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Harvey, David.

Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança


Cultural. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. XVII ed. São
Paulo: Loyola, 2008. p. 120 – 134.

RESENHA CRÍTICA.

1
Elias Machado de Farias Neto.

Cap. VIII. FORDISMO.

O modelo fordista, segundo descreveu Harvey, surge não de inovações antes não
pensadas no mundo da industrialização, mas de um aperfeiçoamento de estruturas
presentes dentro do mundo capitalista desde os desenvolvimentos das linhas de ferro e
dos trustes e cartéis. O sistema fordista de produção é uma esquematização sólida de
produção, codificado através do controle do tempo e da abertura da mão-de-obra a um
sistema social de interesses capitalistas ligados ao consumo. Modelo que surge ao fim
do século XIX e início do século XX, com o primeiro modelo fabril onde se implantou
as oito horas de trabalho recompensada por cinco dólares; com práticas hierarquizadas
fundadas no conceito teórico do sistema taylorista de esquematização da produção por
divisões de produção em que se respeita uma condição de hierarquia, a fim de um
aumento exponencial da produção.

O fordismo está, sobretudo, ligado a um avanço descomunal em direção a


criação de uma figura conhecida como o homem contemporâneo, ligado a um consumo
de massa a um padrão social ligado a reprodução do sistema fabril para o cotidiano –
como descreveu Gramsci, um novo tipo de trabalhador, e um novo tipo de homem. É
indissociável a figura que surge do novo trabalhador e o modelo de produção. A esfera
americana, fordista, é a esfera do controle alienista sobre a produção, sobre o consumo,
sobre a massa e sua sociabilidade. A introdução deste sistema se faz tão inerente ao
conceito de individualismo que vai de encontro a questões como sexualidade, família,
coerção moral, e do próprio sentido de individualidade, de privacidade. No entanto, o
modelo fordista assume uma postura ainda muito prematura do que se conhece,
atualmente, do processo de consumo, do modelo de vida aderente ao consumo em
massa.

1 Discente do curso de Bacharelado em História, do Departamento de História no Centro de Filosofia e


Ciências Humanas na Universidade Federal de Pernambuco. Resenha Crítica para disciplina, Geografia
Econômica do Mundo Atual, aos dias de 17 de março de 2021.
Ao descrever o desenvolvimento do sistema fordista em direção a uma
hegemonia, Harvey situa questões que vão de contra a este desenvolvimento, ou que se
deve atravessar para sua conquista social. Ao estender o sistema fabril a um sistema de
controle social, Henry Ford construiu um modelo adequado ao próprio linear da família
do indivíduo onde “isso presumia que os trabalhadores soubessem como gastar seu
dinheiro adequadamente” (HARVEY, 2008, p. 122). O sistema fordista inaugura uma
nova sociedade, de um novo modelo moral, sobretudo, um conceito de individualidade
forjada no consumo e para o consumo, através de controles rígidos e coercitivos que
acossam as demais práticas contidas como libidinosa, a exemplo disto, Harvey escreve,
“Ford enviou um exército de assistentes sociais aos lares dos seus trabalhadores
‘privilegiados’ (em larga medida imigrantes) para ter certeza de que o ‘novo homem’ da
produção de massa tinha o tipo certo de probidade moral” (HARVEY, 2008, p. 122).
Toda essa esquematização rígida do processo social do trabalhador está ligada
diretamente a uma sucessiva constatação de problemas psicológicos ligados ao
autoflagelo, que por sua vez, está ligada a um introjeção do controle, do que Walter
Benjamin descreveu como o “olho que tudo vê”.

A próxima questão é na qual o modelo fordista e a nova sociedade concentrada


na figura do novo trabalhador vão ser submetidos a jugo, e está ligada a sua própria
manutenção. O fordismo existe sobre a balança entre o mercado e o consumo, toda
estrutura fordista está diretamente ligada a esta demanda, a própria estrutura social é
forjada para servir de base de consumo. Uma estrutura que se equilibra sobre uma linha
tênue e frágil. Toda esta estrutura desmoronou com a crise da década de trinta, ligada a
uma falta coesa de uma demanda que sustentasse o ritmo da produção. Neste momento
o regime capitalista entra em um conclave de questões e soluções que podem significar
uma oscilação ou continuidade do sistema fordista, explicações que desde sua inércia a
uma busca por respostas dentro de sistemas governamentais de regime ditatorial. A
resposta, porém, se encontrou no que Harvey situou como um amadurecimento do
fordismo ligado ao monopólio internacional através do movimento onde o “fordismo se
aliou firmemente ao keynesianismo, e o capitalismo se dedicou a um surto de expansões
internacionalistas de alcance mundial que atraiu para a sua rede inúmeras nações
descolonizadas” (HARVEY, 2008, p. 125). Esse movimento se concentrou numa
disputa hegemônica com as grandes potências do Séc. XX através de um desenfreado
sistema imperialista de embargos.
Logo a diante, o sistema capitalista enrijecido sobre o aspecto
fordista/keynesiano teve que se submeter a um monde de entre guerras. O controle do
Estado sobre o pretexto protecionista tornou-se uma ferramenta crucial, ao mesmo
tempo em que se fortaleceu por exercer tal funcionalidade. Como descreveu Harvey, o
Estado teve que se desdobrar ao tentar sanar as diversas crises que o acossavam neste
momento, tanto econômicas, quanto políticas e sociais. Escreve que "o Estado se
esforçava por controlar ciclos econômicos com uma combinação apropriada de políticas
fiscais e monetárias” (HARVEY, 2008, p. 129). Ao decorrer do Séc. XX o Estado vai se
interiorizar dentro do sistema capitalista ao ponto de estar presente em praticamente
todos os movimentos do sistema, do controle de preço à negociação de salários. Para o
Estado e a preservação do modelo fordista/keynesiano é necessário o exercício de
controle social. A moralidade fordista citada anteriormente com a finalidade de criar um
novo sentido às relações econômicas e sociais acabou por afastar uma camada que não
se adequou ao sentido consumista e de controle individualista que o sistema fordista
empregou. Nesse sentido o Estado deveria constituir uma sistematização em que essa
minoria pudesse se adequar, como uso de uma correção salarial, uma distribuição
igualitária da renda, forma de aderir esta minoria ao sistema. O sistema fordista sobre a
estrutura protecionista do Estado Keynesiano, manteve uma abertura econômica
razoável e, por vezes, expansível dentro das nações economicamente avançadas até a
crise de 1973.

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