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Harvey, David.

Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança


Cultural. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. XVII ed. São
Paulo: Loyola, 2008. p. 135 – 162.

RESENHA CRÍTICA.

1
Elias Machado de Farias Neto.

O controle internacional financiado na moeda do dólar perpetuou o sistema


americano como um sistema hegemônico por anos a fim, além de servir de expoente
para um mercado financeiro. Contudo, este respaldo, assim como a crise dos anos trinta,
o sistema financeiro internacional estava sobre uma “corda-bamba”, se equilibrando nos
mercados externos e na demanda financeira. Ao tanto, que, com o movimento do
mercado internacional em direção a uma nova roupagem, sobretudo a uma disputa
ligada ao continente asiático sobre os mercados externos, levou os EUA a um colapso
financeiro. O fordismo não conseguiu acompanhar as mudanças que são inerentes ao
capitalismo, tanto por sua lógica financeira, quanto pela própria rigidez do sistema. O
giro de capital fixo no sistema de financiamento colapsou o mercado externo e a
demanda financeira que os EUA desbancou de outras hegemonias. A coerção social
praticada por um Estado keynesiano não superou as desenvolturas ligadas a uma
economia emergente que buscava se deslocar de sua posição hierárquica e dependência:
como exemplo, a América Latina.

A crise dos anos setenta criou uma ebulição de tentativas de resolução, bem
como experimentos capitalistas. O sistema capitalista é um sistema multifacetado que
nasce, mas não morre e se transforma sempre. Para Harvey, o sistema abre espaço para
um novo modelo econômico completamente distinto. Esse sistema, assim chamado por
ele, é o sistema de acumulação flexível, marcado por ir de contra a rigidez do sistema
fordista. Respaldado em um mercado, uma mão de obra e um acúmulo de caráter
flexível que possa se moldar a circunstâncias específicas de seu tempo e espaço. Esse
sistema é marcado por um crescimento exponencial da indústria de serviços, bem como
de uma abertura a novos modelos de produção ligados a um controle mais vigoroso da
mão de obra que, neste momento, estava a ver navios e sem perspectivas se tornando
uma massa de fácil manobra. O próprio mercado aderiu a uma nova abertura de
1Discente do curso de Bacharelado em História, do Departamento de História no Centro de Filosofia e
Ciências Humanas na Universidade Federal de Pernambuco. Resenha Crítica para disciplina, Geografia
Econômica do Mundo Atual, aos dias de 17 de março de 2021.
indústrias em espaços ainda não explorados, caso dos vales de silício. Todo o mercado
se desdobrou em uma nova estrutura que aprendeu a se adequar a uma instabilidade que
é inerente ao desenvolvimento do mercado financeiro.

Esse sistema flexível foi, acima de tudo, devastador ao trabalho organizado, ao


sindicato e a, mesmo que ínfima, independência da mão-de-obra. O empresariado
aproveitou-se de um enfraquecimento social ligado às crises do sistema financeiro e de
um excedente de trabalhadores desprovidos de perspectivas futuras e de um Estado
social que o abrangesse, para impor um sistema de produção condizente a uma
flexibilização do controle de tempo produtivo e do próprio salário. As questões sociais
desse movimento de sistemas ficaram marcadas por um fim do sistema organizacional
dos trabalhadores, o sindicalismo foi golpeado e o controle, exercido de maneira mais
atroz. Esse sistema acabou por deslocar parte da massa a uma reeducação econômica
ligada a uma esfera autônoma de trabalho, onde o sistema de produção ligado a o que
antes era uma indústria doméstica surgia repaginado em uma configuração de
mercadorias de imediato escoamento. Neste aspecto Harvey descreve como a situação
dessa nova organização do sistema flexível acabou por se interiorizar dentro de uma
nova forma de produção ligado ao mercado autônomo, descreve: “a acumulação flexível
foi acompanhada na ponta do consumo, portanto, por uma atenção muito maior Às
modas fugazes e pela mobilização de todos os artifícios de indução de necessidades e de
transformação cultural que isso implica” (HARVEY, 2008, p. 148).

A figura do Estado protecionista nascido no sistema keynesiano perde seu


espaço dentro deste sistema flexível. O autor descreve que a figura do Estado perde sua
identidade de um Estado ligado à coerção do sistema, do processo de produção, do bem-
estar social. Essa nova configuração de sistema colocou a figura do estado em uma
bipolaridade, norteados por duas facetas: a primeira, de um Estado que tem como
finalidade providenciar uma estrutura que favorecesse implementações e melhorias
industriais no seu ambiente interno. A segunda, de um Estado que esteja aberto e que
provoque uma busca externa por seu mercado e favorece a entrada desse sistema. Essas
questões correspondem a uma transição marcada por uma brutal ruptura com o sistema
fordista, levando o sistema a direções distintas. O mercado acabou por se refinar em um
sistema “líquido” que se adequa a quais formas são necessárias para sua manutenção,
abrindo espaço a uma desigualdade e a um sistema que deslocou a massa excedentes a
uma nova concepção de antigas práticas de produção.

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