
novo juízo de recebimento da peça acusatória. Isso porque, se a parte pode arguir questões
preliminares na defesa prévia, cai por terra o argumento de que o anterior recebimento da
denúncia tornaria sua análise preclusa para o Juiz de primeiro grau. Ademais, não há porque
dar início à instrução processual, se o magistrado verifica que não lhe será possível analisar o
mérito da ação penal, em razão de defeito que macula o processo. Além de ser desarrazoada
essa solução, ela também não se coaduna com os princípios da economia e celeridade
processuais. Sob outro aspecto, se é admitido o afastamento das questões preliminares
suscitadas na defesa prévia, no momento processual definido no art. 397 do CPP, também deve
ser considerado admissível o seu acolhimento, com a extinção do processo sem julgamento do
mérito por aplicação analógica do art. 267, § 3º, CPC. Precedentes citados: HC 150.925-PE,
Quinta Turma, DJe 17/5/2010; HC 232.842-RJ, Sexta Turma, DJe 30/10/2012. REsp 1.318.180-
DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/5/2013 (Informativo nº 0522).

Terceira Seção
DIREITO PROCESSUAL PENAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA APLICAÇÃO DE FALTA
DISCIPLINAR AO PRESO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou
defensor público nomeado. No âmbito da execução penal, a atribuição de apurar a conduta
faltosa do detento, assim como realizar a subsunção do fato à norma legal, ou seja, verificar se
a conduta corresponde a uma falta leve, média ou grave, e aplicar eventual sanção disciplinar é
do diretor do estabelecimento prisional, em razão de ser o detentor do poder disciplinar (Seção
III do Capítulo IV da LEP). Não se olvida, entretanto, que, em razão do cometimento de falta de
natureza grave, determinadas consequências e sanções disciplinares são de competência do juiz
da execução penal, quais sejam, a regressão de regime (art. 118, I), a revogação de saída
temporária (art. 125), a perda dos dias remidos (art. 127) e a conversão de pena restritiva de
direitos em privativa de liberdade (art. 181, § 1º, d, e § 2º). A propósito, o art. 48 estabelece que
a autoridade administrativa “representará” ao juiz da execução penal para adoção dessas
sanções disciplinares de competência do juiz da execução penal. Dessa forma, constata-se que
a LEP não deixa dúvida ao estabelecer que todo o "processo" de apuração da falta disciplinar
(investigação e subsunção), assim como a aplicação da respectiva punição, é realizado dentro
da unidade penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor. Somente se for reconhecida a
prática de falta disciplinar de natureza grave pelo diretor do estabelecimento prisional, é que
será comunicado ao juiz da execução penal para que aplique determinadas sanções, que o
legislador, excepcionando a regra, entendeu por bem conferir caráter jurisdicional. No tocante
à formalização dessa sequência de atos concernentes à apuração da conduta faltosa do detento
e aplicação da respectiva sanção, o art. 59 da LEP é expresso ao determinar que: “praticada a
falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para a sua apuração, conforme
regulamento, assegurado o direito de defesa”. E mais, mesmo sendo a referida lei do ano de
1984, portanto, anterior à CF de 1988, ficou devidamente assegurado o direito de defesa do
preso, que abrange não só a autodefesa, mas também a defesa técnica, a ser realizada por
profissional devidamente inscrito nos quadros da OAB. Não por outro motivo o legislador
disciplinou expressamente nos arts. 15, 16 e 83, § 5º, da LEP, a obrigatoriedade de instalação da
Defensoria Pública nos estabelecimentos penais, a fim de assegurar a defesa técnica daqueles
que não possuírem recursos financeiros para constituir advogado. Ademais, vale ressaltar que o
direito de defesa garantido ao sentenciado tem assento constitucional, mormente porque o
reconhecimento da prática de falta disciplinar de natureza grave acarreta consequências
danosas que repercutem, em última análise, em sua liberdade. Com efeito, os incisos LIV e LV
do art. 5º da CF respaldam a obrigatoriedade da presença de defensor regularmente constituído
na OAB, em procedimento administrativo disciplinar, no âmbito da execução da pena. No
particular, registre-se que a Súmula Vinculante 5, a qual dispõe que “a falta de defesa técnica
por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”, não se aplica
à execução penal. Primeiro, porque todos os precedentes utilizados para elaboração do
aludido verbete sumular são originários de questões não penais, onde estavam em discussão
procedimentos administrativos de natureza previdenciária (RE 434.059); fiscal (AI 207.197);
disciplinar-estatutário militar (RE 244.027); e tomada de contas especial (MS 24.961).
Segundo, porque, conforme mencionado, na execução da pena está em jogo a liberdade do
sentenciado, o qual se encontra em situação de extrema vulnerabilidade, revelando-se
incompreensível que ele possa exercer uma ampla defesa sem o conhecimento técnico do
ordenamento jurídico, não se podendo, portanto, equipará-lo ao indivíduo que responde a
processo disciplinar na esfera cível-administrativa. Ademais, observa-se que o Regulamento
Penitenciário Federal, aprovado pelo Dec. 6.049/2007 – que disciplina as regras da execução da
pena em estabelecimento prisional federal, seguindo a diretriz traçada pela Lei 7.210/1984 (LEP)
–, determina expressamente a obrigatoriedade de instauração de procedimento administrativo
para apuração de falta disciplinar, bem como a imprescindibilidade da presença de advogado.
Seria, portanto, um verdadeiro contrassenso admitir que o preso que cumpre pena em
estabelecimento penal federal, regido pelo aludido Decreto, possua mais direitos e garantias em
relação àquele que esteja cumprindo pena em presídio estadual. Ademais, quanto ao disposto
no art. 118, I e § 2º, da LEP – que determina que o apenado deva ser ouvido previamente antes
de ser regredido definitivamente de regime –, mesmo que se entenda que somente o juiz possa
ouvi-lo, não se pode perder de vista que antes de ser aplicada qualquer sanção disciplinar pela
prática de falta grave deve ser instaurado o devido procedimento administrativo pelo diretor do
presídio. Somente após todo esse procedimento é que o diretor do estabelecimento prisional
representará ao juiz da execução para que aplique as sanções disciplinares de sua competência,
dentre elas, quando for o caso, a regressão de regime, ocasião em que o apenado deverá ser
previamente ouvido, por meio de sua defesa técnica. Dessarte, verifica-se que a defesa do
sentenciado no procedimento administrativo disciplinar revela-se muito mais abrangente em
relação à sua oitiva prevista no art. 118, § 2º, da LEP, tendo em vista que esta tem por finalidade
tão somente a questão acerca da regressão de regime, a ser determinada ou não pelo juiz da
execução. Nota-se que os procedimentos não se confundem. Ora, se de um lado, o PAD visa
apurar a ocorrência da própria falta grave, com observância do contraditório e da ampla defesa,
bem como a aplicação de diversas sanções disciplinares pela autoridade administrativa; de
outro, a oitiva do apenado tem como único objetivo a aplicação da sanção concernente à
regressão de regime, exigindo-se, por óbvio, que já tenha sido reconhecida a falta grave pelo
diretor do presídio. Conquanto a execução penal seja uma atividade complexa, pois desenvolve-
se nos planos jurisdicional e administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP, notadamente do
seu art. 66, que dispõe sobre a competência do juiz da execução, conclui-se que não há nenhum
dispositivo autorizando o magistrado instaurar diretamente procedimento judicial para
apuração de falta grave. Assim, embora o juiz da Vara de Execuções Penais possa exercer,
quando provocado, o controle de legalidade dos atos administrativos realizados pelo diretor do
estabelecimento prisional, bem como possua competência para determinadas questões no
âmbito da execução penal, não lhe é permitido adentrar em matéria de atribuição exclusiva da
autoridade administrativa, no que concerne à instauração do procedimento para fins de
apuração do cometimento de falta disciplinar pelo preso, sob pena de afronta ao princípio da
legalidade. REsp 1.378.557-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2013
(Informativo nº 0532).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INOCORRÊNCIA DE FALTA GRAVE PELA POSSE DE UM CABO USB,
UM FONE DE OUVIDO E UM MICROFONE POR VISITANTE DE PRESO.
No âmbito da execução penal, não configura falta grave a posse, em estabelecimento prisional,
de um cabo USB, um fone de ouvido e um microfone por visitante de preso. Primeiramente, os
referidos componentes eletrônicos não se amoldam às hipóteses previstas no art. 50, VII, da Lei
7.210/1984 porque, embora sejam considerados acessórios eletrônicos, não são essenciais ao
funcionamento de aparelho de telefonia celular ou de rádio de comunicação e, por isso, não
se enquadram na finalidade da norma proibitiva que é a de impedir a comunicação intra e
extramuros. Além disso, também não há como falar em configuração de falta grave, pois a
conduta praticada por visitante não pode alcançar a pessoa do preso, tendo em vista que os
componentes eletrônicos não foram apreendidos com o detento, mas com seu visitante. HC
255.569-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013 (Informativo nº 0519).
Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE NO RECONHECIMENTO DE FALTA GRAVE.
A mudança de endereço sem autorização judicial durante o curso do livramento condicional, em
descumprimento a uma das condições impostas na decisão que concedeu o benefício, não
configura, por si só, falta disciplinar de natureza grave. Com efeito, essa conduta não está
prevista no art. 50 da LEP, cujo teor estabelece, em rol taxativo, as hipóteses de falta grave, a
saber, as situações em que o condenado à pena privativa de liberdade: a) incitar ou participar
de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; b) fugir; c) possuir, indevidamente,
instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; d) provocar acidente de trabalho;
e) descumprir, no regime aberto, as condições impostas; f) inobservar os deveres previstos nos
incisos II e V do artigo 39 da LEP; e g) tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Desse modo, não é possível o reconhecimento da falta grave com fundamento na simples
mudança de endereço durante o curso do livramento condicional, sem que evidenciada
situação de fuga, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade. HC 203.015-SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 26/11/2013 (Informativo nº 0532).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. OFERECIMENTO DO
BENEFÍCIO AO ACUSADO POR PARTE DO JUÍZO COMPETENTE EM AÇÃO PENAL PÚBLICA.
O juízo competente deverá, no âmbito de ação penal pública, oferecer o benefício da
suspensão condicional do processo ao acusado caso constate, mediante provocação da parte
interessada, não só a insubsistência dos fundamentos utilizados pelo Ministério Público para
negar o benefício, mas o preenchimento dos requisitos especiais previstos no art. 89 da Lei n.
9.099/1995. A suspensão condicional do processo representa um direito subjetivo do acusado
na hipótese em que atendidos os requisitos previstos no art. 89 da Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais. Por essa razão, os indispensáveis fundamentos da recusa da proposta pelo
Ministério Público podem e devem ser submetidos ao juízo de legalidade por parte do Poder
Judiciário. Além disso, diante de uma negativa de proposta infundada por parte do órgão
ministerial, o Poder Judiciário estaria sendo compelido a prosseguir com uma persecução
penal desnecessária, na medida em que a suspensão condicional do processo representa uma
alternativa à persecução penal. Por efeito, tendo em vista o interesse público do instituto, a
proposta de suspensão condicional do processo não pode ficar ao alvedrio do MP. Ademais,
conforme se depreende da redação do art. 89 da Lei n. 9.099/1995, além dos requisitos objetivos
ali previstos para a suspensão condicional do processo, exige-se, também, a observância dos
requisitos subjetivos elencados no art. 77, II, do CP. Assim, pode-se imaginar, por exemplo,
situação em que o Ministério Público negue a benesse ao acusado por consideração a elemento
subjetivo elencado no art. 77, II, do CP, mas, ao final da instrução criminal, o magistrado
sentenciante não encontre fundamentos idôneos para valorar negativamente os requisitos
subjetivos previstos no art. 59 do CP (alguns comuns aos elencados no art. 77, II, do CP), fixando,
assim, a pena-base no mínimo legal. Daí a importância de que os fundamentos utilizados pelo
órgão ministerial para negar o benefício sejam submetidos, mediante provocação da parte
interessada, ao juízo de legalidade do Poder Judiciário. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 18/12/2012 (Informativo nº 0513).

2014

Segunda Turma
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS
PÚBLICAS RELACIONADO A INÚMERAS IRREGULARIDADES ESTRUTURAIS E SANITÁRIAS EM
CADEIA PÚBLICA.
Constatando-se inúmeras irregularidades em cadeia pública – superlotação, celas sem
condições mínimas de salubridade para a permanência de presos, notadamente em razão de
defeitos estruturais, de ausência de ventilação, de iluminação e de instalações sanitárias
adequadas, desrespeito à integridade física e moral dos detentos, havendo, inclusive, relato de
que as visitas íntimas seriam realizadas dentro das próprias celas e em grupos, e que existiriam
detentas acomodadas improvisadamente –, a alegação de ausência de previsão orçamentária
não impede que seja julgada procedente ação civil publica que, entre outras medidas, objetive
obrigar o Estado a adotar providências administrativas e respectiva previsão orçamentária para
reformar a referida cadeia pública ou construir nova unidade, mormente quando não houver
comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal. De fato,
evidencia-se, na hipótese em análise, clara situação de violação à garantia constitucional de
respeito da integridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX, da CF) e aos princípios da dignidade
da pessoa humana e do mínimo existencial. Nessas circunstâncias – em que o exercício da
discricionariedade administrativa pelo não desenvolvimento de determinadas políticas públicas
acarreta grave vulneração a direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição –,
a intervenção do Poder Judiciário se justifica como forma de implementar, concreta e
eficientemente, os valores que o constituinte elegeu como “supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social”, como apregoa o preâmbulo
da CF. Há, inclusive, precedentes do STF (RE-AgR 795.749, Segunda Turma, DJe 20/5/2014; e
ARE-AgR 639.337, Segunda Turma, DJe 15/9/2011) e do STJ (AgRg no REsp 1.107.511-RS,
Segunda Turma, DJe 6/12/2013) endossando a possibilidade de excepcional controle judicial de
políticas públicas. Além disso, não há, na intervenção em análise, ofensa ao princípio da
separação dos poderes. Isso porque a concretização dos direitos sociais não pode ficar
condicionada à boa vontade do Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário
atue como órgão controlador da atividade administrativa. Seria distorção pensar que o
princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos
direitos fundamentais, pudesse ser utilizado como óbice à realização dos direitos sociais,
igualmente importantes. Tratando-se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo
existencial, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário estabeleça a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político, mormente
quando não houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da
pessoa estatal. Ademais, também não há como falar em ofensa aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei
4.320/1964 (que preveem a necessidade de previsão orçamentária para a realização das
obras em apreço), na medida em que a ação civil pública analisada objetiva obrigar o Estado
a realizar previsão orçamentária das obras solicitadas, não desconsiderando, portanto, a
necessidade de previsão orçamentária das obras. Além do mais, tem-se visto,
recorrentemente, a invocação da teoria da reserva do possível, importada do Direito
alemão, como escudo para o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações
prioritárias. Não se pode deixar de reconhecer que as limitações orçamentárias são um
entrave para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o
princípio da reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada. Na
verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode
requerer do Estado uma prestação que se dê nos limites do razoável, ou seja, na qual o
peticionante atenda aos requisitos objetivos para sua fruição. Informa a doutrina
especializada que, de acordo com a jurisprudência da Corte Constitucional alemã, os direitos
sociais prestacionais estão sujeitos à reserva do possível no sentido daquilo que o indivíduo,
de maneira racional, pode esperar da sociedade. Ocorre que não se podem importar
preceitos do direito comparado sem atentar para Estado brasileiro. Na Alemanha, os
cidadãos já dispõem de um mínimo de prestações materiais capazes de assegurar existência
digna. Por esse motivo, o indivíduo não pode exigir do Estado prestações supérfluas, pois
isso escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a sociedade arque com esse
ônus. Eis a correta compreensão do princípio da reserva do possível, tal como foi formulado
pela jurisprudência germânica. Todavia, situação completamente diversa é a que se
observa nos países periféricos, como é o caso do Brasil, país no qual ainda não foram
asseguradas, para a maioria dos cidadãos, condições mínimas para uma vida digna. Nesse
caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente não pode
ser encarado como sem razão, pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos
principais do Estado brasileiro. É por isso que o princípio da reserva do possível não pode
ser oposto a um outro princípio, conhecido como princípio do mínimo existencial. Desse
modo, somente depois de atingido esse mínimo existencial é que se poderá discutir,
relativamente aos recursos remanescentes, em quais outros projetos se deve investir. Ou
seja, não se nega que haja ausência de recursos suficientes para atender a todas as
atribuições que a Constituição e a Lei impuseram ao estado. Todavia, se não se pode
cumprir tudo, deve-se, ao menos, garantir aos cidadãos um mínimo de direitos que são
essenciais a uma vida digna, entre os quais, sem a menor dúvida, podemos incluir um
padrão mínimo de dignidade às pessoas encarceradas em estabelecimentos prisionais. Por
esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da
pessoa estatal, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário determine a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político. REsp 1.389.952-
MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/6/2014 (Informativo nº 543).

Corte Especial
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. REJEIÇÃO DE QUEIXA-CRIME RELACIONADA À SUPOSTA
PRÁTICA DE CRIME CONTRA A HONRA.
A queixa-crime que impute ao querelado a prática de crime contra a honra deve ser rejeitada
na hipótese em que o querelante se limite a transcrever algumas frases, escritas pelo
querelado em sua rede social, segundo as quais o querelante seria um litigante habitual do
Poder Judiciário (fato notório, publicado em inúmeros órgãos de imprensa), sem
esclarecimentos que possibilitem uma análise do elemento subjetivo da conduta do querelado
consistente no intento positivo e deliberado de lesar a honra do ofendido. A nova sistemática
do processo penal traz os aspectos nos quais o magistrado deve se debruçar na fase de
prelibação. O inciso I do art. 395 do CPP, a propósito, dispõe que a denúncia ou queixa será
rejeitada quando “for manifestamente inepta”. Na situação em análise, a queixa-crime não
atende ao comando estabelecido pelo art. 41 do CPP, segundo o qual a “denúncia ou queixa
conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas”. Isso porque, embora se exija, para a caracterização de crime
contra a honra, demonstração do intento positivo e deliberado de lesar a honra alheia (animus
injuriandi vel diffamandi), não existem, na queixa-crime em apreço, esclarecimentos que
possibilitem uma análise do elemento subjetivo da conduta do querelado consistente no intento
positivo e deliberado de lesar a honra do ofendido. AP 724-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 20/8/2014 (Informativo 547).

Corte Especial
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE DA
AÇÃO PENAL PRIVADA.
Caso o querelante proponha, na própria queixa-crime, composição civil de danos para parte dos
querelados, a peça acusatória deverá ser rejeitada em sua integralidade – isto é, em relação a
todos os querelados. Isso porque a composição pelos danos, sendo aceita e homologada
judicialmente, implica a renúncia ao direito de queixa, nos termos do disposto no art. 74,
parágrafo único, da Lei 9.099/1995, tratando-se a renúncia, expressa ou tácita (art. 104 do CP),
de causa extintiva da punibilidade, sendo irretratável (art. 107, V, CP). Por força do princípio
da indivisibilidade, a todos se estende a manifestação do intento de não processar parte dos
envolvidos, de modo que a renúncia beneficia a todos eles. Precedente citado: HC 29.861-SP,
Quinta Turma, DJ 25/2/2004. AP 724-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/8/2014
(Informativo nº 547).

Quinta Turma
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. DEMONSTRAÇÃO DA MATERIALIDADE DO CRIME
PREVISTO NO ART. 7º, IX, DA LEI 8.137/1990.
Para a demonstração da materialidade do crime previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990, é
imprescindível a realização de perícia para atestar se as mercadorias apreendidas estavam em
condições impróprias para o consumo. Precedentes citados do STJ: AgRg no REsp 1.175.679-RS,
Sexta Turma, DJe 28/3/2012; e HC 132.257-SP, Quinta Turma, DJe 8/9/2011. Precedente citado
do STF: HC 90.779-PR, Primeira Turma, DJe 23/10/2008. AgRg no Resp 1.111.736-RS, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2013 (Informativo nº 533).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. VALOR MÍNIMO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ARBITRADOS
EM FAVOR DO DEFENSOR DATIVO.
O arbitramento judicial dos honorários advocatícios ao defensor dativo nomeado para oficiar
em processos criminais deve observar os valores mínimos estabelecidos na tabela da OAB,
considerados o grau de zelo do profissional e a dificuldade da causa como parâmetros
norteadores do quantum. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.350.442-ES, Quinta Turma, DJe
1/2/2013; AgRg no REsp 999.078-AL, Sexta Turma, DJe 14/10/2013; e AgRg no REsp 1.370.209-
ES, Segunda Turma, DJe 14/6/2013. REsp 1.377.798-ES, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 19/8/2014 (Informativo nº 545).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INDICIAMENTO COMO ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DA AUTORIDADE
POLICIAL.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o
indiciamento constitui atribuição exclusiva da autoridade policial. De fato, é por meio do
indiciamento que a autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora do ilícito em
apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória, por meio da qual o delegado de
polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se admite que
seja requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o
presidente do inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o responsável pela
prática criminosa, em nítida violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento
jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido, é a inteligência do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, o qual
consigna que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da polícia judiciária.
Precedente citado do STF: HC 115.015-SP, Segunda Turma, DJe 11/9/2013. RHC 47.984-SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014. (Informativo nº 552).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA INEPTA POR FALTA DE DESCRIÇÃO ADEQUADA DE
CONDUTA COMISSIVA POR OMISSÃO.
É inepta denúncia que impute a prática de homicídio na forma omissiva imprópria quando não
há descrição clara e precisa de como a acusada – médica cirurgiã de sobreaviso – poderia ter
impedido o resultado morte, sendo insuficiente a simples menção do não comparecimento da
denunciada à unidade hospitalar, quando lhe foi solicitada a presença para prestar imediato
atendimento a paciente que foi a óbito. Com efeito, o legislador estabeleceu alguns requisitos
essenciais para a formalização da acusação, a fim de que seja assegurado ao acusado o
escorreito exercício do contraditório e da ampla defesa, pois a higidez da denúncia é uma
garantia do denunciado. Neste contexto, quando se imputa a alguém crime comissivo por
omissão (art. 13, § 2º, b, do CP), é necessário que se demonstre o nexo normativo entre a
conduta omissiva e o resultado normativo, porque só se tem por constituída a relação de
causalidade se, baseado em elementos empíricos, for possível concluir, com alto grau de
probabilidade, que o resultado não ocorreria se a ação devida fosse efetivamente realizada.
Na hipótese em foco, a denúncia não descreveu com a clareza necessária qual foi a conduta
omitida pela denunciada que teria impedido o resultado morte, com probabilidade próxima
da certeza. Assim, se inexistir a descrição do liame de causalidade normativa entre a conduta
comissiva por omissão e a morte da vítima, não há que se falar em materialidade de crime de
homicídio, porquanto é imprescindível que a imputação esteja embasada em prova técnica,
como laudo cadavérico, parecer médico ou perícia médica, que permita, com dados
científicos, demonstrar com a mínima segurança que a vítima evoluiu a óbito por falta daquele
atendimento médico imediato e especializado não prestado pelo acusado. Destaque-se que a
falta de laudo de necropsia não impede o reconhecimento da materialidade delitiva nos crimes
de homicídio, podendo, muitas vezes, vir demonstrada por outros meios de prova, como, por
exemplo, depoimentos testemunhais. RHC 39.627-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 8/4/2014 (Informativo nº 538).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA QUE NÃO DESCREVE DE FORMA CLARA E
PRECISA A CONDUTA DO AGENTE.
É inepta denúncia que, ao descrever a conduta do acusado como sendo dolosa, o faz de forma
genérica, a ponto de ser possível enquadrá-la tanto como culpa consciente quanto como dolo
eventual. Com efeito, o elemento psíquico que caracteriza o injusto penal, em sua forma
dolosa ou culposa, deve estar bem caracterizado, desde a denúncia, pois é tênue a linha entre
o dolo eventual e a culpa consciente. Na hipótese em análise, há nítida violação da garantia do
contraditório e da plenitude de defesa, por não despontar da exordial acusatória, com a clareza
e a precisão exigidas, o dolo, em sua forma eventual, que teria animado o agente, sendo
impossível conhecer no caso em apreço as circunstâncias subjetivas. RHC 39.627-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 8/4/2014 (Informativo nº 538).

Quinta Turma
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. PROCEDIMENTO PARA A CONVERSÃO DA PENA
RESTRITIVA DE DIREITOS EM PRIVATIVA DE LIBERDADE.
É imprescindível a prévia intimação pessoal do reeducando que descumpre pena restritiva de
direitos para que se proceda à conversão da pena alternativa em privativa de liberdade. Isso
porque se deve dar oportunidade para que o reeduncando esclareça as razões do
descumprimento, em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Precedentes citados: HC 256.036-SP, Quinta Turma, DJe 3/9/2013; HC 221.404-RJ, Sexta Turma,
DJe 23/4/2013. HC 251.312-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/2/2014 (Informativo nº
536).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NULIDADE DE PROVA ADVINDA DE QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO
PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
Os dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 6º da LC 105/2001, mediante
requisição direta às instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal sem
prévia autorização judicial, não podem ser utilizados para sustentar condenação em processo
penal. Efetivamente, afigura-se decorrência lógica do respeito aos direitos à intimidade e à
privacidade (art. 5º, X, da CF) a proibição de que a administração fazendária afaste, por
autoridade própria, o sigilo bancário do contribuinte, especialmente se considerada sua posição
de parte na relação jurídico-tributária, com interesse direto no resultado da fiscalização. Apenas
o Judiciário, desinteressado que é na solução material da causa e, por assim dizer, órgão
imparcial, está apto a efetuar a ponderação imprescindível entre o dever de sigilo – decorrente
da privacidade e da intimidade asseguradas aos indivíduos em geral e aos contribuintes, em
especial – e o também dever de preservação da ordem jurídica mediante a investigação de
condutas a ela atentatórias. Nesse contexto, diante da ilicitude da quebra do sigilo bancário
realizada diretamente pela autoridade fiscalizadora sem prévia autorização judicial, deve ser
reconhecida a inadmissibilidade das provas dela advindas, na forma do art. 157 do CPP, de
acordo com o qual “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas
ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”. Precedente
citado do STF: RE 389.808-PR, Tribunal Pleno, DJe 9/5/2011. Precedente citado do STJ: RHC
41.532-PR, Sexta Turma, DJe 28/2/2014; e AgRg no REsp 1.402.649-BA, Sexta Turma, DJe
18/11/2013. REsp 1.361.174-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/6/2014
(Informativo nº 543).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAR DECISÃO QUE DETERMINE


DILIGÊNCIAS INVASIVAS DE ACESSO DE DADOS.
É nula a decisão que, sem fundamentação, determine o acesso a dados bancários, telefônicos e
de empresas de transporte aéreo, ainda que as diligências tenham sido solicitadas com o
objetivo de verificar o regular cumprimento de pena restritiva de direitos. De fato, é garantido
ao cidadão o direito à intimidade e à vida privada, com a inviolabilidade do sigilo de seus dados,
inclusive bancários e fiscal (art. 5º, X e XII, da CF; arts. 1º e 5º da Lei 9.296/1996; art. 1º, § 4º, e
art. 2º da LC 105/2001; e art. 3º da Lei 9.472/1997). Embora não sejam absolutas as restrições
de acesso à privacidade e aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer
decisão judicial explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF), ainda que considerado o interesse
público no acompanhamento da execução penal. REsp 1.133.877-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 19/8/2014 (Informativo nº 545).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA POR


PRISÃO DOMICILIAR (ART. 318 DO CPP).
É possível a substituição de prisão preventiva por prisão domiciliar, quando demostrada a
imprescindibilidade de cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos de idade (art. 318, III,
do CPP) e o decreto prisional não indicar peculiaridades concretas a justificar a manutenção
da segregação cautelar em estabelecimento prisional. Na situação em análise, não se mostra
adequada a manutenção do encarceramento do paciente quando presente um dos requisitos
do art. 318 do CPP. Ademais, a prisão domiciliar, na hipótese, revela-se adequada para
garantir a ordem pública, sobretudo por não haver, no decreto prisional, demonstração de
periculosidade concreta1, a evidenciar que a cautela extrema seria a única medida a tutelar a
ordem pública. Além disso, a substituição da prisão preventiva se justifica, por razões
humanitárias, além de ser útil e razoável como alternativa à prisão ad custodiam. Ressalte-se a
posição central, em nosso ordenamento jurídico, da doutrina da proteção integral e do princípio
da prioridade absoluta, previstos no art. 227 da CF, no ECA e, ainda, na Convenção Internacional
dos Direitos da Criança, ratificada pelo Decreto 99.710/1990. Portanto, atendidos os requisitos
legais e em nome da dignidade da pessoa humana, bem como da proteção integral da criança,
é possível substituir a prisão preventiva do paciente por prisão domiciliar. HC 291.439-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/5/2014 (Informativo nº 544).

1
Tese para defesa: para se decretar a prisão preventiva, deve-se demonstrar a existência de periculosidade concreta, a demonstrar
que a cautela extrema seria a única medida apta a tutelar a ordem pública.
Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA TESTEMUNHAL.
Pode ser deferida produção antecipada de prova testemunhal – nos termos do art. 366 do CPP
– sob o fundamento de que a medida revelar-se-ia necessária pelo fato de a testemunha exercer
função de segurança pública. O atuar constante no combate à criminalidade expõe o agente
da segurança pública a inúmeras situações conflituosas com o ordenamento jurídico, sendo
certo que as peculiaridades de cada uma acabam se perdendo em sua memória2, seja pela
frequência com que ocorrem, ou pela própria similitude dos fatos, sendo inviável a exigência
de qualquer esforço intelectivo que ultrapasse a normalidade para que estes profissionais
colaborem com a Justiça apenas quando o acusado se submeta ao contraditório deflagrado na
ação penal. Esse é o tipo de situação que justifica a produção antecipada da prova testemunhal,
pois além da proximidade temporal com a ocorrência dos fatos proporcionar uma maior
fidelidade das declarações, possibilita o registro oficial da versão dos fatos vivenciados pelo
agente da segurança pública, o qual terá grande relevância para a garantia da ampla defesa do
acusado, caso a defesa técnica repute necessária a repetição do seu depoimento por ocasião da
retomada do curso da ação penal. Precedente citado: HC 165.659-SP, Sexta Turma, DJe
26/8/2014. RHC 51.232-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 2/10/2014 (Informativo nº 549).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. UTILIZAÇÃO NO PROCESSO PENAL DE INFORMAÇÕES OBTIDAS
PELA RECEITA FEDERAL MEDIANTE REQUISIÇÃO DIRETA ÀS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS.
Os dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 6º da LC 105/2001, mediante
requisição direta às instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal sem
prévia autorização judicial, não podem ser utilizados no processo penal, sobretudo para dar base
à ação penal. Há de se ressaltar que não está em debate a questão referente à possibilidade do
fornecimento de informações bancárias, para fins de constituição de créditos tributários, pelas
instituições financeiras ao Fisco sem autorização judicial – tema cuja repercussão geral foi
reconhecida no RE 601.314-SP, pendente de apreciação. Discute-se se essas informações podem
servir de base à ação penal. Nesse contexto, reafirma-se, conforme já decidido pela Sexta Turma
do STJ, que as informações obtidas pelo Fisco, quando enviadas ao MP para fins penais,
configuram inadmissível quebra de sigilo bancário sem prévia autorização judicial. Não cabe à
Receita Federal, órgão interessado no processo administrativo e sem competência
constitucional específica, requisitar diretamente às instituições bancárias a quebra do sigilo
bancário. Pleito nesse sentido deve ser necessariamente submetido à avaliação do magistrado
competente, a quem cabe motivar concretamente sua decisão, em observância aos arts. 5º, XII
e 93, IX, da CF. Precedentes citados: HC 237.057-RJ, Sexta Turma, DJe 27/2/2013; REsp
1.201.442-RJ, Sexta Turma, DJe 22/8/2013; AgRg no REsp 1.402.649-BA, Sexta Turma, DJe
18/11/2013. RHC 41.532-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/02/2014
(Informativo nº 535).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL NO CASO DE


INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO QUANDO CABÍVEL RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
Pode ser conhecida como recurso em sentido estrito a apelação erroneamente interposta contra
decisão que julga inepta a denúncia, com a condição de que, constatada a ausência de má-fé,
tenha sido observado o prazo legal para a interposição daquele recurso e desde que o erro não
tenha gerado prejuízo à parte recorrida no que tange ao processamento do recurso. Isso porque,
nessa situação, tem aplicabilidade o princípio da fungibilidade recursal. De fato, o art. 581, I, do
CPP dispõe que caberá recurso em sentido estrito da decisão, despacho ou sentença que não
receber a denúncia ou a queixa. Todavia, o mero equívoco na indicação do meio de impugnação

2
Tese para defesa: os depoimentos dos agentes de segurança pública devem ser tomados com cautela, haja vista a quantidade de
ocorrências que atendem no dia a dia, fato que, segundo o STJ, prejudica a descrição dos pormenores sobre o caso concreto.
escolhido para atacar a decisão não deve implicar necessariamente a inadmissibilidade do
recurso, conforme determina o art. 579 do CPP, segundo o qual “Salvo a hipótese de má-fé, a
parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz,
desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo
de acordo com o rito do recurso cabível”. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.244.829-RS,
Quinta Turma, DJe 27/4/2012; e HC 117.118-MG, Sexta Turma, DJe 3/8/2009. REsp 1.182.251-
MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/6/2014 (Informativo nº 543).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA PARA ATRIBUIÇÃO DE EFEITO
SUSPENSIVO A RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
Não cabe, na análise de pedido liminar de mandado de segurança, atribuir efeito suspensivo
ativo a recurso em sentido estrito interposto contra a rejeição de denúncia, sobretudo sem a
prévia oitiva do réu. Destaca-se que, em situações teratológicas, abusivas e que possam gerar
dano irreparável à parte, admite-se, excepcionalmente, a impetração de mandado de
segurança contra ato judicial para atribuir-lhe efeito suspensivo. No entanto, tratando-se de
não recebimento de denúncia, nem sequer em hipóteses de teratologia seria permitida a
realização do ato em outra relação processual. Com efeito, em homenagem ao princípio do
devido processo legal, o recebimento da denúncia deve ocorrer, necessariamente, nos autos da
ação penal instaurada para apurar a prática do suposto ato criminoso. Ademais, há de ressaltar
que o não recebimento da denúncia gera para o réu uma presunção de que não se instaurará,
contra ele, a ação penal. Essa presunção, contudo, não é absoluta, pois contra a rejeição da
denúncia pode ser interposto recurso em sentido estrito. No entanto, permitir-se-á ao réu a
apresentação de contrarrazões e a sustentação oral antes de seu julgamento do recurso pelo
colegiado. Desse modo, observa-se que, por certo, viola o contraditório e a ampla defesa decisão
liminar proferida na análise de mandado de segurança que determine o recebimento da
denúncia sem permitir qualquer manifestação da parte contrária. Ressalte-se, ainda, que o
recebimento da denúncia, nessas circunstâncias, causa um tumulto processual inaceitável,
porque, ao mesmo tempo em que nos autos da ação principal há uma decisão de rejeição da
denúncia (pendente de julgamento do recurso cabível), em razão de liminar concedida em outra
relação processual, qual seja, um mandado de segurança, há o recebimento da inicial acusatória.
O tumulto processual é tão grande que a parte ré, beneficiada pela rejeição da denúncia (em
decisão ainda não modificada dentro da própria ação penal), por meio de uma liminar proferida
em mandado de segurança, se vê obrigada a, nos autos da ação principal, apresentar resposta à
acusação, em primeira instância, e contrarrazões ao recurso em sentido estrito, em segunda
instância, além de ter de se manifestar no mandado de segurança, que é uma relação processual
autônoma. HC 296.848-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/9/2014 (Informativo
nº 547).

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA


PENAL QUE DETERMINE A PERDA DO CARGO PÚBLICO.
A determinação da perda de cargo público fundada na aplicação de pena privativa de liberdade
superior a 4 anos (art. 92, I, b, do CP) pressupõe fundamentação concreta que justifique o
cabimento da medida. De fato, para que seja declarada a perda do cargo público, na hipótese
descrita no art. 92, I, b, do CP, são necessários dois requisitos: a) que o quantum da sanção penal
privativa de liberdade seja superior a 4 anos; e b) que a decisão proferida apresente-se de forma
motivada, com a explicitação das razões que ensejaram o cabimento da medida. A motivação
dos atos jurisdicionais, conforme imposição do art. 93, IX, da CF (“Todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade...”), funciona como garantia da atuação imparcial e secundum legis (sentido lato) do
órgão julgador. Ademais, a motivação dos atos judiciais serve de controle social sobre os atos
judiciais e de controle pelas partes sobre a atividade intelectual do julgador, para que
verifiquem se este, ao decidir, considerou todos os argumentos e as provas produzidas pelas
partes e se bem aplicou o direito ao caso concreto. Por fim, registre-se que o tratamento
jurídico-penal será diverso quando se tratar de crimes previstos no art. 1º da Lei 9.455/1997 (Lei
de Tortura). Isso porque, conforme dispõe o § 5º do art. 1º deste diploma legal, a perda do cargo,
função ou emprego público é efeito automático da condenação, sendo dispensável
fundamentação concreta. REsp 1.044.866-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
2/10/2014 (Informativo nº 549).

2015

Recursos Repetitivos (ACHO QUE ESSE ENTENDIMENTO FOI SUPERADO)


DIREITO PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE INDEPENDENTEMENTE DO ADIMPLEMENTO DA
PENA DE MULTA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 931.
Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e multa, cumprida a primeira
(ou a restritiva de direitos que eventualmente a tenha substituído), o inadimplemento da sanção
pecuniária não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade. A Lei 9.268/1996 deu nova
redação ao art. 51 do CP e extirpou do diploma jurídico a possibilidade de conversão da pena de
multa em detenção, no caso de inadimplemento da sanção pecuniária. Após a alteração
legislativa, o mencionado artigo passou a vigorar com a seguinte redação: “Transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as
normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da prescrição”. Portanto, diante da nova redação dada ao CP,
a pena de multa não mais possui o condão de constranger o direito à locomoção do sentenciado
(STF: AgRg no HC 81.480-SP, Primeira Turma, DJ 5/4/2002; e HC 73.758-SP, Segunda Turma, DJ
24/9/1999). É imperioso frisar que a nova redação do art. 51 do CP trata da pena de multa como
dívida de valor já a partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, ou seja, em
momento, inclusive, anterior ao próprio cumprimento da pena privativa de liberdade ou da
restritiva de direitos. Isso implica afirmar que o jus puniendi do Estado exaure-se ao fim da
execução da pena privativa de liberdade ou da restritiva de direitos, porquanto, em nenhum
momento, engloba a pena de multa, considerada dívida de valor a partir do trânsito em julgado
da sentença penal condenatória. Entendimento oposto, ou seja, a possibilidade de constrição
da liberdade daquele que é apenado somente em razão de sanção pecuniária, consistiria em
legitimação da prisão por dívida, em afronta, portanto, ao disposto no art. 5º, LXVII, da CF e,
ainda, no art. 7º, 7, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da
Costa Rica), cujo texto estabelece que “ninguém deve ser detido por dívida”. Dessa forma, o
reconhecimento da pena de multa como dívida de valor atribui à sanção pecuniária caráter
extrapenal. Se a natureza da multa, após o trânsito em julgado da condenação, fosse
compreendida como de caráter penal, mesmo diante da extinção da pena privativa de liberdade
ou da restritiva de direitos pelo cumprimento, os efeitos da sentença se conservariam até o
adimplemento da pena pecuniária, porquanto não reconhecida a extinção da punibilidade do
apenado. Após a alteração legislativa que considerou a pena de multa como dívida de valor,
deve-se assinalar também a alteração da competência para a execução da sanção, exclusiva,
então, da Fazenda Pública, conforme disposto no enunciado da Súmula 521 do STJ: “A
legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença
condenatória é exclusiva da Fazenda Pública”. Portanto, extinta a pena privativa de liberdade
(ou restritiva de direitos) pelo seu cumprimento, o inadimplemento da pena de multa não obsta
a extinção da punibilidade do apenado, porquanto, após a nova redação do art. 51 do CP, dada
pela Lei 9.268/1996, a pena pecuniária é considerada dívida de valor e, desse modo, possui
caráter extrapenal, de forma que sua execução é de competência exclusiva da Procuradoria da
Fazenda Pública. REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
26/8/2015, DJe 10/9/2015 (Informativo 568).
Recursos Repetitivos
DIREITO PENAL. FURTO PRATICADO NO INTERIOR DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL
GUARNECIDO POR MECANISMO DE VIGILÂNCIA E DE SEGURANÇA. RECURSO REPETITIVO (ART.
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 924.
A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si só,
o crime de furto cometido no interior de estabelecimento comercial. O crime impossível –
subordinado às regras da adequação típica – se manifesta por meio de duas modalidades
clássicas (art. 17 do CP): (a) a ineficácia absoluta dos meios empregados pelo agente e (b) a
absoluta impropriedade do objeto. A primeira decorre dos meios empregados pelo agente nos
atos executivos. A segunda refere-se à hipótese em que o objeto do crime não existe ou lhe falta
alguma qualidade imprescindível para configurar-se a infração. No tocante à primeira
modalidade (em torno da qual surge a discussão aqui enfrentada), há que se distinguir a
insuficiência do meio (inidoneidade relativa) – deficiência de forças para alcançar o fim delituoso
e determinada por razões de qualidade, quantidade, ou de modo – da ausência completa de
potencialidade causal (inidoneidade absoluta), observando-se que a primeira (diferentemente
da segunda) não torna absolutamente impossível o resultado que consuma o delito, pois o
fortuito pode suprir a insuficiência do meio empregado. No caso de furto praticado no interior
de estabelecimento comercial guarnecido por mecanismo de vigilância e de segurança, tem-se
que, embora os sistemas eletrônicos de vigilância tenham por objetivo evitar a ocorrência de
furtos, sua eficiência apenas minimiza as perdas dos comerciantes, visto que não impedem, de
modo absoluto, a ocorrência de subtrações no interior de estabelecimentos comerciais. Ora,
não se pode afirmar, em um juízo normativo de perigo potencial, que o equipamento funcionará
normalmente, que haverá vigilante a observar todas as câmeras durante todo o tempo, que as
devidas providências de abordagem do agente serão adotadas após a constatação do ilícito etc.
Conquanto se possa crer que, sob a perspectiva do que normalmente acontece, na maior parte
dos casos o agente não logrará consumar a subtração de produtos do interior do
estabelecimento comercial guarnecido por mecanismos de vigilância e de segurança, sempre
haverá o risco de que providências tomadas, por qualquer motivo, não frustrem a ação
delitiva. Além disso, os atos do agente não devem ser apreciados isoladamente, mas em sua
totalidade, uma vez que o criminoso pode se valer de atos inidôneos no início da execução,
mas ante a sua indiscutível inutilidade, passar a praticar atos idôneos. Portanto, na hipótese
aqui analisada, o meio empregado pelo agente é de inidoneidade relativa, visto que há
possibilidade (remota) de consumação do delito3. Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se
apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento do instituto do crime impossível
previsto no art. 17 do CP. REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção,
julgado em 27/5/2015, DJe 2/6/2015 (Informativo 563).

Recursos Repetitivos
DIREITO PENAL. REMIÇÃO DE PENA EM RAZÃO DE ATIVIDADE LABORATIVA EXTRAMUROS.
RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 917.
É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime
fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa extramuros. Segundo o art. 126,
caput, da Lei de Execução Penal (LEP), “O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena”.
Ainda, dispõe o § 6º do referido dispositivo legal que: “O condenado que cumpre pena em
regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela
frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução
da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1º deste artigo”. Constata-

33
Tese para defesa: O acórdão sustenta a ocorrência de inidoneidade relativa dos meios empregados pelo agente, mencionando
ser remota a possibilidade de consumação. Se houver denúncia por furto consumado, defender, com base nesse entendimento,
figura tentada.
se que os dispositivos supracitados não fizeram nenhuma distinção ou referência, para fins de
remição de parte do tempo de execução da pena, quanto ao local em que deve ser
desempenhada a atividade laborativa, de modo que se mostra indiferente o fato de o trabalho
ser exercido dentro ou fora do ambiente carcerário. Na verdade, a lei exige apenas que o
condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado ou semiaberto (HC 206.313-RJ, Quinta
Turma, DJe 11/12/2013). Ademais, se o condenado que cumpre pena em regime aberto ou
semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequência a curso de ensino regular ou de
educação profissional, não há razões para não considerar o trabalho extramuros de quem
cumpre pena em regime semiaberto como fator de contagem do tempo para fins de remição.
Além disso, insta salientar que o art. 36 da LEP somente prescreve a exigência de que o trabalho
externo seja exercido, pelos presos em regime fechado, por meio de “serviço ou obras públicas
realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que
tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina”. Dessa forma, em homenagem,
sobretudo, ao princípio da legalidade, não cabe restringir a futura concessão de remição da pena
somente àqueles que prestam serviço nas dependências do estabelecimento prisional,
tampouco deixar de recompensar o apenado que, cumprindo a pena no regime semiaberto,
exerça atividade laborativa, ainda que extramuros. Na verdade, a LEP direciona-se a premiar o
apenado que demonstra esforço em se ressocializar e que busca, na atividade laboral, um
incentivo maior à reintegração social: “A execução penal tem por objetivo efetivar as
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e do internado” (art. 1º). A ausência de distinção pela lei, para
fins de remição, quanto à espécie ou ao local em que o trabalho é realizado, espelha a própria
função ressocializadora da pena, inserindo o condenado no mercado de trabalho e no próprio
meio social, minimizando suas chances de recidiva delitiva. De mais a mais, ausentes, por
deficiência estrutural ou funcional do Sistema Penitenciário, as condições que permitam a oferta
de trabalho digno para todos os apenados aptos à atividade laborativa, não se há de impor ao
condenado que exerce trabalho extramuros os ônus decorrentes dessa ineficiência. Cabe
ressaltar que a supervisão direta do próprio trabalho deve ficar a cargo do patrão do apenado,
cumprindo à administração carcerária a supervisão sobre a regularidade do trabalho. Por fim,
se concedida ao apenado pelo Juízo das Execuções Criminais a possibilidade de realização de
trabalho extramuros, mostrar-se-ia, no mínimo, contraditório o Estado-Juiz permitir a
realização dessa atividade fora do estabelecimento prisional, com vistas à ressocialização do
apenado, e, ao mesmo tempo, ilidir o benefício da remição. REsp 1.381.315-RJ, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 13/5/2015, DJe 19/5/2015 (Informativo 562).

Quarta Turma
DIREITO CIVIL. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E SENTENÇA CÍVEL QUE RECONHECE A
OCORRÊNCIA DE CULPA RECÍPROCA.
Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo,
o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento
na concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência
de culpa concorrente da vítima para fixar o valor da indenização. É sabido que o ordenamento
jurídico pátrio adota o princípio da independência entre as instâncias administrativa, cível e
criminal. É o que reza o art. 935 do CC quando destaca que a “responsabilidade civil é
independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre
quem seja o autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. Observe-se
que, não obstante a primeira parte do dispositivo acima citado expressamente assentar que a
responsabilidade cível pelo mesmo fato é independente da responsabilidade criminal, o trecho
final do artigo explicita que a referida separação não é absoluta, uma vez que a independência
é relativa. Em virtude de diversos questionamentos sobre a matéria, na I Jornada de Direito Civil,
promovida pelo CJF e pelo STJ, foi aprovado o Enunciado 45, cuja redação destacou que “no
caso do art. 935, não mais se poderá questionar sobre a existência do fato ou quem seja o seu
autor se estas questões se acharem categoricamente decididas no juízo criminal”. Além disso, o
art. 91, I, do Código Penal dispõe que a condenação penal torna certa a obrigação de indenizar
o dano causado pelo crime. Desse modo, a sentença penal condenatória decorrente da mesma
situação fática geradora da responsabilidade civil provoca incontornável dever de indenizar, sob
pena de afronta direta ao aludido art. 91, I, do CP. Some-se a isso o fato de que o CPC reconhece
a sentença penal condenatória como título executivo judicial (art. 475-N, II, do CPC). Ademais,
com a reforma efetuada pela Lei 11.719/2008, o parágrafo único do art. 63 do CPP passou a
estipular que “Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada
pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido”. Nessa linha intelectiva, apesar da
impossibilidade de discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta que a sentença cível, após
o exame dos autos e das circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima,
conclua pela existência de concorrência de culpas em relação ao evento danoso (REsp 735.087-
SP, Terceira Turma, DJ 20/02/2006; e REsp 83.889-RS, Terceira Turma, DJ 3/5/1999). Contudo,
é claro que não poderá o juízo civil, ao apurar o grau da responsabilidade civil decorrente do
mesmo delito, afastar a indenização decorrente da prática de crime, ainda mais se baseando em
situação caracterizadora de culpa concorrente, que não se inclui nas hipóteses de excludente da
responsabilidade civil. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015,
DJe 26/10/2015 (Informativo 572).

Corte Especial
DIREITO CONSTITUCIONAL E PENAL. INCONSTITUCIONALIDADE DO PRECEITO SECUNDÁRIO DO
ART. 273, § 1º-B, V, DO CP.
É inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, V, do CP – “reclusão, de 10 (dez) a
15 (quinze) anos, e multa” –, devendo-se considerar, no cálculo da reprimenda, a pena prevista
no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), com possibilidade de incidência da
causa de diminuição de pena do respectivo § 4º. De fato, é viável a fiscalização judicial da
constitucionalidade de preceito legislativo que implique intervenção estatal por meio do Direito
Penal, examinando se o legislador considerou suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou
de sua margem de ação de forma adequada para a proteção suficiente dos bens jurídicos
fundamentais. Nesse sentido, a Segunda Turma do STF (HC 104.410-RS, DJe 27/3/2012) expôs o
entendimento de que os “mandatos constitucionais de criminalização [...] impõem ao legislador
[...] o dever de observância do princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente. A idéia é a de que a intervenção estatal por meio do Direito
Penal, como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade [...] Abre-
se, com isso, a possibilidade do controle da constitucionalidade da atividade legislativa em
matéria penal”. Sendo assim, em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e
razoabilidade das leis restritivas de direitos (CF, art. 5º, LIV), é imprescindível a atuação do
Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena de “reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e
multa” abstratamente cominada à conduta inscrita no art. 273, § 1º-B, V, do CP, referente ao
crime de ter em depósito, para venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de
procedência ignorada. Isso porque, se esse delito for comparado, por exemplo, com o crime de
tráfico ilícito de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública),
percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, do CP,
sobretudo após a edição da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), que, apesar de ter aumentado a
pena mínima de 3 para 5 anos, introduziu a possibilidade de redução da reprimenda, quando
aplicável o § 4º do art. 33, de 1/6 a 2/3. Com isso, em inúmeros casos, o esporádico e pequeno
traficante pode receber a exígua pena privativa de liberdade de 1 ano e 8 meses. E mais: é
possível, ainda, sua substituição por restritiva de direitos. De mais a mais, constata-se que a
pena mínima cominada ao crime ora em debate excede em mais de três vezes a pena máxima
do homicídio culposo, corresponde a quase o dobro da pena mínima do homicídio doloso
simples, é cinco vezes maior que a pena mínima da lesão corporal de natureza grave, enfim, é
mais grave do que a do estupro, do estupro de vulnerável, da extorsão mediante sequestro,
situação que gera gritante desproporcionalidade no sistema penal. Além disso, como se trata de
crime de perigo abstrato, que independe da prova da ocorrência de efetivo risco para quem
quer que seja, a dispensabilidade do dano concreto à saúde do pretenso usuário do produto
evidencia ainda mais a falta de harmonia entre esse delito e a pena abstratamente cominada
pela redação dada pela Lei 9.677/1998 (de 10 a 15 anos de reclusão). Ademais, apenas para
seguir apontando a desproporcionalidade, deve-se ressaltar que a conduta de importar
medicamento não registrado na ANVISA, considerada criminosa e hedionda pelo art. 273, § 1º-
B, do CP, a que se comina pena altíssima, pode acarretar mera sanção administrativa de
advertência, nos termos dos arts. 2º, 4º, 8º (IV) e 10 (IV), todos da Lei n. 6.437/1977, que define
as infrações à legislação sanitária. A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção
da pena em ponderação com o dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a
inexistência de consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de
razoabilidade da pena prevista na lei, tendo em vista que a restrição da liberdade individual não
pode ser excessiva, mas compatível e proporcional à ofensa causada pelo comportamento
humano criminoso. Quanto à possibilidade de aplicação, para o crime em questão, da pena
abstratamente prevista para o tráfico de drogas – “reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa” (art. 33 da Lei de drogas)
–, a Sexta Turma do STJ (REsp 915.442-SC, DJe 1º/2/2011) dispôs que “A Lei 9.677/98, ao alterar
a pena prevista para os delitos descritos no artigo 273 do Código Penal, mostrou-se
excessivamente desproporcional, cabendo, portanto, ao Judiciário promover o ajuste
principiológico da norma [...] Tratando-se de crime hediondo, de perigo abstrato, que tem como
bem jurídico tutelado a saúde pública, mostra-se razoável a aplicação do preceito secundário do
delito de tráfico de drogas ao crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”. AI no HC 239.363-PR, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 26/2/2015, DJe 10/4/2015 (Informativo 559).

Corte Especial
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL.
Na ação penal pública incondicionada, a vítima não tem direito líquido e certo de impedir o
arquivamento do inquérito ou das peças de informação. Considerando que o processo penal
rege-se pelo princípio da obrigatoriedade, a propositura da ação penal pública constitui um
dever, e não uma faculdade, não sendo reservado ao Parquet um juízo discricionário sobre a
conveniência e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro lado, não verificando o Ministério
Público material probatório convincente para corroborar a materialidade do delito ou a autoria
delitiva ou entendendo pela atipicidade da conduta, pela existência de excludentes de ilicitude
ou de culpabilidade, ou, ainda, pela extinção da punibilidade, pode requerer perante o Juiz o
arquivamento do inquérito ou das peças de informação. O magistrado, concordando com o
requerimento, deve determinar o arquivamento, que prevalecerá, salvo no caso de novas provas
surgirem a viabilizar o prosseguimento das investigações pela autoridade policial (art. 18 do
CPP). Se discordar, porém, deve o magistrado encaminhar o pedido de arquivamento, com o
inquérito ou peças de informação, à consideração do Procurador-Geral de Justiça, o qual deverá:
a) oferecer a denúncia, ou designar outro órgão ministerial para fazê-lo; ou b) insistir no
arquivamento, estando, nessa última hipótese, obrigado o Juiz a atender. Poderá, ainda, o
Procurador-Geral requerer novas diligências investigatórias. Há, portanto, um sistema de
controle de legalidade muito técnico e rigoroso em relação ao arquivamento de inquérito
policial, inerente ao próprio sistema acusatório. No exercício da atividade jurisdicional, o Juiz,
considerando os elementos trazidos nos autos de inquérito ou nas peças de informações, tem o
poder-dever de anuir ou discordar do pedido de arquivamento formulado pelo Ministério
Público. Não há, porém, obrigação de, em qualquer hipótese, remeter os autos para nova
apreciação do Procurador-Geral. Assim, se constatar pertinência nos fundamentos do pedido de
arquivamento, o Juiz terá o poder-dever de promover o arquivamento, não cabendo contra essa
decisão recurso. Ademais, no sistema processual penal vigente, a função jurisdicional não
contempla a iniciativa acusatória, de maneira que, do mesmo modo que não poderá o Juiz
autoprovocar a jurisdição, não poderá obrigar o Ministério Público, diante de sua independência
funcional, a oferecer a denúncia ou a ter, em toda e qualquer hipótese, reexaminado o pedido
de arquivamento pela instância superior, o respectivo Procurador-Geral. Ao Ministério Público
cabe formar a opinio delicti e, se entender devido, oferecer a denúncia. Desse modo, uma vez
verificada a inexistência de elementos mínimos que corroborem a autoria e a materialidade
delitivas, pode o Parquet requerer o arquivamento do inquérito, e o Juiz, por consequência,
avaliar se concorda ou não com a promoção ministerial. Uma vez anuindo, fica afastado o
procedimento previsto no art. 28 do CPP, sem que, com isso, seja violado direito líquido e certo
da possível vítima de crime de ver processado seu suposto ofensor (RMS 12.572-SP, Sexta
Turma, DJ de 10/9/2007). Cumpre salientar, por oportuno, que, se a vítima ou qualquer outra
pessoa trouxer novas informações que justifiquem a reabertura do inquérito, pode a autoridade
policial proceder a novas investigações, nos termos do citado art. 18 do CPP. Nada obsta,
ademais, que, surgindo novos elementos aptos a ensejar a persecução criminal, sejam tomadas
as providências cabíveis pelo órgão ministerial, inclusive com a abertura de investigação e o
oferecimento de denúncia. MS 21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015, DJe
4/8/2015 (Informativo 565).

Corte Especial
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA POR AUTORIDADE
INCOMPETENTE E PRESCRIÇÃO.
Quando a autoridade que receber a denúncia for incompetente em razão de prerrogativa de
foro do réu, o recebimento da peça acusatória será ato absolutamente nulo e, portanto, não
interromperá a prescrição. Precedente citado do STJ: REsp 819.168-PE, Quinta Turma, DJ
5/2/2007. Precedente citado do STF: HC 63.556-RS, Segunda Turma, DJ 9/5/1986. APn 295-RR,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014, DJe 12/2/2015 (Informativo 555).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HIPÓTESE DE RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA.
Constatado o trânsito em julgado de duas decisões condenando o agente pela prática de um
único crime – a primeira proferida por juízo estadual absolutamente incompetente e a
segunda proferida pelo juízo federal constitucionalmente competente –, a condenação
anterior deve ser anulada caso se verifique que nela fora imposta pena maior do que a fixada
posteriormente. Em primeiro lugar, faz-se necessário asseverar que o STJ já se pronunciou no
sentido de que “A sentença proferida por juízo absolutamente incompetente impede o exame
dos mesmos fatos ainda que pela justiça constitucionalmente competente, pois, ao contrário,
estar-se-ia não só diante de vedado bis in idem como também na contramão da necessária
segurança jurídica que a imutabilidade da coisa julgada visa garantir” (RHC 29.775-PI, Quinta
Turma, DJe 25/6/2013). Com efeito, sopesando a garantia do juiz natural em face do princípio
do ne bis in idem, deve preponderar este último como decorrência do princípio fundamental da
dignidade da pessoa humana, princípio basilar do Estado Democrático de Direito, consoante
explicita o inciso III do art. 1º da CF. Cabe ressaltar, a propósito, que esse entendimento foi
consolidado para, dando efetividade ao princípio do favor rei, impedir o início ou a continuidade
de outro processo que tenha por objetivo discutir os mesmos fatos que já foram objeto de
decisão anterior. A situação em análise, entretanto, é peculiar. Existem duas condenações
transitadas em julgado, sendo que a primeira foi proferida por juízo estadual absolutamente
incompetente e a segunda pelo juízo constitucionalmente competente, tendo este estabelecido,
inclusive, quantum de pena inferior ao definido anteriormente. Dessa forma, nessa hipótese,
considerando a situação mais favorável ao réu, bem como a existência de trânsito em julgado
perante a justiça competente para análise do feito, deve ser relativizada a coisa julgada, de
modo a tornar possível a prevalência do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.
HC 297.482-CE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015, DJe 21/5/2015 (Informativo 562).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HIPÓTESE EM QUE A AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO
DEFENSOR DATIVO NÃO GERA RECONHECIMENTO DE NULIDADE.
A intimação do defensor dativo apenas pela impressa oficial não implica reconhecimento de
nulidade caso este tenha optado expressamente por esta modalidade de comunicação dos atos
processuais, declinando da prerrogativa de ser intimado pessoalmente. Não se desconhece o
entendimento pacífico do STJ no sentido de que, a teor do disposto no art. 370, § 4º, do CPP e
do art. 5º, § 5º, da Lei 1.060/1950, a ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública ou do
defensor dativo sobre ato do processo gera, em regra, a sua nulidade (HC 302.868-SP, Sexta
Turma, DJe 12/2/2015; e AgRg no REsp 1.292.521-GO, Quinta Turma, DJe 3/10/2014). Ocorre
que a peculiaridade de o próprio defensor dativo ter optado por ser intimado pela imprensa
oficial, declinando da prerrogativa de ser pessoalmente cientificado dos atos processuais,
impede o reconhecimento dessa nulidade. Precedente citado: RHC 44.684-SP, Sexta Turma, DJe
11/2/2015. HC 311.676-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/4/2015, DJe 29/4/2015
(Informativo 560).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ANÁLISE DE HABEAS CORPUS A DESPEITO DE CONCESSÃO DE
SURSIS.
A eventual aceitação de proposta de suspensão condicional do processo não prejudica a
análise de habeas corpus no qual se pleiteia o trancamento de ação penal. Isso porque durante
todo o período de prova o acusado fica submetido ao cumprimento das condições impostas,
cuja inobservância enseja o restabelecimento do curso do processo. Precedentes citados: AgRg
no RHC 24.689-RS, Quinta Turma, DJe 10/2/2012; e HC 210.122-SP, Sexta Turma, DJe 26/9/2011.
RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015, DJe 11/3/2015 (Informativo 557).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. INCOMPATIBILIDADE ENTRE PRISÃO PREVENTIVA E REGIME


ABERTO OU SEMIABERTO.
Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do fechado,
não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na sentença
condenatória. Inicialmente, insta consignar que a prisão cautelar deve ser considerada exceção,
já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu jus libertatis antes do pronunciamento
condenatório definitivo, consubstanciado na sentença transitada em julgado. Nesse passo, a
prisão preventiva, enquanto medida de natureza cautelar, não pode ser utilizada como
instrumento de punição antecipada do réu (STF: HC 93.498-MS, Segunda Turma, DJe de
18/10/2012; STJ: AgRg no RHC 47.220-MG, Quinta Turma, DJe de 29/8/2014; e RHC 36.642-RJ,
Sexta Turma, DJe de 29/8/2014). Dessa forma, estabelecido o regime aberto ou semiaberto
como o inicial para o cumprimento de pena, a decretação da prisão preventiva inviabiliza o
direito de recorrer em liberdade, na medida em que impõe a segregação cautelar ao recorrente,
até o trânsito em julgado, sob o fundamento de estarem presentes os requisitos ensejadores da
prisão preventiva insertos no art. 312 do CPP. Ao admitir essa possibilidade, chegar-se-ia ao
absurdo de ser mais benéfico ao réu renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o
cumprimento da pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão
perante o segundo grau. Nessa medida, a manutenção ou a imposição da prisão cautelar
consistiria flagrante vulneração do princípio da proporcionalidade. Além disso, a prevalecer o
referido entendimento, dar-se-á maior efetividade e relevância à medida de natureza precária
(manutenção da segregação cautelar) em detrimento da sentença condenatória (título judicial
que, por sua natureza, realiza o exame exauriente da quaestio). Por conseguinte, a
individualização da pena cederá espaço, indevidamente, à providência de cunho nitidamente
provisório e instrumental, subvertendo a natureza e finalidade do processo e de suas medidas
cautelares. É bem verdade que a jurisprudência ora dominante no âmbito do STJ tem se
orientado pela compatibilidade entre o regime diverso do fechado imposto na sentença e a
negativa do apelo em liberdade, desde que adequadas as condições da prisão provisória às
regras do regime imposto. Entretanto, esse posicionamento implica, na prática, o
restabelecimento da orientação jurisprudencial antes prevalente na jurisprudência STF, que
admitia a execução provisória da pena, atualmente rechaçada, ao entendimento de que ela
vulnera o princípio da presunção de não culpabilidade inserto no art. 5º, LVII, da CF. Isso porque,
se a sentença condenatória ainda não transitou em julgado, só se permite a segregação em
decorrência da imposição de prisão cautelar, cuja principal característica, como já ressaltado,
significa segregação total do réu. Em outras palavras, a prisão cautelar não admite
temperamento para ajustar-se a regime imposto na sentença diverso do fechado. Imposto
regime mais brando, significa que o Estado-Juiz, ao aplicar as normas ao caso concreto, concluiu
pela possibilidade de o réu poder iniciar o desconto da reprimenda em circunstâncias que não
se compatibilizam com a imposição/manutenção de prisão provisória. Caso seja necessário,
poderá se valer, quando muito, de medidas alternativas diversas à prisão, previstas no art. 319
do CPP, inquestionavelmente mais adequadas à hipótese. Precedentes citados do STF: HC
118.257-PI, Segunda Turma, DJe 6/3/2014; HC 115.786-MG, Segunda Turma, DJe 20/8/2013; e
HC 114.288-RS, Primeira Turma, DJe 7/6/2013. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 10/12/2014, DJe 18/12/2014 (Informativo 554).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. UTILIZAÇÃO DA JUSTIFICAÇÃO CRIMINAL PARA NOVA OITIVA DA
VÍTIMA.
A via adequada para nova tomada de declarações da vítima com vistas à possibilidade de sua
retratação é o pedido de justificação (art. 861 do CPC), ainda que ela já tenha se retratado por
escritura pública. A justificação é o único meio que se presta para concretizar essa nova prova a
fim de instruir pedido de revisão criminal, pois não serve para a ação revisional prova produzida
unilateralmente, como a juntada da declaração da vítima firmada em cartório no sentido de que
o condenado não foi o autor do crime. Tal prova só é válida se, necessariamente, for produzida
na justificação judicial com as cautelas legais (RvCr 177-DF, Terceira Seção, DJ 4/8/1997).
Ademais, a retratação da vítima nada mais é do que uma prova substancialmente nova. Desse
modo, não há razão para não garantir ao condenado, diante do princípio da verdade real, a
possibilidade de, na ação revisional, confrontar essa retratação – se confirmada em juízo – com
os demais elementos de convicção coligidos na instrução criminal. RHC 58.442-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/8/2015, DJe 15/9/2015 (Informativo 569).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DEFESA PRÉVIA COM PEDIDO DE INDICAÇÃO DE ROL DE
TESTEMUNHAS A POSTERIORI.
O magistrado pode, de forma motivada, deferir o pedido apresentado em resposta à acusação
pela defensoria pública no sentido de lhe ser permitida a indicação do rol de testemunhas em
momento posterior, tendo em vista que ainda não teria tido a oportunidade de contatar o réu.
De fato, ultrapassado o prazo processual adequado, há preclusão do direito de se arrolar
testemunha, em que pese ser possível a admissão da oitiva requerida a destempo como
testemunha do juízo, nos termos do art. 209 do CPP, tendo em vista ser o magistrado o
destinatário da prova. Na hipótese em foco, no momento da apresentação da defesa prévia,
houve pedido de indicação de rol de testemunhas a posteriori. Assim, não há preclusão, pois
não houve inércia da defesa, ficando ao prudente arbítrio do magistrado o deferimento do
pedido formulado. Além disso, diante da impossibilidade do contato do defensor público com o
acusado e da busca da verdade real, o deferimento do pedido não viola os princípios da paridade
de armas e do contraditório. Vale anotar, a propósito, que não se trata, em casos tais, de
testemunha do juízo de que cuida o artigo 209 do CPP porque não há produção de prova
testemunhal de ofício, decorrendo de indicação da própria parte as testemunhas que, assim,
não extrapolam o limite de oito previsto na lei. REsp 1.443.533-RS, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 23/6/2015, DJe 3/8/2015 (Informativo 565).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. LIMITES À FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM.
É nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem sequer
transcrevê-los, deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar fundamento próprio.
Isso porque, nessa hipótese, está caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de
fundamentação. De fato, a jurisprudência tem admitido a chamada fundamentação per
relationem, mas desde que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar,
transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que
embasa a conclusão a que se quer chegar. Precedentes citados: HC 220.562-SP, Sexta Turma,
DJe 25/2/2013; e HC 189.229-SP, Quinta Turma, DJe 17/12/2012. HC 214.049-SP, Rel. originário
Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015,
DJe 10/3/2015 (Informativo 557).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DAS TESES SUSCITADAS NA DEFESA


PRELIMINAR.
Após a fase de apresentação de resposta à acusação, o magistrado, ao proferir decisão que
determina o prosseguimento do processo, deverá ao menos aludir àquilo que fora trazido na
defesa preliminar, não se eximindo também da incumbência de enfrentar questões
processuais relevantes e urgentes. De fato, na fase do art. 397 do CPP, nada impede que o juiz
faça consignar fundamentação de forma não exauriente, sob pena de decidir o mérito da causa.
Contudo, o julgador deve ao menos aludir àquilo que fora trazido na defesa preliminar. Incumbe-
lhe, ainda, enfrentar questões processuais relevantes e urgentes ao confirmar o aceite da
exordial acusatória. Com efeito, a inauguração do processo penal, por representar significativo
gravame ao status dignitatis, deve, sim, ser motivada. Dessa maneira, suprimida tão importante
fase procedimental, preciosa conquista democrática do Processo Penal pátrio, de rigor é o
reconhecimento da nulidade. RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 12/2/2015, DJe 25/2/2015 (Informativo 556).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITOS DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL PELO
RECONHECIMENTO DE LEGÍTIMA DEFESA.
Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa, a coisa
julgada material impede a rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal,
descabendo perquirir a existência de novas provas. Isso porque a decisão judicial que define o
mérito do caso penal, mesmo no arquivamento do inquérito policial, gera efeitos de coisa
julgada material. Ademais, a decisão judicial que examina o mérito e reconhece a atipia ou a
excludente da ilicitude é prolatada somente em caso de convencimento com grau de certeza
jurídica pelo magistrado. Assim, na dúvida se o fato deu-se em legítima defesa, a previsão legal
de presença de suporte probatório de autoria e materialidade exigiria o desenvolvimento da
persecução criminal. Ressalte-se que a permissão de desarquivamento do inquérito pelo
surgimento de provas novas contida no art. 18 do CPP e na Súmula 524/STF somente tem
incidência quando o fundamento do arquivamento for a insuficiência probatória – indícios de
autoria e prova do crime. Pensar o contrário permitiria a reabertura de inquéritos por
revaloração jurídica e afastaria a segurança jurídica das soluções judiciais de mérito, como no
reconhecimento da extinção da punibilidade, da atipia ou de excludentes da ilicitude.
Precedente citado do STJ: RHC 17.389-SE, Quinta Turma, DJe 7/4/2008. Precedente citado do
STF: HC 80.560-GO, Primeira Turma, DJe 30/3/2001. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014 (Informativo 554).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INÉPCIA DE DENÚNCIA QUE IMPUTE A PRÁTICA DE CRIME
CULPOSO.
É inepta a denúncia que imputa a prática de homicídio culposo na direção de veículo
automotor (art. 302 da Lei 9.503/1997) sem descrever, de forma clara e precisa, a conduta
negligente, imperita ou imprudente que teria gerado o resultado morte, sendo insuficiente a
simples menção de que o suposto autor estava na direção do veículo no momento do
acidente. Isso porque é ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se o tipo penal
apontado na denúncia com a conduta atribuída ao denunciado, não se verificar o
preenchimento dos requisitos do art. 41 do CPP, necessários ao exercício do contraditório e da
ampla defesa. De fato, não se pode olvidar que o homicídio culposo se perfaz com a ação
imprudente, negligente ou imperita do agente, modalidades de culpa que devem ser descritas
na inicial acusatória, sob pena de se punir a mera conduta de envolver-se em acidente de
trânsito, algo irrelevante para o Direito Penal. A imputação, sem a observância dessas
formalidades, representa a imposição de indevido ônus do processo ao suposto autor, ante a
ausência da descrição de todos os elementos necessários à responsabilização penal decorrente
da morte da vítima. Configura, ademais, responsabilização penal objetiva, derivada da mera
morte de alguém, em razão de acidente causado na direção de veículo automotor. HC 305.194-
PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014, DJe 1º/12/2014 (Informativo 553).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO E PROIBIÇÃO DA
REFORMATIO IN PEJUS.
O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, não está impedido de manter a
sentença condenatória recorrida com base em fundamentação distinta da utilizada em
primeira instância, desde que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a
extensão cognitiva da sentença impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem.
De fato, o princípio do ne reformatio in pejus tem por objetivo impedir que, em recurso exclusivo
da defesa, o réu tenha agravada a sua situação, no que diz respeito à pena que lhe foi impingida
no primeiro grau de jurisdição. Não se proíbe, entretanto, que, em impugnação contra sentença
condenatória, possa o órgão de jurisdição superior, no exercício de sua competência funcional,
agregar fundamentos à sentença recorrida, quer para aclarar-lhe a compreensão, quer para
conferir-lhe melhor justificação. E nem seria razoável sustentar essa proibição. Nesse sentido
grassam diversos julgados dos Tribunais Superiores, notadamente em tema de individualização
da pena, nos quais, não raro, o Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, de fundamentação
livre e de efeito devolutivo amplo, encontra outros fundamentos em relação à sentença
impugnada, não para prejudicar o recorrente, mas para manter-lhe a reprimenda imposta no
juízo singular, sob mais qualificada motivação. A propósito, no HC 106.113-MT, consignou-se
que, para se cogitar da reformatio in pejus, a decisão do Tribunal “teria que reconhecer, em
desfavor do Paciente, circunstância fática não reconhecida em primeiro grau, de modo que o
recurso da defesa causaria prejuízo ao Paciente (...)” (STF, Segunda Turma, DJe 1º/12/2012). No
RHC 116.013-SP, por sua vez, decidiu-se que “O efeito devolutivo inerente ao recurso de
apelação permite que, observados os limites horizontais da matéria questionada, o Tribunal
aprecie em exaustivo nível de profundidade, a significar que, mantida a essência da causa de
pedir e sem piorar a situação do recorrente, é legítima a manutenção da decisão recorrida ainda
que por outros fundamentos” (STF, Segunda Turma, DJe 21/10/2012). No STJ, por ambas as
Turmas que compõem a Terceira Seção, a questão tem sido enfrentada. É bem verdade que, na
Sexta Turma, há julgados conferindo maior limitação à possibilidade de se agregar novos
fundamentos à sentença (v.g., HC 223.524-SP, DJe 27/9/2013). Entretanto, há diversas decisões
em sentido permissivo ao afastamento da incidência da ne reformatio in pejus, decidindo-se que
essa proibição “não vincula o Tribunal aos critérios e fundamentos adotados pelo Juízo
monocrático, mas apenas o impede de agravar a situação do réu” (HC 218.858-SP, DJe
26/3/2012). A seu turno, a Quinta Turma perfilha entendimento – mais pacificado no âmbito do
referido órgão julgador – de que a proibição da reforma para pior não impede acréscimo de
fundamentos (sopesadas as mesmas circunstâncias fáticas) pelo Tribunal ad quem, desde que
mantida a pena imposta na instância original (v.g., HC 133.127-SP Quinta Turma, DJe
13/10/2009). Cabe ressaltar, por fim, que o tema em questão não é idêntico aos casos – que
têm merecido o correto repúdio do STJ e do STF – nos quais, em ação de habeas corpus, o
tribunal supre o vício formal da decisão do juízo singular para acrescentar fundamentos que,
v.g., venham a demonstrar a necessidade concreta de uma prisão preventiva. Nessas situações,
tem-se entendido que “os argumentos trazidos no julgamento do habeas corpus original pelo
Tribunal a quo, tendentes a justificar a prisão provisória, não se prestam a suprir a deficiente
fundamentação adotada em primeiro grau, sob pena de, em ação concebida para a tutela da
liberdade humana, legitimar-se o vício do ato constritivo ao direito de locomoção do paciente”
(RHC 45.748/MG, Sexta Turma, DJe 26/5/2014). Precedentes citados: HC 68.220-PR, Sexta
Turma, DJe 9/3/2009; HC 276.006-SP, Sexta Turma, DJe de 8/9/2014; e AgRg no AREsp 62.070-
MG, Quinta Turma, DJe 23/10/2013. HC 302.488-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
20/11/2014, DJe 11/12/2014 (Informativo 553).

2016

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. ENTREGA ESPONTÂNEA DE DOCUMENTOS E SIGILO BANCÁRIO.
Não configura quebra de sigilo bancário e fiscal o acesso do MP a recibos e comprovantes de
depósitos bancários entregues espontaneamente pela ex-companheira do investigado os quais
foram voluntariamente deixados sob a responsabilidade dela pelo próprio investigado. De fato,
o STJ, em observância aos arts. 5º, XII, e 93, IX, da CF, é categórico em afirmar que “a quebra do
sigilo bancário para investigação criminal deve ser necessariamente submetida à avaliação do
magistrado competente” (HC 258.460-SP, Sexta Turma, DJe 18/8/2014). O sigilo bancário é um
dever jurídico imposto às instituições financeiras para que estas não divulguem informações
acerca das movimentações financeiras de seus clientes, tais como aplicações, depósitos,
saques etc. Tal imposição legal deriva do próprio art. 1º da LC n. 105/2001, que assim dispõe:
“As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços
prestados.” Semelhante ao dever jurídico imposto às instituições financeiras, o art. 198 do
CTN proibiu a Fazenda Pública e seus servidores públicos a divulgação de qualquer informação
obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira dos sujeitos passivos ou
de terceiros e sobre a natureza e o estado dos seus negócios ou atividades. Assim, tanto as
instituições financeiras quanto a Administração Pública Direta ou Indireta não estão
autorizadas a fornecer dados financeiros e/ou fiscais que detenham em razão do exercício de
suas atividades e funções, salvo, conforme autorização do art. 5º, XII, da CF, mediante
autorização judicial devidamente motivada. O caso, contudo, não se refere a sigilo bancário
e/ou fiscal, não estando, pois, abrangido pelo direito fundamental consagrado no art. 5º, XII,
da CF. Isso porque não houve, em momento algum, quebra ilegal de sigilo bancário e/ou fiscal
pelo Parquet, pois os dados fornecidos não se encontravam mais sob a tutela de instituições
financeiras e/ou da Administração Pública – às quais são impostas a obrigatoriedade de
proteção do sigilo bancário e fiscal – mas, sim, tratava-se de recibos que foram voluntariamente
deixados pelo próprio investigado sob a responsabilidade de sua companheira, tendo esta,
espontaneamente, entregue tais documentos ao MP. Ademais, o STJ já se pronunciou, em
situação que guarda correlação jurídica com a tese exposta, que, inexistindo hipótese de
quebra efetiva de sigilo bancário, desnecessária se faz a respectiva autorização judicial (REsp
1.497.041-PR, Sexta Turma, DJe 9/12/2015). RHC 34.799-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 17/3/2016, DJe 20/4/2016 (Informativo n. 581).

Quinta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. HC E MEDIDAS PROTETIVAS PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA.
Cabe habeas corpus para apurar eventual ilegalidade na fixação de medida protetiva de urgência
consistente na proibição de aproximar-se de vítima de violência doméstica e familiar. O eventual
descumprimento de medidas protetivas arroladas na Lei Maria da Penha pode gerar sanções de
natureza civil (art. 22, § 4º, da n. Lei 11.340/2006, c/c art. 461, §§ 5º e 6º do CPC), bem como a
decretação de prisão preventiva, de acordo com o art. 313, III, do CPP (HC 271.267-MS, Quinta
Turma, DJe 18/11/2015). Ademais, prevê o CPP o seguinte: “Art. 647. Dar-se-á habeas corpus
sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar”. Se o paciente não pode aproximar-
se da vítima ou de seus familiares, decerto que se encontra limitada a sua liberdade de ir e vir.
Assim, afigura-se cabível a impetração do habeas corpus. HC 298.499-AL, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 1º/12/2015, DJe 9/12/2015 (Informativo n. 574).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DE DECISÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO
ADOTADA POR JÚRI EM FAVOR DE CORRÉU.
Ocorrido o desmembramento da ação penal que imputava aos coacusados a prática de
homicídio doloso tentado decorrente da prática de “racha”, a desclassificação em decisão do
Tribunal do Júri do crime de homicídio doloso tentado para o delito de lesões corporais graves
ocorrida em benefício do corréu (causador direto da colisão da que decorreram os ferimentos
suportados pela vítima) é extensível, independentemente de recurso ou nova decisão do
Tribunal Popular, a outro corréu (condutor do outro veículo) investido de igual consciência e
vontade de participar da mesma conduta e não responsável direto pelas citadas lesões. Em
primeiro lugar, quanto à impossibilidade de se estender a corréu decisão proferida em sede
que não seja recursal, tal questão foi enfrentada pelo STF, por ocasião do julgamento do HC
101.118-MS (Segunda Turma, DJe 26/8/2010), segundo o qual o art. 580 do CPP tem como
objetivo dar efetividade, no plano jurídico, à garantia de equidade. Com efeito, essa é a
interpretação mais coerente com o espírito da lei. O fato de a decisão cuja extensão se
pretende não ser proferida em recurso não inibe que ela seja estendida a corréu. Do contrário,
estaremos permitindo que corréus em situação idêntica venham a ser julgados de forma
diferente, o que não condiz com a garantia da equidade. Ademais, é indiferente o fato de não
estarmos diante de decisão conflitante proferida por um mesmo júri, até porque, quando a lei
determina estender uma decisão proferida em favor de um corréu para outro corréu, a ideia
é de que eles não tenham sido submetidos a uma única decisão, a uma decisão simultânea.
Nesse contexto, não se vê como permitir que um dos corréus corra o risco de sofrer
reprimenda diversa daquela imposta ao outro corréu, sem que haja qualquer motivo que
diferencie a situação de ambos os denunciados (não é hipótese de participação de menor
importância ou cooperação dolosamente distinta). Acrescente-se que não se vê aqui eventual
usurpação da competência do Tribunal do Júri, considerando-se que a decisão que se pretende
estender ao paciente foi proferida por um Tribunal leigo. RHC 67.383-SP, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 5/5/2016, DJe
16/5/2016 (Informativo n. 583).
Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EXTRAÇÃO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL DE DADOS E DE
CONVERSAS REGISTRADAS NO WHATSAPP.
Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de
dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato
delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.
Realmente, a CF prevê como garantias ao cidadão a inviolabilidade da intimidade, do sigilo de
correspondência, dados e comunicações telefônicas (art. 5º, X e XII), salvo ordem judicial. No
caso das comunicações telefônicas, a Lei n. 9.294/1996 regulamentou o tema. Por sua vez, a Lei
n. 9.472/1997, ao dispor sobre a organização dos serviços de telecomunicações, prescreveu:
“Art. 3º. O usuário de serviços de telecomunicações tem direito: (...) V - à inviolabilidade e ao
segredo de sua comunicação, salvo nas hipóteses e condições constitucional e legalmente
previstas.” Na mesma linha, a Lei n. 12.965/2014, a qual estabelece os princípios, garantias e
deveres para o uso da internet no Brasil, elucidou que: “Art. 7º. O acesso à internet é essencial
ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade
da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela
internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas
comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial.” No caso, existiu acesso, mesmo
sem ordem judicial, aos dados de celular e às conversas de whatsapp. Realmente, essa devassa
de dados particulares ocasionou violação à intimidade do agente. Isso porque, embora
possível o acesso, era necessária a prévia autorização judicial devidamente motivada.
Registre-se, na hipótese, que nas conversas mantidas pelo programa whatsapp – que é forma
de comunicação escrita e imediata entre interlocutores – tem-se efetiva interceptação não
autorizada de comunicações. A presente situação é similar às conversas mantidas por e-mail,
cujo acesso também depende de prévia ordem judicial (HC 315.220-RS, Sexta Turma, DJe
9/10/2015). Atualmente, o celular deixou de ser apenas um instrumento de conversação por
voz à longa distância, permitindo, diante do avanço tecnológico, o acesso de múltiplas
funções, incluindo a verificação de correspondência eletrônica, de mensagens e de outros
aplicativos que possibilitam a comunicação por meio de troca de dados de forma similar à
telefonia convencional. Desse modo, sem prévia autorização judicial, é ilícita a devassa de dados
e de conversas de whatsapp realizada pela polícia em celular apreendido. RHC 51.531-RO, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016, DJe 9/5/2016 (Informativo n. 583).

Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. NULIDADE DA INTIMAÇÃO POR EDITAL DE RÉU PRESO.
Preso o réu durante o curso do prazo da intimação por edital da sentença condenatória, essa
intimação fica prejudicada e deve ser efetuada pessoalmente. Isso porque, de acordo com
entendimento doutrinário e nos termos do HC 15.481 (Quinta Turma, DJ 10/9/2001), “preso o
réu durante o prazo do edital, deverá ser intimado pessoalmente do r. decreto condenatório,
na forma do art. 392, inciso I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia”. RHC 45.584/PR,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/5/2016, DJe 12/5/2016 (Informativo n. 583).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. NULIDADE EM AÇÃO PENAL POR FALTA DE CITAÇÃO DO RÉU.
Ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da denúncia – na data da
prisão em flagrante – e o patrono tenha atuado, por determinação do Juiz, durante toda a
instrução criminal, é nula a ação penal que tenha condenado o réu sem a sua presença, o qual
não foi citado nem compareceu pessoalmente a qualquer ato do processo, inexistindo prova
inequívoca de que tomou conhecimento da denúncia. De início, esclareça-se que, em matéria
de nulidade, orienta o princípio pas de nullité sans grief que não há nulidade sem que o ato
tenha gerado prejuízo para a acusação ou para a defesa. Não se prestigia, portanto, a forma pela
forma, mas o fim atingido pelo ato. Por essa razão, a desobediência às formalidades
estabelecidas na legislação processual penal só poderá acarretar o reconhecimento da
invalidade do ato quando a sua finalidade estiver comprometida, em prejuízo às partes da
relação processual. A demonstração do prejuízo – que, em alguns casos, por ser evidente, pode
decorrer de simples procedimento lógico do julgador – é reconhecida pela jurisprudência atual
como essencial tanto para a nulidade relativa quanto para a absoluta, conforme retratado pelo
STF por ocasião do julgamento do HC 122.229-SP (Segunda Turma, DJe 29/5/2014). Nesse
contexto, é exigência fundamental ao exercício do contraditório o conhecimento, pelo acusado,
de todos os termos da acusação, para que possa participar ativamente da produção de provas e
influenciar o convencimento do juiz. A citação, ato essencial e mais importante do processo,
deve ser induvidosa, e sua falta somente poderá ser sanada nos termos do art. 570 do CPP,
quando o interessado comparecer espontaneamente aos autos, demonstrando, de maneira
inequívoca, que tomou ciência da denúncia que lhe foi formulada. Quando o advogado é
constituído antes do oferecimento da denúncia, é, de fato, possível que ele tenha informado o
cliente sobre o desenrolar do processo, mas isso se trata de mera conjectura que não pode
afastar o vício grave da relação, que se desenvolveu sem a presença do principal sujeito
processual, o réu. Na presente hipótese, a relação processual não foi constituída de forma
válida, até porque o comparecimento do advogado nos autos da ação penal também não foi
espontâneo e o processo prosseguiu, em sua totalidade, sem a presença do acusado. Nem se
diga que o prejuízo deixou de ocorrer porque o advogado particular atuou durante a instrução
criminal, pois não se pode perder de vista que a defesa se desdobra na defesa técnica e na
autodefesa, esta última relacionada à possibilidade de que o próprio acusado intervenha, direta
e pessoalmente, na realização dos atos processuais. Saliente-se, ainda, que a autodefesa não se
resume à participação do acusado no interrogatório judicial, mas há de se estender a todos os
atos de que o imputado participe. Na verdade, desdobra-se a autodefesa em “direito de
audiência” e em “direito de presença”, é dizer, tem o acusado o direito de ser ouvido e falar
durante os atos processuais (e não apenas, como se verifica no direito brasileiro, em seu
interrogatório judicial), bem assim o direito de assistir à realização dos atos processuais. O
direito em questão implica, portanto, uma série de possibilidades para o acusado, quais sejam:
(a) presença em juízo; (b) conhecimento dos argumentos e das conclusões da parte contrária;
(c) exteriorização de sua própria argumentação; (d) demonstração dos elementos de fato e de
direito que constituem as suas razões defensivas; e (e) propulsão processual. Convém
sublinhar que tanto o direito de audiência quanto o direito de presença podem ser exercitados
de forma passiva, negativa, sem que isso represente ausência de defesa. É, portanto,
expressão da autodefesa o direito ao silêncio, reconhecido ao acusado como corolário de seu
direito de não se autoincriminar (privilege against self incrimination), visto que, de acordo com
antigo preceito do Direito Canônico, ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si ou a
delatar-se (nemo tenetur se detegere ou nemo tenetur se ipsum accusare). De igual modo,
constitui exercício de tal direito a deliberada e voluntária atitude do acusado de não se fazer
presente nos atos do processo criminal, ou mesmo em todo ele. Logo, se de um lado o Estado
deve facilitar a presença do acusado durante o julgamento da causa, há de se respeitar, a seu
turno, eventual escolha do réu de não comparecer a seus atos. Não se trata, pois, de direito
indisponível e irrenunciável do réu, tal qual a defesa técnica – conforme positivado no art. 261
do CPP, cuja regra ganhou envergadura constitucional com os arts. 133 e 134 da CF –, mas o seu
cerceamento enseja grave prejuízo ao acusado, por suprimir dele a possibilidade de participação
ativa na melhor reconstrução histórica dos fatos sob julgamento. REsp 1.580.435-GO, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/3/2016, DJe 31/3/2016 (Informativo n. 580).
Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. PROIBIÇÃO DE AGRAVAR A PENA EM RECURSO EXCLUSIVO DA
DEFESA.
No âmbito de recurso exclusivo da defesa, o Tribunal não pode agravar a reprimenda imposta
ao condenado, ainda que reconheça equívoco aritmético ocorrido no somatório das penas
aplicadas. Isso porque, não tendo o Ministério Público se insurgido contra o referido erro
material, o Tribunal não pode conhecê-lo de ofício, sob pena de configuração de reformatio in
pejus. Precedentes citados: HC 115.501-MG, Sexta Turma, DJe 3/8/2015; e AgRg no HC 264.579-
RS, Sexta Turma, DJe 1º/8/2013. HC 250.455-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015,
DJe 5/2/2016 (Informativo n. 576).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. REGISTRO DE ATOS INFRACIONAIS NÃO JUSTIFICA PRISÃO


PREVENTIVA.
No processo penal, o fato de o suposto autor do crime já ter se envolvido em ato infracional
não constitui fundamento idôneo à decretação de prisão preventiva. Isso porque a vida na
época da menoridade não pode ser levada em consideração pelo Direito Penal para nenhum
fim. Atos infracionais não configuram crimes e, por isso, não é possível considerá-los como
maus antecedentes nem como reincidência, até porque fatos ocorridos ainda na adolescência
estão acobertados por sigilo e estão sujeitos a medidas judiciais exclusivamente voltadas à
proteção do jovem. Por conseguinte, a prática de atos infracionais não serve de lastro para a
análise de uma pretensa personalidade voltada à prática de crimes hábil a justificar ameaça a
garantia da ordem pública. Portanto, o cometimento de atos infracionais somente terão efeito
na apuração de outros atos infracionais, amparando, v.g., a internação (art. 122, II, do ECA), e
não a prisão preventiva em processo criminal. HC 338.936-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 17/12/2015, DJe 5/2/2016 (Informativo n. 576).

DIREITO PROCESSUAL PENAL. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE CALENDÁRIO ANUAL DE SAÍDAS


TEMPORÁRIAS POR ATO JUDICIAL ÚNICO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 445.
É recomendável que cada autorização de saída temporária do preso seja precedida de decisão
judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do pedido estiver, por deficiência
exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do apenado e no escopo
ressocializador da pena, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de fixação de
calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único, observadas as hipóteses de
revogação automática do art. 125 da LEP. A Terceira Seção do STJ, no julgamento dos REsps
1.166.251-RJ (DJe 4/9/2012) e 1.176.264-RJ (DJe 3/9/2012), em análise de matéria repetitiva,
fixou a interpretação do art. 122 e seguintes da LEP, relacionados à saída temporária. Os
precedentes deram ensejo à tese firmada sob o Tema 445: "A autorização das saídas
temporárias é ato jurisdicional da competência do Juízo das Execuções Penais. Não é possível
delegar ao administrador do presídio a fiscalização sobre diversas saídas temporárias, por se
tratar de atribuição exclusiva do magistrado das execuções penais, sujeita à ação fiscalizadora
do Ministério Público." Também ensejaram esses precedentes a edição da Súmula n. 520 do STJ,
verbis: "O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional." Vê-se que
a jurisprudência majoritária do STJ repudia as denominadas saídas temporárias em bloco ou
automatizadas, por meio de ato judicial único, na medida em que cada saída temporária deve
ser precedida de decisão motivada do Juízo da execução, com a intervenção do Ministério
Público, sem a possibilidade de delegar ao administrador do presídio a escolha da data em que
o reeducando usufruirá do benefício. Contudo, insta destacar4 que o respeito aos precedentes
também envolve o dever de aperfeiçoá-los, adaptá-los ou mesmo revogá-los, quando não mais
correspondam aos padrões de congruência social e de consistência sistêmica, conforme

4
Argumento para sustentar distinção ou superação de precedentes anteriores.
doutrina. Com efeito, a deficiência do aparato estatal e a exigência de decisão isolada para cada
saída temporária - dada a necessidade de cumprimento de diversas diligências para instrução e
posterior decisão do pleito - estão a ocasionar excessiva demora na análise do direito dos
apenados, com inexorável e intolerável prejuízo ao seu processo de progressiva ressocialização,
objetivo-mor da execução das sanções criminais, conforme deixa claro o art. 1º da Lei n.
7.210/1984 ("Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e
do internado"). Inclusive, o STF, em diversas oportunidades, ao analisar acórdãos do STJ
apoiados nos recursos repetitivos já referidos, concedeu habeas corpus para reconhecer a
possibilidade de renovação periódica da saída temporária, que "permite ao juízo das execuções
penais programar, observados os restritos limites legais, as saídas subsequentes à da concessão
do benefício, a fim de inibir eventual delonga ou até mesmo impossibilidade no usufruto da
saída não vigiada" (HC 129.167-RJ, Segunda Turma, DJe 11/12/2015). Nesse contexto, as
autorizações de saída temporária não podem, na sua concreta aplicação, negligenciar a natureza
desse instituto, concebido como instrumento integrativo voltado para o restabelecimento do
vínculo familiar e para a reaproximação do recluso com a sociedade. É, por conseguinte,
inoportuno e atentatório à dignidade que o condenado permaneça no regime semiaberto e, por
mera e exclusiva deficiência estrutural e funcional do aparato estatal, não tenha condições de
usufruir o benefício em questão, apesar de preencher os requisitos legais. A situação de carência
do aparato judicial reforça a necessidade de modificação da Tese 445 do STJ, para o fim de
concretizar o benefício das saídas temporárias, sem retirar, por certo, da autoridade judiciária a
competência para a análise dos requisitos objetivo e subjetivo do benefício, sob a fiscalização
do Ministério Público. Pela estabilidade e pela coerência da interpretação do art. 123 da LEP,
deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de a autoridade judicial, em única
decisão motivada, autorizar saídas temporárias anuais previamente programadas, observadas
as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP. Ressalte-se que a autorização
continuará a ser deferida por ato do Juízo da execução, ouvidos previamente o Ministério
Público e a administração penitenciária, e dependerá da satisfação dos requisitos legais,
idênticos para os benefícios futuros. A meta continua a ser a análise individual e célere de cada
saída temporária, de modo a proporcionar aos reeducandos a almejada jurisdição e a
gradativa reinserção no meio familiar e social. Entretanto, se a tramitação individual de cada
pedido estiver, por questões locais, a interferir no direito subjetivo do apenado e a ocasionar
demora excessiva do Judiciário para proferir decisões sobre o benefício, por carência exclusiva
do aparato estatal, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de o juiz
estabelecer calendário prévio de saídas temporárias anuais em ato judicial único, respeitadas
as hipóteses de revogação automática do benefício. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA FIXAÇÃO DE CALENDÁRIO PRÉVIO DE SAÍDAS


TEMPORÁRIAS. RECURSO REPETITIVO. TEMA 445.
O calendário prévio das saídas temporárias deverá ser fixado, obrigatoriamente, pelo Juízo das
execuções, não se lhe permitindo delegar à autoridade prisional a escolha das datas específicas
nas quais o apenado irá usufruir os benefícios. Inteligência da Súmula n. 520 do STJ. A teor da
Súmula n. 520 do STJ, "O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato
jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento
prisional". Decerto que a administração penitenciária será ouvida e poderá subsidiar o órgão
julgador com informações relacionadas à rotina carcerária, a fim de melhor escolher as datas
que serão ideais para a fiscalização do cumprimento dos horários e das condições do benefício.
Todavia, o diretor do presídio não detém atribuição legal, ou mesmo as garantias
constitucionais da magistratura, para escolha, por discricionariedade, da data em que, por
conveniência do presídio ou por pedido particular do reeducando, deverá ser usufruída a saída
temporária do art. 122 da LEP. Apesar de haver entendimentos em contrário, a execução penal
não constitui mera atividade administrativa, mas implica tutela jurisdicional. Em análise crítica,
escolher a data das saídas temporárias acaba por conferir indevido poder decisório ao diretor
do estabelecimento, com inegável acúmulo de atribuições não previstas na legislação específica.
A LEP é expressa ao estabelecer as hipóteses nas quais é possível a interferência da autoridade
administrativa, sempre em situações pontuais, mediante comunicação do Poder Judiciário e do
Ministério Público, tais como a permissão de saída do art. 120 da LEP, a regressão cautelar de
regime etc. Não há obstáculos relevantes que impeçam o juiz de indicar as datas das saídas
temporárias, de sorte que não se justifica e não se mostra legítima a pretensão de transferir ao
diretor do presídio tal competência (opção que, afastada da lei, traria também o acúmulo de
atribuições no âmbito administrativo, com inexorável incremento da demora na análise de
pedidos particulares de reclusos). Por tais motivos, deve permanecer incólume o entendimento
consagrado na Súmula n. 520 do STJ. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira
Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016.

DIREITO PROCESSUAL PENAL. PRAZO MÍNIMO ENTRE SAÍDAS TEMPORÁRIAS. RECURSO


REPETITIVO. TEMA 445.
As autorizações de saída temporária para visita à família e para participação em atividades
que concorram para o retorno ao convívio social, se limitadas a cinco vezes durante o ano,
deverão observar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre uma e outra. Na hipótese de
maior número de saídas temporárias de curta duração, já intercaladas durante os doze meses
do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP.
A redação literal do art. 124, § 3º, da LEP estabelece que as autorizações de saídas temporárias
fora dos casos de estudo (frequência a cursos profissionalizantes, de instrução de ensino médio
ou superior) somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre
uma e outra saída. Contudo, para demonstrar, de forma coerente, o alcance da norma legal, a
disposição do § 3° deve ser interpretada não de forma restritiva e isolada, mas em conjunto com
o comando do art. 124 da LEP e com a diretriz máxima do art. 1º do mesmo diploma legal, para
concretizar o objetivo da saída temporária. De fato, prevaleceu o entendimento consagrado pela
Terceira Seção do STJ nos REsps 1.166.251-RJ (DJe 4/9/2012) e 1.176.264-RJ (DJe 3/9/2012)
julgados sob o rito dos recursos repetitivos, de que é possível à autoridade judicial, atenta às
peculiaridades da execução penal, conceder maior número de saídas temporárias (mais de 5
vezes durante o ano), de menor duração (inferior a 7 dias), desde que respeitado o limite de 35
dias no ano. Realmente, nas hipóteses de visita à família ou de participação em atividades que
concorram para o retorno ao convívio social, fracionadas em até 5 vezes de até 7 dias, deve-se
aplicar o prazo mínimo de 45 dias de intervalo entre um benefício e outro. O longo período
extramuros, o maior contato com a sociedade sem fiscalização e a necessidade de estímulos
ressocializadores ao longo do ano, de forma intervalada e proporcional ao número de meses,
justificam o intervalo exigido pela norma legal. O intervalo não pode, entretanto, ser estendido,
de maneira literal, aos casos de benefícios de curta duração, na medida em que impediria a
renovação das autorizações por mais de 5 períodos - providência já admitida pelo STJ - e criaria
verdadeira dificuldade à fruição dos 35 dias de saídas temporárias anuais, além de ir de encontro
ao objetivo de solidificação dos laços familiares, essencial para a recuperação do reeducando,
razão pela qual a interpretação do § 3° deve ser compatibilizada com a cabeça do art. 124 e com
o art. 1º, ambos da LEP. Portanto, na hipótese de maior número de saídas temporárias de curta
duração, já intercaladas durante os 12 meses do ano e muitas vezes sem pernoite, não se exige
o intervalo previsto no art. 124, § 3°, da LEP. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016.
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. INDENIZAÇÃO EM RAZÃO DE EQUÍVOCO NO
RECONHECIMENTO DE REINCIDÊNCIA.
No caso em que o reconhecimento da reincidência tenha origem em infração anterior cuja pena
tenha sido cumprida ou extinta há mais de 5 anos, deferido o pedido revisional para diminuir a
pena equivocadamente fixada, será devida a indenização ao condenado que tenha sofrido
prejuízos em virtude do erro judiciário. É que tendo sido reconhecido que o acusado foi
considerado indevidamente reincidente, há clara contrariedade ao disposto no art. 64, I, do CP.
Sobre o assunto, pondera doutrina: "o conceito de erro judiciário deve transcender as barreiras
limitativas da sentença condenatória impositiva de pena privativa de liberdade, para envolver
toda e qualquer decisão judicial errônea, que tenha provocado evidente prejuízo à liberdade
individual ou mesmo à imagem e à honra do acusado [...]". E, nessa perspectiva, outra doutrina
arremata: "é importante notar que, tal como a sentença condenatória - que serve como título
judicial para a execução do dano praticado pelo agente em favor do ofendido (art. 63, CPP) -,
também o acórdão rescindido em que se tenha reconhecido o direito à indenização servirá
unicamente como título executivo para o réu condenado injustamente demandar o Estado, cujo
quantum deverá ser apurado na esfera cível." REsp 1.243.516-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 22/9/2016, DJe 30/9/2016.

PROCESSO RHC 67.379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, por unanimidade, julgado
em 20/10/2016, DJe 9/11/2016.
Crime de tráfico de drogas. Situação de flagrância. Extração de provas advindas de troca de
mensagens por aparelho de telefone celular. Ausência de autorização judicial. Desconsideração
das provasobtidas.
DESTAQUE
Na ocorrência de autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável ordem judicial
para a apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas no aparelho estão protegidas
pelo sigilo telefônico, que compreende igualmente a transmissão, recepção ou emissão de
símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por
meio de telefonia fixa ou móvel ou, ainda, por meio de sistemas de informática e telemática.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A temática do especial, entre outras questões, cuidou de avaliar a licitude do acesso pela
autoridade policial, por ocasião da prisão em flagrante, dos dados armazenados no aparelho
celular da pessoa detida, sem a obtenção de autorização judicial prévia. O art. 6º do CPP
estabelece que a autoridade policial, logo que tiver conhecimento da prática da infração penal,
deve apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais e colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias. Por outro lado, a Lei n. 9.294/1996 preleciona: "Art. 1º A interceptação de
comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em
instrução processual penal, observará o disposto nesta lei e dependerá de ordem do juiz
competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei
aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.
Por seu turno, a Lei n. 9.472/1997, que versa sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, dispõe: "Art. 3º O usuário de serviços de telecomunicações tem direito: [...]
V - à inviolabilidade e ao segredo de sua comunicação, salvo nas hipóteses e condições
constitucional e legalmente previstas". A Lei n. 12.965/2014, ao estabelecer os princípios,
garantias e deveres para o uso da internet no Brasil, prevê: "Art. 7º O acesso à internet é
essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I -
inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações
pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas
comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial. Ademais, o art. 5º da
Constituição Federal garante a inviolabilidade do sigilo telefônico, da correspondência, das
comunicações telegráficas e telemáticas e de dados bancários e fiscais, devendo a mitigação de
tal preceito, para fins de investigação ou instrução criminal, ser precedida de autorização
judicial, em decisão motivada e emanada por juízo competente (Teoria do Juízo Aparente), sob
pena de nulidade. Nesse contexto, embora seja despicienda ordem judicial para a apreensão
dos celulares, ainda que verificada a situação de flagrância, as mensagens armazenadas no
aparelho estão protegidas pelo sigilo telefônico, que deve abranger igualmente a transmissão,
recepção ou emissão de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de
qualquer natureza, por meio de telefonia fixa ou móvel ou, ainda, através de sistemas de
informática e telemática. Logo, a fim de proteger tanto o direito individual à intimidade quanto
o direito difuso à segurança pública, deve a autoridade policial, após a apreensão do telefone,
requerer judicialmente a quebra do sigilo dos dados nele armazenados. Além disso, somente é
admitida a quebra do sigilo quando houve indício razoável da autoria ou participação em
infração penal; se a prova não puder ser obtida por outro meio disponível, em atendimento ao
princípio da proibição de excesso; e se o fato investigado constituir infração penal punido com
pena de reclusão.

Informativos de 2017

EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Jorge
Mussi, por maioria, julgado em 14/6/2017, DJe 24/8/2017.
Pena privativa de liberdade substituída por restritivas de direitos. Execução provisória.
Impossibilidade. Art. 147 da Lei de Execução Penal. Proibição expressa. Ausência de
manifestação do STF.
DESTAQUE
Não é possível a execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da
condenação.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A divergência tratada nos embargos envolve a possibilidade de se executar provisoriamente
penas restritivas de direito. O acórdão embargado da Quinta Turma decidiu que, “nos termos
do art. 147 da Lei de Execução Penal, as penas restritivas de direitos só podem ser executadas
após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. A tese paradigma foi apresentada
com base no entendimento firmado no AgRg no REsp 1.627.367-SP, segundo o qual: “É cabível
a determinação de execução provisória de pena privativa de liberdade convertida em restritivas
de direitos”. Sobre o tema, o STF já se manifestara expressamente a respeito da impossibilidade
da execução das reprimendas restritivas de direitos antes do trânsito em julgado, por força na
norma prevista no art. 147 da LEP. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal por meio do HC
n. 126.292/SP, não considerou a possibilidade de se executar provisoriamente a pena restritiva
de direitos, mas restringiu-se à reprimenda privativa de liberdade, na medida em que dispôs tão
somente sobre a prisão do acusado condenado em segundo grau, antes do trânsito em julgado.
Em vista da ausência de apreciação pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal quanto à
possibilidade de executar a reprimenda restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da
condenação, somado ao texto expresso do art. 147 da Lei de Execução Penal, deve prevalecer
o entendimento firmado no acórdão embargado. (Informativo n. 609)

REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, por unanimidade, julgado em 18/4/2017, DJe
28/4/2017.
Tráfico de drogas. Prova obtida de conversa travada por função viva-voz do aparelho celular do
suspeito. Dúvidas quanto ao consentimento. Inexistência de autorização judicial. Ilicitude
constatada.
DESTAQUE
Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida de forma
coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira pessoa em telefone
celular, por meio do recurso "viva-voz", que conduziu ao flagrante do crime de tráfico ilícito de
entorpecentes.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A questão tratada está em saber se é lícita a prova obtida por autoridade policial decorrente da
reprodução de conversa travada entre o suspeito e sua mãe por meio do recurso "viva-voz" do
celular, que possibilitou o flagrante do crime de tráfico de drogas em sua residência. No
julgamento do RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe de 5/9/2016, esta
Corte teve a oportunidade de apreciar matéria semelhante ao caso aqui tratado, considerando
ilícito o acesso aos dados do celular e das conversas de whatsapp extraídas do aparelho celular
da acusada, dada a ausência de ordem judicial para tanto, ao entendimento de que, no acesso
aos dados do aparelho, se tem a devassa de dados particulares, com violação à intimidade do
agente. No caso presente, embora nada de ilícito houvesse sido encontrado em poder do
acusado, a prova da traficância foi obtida em flagrante violação ao direito constitucional à não
autoincriminação, uma vez que aquele foi compelido a reproduzir, contra si, conversa travada
com terceira pessoa pelo sistema viva-voz do celular, que conduziu os policiais à sua residência
e culminou com a arrecadação de todo material estupefaciente em questão. Desse modo,
está-se diante de situação onde a prova está contaminada, diante do disposto na essência da
teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous tree), consagrada no art. 5º,
inciso LVI, da Constituição Federal, que proclama a nódoa de provas, supostamente
consideradas lícitas e admissíveis, mas obtidas a partir de outras declaradas nulas pela forma
ilícita de sua colheita. (Informativo n. 603)

REsp 1.666.637-ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, por unanimidade, julgado em 26/09/2017,
DJe 09/10/2017
Execução penal. Remição. Atividade realizada em coral. Interpretação extensiva in bonam
partem do art. 126 da LEP. Redação aberta. Finalidade da execução atendida. Incentivo ao
aprimoramento cultural e profissional.
DESTAQUE
O reeducando tem direito à remição de sua pena pela atividade musical realizada em coral.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR O ponto nodal da discussão consiste em analisar se o canto
em coral, pode ser considerado como trabalho ou estudo para fins de remição da pena.
Inicialmente, consigna-se que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, como resultado
de uma interpretação analógica in bonam partem da norma prevista no art. 126 da LEP, firmou
o entendimento de que é possível remir a pena com base em atividades que não estejam
expressas no texto legal. Concluiu-se, portanto, que o rol do art. 126 da Lei de Execução Penal
não é taxativo, pois não descreve todas as atividades que poderão auxiliar no abreviamento
da reprimenda. Aliás, o caput do citado artigo possui uma redação aberta, referindo-se apenas
ao estudo e ao trabalho, ficando a cargo do inciso I do primeiro parágrafo a regulação somente
no que se refere ao estudo - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive
profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional. Na mesma linha,
consigna-se que a intenção do legislador ao permitir a remição pelo trabalho ou pelo estudo é
incentivar o aprimoramento do reeducando, afastando-o, assim, do ócio e da prática de novos
delitos, e, por outro lado, proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado (art. 1º da LEP). Ao fomentar o estudo e o trabalho, pretende-se a inserção do
reeducando ao mercado de trabalho, a fim de que ele obtenha o seu próprio sustento, de
forma lícita, após o cumprimento de sua pena. Nessa toada, observa-se que o meio musical
satisfaz todos esses requisitos, uma vez que além do aprimoramento cultural proporcionado
ao apenado, ele promove sua formação profissional nos âmbitos cultural e artístico. A
atividade musical realizada pelo reeducando profissionaliza, qualifica e capacita o réu,
afastando-o do crime e reintegrando-o na sociedade. No mais, apesar de se encaixar
perfeitamente à hipótese de estudo, vê-se, também, que a música já foi regulamentada como
profissão pela Lei n. 3.857/1960. (Informativo n. 613)
HC 397.382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade, julgado em 3/8/2017,
DJe 14/8/2017.
Tráfico de entorpecentes. Momento do interrogatório. Último ato da instrução. Novo
entendimento firmado pelo Excelso no bojo do HC 127.900/AM. Modulação dos efeitos.
Publicação da ata de julgamento. Acusado interrogado no início da instrução.
DESTAQUE
Os procedimentos regidos por leis especiais devem observar, a partir da publicação da ata de
julgamento do HC 127.900/AM do STF (11.03.2016), a regra disposta no art. 400 do CPP, cujo
conteúdo determina ser o interrogatório o último ato da instrução criminal.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A controvérsia jurídica cinge-se a analisar suposta nulidade na realização do interrogatório,
como primeiro ato da instrução processual, de acusado pela prática de cometer crime de tráfico
de drogas. Há longa data, o Superior Tribunal de Justiça, com o aval da 2ª Turma do Supremo
Tribunal Federal, vinha entendendo, com assento no princípio da especialidade, que a nova
sistemática estabelecida pelo art. 400 do CPP, com a redação conferida pela Lei n. 11.719/2008
– que transpôs a oitiva do acusado para o fim da audiência –, não se aplicaria ao procedimento
próprio descrito nos arts. 54 a 59 da Lei de Drogas, segundo a qual o interrogatório ocorreria em
momento anterior à oitiva das testemunhas, na forma como preconiza o art. 57 do referido
diploma legal. Ocorre que, no julgamento do HC n. 127.900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe
3/8/2016, a Suprema Corte, por seu Plenário, realizou uma releitura do artigo 400 do CPP, à luz
do sistema constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Naquela assentada, reconheceu-se, em razão de mostrar-se mais compatível com os
postulados que informam o estatuto constitucional do direito de defesa, uma evolução
normativa sobre a matéria, de forma que, por ser mais favorável ao réu e por se revelar mais
consentânea com as novas exigências do processo penal democrático, a norma contida no art.
400 do CPP, na redação dada pela Lei n. 11.719/08, deveria irradiar efeitos sobre todo o
sistema processual penal, ramificando-se e afastando disposições em sentido contrário,
mesmo em procedimentos regidos por leis especiais. Arredou-se, pois, o consagrado critério
de resolução de antinomias – princípio da especialidade –, em favor de uma interpretação
teleológica em sintonia com o sistema acusatório constitucional, sem que tenha havido, no
entanto, declaração de inconstitucionalidade das regras em sentido contrário predispostas em
leis especiais ou mesmo da redação originária do art. 400 do CPP. Em conclusão: o
interrogatório passa a ser o último ato da instrução, sendo que a Lei n. 11.719/2008, geral e
posterior, prepondera sobre as disposições em contrário presentes em leis especiais. Por fim,
importante ressaltar que, em atenção ao princípio da segurança jurídica, foi realizada a
modulação dos efeitos da decisão da Corte Suprema, pelo que a nova interpretação dada
somente teria aplicabilidade a partir da publicação da ata daquele julgamento, ocorrida em
11.03.2016 (DJe n. 46, divulgado em 10/3/2016). A partir desse marco, portanto, incorreriam
em nulidade os processos em que o interrogatório fosse o primeiro ato da instrução.
(Informativo n. 609)

HC 396.658-SP, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, por unanimidade, julgado em 27/6/2017,
DJe 1/8/2017.
Prisão Preventiva. Fundamentação deficiente. Frustração na realização de delação premiada
não autoriza a imposição de segregação cautelar.
DESTAQUE
O descumprimento de acordo de delação premiada ou a frustração na sua realização,
isoladamente, não autoriza a imposição da segregação cautelar.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A questão controvertida consiste em analisar se a frustração na realização de acordo de delação
premiada consiste em fundamentação apta a justificar a imposição de prisão preventiva.
Inicialmente, vale destacar que a decretação da prisão preventiva, em qualquer hipótese, deve
observar a presença dos requisitos delineados no art. 312 do Código de Processo Penal. A prisão
provisória, por esse motivo, somente pode ser imposta se for necessária para garantir a ordem
pública, a ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal. Por outro lado, o simples fato de ter sido frustrado acordo de colaboração
premiada, ou mesmo o seu descumprimento, por si só, não justifica a imposição do cárcere
(Nesse sentido: HC 138.207, 2ª Turma, Rel. Min. Edson Fachin). Em outras palavras, a prisão
provisória não pode ser utilizada como "moeda de troca" ou punição antecipada àquele que,
réu em processo penal, celebra ou está em vias de celebrar o mencionado acordo. Outrossim,
como se depreende do julgado da Suprema Corte, A Lei n. 12.850/2013 não apresenta a
revogação da prisão preventiva como benefício previsto pela realização de acordo de
colaboração premiada. Tampouco há previsão de que, em decorrência do descumprimento do
acordo, seja restabelecida prisão preventiva anteriormente revogada. Portanto, a celebração de
acordo de colaboração premiada não é, por si só, motivo para revogação de prisão preventiva.
(Informativo n. 609)

REsp 1.660.333-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, por unanimidade, julgado em 6/6/2017,
DJe 13/6/2017.
Revisão criminal. Perícia realizada pela autoridade policial. Juntada do laudo. Agravo contra
decisão que inadmitiu recurso especial defensivo. Pendência de julgamento. Irrelevância. Prova
nova. Configuração.
DESTAQUE
O laudo pericial juntado em autos de ação penal quando ainda pendente de julgamento agravo
interposto contra decisão de inadmissão de recurso especial enquadra-se no conceito de prova
nova, para fins de revisão criminal (art. 621, III, do CPP).
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Uma das discussões trazidas aos autos consiste em definir se configura prova nova, para fins de
revisão criminal, aquela apresentada na pendência de julgamento de agravo contra decisão de
inadmissão de recurso especial. Inicialmente, destaca-se que a existência de prova surgida após
a condenação é pressuposto para o ajuizamento da revisão criminal com fundamento no art.
621, III, do Código de Processo Penal. Na hipótese analisada, o encaminhamento do laudo
pericial elaborado pela polícia civil, realizado nos telefones celulares apreendidos no momento
da prisão em flagrante, ocorreu quando já havia sido julgada a apelação, estando pendente de
julgamento apenas o agravo de instrumento contra decisão que inadmitira o recurso especial
defensivo. O fato de que, quando juntado o referido laudo pericial aos autos da ação penal,
estava pendente de julgamento o citado agravo não lhe retira o caráter de prova nova, tendo
em vista que a jurisdição das instâncias ordinárias, que são responsáveis pela análise do acervo
probatório, já havia se encerrado. Observa-se, portanto, em primeiro lugar, que a juntada do
laudo pericial ocorreu após a protocolização do agravo. Em segundo, que o agravo de
instrumento defensivo não foi conhecido, em decisão que acabou por transitar em julgado,
após o desprovimento de outros recursos manifestados pela defesa. Por fim, como é cediço,
em recursos de natureza extraordinária não se examinam provas e, portanto, não houve
apreciação judicial de seu conteúdo, motivo pelo qual o referido laudo pericial se enquadra
no conceito de prova nova. (Informativo n. 606)

REsp 1.574.681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, por unanimidade, julgado em 20/4/2017,
DJe 30/5/2017.
Tráfico de drogas. Flagrante. Domicílio como expressão do direito à intimidade. Asilo Inviolável.
Exceções constitucionais. Interpretação restritiva. Invasão de domicílio pela polícia. Necessidade
de justa causa.
DESTAQUE
Não configura justa causa apta a autorizar invasão domiciliar a mera intuição da autoridade
policial de eventual traficância praticada por indivíduo, fundada unicamente em sua fuga de
local supostamente conhecido como ponto de venda de drogas ante iminente abordagem
policial.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cinge-se a discussão sobre a legitimidade do procedimento policial que, após o ingresso no
interior da residência de determinado indivíduo, sem o seu consentimento válido e sem
autorização judicial, logra encontrar e apreender drogas, de sorte a configurar a prática do crime
de tráfico de entorpecente, cujo caráter permanente autorizaria o ingresso domiciliar.
Inicialmente, cumpre pontuar que o texto constitucional estabeleceu no art. 5º, XI, a máxima de
que a residência é asilo inviolável, atribuindo-lhe contorno de direito fundamental vinculado à
proteção da vida privada e ao direito à intimidade. Ao mesmo tempo, previu, em numerus
clausus, as respectivas exceções, quais sejam: a) se o morador consentir; b) em flagrante delito;
c) em caso de desastre; d) para prestar socorro; e) durante o dia, por determinação judicial.
Aliás, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do RE n. 603.616/RO,
com repercussão geral previamente reconhecida, assentou que "a entrada forçada em domicílio
sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas
razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação
de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados" (Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe 8/10/2010).
No entanto, embora a jurisprudência tenha caminhado no sentido de que as autoridades podem
ingressar em domicílio, sem o consentimento do morador, em hipóteses de flagrante-delito de
crime permanente – de que é exemplo o tráfico de drogas –, o entendimento merece ser
aperfeiçoado, dentro, obviamente, dos limites definidos pela Carta Magna e pelo Supremo
Tribunal Federal, para que se possa perquirir em qual medida a entrada forçada em domicílio é
tolerável. O crime de tráfico de drogas, por seu tipo plurinuclear, enseja diversas situações de
flagrante que não devem ser confundidas. Nem sempre o agente traz consigo drogas ou age
ostensivamente de modo a ser possível antever que sua conduta se insere em alguma das
dezoito alternativas típicas que justificam o flagrante, com a mitigação de um direito
fundamental. Nesses casos, espera-se que a autoridade policial proceda a investigações
preliminares que a levem a descobrir, v. g., que a residência de determinado indivíduo serve
de depósito ou de comercialização de substâncias entorpecentes, de modo a autorizar o
ingresso na casa, a qualquer hora do dia ou da noite, dada a natureza permanente do tráfico
de drogas. Na hipótese em que o acusado encontra-se em local supostamente conhecido como
ponto de venda de drogas, e, ao avistar o patrulhamento policial, empreende fuga até sua
residência (por motivos desconhecidos) e, em razão disso, é perseguido por policiais, sem,
contudo, haver um contexto fático do qual se possa concluir (ou, ao menos, ter-se fundada
suspeita), que no interior da residência também ocorre uma conduta criminosa, a questão da
legitimidade da atuação policial, ao invadir o domicílio, torna-se extremamente controversa.
Assim, ao menos que se possa inferir, de fatores outros que não a mera fuga ante a iminente
abordagem policial, que o evasor esteja praticando crime de tráfico de drogas, ou outro de
caráter permanente, no interior da residência onde se homiziou, não haverá razão séria para a
mitigação da inviolabilidade do domicílio, ainda que haja posterior descoberta e apreensão de
drogas no interior da residência – circunstância que se mostrará meramente acidental –, sob
pena de esvaziar-se essa franquia constitucional da mais alta importância. O que se tem,
portanto, é apenas a intuição acerca de eventual traficância praticada pelo recorrido, o que,
embora pudesse autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não
configurou, por si só, "fundadas razões" a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu
consentimento e sem determinação judicial. (Informativo n. 606)
REsp 1.373.356-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, por unanimidade, julgado em 20/4/2017,
DJe 28/4/2017.
Homicídio qualificado. Elemento informativo colhido na fase inquisitorial. Testemunho por ouvir
dizer. Fundamento exclusivo da decisão de pronúncia. Inviabilidade.
DESTAQUE
O testemunho por ouvir dizer (hearsay rule), produzido somente na fase inquisitorial, não serve
como fundamento exclusivo da decisão de pronúncia, que submete o réu a julgamento pelo
Tribunal do Júri.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O ponto nodal da discussão cinge-se à possibilidade de a pronúncia ser fundamentada
exclusivamente em elemento informativo colhido na fase inquisitorial da persecução penal. Com
efeito, é cediço que, muito embora a análise aprofundada dos elementos probatórios seja feita
somente pelo Tribunal Popular, não se pode admitir a pronúncia do réu, dada a sua carga
decisória, sem qualquer lastro probatório colhido em juízo, fundamentada exclusivamente em
prova colhida na fase inquisitorial, mormente quando essa prova se encontra isolada nos autos.
É verdade que alguns julgados proferidos pela Quinta e Sexta Turmas deste Superior Tribunal,
denotam a orientação de que, muito embora não seja possível sustentar uma condenação com
base em prova produzida exclusivamente na fase inquisitorial, não ratificada em juízo, tal
entendimento não se aplica à decisão de pronúncia (v.g. HC n. 314.454-SC, Rel. Ministro Ribeiro
Dantas, 5ª T; DJe 17/2/2017; AgRg no REsp 1.582.122-RS, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª
T, DJe 13/6/2016). Entretanto, essa orientação não se aplica à hipótese em que testemunhos
produzidos na fase judicial não apontem os acusados como autores do delito e os depoimentos
colhidos na fase inquisitorial sejam “relatos baseados em testemunho por ouvir dizer”. Sobre a
temática – já enfrentada na oportunidade em que apreciado o REsp 1.444.372-RS, DJe
25/2/2016 – vale observar que a norma segundo a qual a testemunha deve depor pelo que sabe
per proprium sensum et non per sensum alterius impede, em alguns sistemas – como o norte-
americano – o depoimento da testemunha indireta, por ouvir dizer (hearsay rule). No Brasil,
embora não haja impedimento legal a esse tipo de depoimento, doutrina aponta que “não se
pode tolerar que alguém vá a juízo repetir a vox publica. Testemunha que depusesse para
dizer o que lhe constou, o que ouviu, sem apontar seus informantes, não deveria ser levada
em conta.” A razão do repúdio a esse tipo de testemunho se deve ao fato de que, além de ser
um depoimento pouco confiável, visto que os relatos se alteram quando passam de boca a
boca, o acusado não tem como refutar, com eficácia, o que o depoente afirma sem indicar a
fonte direta da informação trazida a juízo. Assim, a submissão do réu a julgamento pelos seus
pares deve estar condicionada à produção de prova mínima e, diga-se, judicializada, na qual haja
sido garantido o devido processo legal, com o contraditório e a ampla defesa que lhe são
inerentes. (Informativo n. 603)

*Usar o fundamento desta decisão para expor a fragilidade da prova testemunhal indireta.

HC 351.273-CE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 2/2/2017, DJe 9/2/2017.
Monitoramento eletrônico mediante uso de tornozeleira. Pedido de retirada do equipamento
por desnecessidade. Indeferimento pelo juízo das execuções sem fundamento concreto.
Constrangimento ilegal evidenciado.
DESTAQUE
A manutenção de monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica sem fundamentação
concreta evidencia constrangimento ilegal ao apenado.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A questão recursal gira em torno da legalidade do indeferimento de pedido de revogação de
monitoramento eletrônico, por parte do juízo das execuções. Consoante dispõe o art. 146-D da
Lei de Execução Penal, a monitoração eletrônica poderá ser revogada quando se tornar
desnecessária ou inadequada. De qualquer sorte, ainda que o monitoramento eletrônico, com
a colocação de tornozeleiras, seja uma alternativa tecnológica ao cárcere, a necessidade de sua
manutenção deve ser aferida periodicamente, podendo ser dispensada a cautela em casos
desnecessários. Todavia, a simples afirmação de que o monitoramento é medida mais acertada
à fiscalização do trabalho externo com prisão domiciliar deferido ao apenado em cumprimento
de pena de reclusão no regime semiaberto, sem maiores esclarecimentos acerca do caso
concreto, não constitui fundamento idôneo para justificar o indeferimento do pleito. Assim
como tem a jurisprudência exigido motivação concreta para a incidência de cautelares penais
durante o processo criminal, a fixação de medidas de controle em fase de execução da pena
igual motivação exigem, de modo que a incidência genérica - sempre e sem exame da
necessidade da medida gravosa – de tornozeleiras eletrônicas não pode ser admitida.
(Informativo n. 597)

REsp 1.519.802-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade, julgado em
10/11/2016, DJe 24/11/2016.
Uso de tornozeleira eletrônica. Perímetro estabelecido para monitoramento. Não observância.
Constituição de falta grave. Não ocorrência. Aplicação de sanção disciplinar.
DESTAQUE
A não observância do perímetro estabelecido para monitoramento de tornozeleira eletrônica
configura mero descumprimento de condição obrigatória que autoriza a aplicação de sanção
disciplinar, mas não configura, mesmo em tese, a prática de falta grave.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Cingiu-se a discussão a verificar se a conduta do apenado, de estar fora da área de inclusão de
rastreamento da tornozeleira eletrônica configura, em tese, possível falta disciplinar de natureza
grave – apta à instauração de sindicância administrativa. Inicialmente, cabe destacar que resta
incontroverso na doutrina e na jurisprudência que é taxativo o rol do artigo 50 da Lei de
Execuções Penais, que prevê as condutas que configuram falta grave. No caso em apreço, o
apenado foi identificado fora do endereço declarado no período noturno (área de inclusão),
descumprindo assim uma das condições impostas na decisão que lhe concedera saída
temporária. Todavia, tal conduta não está prevista no rol supracitado – o que veda o seu
reconhecimento, mesmo em tese, como falta disciplinar de natureza grave, sob pena de
ofensa ao princípio da legalidade. Trata-se, sim, de descumprimento de condição obrigatória
que autoriza sanção disciplinar diversa, podendo ser aplicada, a critério do juiz da execução, a
regressão do regime, a revogação da saída temporária, da prisão domiciliar ou a advertência por
escrito, nos termos do artigo 146-C, parágrafo único da Lei de Execuções Penais, incluído pela
Lei n. 12.258, de 2010, bem como a revogação do próprio benefício de monitoração, por
descumprimento do disposto no art. 146-D do referido diploma legal. Importante ressaltar que
esta Corte vem admitindo a ocorrência de falta grave nas hipóteses em que o condenado rompe
a tornozeleira eletrônica ou mantém a bateria sem carga suficiente para o uso normal. Ocorre,
contudo, que em casos tais, o apenado deixa de manter o aparelho em funcionamento, restando
impossível o seu monitoramento eletrônico, o que até poderia equivaler, em última análise, à
própria fuga, diversamente do que ocorre no presente caso, em que há mera inobservância do
perímetro de inclusão declarado para o período noturno, que foi detectado pelo próprio
rastreamento do sistema de GPS, mantendo-se assim o condenado sob normal vigilância.
(Informativo n. 595)

HC 369.774-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, por maioria, julgado em 22/11/2016, DJe
7/12/2016
Execução penal. Marco inicial para subsequente progressão de regime. Data em que o
reeducando preencheu os requisitos do art. 112 da LEP.
DESTAQUE
A data-base para subsequente progressão de regime é aquela em que o reeducando preencheu
os requisitos do art. 112 da Lei de Execução Penal.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Ambas as Turmas que compõem a Terceira Seção do STJ eram firmes em assinalar que o termo
inicial para obtenção de nova progressão pelo apenado era a data do seu efetivo ingresso no
regime anterior e não a data da decisão judicial concessiva do benefício ou aquela em que houve
o preenchimento dos requisitos do art. 112 da LEP. No entanto, a Quinta Turma, recentemente,
modificou o entendimento sobre o tema e, alinhando-se à posição adotada pelo Supremo
Tribunal Federal, passou a considerar como data-base para concessão de nova progressão
aquela em que o apenado preencheu os requisitos do art. 112 da LEP. O STJ, em casos de
punição disciplinar, determina que a data-base para nova progressão de regime será contada
a partir do dia da falta grave, e não do dia em que for publicada decisão que a reconhece
judicialmente. Na situação de progressão de regime, a regra deverá ser a mesma. O sistema
progressivo da execução penal não pode ser erigido em detrimento do apenado em casos
específicos de mora judiciária. A teor de julgados do Supremo Tribunal Federal, a decisão do
Juízo das Execuções, que defere a progressão de regime, é meramente declaratória, e não
constitutiva. Primeiramente o reeducando preenche os requisitos objetivo e subjetivo e,
depois, pronunciamento judicial reconhece seu direito ao benefício. Embora a análise célere
do pedido seja o ideal, é cediço que a providência jurisdicional não ocorre dessa forma e, por
vezes, pode demorar meses ou anos para ser implementada. Por tais motivos, o período de
permanência no regime mais gravoso, por mora do Judiciário em analisar requerimento de
progressão ao modo intermediário de cumprimento da pena, deverá ser considerado para o
cálculo de futuro benefício, sob pena de ofensa ao princípio da dignidade do apenado, como
pessoa humana (art. 1°, III, CF) e prejuízo ao seu direito de locomoção. Assim, o entendimento
da Sexta Turma alinha-se à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para estabelecer, como
marco para a subsequente progressão, a data em que o reeducando preencheu os requisitos
legais do art. 112 da LEP. (Informativo n. 595)

2018

Execução penal. Unificação das penas. Superveniência do trânsito em julgado de sentença


condenatória. Termo a quo para concessão de novos benefícios. Ausência de previsão legal para
alteração da data-base.
DESTAQUE
A alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios, em razão da
unificação das penas, não encontra respaldo legal.
As Turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em consonância com
a compreensão do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, possuíam o entendimento
pacificado de que, sobrevindo condenação definitiva ao apenado, por fato anterior ou posterior
ao início da execução penal, a contagem do prazo para concessão de futuros benefícios seria
interrompida, de modo que o novo cálculo, realizado com base no somatório das penas, teria
como termo a quo a data do trânsito em julgado da última sentença condenatória. Entretanto,
da leitura dos artigos 111, parágrafo único, e 118, II, da Lei de Execução Penal, invocados para
sustentar o posicionamento mencionado, apenas se conclui que, diante da superveniência do
trânsito em julgado de sentença condenatória, caso o quantum de pena obtido após o somatório
não permita a preservação do regime atual de cumprimento da pena, o novo regime será então
determinado por meio do resultado da soma, de forma que estará o sentenciado sujeito à
regressão. Assim, sequer a regressão de regime é consectário necessário da unificação das
penas, porquanto será forçosa a regressão de regime somente quando a pena da nova execução,
somada à reprimenda ainda não cumprida, torne incabível o regime atualmente imposto.
Portanto, da leitura dos artigos supra, não se infere que, efetuada a soma das reprimendas
impostas ao sentenciado, é mister a alteração da data-base para concessão de novos benefícios.
Por conseguinte, deduz-se que a alteração do termo a quo referente à concessão de novos
benefícios no bojo da execução da pena constitui afronta ao princípio da legalidade e ofensa
à individualização da pena, motivo pelo qual se faz necessária a preservação do marco
interruptivo anterior5 à unificação das penas. Ainda que assim não fosse, o reinício do marco
temporal permanece sem guarida se analisados seus efeitos na avaliação do comportamento
do reeducando. Caso o crime cometido no curso da execução tenha sido registrado como
infração disciplinar, seus efeitos já repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois,
segundo a jurisprudência consolidada desta Corte Superior, a prática de falta grave interrompe
a data-base para concessão de novas benesses, à exceção do livramento condicional, da
comutação de penas e do indulto. Portanto, a superveniência do trânsito em julgado da
sentença condenatória não poderia servir de parâmetro para análise do mérito do apenado, sob
pena de flagrante bis in idem. No mesmo caminho, o delito praticado antes do início da execução
da pena não constitui parâmetro idôneo de avaliação do mérito do apenado, porquanto evento
anterior ao início do resgate das reprimendas impostas não desmerece hodiernamente o
comportamento do sentenciado e não se presta a macular sua avaliação, visto que é estranho
ao processo de resgate da pena. A unificação de nova condenação definitiva já possui o condão
de recrudescer o quantum de pena restante a ser cumprido pelo reeducando, logo, a alteração
da data-base para concessão de novos benefícios, a despeito da ausência de previsão legal,
configura excesso de execução, baseado apenas em argumentos extrajurídicos. (Informativo
n. 621.)

Execução penal. Remição. Trabalho em período anterior ao início da execução. Possibilidade se


posterior à prática do delito.
DESTAQUE
É possível a remição do tempo de trabalho realizado antes do início da execução da pena, desde
que em data posterior à prática do delito.

Tráfico de drogas. Causa especial de diminuição de pena. Art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006.
Reincidência. Reconhecimento equivocado.
DESTAQUE
É inviável o reconhecimento de reincidência com base em único processo anterior em desfavor
do réu, no qual - após desclassificar o delito de tráfico para porte de substância entorpecente
para consumo próprio - o juízo extinguiu a punibilidade por considerar que o tempo da prisão
provisória seria mais que suficiente para compensar eventual condenação.
Trata-se de habeas corpus em que o impetrante sustenta a ocorrência de constrangimento
ilegal, ao argumento de que a reincidência foi considerada de maneira equivocada. Vale
salientar que o paciente - condenado por tráfico de drogas - não obteve a redução da pena
inerente à figura privilegiada do tipo penal, em face do reconhecimento da reincidência, com
base em única ação penal anterior constante em sua vida pregressa. Na oportunidade da
referida primeira e única condenação, o Juiz desclassificou o delito pelo qual respondia,
atribuindo-lhe o crime de porte de substância entorpecente para consumo próprio, e, ato
contínuo, extinguiu a punibilidade por considerar o tempo da prisão provisória mais do que
suficiente para compensar eventual medida a lhe ser imposta. De fato, as instâncias ordinárias
deixaram de reconhecer a incidência da causa especial de diminuição prevista no § 4º do art. 33
da Lei n. 11.343/2006, porque concluíram que a extinção da punibilidade, nesses casos, se
assemelharia à extinção do processo executivo pelo cumprimento de pena e, por conseguinte,
seria apta a gerar a reincidência. Todavia, não há como desprezar que o tempo de constrição
considerado para a extinção da punibilidade se deu no âmbito exclusivo da prisão preventiva,
sendo inconcebível compreender, em nítida interpretação prejudicial ao réu, que o tempo de
prisão provisória seja o mesmo que o tempo de prisão no cumprimento de pena, haja vista

5
Considera-se o marco interruptivo anterior, para que o apenado não perca o direito sobre o tempo de cumprimento de pena, a
ser utilizado para a concessão dos benefícios legais. Acredito que o acórdão tenta deixar claro que a unificação das penas não gera
o reinício da contagem dos prazos para obtenção dos benefícios previstos na LEP.
tratar-se de institutos absolutamente distintos em todos os seus aspectos e objetivos. Nessa
linha de raciocínio, a decisão de extinção da punibilidade, na hipótese, aproxima-se muito mais
do exaurimento do direito de exercício da pretensão punitiva como forma de reconhecimento,
pelo Estado, da prática de coerção cautelar desproporcional no curso do único processo em
desfavor do paciente - citado anteriormente - do que com o esgotamento de processo executivo
pelo cumprimento de pena. Acrescente-se, ainda, que, se o paciente não houvesse ficado preso
preventivamente - prisão que, posteriormente, se mostrou ilegal, dada a desclassificação do
primeiro delito a ele imputado -, teria feito jus à transação penal, benefício que, como é
sabido, não é apto a configurar nem maus antecedentes nem reincidência. Nesse sentido, o
único processo anterior existente em desfavor do réu não pode ser considerado para fins de
reincidência, devendo a Corte de origem reanalisar o preenchimento dos demais requisitos
necessários à aplicação da minorante prevista no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas. (Informativo n.
619.)

Omissão cartorária. Dúvida em relação ao recebimento da sentença. Art. 389 do CPP. Mero
lançamento de movimentação processual na internet. Requisitos não atendidos. Presunção
prejudicial ao réu. Extinção da punibilidade pela prescrição retroativa. Ocorrência.
DESTAQUE
Havendo dúvida resultante da omissão cartória em certificar a data de recebimento da sentença
conforme o art. 389 do CPP, não se pode presumir a data de publicação com o mero lançamento
de movimentação dos autos na internet, a fim de se verificar a ocorrência de prescrição da
pretensão punitiva.
Inicialmente, cumpre ressaltar que, conforme dispõe o art. 389 do Código de Processo Penal, a
publicação da sentença é ato complexo que se compraz com o recebimento da sentença pelo
escrivão, com a lavratura nos autos do respectivo termo e com o registro em livro
especialmente destinado para esse fim. Nesse sentido, a publicidade da sentença se apresenta
como requisito indispensável à própria existência do ato, retirando-lhe o caráter
eminentemente particular e privado, para que possa ser adjetivado como um autêntico ato
processual. Na hipótese, as formalidades não foram adequadamente cumpridas, porquanto não
há registros quanto à certificação da publicação da sentença. O que existe é, apenas e tão
somente, o lançamento do andamento processual "Mandado Expeça-sentença", registrado
junto ao sistema eletrônico de gerenciamento de processos (eJUD) do Tribunal. Com efeito, o
registro em comento não pode ser caracterizado como ato processual, por tratar-se,
efetivamente, de uma facilidade oferecida aos jurisdicionados para que possam acompanhar
com maior comodidade o andamento dos feitos judiciais. Nesse diapasão, não desponta
qualquer efeito legal do simples registro de movimentação dos autos físicos na internet, de
cunho meramente informativo e não vinculativo. Via de consequência, sob a óptica do direito
penal, tal evento não possui o condão de interromper o lapso prescricional, na forma do art.
117, IV, do CP. Portanto, em havendo dúvida resultante da omissão do cartório em certificar
a data de recebimento da sentença, deve-se considerar a data de publicação do primeiro ato
que demonstrou, de maneira inconteste, a ciência da sentença pelas partes e não a data do
mero lançamento de movimentação dos autos na internet, haja vista que esta solução
prejudica o réu. Ademais, no caso em tela, deve-se declarar extinta a punibilidade, uma vez
que, em decorrência da falta de cumprimento dos requisitos elencados no art. 389 do CPP, a
prescrição não pode ser interrompida. (Informativo n. 619.)

DIREITO PROCESSUAL PENAL TEMA Imputação do mesmo fato delituoso em ações penais
diversas que tramitaram em juízos diferentes. Ocorrência de coisa julgada. Prevalência da
condenação mais favorável ao agente.
DESTAQUE
Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias por fatos idênticos, deve
prevalecer a condenação mais favorável ao réu.

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