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ECV5149 – Geologia de Engenharia

Capítulo 5
Rochas Metamórficas
1. Introdução

 A designação "metamórfica" implica "mudança".


 Após a alteração, não mais se assemelham às rochas originais. Sua composição, estrutura e coloração
mudaram.
 Os processos metamórficos têm lugar no interior da crosta terrestre, onde as rochas sólidas podem sofrer
importantes transformações mineralógicas, devido a altas temperaturas, a elevadas pressões e à ação de
fluidos quimicamente ativos.

Rocha metamórfica é, pois, aquela que sofreu mudanças na sua constituição mineral e na textura,
em conseqüência de importantes transformações nos ambientes físico e químico do interior da
crosta.

Os principais agentes do metamorfismo são:

 Altas temperaturas
 Grandes pressões
 Ambientes químicos reinantes no interior da crosta terrestre.

Os processos metamórficos, agindo sobre as rochas originais, podem produzir alterações em maior ou menor
grau:

 Metamorfismo de baixo grau - Muitas das estruturas originais continuam visíveis, como por exemplo, a
estratificação.
 Metamorfismo de alto grau - A rocha original é completamente transformada e recristalizada sem ter
sofrido fusão.

A temperatura constitui, provavelmente, um dos fatores mais importantes nos processos metamórficos:

 Abaixo de 2000C - As reações são muito lentas


 Acima de 800 a um 0000C - A rocha funde.
o
Desse modo, o metamorfismo tem lugar entre as temperaturas de 200 e 1000 C.

 Aumento natural de temperatura com a profundidade


Fonte de calor
 a partir das câmaras magmáticas adjacentes às áreas de metamorfismo.

 O primeiro se deve ao próprio peso do material sobrejacente, o qual,


naturalmente, aumenta com a profundidade.
Tipos de pressões  O segundo tipo de pressão, denominado “direcional", se deve aos esforços
tectônicos relacionados aos movimentos da crosta terrestre.

 As reações químicas só podem ocorrer mediante solubilização parcial ou


completa do mineral original, com formação de nova espécie adaptada
às novas condições físicas e químicas reinantes no ambiente de
metamorfismo.
 O veículo das transformações químicas é a matéria líquida ou volátil que
Papel da parte flúida ocupa as fissuras e todas as porosidades e interstícios das rochas
 A presença de fluidos nos poros das rochas determina a velocidade e a
natureza do processo metamórfico
 Entre os fluidos intersticiais e os minerais da rocha existe uma troca
constante de material que acelera o processo de alteração química e
mineralógica

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Onde esses fluidos quimicamente reativos se originam?


“Embora a maiorias das rochas pareça ser completamente secas e ter porosidade extremamente baixa, elas
comumente contêm fluidos em minúsculos poros (os espaços entre grãos). Estes fluidos derivam da água
quimicamente ligada às argilas, e dos poros sedimentares, a qual é, em grande parte, expelida durante a
diagênese. Em outros minerais hidratados, como as micas e o anfibólio, a água faz parte da estrutura cristalina.”
(Livro: Para entender a Terra)

Efeito da pressão no metamorfismo das rochas. (A) Aumento da pressão litostática, ou seja, aumento de peso
devido ao depósito de novos sedimentos, (B) Aumento da pressão tectônica aumentando o estado de tensões em
uma determinada direção metamorfizando as rochas e promovendo o seu dobramento.

A maiores profundidades, a ação da temperatura e da pressão acentua a atividade das soluções,


produzindo metamorfismo por recristalização ou adição de material, com desenvolvimento de
novas estruturas.

2. Textura e estrutura das rochas metamórficas

Texturas

 Assim como as rochas ígneas e sedimentares as rochas metamórficas podem apresentar diversas texturas e
estruturas, classificadas de diferentes formas por vários autores.
 Diz respeito aos aspectos relacionados com os grãos, sendo observadas em amostras de mão.

As texturas das rochas metamórficas dependem da forma, do modo de crescimento e das relações entre os
minerais. Algumas destas texturas estão apresentadas abaixo:

Granoblástica – Mostra grãos ou cristais recristalizados de tamanhos


semelhantes.
Ex.: Mármore, quartzito e gnaisses

Lepidoblástica – Pela recristalização os minerais de forma lamelares estão


orientados quase que paralelamente.
Ex.: Xistos e Filitos

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Porfiroblásticas – è caracterizada pela presença de cristais que se destacam


entre os demais.
Ex.: Mármore, quartzito, gnaisses

Porfiroblastos de granada em um xisto

Cataclástica – Textura resultante do esmagamento e fragmentação dos grãos


das rochas. São o resultado de deformações mecânicas sobre rochas pré-
existentes. Ex.: zonas de falhas

Estruturas

 Entre as estruturas das rochas metamórficas destacam-se a granulosa, a xistosidade e o bandeamento.


 A estrutura corresponde às feições maiores, megascópicas de uma rocha metamórfica, identificadas em
afloramentos ou pedreiras.
 A maioria das rochas metamórficas apresentam feições planares, que determinam zonas de fraqueza.

Estrutura granulosa – Deve-se a predominância de minerais equidimensionais que não favorecem a xistosidade
de forma que a rocha exibe aspecto compacto, maciço.

A estrutura xistosa (xistosidade) - Deve-se à predominância de minerais lamelares, tabulares ou prismáticos


altamente cliváveis. Estes, sob ação da pressão dirigida, dispõem-se em camadas de aspecto folheado.

Importância para a Engenharia (Apostila Victor Hugo)


Quando britada a rocha pode apresentar problemas com o índice de forma do agregado.
A xistosidade assim como a estratificação das rochas sedimentares corresponde a um plano de fraqueza
da rocha, por ela tenderá a se fraturar originando fragmentos em forma de placas.
Possuindo xistosidade nítida, a rocha terá resistência à compressão simples maior em um determinado
sentido.
A estabilidade de um corte em rocha com xistosidade fica prejudicada, quando este plano interceptar o
plano do talude com inclinação menor.
Problema na estabilidade do teto de túneis
A espessura do solo tenderá a ser elevada devido à facilidade de penetração da água

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Estrutura xistosa

A estrutura bandeada ou gnáissica - é normalmente caracterizada por bandeamento composicional. Bandas


claras, mais ricas em quartzo e feldspato alternadas com bandas mais escuras, por conter maior teor de minerais
máficos.

O bandeamento também se constitui em um plano de fraqueza da rocha por onde tenderá a romper. Quanto a
forma o bandeamento pode ser:

Paralelo – Os níveis são aproximadamente paralelos entre si


Lenticular – Quando os níveis alcançam uma espessura máxima e se tornam mais delgados nos bordos.
Nebulítico – Bandas bem definidas em certos pontos e dispersas em outros

Bandeamento paralelo Bandeamento lenticular Bandeamento nebulítico

Bandeamento lenticular

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Bandeamento resultante do aumento de tensões que atuam em uma determinada direção

3. Formas de metamorfismo

De acordo com o ambiente e a predominância deste ou daquele agente de metamorfismo, podemos ter as
seguintes formas:

 metamorfismo de contacto;
 metamorfismo dinâmico;
 metamorfismo regional.

Metamorfismo de contato

 Constitui o metamorfismo que ocorre nas adjacências das grandes massas ígneas.
 Ele é mais intenso na zona de contacto entre o magma e a rocha encaixante.
 A ação metamórfica diminui com a distância do corpo ígneo.
 Ao redor do contacto desenvolve-se uma auréola de metamorfismo cujas dimensões dependem do
tamanho da intrusão e da natureza da rocha encaixante.
 As grandes intrusões podem apresentar auréolas com mais de 1 km de espessura, enquanto que os
pequenos diques não afetam mais do que poucos centímetros além do contacto.
Metamorfismo dinâmico

 Em ambiente de profundidade moderada, sob condições de alta pressão e baixa temperatura, onde as
rochas sofrem deslocamentos devidos aos poderosos movimentos da crosta, tem lugar o metamorfismo
dinâmico.
 As tensões devidas às pressões direcionais constituem os principais fatores que causam o fraturamento e
a fragmentação mecânica das rochas (cataclase), reduzindo-as, freqüentemente, a pó (milonito).
 Geralmente, no metamorfismo dinâmico ou cataclástico, não se formam novos minerais, exceto ao longo
dos planos de intenso cisalhamento, onde o atrito gera calor suficiente para produzir transformações
minerais de maior ou menor intensidade.

Metamorfismo regional

 Enquanto que os metamorfismos de contacto e dinâmico se restringem a áreas relativamente pequenas, o


metamorfismo regional, por outro lado, apresenta ocorrência ampla, formando grande parte dos escudos
cristalinos.
 O metamorfismo regional tem lugar a grandes profundidades, sob pressão e temperatura elevadas.
 Relaciona-se aos movimentos da crosta terrestre.
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 Parte da pressão envolvida no processo resulta dos esforços direcionais da tectônica.


 A ação conjugada da temperatura e da pressão resultantes dos movimentos tectônicos dá origem ao
metamorfismo dinamotermal característico das regiões dobradas dos grandes cinturões orogênicos, onde
se formam os xistos e gnaisses.

4. Classificação das rochas metamorficas

 É efetuada com base na composição mineralógica, estrutura, textura e origem.


 Simplificadamente pode-se classificar as rochas metamórficas nas seqüências argilosas, quartzosas,
carbonatada e básicas.
 Dentro destas seqüências, têm-se diferentes rochas em função do grau de metamorfismo.

4.1. Sequência Argilosa

Está relacionada ao metamorfismo atuando sobre argilito, siltito e folhelho que se caracterizam pela presença de
argila e silte, estratificação e textura muito fina.
O metamorfismo sobre estas rochas as transformará em ardósia, filito, xisto e gnaisse.

Ardósia

 Devido ao baixo grau de metamorfismo a estratificação é preservada.


 As ardósias são rochas de granulação extremamente fina e possuem uma propriedade notável, conhecida
como clivagem ardosiana, que lhes permite o desdobramento em lâminas delgadas e largas.
 A cor das ardósias vai, comumente, de cinza a preta, mas pode ser verde, amarela, castanha e vermelha.
 Resultam, usualmente, do metamorfismo regional dinamotermal de folhelhos (os folhelhos sofrem pressão
muito grande e aumento da temperatura com pressões dirigidas)
 Devido à boa divisibilidade apresentada por estas rochas, de modo a formar grandes placas, são usadas
para revestimentos de piso e paredes ou para telhados.

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Ardósia
Filito

 Os filitos formam-se sob condições de baixo grau de metamorfismo, porém mais intensas do que aquelas
que dão origem às ardósias.
 Possuem granulação fina ou média e coloração geralmente acinzentada ou esverdeada, com lustro
prateado.
 São compostos essencialmente de clorita e/ou moscovita).
 Os minerais micáceos são de pequeno tamanho e emprestam a rocha um brilho sedoso.
 A xistosidade encontra-se bem desenvolvida devido à orientação paralela das pequenas placas minerais.
 Freqüentemente ocorrem pequenas dobras ou corrugações.

Amostra de filito, exibindo granulação fina e foliação Filito da parte intermediária da formação na
crenulada. confluência entre os rios Água Preta e Pardo. Estrada
entre Camacã e o rio Pardo/RS.
Xisto

 Os xistos resultam de um grau pouco mais elevado de metamorfismo do que o dos filitos sendo formados
a maiores temperaturas
 Caracterizam-se pelo arranjo paralelo dos constituintes minerais e pela esfoliação pronunciada.
 Diferenciam-se dos filitos pela textura mais grosseira e pela tendência a apresentar clivagem ondulada.
 As placas dos minerais micáceos mostram nítido alinhamento ao longo da superfície de xistosidade.
 Os xistos das regiões intensamente deformadas apresentam várias direções de xistosidade.
 Eles indicam condições de baixo grau de metamorfismo. Representam os membros finais de algumas
séries de rochas metamórficas.

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Xisto/MG

Gnaisses

 Os gnaisses formam-se sob condições de temperaturas e pressões bastante elevadas. Originam-se nas
regiões mais quentes do metamorfismo regional.
 Trata-se de rochas de granulação variando de média a grosseira, de aspecto listrado, com os componentes
minerais segregados em faixas escuras e claras.
 Os gnaisses assemelham-se muito aos granitos, exceto pela textura e/ou estrutura que é denominada de
gnáissica (alternância de níveis com composição mineralógica e/ou texturas diferentes).
 Possuem cor cinza, desde claro até quase preto, e também rosa.
 São originados em zonas muito profundas da crosta terrestre, e suas idades são, em geral, muito antigas.
 No Brasil, estas rochas são muito comuns e constituem parte dos terrenos Pré-Cambrianos. São utilizados
como material ornamental ou de revestimento.

Gnaisse

Gnaisse (Porto Belo/SC)

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Migmatito

 São rochas mistas constituídas por um componente antigo (hospedeiro), geralmente xisto ou gnaisse e um
componente granítico. Este forma camadas, bolsões ou veios.
 Se a granitização, processo de transformação da rocha preexistente em uma rocha semelhante ao granito,
for muito intensa, a rocha pode assemelhar-se a um granito em sua composição, porem as estruturas
originais, como camadas podem ainda serem percebidas.
 O componente xistoso ou gnáissico dos migmatitos possui colorações cura, enquanto que a parte granítica
é de cor esbranquiçada, rosada ou cinzenta.
 Os migmatitos originam-se na parte interna das auréolas metamórficas de grandes intrusões graníticas

Migmatito dos arredores de Itapema/SC

Mudanças na textura das rochas no metamorfismo regional

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4.2 Sequência Quartzosa

 Esta seqüência é formada por rochas derivadas de arenito com mais de 80 % de quartzo.
 Dependendo do arenito que lhe deu origem, se maciço ou estratificado, o quartzito poderá se maciço ou
bandeado.
 No caso do arenito não ser puro e apresentar cimento argiloso o quartzo pode se recristalizar e a argila se
transformar em mica. Ex.: Pedra de São Tomé- apresenta larga utilização na engenharia como
revestimento de paredes e pisos.

Quartzito

 Os arenitos transformam-se em quartzitos tanto pelo metamorfismo de contacto como pelo regional.
 A granulação varia de fina a grosseira.
 De um modo geral, apresentam-se maciços.
 Durante o metamorfismo, certas estruturas sedimentares primárias, como estratificação ou camadas
gradacionais, podem ser preservadas.
 Os quartzitos compõem-se essencialmente de grãos de quartzo intercrescidos.
 Pequenas quantidades de feldspato ou mica são evidentes.
 Distinguem-se facilmente dos arenitos porque, quando estes últimos se partem, a fratura dá-se pelo
cimento, ficando os grãos do quartzo salientes, enquanto nos quartzitos a fratura corta toda a massa da
rocha

Quartzito

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.3. Seqüência carbonática

 São rochas metamórficas derivadas de metamorfismo, representada predominantemente por


recristalização sobre rochas calcárias e dolomitos.
 Sua estrutura pode ser maciça ou ainda bandeada.

Rochas calcárias e mármores

 Os mármores derivam do metamorfismo regional das rochas calcárias.


 Formam-se também no metamorfismo de contacto.
 É uma rocha cristalina composta por calcita, ou mais raramente, dolomita.
 As estruturas sedimentares originais podem ser preservadas. Contudo, geralmente se apresentam
maciços, embora, muitas vezes, mostrem acamamento ou faixas que comumente correspondem às
antigas estruturas primárias.
 A xistosidade ou clivagem é rara nos mármores puros.
 A altas pressões, tornam-se relativamente plásticos e exibem estruturas contorcidas ou dobras.
 Geralmente, apresenta cor branca, mas pode apresentar ampla faixa de cores em conseqüência de vários
outros minerais que pode conter, em pequenas quantidades.
 A palavra mármore, comercialmente falando, é usada para indicar qualquer rocha constituída de
carbonato de cálcio, suscetível de ser polida e, nestas condições, inclui alguns calcários.
 Por ser constituído por minerais de baixa dureza (D=3 a 3,5) os mármores são cortados e polidos com
relativa facilidade.
 A baixa dureza e sensibilidade ao ataque ácido trazem problemas na manutenção do brilho e do
polimento.

Mármore
Mármore bruto

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